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Page 1: ARTIDO DISCIPLINA: PRODUÇÃO FILOSÓFICA   umberto neves

A DEMOCRACIA NO SÉCULO XXI

UMBERTO NEVES BALDEZ

RESUMO:

Este artigo pretende analisar, estudar e contextualizar a evolução da

teoria política, desde Nicolau Maquiavel, sustentada pelos conceitua-

dos pensadores, destacadamente John Locke, Jacques Rousseau,

Thomas Hobbes, Alexis de Tocqueville, Charles de Montesquieu,

Karl Marx, dentre outros, até os tempos atuais, no sentido de interpre-

tar as evoluções ocorridas na prática mundialmente e com foco nos

principais países e regiões da geografia política, os conflitos, os fatos

marcantes e os regimes havidos para obter conclusões realistas acerca

do estágio da democracia nesse começo de século. Trata-se de avaliar

se essa democracia atende aos anseios de uma sociedade justa, livre,

pacífica e harmônica.

PALAVRAS-CHAVE:

Democracia; Política; Regimes Políticos; Social Democracia; Ditadu-

ra.

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INTRODUÇÃO

O mundo em que vivemos atualmente apresenta características que se pode

constatar no sentido de que nunca mais será da forma como foi, há muito pouco

tempo atrás. Pois vive, a sociedade atual, num mundo frenético em que tudo é

muito rápido, muito escasso em alguns casos e regiões, e abundante tanto adequa-

damente quanto demais em outras situações. Constata-se o problema da efemeri-

dade nas coisas gerais. As notícias correm em tempo real em qualquer parte do

mundo. As formações da sociedade buscam as melhores maneiras de convívio,

apesar de problemas muito difíceis e graves que assolam as pessoas, tais como o

desemprego e a violência urbana. E essas buscas associativas se fazem nas Orga-

nizações Sociais, nos Bairros, nos Clubes, nos Partidos Políticos, e/ou nas mili-

tâncias de menor ou maior representatividade institucional. Com os avanços tec-

nológicos, e a presença dessa tecnologia tão próxima das pessoas, essas interações

se fazem também nos fóruns virtuais, e nas formas outras de usos interativos que a

tecnologia possibilita.

Focando como ponto de partida as concepções políticas de Nicolau Maquia-

vel, pode-se imaginar o quanto esse moderno pensador se impressionaria com o

mundo atual. Mas, se esse tipo de digressão fosse adotado, não deveria ser im-

pressionante concluir que Sócrates, quando caminhava pelas ruas de Atenas e dia-

logava com os transeuntes, exprimindo seu nobre filosofar ou buscando orientar o

exercício do melhor intelecto do dialogante, estava interagindo analogamente às

interações que hoje se fazem nos meios virtuais no sentido de que essas interações

procuram extrair dos atores sociais as maneiras nobres do convívio social nos

bairros, nos clubes, nas cidades muito além do simples exercício do intelecto.

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Mas, é necessário que essas interações sejam tão reais quanto eram na pequena

Atenas, e esse é o desafio do tempo atual. Mas porque Sócrates não se encontra

representado nesse trabalho de Filosofia Política, o ponto central e objetivo é veri-

ficar que os pensamentos de John Locke, Montesquieu e Tocqueville são bem

atuais, no que concerne às garantias das liberdades individuais, do exercício da

cidadania e das representações políticas, da atividade econômica e das estruturas

das instituições que devem ser adequadas. Jean Jacques-Rousseau é outro pensa-

dor bem atual, pelos esforços que empreendeu nas concepções políticas, por mais

que essas, no todo, sejam polêmicas ou mesmo superadas. Mas a atualidade maior

de Rousseau certamente é sobre as teorias educacionais, pois ainda constatamos

sérios problemas nas estruturas educacionais, principalmente no Brasil. Sobre as

contribuições de Rousseau para a educação, Targa (2011) afirma que esse foi não

somente um teórico da educação, mas empreendeu profundas investigações no

campo da política e da filosofia, sendo um pensador voltado para os aspectos da

natureza. Em O Emílio, descreve todas as fases da formação de um jovem. Tho-

mas Hobbes pode nos levar a uma profunda reflexão acerca dos confrontos vigen-

tes no mundo, sobretudo em algumas sociedades, tanto quanto Maquiavel, mas,

esse, focado na polêmica de seus conselhos de como se deve exercer e manter o

poder, nos leva a uma reflexão séria acerca dos poderes longos que existem no

mundo, e, distantes ou não das concepções maquiavelianas, os desvios que se

constatam no exercício da vida pública.

1 – AS CONCEPÇÕES POLÍTICAS DE IMPORTANTES PENSADO-

RES, DESDE NICOLAU MAQUIAVEL

A República, para Nicolau Maquiavel (1469-1527) é um misto das formas pu-

ras de governo (Monarquia, Aristocracia e Democracia), e essa deve ser conside-

rada a forma de governo ideal, conquanto que seja bem ordenada. Para isso, se

caracteriza por 5 elementos: Constituição Mista; Império das Leis; Boas Leis;

Bons Costumes e Milícia Popular. Entretanto a República idealizada por Maquia-

vel se caracteriza por ser absolutista na medida em que confere poderes absolutos

a um soberano, assim Nicolau Maquiavel é considerado um pensador absolutista.

