artigo - a origem do federalismo brasileiro

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1 A origem do federalism o brasileiro. I Introdução. II Conceito de federação. III - O nascimento do federalismo. IV - III – O nascimento do federalismo no Brasil. V – Conclusão.  I - Introdução É indiscutível que a maneira pela qual o Estado organiza o seu território e estrutura o seu poder político depende da natureza e da história de cada país. A forma de organização do Estado se unitário, federado ou confederado reflete a repartição de competências que leva em consideração a composição geral do país, a estrutura do poder, sua unidade, distribuição e competências no respectivo território.  No caso específico do federalismo, identificam-se dois tipos básicos. O pr imei ro é o fede ralismo po r ag re gação qu e te m po r cara ct erísti ca a ma io r  descentralização do Estado, no qual os entes regionais possuem competências mais amplas, como ocorre nos Estados Unidos da América do Norte (EUA). O segundo, é o federalismo por desagregação, onde a centralização é maior. O ente central recebe a maior parcela de poderes, como é o caso da federação brasileira. II – Conceito de federação O Est ado Feder al é con ce it uad o com o uma alia nça ou uni ão de Estados. A própria palavra federação, do latim foedus, quer dizer pacto, aliança. Mont esqu ieu, em seu clássico “O Esp írito da s Lei s”, escr ev eu qu e a re blica federativa é uma forma de constituição que possui todas as vantagens internas do governo republicano e a força externa da monarquia. Segundo o filósofo, essa “forma de governo é uma convenção segundo a qual vários Corpos políticos consentem em se tomar cidadãos de um Estado maior que pretendem formar. É uma sociedade de  sociedades, que formam uma nova sociedade, que pode crescer com novos associados que se unirem a ela.”  1 Ao conceituar fe der açã o, Kelsen esc rev eu que ap enas o gra u de descentralização diferencia um Estado unitário dividido em províncias autônomas de um Estado federal. Segundo o ilustre doutrinador, o Estado federal caracteriza-se pelo fato de o Estado componente possuir certa medida de autonomia constitucional. O órgão legislativo de cada Estado componente tem comp etên cia em maté rias refe rent es a constituição dessa comunidade, de modo que modificações nas constituições destes Estados podem ser efetuadas por estatutos dos próprios Estados componentes. Por seu turno, no Estado unitário relativamente descentralizado as  províncias autônoma s não possuem autonomia constitu cional. Sua norma fundament al é  prescrita pela constituição do Estado unitário como um todo e só pode ser modificada  por mei o de uma modificação nessa constit ui ção . As uni dad es possuem apenas competência para a legislação provincial, dentro do que a constituição do Estado unitário prescrever. A legislação em matérias da constituição é totalmente centralizada,

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A origem do federalismo brasileiro.

I – Introdução. II – Conceito de

federação. III - O nascimento do federalismo.IV - III – O nascimento do federalismo noBrasil. V – Conclusão.

 

I - Introdução

É indiscutível que a maneira pela qual o Estado organiza o seuterritório e estrutura o seu poder político depende da natureza e da história de cada país.A forma de organização do Estado se unitário, federado ou confederado reflete arepartição de competências que leva em consideração a composição geral do país, aestrutura do poder, sua unidade, distribuição e competências no respectivo território.

 No caso específico do federalismo, identificam-se dois tipos básicos.O primeiro é o federalismo por agregação que tem por característica a maior descentralização do Estado, no qual os entes regionais possuem competências maisamplas, como ocorre nos Estados Unidos da América do Norte (EUA). O segundo, é ofederalismo por desagregação, onde a centralização é maior. O ente central recebe amaior parcela de poderes, como é o caso da federação brasileira.

II – Conceito de federação

O Estado Federal é conceituado como uma aliança ou união de

Estados. A própria palavra federação, do latim foedus, quer dizer pacto, aliança.Montesquieu, em seu clássico “O Espírito das Leis”, escreveu que a repúblicafederativa é uma forma de constituição que possui todas as vantagens internas dogoverno republicano e a força externa da monarquia. Segundo o filósofo, essa “formade governo é uma convenção segundo a qual vários Corpos políticos consentem em setomar cidadãos de um Estado maior que pretendem formar. É uma sociedade de

 sociedades, que formam uma nova sociedade, que pode crescer com novos associadosque se unirem a ela.” 1

Ao conceituar federação, Kelsen escreveu que apenas o grau dedescentralização diferencia um Estado unitário dividido em províncias autônomas de

um Estado federal.Segundo o ilustre doutrinador, o Estado federal caracteriza-se pelo

fato de o Estado componente possuir certa medida de autonomia constitucional. O órgãolegislativo de cada Estado componente tem competência em matérias referentes aconstituição dessa comunidade, de modo que modificações nas constituições destesEstados podem ser efetuadas por estatutos dos próprios Estados componentes.

Por seu turno, no Estado unitário relativamente descentralizado as províncias autônomas não possuem autonomia constitucional. Sua norma fundamental é prescrita pela constituição do Estado unitário como um todo e só pode ser modificada  por meio de uma modificação nessa constituição. As unidades possuem apenas

competência para a legislação provincial, dentro do que a constituição do Estadounitário prescrever. A legislação em matérias da constituição é totalmente centralizada,

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ao passo que, no Estado federal, ela é centralizada apenas de modo incompleto, ou seja,até certo ponto, ela é descentralizada.2 

Portugal e Espanha são exemplos de estados unitáriosdescentralizados. Em Portugal os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituemregiões autônomas. O artigo 225 da Constituição Portuguesa estabelece que devido àssuas características geográficas, econômicas, sociais e culturais essas unidades possuemautonomia político-administrativa, a qual será exercida dentro dos limites daConstituição Portuguesa e sem afetar a integridade e a soberania do Estado Português.3

Já o sistema espanhol é mais flexível que o português. O art. 137 daConstituição da Espanha estabelece que o Estado organiza-se em municípios, provínciase comunidades autônomas. Todos possuem autonomia para gestão de seus interesses.Especificamente em relação às comunidades autônomas, o art. 147 prevê que a normainstitucional básica destas unidades será elaborada dentro dos limites da Constituiçãoespanhola e farão parte do ordenamento jurídico do Estado espanhol. No art. 148 aCarta da Espanha enumera as matérias sujeitas à competência das comunidades

autônomas. 4

Dallari ensina que, em qualquer época da história humana, encontram-se referências a alianças entre Estados. Segundo o doutrinador, alguns autores defendemque o primeiro exemplo dessa união total e permanente foi a Suiça. Três Cantõescelebraram em 1291 um pacto de amizade e de aliança, formando a ConfederaçãoHelvética.

