artifgos
TRANSCRIPT
-
8/3/2019 artifgos
1/10
15
Psicologia: Teoria e Pesquisa
Jan-Mar 2010, Vol. 26 n. 1, pp. 15-24
Alexitimia: Diculdade de Expresso ou Ausncia de Sentimento?
Uma Anlise Terica
LusFreire1Universidade Estadual de Feira de Santana
RESUMO -Oobjetivodesteensaioapresentarumabaseconceitualparadiferenciaremoesdesentimentos,apartirdasideiasdeLeDouxeDamsio,eusaressabasenumaabordagemsobreoconceitoeasorigensdaalexitimia,constructorecentementedesenvolvidopararetrataradiculdadedeexpressaremoesesentimentos.Nessaabordagem,questionadoseoalexitmiconoexpressaounotemsentimentos.Aconclusodesteensaioquenoalexitmicoasemoesocorremnormalmente,masossentimentos,querequeremcircuitoscerebraisadicionaisemrelaoaosacionadospelasemoes,nosodesenvolvidosdeformaadequada.Soapresentadasaslimitaesdotrabalhoesugestesparaumprogramadepesquisa.
Palavras-chave:emoo;cognio;regulaoemocionalLeDoux;Damsio.
Alexithymia: Difculty of Expression or Absence of Feeling?
A Theoretical Analysis
ABSTRACT - Theaimofthisessayistopresentaconceptualbasistodifferentiateemotionsfromfeelings,basedonLeDouxandDamasiosideas,andtousethisbasisforanapproachtoAlexithymiasconceptandorigins,aconstructrecentlydevelopedtoexplainthedifcultyofexpressingemotionsandfeelings.Inthisapproach,itisquestionedwhetheralexithymicindividualsdonotexpressordonothavefeelings.Theconclusionofthisessayisthatemotionsoccurnormallyinalexithymicindividuals,butthatfeelings,whichrequireadditionalbraincircuitsinrelationtothosedrivenbyemotions,arenotdevelopedproperly.Limitationsofthisworkandsuggestionsforaresearchprogramarepresented.
Keywords: emotions;cognition;emotionalregulation;LeDoux;Damasio.
1 Endereoparacorrespondncia:UniversidadeEstadualde FeiradeSantana,DepartamentodeCienciasSociais-DCIS.Av.Transnordestina,s/n,BairroNovoHorizonte.FeiradeSantana,BA.CEP44.036-900.E-mail:[email protected].
Emooesentimentossoduaspalavrasbemconhecidaseusadasemnossodiaadia,mascujadistinoeconceitua -oaindasobastanteconfusas,mesmoentreespecialistas.Porexemplo,GazzanigaeHeatherton(2003/2005),numtextodidtico,denememoocomosendosentimento:a emoo se refere a sentimentos que envolvem avaliaosubjetiva, processos psicolgicos e crenas cognitivas(p.315).Aexpressodeemoesesentimentostambmalgoqueapresentavariaoentreossereshumanos:desdeumagrandefacilidadeatumagrandediculdade.Adiculdadedeexpressaremoesfoirecentementeconceituadacomoalexitimia(Sifneos,1973).
BuscandoapoionostrabalhosdeJosephLeDouxeAn-tonioDamsio,oobjetivodesteartigo,denaturezaterica,apresentarumabaseconceitualparadiferenciaremoesdesentimentos,eusaressabaseparaexplicaraalexitimia.Naprimeiraseo,osconceitosdeemoesesentimentosserodiscutidos,deformaaestabelecerasdiferenasentreeles.Nasegundaseo,aalexitimiaserapresentadaediscutidaluzdessesconceitos,inclusivequantosuaorigem,detalformaquesepossaresponderseoalexitmiconotememoes
ounotemapercepodelas,noassenteconscientemente,impedindoageraodosentimentocorrespondente.Oartigoencerradocomalgumasreexespessoais.
Emoo e Sentimento
Nocrebrohumanonoexisteumsistemanicodedicadoemoo.Rose(2005/2006)dizquebuscaralocalizaodaemooemalgumareaespecicadocrebrocometerumerro de categoria,porqueosprocessosemocionaissofeitosnoemumalocalizao,masemumpadrodeintera-esdinmicasentreregiesmltiplasdocrebro(p.226).ParaLeDoux(1996/1998),asvriasclassesdeemoessomediadasporsistemasneuraisdistintos,osquaisevolurampararesolverdiferentesproblemasqueosanimaisenfren-tamemsuavidadiria:noexisteafaculdadedaemoo,etampoucoexisteumsistemacerebralnicoencarregadodessafunofantasma(p.16).EDamsio(1999/2000)diz:noexisteumnicocentrocerebraldeprocessamentodasemoes,esimsistemasdistintosrelacionadosapadresemocionaisseparados(p.88).
Mas emooumconceitobastantecomplexo.LeDoux(2000,2007)armaqueadiversidadedeconceitostemsidoumgrandeobstculoparaapesquisaeoentendimentodasemoes.Apesardocrescimentononmerodepesquisasnos
-
8/3/2019 artifgos
2/10
16 Psic.:Teor.ePesq.,Braslia,Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
L. Freire
ltimosanosdedicadasemoo,ospesquisadorestmseamparadoemdiferentesorientaestericasparaadeniodoconstruto.Sehalgumconsenso,comcertezasobreadiculdadededeni-la.KleinginnaeKleinginna(1981),aoavaliarem o uso do conceito na literatura, encontraram 92deniesenovearmaescticas,asquaisforamsepa -radasem11categorias,almdealgunsautoresquecolocam
emdvidaautilidadedesetentardeniremoo.Algunsautorespercebemaemoocomoumfenmenodiretamenteobservvel,denaturezaconsciente(Baumeister,Vohs,DeWall,&Zhang,2007),efundamentadoemexpe-rinciasaprendidaseincorporadas,comonapercepodascores(Barrett,2006).Outrosveemasemoescomotendotantoumcomponentebiosiolgico,portantoinvolunt -rioequasesempreinconsciente,quantoumcomponenteexperiencial-cognitivo,quepodeserinconsciente,masquenamaioriadasvezesconsciente,operandoemdiferentesnveis(Panksepp,2008).Todavia,qualadiferenaentreaemooinconsciente,quenosaconteceeaemoocons-ciente,sobreaqualtemosalgumpoder?
ParaLeDoux(2007)eDamsio(1994/1996,1999/2000),aemooconscientejnomaisapenasemoo,massentimento.Elesdistinguemessesdoisfenmenos,conside -rando-oscomoconstrutosprpriosedistintos,eliciadosnoorganismohumanoapartirdediferentescircuitoscerebrais.AabordagemdeLeDouxserapresentadaemseguida,apartirdeumacrticaporeledesenvolvidasobreumapropostadeScherer(2005).E,logodepois,apropostadeDamsiosertambmapresentada.
A crtica de Joseph LeDoux proposta de Klaus
Scherer
Scherer(2005)sugereaexistnciadecincocomponen-tesparaumestadoemocional,osquaissoacionadospordeterminadossistemascorporaisresponsveispordiferentesprocessosfuncionais.Oscincocomponentessugeridosso:cognio,sintomasfsicos (componentes neurolgicos),motivao,expressomotoraea experinciasubjetivaousentimento.
OcomponentecognitivodaemooacionadopeloSistemaNervosoCentral(SNC)esuafunoaavaliaodeobjetoseeventosquesemanifestamnomundoexternoOcomponenteneurosiolgico,acionadopeloSNC,Siste-maNeuro-Endcrino(SNE)eSistemaNervosoAutnomo(SNA), tem como funoa regulao doorganismo.Ocomponentemotivacional,tambmacionadopeloSNC,temcomofunoapreparaoedireodasaesqueserodesencadeadas.Ocomponentedaexpressomotoracorres-pondesaesdesencadeadaspormeiodoSistemaNervosoSomtico(SNS)esuafunomanifestarareaoesuacor-respondenteinteno.Oltimocomponenteaexperinciasubjetiva,ousentimento,acionadotambmpeloSNC,cujafunoomonitoramentodoestadodoorganismoemfacedesuainteraocomoseventoseobjetosdomundoexterno.
