artigo brasilia um plano moderno

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UNIPÊ CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Disciplina: Teoria do Urbanismo II 2012.2 Professor: Fernando Galvão BRASÍLIA, UM PLANO MODERNO Daniele Silva (1) Graduando em Arquitetura e Urbanismo UNIPÊ, 3º Período Turma D (1) e-mail: [email protected] Débora Leal (2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo UNIPÊ, 3º Período Turma D (2) e-mail: [email protected] Fernanda Cecília (3) Graduando em Arquitetura e Urbanismo UNIPÊ, 3º Período Turma D (3) e-mail: [email protected] Gabriella Barbalho (4) Graduando em Arquitetura e Urbanismo UNIPÊ, 3º Período Turma D (4) e-mail: [email protected] Jacianny Rayanny (5) Graduando em Arquitetura e Urbanismo UNIPÊ, 3º Período Turma D (5) e-mail: [email protected] Sanairys Baia (6) Graduando em Arquitetura e Urbanismo UNIPÊ, 3º Período Turma D (6) e-mail: [email protected] RESUMO Em 1933, no IV CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), a Carta de Atenas, o mais importante manifesto urbanístico, foi escrito. Ela foi a junção de diversas discussões ocorridas nesse encontro, aonde se estudava a cidade funcional, que seria para muitos uma cidade ideal. Entre os pontos mais marcantes estão circulação nas cidades modernas, habitação ideal, lazer para a nova sociedade e como o trabalho deve ser tratado. E essas diretrizes direcionaram Lucio Costa na criação da capital do Brasil: Brasília, um dos maiores experimentos do urbanismo mordeno, que deveria trazer boas condições de trabalho, moradia, lazer e circulação. Palavras-chave: Carta de Atenas. Cidade Moderna. Brasília. Plano Piloto. Brasil.

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artigo sobre carta de atenas x plano piloto comparação da cidade planejada por lúcio costa, seguindo algumas ideologias do CIAM

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Page 1: artigo brasilia um plano moderno

UNIPÊÊÊÊ –––– CENTRO UNIVERSITÁÁÁÁRIO DE JOÃÃÃÃO PESSOA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Disciplina: Teoria do Urbanismo II 2012.2 Professor: Fernando Galv ãããão

BRAS ÍÍÍÍLIA, UM PLANO MODERNO

Daniele Silva (1)

Graduando em Arquitetura e Urbanismo – UNIPÊ, 3º Período – Turma D (1) e-mail: [email protected]

Déééébora Leal (2)

Graduando em Arquitetura e Urbanismo – UNIPÊ, 3º Período – Turma D (2) e-mail: [email protected]

Fernanda Cec íííília (3)

Graduando em Arquitetura e Urbanismo – UNIPÊ, 3º Período – Turma D (3) e-mail: [email protected]

Gabriella Barbalho (4) Graduando em Arquitetura e Urbanismo – UNIPÊ, 3º Período – Turma D

(4) e-mail: [email protected] Jacianny Rayanny (5)

Graduando em Arquitetura e Urbanismo – UNIPÊ, 3º Período – Turma D (5) e-mail: [email protected]

Sanairys Baia (6) Graduando em Arquitetura e Urbanismo – UNIPÊ, 3º Período – Turma D

(6) e-mail: [email protected]

RESUMO

Em 1933, no IV CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), a Carta de Atenas, o mais importante

manifesto urbanístico, foi escrito. Ela foi a junção de diversas discussões ocorridas nesse encontro, aonde se

estudava a cidade funcional, que seria para muitos uma cidade ideal. Entre os pontos mais marcantes estão

circulação nas cidades modernas, habitação ideal, lazer para a nova sociedade e como o trabalho deve ser tratado.

E essas diretrizes direcionaram Lucio Costa na criação da capital do Brasil: Brasília, um dos maiores experimentos

do urbanismo mordeno, que deveria trazer boas condições de trabalho, moradia, lazer e circulação.

Palavras-chave: Carta de Atenas. Cidade Moderna. Brasília. Plano Piloto. Brasil.

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1 INTRODUÇÃÇÃÇÃÇÃO

O momento em que a Carta de Atenas foi escrita, em 1933, existia a ascensão das novas

tecnologias e novas máquinas, e elas claramente interferiam em como a cidade se

movimentava e se desenvolvia. As ruas, que antes só servia para passeio, agora apresentavam

tamanhos pequenos, para abrigar a presença dos carros e pedestres. As mudanças eram

claras e com a criação da Carta de Atenas, várias ideias sobre o que é cidade e como ela

deveria ser tratava foram repensadas e discutidas.

