articulação nacional de agroecologia · web view2013/11/21  · a ecoterra faz parte do núcleo...

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO 3

4. DINÂMICAS DE ABASTECIMENTO E AS ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO: AS EXPERIÊNCIAS DAS ROTAS 11

4.1. ROTA LITORAL SUL 11

4.1.1. Organizações locais atuando no Mercado Institucional (PAA E PNAE) 11

4.1.2. Consumidores organizando-se para o acesso aos produtos ecológicos 13

4.1.3 Estratégias para escoamento de grandes volumes de produção ecológica: o caso da Acevam 14

4.2. ROTA INTERIOR DO RS E SC 17

4.2.1. Articulação regional da produção e comercialização: a experiência da

Ecoterra 17

4.2.2. Parceria entre o campo e a cidade: a Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas do Rio Grande do Sul 20

4.2.3. Articulação, integração e troca de produtos ecológicos: a experiência inovadora do Circuito Sul de Comercialização 24

4.2.4. Feiras Ecológicas 25

5. SÍNTESE E PERSPECTIVAS 29

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 34

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36

1. APRESENTAÇÃO

A Caravana Agroecológica do Sul visou mobilizar as organizações do campo agroecológico em torno do tema “Dinâmicas de Abastecimento e Construção Social de Mercados”.

A Região Sul conta com uma expressiva produção ecológica e em decorrência disso, vêm sendo construídas diversas estratégias de abastecimento e comercialização: Feiras, Mercado Institucional, Circuito Sul de Comercialização, Cooperativas de comercialização, Cooperativas de Consumidores, Box Agroecológico na Ceasa, Empreendimentos Econômicos Solidários, Agricultura Urbana, Turismo Rural, Lojas Virtuais, entre outras.

A Agroecologia vem desconstruindo a visão de que não é possível comercializar fora do grande varejo concentrador e excludente, de que é utopia pensar em mercados que não sigam a lógica da competição e da exploração. Assim, busca um mercado alternativo para os produtos ecológicos, democratizando o acesso e popularizando o seu consumo, em contraposição à proposta elitista dos nichos de mercado. Vem construindo novas formas de distribuição e circulação da produção da agricultura familiar e camponesa, através de dinâmicas que aproximam os atores sociais do campo e da cidade. Privilegiando as formas diretas e em rede nos mercados locais e regionais, com ênfase na economia solidária, promove o consumo consciente e responsável. O consumo é entendido como uma ação política, aliando o interesse das pessoas em se alimentar melhor à compreensão de que estão contribuindo para o fortalecimento das organizações sociais e produtivas do campo que estão construindo a Agroecologia e que produzem alimentos de alta qualidade ao mesmo tempo em que recuperam e conservam os recursos naturais. Também tem fortalecido o mercado institucional, importante conquista da sociedade brasileira, que tem contribuído significativamente para a diversificação das dinâmicas locais de abastecimentos e incidido positivamente no processo de transição agroecológica pela sua capacidade estruturante e dinamizadora do processo de comercialização e no fortalecimento das relações e parcerias entre os segmentos populares do campo e da cidade.

Cabe destacar o mercado institucional, que através do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) vem contribuindo de forma decisiva para a ampliação dos espaços de escoamento da produção ecológica e da agricultura familiar e camponesa, ao mesmo tempo que possibilita o fornecimento de alimentos de alta qualidade aos grupos sociais em situação de risco social e aos estudantes de toda a região.

AGROECOLOGIACONSTRUÇÃO SOCIAL DE MERCADOS ECONOMIA SOLIDÁRIA PAA COMERCIALZIAÇÃO EM REDE

COOPERAÇÃO PNAE ARTICULAÇÃO CAMPO E CIDADE AGRICULTURA FAMIIAR E CAMPONESA ORGANIZAÇÃO

2. INTRUDUÇÃO

O MERCADO CONCENTRADOR E EXCLUDENTE

A forma como o mercado se organiza no mundo vem se modificando drasticamente, com a ampliação da presença das multinacionais na agroindustrialização e distribuição, gerando concentração de renda e exclusão nas cadeias produtivas. A expansão dos impérios do setor de varejo alimentar é assustadora, sendo um exemplo a rede Wall-Mart, em 2013, ter alcançado o segundo lugar no entre as maiores empresas do mundo.

No Brasil o processo intenso de concentração deste setor é alarmante, principalmente após a ascensão neoliberal nos anos 1990, cuja política de abertura para o capital internacional permitiu condições vantajosas para a entrada das grandes redes no país. Assim, o Estado transferiu a responsabilidade do abastecimento alimentar para as mãos de oligopólios globais controlados pelo capital financeiro. Atualmente, três grupos competem pelo domínio do mercado nacional: Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar, responsáveis por cerca de 60% do faturamento do segmento. Destas três, apenas uma é de origem brasileira, o Grupo Pão de Açúcar, mas que já possui 50% de seu controle em mãos do Grupo Casino, francês.

Este domínio leva ao controle da distribuição e da influência na relação com o consumidor, afetando diretamente os padrões, normas e procedimentos para os fornecedores de alimentos e matéria prima, gerando exclusão dos segmentos menos estruturados e com produção de menor escala.

A constante e progressiva retirada do Estado da regulação dos mercados e da ação das corporações aprofunda esse controle e termina por excluir cada vez mais setores importantes da cena produtiva brasileira, em particular o da agricultura familiar e camponesa, reduzindo suas opções e capacidade de decisão no que se refere à definição de suas atividades produtivas, bem como suas formas de inserção no mercado. (WILKINSON, 2008).

Esta realidade está na pauta de discussão e ação dos movimentos e segmentos sociais comprometidos com a soberania e segurança alimentar, conforme aponta a Carta de Porto de Alegre, do 7º Encontro Nacional do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN):

O avanço da lógica privada sobre as ações de abastecimento e comercialização de alimentos, com a desregulamentação dos mercados, levou ao favorecimento de circuitos longos, orientação para exportação e avanço das grandes redes supermercadistas nasesferas do varejo e também no atacado. Isto tem comprometido, consideravelmente, o atendimento dos objetivos da soberania e segurança alimentar e nutricional, entre outros, por meio da pressão sobre os preços dos alimentos, conformação de desertos alimentaresnos grandes centros urbanos e a imposição de padrões de produção e consumo que desagregam culturas e hábitos alimentares locais, comprometem a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental.A construção de uma política de abastecimento alimentar deve se pautar pela retomada do papel do Estado como ente regulador dos mercados de alimentos (preços, expansão e concentração corporativa, formação de estoques, etc.) e promotor de sistemas de produção, armazenamento e comercialização dos alimentos ambiental, cultural esocialmente apropriados.

AGROECOLOGIA E CONSTRUÇÃO SOCIAL DE MERCADOS

A participação da agricultura familiar e camponesa constitui-se, historicamente, em forte elemento de identidade entre as diferentes experiências de produção ecológica da Região Sul. Ainda que numericamente o universo de agricultores e agricultoras que hoje trabalham com base em uma proposta agroecológica nos estados do Sul do país possa ser pequeno, é importante destacar que as experiências em andamento envolvem um segmento estratégico no que diz respeito à construção de alternativas de desenvolvimento para a agricultura da região, abrangendo grande diversidade de situações produtivas e constituindo-se em precioso laboratório de geração e intercâmbio de tecnologias e processos organizacionais. De modo geral, a crise hoje vivenciada pela agricultura familiar e camponesa do Sul do país não apenas pelos setores tidos como marginalizados pelo mercado, mas, também, por aqueles agricultores mais fortemente vinculados ao setor agroindustrial, tem sido tanto um estímulo quanto um obstáculo à expansão da proposta agroecológica. (SCHMITT, 2000)

A forma como o mercado de alimentos estrutura-se na atualidade acaba por excluir atores importantes da produção e distribuição de alimentos, devido, basicamente, ao intenso processo de concentração corporativa e aos padrões hegemonicamente definidos como necessários à inserção no mercado agroalimentar (PEREZ-CASSARINO, 2012).