Mas a caracterização de pensamento absolutista está vinculada ao tempo em que

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viveu esse pensador e às características peculiares da Itália nesse período do re-

nascimento. Nesse período da história a Itália encontrava-se desunida, fragmenta-

da entre seus principais territórios (Florença, Nápoles, Pisa, Gênova, Milão, Ve-

neza etc), e Maquiavel acreditava que somente a reunificação italiana, como hou-

vera sido no passado recente, e a exemplo de França e Espanha, traria a prosperi-

dade, e essa reunificação deveria ser liderada por um Príncipe Absolutista.

Maquiavel, considerado um pensador moderno, caracteriza-se pelo método in-

dutivo-histórico. O conceito de Virtù consiste em que o governante deve separar a

moral da política, pois, de acordo com a moral cristã vigente na época, conselhos

como matar, enganar, dentre outros para se manter no poder não poderiam ser

aceitos, e de acordo com Maquiavel é uma atitude adequada, se o soberano conse-

guiu se manter no poder. A fortuna, outro importante conceito maquiaveliano con-

siste em que um soberano precisa estar preparado para os imprevistos das jornadas

da vida do poder, e agir sempre com eficiência. Embora os antigos já tivessem

lançado contribuições à filosofia política, tais como Platão, Aristóteles, Políbio,

Maquiavel, já na época do renascimento, pode ser considerado o primeiro grande

pensador político. Maquiavel (2001, p.27) descreve sobre as conquistas humanas

empreendidas no exercício do poder absolutista:

É, de fato, muito natural e comum o desejo de conquistar. Quando,

podendo, os homens o realizam, merecem ser louvados e não critica-

dos, mas, quando não podem e querem realizá-lo de qualquer modo,

nesse caso estão errados e devem ser recriminados.

Algumas descrições sobre as ações de um soberano se estendem aos comporta-

mentos da natureza humana, em O Príncipe, e causam polêmicas até hoje, pare-

cendo ser muito atuais.

Não deve ser, pois, crédulo o príncipe nem precipitado, nem assustar-

se a si mesmo, mas agir equilibradamente, prudente e humanitário, pa-

ra que a confiança demasiada não o faça incauto e a desconfiança ex-

cessiva não o torne intolerável. Daí se origina esta questão discutida:

se melhor é ser amado que temido, e vice-versa. Responder-se-á que

se queria ser uma e outra coisa; como, entretanto, é difícil reunir ao

mesmo tempo as qualidades que levam àqueles resultados, muito mais

seguro é ser temido que amado, quando seja obrigado a falhar numa

das duas. Porque os homens são em geral ingratos, volúveis, dissimu-

lados, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, enquanto lhes fizeres be-

nefícios, estão todos contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos,

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como antes disse, desde que estejas longe de necessitares de tudo is-

to. Quando, porém, a necessidade se aproxima, voltam-se para outra

parte. E o príncipe, se apenas confiou inteiramente em palavras e não

tomou outras precauções, está arruinado. Porque as amizades que se

conseguem por interesse e não por nobreza ou grandeza de caráter, são

compradas, não se podendo contar com as mesmas no momento preci-

so. E os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar, do

que àqueles que se tornam temidos, por ser o amor conservado por la-

ço de obrigação, o qual é rompido por serem os homens pérfidos sem-

pre que lhes aprouver, enquanto o medi que se infunde é alimentado

pelo temor do castigo, que é sentimento que jamais se deixa. Deve,

pois, o príncipe fazer-se temido de modo que, se não for amado, ao

menos evite o ódio, pois fácil é ser ao mesmo tempo temido e não

odiado, o que acontecerá desde que se abstenha de se apossar dos bens

e mulheres de seus cidadãos e súditos, e, ainda que obrigado a verter o

sangue de alguém, só poderá fazê-lo havendo justificativa e causa ma-

nifesta. Deve, principalmente, abster-se de aproveitar os bens alheios,

pois os homens olvidam mais rapidamente a morte do pai do que a

perda do seu patrimônio. Além do mais, não faltam jamais oportuni-

dades de saquear o que é dos outros, e aquele que principia vivendo de

rapinagens, sempre as encontra, o que já não acontece quanto às opor-

tunidades de derramar sangue. (MAQUIAVEL, 2001, p.24).

Para Thomas Hobbes (1588-1679), os homens são movidos por sensações

e, principalmente, por paixões. No estado natural, onde há escassez, todos lutam

contra todos. O medo compõe o principal elemento na filosofia hobbesiana. É o

medo da morte que leva os homens a buscarem a paz entre si.