Em 1956, Lúcio Costa projeta a capital brasileira seguindo as recomendações do CIAM. Essa

cidade estava localizada em um planalto, denominado Planalto Central, situada no centro-oeste

do Brasil. A cidade foi planejada para apresentar setorização com atividades pré-determinada,

como o Setor Hoteleiro, Setor de habitação, Bancário ou de Embaixadas, aproveitando a

topografia da região, que era bastante acidentada, e adequando o projeto ao Rio Paranoá. O

projeto trazia as quatro principais diretrizes de uma cidade moderna: trabalhar, morar, circular,

e recrear.

2 A CIDADE MODERNA DE L ÚÚÚÚCIO COSTA, E AS IDEOLOGIAS DO CIAM

De acordo com a Carta de Atenas “A cidade é só uma parte de um conjunto econômico, social

e político que constitui a região” (CARTA DE ATENAS, 1933), ou seja, o plano da cidade é

apenas um elemento que é adicionado ao plano regional. Assim como o Plano Piloto de

Brasília, fruto de um processo que engloba todos esses aspectos: econômico, social e político.

A Carta de Atenas ressalta dois princípios que regem a personalidade humana: O individual e o

coletivo, levando em consideração não só os aspectos arquitetônicos, e sim a vida dos

indivíduos. O ser humano se vê muito desarmado quando não está inserido dentro de um

grupo e requer está ligação, uma necessidade de trabalhar em grupo. Entretanto, em tudo

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ocorre uma ligação quando se está em comunidade, não só onde a riqueza e a pobreza se

predominam. Na cidade tudo é espontanêo, e o poder econômico é sempre um valor

momentâneo.

O conjunto político presente nas cidades é um sistema que impõe limites e regulamentos

necessários para uma vida em comunidade. A cidade no decorrer da história apresentou várias

características e também foi submetida a mudanças contínuas, já que comporta um grande

valor moral que pesava, e que muda com o decorrer do tempo. Fazendo essa relação da Carta

de Atenas com o Plano Piloto, os problemas de ordem política, social e econômico também

existiram, e com muito vigor, por ser uma capital ecômica de um país em desenvolvimento.

No principio, no local em que Brasília foi construída apenas existia um grande planalto

descampado, e Lúcio Costa conseguiu ir bem além do papel, e trouxe outra realidade a esse

lugar, o que muitos não acreditavam. Costa acreditava na prosperidade da cidade, dando vida

a uma ‘utopia’. Ao colocar em praticar idéias complexas criadas anos atrás e usando a

sabedoria adquirida com os anos, conseguiu criar um sistema orgânico, que se encaixou no

dia-a-dia da vida privada e administrativa.

Por ter sido implantada em uma futura capital aonde as chances de desenvolvimento são

claros, o Plano Piloto de Lucio Costa, prosperou. Já que a cidade possuiria um sistema

administrativo estável que permitiria uma longa permanência, e não autorizaria uma

modificação muito frequente. Ou seja, o sistema econômico da região foi primordial para o

desenvolvimento e prosperidade de Brasília.

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2.1 Habita çãçãçãção

Figura 1 – Croqui dos prédios da Superquadras, por Niemeyer. Fonte: CORBIOLI (2008)

Em questão de moradia/habitação, o Plano Piloto de Lúcio Costa seguiu ideologias elaboradas

pela Carta de Atenas.

O planejamento trazia as seguintes idéias: Uma quadra com 280mx280m aonde seria

distribuído equipamentos públicos e os blocos numerados com seis pavimentos + pilotis. Essas

quadras foram então chamadas de Superquadras.

As Superquadras de Lúcio Costa se assemelham as Unidades de Vizinhança construídas em

outros países seguindo os princípios de Clarence Perry, disseminado pela Carta de Atenas.

Idéias essas que podem ser rapidamente percebidas nas Superquadras, seja pelo grande

cinturão verde que a contorna, pelo desprendimento dos blocos do chão, limites das quadras,

sistemas internos de ruas e equipamentos públicos. Os blocos apresentavam configurações e

disposições diferentes, como mostrando na figura 2, trazendo uma maior diversificação entre

eles, mas as principais características já citadas se repetiam, como por exemplo, a faixa de

20m ao redor da quadra que não poderia receber construções alguma.