Neste contexto, uma importante lição aprendida pelos agricultores e agricultoras ecologistas do Sul é a de que o processo de transformação dos sistemas produtivos sob uma perspectiva ecológica deve caminhar, pelo menos no contexto de uma agricultura modernizada como a da Região Sul, passo a passo com o esforço por redesenhar as formas de processamento, comercialização e certificação do produto ecológico. O elemento fundamental nesses diferentes processos é a existência de um trabalho, ainda que em estágio inicial, de construção ativa do mercado, que busca evitar e/ou minimizar a presença de intermediários na comercialização de produtos agrícolas, encurtando a distância entre produtores e consumidores, fortalecendo sistemas participativos de geração de credibilidade de seus produtos e fomentando, na medida do possível, redes locais de abastecimento. A construção e o fortalecimento desses canais alternativos de circulação de mercadorias, que visam contemplar em seu formato organizacional as necessidades dos diferentes tipos de agricultores, tornando, ao mesmo tempo, o produto ecológico uma alternativa de abastecimento para segmentos crescentes da população, podem ser considerados elementos estratégicos de ampliação da proposta agroecológica nos três estados do Sul. (SCHMITT, 2000)

Os produtos ecológicos cada vez mais se destacam no mercado de produto agroalimentar da Região Sul, entretanto os atores sociais envolvidos nos processos de produção e comercialização têm desenvolvido novas formas de se posicionar diante do mercado, entendendo-o como uma construção social, produto de relações sociais e da correlação de forças estabelecidas entre os diversos atores envolvidos. Desta forma, não existe um único mercado, mas distintos mercados, que se organizam segundo as relações e os agentes que os estruturam a partir do contexto e da realidade dos distintos territórios e regiões. Assim sendo, o mercado de produtos ecológicos é entendido como parte de um processo de construção social, num campo de tensão e de luta permanente, a partir das relações sociais que o constitui, produto da história coletiva que se reproduz nas histórias individuais. (ARAÚJO & KARAM, 2007).

A abordagem dos mercados proposta pela agroecologia confere, então, elementos práticos à realização da Segurança Alimentar e Nutricional e da Soberania Alimentar, por pressupor a configuração de redes e canais de comercialização que “se constroem através de alianças que redefinem a articulação entre a produção e o consumo de alimentos, baseada em critérios de proximidade, sustentabilidade e equidade” (SOLER e CALLE, 2010, p. 280). Assim, aponta para uma construção social dos mercados de alimentos que busque a garantia do acesso universal aos alimentos, disponibilidade e regularidade de oferta, sustentabilidade ambiental dos mecanismos de comercialização, redesenho das relações sociais e, inclusive, a participação social nos mercados (GRAVINA, 2004).

Obviamente, esse processo não ocorre ausente de contradições e conflitos, característicos de processos de caráter alternativo e em construção. Principalmente porque esses processos têm de se dar no âmbito do meio socioeconômico, cultural e nos próprios territórios onde o modelo a que esses processos se opõem é hegemônico. Assim sendo, compreender a dinâmica atual do sistema agroalimentar torna-se, portanto, fundamental para poder localizar o espaço desses empreendimentos em seu interior, bem como as possibilidades de alternativas para eles. Esse vasto campo de ameaças representa um importante ponto de debate no âmbito do acesso e construção de mercados para a agricultura familiar e camponesa, e particularmente relevante no âmbito da agroecologia. De forma mais ampla, esse debate se impõe na perspectiva da promoção da segurança alimentar e nutricional como um todo – haja vista sua concepção baseada no acesso universal a alimentos de qualidade e em quantidade suficientes (MALUF, 2009) – há de se colocar importante ênfase na discussão em torno dos mercados e da 'universalização' do acesso aos alimentos, visto que este enfoque estabelece um tenso diálogo com a necessidade de viabilização econômica da agricultura familiar e camponesa. (PEREZ-CASSARINO, 2012).

3. METODOLOGIA E PROGRAMAÇÃO

A metodologia da Caravana Agroecológica focou-se na construção coletiva dos conteúdos e a reflexão através de visitas a várias experiências de comercialização de produtos ecológicos no sul do Brasil. Foram organizadas duas Rotas que percorreram durante os três estados da região. Durante a sua realização, à partir das experiências concretas, foram debatidos os temas centrais de cada uma das diversas estratégias de comercialização enfocadas. No terceiro dia, as duas Rotas encontraram-se em Curitiba, construindo uma síntese que contribuirá para a ação das diversas organizações na qualificação, consolidação, ampliação e diversificação das estratégias de mercado, bem como subsidiarão a construção do III ENA.

3.1. METODOLOGIA

A Caravana Agroecológica do Sul contou com 2 Rotas que envolveram representantes de experiências, organizações e movimentos do Sul e convidados de outras regiões do Brasil. Cada Rota buscou contemplar diversas estratégias de abastecimento e construção social de mercados existentes no percurso, envolvendo organizações e movimentos que constroem a Agroecologia na Região Sul.

Cada rota contou com uma equipe de facilitação, composta por moderadores e relatores, que atuaram para que as abordagens reflexões e debates trouxessem à seguinte questão central que estão norteando o processo de preparação para o III ENA:

Porque interessa à sociedade apoiar uma estratégia de desenvolvimento rural com base na agroecologia e no fortalecimento da agricultura familiar e dos povos e comunidades tradicionais?

A partir deste enfoque, foram elaboradas as seguintes perguntas orientadoras para as rotas:

Como as famílias agricultoras acessam os mercados?

Quais as estratégias de autonomia e de agregação de valor nos mercados?

Qual a contribuição das experiências para a dinamização dos mercados locais e para a aproximação entre produtores e consumidores no território?

Quais os impactos dos programas como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa da Alimentação Escolar (PNAE) e Programa dos Produtos da Sociobiodiversidade ( PGPMBio) na vida das famílias e na economia local?

Quais as possibilidades e limites para a participação das mulheres nas dinâmicas de construção dos mercados institucionais e em outras iniciativas locais como as feiras agroecológicas? E para os jovens?

Após dois dias de visitas e discussões, os participantes das duas rotas se encontraram em Curitiba, onde ocorreu o relato e síntese das atividades realizadas, com a troca de impressões e avaliações sobre as experiências visitadas, havendo uma discussão das principais questões levantadas durante o seu percurso. Para aprofundar a abordagem sobre alguns temas, em parceria com a organização Terra de Direitos foram realizados dois painéis, enfocando o direito dos trabalhadores(as) na relação com o mercado convencional da na interlocução por politicas públicas. Foi dada ênfase à discussão do PAA, inclusive através da articulação e diálogo com o Encontro Nacional Mulheres da ANA- Rumo ao III ENA, que também estava acontecendo em Curitiba no mesmo período.

A sistematização da Caravana ocorreu a partir dos relatórios da equipe de facilitação, de documentos da Rede Ecovida e da Tese de Doutorado de Julian Perez-Cassarino: A construção social de mecanismos alternativos de mercados no âmbito da Rede Ecovida de Agroecologia, concluída em 2012 e que se baseou em pesquisa realizada a 17 Núcleos Regionais e mais detalhadamente estudos a construção social de mercados junto a 6 Núcleos Regionais , 9 organizações produtivas e mais de 170 entrevistas com membros da Rede Ecovida. Os dados e análises oriundas deste excelente trabalho subsidiaram de forma muito consistente a sistematização da Caravana, pois aportaram elementos sobre as experiências visitadas nas duas Rotas que complementam as abordagens realizadas durante as visitas.

Neste sentido, destaca-se descrição do processo de comercialização por meio de fluxogramas, que foram elaborados junto aos grupos ou gestores do processo de comercialização das organizações pesquisadas. Os fluxograma estão organizados em quatro tipos de fluxos, o da produção (verde), das atividades 'meio' de preparo e(ou) processamento da produção (azul), de transporte (cinza) e finalmente os próprios canais de comercialização (amarelo). Em alguns casos, destacam-se as estruturas regionais, que centralizam todo ou parte do processo de comercialização (laranja). Os fluxogramas buscam apresentar, de maneira dinâmica, como se dá o processo de comercialização dos grupos pesquisados. Às atividades apresentadas foram agregados quadros explicativos para esclarecer a forma como a atividade se realiza. Os fluxogramas foram elaborados com informações extraídas das entrevistas realizadas junto aos grupos e com os gestores do processo de comercialização. (PEREZ-CASSARINO, 2012)

3.2. PROGRAMAÇÃO

Quadro 1. Programação da Caravana Agroecológica do Sul

Data

Atividades

18/11

Rota Litoral Sul

MAQUINÉ/RS - Grupo Sabores da Terra. PNAE, Sistema Participativo de Garantia (SPG) Ecovida

TRÊS FORQUILHAS/RS- Amadecom: (Associação de Mulheres Agricultoras para o Desenvolvimento Comunitário de Três Forquilhas) - Comunidade da Boa União

Farmacinha Caseira, PAA, PNAE, Agroindústria registrada junto ao MAPA e a Vigilância Sanitária

TRÊS CACHOEIRAS/RS - Coopet – Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Três Cachoeiras.