Apesar disso, conforme Dallari, o Estado Federal nasceu com aConstituição dos EUA, em 1787, quando as treze colônias se uniram em um só país parafazer frente às metrópoles da época. Muito embora a Confederação Helvética tenha sidoformada em 1291, permaneceu restrita quanto aos objetivos e ao relacionamento entre

os participantes até o ano de 1848, quando a Suíça se organizou como Estado Federal.5

Em resumo, pode-se afirmar que o Estado Federal é aquele que  permite maior grau de descentralização do poder, pois se organiza mediante acoexistência de mais de um centro de poder detentor de autonomia política,administrativa e legislativa. O pressuposto do federalismo é a repartição deresponsabilidades governamentais de modo a assegurar a integridade do Estadonacional frente às inúmeras disputas e desigualdades regionais.

III – O nascimento do federalismo

O federalismo não nasce da mesma forma em todos os países. CadaEstado tem uma história que caracteriza o seu tipo de federação. Kelsen escreve que sóé possível reconhecer um Estado federal pelo conteúdo de sua constituição positivaconcreta, no caso de a essência do Estado federal ser concebida com um grau particular e uma forma específica de descentralização. A partir desse ponto de vista, Kelsen

 pontua que o modo de criação do Estado é irrelevante: quer tenha ele passado a existir   por meio de um tratado internacional (estabelecendo a constituição federal) entreEstados até então soberanos, i.e., Estados Subordinados apenas à ordem jurídicainternacional, ou pelo ato legislativo de um Estado unitário transformando-se em Estadofederal através do aumento do seu grau de descentralização.6

Ao analisar o contexto histórico dos dezesseis países que adotaram ofederalismo, José Luiz Quadros de Magalhães identificou três matrizes segundo o nível

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das relações intergovernamentais entre os entes federados: “a) o federalismo dual,modelo original dessa forma de organização elaborada e implementada nos EUA; b) o

  federalismo centralizado, transformação do modelo dual em que as unidades subnacionais se tornam, praticamente, agentes administrativos do governo central,como no período das medidas de intervenção do New Deal e; c) o federalismo

cooperativo, em que as unidades subnacionais e o governo nacional têm ação conjuntae capacidade de autogoverno, como na Alemanha.”7

José Afonso da Silva ensina que o grau de descentralização do poder éfixado na Constituição de cada Estado. O autor denomina de federalismo centrípeto, sea concepção constituinte inclinar-se pelo fortalecimento do poder central; defederalismo centrífugo, se a Constituição fixar-se na preservação do Poder Estadual eMunicipal; e, finalmente, de federalismo de cooperação, se o constituinte optar peloequilíbrio de forças entre o poder central e local.8

  Nas Resoluções de Kentucky de 1798 e 1799, Thomas Jeffersonestabelece a importância da descentralização do poder, num federalismo centrífugo,

como instrumento de reconhecimento, valorização e institucionalização da formaçãonatural de comunidades, verbis:

KENTUCKY RESOLUTIONS OF 1798 AND 1799

[THE ORIGINAL DRAFT PREPARED BY THOMAS JEFFERSON.]

1. Resolved , That the several states composing the United States of Americaare not united on the principle of unlimited submission to their general government; but that, by compact, under the style and title of a Constitution for the United States,and of amendments thereto, they constituted a general government for special purposes, delegated to that government certain definite powers, reserving, each stateto itself, the residuary mass of right to their own self-government; and thatwhensoever the general government assumes undelegated powers, its acts are

unauthoritative, void, and of no force; that to this compact each state acceded as astate, and is an integral party; that this government, created by this compact, was notmade the exclusive or final judge of the extent of the powers delegated to itself,since that would have made its discretion, and not the Constitution, the measure of its powers; but that, as in all other cases of compact among powers having nocommon judge, each party has an equal right to judge for itself, as well of infractions as of the mode and measure of redress.9

IV – O nascimento do federalismo no Brasil

As Constituições brasileiras de 1891, 1937, 1946, 1967 e 1988

afirmaram a forma republicana do Estado. No entanto, o desenvolvimento do processohistórico da estrutura política do Estado brasileiro revela um processo cíclico decentralização do poder. A forma unitária do Estado monárquico é a gênese de umatradição política centralizadora, que mitigou todas as iniciativas de descentralização.

Durante o período colonial o Brasil foi dividido administrativamenteem capitanias, as quais foram transformadas em províncias em 1821. Com aindependência, a Constituição de 1824 manteve as mesmas divisas entre as províncias enão alterou os seus poderes. De fato, a Carta de 1824 previa que os governos dasProvíncias seriam seriam presididos por pessoas nomeadas pelo Imperador  10 e que todocidadão tinha o direito de intervir nos negócios da sua localidade, nas Câmaras dosDistritos e no Conselho Geral da Província 11. As Câmaras dos Distritos tinham acompetência de gerir a economia dos municípios.12 Por seu turno, os Conselhos Gerais

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das Províncias tinham competência para aprovar normas específicas para gerir osnegócios da Província.13

Em 1831, D. Pedro I abdica do trono, em meio ao movimento daselites agrárias regionais contra o excessivo centralismo do monarca. A movimentação

 pela maior descentralização e a criação de um regime provincial continuou até que em1834, por intermédio de Ato Adicional, foi aprovada a Lei n.º 16, de 12/8/1834, queemendou a Constituição do Império para criar uma Monarquia representativa.Adaptando princípios federalistas, os Conselhos Gerais das Províncias foramsubstituídas por Assembleias Legislativas14. Essa mudança aumentou a descentralizaçãodo Estado brasileiro, garantindo às Províncias funções executivas e legislativas. Algunshistoriadores chegaram a conceber, em face da evidente descentralização após 1834, osurgimento de um “Império Federado”.15

Com a Proclamação da República em 1889, os movimentos contráriosà política do governo imperial foram definitivamente vitoriosos. O Governo Provisórioexpediu o Decreto nº 1, de 15/11/1889, instituindo a federação, transformando as

antigas Províncias em Estados membros e criando os “Estados Unidos do Brazil”.16

O Governo Provisório obrigou nos arts. 6º e 7º do Decreto n.º 1, de1889, as antigas Províncias transformadas em Estados membros a integrar a novafederação.17

Posteriormente, a Constituição de 1891 trouxe no art. 1º a RepúblicaFederativa como forma de governo e a regra da união perpétua e indissolúvel dosEstados membros18. A Carta também instituiu o patrimônio de cada unidade federativa19 

e adotou na repartição constitucional de competências a técnica de poderes enumeradose reservados. Os poderes dos Estados membros em matéria tributária20 foram fixados naConstituição, porém permitiu-se aos entes no art. 65 exercer “todo e qualquer poder, ou

direito que lhes não for negado por clausula expressa ou implicitamente contida nasclausulas expressas da Constituição”21. A Carta de 1891 manteve a obrigação dosEstados membros de formarem a federação brasileira, independentemente da vontadedas populações locais, e previu, no art. 6º, a possibilidade de intervenção da União nosentes federados para garantir à força a manutenção da federação.22 