O conceito da Superquadra é de uma grande extensão residencial aberta ao público, que vem

para contrapor as idéias de condomínios com área privada, idéia inovadora e que se revelou

válida com o tempo. Podemos afirmar que as Superquadras foram um dos cenários urbanos

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implantados por Lúcio Costa que foram mais bem-sucedidos. Elas foram determinantes para a

paisagem urbana, por trazerem maior harmonia com o espaço com seu abundante verde.

Figura 2 – Tipologias dos prédios da Superquadra. F onte: MAGALHÃES (2009)

Segundo a Carta de Atenas:

“O primeiro dever do urbanismo é pôr-se de acordo com as necessidades fundamentais

dos homens. A saúde de cada um depende, em grande parte, de sua submissão às

‘condições naturais’. O sol, que comanda todo crescimento, deveria penetrar no interior

de cada moradia, para espalhar seus raios, sem os quais a vida se estiola. O ar, cuja

qualidade é assegurada pela presença da vegetação deveria ser puro, livre de poeira

em suspensão e dos gases nocivos. O espaço, enfim, deveria ser distribuído com

liberdade” (CARTA DE ATENAS, 1933)

Há uma grande necessidade de planejamento na locação de uma unidade de habitação, já que

o ambiente que a circunda deve apresentar questões básicas para a saúde e bem estar,

citadas a cima, havendo o dever de que as áreas de habitação estejam nas melhores áreas

urbanas. E essas questões foram pensadas por Lúcio (e elaborada por Niemeyer e outros

arquitetos), como por exemplo, as aberturas generosas das fachadas, a utilização das curvas

de nível na implantação das construções, a elevação dos blocos pelos pilotis, e a altura dos

prédios, já que Lúcio desejava que eles possuíssem a mesma altura que das copas das

árvores, trazendo assim a salubridade - em uma região circundada pelas faixas rodoviárias -

tão pontual na Carta de Atenas e a presença de amplidão e mobilidade.

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Figura 3 – Grande cinturão verde em volta da Superq uadra 207. Fonte: GOOGLE EARTH (2012)

A presença de diversos equipamentos públicos como as escolas, igreja e lojas perto das

habitações, nas suas entrequadras, mostra como Lúcio Costa teve uma grande influência das

ideologias da Carta de Atenas e Clarence Perry. Clarence dizia que locais de comércios

adequados deveriam ser implantados nas áreas de habitação, com a junção das ruas. E isso é

visto nas Superquadras, nas ligações das ruas internas com os pequenos comércios, que são

dispostos a cada duas quadras, como visto na figura 4 abaixo.

As quadras eram dispostas mostrando certo espaçamento entre um e outro bloco, cuidado

tomado por conta da preocupação com a saúde da população, com a entrada abundante do ar

pelas grandes aberturas presentes nas fachadas.

Os blocos de moradia apresentavam entre 2 e 3 apartamentos por andar, que dispunham de

amplos comodos para os moradores, que eram muitas vezes servidores dos ministérios e

bancos da capital brasileira, pessoas de classes sociais bastante distintas. Todas essas

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ideologias foram mostradas na Carta de Atenas, aonde foi dito que as cidades antigas eram

cheias de construções comprimidas e privadas de espaço, e que classes sociais viviam

divididas. A amplidão foi priorizada tanto nos espaços internos, quanto nos externos, aonde o

térreo era livre e apresentava os grandes parques arborizados ao seu redor.

Figura 4 – Diagrama Superquadra com estudo de manch as. Fonte: CORBIOLI (2008)

Todas essas informações citadas mostram que as Superquadras se assemelham com as

Unidades de Vizinhança que inspiraram os pontos da Carta de Atenas. Lúcio Costa pensou em

uma cidade funcional, em que a habitação estivesse interligada as demais áreas, sem agredir o

bem estar dos moradores, ou seja, há uma separação das zonas, e a interligação dos outros

instrumentos públicos presentes dentro das próprias áreas habitacionais da Superquadras.