Comunidade de Santo Anjo da Guarda- Escola Estadual D. José Baréa, Econativa, Grupo GESA:

Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica, PAA,

Comunidade de Morro Azul- Pousada Rural Ecológica- Jantar e Confraternização com ACERT (Associação de Colonos Ecologistas da Região de Torres), bem como agricultores e agricultoras de outros grupos da região

Rota Interior RS e SC

ERECHIM/RS

- Ecoterra

- Circuito Sul de Comercialização da Rede Ecovida

- Cadeia Solidárias das Frutas Nativas do RS.

19/11

Rota Litoral Sul

TORRES/RS- ECOTORRES – Cooperativa de Produtos Ecológicos da Região de Torres, fundada no

PRAIA GRANDE/SC- ACEVAM–Associação dos Colonos Ecologistas do Vale do Rio Mampituba: Circuito de Pequenos Mercados, Sistema Participativo de Garantia (SPG) Ecovida

VIAGEM PARA CURITIBA

Rota Interior RS e SC

CURITIBANOS/SC - Feira Agroecológica

VIAGEM PARA CURITIBA

20/11

Encontro das Rotas da Caravana Agroecológica no Sul: discussão e síntese das questões levantadas durante o percurso

Painel: Ameaças aos Direitos dos e das Agricultoras: o papel do mercado convencional e transgênico na perda da biodiversidade e seu impacto na soberania alimentar. 

 

Painel: Políticas Públicas para a Agricultura Familiar: Mercado Institucional, Legislação, Sementes e Direitos dos e das agricultoras.

Painel: PAA: conjuntura e perspectivas

Debate junto com as participantes do Encontro Nacional Mulheres da ANA- Rumo ao III ENA

Encerramento

4. DINÂMICAS DE ABASTECIMENTO E AS ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO: AS EXPERIÊNCIAS DAS ROTAS

4.1. ROTA LITORAL SUL

4.1.1. Organizações locais atuando no Mercado Institucional (PAA E PNAE)

- Grupo Sabores da Terra

Grupo informal formado em 2010, com o objetivo de organizar famílias em torno do desafio de abastecer a Alimentação Escolar em redes municipais e estaduais, alcançando mercados mais justos para seus produtos. No início havia a participação de 6 famílias e atualmente o grupo está composto por 11.

A Anama – Associação Nascente de Maquiné apoiou a formação desse grupo, facilitando o seu processo de organização, orientando toda a parte burocrática e administrativa da construção e execução dos projetos de comercialização. O grupo recebeu formação – cursos de Boas Práticas de Fabricação - para aperfeiçoar a qualidade do processamento dos alimentos. Os agricultores(as) participaram de cursos e oficinas sobre manejo agroecológico, visitas de intercâmbio, debates e vem recebendo assistência técnica da ANAMA.O grupo elaborou de forma participativa a logomarca Sabores da Terra, em parceria com a Anama e UDESC(Universidade do Estado de Santa Catarina).(FIGURA 1)

Desde a sua formação, o grupo passou por diversas modificações, dentre elas as entradas e saídas de agricultores(as), que acabaram causando uma certa desestruturação interna. Mas a garra e a vontade de entregar um alimento saudável e de qualidade para cada criança na escola foi mais forte e o grupo continua participando de chamadas públicas para que possa crescer cada vez mais e se estruturar para montar uma cooperativa que sempre foi um dos objetivos. Atualmente atinge 30 mil escolares, abastecendo doze escolas estaduais no litoral norte do Rio Grande do Sul e duas prefeituras, nos municípios de Cerro Grande do Sul, Maquiné, Osório, Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa. Os principais produtos comercializados são: Banana, tomate, moranga, laranja, bergamota, alface, beterraba, brócolis, couve folha, couve flor, repolho, tempero verde, espinafre couve chinesa, aipim, maracujá, mel, batata doce, açaí, além de processado e panificios. Além do PNAE, as famílias agricultoras também comercializam seus produtos ecológicos na Cadeia Solidária de Frutas Nativas (FIGURA 9), através do turismo rural, venda na comunidade/propriedade, participação em feiras e eventos regionais.

No momento o grupo está buscando a viabilização de uma agroindústria coletiva para ampliar a oferta de produtos processados para o PNAE a formação de uma cooperativa, pois há dificuldades na relação com as prefeituras, que exigem que o grupo seja formal ara acessar os 30% da chamada pública do PNAE destinado à agricultura familiar por ser um grupo informal. O grupo está inserindo novos alimentos, entregando polpa de juçara para escolas estaduais, contando também com uma parceria com Econativa Cooperativa dos Produtores Ecologistas do litoral norte do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina para um projeto do PAA.

A Anama tem realizado ações de educação alimentar, ambiental e segurança nutricional junto Grupo Sabores da Terra. Também é realizado um trabalho junto às escolas, envolvendo a direção, nutricionistas e, em especial, as merendeiras (FIGURA 1). Nas escolas estava sobrando alimentos que elas não sabiam o que fazer, não tinha frutas e verduras nas merendas, porque o hábito alimentar era outro, pois predominava até então os alimentos industrializados. Assim, este trabalho tem ajudado a promover o consumo dos alimentos ecológicos.

- Amadecom- Associação de Mulheres Agricultoras para o Desenvolvimento Comunitário de Três Forquilhas.

A partir da participação no Movimento das Mulheres Camponesas, as mulheres da AMADECOM se reuniram para buscar alternativas para geração de renda e viabilização de sua permanência na agricultura familiar, já que a região está em unidades de conservação, que tem restrições para as atividades convencionais de produção agrícola. A cidade de Três Forquilhas está localizada em áreas de importância estratégica para a conservação do bioma Mata Atlântica. O Centro Ecológico vem incentivando o cultivo da palmeira juçara (Euterpe edulis) , uma vez que desempenha um papel fundamental na conservação da floresta e proporciona geração de renda a partir do processamento de frutas, produção do açaí.

Fundada em 10 de Abril de 2000, a associação desenvolve diferentes atividades, tais como a Farmacinha Caseira e na promoção de projetos para viabilização de moradias para famílias da região. Em 2005, o AMADECOM acessou o PAA, vendendo os produtos das mulheres associadas: abacate, mandioca, banana, batata-doce, beterraba, feijão, couve-flor, cenoura, laranja, lima, limão, couve e salsa, que foram vendidos frescos. Além destes, também forneciam pães, biscoitos, massas, açúcar mascavo e farinha de milho. Devido às mudanças nas regras de acesso ao Programa, a associação não conseguiu mais vender os produtos processados, devido às exigências de legalização da agroindústria junto à Vigilância Sanitária.

Alguns anos se passaram e foi possível viabilizar, a partir da parceria com o Centro Ecológico, a reforma da estrutura de processamento da Amadecom, com o objetivo principal de processamento de açaí de juçara bem como de pães e massas. Hoje a agroindústria está registrada junto ao MAPA e à Vigilância Sanitária e comercializa produtos para alimentação escolar de diferentes municípios da região. Com os registros da polpa congelada de açaí de juçara, a expectativa é grande para ampliar a lista de produtos oferecidos para o PNAE. (FIGURA 2)

4.1.2. Consumidores organizando-se para o acesso aos produtos ecológicos

- Cooperativas de Consumidores no Litoral Norte RS

A ideia da primeira cooperativa surgiu para resolver um problema: como a população de Três Cachoeiras, uma cidade de 10.000 habitantes, poderia ter acesso aos alimentos que passavam semanalmente pela rodovia que corta a cidade, rumo à feira ecológica da capital? A produção dos agricultores e agricultoras do Litoral Norte do RS precisava também ser consumida localmente. Assim, buscando ligar muitas propriedades rurais ecológicas e esta cidade, diferentes estratégias foram tentadas: estabelecimento de uma feira, entrega de cestas a domicílio e encomenda direta aos agricultores. Mas os limites intrínsecos a cada uma destas ações, bem como a variedade limitada de produtos e a sazonalidade dos mesmos, foram graves problemas que se apresentaram para suprir a demanda de muitos consumidores, já conscientes dos problemas trazidos pelos agrotóxicos e das vantagens do produto ecológico.