  Nos anos 30, durante o período Vargas, observou-se a volta docentralismo, com a restrição da autonomia administrativa e política dos Estadosmembros. O Decreto n.º 19.398, de 11/11/1930, dissolveu o Congresso Nacional, asAssembleias Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais,23 cassou os mandatos detodos os Governadores e Prefeitos e nomeou interventores em cada Estado membro. O

Decreto também previu a competência dos Interventores Estaduais para nomear osInterventores nos municípios. Dos atos dos Interventores Estaduais só cabia recurso aoPresidente da República.24

É interessante observar que apesar de todo o centralismo, o Decreton.º 19.398 fez questão de manter em vigor as Constituições e as Leis Estaduais, dereforçar a autonomia financeira dos Estados membros e de garantir que a novaconstituição a ser elaborada manteria o sistema federativo.25

Outorgada por Getúlio Vargas, a Constituição de 1937 manteve no art.2126 a competência remanescente dos Estados membros e ampliou as hipóteses deintervenção da União nos entes federados27. Havia, também, um dispositivo que previa a

transformação do Estado membro em território da União se não fosse capaz de

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arrecadar receita suficiente para manutenção dos seus serviços, por três anosconsecutivos.28

A Constituição de 1946 devolveu formalmente a autonomiaadministrativa e política aos Estados membros. Isso, no entanto, foi novamente afetado

 pelo Golpe Militar de 1964. A Constituição de 1967/1969 construiu um federalismomeramente nominal, pois a competência da União era de tal forma dilatada que poucorestava para os Estados federados.29

Sobre a Constituição de 1988, José Afonso da Silva escreve que anova Carta buscou resgatar o princípio federalista e estruturou um sistema de repartiçãode competências que tentou refazer o equilíbrio das relações entre o poder central e os

 poderes estaduais e municipais.30

 No entanto, a par de resgatar o princípio federalista, a Constituição de1988 centralizou na União a maioria das competências. Com efeito, o rol dos artigos 21e 22 é tão extenso que deixa pouca margem para os Estados membros.

Além disso, o art. 25 previu que os Estados membros “organizam-se eregem-se pelas Constituições e leis que adotarem”, observados os princípios daConstituição. Quanto a isso, a doutrina identifica dois tipos de normas presentes nasConstituições Estaduais, as de reprodução obrigatória e as de imitação.

As normas de reprodução obrigatória são aquelas cuja inserção naConstituição Estadual é compulsória. Nesse caso, a tarefa do constituinte estaduallimita-se a inserir aquelas normas no ordenamento constitucional do Estado membro,

 por um processo de transplantação. Já as normas de imitação representam aquelas cujoconteúdo é idêntico às das regras constitucionais federais, mas não há obrigatoriedadede sua reprodução nas Constituições dos Estados membros. Nesses casos a adesão é

voluntária.O problema reside no fato de que o conceito jurídico de norma de

reprodução obrigatória é indeterminado e que a jurisprudência acaba por determinar nocaso concreto. Segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), os limitesconstitucionalmente estabelecidos para o poder constituinte estadual determinam queum núcleo central da Constituição Federal seja obrigatoriamente reproduzido naConstituição do Estado membro. 31  32 O voto do Ministro Sepúlveda Pertence, no

 julgamento da Reclamação n.º 370-1/MT, resumiu bem esse problema, verbis:

59. No Brasil, a escalada centralista iniciada com a Constituição de 34,acentua-se nas posteriores, ainda quando se faça completa abstração das fases de paroxismo unitarista dos regimes autoritários de 37 e 67/69, para só levar em conta

os textos democratizantes de 46 e 88.

60. Essa tendência progressiva de centralização se revela em duas dimensões básicas, paralelas, mas de sentido coincidente: não apenas na multiplicação dostemas reservados a legislação federal, mas também na crescente substituição daimposição, ao respeito dos ordenamentos locais de princípios gerais de conteúdoelástico, pela antecipação, no próprio texto da Constituição Federal, do tratonormativo, denso e minudente, de matérias antes deixadas, em linha de principio, aorganização autônoma do Estado-membro.

61. Nessa linha constante de substituição do mecanismo clássico - querestringia os preceitos substanciais da "constituição total" ao enunciado de princípiosgerais limitativos da autonomia estadual -, pela técnica contemporânea — que,antecipadamente, subtrai, da esfera de auto-organização estadual, setores cada vezmais amplos de temas substancialmente locais, que o contribuinte federal direta edensamente regula — é que se situa a fonte da multiplificação, nos documentos

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constitucionais do Estado-membro, de preceitos de simples reprodução de formasfederais de recepção compulsória pelas unidades federadas.33

V - Conclusão

O federalismo nos EUA não surgiu como no Brasil. Naquele país a

federação teve origem centrífuga, pois garantiu a maioria das competências dos Estados.As colônias britânicas aliaram-se, declararam-se independentes e celebraram entre si umtratado internacional, em 1777, criando uma Confederação e União Perpétua para

 preservar a independência. O tratado, no art. 10, reservava aos Estados tudo o que nãofosse expressamente outorgado aos Estados Unidos, verbis: “Art. X. The power not delegated to the United States by the Constitution, nor prohibited by it to the states,are reserved to the states respectively or to the people” .34 O artigo 2º do referidoTratado previa ainda a possibilidade de dissolver o vínculo Confederativo peloexercício do direito de secessão, verbis: “ Art. II. Each state retains its sovereignty,

 freedom and independence, and every Power, Jurisdiction and right, which is not bythis confederation expressly delegated to the United States, in Congress assembled.”A

confederação só desapareceu com a ratificação da Constituição Republicana de 1789que criou a federação e extinguiu a possibilidade de secessão.

  No Brasil, ao contrário dos EUA, partiu-se de uma ordemcentralizada, que era o Estado unitário do período imperial, para uma ordem federativade divisão de poderes e competências em 1889, num processo centrípeto. A conversãodo Estado unitário em Estado federado foi um processo lento e gradual. Houve umaadaptação dos princípios e instituições federalistas, de modo a manter os interesses e

  privilégios das elites agrárias, industriais e burocráticas, que organizaram aindependência e controlavam o Império.

A ideia de descentralização administrativa no Brasil era antiga e

retrocedia ao início da colonização. Os Forais de Capitania já previam a possibilidadede se adquirir  “direitos, foros, tributos e coisas que na dita terra se hão de pagar” .Como se observa, as reivindicações de descentralização do poder tinham suporte narealidade administrativa brasileira. Chegamos mesmo a ter uma monarquia com ares defederação, com o Ato Adicional de 1837.