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2.2 Lazer

Segundo a carta de Atenas:

“[...] as criações de espaços são, portanto uma necessidade e constituem uma questão

de saúde pública para a espécie”. (CARTA DE ATENAS, 1933)

Por conta dessa necessidade da população que surgem as áreas verdes, não apenas para o

embelezamento ao redor de casas e quadras, e nem para ser usada aos domingos e por um

grupo pequeno da população, mas sim por toda essa população, como uma forma de lazer.

E Lúcio Costa, empregou essa idéia com êxito no Plano Piloto, pois além de existir as

Superquadras verdes, as mesmas são destinadas para o lazer igualitário a toda a população,

com os diversos equipamentos públicos.

Figura 5 – Maquete do Plano Piloto de Brasília. Fon te: AREAL (2005)

Essas áreas verdes, agora trazem uma melhoria na qualidade de vida e na cidade, pois antes

esses espaços não existiam geralmente porque eram ocupados por construções, e quando

existiam estavam mal localizado e em áreas de periferia. Essas áreas trazem diminuição do

calor, pois Brasília está situada numa região seca e de baixa umidade, melhoria na saúde e do

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ar provenientes das árvores, tranqüilidade e bem estar para população. As áreas verdes

trazem benefícios para cerca de 3000 habitantes, que moram em cada uma das Superquadras.

A quantidade de massa arbórea em volta das edificações dão um maior resguardo para os

moradores, não deixando expostos os prédios, já que as árvores apresentam grande porte,

dificultando a visão direta.

Essa primeira idéia de integrar área verde e o lazer veio do arquiteto Clarence Perry,

idealizador das Unidades de Vizinhança, onde ele mencionava que deveriam existir espaços

com sistemas de pequenos parques e espaços de recreação, onde serveriam para encontro e

para necessidade da população e é isso que Lúcio Costa propõe para as áreas verdes de

Brasília, onde foram empregados, parques, praças, espaço para esporte e cinema trazendo

novos hábitos a população.

Essas áreas verdes compreendem um espaço de 20m em volta de todas as quadras, aonde

não deveria apresentam nenhuma construção, locais aonde apresentavam grande quantidade

arbórea, refrescando o perímetro das edificações. Apresentam caminhos com traçado

orgânico, trazendo a simplicidade para a vida dos moradores, com caminhos variados que

ligam suas moradias, com os comércios e ruas em volta de suas quadras, conduzindo um

passear agradável e espaços generosos.

Figura 6 – Praça do Compromisso entre as Superquadr as 703 e 704 Sul, do Plano Piloto de Brasília. Fonte: ZUPPANI (2010)

Page 10: artigo brasilia um plano moderno

Observa-se que Lúcio Costa buscou seguir a diretriz de que o bem estar do homem é o

principal fim para um projeto arquitetônico e urbanistico, trazido na Carta de Atenas. Em seu

projeto é apresentada uma grande quantidade de praças e equipamentos públicos, a fim de

trazer a população para um convívio que não ocorria nas cidades modernas, as cidades

suprimidas pela falta de planejamento.

2.3 Trabalho

A Carta de Atenas ressalta bem as questões do trabalho, falando de problemas que vemos

hoje em cidades que não tiveram um planejamento e cresceram de forma desorganizada, onde

os comércios estão muito afastados das áreas mais acessíveis aos habitantes.

Podemos ver isso mais na prática quando olhamos para o comércio de algumas cidades, talvez

à maioria delas, onde o comércio se aglomera em um só lugar ficando distantes da maioria dos

bairros residenciais, as indústrias é um local, por exemplo, que precisa de bastante mão-de-

obra e geralmente se localiza nos bairros sub-urbanos, ocasionando uma grande concentração

de carros que formam uma grande desordem no meio urbano, com os veículos e meios de

transporte diversos. Essa desordem pode durar diversas horas, chamados de hora de pico,

causando transtornos para os habitantes da região.

Figura 7 – Hora de pico em uma cidade sem planejame nto (SP). Fonte: ANTOINE (2011)

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Os locais de trabalho necessitam estar o mais próximo possível das moradias, para que haja

uma dinâmica na vida dos moradores, porque quanto mais próximo for o trabalho menor o

trânsito, e menor a possibilidade de congestionamento. E para que isso aconteça devem ser

feitos planos, estudos e projetos para as cidades onde as indústrias, comércios e centros de

negócios venham a se localizar em pontos estratégicos, de preferência nas proximidades dos

bairros habitacionais com maior densidade, sendo separado uns dos outros por zonas verdes,

evitando o ruído e a poeira das indústrias e dos comércios para as residências, trazendo mais

salubridade, ponto forte na Carta de Atenas. Em Brasília, as Superquadras foram projetas para

estarem próximas dos trabalhos, que eram principalmente os Ministérios e Bancos da capital

brasileira. A maioria de seus moradores eram trabalhadores públicos.

