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*Graduando em História pela UFGD, Bolsista do PIBID e voluntário no PET/Conexões de Saberes. ** Graduando em História pela UFGD, Bolsista do PIBID. DESCONSTRUÇÃO DE PRECONCEITOS: REFLEXÕES A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DO PIBID EM DISCUSSÕES NO ÂMBITO DA HISTÓRIA INDÍGENA. ARLINDO LOURENÇO DA SILVA JUNIOR*; FÁBIO ARAUJO GOMES** RESUMO O objetivo deste trabalho é refletir em conjunto com os estudantes de Ensino Médio alguns elementos que dizem respeito à temática indígena presentes no currículo oficial e também discutir pontos elencados pelos próprios alunos nas turmas pesquisadas tendo como elemento direcionador a sistematização de sondagem prévia através de diálogos preliminares com os estudantes. A metodologia adotada como colocada acima foi primeiramente a sondagem dos estudantes por meio de questionário, onde poderemos observar algumas percepções dos estudantes acerca do tema. O referido questionário, foi elemento direcionador para a segunda atividade que buscou trazer a tona diversos aspectos sociais, culturais e religiosos sobre os Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul; por um lado, exaltamos aspectos culturais que em boa medida não são de conhecimento da população em geral, tendo em vista a própria construção de memória coletiva em nossa sociedade pautada pelo ocultamento e silenciamento dos chamados “vencidos” da História, neste caso especifico, os Povos Indígenas de MS. Este trabalho assenta-se também na desconstrução de preconceitos e estereótipos em relação a estas populações, tendo como discussão transversal o papel da mídia impressa na difusão de discursos das elites sul-mato-grossenses que em grande medida são responsáveis pela marginalização dos Povos Indígenas de MS. Palavras Chaves: Ensino de História, preconceitos, indígenas.

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  • *Graduando em Histria pela UFGD, Bolsista do PIBID e voluntrio no PET/Conexes de Saberes. ** Graduando em Histria pela UFGD, Bolsista do PIBID.

    DESCONSTRUO DE PRECONCEITOS: REFLEXES A PARTIR DAS EXPERINCIAS DO PIBID EM DISCUSSES NO MBITO DA HISTRIA

    INDGENA.

    ARLINDO LOURENO DA SILVA JUNIOR*; FBIO ARAUJO GOMES**

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho refletir em conjunto com os estudantes de Ensino Mdio

    alguns elementos que dizem respeito temtica indgena presentes no currculo oficial e

    tambm discutir pontos elencados pelos prprios alunos nas turmas pesquisadas tendo como

    elemento direcionador a sistematizao de sondagem prvia atravs de dilogos preliminares

    com os estudantes.

    A metodologia adotada como colocada acima foi primeiramente a sondagem dos

    estudantes por meio de questionrio, onde poderemos observar algumas percepes dos

    estudantes acerca do tema.

    O referido questionrio, foi elemento direcionador para a segunda atividade que

    buscou trazer a tona diversos aspectos sociais, culturais e religiosos sobre os Povos Indgenas

    de Mato Grosso do Sul; por um lado, exaltamos aspectos culturais que em boa medida no

    so de conhecimento da populao em geral, tendo em vista a prpria construo de memria

    coletiva em nossa sociedade pautada pelo ocultamento e silenciamento dos chamados

    vencidos da Histria, neste caso especifico, os Povos Indgenas de MS.

    Este trabalho assenta-se tambm na desconstruo de preconceitos e esteretipos em

    relao a estas populaes, tendo como discusso transversal o papel da mdia impressa na

    difuso de discursos das elites sul-mato-grossenses que em grande medida so responsveis

    pela marginalizao dos Povos Indgenas de MS.

    Palavras Chaves: Ensino de Histria, preconceitos, indgenas.