Apesar disso, a experiência brasileira sempre foi marcada por um fortecentralismo, que provocava a dependência dos entes subnacionais ao governo central. Odiscurso de Rui Barbosa no Congresso Nacional, intitulado “Organização das

  Finanças Republicanas”, proferido em 1890, resume bem o pensamento dosformadores da federação brasileira, verbis:

Senhores, não somos uma federação de povos até ontem separados, ereunidos de ontem para hoje. Pelo contrário, é da união que partimos. Na uniãonascemos. Na união se geraram e fecharam os olhos nossos pais. Na união ainda nãocessamos de estar. Para que a união seja a herança de nossa descendência, todos ossacrifícios serão poucos. A união é, talvez, o único benefício sem mescla, que amonarquia nos assegurou. E um dos mais terríveis argumentos, que a monarquiaameaçada viu surgir contra si, foi o de que o seu espírito centralizador tendia adissolver a união pela reação crescente dos descontentamentos locais. Para nãodescer abaixo do Império, a República, a Federação, necessita de começar mostrando-se capaz de preservar a União, pelo menos tão bem quanto ele. Quando,sob as últimas trevas do regímen extinto, começou a alvorecer entre nós a aspiraçãofederalista, o mais poderoso espantalho agitado pela realeza contra ela era adesintegração da pátria, a dissolução da nossa nacionalidade pelo gênio do

separatismo inerente, segundo os seus inimigos, à forma federativa. Esse receio foi ogrande embaraço, que obstou por longo tempo o bom êxito das esperanças

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republicanas; e, se hoje o rumo de nossos primeiros passos não desvanecer essasapreensões; se as primeiras medidas adotadas pelo Congresso não demonstrarem queo mais firme dos nossos propósitos é manter inteira, incólume, indivisível, sob umforte governo nacional, a grande pátria brasileira, então a república terá sido a maisdolorosa de todas as decepções para os amigos do país.35

A Constituição Federal de 1988 definiu no art. 3º a base do Estadofederativo brasileiro, a partir de uma matriz cooperativa de repartição de competências,em que coexistem competências privativas, concorrentes e suplementares entre os entesfederados, tanto nos aspectos legislativos, quanto nos aspectos administrativos etributários.   36 Miguel Reale ensina que na construção do Estado Brasileiro o legislador 

  pátrio concebe três círculos distintos de ação que se completam e se integram,“formando, no seu todo, a República Federativa do Brasil, segundo os princípios dochamado federalismo cooperativo, ou integrado”.37 

Sobre o conceito de autonomia, a Ministra Carmem Lúcia ensina queo termo, em sua etimologia, significa “a faculdade conferida ou reconhecida a umaentidade de criar as suas próprias normas. Daí o entendimento mais comumente aceitono Direito de constituir autonomia a capacidade política de uma entidade para governar-se a si mesma segundo leis próprias, criadas em esfera de competência definida por um

 poder soberano”.38

Todavia, não basta a previsão constitucional de um federalismocooperativo. Para que estados e municípios tenham real autonomia política, é necessárioque possuam autonomia administrativa e financeira. Em outras palavras, a existênciareal da autonomia depende da existência de recursos suficientes e não sujeitos acondições, para que possam desempenhar suas atribuições. Sem recursos suficientes aautonomia existirá apenas no papel.

O Ministro Celso Mello, no julgamento da ADI 507-3/DF, ensinouque no modelo federal de Estado existe um antagonismo entre a tendência àcentralização e o movimento de descentralização e, em razão disso, o Estado federal nãose apresenta uno e nem uniforme. Conforme o Ministro o “Estado Federal exprime, no

 plano da organização jurídica, a síntese que decorre de dois movimentos que seantagonizam: a tendência à unidade ou à centralização, que se rege pelo princípiounitário, e a tendência à pluralidade, ou à descentralização, que se funda no princípio

 federativo. Do maior ou menor equilíbrio entre esses dois princípios, resultará, emcada hipótese, um modelo diverso de Estado Federal, quer caracterizado por um graude maior centralização, quer tipificado por um coeficiente de maior descentralizaçãorelativamente ao exercício do poder político”.39

Se por um lado a Constituição de 1988 significou a possibilidade defortalecimento de um pacto federativo, por outro também é verdade que as instituições,

 por conivência ou por incapacidade, não foram capazes de frear a voracidade centralistada União. Não se vê no Poder Central vontade política de criar um equilíbrio federativoefetivo, que estabeleça a capacidade financeira dos 27 Estados membros e dos 5.507Municípios brasileiros, de maneira a criar um padrão mínimo de igualdade na prestaçãodos serviços.

Essa voracidade centralista tem sua expressão maior na fixação dostributos e na repartição das receitas. Com efeito, a Carta de 1988 adotou o critério defixar em rol taxativo os tributos que Estados40 e Municípios41 podem instituir e cobrar.

Já para a União a Constituição reservou no artigo 154 a competência residual42

de criar outros impostos além dos relacionados no art. 153. Como se não bastasse, a Carta

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submeteu os impostos estaduais e municipais a regramento a ser editado pela União,conforme se observa no art. 15543, incisos III e IV do § 1º, incisos IV, V e XII do § 2º e§ 6º, e no art. 15644, § 3º.

Visando corrigir as desigualdades regionais do Brasil e atendendo aofederalismo cooperativo prescrito no art. 3º, a Constituição previu nos arts. 157 a 162 arepartição de receitas como maneira de dividir o produto da arrecadação de formaequilibrada entre os diversos entes da federação. A Carta estabeleceu a distribuição de

 percentuais da receita da União com o Imposto de Renda (IR), com o Imposto sobreProdutos Industrializados (IPI) e com a contribuição de intervenção no domínioeconômico prevista no § 4º do art. 177.45

A fórmula de partilha das receitas tributárias criada pelo constituinteoriginário não funcionou. A União, num processo iníquo, foi substituindo os impostosque é obrigada a repartir com Estados e Municípios por contribuições que não estãosujeitas a essa partilha. Essas contribuições, muitas vezes, possuem identidade de fatosgeradores de impostos de Estados e Municípios, contrariando a repartição de

competências da Constituição. Com isso, criou-se um desequilíbrio em prol da União,que passa a deter a primazia na Federação brasileira, o que conduz a uma tendênciacrescente de supressão da autonomia dos Estados e Municípios e de centralização de

 poder, em evidente desrespeito ao pacto federativo.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário(IBPT), observam-se duas coisas, a saber.

Primeiro, a União arrecada cerca de 70% dos tributos no Brasil. Em2008, os tributos federais totalizaram R$ 739,68 bilhões (70%), os estaduais R$ 270,12

 bilhões (25,56%) e os municipais R$ 46,84 bilhões (4,43%). Em 2009, a proporção nãose alterou. Os tributos federais representaram 69,54% (R$ 759,88 bilhões) do total

arrecadado, enquanto os tributos estaduais representaram 25,88% (R$ 282,73 bilhões) eos municipais 4,58% (R$ 50,05 bilhões).