SegundoesseesquemaconceitualpropostoporScherer(2005),osentimentoumdoscomponentes(aexperinciasubjetiva)daemooeasemoesresultamdeumepisdiodealteraessincronizadaseinter-relacionadasnoestadode
todosounamaiorpartedecincosubsistemasdoorganismo,emrespostaaestmulosavaliadospeloindivduocomotendoalgumsignicadorelevante.essesignicadoqueeliciaaemoo,aqualsermaisoumenosintensadeacordocomonvelderelevnciaatribudoaoevento.Oeventoestimulantepodeserexterno(e.g.,ocomportamentodeoutrapessoa,avisodeumacobra),queadquirealgumsignicadoparao
bem-estardapessoa;oupodeserinterno,quandoocom-portamentodaprpriapessoapodeseroeventoeliciadordaemoo(e.g.,culpa,orgulhoouvergonha).Nesseesquema,asemoessoagrupadasemcategoriasfuncionais,asquaisenvolvemdeterminadoconjuntodesubsistemas.
OartigodeSchererfoiapresentadonaediodedez/2005do Social Science Information.Aediodeset/2007dessemesmoperidicotraz12comentrios sobreo artigo.Deumaformageral,todososcomentaristasconcordamcomospontosfundamentaisdapropostadeScherer,masdiferemnaapreciaodealgumasparticularidades,comoocorreucomJosephLeDoux.
LeDoux2umneurocientistaeautordediversoslivroseartigoscientcossobrecomoocrebroprocessaemoes.LeDoux(1996/1998,2000)atribuiosucessodosvriostrabalhosrealizadosnarea,inclusiveosdeDamsioesuaequipe,aofatodeteremofocoemaspectosdaemoopsi-cologicamentebemdenidos,evitandoconceitosvagosepo-brementeformulados,comoafetos esentimentos emocionais,eporusaremabordagensexperimentaissimplesediretas.
AprincipalquestolevantadaporLeDouxnaanlisedapropostadeScherersobreoquecompecadasubsistemaesuafunorespectiva.Elediz:
A abordagem de componente-processo uma excelente forma
para conceituar os vrios processos que ocorrem durante uma
emoo. Nesse esquema, uma emoo o resultado que surge
da atividade combinada de uma variedade de subsistemas. Mas
eu discordo de Scherer em como conceituar os subsistemas. Eu
no estou convencido que os cinco subsistemas identicados
constituam um grupo de subsistemas reais e crticos do orga-
nismo. (LeDoux,2007,p.399)
LeDoux(2007)citapesquisasrealizadasporeleeou-tros,comhumanosecomnohumanos,cujosresultadossugeremque,emgeral,asemoessoeliciadaspormeiodecircuitosdelocalizaosubcortical.Odesenvolvimentodeferramentasnoinvasivas,quetrabalhamcomimagens,tempermitidoomapeamentodocrebroemplenaatividade,mostrandoquediferentescircuitosexistemparadiferentesfunesemocionais,comoasquelevamdefesafrenteapredadores,reproduosexual,nutrio,ligaoafetivaea-liaoourelaoparental.ConformeLeDoux,essesestudostmmostradoaimportnciadaamgdalaedosistemanervosoautnomoparaoprocessamentodeestmulosemocionaisnaausnciadeumapercepoconscientedoestmulo,indicandoanaturezaautnomaeinconscientedasemoes.
Paraqueaspessoassetornemconscientesdesuasemo-es,diferentesregiesdocrebronecessitamseracionadasadicionalmente,em especial reas docrtexpr-frontal,
2 ProfessordeNeurocinciaePsicologiaediretordoCentroparaCinciaNeural daNew York University.
-
8/3/2019 artifgos
3/10
17Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
Alexitimia: Uma Anlise Terica
associadascomacognio.AindaconformeLeDoux(2007),outrosestudosrealizadoscomhumanostmindicadoque,emgeral,oprocessamentoconsciente,tantodeestmulosemocionaisquantodenoemocionais,requerqueoestmulosejarepresentadonessasreaspr-frontais,asquaisestoenvolvidascomamemriadetrabalho.Esclarecendoquesuanoodememriadetrabalhoampliada,paranelain-
cluirvriasfunesexecutivasedemonitoramento,LeDouxarmaqueessesestudossugeremqueaativaodereascorticaispr-frontaisenvolvidasnamemriadetrabalhosoachaveparaaexistnciadeemoesconscientes.EmoesconscientessochamadasporLeDouxdesentimentos.
Todavia,LeDoux(2007)perguntaseaconscinciadeumestmuloemocional(queincluitantooestmuloespeccoquantoocontextosocialefsicoemqueambossujeitoeestmuloestoinseridos)sucienteparagerarosen-timento.Emsuaresposta,eleconsideraanecessidadededoisingredientesadicionais.Oprimeiroosignicadodassensaesgeradaspeloestmuloemocional,obtidoapartirdamemriaepisdicaesemnticadoestmulo.Osegundoingredienteadicionaldeveserainformaosobreodespertaremocionalouexcitaodoorganismo,realizadopeloestmulopormeiodocrebro,comorgoreceptivosrelaesdoorganismocomoambiente.Essainformaoobtidaapartirdapercepodoestadodocorpo(deex -citaoourelaxamentoneurocorticaledosistemamotor)narespostaemocional.Ditodeoutraforma,osentimentorequeraexistnciadetrscomponentesprocessuaisdena-turezacognitiva,eliciadospelaemoo:arepresentaodoestmuloemocionalnamemriadetrabalho,arecuperaodesignicadosassociadosaesseestmuloeapercepoconscientedeestadosdocorpo.
LeDoux(2000,2007)enfatizaadiferenaentreprocessocognitivoeprocessoemocional,sublinhandoquecadaumdessesprocessosacionadiferentessistemascomdistintasarquiteturasneurais.Enquantoacogniousaprocessosdealtonvel,mediadospelocrtexpr-frontalmaisdesen-volvidono ser humano,a emooutilizaprincipalmenteprocessossubcorticais,osquaisautomaticamentedetectamerespondemaosestmulosemocionais,comunsaoshuma-nosenohumanos.Aoencerrarseuartigo,LeDouxdizqueprecisamosestaralertaparaessasdiferenas,paraevitaraconfusosemnticaentreprocessosemocionaiseprocessoscognitivos.Eleassimseexpressa:
A confuso semntica reete algumas diferenas fundamentais
no processamento emocional, que precisamos ter em mente: o
processamento subcortical automtico realizado por sistemas
evolucionariamente programados diferente do processamento
que ocorre nas reas pr-frontais, as quais avaliam (consciente
ou inconscientemente) a situao luz do contexto e situaes
externas, as memrias episdicas e semnticas, e os sinais emo-
cionais dentro do corpo e do crebro. (LeDoux,2007,p.402)
Dessaforma,existeumadiferenafundamentalentre teremoes(processosubcortical)etera conscinciadelas, ousenti-las conscientemente(processocognitivomediadopelocrtexpr-frontal).Seconscientizaraemooacondioquedistingueosentimento,estenoapenasumaetapaouapndicedaemoo,comosugereScherer(2005).Aindaque
amanifestaodosentimentoacionedeterminadosprocessosquetambmocorremcomasemoes,ele,osentimento,necessitadaativaodeoutroscomponentesprocessuaisdoorganismohumano,denaturezadiferentedosquesoacionadosquandoocorreaemoo(osprocessoscognitivos),constituindo-seassimumfenmenocomcaractersticasprpriaseespeccas.Essaabordagemencontraressonncia
nosargumentosdeDamsio,apresentadosnoprximoitem.