  • INTRODUO

    No estado de Mato Grosso do Sul temos a segunda maior populao indgena no

    Brasil, de acordo com o ltimo censo realizado em 2010 pelo IBGE esse contingente de

    61737 de indgenas, destes 11146 residem em Dourados colocando esta cidade em primeiro

    lugar em MS, no que diz respeito a ocupao indgena em seu territrio. Esses dados so

    importantes para nos situarmos dentro do contexto nacional e em boa medida justificar a

    relevncia do trabalho aqui desenvolvido, pelo PIBID/Histria na Escola Estadual Tancredo

    de Almeida Neves no primeiro semestre de 2014.

    Ainda importante ressaltar o que preconiza a lei n 11.645, de 10 maro de 2008 que

    em seu artigo 26 diz: Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino mdio,

    pblicos e privados, torna-se obrigatrio o estudo da histria e cultura afro-brasileira e

    indgena. Esses dois aspectos por si j justificariam a importncia desse trabalho dentro da

    prtica de formao docente que o PIBID tem sido elemento de grande destaque e seus

    impacto so notados nas escolas parceiras do projeto.

    Mas apesar dessa grande populao indgena em Dourados temos um quadro de

    convivncia no harmnica entre os Povos Indgenas e a populao no indgena, essa relao

    em grande medida fortemente marcada por preconceitos e pelo racismo, ora velado

    escondido e travestido no discurso j vencido da democracia racial ou da miscigenao de

    um povo nico; o povo brasileiro, onde primeira vista sugere uma harmonia fraternal entre

    os mais diversos povos que co-existem em nossa sociedade.

    Na prtica essa realidade no se concretiza e inclusive estudos apontam para caminhos

    onde a relao entre as comunidades indgenas e no indgenas so fortemente marcadas pela

    marginalizao das comunidades tradicionais, pelo preconceito e pela construo de

    esteretipos que buscam colocar cada ator social em um lugar dentro da sociedade

    hierarquizando-as no sentido de sub-julgar os indgenas ao poder das elites sul mato-

    grossenses, seja pelo papel da mdia, pelo papel dos agentes pblicos ou at mesmo pela fora

    em caso extremos onde os conflitos sobre tudo fundirios tem feito vitimas fatais sobre tudo

    do lado dos indgenas. Nesse sentido o estudo realizado por Llio Loureiro (2007)

    importante para fundamentar essa perspectiva quando verificamos o papel da mdia local,

    especificamente o jornal O Progresso:

  • Essa excluso dos Guarani est de acordo com a posio editorial adotada pelos proprietrios do jornal, que esto compromissados com os ideais propostos pelas elites e com os projetos desenvolvimentistas empregados pelo governo. Na identidade que estava sendo criada para o Mato Grosso do Sul, a populao indgena no encontrava espaos, uma vez que sua imagem, associada ao primitivismo, ao atraso, no combinava com a representao de progresso associado regio. (SILVA, 2007, p.44)

    Dentro deste contexto esboado aqui de forma superficial, sentimos a necessidade

    atravs de nossas intervenes na Escola Estadual Tancredo Neves, dar a nossa contribuio

    na desconstruo de preconceitos a partir de uma ptica, onde a educao tem papel

    fundamental nessa verdadeira luta em prol da igualdade em nossa sociedade.

    Essa percepo tem sido motivo de preocupao de educadores em nossa regio, que

    tem se debruado sobre a temtica, em especial quando se analisa pontos de fundamental

    importncia como a Educao Escolar Indgena que de maneira especial, por um lado busca

    pressupostos como a consolidao do Direito aos indgenas de uma educao que leve em

    conta suas especificidades culturais, mas por outro lado, est assentado tambm no eixo da

    desconstruo de preconceitos em nossa sociedade; isto se evidencia em posicionamento

    como o que segue adiante, onde as autoras exaltam essa face da educao:

    Entendemos que pensar a temtica indgena na Educao abrir caminho para o reconhecimento das diferenas culturais existentes em nossa sociedade, em nosso entorno. abrir caminho tambm para o respeito a estas diferenas , sobretudo, um compromisso tico com o mundo Presente nossa realidade local, regional e nacional. perceber como a questo da problemtica indgena diz respeito a todos ns. pensar o Brasil do passado, entender seu presente e refletir sobre os possveis caminhos do Brasil que queremos para o futuro. (MANCINI e TROQUEZ, 2009, p.183)1

    Dentro disso iremos neste socializar atravs deste trabalho a dinmica adotada a

    metodologia e os resultados alcanados, e por fim compartilhar um pouco de nosso

    aprendizado enquanto futuros professores de Histria.