Segundo, o potencial arrecadatório das contribuições é muito maior doque o dos impostos federais. De acordo com dados do IBPT, em 2008 a Uniãoarrecadou com contribuições 60% a mais do que arrecadou em impostos. Em 2009, essa

 proporção aumentou para 76%, conforme se observa na tabela abaixo: 46

Tributos federais 2008 2009

Impostos 269,28 258,15

Contribuições 430,04 454,57

Fonte: IBPT

Depreende-se dessa análise que se tem no Brasil um federalismo quetende ao centralismo ou, como dizem alguns, um federalismo unitário, pois a faltaclareza quanto às competências, vez que estas se entrelaçam ou se superpõem, permite àUnião abocanhar cada vez mais competências. Com isso, o ente Central estabelece cadavez mais condições que precisam ser cumpridas pelos Estados membros.

É essencial conferir aos Estados e Municípios a capacidade deformular e implementar políticas públicas. Sem equilíbrio entre autonomia

 política/administrativa e autonomia financeira, a ideia de pacto federativo é vazia, ou,como diriam alguns, um “federalismo a brasileira”.

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1NOTAS DE FIM

MONTESQUIEU. O Espírito das Leis, Segunda Parte, Livro Nono, Capítulo I, Trad. Cristina Murachco, São Paulo:Martins Fontes, 2000, p. 141, título original: “L´Esprit des lois”.2 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, trad. Luis Carlos Borges, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 453, títulooriginal: “General Theory of Law and State”.

3  Artigo 6.º (Estado unitário)

1. O Estado é unitário e respeita na sua organização e funcionamento o regime autonômico insular e os princípios dasubsidiariedade, da autonomia das autarquias locais e da descentralização democrática da administração pública.2. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões autónomas dotadas de estatutos político-administrativose de órgãos de governo próprio.(...)Artigo 225.º (Regime político-administrativo dos Açores e da Madeira)1. O regime político-administrativo próprio dos arquipélagos dos Açores e da Madeira fundamenta-se nas suascaracterísticas geográficas, económicas, sociais e culturais e nas históricas aspirações autonomistas das populaçõesinsulares.2. A autonomia das regiões visa a participação democrática dos cidadãos, o desenvolvimento económico-social e a

 promoção e defesa dos interesses regionais, bem como o reforço da unidade nacional e dos laços de solidariedade entretodos os portugueses. 3. A autonomia político-administrativa regional não afecta a integridade da soberania do Estado eexerce-se no quadro da Constituição.

4  Artículo 137.El Estado se organiza territorialmente en municipios, en provincias y en las Comunidades Autónomas que seconstituyan. Todas estas entidades gozan de autonomía para la gestión de sus respectivos intereses.(...)Artículo 147.1. Dentro de los términos de la presente Constitución, los Estatutos serán la norma institucional básica de cadaComunidad Autónoma y el Estado los reconocerá y amparará como parte integrante de su ordenamiento jurídico.2. Los Estatutos de autonomía deberán contener: a) La denominación de la Comunidad que mejor corresponda a suidentidad histórica. b) La delimitación de su territorio. c) La denominación, organización y sede de las institucionesautónomas propias. d) Las competencias asumidas dentro del marco establecido en la Constitución y las bases para eltraspaso de los servicios correspondientes a las mismas.3. La reforma de los Estatutos se ajustará al procedimiento establecido en los mismos y requerirá, en todo caso, la

aprobación por las Cortes Generales, mediante ley orgánica.Artículo 148.1. Las Comunidades Autónomas podrán asumir competências en las siguientes materias:

1º Organización de sus instituciones de autogobierno.2º Las alteraciones de los términos municipales comprendidos en su territorio y, en general, las funciones quecorrespondan a la Administración del Estado sobre las Corporaciones locales y cuyatransferencia autorice la legislación sobre Régimen Local.3º Ordenación del territorio, urbanismo y vivienda.4º Las obras públicas de interés de la Comunidad Autónoma en su propio territorio.5º Los ferrocarriles y carreteras cuyo itinerario se desarrolle íntegramente en el territorio de la Comunidad Autónomay, en lós mismos términos, el transporte desarrollado por estos medios o por cable.6º Los puertos de refugio, los puertos y aeropuertos deportivos y, en general, los que no desarrollen actividadescomerciales.7º La agricultura y ganadería, de acuerdo con la ordenación general de la economía.8º Los montes y aprovechamientos forestales.9º La gestión en materia de protección del medio ambiente.10º Los proyectos, construcción y explotación de los aprovechamientos hidráulicos, canales y regadíos de interés dela Comunidad Autónoma; las aguas minerales y termales.11º La pesca en aguas interiores, el marisqueo y la acuicultura, la caza y la pesca fluvial.12º Ferias interiores.13º El fomento del desarrollo económico de la Comunidad Autónoma dentro de los objetivos marcados por la

 política económica nacional.14º La artesanía.15º Museos, bibliotecas y conservatorios de música de interés para la Comunidad Autónoma.

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16º Patrimonio monumental de interés de la Comunidad Autónoma.17º El fomento de la cultura, de la investigación y, en su caso, de la enseñanza de la lengua de la ComunidadAutónoma.18º Promoción y ordenación del turismo en su ámbito territorial.19º Promoción del deporte y de la adecuada utilización del ocio.20º Asistencia social.21º Sanidad e higiene.22º La vigilancia y protección de sus edificios e instalaciones. La coordinación y demás facultades en relación con

las policías locales en los términos que establezca una ley orgánica.2. Transcurridos cinco años, y mediante la reforma de sus Estatutos, las Comunidades Autónomas podrán ampliar sucesivamente sus competencias dentro del marco establecido en el artículo 149.

5 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, 2ª ed., Ed. Saraiva, 1998, p. 141.6 KELSEN, Hans , ob. cit. p. 461.