A proposta de Antnio Damsio
Damsio3umlderemneurocinciasreconhecidoin-ternacionalmente.Seusinteressesdepesquisaincidemsobreopapeldasemoesnasaesconscienteseinconscientes,resultandoemtrabalhosquetmajudadoaelucidarasba-sesneuraisdaemooesentimentos,mostrandoqueelesdesempenhampapiscentraisnosprocessosdecisriosenacogniosocial(1994/1996,1999/2000).
Damsio (1999/2000)dizque deniremoonoumatarefafcil:depoisdefazerolevantamentodetodooespectrodefenmenospossveis,camosimaginandoserealmenteexequvelformularalgumadeniosensatadeemoeseseumtermonicoaindatilparadesignartodosessesestados(p.430).Apesardisso,esseautorpropeumahiptesedetrabalho:emooumacoleoderespostasqumicaseneuraisqueformamumpadrodistinto(p.74/430).Essasrespostasconstituemumpadrodistintoporqueemoesdiferentessoproduzidasporsistemascere-braisdiferentes,amaioriadosquaislocalizadosnosncleossubcorticaisdotroncocerebral,daamgdala,dohipotlamoedoprosencfalobasal,noacessveisconscincia.
ParaDamsio(1995,1994/1996,1999/2000),asemoessoquanticveis(asrespostasqumicaseneurais)eobser -vveisnapessoaemocionada,porumaterceirapessoa:expressofacial,ritmoemovimento docorpo,sudoreseetc.Sentimentossoresultadosdapercepodessasreaespelaprpriapessoa:elasenteaemoo.So,portanto,experinciassubjetivas,somenteaccessveisprpriapes-soa.Essaabordagemadmitequeexisteumasequncianoprocessodegeraodeemoesesentimentos.Primeiro,apercepodeumeventoouobjetopeloorganismo,aqualaciona automaticamente determinados circuitos subcorticaisqueprovocamalteraesnocorpoenoprpriocrebroemrespostapercepo(molculasqumicasesinaiseletroqu -micos),predispondooorganismoparadeterminadoscompor-tamentos:issoaemoo.Porltimo,asalteraessofridaspelocorpoacionamoutroscircuitoscerebrais,tornando-seconscientesparaapessoa:issoosentimento.
EssasequnciapodetambmservistanoqueDamsio(1999/2000)chamadecontinuum funcional: num extremoestoasemoes,comoestadoscorporaisinconscientes;nooutroextremoestoossentimentos,estadosmentaiscons -cientes,passandoporumestgiointermedirioque,nafaltadeoutrapalavra,elechamadesentimentoinconsciente.Paraesseautor,anaturezarelativamentepblicadasemoeseatotalprivacidadedossentimentosdecorrentes,indicam
3 DiretordoInstitutodoCrebroeCriatividadeeprofessordeNeuroci-nciaePsicologianaUniversity of Southern Califrnia.
-
8/3/2019 artifgos
4/10
18 Psic.:Teor.ePesq.,Braslia,Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
L. Freire
queosmecanismosenvolvidosaolongodocontinuumsomuitodiferentes(p.63-64).
NaabordagemdeDamsio,possvelidenticardoiscomponentesnaemoohumana:umcomponentefsicoeumcomponentemental.Issolevacompreensoqueaemo-o,enquantoprocessofsicotemumamanifestaofsica,equeesseprocessopodeseracompanhadodeumasensao
edeumapercepo,nodosprocessosemsi,masdoestadoglobaldoorganismo(umaimagemmentaldoorganismo)quandoessesprocessosocorrem:umapalpitaocardacaeliciaasensaodeumsusto;avisodeumpordosoleliciaumasensaodepazerelaxamento.
Essassensaessosentimentos,primariamenteincons -cientes,queoshumanospartilhamcomalgunsanimais.apercepoconsciente,eocultivodesseestadodoorganismo,queirgeraredesenvolver4 o sentimento consciente. Essaconscientizaoecultivospossvelemsereshumanos,porquerequerdispositivoscerebraisementaissomentebemdesenvolvidosemorganismoshumanos.Damsio(1999/2000,p.111)diz:
Supondo que todas as estruturas apropriadas estejam no seu
lugar, (esses) processos permitem a um organismo ter uma emo-
o, manifest-la e transform-la em imagem, ou seja, sentir
a emoo...(Todavia), para um organismo saber que tem um
sentimento necessrio acrescentar o processo da conscincia.
Assim,asabordagensdeLeDoux(2007)eDamsio(1994/1996,1999/2000),discutidasataqui,podemserresumidaseintegradasparaosobjetivosdestetrabalho,conformeaseguir:
Emoespodemsercompreendidascomoumacom-binaodeativaoneurocortical(sistemanervosoautnomoeativaoneuroendcrina),expressomo-tora(expressofacialevocal,posturaegesticulao)eumasensaosubjetivainconscientedesseestadocorporal,queDamsio(2004)chamadesentimentoinconsciente.Essesfenmenosocorremdeformaaut-nomaeinconscienteemdiferentescircuitoscerebrais,adependerdotipodeemooeliciada;
Aespciehumanadispedereascerebraisquenelasomaisdesenvolvidasdoqueemoutrasespcies,tambmusadasnasrespostasemocionais:asreasassociadas aocrtex pr-frontal, responsveispelacognio.Essasreassousadaspeloindivduoparatomarconscinciadaemoopormeiodesuarepresentaoimagtica,aqualpermitearegulaoemocionalecontribuiparaqueapessoatenhaumavidamaisbemadaptadaaoambiente.Essatomadadeconscinciacriaosentimento:umprocessocognitivosobreassensaessubjetivasdosestadoscorporais(emoes)eliciadosporagentesexternosouinternospessoa,quepodevirasercultivado,ouno,porela.
4 Aideiadocultivodosentimento,paraseudesenvolvimento,acres-centadapeloautordestetrabalho.Issosignicaconsolidaroscircuitosneuraiscorrespondentes,pelasuarepetio.Nessestermos,desenvolversentimentospodesercomparadoaumprocessodeaprendizagem.
Ditodeoutraforma,paraquehajasentimento,necess-rioqueoprocessodocircuitoneuralemocionalvumpassoalm.necessrioquehajaumapassagem,umasequnciaentreasreassubcorticaisresponsveispelaemoo,easreascorticaispr-frontais,responsveispelacognio,paraqueapessoacriesentimentosconscientes.Emalgumaspessoasessapassagemnorealizadadeformasatisfatria.
Elassofremdealexitimia.
Alexitimia
Alexithymiaumapalavracomrazesgregas:apartculaatemumsentidodenegao,defaltaouausncia;lex,signicapalavra;e thymosemooousentimento.Literalmente,alexitimiapodesertraduzidacomosem pala-vras para sentimento.QuandotrabalhavamemBoston,noHarvardMedicalSchool,nadcadade60,ospsiquiatrasJohnNemiahePeterSifneosperceberamquealgunspacientespsicossomticosmostravamgrandediculdadeparafalarsobresuasemoesesentimentos,dandoaimpressodenocompreenderemosignicadodessaspalavras.Sifneos(1972)criouentoapalavraalexitimiaparaexplicaressecomportamento.Alexitimiaumconstrutoqueenvolvetrsprincipaiscomponentes:(a)umagrandediculdadeparausarumalinguagemapropriadaparaexpressaredescreversentimentosediferenci-losdesensaescorporais;(b)umacapacidadedefantasiareimaginarextremamentepobre;e(c)umestilocognitivoutilitrio,baseadonoconcretoeorientadoexternamente,tambmconhecidocomopensa-mento operacional.