    1 As citaes dos textos produzidos pelos estudantes, sero citados mais adiante com as inicias dos mesmos e sem maiores correes em relao concordncia gramatical, pois acreditamos que tais correes tirariam a essncia das ideia desenvolvidas pelos estudantes.

  • METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO

    A atividade teve como pblico os estudantes dos 2 e 1 anos de Ensino Mdio,

    focamos em duas turmas em especial o 2 ano A e 1 ano E, turmas como estudantes de faixa

    etria que vai dos 14 aos 17 anos de idade e contou com as orientaes do Professor regente

    Joo Alves. As nossas intervenes ocorrem mensalmente e tem como referencial a proposta

    do projeto do PIBID/Histria/UFGD aprovado junto CAPES em 2014 que denominado

    Representaes no Ensino de Histria: articulaes de materiais didticos e usos de

    linguagens no Ensino Mdio e ainda leva em conta os contedos programticos do currculo

    escolar, dando assim liberdade para ns bolsistas adequarem nossa prtica levando em conta

    os mais diversos temas que podem surgir dentro de sala de aula.

    Dito isso, o tema escolhido aconteceu em momento anterior, durante uma interveno

    anterior quando, em sala de aula citamos de forma informal as disputas fundirias em MS,

    elemento que abriu caminho para a construo desta atividade atendendo assim, uma demanda

    que estava bastante evidente naquele momento que seria o desconhecimento dos estudantes

    no que diz respeito Histria Indgena de nossa regio.

    Colocado assim a problemtica produzimos material resumido para sintetizar a

    Histria Indgena em MS, partindo de um recorte temporal do Brasil Colnia at a

    contemporaneidade focando em eventos que so essenciais para refletirmos sobre a realidade

    onde nos encontramos. Utilizamos uma estrutura pautada nos seguintes tpicos: Inicio da

    Colonizao brasileira, Guerra com o Paraguai destacando a participao dos indgenas nesse

    confronto blico( OLIVEIRA e PEREIRA, 2007), criao Reserva Indgena em Dourados em

    de 1917 (CIMI, 1997, p.20) e a criao das Colnias Nacionais Federais como CAND nos

    anos de 1940 e seus impactos no cotidiano dos indgenas nessa regio.

    Primeiramente solicitamos aos estudantes que respondessem um questionrio

    contendo a seguinte questo: Descreva sua percepo de temtica indgena, ressaltando sua

    opinio sobe as populaes da nossa regio e sua relao com a terra. Procure expor sua

    opinio do que vem a ser o ndio de MS.

    Orientamos os mesmo para que as respostas fossem construdas levando em conta o

    conhecimento deles sobre o tema, frisamos que naquele momento no existe reposta certa ou

    errada, e de maneira nenhuma eles estavam sendo avaliados em funo da resposta,

    metodologia que julgamos a mais acertada para utilizarmos com fonte, pois no final da

  • atividade seria feito um segundo texto com a mesma questo para ser respondida agora com

    subsdios fornecidos pela exposio do contedo

    Como recursos didticos, utilizamos slides onde os tpicos foram explicados e

    direcionaram as discusses com os estudantes, alm desse recurso fizemos uso de trechos de

    vdeos gravados no TekohApyka'i e fotos deste e de outros espaos como a Aldeia Jaguapiru.

    O transcorrer da atividade foi fortemente marcada pelo dialogo entre ns pibidianos e

    os estudantes que a cada tpico iam tecendo comentrios e trazendo dvidas e contribuies

    atividade.

    E por fim, terminamos solicitando aos estudantes que respondessem mais uma vez a

    mesma questo acima apontada, mas a gora tendo como base os pressupostos trabalhados

    durante a atividade.