Na busca de alternativas, algumas reuniões foram realizadas envolvendo os diferentes militantes da agricultura ecológica da região, como Pastoral Rural, Centro Ecológico, ACERT (Associação dos Colonos Ecologistas da Região de Torres) e consumidores. Esta articulação desembocou na criação da Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Três Cachoeiras, fundada em 18 de maio de 1999, inicialmente com 80 sócios. Inspirada na pioneira Cooperativa Coolmeia da capital do Rio Grande do Sul, cooperativa foi tomando contornos próprios, com características que atendessem as necessidades da comunidade. Seu ponto de vendas, localizado no centro do município, foi inaugurado em 05 de junho de 1999, dia Internacional do Meio Ambiente (FIGURA 3). Comercializa mais de 100 produtos diferentes, oriundos de grupos e associações de agricultores ecologistas do estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina principalmente, bem como de outras regiões do Brasil. Em outubro de 2002 a COOPET implantou um sistema muito especial de relação entre os sócios e a Cooperativa. Os associados pagam uma mensalidade e adquirem produtos a preço de custo. Este sistema deu um resultado muito positivo, que gerou um aumento de pelo menos 200% nas vendas. Mas para ser reproduzido por outras cooperativas é fundamental o real comprometimento do quadro de associados, como aconteceu na comunidade de Três Cachoeiras.  (MEIRELLES,A. 2003)

A segunda cooperativa surgiu em Torres, como resultado da articulação de algumas lideranças, professores e pessoas já ligadas à causa ambientalista urbana também preocupadas com as consequências do uso de venenos, tanto para agricultores quanto para consumidores. Diante desta situação, sentiram a necessidade e a urgência de buscar o consumo de alimentos sadios, começando a se reunir em junho de 1999, com apoio do Centro Ecológico e da pioneira COOPET. A Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Torres- ECOTORRES foi fundada em 17 de novembro de 1999. Conta com um Conselho Administrativo, composto por seis membros e Conselho fiscal, com três membros titulares e três suplentes. Os dois conselhos são renovados a cada dois anos. Comercializa mais de cem produtos diferentes, oriundos de grupos e associações de agricultores ecologistas do estado do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, bem como de outras regiões do país. Inaugurada em 2000, a loja já ocupou três diferentes pontos, mas sempre no centro da cidade. Em dezembro de 2006, a loja da EcoTorres passa a integrar a Casa da Economia Solidária, contribuindo para dar visibilidade aos empreendimentos de economia solidária do litoral norte do RS e Sul de SC, assim como de outras associações e grupos de outras regiões (FIGURA 3). Hoje a cooperativa está identificada com a comercialização da polpa do Açaí da Mata Atlântica, um produto da biodiversidade regional, de grande importância para a conservação da floresta. A produção do açaí da palmeira juçara foi estimulada por um projeto desenvolvido pelo Centro Ecológico e ambientação do ponto de venda também (MEIRELLES,A. 2003). Atualmente a EcoTorres possui 104 associados e o trabalho voluntário de um Conselho Administrativo e um Conselho Fiscal, e se mantém no mercado comercializando prioritariamente alimentos da agricultura familiar ecológica da região.

4.1.3. Estratégias para escoamento de grandes volumes de produção ecológica: o caso da Acevam

No Núcleo Sul Catarinense da Rede Ecovida, a Acevam - Associação dos Colonos Ecologistas do Vale Mampituba – Acevam, instituída em 1994, conta atualmente com mais de 30 famílias de agricultores familiares. Nesse mesmo ano estruturou uma feira ecológica no município de Praia Grande/SC, onde está sediada (Figura 19). Promoveu uma feira também em Cambará do Sul/RS, porém, ambas não se mantiveram com o tempo. No final da década de 1990 participou da feira ecológica da UDESC em Criciúma, onde no início dos anos 2000 passou também a atender a alimentação escolar. A associação participou ainda da feira ecológica de Caxias do Sul no mesmo período, e também passou a participar do programa 'Ponto de Safra'[footnoteRef:2], permanecendo nele até o momento. No ano de 2008 começaram algumas incursões junto a Redes de Supermercados em Porto Alegre, trabalhando com a Rede Unida. Nesse mesmo período teve início a articulação com o pequeno varejo da região, iniciando no próprio município de Praia Grande em 2008. Os bons resultados desta parceria, aliados à necessidade de aumentar a escala de comercialização para viabilizar a logística, estimularam a busca de novos pequenos varejos na região. No momento, a Acevam trabalha com 35 pontos de pequenos varejos em oito municípios da região: Praia Grande, São João do Sul, Santa Rosa do Sul, Sombrio, Jacinto Machado, Ermo, Forquilhinha e Araranguá, todos no litoral sul de catarinense. Todos os pontos são mercearias, pequenos supermercados locais, lojas de produtos naturais, padarias, cooperativas de consumidores localizadas nestes municípios de pequeno porte. O volume comercializado neste Circuito de Pequeno Varejo totaliza em torno de 1.000 kg por semana. As quantidades têm aumentado consideravelmente, sendo que em alguns pontos de venda a banana orgânica é a única a ser entregue. Outro ponto importante a salientar é que praticamente todos estes municípios são produtores de banana. A forma de gestão deste processo está descrita no Quadro 2.A Acevam tem como meta ampliar a quantidade de pontos de vendas e a quantidade de banana comercializada nos que já está sendo entregue. Outra meta é incluir outros produtos, formando um mix de produtos orgânicos e da agricultura familiar. Assim será possível criar uma gôndola específica destes produtos, alcançando uma maior visibilidade dentro dos mercados e atraindo o publico consumidor. A Acevam concentra sua comercialização praticamente em torno da produção de banana, sendo que a produção de hortaliças ou de outras frutas é pouco representativa. Diferentemente da grande maioria dos grupos da Rede Ecovida –, a Acevam não realiza feira ecológica, porém participa do programa Ponto de Safra em Caxias do Sul. No mais, suas estratégias de comercialização passam pela venda a uma Rede Supermercadista de Porto Alegre (Rede Unida Sul) e ao acesso ao PNAE e PAA. (FIGURA 4 ) (PEREZ-CASSARINO, 2012) [2: O Ponto de Safra e um programa iniciado pela prefeitura de Caxias do Sul (RS) na gestão 2001- 2004 que visa ao escoamento da produção de safra na região e ao mesmo tempo regular preço dos produtos no município. Seu nome em variado de acordo com a gestão (Ponto de Safra ou Ponto de Colheita). Vale a pena ressaltar que apesar das variações no perfil dos gestores (partidos de esquerda e direita) o programa tem se mantido, não sem conflitos, em função das mudanças, principalmente de locais de venda, de acordo com a abertura e interesse de cada gestão. Oprograma consiste na abertura de pontos de venda em locais centrais e de intenso fluxo de pessoas para produtos de safra da região. São montadas bancas nas calçadas e os produtos são vendidos em sacolas com peso padrão a preços mais acessíveis. A maioria dos produtos e da Serra Gaúcha e convencionais, vendidos nos períodos de safra. Abanana é comercializada durante o ano todo e é toda de origem ecológica, oriunda dos grupos do Núcleo Litoral Solidário da Rede Ecovida, em média, se comercializam de 3 a 6 toneladas de banana por feira, dependendo do local e época do ano.

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FIGURA 4- FLUXOGRAMA DA ACEVAM FONTE: PEREZ-CASSARINO (2012)

QUADRO 02 – Instrumentos de gestão da Acevam

Entregas: Rede Unida (6ª f), Mercados locais (3ª f – Praia Grande, Araranguá, Jacinto Machado, Sombrio), PAA (2ª f – Praia Grande, São Joao do Sul, Araranguá), PNAE (2ª f – Camboriú, Bombinhas)

- Frete: cobrado por agricultor, de acordo com a distancia que se encontra, distancias variam de 5 a 20km. Valor de R$ 1,00/km em estrada de chão e R$ 0,80/km em asfalto.

- Operacionalização: Parceria da associação com motorista, sendo que este faz os fretes, abre novos mercados, negocia com mercados, faz cobrança as e pagamentos aos agricultores. Recebe por comissão de produção comercializada. Pagamentos são feitos no momento do recolhimento dos produtos. Sobras dos mercados locais sao assumidas pelo motorista.

- Gestão: Feita entre motorista e liberado da associação. Este último elabora e gestiona projetos de PAA/PNAE, faz controles de pagamentos e recebimentos.

- Produtos: basicamente variedades de banana (branca e caturra), PAA recebe também verduras.