Todavia,essescomportamentosforamdescritosnali-teraturaespecializadajhalgumtempo.Em1948,JrgenRueschcitoupacientessemimaginao,queusavamaesecanaiscorporaisparaexpressarsuasemoes,eramfalhosnacomunicao afetivaemostravamexcessivonveldeconformidadesocial(citadoemBagby&Taylor,1999).PaulMacLean(1949)escreveu:deveserconsideradoqueumadasnotveisobservaessobreopacientepsicossomticosuaaparenteinabilidadeintelectualparaverbalizarseussentimentos(p.350).Em1963,ospsicanalistasfrancesesMartyeMUsanmencionarampacientesqueeramincapazesdeproduzirfantasiaseduranteasentrevistascavampre-sosaosaspectosmundanoseoperacionaisdesuarealidade,oqueeleschamaramdepensamentooperacional(PenseOperatoire)(citadoemBagby&Taylor,1999).Contudo,coubeaSifneos(1972,1973)acriaodapalavraedoconceito de alexitimia.
Osalexitmicostmsidodescritoscomo robs humanos(Sengupta&Giri,2009),portadoresdeumaespciedeanal-fabetismoemocional.Emboraaalexitimiasejaumconstrutoclnicojtestado,elanoconstituiumadoenadiagnosti-cada,massimumaspectoclnicoassociadoalgumoutroproblemamdico,talcomoDesordemdeStressPsTrau -mtico,AnorexiaNervosaououtradesordempsiquitrica(Sengupta&Giri,2009;Taylor&Bagby,2002).Todavia,existemevidnciasquepossibilitamconsider-lacomoumacondioindependente,umadisfunoafetivo-cognitiva,duplamenteassociadaaalgumacondiofsica-patolgicaepordanosvidarelacionaldoindivduo(Sifneos,2000),
-
8/3/2019 artifgos
5/10
19Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
Alexitimia: Uma Anlise Terica
cujaincidnciaestimadaem10%napopulaoemgeral(Aleman,2005).
NoBrasilaalexitimiaaindarelativamentedesconhe -cida,masnomundoocidentalesseumconstrutoquevemgerandoumcrescentenmerodepesquisas,existindoins -trumentosdemediojtraduzidoseadaptadosparavriospases(Wiethaeuper,Balbinotti,Pelisoli,&Barbosa,2005).
Instrumentos de medio
Wiethaeuperecols.(2005)informamque,emboraexistammaisdeseisinstrumentosparaidenticaremedira alexitimia, o TAS-20 (20-item Toronto Alexithymia Scale),desenvolvidoporBagby,TayloreParker(1994),semdvidaomaisconhecidoeusado,tendosidosubmetidoavriastestagensetradues.Existeumaversoportuguesa(Prazeres,Parker&Taylor,2000)eduasversesbrasileiras(Wiethaeuper&cols.,2005;Yoshida,2000).
OTAS-20autoaplicvel,esuas20questessoagru-padasemtrsfatores:ofator1indicaqueapessoatemdi -culdadeemidenticarasprpriasemoesesentimentos;ofator2indicadiculdadeemdescreveressasemoesesentimentosparaosoutros:apessoatemumalinguagememocionalpobre,confusa,malutilizada;eofator3indicaumestilodepensamentoorientadoparaoexterior:questesoperacionaisdodia-a-diadominamospensamentoseatitudesdessapessoa.
ParaTaylor(2000),apesardofatorqueefetuavaame -diodacapacidadeimaginativa(defantasiaresonhar)tersidoeliminadonaversodoTAS-20(eleexistiaemversoanterior,oTAS-26,com26questes),adiculdadeemima-ginar,decertaforma,estassociadaaossegundoeterceirofatoresdessaverso.Comefeito,acapacidadedeimaginaousa tanto os sistemas cognitivos quanto os emocionais. Sehdiculdadenaexpressoconscientedasemoes(dentreasquais,desejos,motivaes),issopodetambmindicarumadiculdadeemimaginarefantasiar.Umpensamentooperacional,emqueaemoonoconscientizada,dsaesumcarterreativo,nodirecionadoparametaseob-jetivosdesejados,osquaissupemacapacidadedeimaginarefantasiar.
Umsegundoinstrumentobemaceitoo BVAQ (Ber-mond-Vorst Alexithymia Questionnaire). Esse instrumentopretendeidenticarcincofatoresdaalexitimia,osquaissodescritoseminglscomaspalavras emotionalizing, fanta-sizing, identifying, analyzinge verbalizing(Morera & cols.,
2005),etraduzidosparaoportuguscomosegue:
Emocionando-se:medeonvelnoqualapessoaexci -tadaporeventosemocionais.Exemplodeumaquestodessefator:Quandoalgoinesperadoacontece,eupermaneocalmoeimvel;
Fantasiando:medeatendnciadapessoaparatersonhosacordados,fantasiaseprojetosimaginados.Exemplodeumaquesto:eutenhopoucasfantasiasesonhos;
Identicando:correspondeahabilidadepessoalpara
denirseuprprioestadoemocional.Exemplo:Quan-doestoutenso,permaneceobscurodequalsentimentoessatensoprocede;
Analisando:medeointeressedapessoaembuscarforadesimesmaafontedesuasreaesemocionais.Exemplo:raramenteeuconsideromeussentimentos;
Verbalizando:medeatendnciaoucapacidadedapessoaparadescreveroucomunicaraprpriaemoo.Exemplo:Euachodifcilverbalizarmeussentimen-tos.
Existeumaversoportuguesa(dePortugal)desseinstru -mento,traduzidoetestadoporRamiroVerssimo,nopubli-cada5atadatadeelaboraodestetrabalho.UmcomunicadofeitoporesseautornumcongressoestemVerssimo(2005).
TodasasquestesnoBVAQeTAS-20estonumaescalaLikertdecincopontos,cujasrespostasreferem-sesempreper -cepodapessoasobreseucomportamentoemcadaquesto,variandodeconcordoplenamenteadiscordototalmente.
Origens da alexitimia
Nohconsensosobreoquecausaaalexitimia.Existemos que a associam a algum trauma cerebral (Wood & Willia-ms,2007),adefeitosnaformaoneurolgica(Aleman,2005;Berthoz&cols.,2002),ainunciassocioculturais(Kirmayer,1987)eosqueacreditamnumaorigempsicolgi-ca,comoporexemplo,traumasnaformaoinfanto-juvenil,oumesmomaistarde(Parker,Taylor&Bagby,1998).
Taylor(2000),umdoscriadoresdoinstrumentoTAS-20,realizouumarevisobibliogrcaparaavaliarodesenvol-vimentodateoriaepesquisasobrealexitimia,identicandoumapropostasegundoaqualnosalextimicosexistiriaumrompimentonacomunicaoentreosdoishemisfriosce -rebrais:ouseja,umacomissurotomiafuncional,reetidanumalimitadacapacidadedecoordenareintegraratividadesinter-hemisfricas(Lumley&Sielky,2000),oquetemresso-nnciacompropostasdeSchore(2003a)paraexplicaroutrasdesordensdouxoemocional.OutrarevisofoirealizadaporTaibniaeZaidel(2005),especicamentedirecionadaparaavaliarevidnciasqueconrmassemapropostadeTaylor.Osdoisestudossocautelososemsuasconcluses,indi-candoquepermaneciaanecessidadedeconrmaodiretaedenitivadessaproposta.Mas,em2008,pesquisadoresitalianosrealizaramumapesquisacomoobjetivodebuscaressaevidnciadiretadaocorrnciadedcitnatransfernciainter-hemisfricaentreosalexitmicos(Romei&cols.,2008),encontrandosuporteparaessahiptese.
Todavia,mesmoquealgumacausaorgnicapossacon-tribuirparaaalexitimia,adotamosaperspectivadosautoresquepropemqueeladesenvolvida;isto,elasurgeapartireduranteasinteraesdapessoacomoambiente 6,princi-
5 Comunicaopessoal(e.mail)em20.05.2008.
6 Porexemplo,adultosquesofremdeDistrbioPs-Traumticodesenvol-vemalexitimia,comoemtraumasdeguerraedecamposdeconcentrao(Yehuda&cols.,2004).