Tendo assim estabelecido os alicerces para o assunto ao qual me pro-

pus, demonstro primeiramente que o estado dos homens sem a socie-

dade civil (ao qual podemos corretamente chamar de Estado de Natu-

reza), nada mais é que uma guerra de todos contra todos, e nesta guer-

ra, todos os homens tem direitos iguais sobre todas as coisas; e em se-

qüência, que todos os homens assim que entendem esta condição odi-

osa (até porque a natureza os compele a isto) desejam livrar-se desta

miséria. Mas isto não pode ser feito a menos que, através de um pacto,

abdiquem do direito pelo qual todos são possuidores de todas as coi-

sas. (HOBBES, 2006, P.15).

Sobre o medo e as relações entre os homens no Estado de Natureza, Hobbes

(2006, p.21) descreve:

A origem do medo mútuo, em parte consiste na igualdade entre os

homens por natureza, em parte pela mútua vontade de se ferirem; de-

correndo assim que não podemos esperar dos outros, e nem garantir a

nós mesmos o mínimo de segurança, pois, se examinarmos homens

adultos, considerando a fragilidade da moldura de nosso corpo (que

sucumbindo, faz o mesmo com nossa força, vigor e sabedoria), e a fa-

cilidade como até o mais fraco dos homens pode matar o mais forte,

não existe razão para que qualquer homem, confiante em sua própria

força, se conceba de natureza superior a outro. São iguais os que po-

dem fazer coisas iguais um ao outro; e os que podem fazer as maiores

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coisas (matar), podem fazer coisas iguais. Todos os homens são, por-

tanto, iguais entre si por natureza. A desigualdade que observamos em

nossos dias, encontra na lei civil sua origem.

Inserido no contexto da Revolução Inglesa, politicamente, Hobbes acredita na

monarquia e no poder do soberano, mas o soberano e o estado em Hobbes dife-

renciam do que concebe Maquiavel, pois, agora, estão separados. O poder sobera-

no é assegurado através de uma espécie de autorização.

A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-

los das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garan-

tindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu

próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver

satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma

assembléia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por

pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: desig-

nar um homem ou uma assembléia de homens como representante de

suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se cada um como autor

de todos os atos que aquele que representa sua pessoa praticar ou levar

a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança comuns;

todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e

suas decisões a sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou

concórdia, é uma verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma

pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos os homens,

de um modo que é como se cada homem dissesse a cada homem: Ce-

do e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este ho-

mem, ou a esta assembléia de homens, com a condição de transferires

a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas

ações. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Es-

tado, em latim civitas. É esta a geração daquele grande Leviatã, ou an-

tes (para falar em termos mais reverentes) daquele Deus Mortal, ao

qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças

a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe

conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado

o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no sentido da

paz em seu próprio país, e ela ajuda mútua contra os inimigos estran-

geiros. É nele que consiste a essência do testado, a qual pode ser assim

definida: Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante

pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como

autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da

maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa

comum. Àquele que é portador dessa pessoa se chama soberano, e de-

le se diz que possui poder soberano. (HOBBES, 2006, p.61).

John Locke (1632-1704) mantém importantes divergências com Hobbes,

pois acredita que no estado de natureza há uma condição de igualdade entre os

homens. Politicamente, o povo tem de ser governado por uma autoridade externa,

imparcial e impessoal, o que invalida as possibilidades absolutistas. Sua defesa da

propriedade – que não são apenas os bens de um indivíduo, mas sua vida e liber-

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dade -, o caracteriza como um grande liberalista. A propriedade é sagrada em

Locke, pois fruto do trabalho do indivíduo. As bases do liberalismo clássico loc-

keniano determinam que a economia baseada no dinheiro se autorregula e inde-

pende do estado. As leis servem para preservar e ampliar a liberdade dos indiví-

duos. Locke foi o primeiro a conceber uma divisão adequada dos poderes, em

Legislativo, Executivo e Federativo. Apenas o Legislativo é soberano, e a aplica-

ção das leis cabe ao Executivo.

Para Rousseau (1712-1778) o homem está sempre em busca da felicidade.

No estado de natureza, satisfaz-se com realizações simples tais como alimentação,

abrigo e sexo. O homem é bom em estado natural, sendo que a sociedade o cor-

rompe. A propriedade, principalmente de terras, leva à desigualdade e o abismo

entre pobres e ricos. O homem age livremente ao se inserir e almejar os objetivos

de uma comunidade. Liberdade é ausência de dominação, não apenas ausência de

impedimentos externos, por isso Rousseau é republicano em oposição ao libera-

lismo. Os homens se unem para formar um corpo político, são os autores e desti-

natários das leis. Cada membro é soberano no momento em que toma decisões em

assembleia, e súdito no momento em que cumpre o determinado por assembleia.

Esse modelo político, entretanto, seria válido somente para pequenas comunida-

des.

Montesquieu (1689-1755) confia na importância do Espírito das Leis na

constituição de um Estado Ideal, Republicano. O homem em estado natural não

possui as estruturas adequadas, não é bom, como definiu Rousseau, somente num

Estado amparado em leis fortes, esse indivíduo pode exercer a sua liberdade e

realizar suas vontades.

É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer, mas a

liberdade política não consiste em se fazer o que se quer. Em um Es-

tado, isto é, numa sociedade onde existem leis, a liberdade só pode

consistir em poder fazer o que se deve querer e em não ser forçado a

fazer o que não se tem o direito de querer.