7 MAGALHÃES, José Luiz Quadros de (coord.). Pacto Federativo, Ed. Mandamentos, Belo Horizonte, 2000, p. 186.

8 DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, Ed. Malheiros, São Paulo, 2006, p. 99/102.

9 Tradução livre: Que os diversos Estados que compõem os Estados Unidos da América não estão unidos pelo princípio dasubmissão limitada a seu governo geral. Apenas por convenção, debaixo do estilo e título de uma Constituição para os

Estados Unidos e as suas Emendas à mesma, fixou-se um governo geral com propósitos especiais, delegando a esse governocertos poderes determinados, reservando a cada Estado para si mesmo o resíduo dos direitos para seu próprio governo.Quando o governo central assume poderes não delegados, suas leis carecem de autoridade, são nulas e sem força legal. CadaEstado surge como Estado e como parte integrante; Que este governo, criado por este pacto, não foi instituído como juizfinal da extensão dos poderes a ele delegados, uma vez que teria feito a seu critério, e não ao da Constituição, a medida dassuas competências; mas que, como em todos os outros casos de pacto entre os poderes que não possuem juízo comum, cada

 parte tem um direito igual para julgar por si mesmo, bem como das infrações e do modo de medida de compensação.10 Art. 165. Haverá em cada Provincia um Presidente, nomeado pelo Imperador, que o poderá remover, quando entender,que assim convem ao bom serviço do Estado.

11 Art. 71. A Constituição reconhece, e garante o direito de intervir todo o Cidadão nos negocios da sua Provincia, e quesão immediatamente relativos a seus interesses peculiares.

Art. 72. Este direito será exercitado pelas Camara dos Districtos, e pelos Conselhos, que com o titulo de - Conselho

Geral da Provincia - se devem estabelecer em cada Provincia, aonde não, estiver collocada a Capital do Imperio.12 Art. 167. Em todas as Cidades, e Villas ora existentes, e nas mais, que para o futuro se crearem haverá Camaras, ás quaescompete o Governo economico, e municipal das mesmas Cidades, e Villas.

13 Art. 81. Estes Conselhos terão por principal objecto propôr, discutir, e deliberar sobre os negocios mais interessantes dassuas Provincias; formando projectos peculiares, e accommodados ás suas localidades, e urgencias.14 Art. 1.º O direito reconhecido e garantido pelo art. 71 da Constituição será exercitado pelas Camaras dos Districtos e pelasAssembléas, que, substituindo os Conselhos Geraes, se estabeleceráõ em todas as Provincias com o titulo de AssembléasLegislativas Provinciaes.

15 Art. 9.º Compete ás Assembléas Legislativas Provinciaes propôr, discutir, e deliberar, na conformidade dos arts. 81, 83,84, 85, 86, 87 e 88 da Constituição.

Art. 10. Compete ás mesmas Assembléas legislar:

§ 1.° Sobre a divisão civil, judiciaria, e ecclesiastica da respectiva Provincia, e mesmo sobre a mudança da sua Capital para o lugar que mais convier.§ 2.º Sobre instrucção publica e estabelecimentos proprios a promovel-a, não comprehendendo as faculdades de

Medicina, os Cursos Juridicos, Academias actualmente existentes e outros quaisquer estabelecimentos de instrucção que para o futuro forem creados por lei geral.

§ 3.º Sobre os casos e a fórma por que póde ter lugar a desapropriação por utilidade municipal ou provincial.§ 4.º Sobre a policia e economia municipal, precedendo propostas das Camaras.§ 5.º Sobre fixação das despezas municipaes e provinciais, e os impostos para elas necessarios, com tanto que estes não

 prejudiquem as imposições geraes do Estado. As Camaras poderão propôr os meios de occorrer ás despezas dos seusmunicipios.

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§ 6.º Sobre repartição da contribuição directa pelos municipios da Provincia, e sobre a fiscalização do emprego dasrendas publicas provinciaes e municipaes e das contas da sua receita e despeza. As despezas provinciaes serão fixadas sobreorçamento do Presidente da Provincia, e as municipaes sobre orçamento das respectivas Camaras.

§ 7.° Sobre a creação e suppressão dos empregos municipaes e provinciaes, e estabelecimento dos seus ordenados. Sãoempregos municipaes e provinciaes todos os que existirem nos municipios e provincias, á excepção dos que dizem respeitoa administração, arrecadação, e contabilidade da Fazenda Nacional; administração da guerra e marinha, e dos correiosgerais; dos cargos de Presidente da Provincia, Bispo, Commandante Superior da Guarda Nacional, membro das Relações etribunaes superiores, e empregados das Faculdades de Medicina, Cursos Juridicos e Academias, em conformidade da

doutrina do § 2.º deste artigo.§ 8.º Sobre obras publicas, estradas e navegação no interior da respectiva Provincia, que não pertenção á administração

geral do Estado.§ 9.° Sobre construcção de casas de prisão, trabalho e correção, e regímen delas.§ 10. Sobre casas de soccorros publicos, conventos e quaesquer associações politicas ou religiosas.§ 11. Sobre os casos e a fórma por que poderão os Presidentes das Provincias nomear, suspender e ainda mesmo demitir 

os empregados provinciais.Art.11. Tambem compete ás Assembléas Legislativas Provinciaes:§ 1.º Organizar os Regimentos internos sobre as seguintes bases: 1.ª Nenhum Projecto de Lei ou Resolução poderá entrar 

em discussão sem que tenha sido dado para ordem do dia, pelo menos vinte quatro horas antes; 2.º Cada Projecto de Lei, ouResolução, passará pelo menos por tres discussões; 3.º De uma a outra discussão não poderá haver menor intervallo do quevinte e quatro horas.

§ 2.° Fixar, sobre informação do Presidente da Provincia, a Força policial respectiva.

§ 3.° Autorizar as Camaras Municipaes e o Governo Provincial para contrahir emprestimos, com que occorão ás suasrespectivas despezas.§ 4.º Regular a Administração dos bens provinciaes. Uma Lei Geral marcará o que são bens provinciaes.§ 5.º Promover, cumulativamente com a Assembléa e o Governo Geraes, a organização da estatistica da Provincia, a

catechese, e civilisação dos indigenas, e o estabelecimento de colonias.§ 6.° Decidir, quando tiver sido pronunciado o Presidente da Provincia, ou quem suas vezes fizer, se o processo deva

continuar, e elle ser, ou não, suspenso do exercicio de suas funcções, nos casos em que pelas Leis tem lugar a suspensão.§ 7.º Decretar a suspensão, e ainda mesmo a demissão do Magistrado, contra quem houver queixa de responsabilidade,

sendo elle ouvido, e dando-se-lhe lugar á defeza.§ 8.º Exercer, cumulativamente com o Governo Geral, nos casos e pela forma marcados no § 35 do art. 179 da

Constituição, o direito que esta concede ao mesmo Governo Geral.§ 9.º Velar na Guarda da Constituição e das Leis na sua Provincia, e representar á Assembléa e ao Governo Geraes

contra as Leis de outras Provincias que offenderem os seus direitos.

16 Art. 1.º Fica proclamada provisoriamente e decretada como a forma de governo da nação brasileira – a RepublicaFederativa.

Art. 2.º As provincias do Brazil, reunidas pelo laço da federação, ficam constituindo os Estados Unidos do Brazil.Art. 3.º Cada um desses Estados, no exercicio de sua legitima soberania, decretará oportunamente a sua constituição

definitiva, elegendo os seus corpos deliberantes e os seus governos locais.