-
8/3/2019 artifgos
6/10
20 Psic.:Teor.ePesq.,Braslia,Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
L. Freire
palmentenoseuperododeformao.Ditodeoutraforma,oalexitmico,segundoessaproposta,notemumproblemaanatmicooudearquiteturacerebral,masumproblemadefuncionamentocerebral,umadisfuno cerebralaprendida,comoacontece,porexemplo,comoutrasdesordensafetivas(Schore,2003a,2003b).
Ocrebronoestdesenvolvidoporigualnonascimento
esonecessriosmuitosanosdedesenvolvimentops-natalparaqueumapessoamaduravenhaaseformarEssesanosexigema participaodeoutras pessoasnaformaodofuturoadulto,asquaisajudamacrianaaaprenderaiden -ticareregularsuasemoes.Issoprimariamenteexecu-tadopelameoupelapessoaquedesempenheessepapel,aqualnecessitaestarsintonizadacomasnecessidadesdacriana,conformeatestamrecentespesquisas(Hane&Fox,2006).ParaSchore(1994),esseprocessobiopsicosocial:Atesecentral...queoambientesocialinicial,mediadopeloscuidadoresprimrios,diretamenteinuenciaaevolu-odeestruturascerebraisquesoresponsveispelofuturodesenvolvimentosocioemocionaldacriana(p.62).BagbyeTaylor(1999)dizemquequandoocuidadorinicialin-disponvelounoestsintonizadocomasnecessidadesdacriana,elaprovavelmentemanifestaranormalidadesemseudesenvolvimentoafetivoeregulaoafetiva(p.41).Umcasonotriodessasituaoodascrianasromenas,des -cobertasapsarupturadaURSS:criadasemorfanatossemcuidadoresadequados,elasforamincapazesdedesenvolverlaosemocionaiscomosqueposteriormenteasadotaram(Begley,2007/2008).
Ocrebrodeumrecmnascidopesaalgoemtornode350g,enquantoocrebroadultopesaemmdiade1300a1500g.SegundoRose(2005/2006),comseisanosocrebrohumanoalcana90%deseupesoadultoe95%emtornodos10anos.Duranteessedesenvolvimento,ocrebroprepara-doparareagiraocontexto,adquirindograndeplasticidade,modicandosuaestruturaeconectividadeemrespostaexperincia:Asconexessinpticassomoldadas,algu-masdelasaguadaseoutraspodadas,demodoaidenticarereagiraaspectosrelevantesdomundoexterior(Rose,2005/2006,p.131).Assim,vriasdasconexes(oucircuitos)neuronais,necessriasparaumavidaadultanormal,preci -samseraprendidaspeloserhumanodurantesuainfnciaepuberdade,medidaqueoambientepropicieexperinciasadequadas.Dentreessasconexesestoasqueintegramasreassubcorticaisepr-frontais,necessriasparaqueapessoatomeconscinciadesuasemoesedesenvolvasentimentos.
Anecessidadedecuidados,queacrianatem,noumanecessidadeditadapelasconvenessociais,masdesenvolvi -daduranteaevoluodaespcie.Damesmaformaqueexisteoimpulsogenticoparagerarecriar,damulher/me,existeanecessidadegenticadacrianaemsercriada,isto,emsercuidadaduranteafaseemqueaindanopodecuidardesimesma,porserumserincompleto.Aausnciaounegli -gncianessescuidadosprejudicaodesenvolvimentosocialeemotivodacriana(Begley,2007/2008;Schore,2003a).
Umdospossveisresultadosdessaneglignciaaalexiti-mia.Acriananosnoaprendeadesenvolversentimentosconscientes,comoaprendeaevit-los:elaaprendeaevitaraconscientizaodasemoes,apartirdaemoonegativadedor,consequnciadesuanecessidadenoatendida,danegli-
gnciadequefoiobjeto,registradanaexpressonunca vouamar algum, para no ter que sofrer, dita ao autor desteartigoporumalexitmicoadulto.Nessecaso,aalexitimiapodesertambmconsideradacomoumacaractersticadepersonalidade,aprendidaederivadadeumestilodeenfren-tamentoemocional(Helmes,E.,MaNeill,P.,Holden,R.,Jackson,C.,2008;Yoshida,2005),desenvolvidoduranteo
processodeformaodoalexitmico.Aoinvsdeaprenderapercebereregularsuasemoesdeformapositiva,criandobonssentimentos,acrianaaprendeaevitarasconexessinpticasdesseuxoregular,desenvolvendoumuxodecientequevaitrazerreexosnegativosparasuasadeerelacionamentos, na vida adulta.
Alexitimia, problemas relacionais e psicossomticos
Ascaractersticascentraisdaespciehumanasoresul-tadosdosprocessosevolucionriosinerentesVida.Comoprodutosdaevoluo,asemoesexistemporquefavorecemoservivoemsuasrelaescomoambiente.Seaemoonocontribusseparaasobrevivncia,teriasidoeliminadadorepertriodasexperinciasdevida(Candland,2003).Aexperinciadaemoo,dessepontodevista,umacarac -tersticaquefoidesenvolvidaevolucionariamente,temumanaturezabiolgica.
Poroutrolado,oserhumanoviveimersonumaculturaetodaculturapossuiumaricalinguagem,rituaisesmbolosparacomunicaremoes,umelencodepalavras,expressesfsicasesimblicas,quegarantemeloqunciaquandosequersensibilizaralgumousolicitarajuda.Chamaraatenodooutropormeiodeumaexpressoverbaloucorporalquepareaaquemaouve/vumacondiodolorosaoudedes-conforto,umaformademostraraooutroquealgumacoisaesterrada.Seumapessoadiz,verbale/ousimbolicamente,quegostadapresenadealgum,essealgumterumatendnciadesentir-sebemnapresenadooutro.Issogeraumaviademodupla,desenvolvendorelacionamentos.Damesmaforma,sealgumdemonstrainsatisfao,oumesmoumasimplesausnciadesatisfaopelapresenadeoutrapessoa,areaoatitudinaldesseoutroserdede -fesaedeafastamento.Issogeraumdesconfortoquandoosdois se encontram. No mnimo, isso inibe e inviabiliza umrelacionamento. Nessa abordagem, a expresso conscientedaemoo,necessriaparaquehajaodesenvolvimentodosentimento,umaprendizado,comumaforteconotaodeaprendizadosocial(Kirmayer,1987),fundamentalparaformarumrelacionamento.
Nossa cultura incentivae apoiaa expressode senti-mentospessoais,comoformadecomunicaonosrela-cionamentossociais.Masoreceptoreoemissordosinalcomunicacionalnecessitamdispordasmesmaschavesinterpretativas,moldadaspelacultura,pelaeducaoeex -perinciaspessoais,paraqueemissorereceptorcodiquemedecodiquemossinaisdeformaadequada,realizandoacomunicao.Issosignicaqueumrelacionamentoentrealexitmicoenoalexitmicoserumafontedeconitos,porqueouniversosimblico-emocionaldecadaumnocompreensvelparaooutro:elesnopossuemachaveinter-pretativaparadecodicaramensagemumdooutro.Desse
-
8/3/2019 artifgos
7/10
21Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
Alexitimia: Uma Anlise Terica
pontodevista,aalexitimiaumafalhanodesenvolvimentosocialdoindividuo,queimpedeaconstruodeummundosimblicoasersocialmentecompartilhado(Kirmayer,1987).