FONTE: PEREZ-CASSARINO (2012)

A associação possui câmara de maturação própria, esta se encontra acoplada a uma agroindústria. O trabalho da Acevam, apesar de estar focado em praticamente um só produto – somente no mercado institucional são entregues pequenas quantidades de outros produtos – destaca-se pela experiência inovadora no âmbito da Rede Ecovida de atender a uma rede de pequenos varejistas. Outras organizações comercializam no pequeno varejo, porém, esta é uma estratégia complementar para a associação. No caso da Acevam, em pouco tempo, os volumes entregues no pequeno varejo se igualaram aquele demandado pela Rede Unida, principal canal de comercialização da associação ate o momento. Destaca-se, ainda, que o varejo acessado não e de estabelecimentos especializados em produtos orgânicos, mas de mercados e armazéns tradicionais. A estratégia da associação foi a de negociar a colocação de expositores próprios que identificam a banana como sendo ecológica e destacando sua origem (Figura 5)

Para ampliar a diversidade e volume dos produtos para fornecer para este canal de mercado e os demais em que atua, a Acevam tem atuado na formação de novos grupos de produção no Núcleo da Rede Ecovida e no Território, buscando projetos e políticas públicas voltados à articulação a comercialização. Para tal, foi formado um Grupo de Trabalho de Comercialização de âmbito territorial. Recentemente realizou-se o Planejamento 2014 do Núcleo/Território, prevendo a produção de 15 produtos em quantidade suficiente para oferecer neste Circuito de Pequeno, fortalecendo-o e ampliando-o.

4.2. ROTA INTERIOR DO RS E SC

4.2.1. Articulação regional da produção e comercialização: a experiência da

Ecoterra

A ECOTERRA (Associação Regional de Cooperação e Agroecologia) é uma associação formada por 51 famílias agricultoras ecologistas de cinco municípios da região Alto Uruguai: Itatiba do Sul, Aratiba, Três Arroios, Barra do Rio Azul e Jacutinga. Foi criada oficialmente em 2001, com o objetivo de facilitar e viabilizar a comercialização de produtos agroecológicos produzidos por famílias que já faziam parte de grupos de agricultores agroecologistas, algumas desde o final dos anos 1980. No entanto não são somente objetivos relacionados à comercialização que orientam o trabalho da associação. Para além daqueles, os membros citam: promover a cooperação e trabalhos em grupo, promover sistemas sustentáveis de produção agrícola, divulgar a agroecologia e promover ações educativas no meio rural e urbano. No que se refere à comercialização os objetivos são: estimular a comercialização direta e a integração entre agricultores e consumidores, apoiar processos de comercialização, principalmente no âmbito regional, garantir a credibilidade da produção das famílias, conforme os princípios e regras da Rede ECOVIDA de Agroecologia.

FIGURA 6. FLUXOGRAMA DE COMERCIALIZACAO DA ECOTERRA

FONTE: PEREZ-CASSARINO (2012)

A Ecoterra faz parte do Núcleo Alto Uruguai da Rede Ecovida e realiza a comercialização dos produtos de todas as famílias associadas de forma coletiva, via associação, e caracteriza-se pela grande diversidade de canais acessados. A associação agrega agricultores de quatro grupos informais diferentes, situados em municípios da região. Via Ecoterra são comercializados os produtos nas feiras de Erexim e Passo Fundo, em um ponto fixo em Passo Fundo, restaurantes e pequenos mercados em Passo Fundo. Em Erexim a associação mantem um ponto fixo próprio. Além dessas iniciativas, a associação acessa o PAA e PNAE na região e possuem forte presença no Circuito Sul, sendo uma das principais, estações que mantem o Circuito em funcionamento. Um dos grupos, de Itatiba do Sul, realiza um processo próprio de comercialização, para além do que e vendido via associação, atendendo a entregas domiciliares, alimentação escolar e realizando uma feira no município. Ocorrem também vendas nas próprias comunidades e dentro da própria unidade de produção familiar. O fluxograma do processo de comercialização da Ecoterra pode ser visto na FIGURA 6.

A associação comercializa hortaliças, tubérculos, grãos e frutas. As famílias recebem pagamentos mensais pelos produtos enviados, somando os valores de comercialização em todos os pontos de venda. A contabilidade de toda produção comercializada e feita por um dos agricultores da associação, eleito pelos demais membros, sendo que este mesmo agricultor e o que trabalha no atendimento dentro do ponto fixo da associação. O processo de gestão no caso da Ecoterra torna-se bastante complexo, principalmente no que se refere a esta contabilidade, uma vez que se faz necessário receber os romaneios dos agricultores, verificar os volumes vendidos de cada produto em cada canal, considerando as diferenças de preços praticados, e lançar as sobras e calcular o ganho de cada agricultor, descontando-se a porcentagem de manutenção. No que se refere aos instrumentos de gestão, a comercialização, a exceção da iniciativa própria do grupo de Itatiba do Sul, é toda realizada coletivamente via associação. O frete e pago em porcentagem sobre o valor entregue em produtos. O veículo inicialmente era de propriedade da associação e por uma questão de facilidade na gestão, foi adquirido por um dos integrantes, que neste momento assumiu a responsabilidade por todo o transporte (inclusive no Circuito Sul) e que recebe por quilometro rodado. Perdas e sobras são rateadas proporcionalmente ao volume de produtos enviados (Quadro 3).

QUADRO 3 – Instrumentos de Gestão da Ecoterra

Entregas: As entregas são feitas todas as terças e sextas, de acordo com a demanda de cada canal.

- Frete: Os produtos são recolhidos nas casas das famílias e centralizados na Ecoterra para depois redistribuir nos canais. E cobrada porcentagem sobre o total vendido de cada agricultor, com este valor cobrem-se os custos de frete, no momento o valor e de 22% de todo volume comercializado. O frete e particular e pago um valor por km ao agricultor dono do caminhão. Caso a porcentagem não cubra os custos, este prejuízo e assumido pelo dono do caminhão.

- Operacionalização: São feitos romaneios das entregas por família, as perdas e sobras são descontadas proporcionalmente. Um agricultor sócio e funcionário do ponto de venda da Ecoterra é o responsável pelo cálculo de descontos e porcentagens e dos valores a serem pagos, enviando os pagamentos pelo caminhão.

- Gestão: Vendas são todas coletivas, realizadas sempre via Ecoterra, ou seja, a produção e centralizada pela associação. Ha casos de vendas nas unidades produtivas e eventos comunitários que são feitas diretamente pelas famílias. Da mesma forma, um dos grupos da associação (Itatiba) comercializa parte da produção por conta própria em seu município, porém, recolhe uma porcentagem para a Associação.

- Produtos: A produção é bem diversificada, entregam-se verduras, legumes e frutas, com destaque para os citros, principal produto da associação. Ha alguns produtos beneficiados, tais como panifícios, doces e geleias, porém, ainda sem registro sanitário.

FONTE: PEREZ-CASSARINO (2012)

A opção pela comercialização coletiva agregando diferentes grupos tem gerado dificuldades na gestão e no planejamento da produção da associação, no entanto, a postura dos membros e pela manutenção do formato, por possibilitar maior equidade entre os membros, aspecto que será abordado nos itens a seguir. A associação conseguiu viabilizar, mediante negociação com o governo do Estado, a cessão de um terreno próximo ao centro de Erexim, onde funciona o ponto fixo da organização e onde é feita a feira aos sábados. Nesse espaço também se centralizam os produtos enviados para ser redistribuídos pelos diferentes canais de comercialização e passam por um processo de controle de qualidade (Figura 7). Esse espaço tem servido como importante ponto de apoio ao processo de comercialização da organização, no entanto, tem resultado em um desgaste político intenso para ela. As mudanças de gestão nos governos estadual e municipal levam a diferentes formas de pressão sobre a organização para que esta abandone o terreno, onde ultimamente há interesse da prefeitura em construir um estacionamento público. As negociações têm gerado muitos desgastes internamente a associação e instabilidades no processo de comercialização. A Ecoterra possui duas instâncias de articulação, uma primeira dada pelos grupos, que se reúnem mensalmente ou quando há necessidade. A segunda, uma diretoria e um conselho de representantes dos grupos, sendo que estes se reúnem mensalmente. (PEREZ-CASSARINO (2012)

4.2.2. Parceria entre o campo e a cidade: a Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas do Rio Grane do Sul

A proposta da Cadeia Produtiva das Frutas Nativas visa implementar um processo articulado de produção, processamento, distribuição e comercialização de alimentos, estimulando à conservação da biodiversidade local, a partir do incentivo ao surgimento e o fortalecimento de empreendimentos (rurais e urbanos) de Economia Solidária.