Deve-se ter em mente o que é a independência e o que é a liberdade. a

liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; e se um ci-

dadão pudesse fazer o que elas proíbem ele já não teria liberdade, por-

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que os outros também teriam esse poder. (MONTESQUIEU,

2000, p.3).

Para Montesquieu existem três tipos de Estado: a monarquia, a república e o des-

potismo. O espírito da monarquia é a honra, do despotismo o medo e o da repúbli-

ca a virtude. O poder precisa ser moderado, poder limitando o poder, isso consiste,

como obstáculo ao despotismo, numa fragmentação como característica natural do

poder moderado, ou seja, o Estado fundamentado em leis e não na vontade indivi-

dual, o que caracteriza o modelo de estado republicano. “Assim, diferentemente

dos liberais, o indivíduo não possui direitos frente ao Estado na república. Pois,

nessa é o Estado que confere o que são os direitos” (SCHULZE, 2012, p. 24).

Montesquieu destaca que mesmo fragmentando o poder, esse ainda pode deixar

margem para a corrupção. A corrupção, em Montesquieu, abarca os valores do

Estado e do exercício do poder corrompidos, para além de simples desvios e tro-

cas de favores.

Montesquieu é um apaixonado defensor da vida pública e da vida po-

lítica. Mas essas não são própria da essência do ser humano, é preciso

a decisão de estar na vida pública e na vida política. Não é só necessá-

rio que os homens participem do contrato social, mas que tomem para

si o orgulho dessa participação e, consequentemente, exerçam a virtu-

de política. Essa que permite o exercício adequado do poder, pois o

fragmenta. Do contrário, o poder fica concentrado na mão de um úni-

co indivíduo, o rei. O qual, justamente por concentrar o poder, deixar-

se-á dominar por ele, pelas paixões associadas ao poder, conforme já

explicado aqui. Só fragmentando o poder para dominá-lo. (SCHUL-

ZE, 2012, p.26).

A divisão dos poderes, em Montesquieu, é a melhor solução de obstáculo aos des-

vios e às investidas déspotas. Essa divisão se faz em Legislativo, Executivo e Ju-

diciário, se regulando e se freando. Ao executivo, fundamentalmente, é necessário

que haja alternância, afim de que o mandatário não fique muito tempo no exercí-

cio do poder. Montesquieu vê problemas, entretanto, na República, ainda que ide-

alizando uma república ideal como sendo uma república pequena. Pois, se essa for

pequena, um estado maior a derruba, se for grande, será destruída, pela fortuna

que circula, internamente. Assim, a solução célebre montesquieuniana é o comér-

cio.

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Tocqueville (1805-1859) ocupou-se, quando de sua viagem aos Estados

Unidos, em estudar a sociedade americana. Concluiu que a lei da sucessão assegu-

ra a riqueza das famílias americanas.

Da viagem à América, sem dúvida, o que mais impressionou Tocque-

ville foi a visão que teve da igualdade social, ao mesmo tempo que,

segundo notou, essa igualdade amparava-se na defesa da liberdade.

Essa observação incidiu positivamente sobre suas ideias, fazendo que,

paulatinamente, tomasse partido em favor das ideias democráticas,

contrapondo-se ao peso aristocrático que tivera em sua formação.

(MARQUES, 2010, p.104).

Para Tocqueville, prosseguindo com a exposição estrutural de sua

obra dada por Rodrigues, a união americana compõe-se de Estados,

cada um dos quais se divide em comunas e condados. A comuna, em

seu entender, parecia surgida das mãos de Deus como primeiro refú-

gio da liberdade e não dependia senão dela própria em tudo que se re-

lacionasse ao convívio dos cidadãos. (MARQUES, 2010, p.107).

A liberdade de imprensa e o espírito de associação são definidos por Tocqueville

como duas maneiras de a sociedade se movimentar e exercer influência política e

social.

Para Tocqueville, a democracia está associada a um processo igualitá-

rio que não poderá ser cessado, o qual se desenvolve de forma e de

modo diferentes em povos diversos. O que caracterizará, por outro la-

do, se uma democracia cambiará para a liberdade ou para a tirania se-

rá, sobretudo, a ação política. (MARQUES, 2010, p.111).

A liberdade política é a solução encontrada contra o despotismo. Tocqueville

confia claramente na divisão dos poderes teorizada por Montesquieu, a divisão do

legislativo em Senado e Câmara, a composição da Suprema Corte de Justiça, pois

é essa independência e diversidade da representação legislativa, a força imposta

pelo judiciário e a contínua alternância de poder que mantém a validade do Estado

e fortes as instituições políticas e públicas. Sobre a liberdade, “É verdade que todo

homem que acolhe uma opinião com base na palavra alheia põe seu espírito na

escravidão; mas é uma servidão salutar, que permite fazer bom uso da liberdade”.

(TOCQUEVILLE, 2004, p.23).