Alinguagemusadaporumapessoaemsuasinteraessociais dirias, seus sonhos,fantasias, choro,jogos,sor-risosemecanismosdedefesaedeaproximao(partilha,con-vivncia,empatia),desempenhamimportantespapis
naregulaodasemoes,estabelecendo o tnusdeumrelacionamento.Elaoferecesuporteparaaproximarouafastarpessoas.Incapazdeidenticarseusestadosafetivos,oalexitmiconosinbilemreetirsobreeregularsuasemoes,mastambmsecomunicaemocionalmentedeformamuitopobrecomasoutraspessoas,falhandoematrairoutrosparareceberoudarajudaeconforto.Porsuavez,afaltadecompartilhamentoemocionalcontribuiparadicultaroaprendizadodaidenticaodasemoes,instalandoumcrculo vicioso.Pessoasquesemostramincapazesdefalarsobresuasemoese fantasiasfrequentementesofremdesintomaspsicossomticoseproblemasrelacionais.Pesquisasmostramquealexitmicostmumapropensomaiorparapermaneceremsolteirosquenoalexitmicoseestoexpostosamaiorriscodemortepordoena(Spitzer,Siebel-Jurges,Barnow,Grabe,&Freyberger,2005).
Lumley,Ovies,Stettner,WehmereLakey(1996)re -alizaramuma srie depesquisas,objetivandoidenticaraassociaoentrealexitimia,qualidadedosuportesocialpercebidoedoenasdenaturezapsicossomtica.Osresul -tadosalcanadosindicaramqueosalexitmicostmfracapercepodesuportesocial,pequenaredesocialemfacedefracahabilidadesocialepropensoadesenvolverempro-blemaspsicossomticos.Grabe,SpitzereFreyberger(2004)testarameconrmaramahiptesedequeadiculdadedeidenticaremoes,previstanaalexitimia,altamentepre-ditivadeumamplorepertriodeestadospsicopatolgicos,particularmenteasomatizao.Emcontraste,pensamentoorientadoexternamente(pensamentooperatrio)quasenotemcorrelaocomessesestadosdesomatizao.AchadossemelhantesforamencontradosporLumleyecols.(1996).Essesachadospodemserumapistaindicandoqueopensa-mentooperatrionofatordiretonacausadeproblemasdesadefsica,maspodeafetarosrelacionamentosporserumdoselementosquedemonstraraooutroaausnciadaintimidadesubjetiva.
Osalexitmicossopessoasvulnerveisadesenvolveremalgumadesordemdepersonalidade,comonarcisismoouTOC(Bach,1994),e/oudoenaspsicossomticas(Bach,Bohmer&Nutzinger,1994),comoahipertenso(Jula,Salminem&Saarijarvi,1999).Aalexitimiatambmfoiassociadaaocncer(Nada,1997),desordensalimentares(Taylor,Parker,Bagby& Boukes 1999),usoabusivo dedrogas (Caldas,1999),depressoealcoolismo(Maciel&Yoshida,2006),eoutrasdesordens(Bankier,Aigner&Bach,2001)relaciona -dasnoManualdeDiagnsticoeEstatsticadasPerturbaesMentais(DSM-IV)daAssociaoPsiquitricaAmericana.Tambmoprocessodecisriodoalexitmicolimitado.De-cidirsignicaescolherentreopeseessaescolhaseamparaememoesconscientizadas(Bechara,Damsio&Damsio2000)):motivaes(desejos)emetas(futuroimaginado).Oalexitmico,facesuapobrezaimaginativa,temdiculdadesdetomardecisesporquenosabeoquequer.
Nosendoumadoena,nosentidofsicodotermo,eporsuascaractersticas,quedirigeofocodaatenodapessoaparaoexterno,oalexitmiconosepercebedesajustado:quasesempreresisteaumtratamento.Aterapiaconvencional(apoiadanaverbalizaodeemoes)tempoucoounenhumefeitosobreele.Mas,considerandoaetiologiadeaprendi -zadoaquiatribudaalexitimiaeneuroplasticidadeque
caracterizaocrebrohumano(Begley,2007/2008;Schore,2003b),pode-sepreverqueterapiasespeccas,baseadasemprocessosdereeducaoe reaprendizagememocionalvenhamaserdesenvolvidasparacorrigiressadecinciafuncionalcerebralaprendida.
Fluxo das emoes e regulao emocional
ParaKirmayer,(1987),asemoesnoalextimicosohiposimbolizada,ou,maispropriamente,hipocognizadas7,tantoquesoexpressasdeformanomoduladaecomores -postapredominantementevagaeindiferenciada(p.121).Ouseja,ocaminhoqueaenergiaemocionalpercorre,seucircuitoneuronalsinptico,aquichamadodeuxoemo-cional,quepodegerar,ouno,umacondioalexitmica.UsandoasideiasdeLeDouxeDamsio:nouxoemocionalregular,oscircuitosneuronaisresponsveispelaemooalcanamregiespr-frontaisdocrebro,asquaispermitemapessoaperceb-laeexpress-laconscientemente.Nouxoemocionalalexitmico,umuxodeciente,oscircuitosneuronaisnoalcanamessasregiesdeformaadequada.Aqui sepodeinterpretarque a respostaemocionalhipo-cognizada,vagaeindiferenciada,indicaumuxoquenomximorealizaaquiloqueLeDoux(2000,2007)chamadeprocessoscognitivosinconscienteseDamsio(1999/2000)chamadesentimentosinconscientes.Naocorrnciadesseuxodeciente,hausnciadeconscientizaodaemoo(osprocessospr-frontaisnoocorremdeformaplena),caracterizandoaalexitimia.Grotstein(1999)dizqueoindiv-duoalexitmicorevelaumaincapacidadedeprocessamentocognitivosaudvel(p.XI).
Ouxoregularaquinoimplicanecessariamenteemo-espositivas.Essemesmouxopodeexistirparaemoesnegativasegerarsentimentosnegativos.Ouxoregularnosentidodequepercorreocaminhoquetemquepercorrer:ativaoneurosiolgicaeprocessos subcorticais incons-cientes,seguidosdeprocessospr-frontaisconscientes.Sesentimentosnegativos(e.g.,aconscientizaoda raivagerandoressentimentoconsciente)foremcultivadosedaapessoadesenvolversintomaspsicossomticos,issonoserdevidoalexitimia,postoqueelanoexiste.
Nesseexemplo,aregulaodaemoo,pelapessoa,quenofoiadequada,segundoasconvenessociaisqueperpassampornossacultura.Regulaoemocionalsignicaaformacomoapessoaexperimentaeexpressaaemoo:deformaamortecida,minimizadaoudeformaintensicada,cultivada(Gross&Thompson,2006),permitindopessoadesenvolverounoseussentimentos.Aregulaodaemoo
7 Apalavraoriginaleminglshypocognized,semtraduodiretaparaoportugus.Paramanteraideiadoautor,apalavrafoitraduzidaparahipocognizada,aqual,acreditamos,defcilcompreenso.
-
8/3/2019 artifgos
8/10
22 Psic.:Teor.ePesq.,Braslia,Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
L. Freire
integraaregulaobiolgicadoorganismo,constituindoumaspectoessencialparaorientarumcomportamentoadaptativoadequado(Bagby&Taylor,1999;Damsio,1995),incluindoodesenvolvimentodaempatia(Decety&Moriguchi,2007).Umuxoregulareumaadequadaregulaodaenergiaemo-cionalpermitiropessoausufruirdeemoesesentimentospositivoseprecaver-secontraameaasapartirdeemoes
negativas(e.g.,medo);nouxodeciente,aenergiaperma -necenocorpodeformanoregulada,podendoocasionardanosaocorpoerelacionamentos.
Nessecaso,umrelacionamentoestabelecidopeloalexi-tmicotemumanaturezamaissupercial,podendogerarassensaesemocionaisvagaseindiferenciadassugeridasporKirmayer, insucientesparasustentarumrelacionamentomaisprofundo.Semapercepoconscientedasemoessub -jacentesaessassensaes,ossentimentosnosoexpressos,portanto,nopodemsercultivadosnemdesenvolvidos.Issoacabaporgerarestadosdesadefsicaementalproblemti -cos,justicandoaspalavrasdePanksepp(queusaoconceitodeafeto,parareuniremoesesentimentos):
Sem afeto, podemos nos sentir sem vida; sem afetos positivos,
existem poucas razes para viver.... sem afetos, no h alegria
nem dor. Afeto a fonte de toda intimidade... encorajando as
pessoas a cavar profundamente em sua alma biolgica para
encontrar empatia, comunicar seus interesses sinceramente e
esperar reciprocidade para sua profundidade de sentimento.