Há aproximadamente 6 anos, este ação vem envolvendo mais especificamente em 3 regiões do RS: Região Norte; Litoral Norte e Região Metropolitana de Porto Alegre, contando com atividades de produção ecológica, beneficiamento/ processamento, distribuição, comercialização e consumo. Atualmente são 210 famílias agricultoras realizando alguma forma de manejo e produção de frutas nativas. Também estão participando desta construção coletiva, 20 empreendimentos urbanos que estão beneficiando, processando e comercializando, principalmente cooperativas de alimentação e padarias. Na região do Litoral, nos municípios de Torres, Três Cachoeiras, Morrinhos do Sul, a ECOTORRES cooperativa que aglutina em seu quadro social agricultores e consumidores, estão se envolvendo na distribuição e comercialização.

Na perspectiva de inclusão das frutas nativas no PNAE, muitas atividades de sensibilização e capacitação sobre o uso dos produtos das frutas nativas na alimentação escolar vêm sendo realizadas por diversas organizações, como exemplo podemos citar o CETAP que na região Norte e Nordeste do RS, no período de março de 2012 a junho de 2013 realizou 35 oficinas de capacitação junto a alunos, nutricionistas professores e profissionais da alimentação escolar (merendeiras). Estas atividades têm criando um ambiente muito favorável para que as escolas passem a adotar estes produtos em suas refeições. Contudo ainda se enfrenta a dificuldade adeque a grande maioria destes produtos se encontra na informalidade e, portanto, não pode ser comprada pelo programa de alimentação escolar. Já na Região do Litoral após as atividades de capacitação desenvolvidas pelo Centro Ecológico e ANAMA os produtos a base da polpa da Juçara passaram a ser adquirido pelas escolas e ter uma melhor aceitação por parte dos alunos.

A proposta da Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas vem se ampliando através da articulação de Núcleos da Rede Ecovida e outras organizações da sociedade civil organizada (ongs, cooperativas, entidades de apoio e assessoria, etc) na interlocução com a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo e Secretaria da Economia Solidária e Apoio à Micro e Pequena Empresa, especialmente através o Departamento de Incentivo e Fomento à Economia Solidária, que vem estimulando a estruturação e dinamização de produtivas no estado do Rio Grande do Sul (RS), entre elas a Cadeia Produtiva das Frutas Nativas. A perspectiva e estrutura 3 Polos Regionais: Região Norte/Nordeste, Litoral e Metropolitana de Porto Alegre.

Esta ação conta com uma metodologia estruturada em diferentes etapas, desde o mapeamento de experiências existente no estado dentro desta perspectiva, discussão junto aos fóruns e articulações locais/regionais de economia solidária a fim torná-la conhecida e discutida, realização de seminários regionais com o propósito de aprofundar a reflexão em torno do tema, bem como apontar elementos centrais que venham a dar embasamento a constituição e funcionamento dos polos regionais, elaboração Plano Estadual visando captar recursos para subsidiar a implantação da cadeia produtiva nos três polos regionais.

Segundo Longi (2012a), a proposta de ampliação da Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas está estruturada em 4 etapas (Figura 8):

· Primeira etapa: grupos de produção e unidades comunitárias de pré-processamento

A primeira etapa corresponde aos grupos de produção (colheita) e primeiro beneficiamento do produto e/ou pré-processamento (lavagem, armazenamento, despolpa, descasque.), deixando-o pronto para o processamento final. Estes grupos estão organizados em 7 unidades comunitárias, localizadas em Vacaria, Pinhal da Serra, Sananduva, Ibiraiaras, Erexim, Santo Antônio do Palma, Coxilha. É importante chamar a atenção para o fato de que, por ser esta a primeira etapa de toda a cadeia e, portanto sua base, de sua correta organização e funcionamento depende o sucesso de todas as subsequentes etapas. Ainda, por se tratar de uma etapa que envolve diferentes atores localizados em diferentes regiões, com peculiaridades, limitações e potencialidades inerentes à sua organicidade, o acompanhamento e monitoramento através da assistência técnica são de grande importância. Isto se dá não apenas pela necessidade de acompanhamento nos processos de colheita e produção, mas também pela necessidade de se orientar a gestão, disponibilizando um ator que serve de ponte entre as diferentes etapas envolvidas e atua como um facilitador dos processos envolvidos nessa etapa e desta para as demais.

· Segunda etapa: empreendimento de processamento, armazenamento e distribuição

Localizado em Passo Fundo, tem como finalidade facilitar a comercialização dos produtos oriundos da primeira etapa. As ações se dão na seguinte sequencia: recolhimento dos produtos oriundos da primeira etapa diretamente nas unidades comunitárias (e desta forma este empreendimento também é responsável pelos pagamentos para essas unidades); armazenamento e processamento dos produtos; distribuição para os grupos e empreendimentos da economia solidária envolvidos na terceira etapa.

· Terceira etapa: empreendimentos urbanos de comercialização

Esta etapa se refere à ponta final desta cadeia, ou seja, corresponde à comercialização ao consumidor final. Nesta fase estão envolvidos empreendimentos da economia solidária como sorveterias, agroindústrias familiares de iogurte e bebida láctea, restaurantes, cooperativas de alimentação, padarias, etc. Há a perspectiva de implementação de forma conjunta entre os diferentes polos uma “Fábrica de Sorvetes” em uma região estratégica e que potencialize os trabalhos. Dentro desta mesma lógica situa-se a proposta de uma agroindústria de bebidas lácteas e iogurte de forma a diversificar as possibilidades de processamento e comercialização das frutas nativas.

· Quarta etapa: Um circuito de distribuição de produtos entre os diferentes atores

Esta quarta etapa consiste em organizar uma dinâmica de distribuição de produtos interligando os diferentes atores que compõem esta cadeia produtiva e as Casas de Economia Solidária em diferentes municípios do RS.

( ) (Pinhal da SerraFinalizar a agroindústria de Butiá) (Primeira EtapaUnidades locais de Recolhimento e Processamento)

(Vacaria Unidade de recolhimento e beneficiamento de pinhão) (Ibiraiaras)

(Encosta da SerraAraçá....., Unidade de recolhimento e armazenagem ) (EreximGuabiroba e Goiaba, Unidades de recolhimento e agroindústria em Erexim.)

(Coxilha Araçá, .....)

(Segunda EtapaNesta etapa buscasse através do Encontro de Sabores Articular as diferentes etapas desta cadeia especialmente a 1 e a 3 )

(- Legalização do espaço de processamento em Passo Fundo) (Armazenamento )

(Encontro de SaboresPasso Fundo- RS) (- Estruturar Local em Porto Alegre - Veículo adequado para transporte) (Processamento )

(Distribuição )

(Terceira e quarta Etapa)

(- Restaurante Nativa- Feira Ecológica- Padaria - Eventos - UPF- Consumidores em geral )

(- Grupo familiar de comercialização e organização de eventos.- 3 Empreendimentos de Economia solidaria) (Passo Fundo)

(Porto Alegre)

(- Sorveteria/ Cooperativas- Intercâmbio de produtos com agroindústrias locais.)

(- Eventos- Fornecimento de produtos para organizações (ONGs)- Parceria com um AA agroindústria de processamento de polpas) (Erexim) (Litoral )

FIGURA 8. ETAPAS DA CADEIA PRODUTIVA SOLIDÁRIA DAS FRUTAS NATIVAS (FONTE: LONGHI, 2012A)

4.2.3. Articulação, integração e troca de produtos ecológicos: a experiência inovadora do Circuito Sul de Comercialização

Em meados de 2006, a Cooperativa Ecoserra de Lages (SC), a Associação Regional de Cooperação e Agroecologia (Ecoterra) de Erechim (RS), a Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia (AOPA) de Curitiba (PR) e a Associação dos Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo e Adrianópolis (Cooperafloresta) (SP) se articularam para desenvolver a proposta de um sistema de comercialização baseado nos princípios da economia solidária e da Agroecologia. (MAGNANTI, 2008)

O Circuito Sul tem por finalidade ampliar as possibilidades de escoamento da produção em uma ponta e aumento da oferta e, portanto, do acesso, na outra. Tudo isso visando fortalecer os mecanismos alternativos de mercados construídos, ou seja, seu funcionamento se dá, primeiro, a partir da troca de produtos entre as regiões e, em segundo lugar, visando ampliar e qualificar o abastecimento nas estratégias estabelecidas em cada região. (PEREZ-CASSARINO, 2012)

O Circuito de Comercialização funciona com base em seis estações-núcleos, cada qual equivalendo a um núcleo regional da Rede Ecovida, e nove municípios representam as subestações núcleo. As estações e subestações são pontos de reunião e distribuição dos produtos para a comercialização. Os produtos que integram o Circuito são produzidos por grupos agroecológicos da Rede Ecovida, envolvendo atualmente aproximadamente 1500 famílias agricultoras, sendo destinados para as Feiras, PNAE, PAA, Pequenos comércios e distribuidores e Grupos de Compras e Trocas Coletivas e Solidárias. (MARFIL, 2013).