17 Art. 6.º Em qualquer dos Estados, onde a ordem publica for perturbada, e onde faltem ao governo local meios efficazes para reprimir as desordens e assegurar a paz e tranquilidade publicas, effectuará o Governo Provisorio a intervençãonecessaria para, com apoio da força publica, assegurar o livre exercicio dos direitos dos cidadãos e a livre ação dasautoridades constituídas.

Art. 7.º Sendo a Republica Federativa Brazileira a forma de governo proclamada, o Governo Provisorio não reconhecenem reconhecerá nenhum governo local contrario á forma republicana, aguardando, como lhe cumpre, o pronunciamentodefinitivo do voto da nação, livremente expressado pelo suffragio popular.

18Art. 1º A Nação Brazileira adopta como fórma de governo, sob o regimen representativo, a Republica Federativa proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitue-se, por união perpetua e indissoluvel das suas antigas provincias, emEstados Unidos do Brazil.19Art. 64. Pertencem aos Estados as minas e terras devolutas situadas nos seus respectivos territorios. cabendo à Uniãosómente a porção de territorio que for indispensavel para a defesa das fronteiras, fortificações, construcções militares eestradas de ferro federaes.  Paragrapho unico. Os proprios nacionaes, que não forem necessarios para serviços da União,

 passarão ao dominio dos Estados, em cujo territorio estiverem situados.

20 Art. 9º E' da competencia exclusiva dos Estados decretar impostos: 1º Sobre a exportação de mercadorias de sua propria producção; 2º Sobre immoveis ruraes e urbanos; 3º Sobre transmissão de propriedade; 4º Sobre industrias e profissões.

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§ 1º Tambem compete.exclusivamente aos Estados decretar: 1º Taxa de sello quanto aos actos emanados dos seusrespectivos governos e negocios de sua economia; 2º Contribuições concernentes aos seus telegraphos e correios.

§ 2º E' isenta de impostos, no Estado por onde se exportar, a producção dos outros Estados.§ 3º Só é licito a um Estado tributar a importação de mercadorias estrangeiras quando destinadas ao consumo no seu

territorio, revertendo, porém, o producto do imposto para o Thesouro Federal.§ 4º Fica salvo aos Estados o direito de estabelecerem linhas telegraphicas entre os diversos pontos de seus territorios, e

entre estes e os de outros Estados que se não acharem servidos por linhas federaes, podendo a União desaproprial-as,quando for de interesse geral.

Art. 10. E' prohibido aos Estados tributar bens e rendas federaes, ou serviços a cargo da União, e reciprocamente.(...)Art. 63. Cada Estado reger-se-ha pela Constituição e pelas leis que adoptar, respeitados os principios constitucionaes da

União.(...)Art. 66. E' defeso aos Estados: 1º Recusar fé aos documentos publicos de natureza legislativa, administrativa, ou

 judiciaria da União, ou de qualquer dos Estados; 2º Rejeitar a moeda, ou a emissão bancaria em circulação por acto doGoverno Federal; 3º Fazer, ou declarar guerra entre si e usar de represálias; 4º Denegar a extradição de criminosos,reclamados pelas justiças de outros Estados, ou do Districto Federal, segundo as leis da União, por que esta materia se reger (art. 34, n. 22).

21 Art. 65. E' facultado aos Estados: 1º Celebrar entre si ajustes e convenções sem caracter politico (art. 45, n. 16); 2º Emgeral todo e qualquer poder, ou direito que lhes não for negado por clausula expressa ou implicitamente contida nas

clausulas expressas da Constituição.22Art. 6º O Governo Federal não poderá intervir em negocios peculiares aos Estados, salvo: (...) 2º Para manter a fórmarepublicana federativa;23Art. 2º É confirmada, para todos os efeitos, a dissolução do Congresso Nacional das atuais Assembléias Legislativas dosEstados (quaisquer que sejam as suas denominações), Câmaras ou assembléiás municipais e quaisquer outros orgãoslegislativos ou deliberativas, existentes nos Estados, nos municípios, no Distrito Federal ou Território do Acre, e dissolvidosos que ainda o não tenham sido de fato.

24 Art. 11. O Governo Provisório nomeará um interventor federal para cada Estado, salvo para aqueles já organizados; emos quais ficarão os respectivos presidentes investidos dos Poderes aquí mencionados.

§ 1º O interventor terá, em cada Estado, os proventos, vantagens e prerrogativas, que a legislação anterior do mesmoEstado confira ao seu presidente ou governador, cabendo-lhe exercer, em toda plenitude, não só o Poder Executivo comotambem o Poder Legislativo.

§ 2º O interventor terá, em relação à Constituição e leis estaduais, deliberações, posturas e atas municipais, os mesmos poderes que por esta lei cabem ao Governo Provisório, relativamente à Constituição e demais leis federais, cumprindo-lheexecutar os decretos e deliberações daquele no território do Estado respectivo.

§ 3º O interventor federal será exonerado a critério do Governo Provisório.§ 4º O interventor nomeará um prefeito para cada município, que exercerá aí todas as funções executivas e legislativas,

 podendo o interventor exonerá-lo quando entenda conveniente, revogar ou modificar qualquer dos seus atos ou resoluções edar-Ihe instruções para o bom desempenho dos cargos respectivos e regularização e eficiência dos serviços municipais.

§ 5º Nenhum interventor ou prefeito nomeará parente seu, consanguíneo ou afim, até o sexto grau, para cargo público noEstado ou município.

§ 6º O interventor e o prefeito, depois de regularmente, empossados, ratificarão expressamente ou revogarão os atos oudeliberações, que eles mesmos, antes de sua investidura, de acordo com a presente lei, ou quaisquer outras autoridades; queanteriormente tenham administrado de fato o Estado ou o município, hajam praticado.

§ 7º Os interventores e prefeitos manterão, com a amplitude que as condições locais permitirem, regime de publicidade

dos seus atos e dos motivos que os determinarem, especialmente no que se refira à arrecadação e aplicação dos dinheiros públicos, sendo obrigatória a publicação mensal do balancete da Receita e da Despesa.

§ 8º Dos atos dos interventores haverá recurso para o Chefe do Governo Provisório.

25 Art. 4º Continuam em vigor as Constituições Federal e Estaduais, as demais leis e decretos federais, assim como as posturas e deliberações e outros atos municipais, todos; porem, inclusive os próprias constituições, sujeitas às modificaçõese restrições estabelecidas por esta lei ou por decreto dos atos ulteriores do Governo Provisório ou de seus delegados, naesfera de atribuições de cada um.

(...)Art. 9º É mantida a autonamia financeira dos Estados e do Distrito Federal.(...)