(2008,p.47)
Aimpossibilidadedeencontrarempatiaeexpressarosinteressesemocionais,caractersticadoalexitmico,impedeaviademodupladosrelacionamentos,dicultandooumesmoinviabilizandoareciprocidadereferida.
Consideraes Finais
NesteartigoapresentamosasideiasdeLeDouxeDa-msiosobreosprocessosneuraisresponsveispelaemooepelosentimento.Vimosqueosprocessosemocionaisne-cessitamdeumasequnciaparase tornaremprocessosdesentimentosequeestasequncianoocorrenoalexitmico.Noarmamosqueoalexitmiconotenhaemoes:paraoautordestetrabalho,oscircuitosneuraisreconhecidosporLeDouxeDamsioparaasemoes,noalexitmicoestointactas.Todavia,oalexitmiconoconseguerealizarapassagememoo sentimento; nele, o circuito neural quepermiteaautoconscinciaemocional(percepoconscientedassensaessubjetivasqueacompanhamasemoes)nocompletadodeformasatisfatria,resultandonumcircuitoquenopermitearegulao(experienciaoeexpresso)emocionaladequada.Essecircuitodeficienteimpedeageraodosentimentoconsciente,umprocessocognitivo-experiencial.Nohavendogeraodesentimento,nohtambmapossibilidadedeseucultivo.Instala-seocrculoviciosoreferido.
Entretanto,essasconclusessoinfernciasbaseadasemda-dosqueforamgeradosparaoutrasnalidades,enoparaatenderaosnossosobjetivosespeccos.Esseumlimitedestetrabalho,indicativodanecessidadedemaispesquisassobreotema.
Osestmulosquechegamaocrebrohumanosoproces-sadospelossentidoseadquiremumsignicado.Essesigni-cadotemsempreumcomponenteemocional:gosto disso?bomparamim?Mesmoaindiferenacorrespondeaumjulgamentoemocional,quepodemudaraqualquerinstante.Noambientedequeparticipa,oserhumanotransmiteessessignicadospormeiodeelementosadequadossuaespcie,
culturaeexperincias.Essesignicadopodeserconsciente:apessoapodesaberqualemooestsentindoeassimcultivar,outransformar,issoqueestsentindo.
Saberoqueseestsentindoexigeumprocessodeapren-dizagem,queoserhumanodesenvolvedesdeseunascimento,apartirdeaparatoscerebraissdisponveisparaoshumanos,edeambientesadequadosparaaaprendizagem.Ambientenoqualasemoessolivrementeexpressadasgeraumclimadeconanaecondncia,decompanheirismo,quealimentaaexpressodeemoespositivasecriasentimentospositivos.Issogeraumcrculovirtuoso,emfacedapassagemdoscircuitosneuronaisdaemooparaos circuitosneuronaisdosentimento.Adecincianessesdoispontos,aautocons -cinciaemocionaleapassagememoo-sentimentoforamapontadascomosendocausadorasdealexitimia;todavia,issonecessitadepesquisasadicionais,paraconrmaoourefutao.Poroutrolado,acreditamosqueessaspesquisaspoderotambmindicarcaminhosparaodesenvolvimentodeterapiascomasquaisoalexitmicopossaaprenderadesenvolver o crculo virtuoso.
Referncias
Aleman,A.(2005).Feelingsyoucantimagine:Towardsacognitiveneuroscienceofalexithymia.Trends in Cognitive Sciences,9, 553-555.
Bach,M. (1994).Alexithymia:Relationship topersonalitydisorders. Comprehensive Psychiatry, 35, 239-243.
Bach,M.,Bohmer,F.,&D.Nutzinger(1994).Alexithymiaandsomatization:RelationshiptoDSMIV-Rdiagnoses. Journalof Psychosomatics Research, 38, 529-538.
Bagby,M.,&Taylor,G.(1999).Affectdysregulationandalexithymia.InG.Taylor&M.Bagby(Orgs.),Disorders of affectregulation(pp.7-25).Cambridge:CambridgeUniversity.
Bagby,R.,Taylor,G.,&Parker,J.(1994).TheTwenty-ItemTorontoAlexithymiaScale.Journal of Psychosomatic Research, 38, 23-40.
Bankier,B,Aigner,M.,&Bach,M.(2001).AlexithymiainDSMIVDisorder-Comparativeevaluationofsomatoformdisorder,panicdisorder,obsessive-compulsivedisorder,anddepression.Psychosomatics, 42, 235-240.
Barret,L.(2006).Solvingtheemotionparadox:Categorizationandtheexperienceofemotion.Personality and Social PsychologyReview, 10, 20-46.
Baumeister,R.,Vohs,K.,DeWall,C.,&Zhang,L.,(2007).Howemotionshapesbehaviour:Feedback,anticipation,andreection,ratherthandirectcausation.Personality and Social PsychologyReview, 11, 167-203.
Begley,S.(2008).Treine a mente, mude o crebro(B.Casotti,Trad.).RiodeJaneiro:Objetiva.(Trabalhooriginalpublicadoem2007)
Bechara,A.,Damasio,H.,&Damasio,A.(2000).Emotion,decisionmakingandtheorbitofrontalcortex. Cerebral Cortex,10, 295-307.
-
8/3/2019 artifgos
9/10
23Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
Alexitimia: Uma Anlise Terica
Berthoz,B.,Artiges,E.,deMoortele,P.F.,Poline,J.B.,Rouquette,S.,Consoli,S.,&Martinot,J.(2002).Effectofimpairedrecognitionandexpressionofemotionsonfrontocingulatecortices:AnfMRIstudyofmenwithalexithymia. American Journal ofPsychiatry, 159 ,961967.
Caldas,N.(1999).Avaliao da alexitimia em usurios de drogasem centro de tratamento na cidade do Rio de Janeiro.Dissertao
de Mestrado, Escola Nacional de Sade Pblica, Rio de Janeiro.Candland,D.(2003).Thepersistentsproblemsofemotions.EmD.Candland,J.Fell,E.Keen,A.Leshner,R.Plutchik,&R.Tarpy(Orgs.),Emotions (pp.01-84).NovaYork:AuthorsChoice.
Damsio,A.(1995)Towardaneurobiologyofemotionsandfeeling:Operationalconceptsandhypotheses.The Neuroscientist,1, 19-25.
Damsio,A.(1996).O erro de Descartes. Emoo, razo e ocrebro humano(D.Vicente&G.Segurado,Trad.).SoPaulo:CiadasLetras.(Trabalhooriginalpublicadoem1994)
Damsio,A.(2000). O mistrio da conscincia(L.T.Mota,Trad.).SoPaulo:Cia.dasLetras.(Trabalhooriginalpublicadoem1999)
Decety,J.,&Moriguchi,Y.(2007)Theemphaticbrainanditsdysfunctioninpsychiatricpopulations:Implicationsforinterventionacrossdifferentclinicalconditions.ByoPsychoSocial Medicine , 1, 22.
Gazzaniga,M.,&Heatherton,T.(2005).Cinciapsicolgica(M.A.V.Veronese,Trad).PortoAlegre:Artmed.(Trabalhooriginalpublicadoem2003)
Grabe,H.,Spitzer,C.,&Freyberger,H.(2004).Alexithymiaandpersonalityinrelationtodimensionsofpsychopathology.AmericanJournal of Psychiatry, 161, 1299-1301.
Gross,J.,&Thompson,R.(2006).Emotionregulation:Conceptualfoundations.EmJ.J.Gross(Org.),Handbook of emotionregulation(pp.3-22)NewYork:Guilford.