Figura 8 – Presença de comércios perto das Superqua dras. Fonte: GOOGLE EARTH (2012)

No plano piloto de Lúcio Costa para Brasília, ele fez uso dos atributos citados na Carta de

Atenas, que os moradores precisam de trabalhos localizados próximos a suas casas em

comércios e pequenas lojas, quando implanta as Superquadras habitacionais e localiza as

áreas de comércio em um de seus lados, deixando os caminhos de acessos dos pedestres

pela faixa arborizada e a área do acesso dos veículos também servia para carga e descarga.

Page 12: artigo brasilia um plano moderno

Este último acesso foi denominado para o tráfego de caminhões que se encontravam ao fundo

das quadras, com terrenos destinados à oficinas, garagens, depósitos, reservando uma parte

também para floriculturas, pomar e horta. Mercearias, empórios, casas de ferragens, postos de

gasolina e comércios acessíveis para a população estavam localizados na primeira parte da

faixa de acesso aos automóveis e ônibus.

O trabalho em Brasília segue algumas diretrizes da Carta de Atenas, como as proximidades da

casa e o trabalho, fazendo com que a vida dos moradores seja mais dinâmica. Em

contraposição, Lúcio Costa não utiliza um ponto mais comentado da Carta: A utilização de

prédios que serviriam tanto para moradia quanto serviço. Já que Lucio Costa prezava por uma

habitação tranquila, acima de tudo.

2.3 Circula çãçãçãção

Segundo a Carta de Atenas a circulação nas vias urbanas seguiam o traçado das muralhas,

privando o crescimento ocorrido em consequência do aumento da população. As ruas das

cidades antigas se tornaram cada vez mais estreitas, com pouco espaço para o escoamento

dos grandes fluxos presentes. Os mesmos espaços usados para a circulação de pessoas eram

usados para as novas máquinas, como carros e motos. É clara a afirmação de que as cidades

não acompanharam a evolução tecnológica.

Em contraponto a cidade moderna de Lucio Costa planejou um grande eixo monumental que

prezava essa separação. O Plano Piloto fazia uma divisão de áreas adequadas, de pedestres e

veículos, em ambientes distintos. Toda essa divisão foi feita utilizando o desenho topográfico

presente na região, aonde podemos perceber o símbolo principal do plano urbanístico de Lucio

Costa: a forma que muitos chamam de avião ou libélula. Essa forma apresenta uma cruz ou

triângulo, onde o eixo horizontal da cruz curva-se, esse arco resulta uma curvatura que compõe

o eixo rodoviáro-residencial. O arco é composto por redes de circulação de trafego e pelo

tecido das Superquadras.

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Figura 9 – Topografia acidentada da região. Fonte: TAVARES (2010)

A circulação e os transportes são ordenados a partir da hierarquia das oito vias, dessas tais:

duas são principais que atravessem o país, que são vias largas reservadas aos transportes

mecânicos, onde não existem calçadas. Nas áreas metropolitanas, ruas comerciais e vias

alimentam as zonas habitacionais.

Brasília pode ser compreendida pela divisão da cidade em duas escalas: Residencial e

Monumental. O eixo residencial é a representação de um nível individual, aonde estão

dispostas as áreas de habitação, lazer e pequenos comércios, dando maior autonomia aos

moradores, os deixando afastados da grande movimentação da metrópole, mas não os

isolando. O eixo monumental é a representação da coletividade, aonde estão abrigados os

marcos e principais edifícios institucionais, que foram implantados perpendicularmente às

curvas de nível.

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Figura 10 – As “tesouras” de Brasília. Fonte: GOOGL E EARTH (2012)

A Carta de Atenas prezava uma cidade sem cruzamentos, já que os mesmos acumulavam

grande quantidade de fluxo, atrapalhando o funcionamento da metrópole. A cidade ideal

deveria apresentar ruas distintas para cada tipo de uso, sejam elas ruas de residência, ruas de

passeio, ruas de trânsito, e vias principais, por conta disso jamais seus usos deveriam ser

misturados. Pedestres e maquinários não poderiam usar as mesmas vias, pois essa mistura

traria desconforto e insegurança.