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Em Marx (1818-1883), temos a exposição do método dialético nas contra-

dições vividas pela sociedade, nas lutas de classes e nos conflitos entre o proleta-

riado e os detentores do capital e dos meios de produção. Essa dialética é materia-

lista, diferenciando-se da dialética hegeliana, que é idealista, e seu método ficou

conhecido como Materialismo Histórico. Marx expôs como nenhum outro pensa-

dor, as contradições existentes na sociedade capitalista, a exploração da força de

trabalho excedente, a Mais-Valia, que é responsável por gerar o lucro explorado e

criar as distorções entre exploradores – os detentores dos meios de produção – e

explorados – a classe trabalhadora -, isto é, entre ricos e pobres, gerando classes

sociais.

O revolucionamento do modo de produção toma, na manufatura, co-

mo ponto de partida a força de trabalho; na grande indústria, o meio

de trabalho. É preciso, portanto, examinar primeiro mediante o que o

meio de trabalho é metamorfoseado de ferramenta em máquina ou em

que a máquina difere do instrumento manual. (MARX, 1996, p.5).

Marx propõe a Ditadura do Proletariado, que seria um período de transição gerado pela classe

trabalhadora, para estatizar os meios de produção e estabelecer uma sociedade sem classes,

uma Sociedade Socialista. Casagrande e Amorim (2007, p.106) afirmam:

Mesmo reconhecendo a importância do papel da burguesia na dissolu-

ção do feudalismo e na construção da ordem capitalista, Marx prog-

nostica que cabe aos operários dar o próximo passo, o da destruição

do capitalismo e da instauração da sociedade socialista.

1.2 – AS CORRENTES FILOSÓFICAS NA PRÁTICA POLÍTICA

A União Soviética - URSS – foi a primeira tentativa de formação prática de

um estado comunista com base nos ideais socialistas de Marx e Engels, e vigeu de

1922 a 1991. Oficialmente era formada por 15 repúblicas soviéticas independen-

tes, mas centralizada na Rússia e no partido único de Lenin, em seguida Stalin, o

Partido Comunista. Com os desenvolvimentos econômicos impulsionados por

Stalin, juntamente com a supressão de todo tipo de oposição, a URSS se firmou

como uma grande potência mundial, sendo a outra os EUA. Essa se dissolveu em

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1991, pós-guerra fria, e nunca mais os antigos membros foram a mesma potên-

cia, ao contrário, muitos enfrentam sérias dificuldades, exceção da Rússia. A Cuba

comunista data de 1959, quando a Revolução Cubana pôs fim à ditadura de Ful-

gêncio Batista, assumindo o poder, Fidel Castro, até 2008, estando, a ilha, desde

então, governada por Raul Castro. Muitos avanços foram constatados e elogiados

mundialmente, por todas as correntes políticas: a erradicação do analfabetismo, a

eficácia do sistema de saúde e a baixa mortalidade infantil. Entretanto a centrali-

zação do poder no partido comunista, os sérios problemas econômicos ocasiona-

dos principalmente pelos embargos impostos pelos Estados Unidos questionam a

permanência desse modelo comunista. Com o fim da URSS, o destino cubano se

mostra cada vez mais difícil sem que se faça, de alguma forma, mudanças estrutu-

rais. Fidel e Raul têm revelado a crença de que um novo tempo pode vir para o

povo cubano, mas os ideais socialistas que fundaram o atual Estado são fortes

demais, mundialmente, para que se faça, a essa altura das coisas, mudanças radi-

cais, paliativas ou impensadas. Recentemente o regime cubano passou a permitir

viagens ao exterior, e notícias têm revelado a implantação de sistemas de internet,

mas têm havido sérias reclamações quanto ao alto custo do acesso à rede.

Outro país comunista que vigora nesse século é a Coréia do Norte, desde 1948,

nas mãos do Partido dos Trabalhadores da Coréia, já presente há três gerações. A

Coréia vive em permanente guerra com a Coréia do sul, pois nunca houve um

tratado de paz entre ambos os países. É um dos países que assombram o mundo

sobre as supostas armas que possui, sobre os testes militares que realiza. O pro-

blema sério que a atualidade constata com esse país comunista diz respeito aos

direitos humanos, sem igual. Os embargos econômicos impuseram duras penas ao

povo norte-coreano. É um país onde, claramente, os ideais marxistas tomaram

rumos que aquele pensador jamais poderia imaginar, e onde nenhum avanço, até o

tempo presente, se pode constatar. Notícias recentes, entretanto, têm relevado uma

tímida aproximação diplomática entre ambos os países, Coréia do Norte e Coréia

do sul, e passa a ser uma grande curiosidade mundial as relações que os atuais

líderes norte-coreanos estabeleçam naquela região ou com os EUA.