A seguir tem-se o mapa das rotas do Circuito. O funcionamento delas não é fixo, ou seja, algumas funcionam em determinados períodos do ano somente. Da mesma forma, pequenos ramais se formam em torno dessas rotas, que ligam os grupos próximos as rotas principais. A rota mais frequente e com maiores volumes ate o momento no Circuito e a que corresponde ao trecho 'Erexim/RS-Curitiba/PR', que funciona semanalmente (FIGURA 9). Segundo informações coletadas nas entrevistas, no ano de 2011 as rotas mais frequentes, além da Erexim-Curitiba, foram as rotas Lages-Florianópolis (SC); Curitiba/PR-São Joaquim/SC (rota Curitiba- Lages); Erexim/RS-Lages/SC; Praia Grande-Florianópolis-Joinville e Presidente Getúlio-Jaraguá do Sul-Blumenau em Santa Catarina, estas três ultimas não constam no mapa, assim como algumas ali constantes já não se realizam, pois as rotas vão se moldando e ajustando de ano a ano. (PEREZ-CASSARINO, 2012)

FIGURA 9. MAPA DAS ROTAS DO CIRCUITO SUL DE COMERCIALIZAÇÃO DA REDE ECOVIDA. FONTE: MARFIL (2013

Segundo Marfil (2009), entre o final do ano de 2006, quando começaram as primeiras iniciativas de trocas de produtos, até o ano de 2009, cerca de 1.500 toneladas de 60 alimentos diferentes circularam no âmbito do Circuito Sul. Tais volumes representaram um valor de dois milhões de reais em recursos financeiros, o que significou um valor médio de R$ 2.500,00/ano por família envolvida. Hoje há em torno de 500 famílias comercializando diretamente o seus produtos no circuito e indiretamente mais de 1000 famílias. São mais de 50 itens comercializados. O volume comercializado hoje chega a 15t de produto ecológico por semana.

4.2.4. FEIRAS ECOLÓGICAS

A Feira Agroecológica de Curitibanos/SC e o protagonismo das mulheres agricultoras

À partir do processo de organização das agricultoras, através da participação no MMC, em 2005 as famílias iniciaram o processo transição agroecológica. O grupo informal foi formado em 2007, atualmente é composto por 15 famílias. Produzindo olerícolas, frutas, processados e panificio, organizaram uma feira na cidade de Curitibanos para comercializar a produção. Depois de 4 anos vendendo os produtos nas calçadas da cidade, o grupo conseguiu um local fixo e coberto para a Feira Agroecológica. O espaço foi viabilizado pela Prefeitura Municipal de Curitibanos, na Banca da Agricultura Familiar Claudino Sartor, no Terminal Urbano Ulysses Gaboardi, no centro de Curitibanos, onde a feira ocorre às terças, quartas, sextas e sábados. (FIGURA 10). O grupo também realiza feira na sede da Adipagru (Associação de Desenvolvimento e Incentivo a Pequena Agricultura de Grupo). Além da feira, o grupo escoa seus produtos através do mercado institucional – PAA e PNAE, abastecendo asilos, creches e escolas. A produção é certificada pela Rede Ecovida de Agroecologia. As falas dos integrantes do grupo, evidenciam a importância da construção e articulação dos canais de comercialização direta: “A feira tem auxiliado muito na melhora da vida financeira da família, toda semana sempre temos dinheiro na mão, vir a feira não é uma obrigação a minha pessoa vejo como uma forma de lazer pois estou fazendo o que gosto vender os produtos que eu mesma cultivo e sei que estou vendendo produtos de boa qualidade aos meus clientes”. (Sirlene, há 5 anos do grupo)

Feiras ecológicas populares: o exemplo da Afruta

A Afruta- Associação dos Produtores Ecológicos de Porto União/SC, integra o Núcleo Planalto Norte/ SC da Rede Ecovida e foi fundada em 1996, porém, já havia um trabalho anterior na região de algumas lideranças, inclusive fazendo comercialização de produtos ecológicos, no entanto, de forma individual. As primeiras feiras feitas de forma coletiva ocorreram em 1998, com dois pontos em regiões centrais de Porto União. A partir dessas feiras, segundo relato dos agricultores, os consumidores foram demandando a realização de feiras mais próximas dos bairros, com isso, os pontos foram se pulverizando: atualmente, a associação, que conta com cerca de 20 famílias, mantem 22 pontos de feira durante a semana nos municípios de Porto União e União da Vitoria. Em 1997 a Afruta montou uma agroindústria para processamento de frutas e tomate, fazendo sucos, doces e molho de tomate. Durante a história da organização, foram realizadas articulações com a AOPA (Associação para o desenvolvimento da Agroecologia) em Curitiba, que no final da década de 1990 comercializava importantes volumes de orgânicos com uma Rede de Supermercados de Curitiba. A Afruta chegou a comercializar 40 toneladas de tomate por safra, no entanto, preferiram priorizar o mercado local, que, por meio das feiras, acabou absorvendo volumes muito próximos a estes. No inicio dos anos 2000 começaram uma parceria com a Gebana, empresa do Paraná, exportadora de grãos orgânicos, para comercialização de feijão adzuki e soja para exportação. A Afruta comercializa ainda sua produção via COMSOL, cooperativa regional que atua em diversos âmbitos, entre eles a comercialização da agricultura familiar. A cooperativa articula os projetos de mercado institucional na região, sendo que os membros da Afruta acessam o PAA e o PNAE via Comsol, bem como os próprios contratos de exportação com a Gebana.(PEREZ-CASSARINO,2012)

A principal forma de comercialização da Afruta e por meio de feiras nos municípios de Porto União (SC) e União da Vitória (PR), realizada pela maior parte das famílias da associação. O mercado institucional (PAA e PNAE), as vendas para o Circuito Sul e uma iniciativa de exportação de feijão adzuki (via empresa Gebana) são realizados via a cooperativa regional COMSOL, que agrega agricultores de outros munícipios além de Porto União (Figura 11).

FIGURA 11. FLUXOGRMA DA AFRUTA Fonte: PEREZ-CASSARINO (2012)

A associação possui agroindústria coletiva que processa suco de uva, molho de tomate e alguns doces. Chama atenção no caso da Afruta a estratégia de feiras desenvolvidas, apesar de não estar em um grande centro urbano, nem próximo a um, a associação investiu fortemente no mercado local, iniciando com uma feira no centro de Porto União. Ao perceber a demanda por produtos em outros locais da cidade, decidiu-se desmembrar a feira em vários pequenos pontos, cada um mantido por uma família. Assim, entre os municípios de Porto União e União da Vitoria (não mais de 90 mil habitantes somando zonas urbana e rural), há 22 pontos de feira durante a semana. Na Tabela 3 descrevem-se os pontos de venda mantidos pela associação e na Figura 12 podem ser observadas algumas imagens do processo de comercialização e pontos de feira da Afruta. (PEREZ-CASSARINO, 2012)

Tabela 3. Feiras ecológicas realizadas pela Afruta

LOCAL DA FEIRA ECOLÓGICA

DIA DA FEIRA

PERÍODO

1

Terminal urbano centro -Mercado Municipal/Porto União

Sexta

Manhã

2

Pracinha bairro Santa Rosa - Porto União

Terça e Sábado

Manhã

3

Fogueira bairro São Pedro- Porto União

Terça e Sábado

Manhã

4

Cidade Nova UNC/Porto União

Terça

Manha

5

Cidade Nova UNC/Porto União

Terça e Sábado

Manhã

6

Igreja Matriz Centro Porto União

Terça

Manhã

7

Hospital maternidade bairro São Bernardo/União da Vitoria

Terça

Manhã

8

Esquina Posto Líder/União da Vitoria

Terça

Manhã

9

Próximo Posto Iguaçu Porto União

Terça e Sábado

Manhã

10

Jardim Brasília

Terça

Manhã

11

São Cristóvão em Frente ao Aeroporto/União da Vitoria

Terça

Manhã

12

Estação Ferroviária Centro/Porto União

Sábado

Manhã

13

Trevo da Reunidas Posto Fox

Terça

Manhã

14

Terminal Urbano/Porto União

Segunda

Noite

15

Terminal Urbano /Porto União

Segunda

Noite

16

Terminal Urbano Centro

Segunda

Noite

17

Mercado Municipal/Porto União

Quarta

Noite

18

Posto de Saúde São Cristóvão União da Vitória

Sábado

Manhã

Fonte: PEREZ-CASSARINO (2012)