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Art. 12. A nova Constituição Federal manterá a forma republicana federativa e não poderá restringir os direitos dosmunicípios e dos cidadãos brasileiros e as garantias individuais constantes da Constituição de 24 de fevereiro de 1891.26Art. 21. Compete privativamente ao Estado: I - decretar a Constituição e as leis por que devem reger-se; II - exercer todo equalquer poder que lhes não for negado, expressa ou implicitamente, por esta Constituição.

27 Art. 9º. O Governo Federal intervirá nos Estados, mediante a nomeação pelo Presidente da Republica, de um Interventor,que assumirá no Estado as funcções que pela sua Constituição competirem ao Poder Executivo, ou as que, de accordo comas conveniencias e necessidades de cada caso, lhe forem attribuidas pelo Presidente da Republica:

a) para impedir invasão imminente de um paiz estrangeiro no territorio nacional, ou de um Estado em outro, bem como para repellir uma ou outra invasão;

b) para restabelecer a ordem gravemente alterada, nos casos em que o Estado não queira ou não possa fazel-o;c) para administrar o Estado, quando, por qualquer motivo, um dos seus poderes estiver impedido de funccionar;d) para reorganizar as finanças do Estado que suspender, por mais de dois annos consecutivos, o serviço de sua divida

fundada, ou que, passado um anno do vencimento, não houver resgatado emprestimo contrahido com a União;e) para assegurar a execução dos seguintes principios constitucionaes; 1 - forma republicana e representativa de governo;

2 - governo presidencial; 3 - direitos e garantias asseguradas na Constituição;f) para assegurar a execução das leis e sentenças federaes.

 Paragrapho unico. A competencia para decretar a intervenção será do Presidente da Republica, nos casos, das letras a, be c; da Camara dos Deputados, no caso das letras d e e; do Presidente da Republica, mediante requisição do SupremoTribunal Federal, no caso da letra f.28

Art. 8º. A cada Estado caberá organizar os serviços do seu peculiar interesse e custealos com seus proprios recursos. Paragrapho unico. O Estado que, por tres annos consecutivos, não arrecadar receita sufficiente á manutenção dos seusserviços, será transformado em territorio até o restabelecimento de sua capacidade financeira.29 DA SILVA, José Afonso, ob. cit . p. 102.30DA SILVA, José Afonso, ob. cit . p. 102.

31ADI nº 2.076/AC: “CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO: PREÂMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituição doAcre. I. - Normas centrais da Constituição Federal: essas normas são de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local. Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ147/404). II. - Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata denorma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa. III. - Ação direta deinconstitucionalidade julgada improcedente”. (Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento: 15.8.2002 - Plenário, DJ de 8/8/2003,

 p. 86)32 ADI 507: "O poder constituinte outorgado aos Estados-membros sofre as limitações jurídicas impostas pela Constituiçãoda República. Os Estados-membros organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem (CF, art. 25),submetendo-se, no entanto, quanto ao exercício dessa prerrogativa institucional (essencialmente limitada em sua extensão),aos condicionamentos normativos impostos pela CF, pois é nessa que reside o núcleo de emanação (e de restrição) queinforma e dá substância ao poder constituinte decorrente que a Lei Fundamental da República confere a essas unidadesregionais da Federação.” (Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 14/2/1996, Plenário, DJ de 8/8/2003.) No mesmosentido: ADI 2.113, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 4-3-2009, Plenário, DJE de 21/8/2009. 33 Rcl 370 / MT - MATO GROSSO - Julgamento: 09/04/1992 - Publicação: DJ 29/6/2001, p.35.

34 Tradução livre: "O Estado reterá sua soberania, liberdade e independência, e cada poder, jurisdição e direitos, que não sejam delegados expressamente por confederação para os Estados Unidos, reunidos em Congresso”35 Proferido na sessão de 16/11/1890, disponível em: www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/p_a2.pdf 

36 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa esolidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdadessociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outrasformas de discriminação.

37 REALE, Miguel, in Lições Preliminares de Direito, 25ª edição, 22ª tiragem, 2001 p. 99.

38 ROCHA, Carmem Lúcia Antunes.  República e federação no Brasil:  traços constitucionais da organização políticabrasileira, Belo Horizonte, Ed. Del Rey, 1997, p. 180.39 ADI 507-3/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 14/2/1996, Plenário, DJ de 8/8/2003.

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40 Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, dequaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporteinterestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III -

 propriedade de veículos automotores.

41Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; II - transmissão"inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobreimóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não

compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.42Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde quesejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;43 Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, dequaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporteinterestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III -

 propriedade de veículos automotores.§ 1.º O imposto previsto no inciso I: (...); III - terá competência para sua instituição regulada por lei complementar: IV -

terá suas alíquotas máximas fixadas pelo Senado Federal;§ 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...); IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do

Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá asalíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação; V - é facultado ao Senado Federal: a)

estabelecer alíquotas mínimas nas operações internas, mediante resolução de iniciativa de um terço e aprovada pela maioriaabsoluta de seus membros; b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver conflito específico que envolvainteresse de Estados, mediante resolução de iniciativa da maioria absoluta e aprovada por dois terços de seus membros; (...);XII - cabe à lei complementar: a) definir seus contribuintes; b) dispor sobre substituição tributária; c) disciplinar o regime decompensação do imposto; d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do estabelecimento responsável, o local dasoperações relativas à circulação de mercadorias e das prestações de serviços; e) excluir da incidência do imposto, nasexportações para o exterior, serviços e outros produtos além dos mencionados no inciso X, "a"; f) prever casos demanutenção de crédito, relativamente à remessa para outro Estado e exportação para o exterior, de serviços e demercadorias; g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e

 benefícios fiscais serão concedidos e revogados; h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o imposto incidiráuma única vez, qualquer que seja a sua finalidade, hipótese em que não se aplicará o disposto no inciso X, b; i) fixar a basede cálculo, de modo que o montante do imposto a integre, também na importação do exterior de bem, mercadoria ouserviço.

(...)§ 6º O imposto previsto no inciso III: I - terá alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal; II - poderá ter alíquotasdiferenciadas em função do tipo e utilização.44 Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana;

II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e dedireitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.

(...)§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput  deste artigo, cabe à lei complementar:  I - fixar as suas

alíquotas máximas e mínimas; II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior; III – regular a forma eas condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.

45 Art. 159. A União entregará:

I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtosindustrializados quarenta e oito por cento na seguinte forma: a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo deParticipação dos Estados e do Distrito Federal; b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participaçãodos Municípios; c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte,

 Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regionais dedesenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que alei estabelecer; d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mêsde dezembro de cada ano;

II - do produto da arrecadação do imposto sobre produtos industrializados, dez por cento aos Estados e ao DistritoFederal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados.

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