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O Estado detentor dos meios de produção, afim de não permitir a exploração

da mais-valia se verifica nos Estados Comunistas que se seguiram desde a URSS,

alguns regimes de fato têm dados positivos a divulgar. Mas o que se verificou, na

prática, foi o tolhimento das potencialidades individuais, característica própria da

concorrência capitalista. O Capitalismo gera a desigualdade. Mas isso e a desaco-

modação é positivo e fundamental para qualquer sociedade. Identificam-se diver-

sos avanços que são próprios da concorrência capitalista: aumento das potenciali-

dades individuais e coletivas decorrentes das características de liberdade ou pelo

simples instinto de sobrevivência, que não ocorre nas limitações dos regimes co-

munistas; interligação dessas potencialidades num plano global. As estruturas

esportivas, e as conquistas esportivas nas principais competições mundiais são um

exemplo específico dos ganhos proporcionados pelos sistemas onde vigem as li-

berdades e as concorrências, assim, embora se podem reconhecer as dificuldades

inerentes a esses países, por serem pequenos, com poucos recursos e pouca repre-

sentatividade mundial, dentre centenas de países semelhantes, são essas potencia-

lidades individuais e coletivas que podem fazer grandes diferenças, e para isso os

regimes comunistas se revelaram incapazes de executar.

As correntes do que se considera de direita também se espalharam, largamente,

pelo mundo, em forma de ditaduras ou moderadamente. Mas, apesar dos proble-

mas intrínsecos a essas correntes, constata-se que, na maioria dos casos, estiveram

relacionadas aos avanços econômicos da ordem capitalista, por isso é corrente a

ideia de que foram as estagnações econômicas que impuseram derrotas aos direi-

tistas. A Social Democracia, ou correntes de Centro-esqueda, Centro-direita são

possivelmente as formações políticas que mais obtêm consenso da sociedade, pois

estão comprometidas com as liberdades individuais e coletivas, a solidez das insti-

tuições, o desenvolvimento econômico e a alternância no poder.

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2 – A GEOGRAFIA POLÍTICA: ESTADOS UNIDOS, EUROPA,

ÁSIA E AMÉRICA LATINA

Com base nos ideais iluministas, os Federalistas iniciaram, em 1787, na cidade

de Filadélfia, as movimentações políticas que levaram ao estabelecimento da Re-

pública e da moderna constituição dos Estados Unidos da América.

Em suma, os representantes dos estados precisavam construir uma

constituição em que nenhum dos grupos (facções) que formavam os

Estados Unidos se impusesse perante os demais na posição de legisla-

dor dessa constituição. Sem, portanto, nenhum dos grupos (facções) se

colocar na posição de ditador perante os demais grupos. (SCHULZE,

2012, p.45).

Até a reeleição de Barack Obama em Novembro de 2012, os EUA contam com 45

presidentes ao longo de sua história, tendo elegido e reelegido um negro para a

Presidência, mas ainda não foram governados por uma mulher, ao contrário inclu-

sive de países de terceiro mundo, como é o caso da Costa Rica, e países emergen-

tes como no Chile, com Michele Bachelet, eleita em 2006, na Argentina, com

Cristina Kirchner (segunda mulher a ocupar a Presidência), eleita em 2007 e ree-

leita em 2011, e Dilma Rousseff, no Brasil, desde 2010. Os EUA se desfizeram

das ilusões espaciais, uma das bandeiras mais populares de John Kennedy. No

plano do uso da força, venceram a 2° Guerra Mundial, lançaram guerra ao Iraque

e ao Afeganistão, mantém poder militar potente em várias regiões do mundo, são,

portanto, a maior potência atual também no plano econômico. Os pressupostos de

John Locke, de Montesquieu e de Tocqueville são os mais conectados com a soci-

edade americana, principalmente as concepções de liberdade, de associação, defe-

sa da propriedade, da herança e exercício do comercio ou da atividade empreen-

dedora.

Na Europa, as ideias de Rousseau e John Locke acenderam as chamas para

a Revolução Francesa, em 5 de maio de 1789. Mas, entre 1804 a 1815, Napoleão

Bonaparte exerce o poder imperial lançando uma cruzada sobre diversos países, as

Guerras Napoleônicas que foram responsáveis por manter a hegemonia francesa.

Vivendo um longo período nazista, em 13 de agosto de 1961, na Alemanha, um

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país dividido em 2 pelo Muro de Berlim, a Alemanha Ocidental e Alemanha

Oriental, perdurando até 9 de novembro de 1989. Hoje a Alemanha é a terceira

maior economia do mundo, e a maior potência da União Européia (iniciada por 6

países em 1958, atualmente congrega 27 países), além de ser um dos países mais

liberais do mundo. A Itália segue com problemas políticos, sociais e econômicos.

Na Ásia, o Japão emergiu da derrota na segunda guerra mundial, em pou-

cas décadas, como a segunda maior economia mundial, e mantém, indiscutivel-

mente, estável o seu regime monárquico-imperial. A economia japonesa é uma

das mais dinâmicas do mundo. O exemplo japonês ilustra claramente as conside-

rações expostas acerca dos problemas inerentes aos países comunistas, isto é, o

Japão é um país com pequena extensão territorial e poucos recursos naturais, que

sofre inclusive com os problemas dos terremotos, e, ainda assim, é uma das maio-

res economias mundiais. A China viveu um longo período com Mao Tsé-Tung na

década de 50, mantendo as estruturas políticas de poder com as correntes comu-

nistas até hoje, sendo no plano econômico uma potência estatal aberta para o

mundo. Os Tigres Asiáticos também têm mostrado grandes desenvolvimentos. A

África segue muito pobre e explorada, tanto interna quanto externamente, além

das moléstias que assolam essa região, para onde o futuro parece nunca ter sido

vislumbrado. Na América Latina, como já destacado, vários acontecimentos se

verificaram nas políticas de alguns países, como Argentina, que viveu as realiza-