Se baseando nas ideologias citadas, Lucio Costa também não se utilizou dos cruzamentos tão

criticados pela Carta de Atenas, barrando os maiores congestionamentos, com a utilização de

viadutos que permite o cruzamento de vias, sem a necessidade de semáforo. Além desta

preocupação, o Plano Piloto traz ruas largas, facilitando o movimento natural da cidade,

fazendo com que o fluxo desta cidade moderna seja mais livre. As ruas e avenidas brasilienses

são geralmente largas, bem conservadas, fazendo com que o tráfego flua com tranquilidade,

apesar de ser a terceira maior cidade brasileira em número de frota de veículos.

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3 CONSIDERAÇÕÇÕÇÕÇÕES FINAIS

A cidade moderna segundo o CIAM deveria apresentar diversas ideologias como as moradias

trazendo amplas areas verdes para o bem estar dos moradores, circulações largas que

contrapunham as cidades antigas, com as ruas pequenas e estreitas, lazer para entretenimento

da população e boas condições de trabalho.

Brasília foi de grande relevância internacional no momento da sua inauguração, pois foi uma

das poucas cidades modernas a serem projetadas e construidas com êxito, se tornou ainda

mais surpreendente por ter sido construida em um país sub-desenvolvido como o Brasil.

No principio Brasília foi projetada para 600 mil habitantes, mas por ser uma capital aonde se

concentra diversas formas de trabalho, muitas pessoas migraram na expectativa de uma

melhoria da qualidade de vida, sendo hoje cerca de 2 562 963 habitantes, isso se reflete em

diversas áreas das cidades vizinhas, que surgiram por conta da grande população, causando

aumento na violência e densidades de vários setores.

Segundo Lucio Costa:

“Brasília merece respeito. É preciso acabar com esse jogo de “gosto-não-gosto”, e com

essa balda intelectual de fazer frases pejorativas. O que é preciso agora é compreendê-

la. Trata-se de uma cidade não concluída e, como tal, necessitada de muita coisa. O

que espanta não é o que lhe falta, mas o que já tem.” (CANEZ E CEGAWA, 2010).

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REFERÊÊÊÊNCIAS

CORBIOLI, Nanci. Oscar Niemeyer. Superquadras, Brasília, 2008. Disponível em

<www.arcoweb.com.br/arquitetura/oscar-niemeyer-superquadras-brasilia-08-02-2008.html>.

Acessado em 07 de novembro de 2012.

MAGALHÃES, Carlos Henrique. Os blocos de Superquadra. Um tipo da modernidade, 2009.

Disponível em <www.mdc.arq.br/2009/06/02/os-blocos-de-superquadra-um-tipo-da-

modernidade>. Acessado em 07 de novembro de 2012.

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AREAL, Augusto. Brasília em Aquarela , 2005. Disponível em

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ZUPANNI, Palê. Fotos da praça do Compromisso , 2010. Disponível em <www.pulsarimagens.com.br/details.php?tombo=14PZ156&search=PA&ordem_foto=433&total_foto=1345>. Acessado em 07 de novembro de 2012.

LEMES, Clodoaldo de Oliveira. As 20 maiores cidades do Centro-Oeste brasileiro em 2012,

2012. Disponível em <www.redecol.com.br/2012/09/as-20-maiores-cidades-do-centro-

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CANEZ E CEGAWA, Anna Paula e Hugo. Brasília: utopia que Lúcio Costa inventou , 2010. Disponível em <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.125/3629>. Acessado em 08 de novembro de 2012.

GOOGLE EARTH, Google Inc. Disponível em <www.maps.google.com>. Acessado em 08 de novembro de 2012.

TAVARES, Jeferson. O Concurso para o Plano Piloto de Brasília: Território e infraestrutura, 2010. Disponível em <www.anparq.org.br/dvd-enanparq/simposios/158/158-721-1-SP.pdf>. Acessado em 08 de novembro de 2012.

ANTOINE, Nelson. No Dia Mundial Sem Carros, SP terá faixasreversívei s para quem der carona . Disponível em < www.noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/no-dia-mundial-sem-carros-sp-tera-faixas-reversiveis-para-quem-der-carona-20110921.html>. Acessado em 08 de novembro de 2012.