    Dentro desta metodologia principio acreditamos ser possvel ento a ns comparar e

    em parte e mensurar o que mudou nos estudantes aps a aula, e ainda o que de fato foi

    absorvido por eles enquanto contedo, elementos essenciais em nossa prtica docente e

    importante meio para nos avaliarmos tambm.

    Acreditamos ainda ser importante tecer alguns comentrios, mas pontuais sobre alguns

    dos textos produzidos pelos estudantes, em sua maioria alguns aspectos ficaram evidentes no

    que diz respeito imagem do que vem a ser o ndio, e como esta imagem est materializada

    no imaginrio dos estudantes, uma imagem do ndio estereotipado como aquele do perodo

    colonial, isto foi observado com, por exemplo, do texto: Os ndios tm cabelo liso, andam praticamente nus, e vivem na aldeia. Aqui em Dourados-MS existe duas aldeias a Boror e Jaguapiru, os ndios vivem em casas de madeira e cobertas com palhas. Eles lutam por suas terras que ns queremos tomar, mas agora eles tm seu direito. Eles fabricam suas prprias armas, que serve para caar seus alimentos.(G.D,15anos,1ano)

    Em outros momentos o preconceito fica evidente, em falas que atribuem aos indgenas

    caractersticas como a violncia estremada; foi observado entre os estudantes certo medo em

    relao a estas comunidades, pois de acordo com estes alunos as Aldeias so o lugar da

    barbrie, onde a lei, a lei da selvageria, neste sentido citamos a seguinte fala: Hoje em dia, os ndios evoluram bastante no andam pelados, tem postos de sade perto de sua casa para alguns, eu acho que eles so muito agressivos qualquer coisa eles querem matar etc. Quase sempre fazem manifestaes querendo as coisas e quase sempre conseguem porque eles sempre partem para o lado agressivo. Eles tm muitos filhos, dizem que eles ganham um salrio quando nascem uma criana, por isso que tem aquela penca de filho, para no trabalhar, eu acho eles uns preguiosos e no querem trabalhar.(K.M.V, 15 anos, 1 ano)

  • O fator que mais foi citado nos textos definem os indgenas como no brasileiros e

    como povos preguiosos, e em vrios momentos tecido crticas sobre uma suposta

    quantidade de direitos que os Povos Indgenas tem e que os no indgenas no os tem,

    gerando assim, no nosso modo de ver mais um motivo que leva a populao no ndia de

    nossa sociedade a construir uma verdadeira averso contra essas populaes, nesse sentido

    elencamos os seguintes textos: Os ndios (...), vejo-os com mendigos, eles saem pedindo

    comida nas casas, andam todo sujo mas eu acho que no so todos que so assim, por que eles

    recebem bastantes benefcios e mesmo assim saem por a pedindo nas casa (M. R 16 anos, 2

    ano).

    Outro estudante expressa opinio convergente com seu colega de sala no que diz

    respeito a forma como o ndio vive em nossa sociedade e a forma com o Estado supostamente

    os beneficiam:

    Os indgenas para mim uma pessoa violenta, suja, arisca que no gosta muito de conversar com pessoas que no da raa deles, e sobre populao em relao a terra, para mim o indgena h mais direito que para a gente. O ndio que vem a ser de MS hoje em dia alguns trabalham muito, outros trabalham pouco e uns que nem gostam de trabalhar, os que gostam confeccionam vrios tipos de artesanatos, coisas que eles conseguem ajudar a si mesmos. Existem ainda aqueles que trabalham pouco e procuram um servio mais leve (...) eu acho muito legal o que eles fazem os artesanatos e trazem para a populao brasileira. (T. F, 17 anos, 2 ano)

    Foi possvel observar em alguns relatos do estudantes uma imagem romantizada dos

    Povos Indgenas, com se essas populaes estivessem marginalizadas das mudanas culturais,

    inertes no tempo e no espao, vivendo de maneira semelhante ao perodo pr-colonial. Esta

    imagem foi refletida em alguns textos produzidos nesta atividade e muito se assemelham aos

    relatos produzidos no sculo XVI, por exemplo por Pero Vaz Caminha quando este relatou

    que A feio deles serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes,

    bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas

    vergonhas; e nisso tm tanta inocncia como em mostrar o rosto. (P.V Caminha )2.