ções e ilusões do peronismo entre os anos 40 e 70 e as crises econômicas da déca-

da de 90. O Chile viveu um longo período da ditadura Pinochet, entre as décadas

de 70 e 90, sendo uma das mais difíceis ditaduras havidas principalmente nesse

continente. Posteriormente, o Chile emergiu com boas estruturas econômicas e

políticas na América Latina. No Brasil, a república liderada por militares, após um

período razoável com Prudente de Moraes, se revelou atrelada à elite cafeicultora

e pecuarista de São Paulo e Minas Gerais e distante do povo. Getúlio Vargas pre-

tendia dar fim a essas injustiças, exercendo poderes autoritários que culminaram,

entretanto, com sérios problemas políticos. Em seguida, o país viveu uma terrível

ditadura por mais de mais de 20 anos, entre os anos 60 e 80 até a redemocratiza-

ção de 85, somente alcançando estabilidade econômica e política nos anos 90.

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Nessa região existe sempre uma séria tentação ao populismo, ao apego

perpétuo ao poder, conforme se preocupava Tocqueville (2004, p.17), que assim

define:

Não há nada de mais irresistível do que um poder tirânico que coman-

da em nome do povo, porque estando revestido do poder moral que

pertence à vontade de um maior número, age ao mesmo tempo com a

decisão, a prontidão e a tenacidade que teria um só homem.

A fragilidade do Estado, nesse caso da América Latina se dá não pelo exercício da

igualdade, como destaca Montesquieu, mas pelas sempre vivas tentações ao poder

centralizado nas mãos de um governante. Entretanto, o que se ressalva é que,

mesmo os sérios conflitos com o judiciário e a imprensa revelam uma saída, às

vezes desesperada, desse governante assegurar o poder, pois sempre terá de en-

frentar, na situação mais difícil, as urnas. O que é positivo. Sobre esses confrontos

e a atividade da imprensa, Tocqueville (2004, p.14) destaca:

O espírito do jornalismo na América é o de se declarar contra, grossei-

ramente e sem preparação nem arte, as paixões daqueles a quem se di-

rige, de abandonar os princípios para se apoderar dos homens; de os

seguir na sua vida privada, e de pôr a nu as suas fraquezas e os seus

vícios. No entanto, não se pode negar que os efeitos políticos desse

abuso de liberdade da imprensa contribuem indiretamente para a ma-

nutenção da tranqüilidade pública. Nos Estados Unidos, onde cada

jornal tem individualmente pouco poder, mas o conjunto muito, a im-

prensa periódica é, depois do povo, o primeiro dos poderes.

3 – FATOS HISTÓRICOS: 11 DE SETEMBRO E PRIMAVERA

ÁRABE

Na manhã do dia 11 de Setembro de 2001, quatro aviões foram sequestrados

por 19 fundamentalistas, dois colidiram sobre as Torres Gêmeas do World Trade

Center, em Nova York, um contra o Pentágono e o quarto foi colidido contra o

chão. Além dos 19 sequestradores, 227 civis morreram a bordo dos aviões, e qua-

se três mil nos locais dos ataques. Eram cidadãos de mais de 70 países. Em segui-

da, George W. Bush lançou guerra ao terror, de forma geral, e ao Iraque e Afega-

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nistão, de forma específica. A guerra ao Iraque, evidentemente, não possuía

conexão com os ataques, pois Bush alegou que Saddam possuía armas de destrui-

ção em massa, o que nunca foi provado, mas as motivações para a guerra do Ira-

que surgiram dos impulsos belicosos do 11 de Setembro perpetuados pelo Afega-

nistão, por Osama Bin Laden à frente da Al-Qaeda.

A Primavera Árabe teve início em dezembro de 2010, quando Mohamed

Bouauzizi ateou fogo ao próprio corpo, em forma de protesto às más condições de

vida na Tunísia, desde então vários governos da região renunciaram, fugiram para

outros países, foram depostos ou mortos no poder. A situação mais dramática se

verificou na Líbia, culminando com a morte de Muammar Gaddafi em 20 de ou-

tubro de 2011, depois de 42 anos de poder despótico. Na Síria, as revoltas contra o

Governo de Assad continuam com uma sangrenta guerra civil que já resultou em

legiões de mortos e é o caso mais dramático da região árabe. As objeções que se

fazem é no sentido de que, a exemplo de numerosos conflitos em diferentes na-

ções verificadas ao longo da história, quais os avanços se seguirão à essa dura

realidade de guerra que vive o Oriente Médio. Filosoficamente, constata-se a cru-

eldade dos homens em estado natural, que se aproxima das noções hobbesianas.