Grotstein,J.(1999).Alexithymia:Theexceptionthatprovestheruleoftheunusualsignicanceoftheaffects.EmJ.Graeme,R.Taylor&M.Bagby(Orgs.),Disorders of affect regulation (pp.XI-XVIII).Cambridge:CambridgeUniversity.
Hane,A.,&Fox,N.(2006).Ordinaryvariationsinmaternalcaregivinginfluenceinfantsstressreactivity. PsychologicalScience, 17, 550-556.
Helmes,E.,McNeill,P.,Holden,R.,&Jackson,C.(2008).Theconstructofalexithymia:Associationswithdefensemechanisms.Journal of Clinical Psychology, 64, 318-331.
Jula,A.,Salminem,J.,&Saarijarvi,S. (1999).Alexithymia:Afacetofessentialhypertension.Journal of the American HeartAssociation, 33, 1057-1061.
Kirmayer,L.(1987).Languagesofsufferinghealing:
Alexithymiaasasocialandculturalprocess. TransculturalPsychiatry, 24, 119-136.
Kleinginna,P.R.,&Kleinginna,A.M.(1981).Acategorizedlistofemotiondenitionswithsuggestionsforaconsensualdenition.Motivation and Emotion, 5, 345-379.
LeDoux,J.(1998). O crebro emocional. Os misteriososalicerces da vida emocional(T.B.Santos,Trad.).RiodeJaneiro:Objetiva.(Trabalhooriginalpublicadoem1996)
LeDoux,J. (2000).Emotional circuits inthebrain.AnnualReviews in Neuroscience, 23,155184.
LeDoux,J.(2007).Unconsciousandconsciouscontributionstotheemotionsandcognitiveaspectsofemotions:AcommentonScherersviewofwhatanemotionis.Social Science Information, 46, 395-407.
Lumley,M.,Ovies.T.,Stettner,L.,Wehmer,F.,&Lakey,B.(1996).Alexithymia,socialsupportandhealthproblems.Journalof Psychosomatic Research, 41, 519-530.
Lumley,M.,&Sielky,J.(2000).Alexithymia,genderandhemisphericfunctioning. Compreensive Psychiatry, 41, 352-359.
Maciel,M.,&Yoshida,E.(2006).Avaliaodealexitimia,
neuroticismoedepressoemdependentesdelcool. AvaliaoPsicolgica. , 5, 43-54.MacLean,P.(1949).Psychosomaticdiseaseandthevisceral
brain.Journal of Psychosomatic Medicine, 11, 338-353.Morera,O.,Culhane,S.,Watson,P.,&Skees,M.(2005).
AssessingtherealibilityandvalidityoftheBermond-VorstAlexithymiaQuestionnaireamongU.S.AngloandU.S.Hispanicsamples. Journal of Psychosomatic Research, 58, 289-298.
Nada,P.(1997).Alexithymiaandcancer.Japanese Journal ofPsychosomatic Medicine, 37, 585-588.
Panksepp,J.(2008).Theaffectivebrainandcoreconsciousness:Howdoesneuralactivitygenerateemotionalfeelings?EmM.Lewis,J.Haviland-Jones&L.Barrett(Orgs.),Handbook of emotion(pp.47-67).NewYork:Guilford.
Parker,J.,Taylor,G.,&Bagby,M.(1998).Alexithymia:Relationshipwithego-defenseandcopingstyle. CompreensivePsychiatry, 39, 91-98.
Prazeres,N.,Parker,D.,&Taylor,J.(2000).AdaptaoportuguesadaEscaladeAlexitimiadeTorontode20Itens(TAS-20).Revista Ocial de La Associacion Iberoamericana de Diagnstico
y Evaluacion Psicolgica, 9, 9-21
Romei,V.,DeGennaro,L.,Fratello,F.,Curcio,G.,Ferrara,M.,Pascual-Leone,A.,&Bertini,M.(2008).Interhemispherictransferdeficitinalexithymia:Atranscranialmagneticstimulationstudy. Psychotherapy and Psichossomatics, 77,175-181.
Rose,S.(2006). O crebro no sculo XXI. Como entender,manipular e desenvolver a mente(H.Londres,Trad.).SoPaulo:Globo.(Trabalhooriginalpublicadoem2005)
Scherer,K.(2005).Whatareemotions?Andhowcantheybemeasured?Social Science Information, 44, 695-729.
Schore,A.(1994).Affect regulation and the origin of the self.NewYork:LawrenceErlbaum.
Schore,A.(2003a).Affect dysregulation and disorders of theself.NewYork:Norton&Company.
Schore,A.(2003b).Affect regulation and the repair of the self.NewYork:Norton&Company.
Sengupta,A.,&Giri,V.(2009)Alexithymiaandmanagerialstyles:ImplicationsinIndianorganizations.Journal of the IndianAcademy of Applied Psychology, 35, 71-77.
Sifneos,P.(1972). Short-term psychotherapy and emotionalcrisis.Boston:HarvardUniversity.
Sifneos,P.(1973).Theprevalenceofalexithymiccharacteristicsinpsychossomaticspatients.Psychotherapy and Psychossomatics,22, 255-262
Sifneos,P.(2000).Alexithymia,clinicalissues,politicsandcrime.Psychotherapy and Psychosomatics, 69, 113-116.
Spitzer,C.,Siebel-Jurges,U.,Barnow,S.,Grabe,H.J.,&Freyberger,H.(2005).Alexithymiaandinterpersonalproblems.Psychoterapy and Psychossomatics, 74, 240-246.
Taibnia,G.,&Zaidel,E.(2005).Alexithymia,interhemispherictransfer,andrighthemisphericspecialization:Acriticalreview.Psychoterapy and Psychossomatics, 74, 81-92.
-
8/3/2019 artifgos
10/10
24 Psic.:Teor.ePesq.,Braslia,Jan-Mar2010,Vol.26n.1,pp.15-24
L. Freire
Taylor,G.(2000).Recentdevelopmentinalexithymiatheoryandresearch.The Canadian Journal of Psychiatry, 45, 134-142.
Taylor,G.,Parker,J.,Bagby,M.,&Boukes,M.(1999).Relationshipbetweenalexithymiaandpsychologicalcharacteristicsassociatedwitheatingdisorders. Journal of PsychosomaticResearch, 41, 561-568.
Verssimo,R.(2005).Theassessmentofalexithymia:A
psychometricstudycomparingtwoself-reportmeasurements.Journal of Psychosomatic Research, 58, 14-15.Wiethaeuper,D.,Balbinotti,M.,Pelisoli,C.,&Barbosa,M.
(2005).EstudosdaconsistnciainternaefatorialconrmatriodaEscalaTorontodeAlexitimia-20(ETA-20).Revista Interamericanade Psicologia / Interamerican Journal of Psychology, 39, 221-230.
Retiradoemoutubro/2007,dehttp://www.psicorip.org/Resumos/PerP/RIP/RIP036a0/RIP03924.pdf.
Wood,R.,&Williams,C.(2007).Neuropsychologicalcorrelatesoforganicalexithymia. Journal of the InternationalNeuropsychological Society, 13 ,471479.
Yehuda,R.,Steiner,A.,Kahana,B.,Binder-Brynes,K.,Southwick,S.,Zemelman, S.,&Giller,E.(2004).AlexithymiainholocaustsurvivorswithandwithoutPTSD.Journal of TraumaticStress, 10, 93-100.
Yoshida,E.M.P.(2000).TorontoAlexthymiaScale-TAS:precisoevalidadedaversoemportugus.Psicologia: Teoria ePrtica, 2, 59-74.
Yoshida,E.M.P.(2005).Stressealexitimia[Resumo].EmPortaldaEducaoFsica(Org.),Anais do II Congresso Brasileirode Stress(p.96).SoPaulo.
Recebido em 16.09.08
Primeira deciso editorial em 28.10.09
Verso nal em 06.11.09
Aceito em 09.12.09 n