    Esta similitude foi encontrada em alguns textos produzido pelos estudantes como o

    citado abaixo redigido por P.F.M de 14 anos do 1 ano do Ensino Mdio em uma das turmas

    trabalhadas por ns, essa imagem em certa medida influenciada tambm por elementos j

    2 Foi utilizado a verso disponvel em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000292.pdf acessado em 20/09/2014

  • apontados nesse mesmo artigo como a viso que os ndios tem at mesmo privilgios em

    nossa sociedade em relao aos no ndios como podemos verificar na opinio deste aluno:

    Na minha opinio os ndios moram na cabana, no tenho certeza, mas quando a mulher fica grvida o ndio tem que ficar na rede uns bons tempo, sem fazer nada, eles at perde um pouco de movimentao, at o beb nascer. Eles tambm vivem da caa, da pesca e eles cantam em volta da fogueira. Eles andam quase pelados, mas colocam uma pequena roupa, para proteger as partes deles. E as mulheres levam frutos e coisas na cabea e andam com o filho no colo. L em Juti, tem alguns ndios por l e alguns so atropelados, por que ficam bbados e ficam no meio da rua e morrem. E eles tambm tem seu prprio nibus para ir escola. Eles so protegidos pela FUNAI. (P.F.M, 14 anos, 1 ano)

    Outro ponto que nos chamou bastante a ateno foi a uma espcie de sentimento de

    nacionalismo brasileiro presente em vrios textos onde denota aos indgenas uma posio de

    excluso desse Brasil; colocando-os assim como estrangeiros, residente em um pas paralelo

    ao nosso.

    Esta condio na fala de alguns estudantes se evidencia pela no obedincia das leis do

    Brasil pelos indgenas e ainda pela no aplicabilidade destas leis ao ndio, dando assim a eles

    uma condio de classe privilegiada nessa sociedade segmentada realidade apontada em fala

    como essa: Na minha opinio os ndios deveriam ser tratados igual os brasileiros se eles

    esto no Brasil, tem que cumprir as mesmas leis que ns. (A. N. M, 2 ano) Essa ideia est

    to clara para ele que mesmo aps a exposio do contedo por ns preparado este mesmo

    aluno frisou Minha opinio no mudou muito (...) devemos separar um lugar para eles sem

    prejudicar muito os brasileiros (...)

    A proposta deste trabalho seria que os estudantes refletissem de maneira mais

    qualificada sobre o tema proposto, no foi possvel a priori aferir isto nos textos elaborados

    pelos estudantes na terceira parte da atividade; que seria a aplicao do mesmo questionrio

    para ser respondido depois da exposio do contedo, tendo em vista a superficialidade das

    respostas. provvel que isto esteja relacionado ao fato delas terem sido elaboradas poucos

    minutos antes do fim da aula, momento em que a disperso da ateno dos alunos fica

    bastante visvel.

    Apesar disto foi observado na produo textual final uma maior conscincia sobre o

    preconceito presente no seio da sociedade, alguns demonstraram o desconhecimento sobre

    essa presena entre eles mesmos. Outro ponto bastante citado em vrias respostas foi em

  • relao ao conceito de multiculturalidade; conceito este que est diretamente ligado a forma

    como as relaes sociais se constituem sobre tudo em regies onde a fronteiras entre essas

    culturas diversas bastante tnue. Contexto bastante prprio e concreto no caso especfico

    aqui analisado de Dourados - MS.

    No possvel dizer que um simples trabalho como este capaz de mudar tantos

    aspectos negativos presentes na sociedade no que tange a problemtica dos preconceitos

    contra as populaes indgenas, e de forma nenhuma tnhamos esta ambio, mas como bem

    apontamos na introduo deste trabalho entendemos como bastante relevante levar essas

    discusses para as salas de aula, e nos mantermos firmes na luta por uma sociedade onde os

    preconceitos no sejam capazes de segmentar de forma to evidente populaes to prximas

    como a nossa.