Mas a razão mais freqüente para que os homens desejem ferir uns aos

outros, provém do fato de que muitos tenham um apetite pela mesma

coisa ao mesmo tempo, e que freqüentemente eles não podem desfru-

tar em comum e nem dividir. Segue-se a isto, que o mais forte há de

tê-la, e o mais forte necessariamente se decide pela espada.

(HOBBES, 2006, p. 21).

E as ações imediatas dos governantes frente à fortuna desses fatos, que se aproxi-

mam das noções maquiavelianas, mas Maquiavel preconizou um modelo de repú-

blica absolutista que traria a reunificação e grandes desenvolvimentos para o povo

da Itália no renascimento, essas ações ditatoriais, entretanto, se revelam nos mo-

mentos de guerra, mas eram e são praticadas, por esses governantes, no decorrer

dos longos tempos em que se mantém no poder.

CONCLUSÃO

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Os principais desafios impostos às sociedades atuais não é questionar se

alguns modelos deram certo ou ainda podem ser viáveis, por exemplo mais objeti-

vo, os Regimes Comunistas. Pois poucos foram implantados e 99% fracassaram

totalmente. Os ideais socialistas de Marx, ou adequados de John Locke, Rousse-

au, Montesquieu e Tocqueville sim, são bem atuais. Esses foram adotados tanto

pelas correntes de esquerda quanto de direita, principalmente pela Social Demo-

cracia de centro. Essas divisões que se fazem da política, evidentemente, já não

são mais atuais, pois, no decorrer dos processos políticos eletivos, no âmbito das

alianças, se formam muitas convergências que não se podem caracterizar dessa

forma – direita ou esquerda. Isso é constatado na prática, na medida em que polí-

ticos de correntes antagônicas, adversários políticos históricos passam a compor a

mesma base política de Governo, seja no Congresso ou nos Ministérios. As trans-

formações se verificam em tempo real. No mundo todo já não se admite mais, e

isso tende a se firmar em todas as sociedades, a ausência de eleições no todo ou

em parte da composição política. Em parte porque a solidez da Monarquia Consti-

tucional, que não é votada atende a formações históricas milenares desses países,

conectadas democraticamente com a sociedade atual, e esses poderes são bastante

limitados. Mas os principais desafios atualmente estão relacionados às complexi-

dades do mundo capitalista, que gera o desemprego, a concentração de renda criti-

cada, a violência urbana e os desafios gerais das cidades, tais como a favelização,

o trânsito etc. As formações políticas dever-se-ão estar muito mais conectadas

com esses desafios sociais. O problema da corrupção é grave em todas as socieda-

des políticas, denunciando não um estado de natureza hobbesiano, em que há es-

cassez e todos lutam contra todos, mas um estado de abundância real ou artificial

que gera esses confrontos e injustiças.

Em países dependentes de uma única forma de economia, como é o exem-

plo dos dependentes dos recursos do petróleo, talvez sim, as noções hobbesisnas

se aplicam, e explicam as concentrações do poder – que implicam, em algum tem-

po, em profundas mudanças ainda que concentradoras. Essa reflexão é importante

no sentido de que não se valoriza esse modelo vigente em muitos países, mas se

faz uma constatação no tempo da história e se verifica que o que está ocorrendo

atualmente já existiu em praticamente todas as regiões, mas com o agravante das

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características muito desfavoráveis dessas regiões e das imposições do mundo

rico que não levam em consideração esses fatores. O florescimento dos blocos

econômicos são uma alternativa positiva, inclusive para as distintas regiões, em

que as mudanças políticas podem despertar potencialidades econômicas positivas

e complementares nessas inter-relações, seja no Oriente Médio, na África ou na

Ásia. São iniciativas ou estruturas consolidadas que se aproximam dos ideais de

Montesquieu. O Brasil tem tido boas iniciativas nesse sentido, na formação do

BRICS e, agora, à Frente da Organização Mundial do Comercio, com Roberto

Azevêdo. Mas o Brasil precisa fortalecer as relações com a América Latina, e

principalmente na América do sul no âmbito do Mercosul, pois outros países pre-

cisam integrar esse bloco e as negociações com os atuais integrantes precisam ter

uma eficácia melhor, ou esse Bloco Econômico precisa ser reestruturado e ampli-

ado.

REFERÊNCIAS

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2007. Disciplina na Modalidade à Distância.

HOBBES, Thomas. Do Cidadão. São Paulo: Martin Claret, 2006.

______. Leviatã. São Paulo: Martin Claret, 2006.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MARQUES, Carlos Euclides. Filosofia Política II. Palhoça, 2010. Disciplina na

Modalidade à Distância.

MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

MONTESQUIEU, Charles. O Espírito das Leis. São Paulo: Martins fontes,

2000.

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SCHULZE, Carmelita. História da Filosofia IV. Palhoça, 2012. Disciplina na

Modalidade à distância.

TARGA, Dante de Carvalho. Filosofia da Educação. Palhoça, 2011. Disciplina

na Modalidade à Distância.

TOCQUEVILLE, Alexis. A Democracia na América. São Paulo: Martins Fon-

tes, 2004.