    CONSIDERAES FINAIS

    Muitos de ns historiadores; no nosso caso em especial futuros historiadores, temos

    uma relao diferenciada com os Povos Indgenas em boa medida isto deve-se ao fato de que,

    a partir de nosso oficio termos uma tica diferenciada em relao, a real situao dessas

    populaes em nossa sociedade contempornea. Isto acaba em alguns momentos e em alguns

    profissionais marcar de forma especial a maneira como direcionamos a nossa carreira.

    Grandes profissionais das Cincias Humanas dedicam anos em pesquisas sobre esse

    tema dando assim a sua contribuio na construo do conhecimento dentro do mbito da

    Histria, nesse sentido ousamos dizer que, situa-se este trabalho.

    Buscamos por um lado exercer e fazer cumprir legislao que versa sobre a

    obrigatoriedade do ensino da Histria Indgena na Educao Bsica no Brasil, mas por outro

    lado acreditamos que exercemos a nossa funo social em quanto educadores e cidados.

    A problemtica do preconceito, da opresso, da marginalizao e da explorao contra

    a populao indgena em nossa regio algo bastante evidente e se materializa nas mais

    diversas instncias como por exemplo: a poltica, a mdia desembocando assim no ambiente

    escolar onde ainda no se verifica grandes avanos no que diz respeito s discusses sobre a

    incluso social dos indgenas.

    Nesse contexto que foi concebido este trabalho que serviu como experincia e base

    para aes que poderemos implementar no futuro em outros momentos e ainda foi

    instrumento de grande valia em nossa prtica de formao docente, agregando por que no,

  • aspectos que transcendem as barreiras da tcnica abrindo um dialogo como a formao

    humana do professor de Histria e seu papel dentro da escola.

    Mas especificamente sobre o trabalho aqui exposto conclumos que, existe uma grande

    lacuna a ser preenchida dentro do ensino no mbito da Histria Indgena e ainda em

    discusses que sejam pautados por conceitos de multiculturalidade e interculturalidade e

    alteridade, nos pareceu que os estudantes em grande medida no tem tido acesso aos avanos

    que as Cincias Humanas tem trazido a estes debates, elementos este chaves para darmos

    inicio a desconstruo de preconceitos de toda ordem na sociedade.

    REFERNCIAS

    CIMI Conselho Indigenista Missionrio. Por que os Guarani e Kaiow se suicidam? Espao e vida dos ndios Guarani e Kaiow de Mato Grosso do Sul: Histrico, contexto e anlise do suicdio. Campo Grande: CIMI-MS, 1997. 51 p.

    EREMITES, Jorge de Oliveira. PEREIRA. Levi Marques. Duas no p e uma na bunda: da participao Terena na guerra entre o Paraguai e a Trplice Aliana luta pela ampliao dos limites da Terra Indgena Buriti. Revista Eletrnica Histria em Reflexo: Vol. 1 n. 2 UFGD - Dourados Jul/Dez 2007 BRASIL, IBGE, Censo Demogrfico 2010. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_gerais_indigenas/default_uf_xls.shtm Acessado em 20/09/2014 MANCINI Ana Paula G.; TROQUEZ Marta C. C. Desconstruindo esteretipos: apontamentos em prol de uma prtica educativa comprometida eticamente com a temtica indgena. Tellus, ano 9, n. 16, p. 181-206, jan./jun. 2009,Campo Grande MS SILVA. Llio Loureiro da. As representaes dos Kaiowa-andeva no jornal O Progresso na dcada de 1980.2007. 120 f. Dissertao de Mestrado (Mestrado em Histria). FCH/UFGD. Dourados.

    LUCA, Tania Regina de. Fontes impressas: Histria dos , nos e por meio dos peridicos. In:Fontes Histricas. Org. Carla Bassanegi Pinsky. So Paulo: Contexto. 2005. p.111-153 TROQUEZ, Marta Coelho Castro. Professores ndios na Reserva Indgena Francisco Horta Barbosa (Dourados-MS): a especificidade destes atores sociais e histricos. In: SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA, 23., 2005, Londrina. Anais do XXIII Simpsio Nacional de Histria Histria: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005. CD-ROM.