A Afruta comercializa hortaliças, frutas e grãos, além dos produtos da agroindústria. No que se refere à gestão, a comercialização nas feiras é de responsabilidade de cada família, que mantém seu ponto; das 25 famílias da associação, 18 mantêm um ou mais pontos. Estas vendem seus próprios produtos e de outras famílias da associação, por meio de um mecanismo em que o caminhão de uma das famílias circula entre os vários pontos duas vezes no período da feira, recolhendo produtos em excesso em um ponto e os redistribuindo entre os demais pontos. No final da feira, esse agricultor contabiliza o que cada um enviou e recebeu e faz o acerto dos pagamentos entre as famílias. Nas demais iniciativas, os pagamentos e a contabilidade são realizados pela Comsol, de acordo com os recebimentos de cada canal de comercialização (mercado institucional, circuito e Gebana). No caso da exportação, os agricultores se vinculam por contrato com a empresa Gebana previamente a safra. Para o mercado institucional, a Comsol realiza uma projeção e planejamento regional da produção para elaborar seus projetos ou acessar os editais do PNAE (Quadro 4). O transporte e feito por cada família ate os pontos de feira, em alguns casos algumas famílias se associam para levar os produtos conjuntamente. O transporte para os demais canais e feito por veículos da Comsol e é cobrada uma porcentagem do valor comercializado para cobrir custos de frete e administrativos. Dos produtos comercializados via Comsol, os pagamentos são feitos em media mensalmente. A Associação realiza reuniões mensais com todos os integrantes. (PEREZ-CASSARINO, 2012)

QUADRO 4. INSTRUMENTOS DE GESTAO DA AFRUTA

- Entregas: As feiras são feitas às 2ª (2 pontos), 3ª (10 pontos), 4ª (2 pontos), 6ª (1 ponto) e sábado (7 pontos). Circuito Sul recolhe produtos em geral às 3ª feiras. PAA e PNAE tem entregas as 3ª feiras, por vezes entregas em outros dias de feira. Gebana compra grãos na safra.

- Frete: Nas feiras, cada família leva seus produtos em transporte próprio. Os demais canais são via transporte da ComSol, que cobra porcentagem dos agricultores para cobrir custos e manter ações da cooperativa, atualmente o valor é de 26%.

- Operacionalização: As feiras funcionam de forma descentralizada, cada família mantem um ponto (banca) com seus produtos, no entanto, para permitir maior diversificação e regularidade, o caminhão de uma das famílias circula distribuindo produtos de uma banca para outra, em geral, duas vezes por feira. O dono do caminhão recebe porcentagem dos produtos vendidos de outras bancas. O acerto entre as bancas é feito no final de cada dia de feira. A ComSol realiza um planejamento aproximado anual para elaborar projetos de PAA e PNAE, quando das entregas vão fazendo consultas às famílias sobre oferta de produtos e passa recolhendo em veículo próprio.

- Gestão: Nas feiras, cada família faz a gestão de seu ponto, as vendas de produtos de outras bancas e acertada no final de cada feira. Os produtos comercializados via ComSol (PAA, PNAE e Circuito Sul) são enviados com romaneio para controle e o pessoal da cooperativa calcula os pagamentos, feitos em geral, mensalmente. As vendas para Gebana são feitas por contrato e os agricultores aderem previamente à safra. A Afruta realiza reuniões mensais com todos os integrantes.

- Produtos: Verduras, frutas, legumes e produtos processados, basicamente suco de uva e molho de tomate. Para exportação através da Gebana, grãos, basicamente soja e feijão adzuki.

Fonte: PEREZ-CASSARINO (2012)

5. SÍNTESE E PERSPECTIVAS

A síntese das rotas foi realizada no dia 20/11, quando os participantes da reuniram-se em Curitiba. No Quadro 5 constam os principais elementos sobre as Estratégias de Comercialização que foram levantados durante as Rotas e também durante a reflexão coletiva neste dia.

Quadro 5- Síntese das reflexões e discussões sobre as dinâmicas de abastecimento e estratégias de construção social de mercados de produtos ecológicos

Princípios orientadores

- Soberania e Segurança Alimentar

- Economia Solidária

- Agroecologia

- Mercado como construção social: contraposição à lógica de nicho de mercado e do sobre preço pela qualidade ecológica, na perspectiva da democratização do acesso aos produtos ecológicos e massificação do seu consumo.

Autonomia e independência

-Comercialização direta com protagonismo dos agricultores(as) e suas organizações, gerando autonomia e independência na gestão e operacionalização dos canais de mercado.

- Os agricultores(as) participam ativamente da construção dos espaço alternativos de comercialização, fortalecendo sua capacidade de intervenção nos mercados e, consequentemente, em toda a sociedade.

- Diversificação das estratégias de comercialização para evitar a vulnerabilidade e a dependência das organizações da AF (ex: crescente demanda do mercado institucional)

Organização, articulação e ação em rede

- A construção social de mercados para os produto ecológicos vem ocorrendo através da ação das organizações da AF/ camponesa e urbanas juntamente com as entidades de assessoria, predominado as iniciativas coletivas.

- Na construção de mercados alternativos, as associações/cooperativas/grupos tm ampliado o espectro de atuação e o envolvimento com outras instituições, contribuindo para o seu próprio fortalecimento. Estas organizações passam a ter maior conhecimento sobre gestão administrativa e mercados, assim como constroem um capital social que lhes concede maior reconhecimento social, político e econômico, permitindo o acesso a outros recursos e espaços.

- É necessário articular as estratégias de abastecimento e comercialização, complementando-as e potencializando-as, evitando

- Há a necessidade de fortalecer as articulação regionais e territoriais para a organização e implementação das propostas de comercialização, em especial, o Mercado Institucional (PAA,PNAE, Compra institucional, etc).

- É necessário fortalecer a ampliar a integração das feiras ecológicas às outras estratégias de comercialização (PAA, PNAE, Circuitos, Box Agroecológico,etc) contribuindo para a qualificação, diversificação, ampliação e expansão deste importante e histórico canal de mercado dentro da Rede Ecovida

Diversificação da produção x demandas da comercialização

- Demanda por diversidade de alimentos adequa-se à proposta agroecológica e agroflorestal, possibilitando a comercialização de produtos sem valor e espaço no mercado convencional, obtendo bons preços.

- Há o desafio de manter a agrobiodiversidade diante de demandas mais focadas em alguns produtos, que podem influenciar no planejamento da produção em função das necessidades do Circuito/PAA/PNAE e preço. Esta situação pode gerar vulnerabilidade nos agroecossistemas e nas estratégias comerciais, uma vez que gera dependência de um menor número de espécies/atividades produtivas.

Parceria com as organizações urbanas

- Realizar um trabalho de sensibilização das organizações urbanas especialmente do meio popular para necessidade da construção de um novo sistema agroalimentar de base ecológica articulando campo e cidade, dentro de uma perspectiva de complementaridade.

- Aproximar e estimular o diálogo e efetivação de ações concretas entre o universo da economia solidária e da agroecologia, tendo o alimento como elo desta ligação.

- Fazer com que os diferentes atores se reconheçam como parceiros na construção desta proposta, pois o enfoque mercantil ainda predomina e nesta relação campo e cidade. Incidir gradativamente para transformação desta realidade, construindo relações baseadas na cooperação e reciprocidade através da articulação de redes de abastecimento.

- Sensibilizar e comprometer a sociedade urbana para que se mobilize e operacionalize ações para qualificar sua alimentação.

Protagonismo das mulheres

- Inclusão e participação das mulheres rurais individual e coletivamente nas dinâmicas de abastecimento e na construção social de mercados de produtos ecológicos;

- Desafio de incidir politicamente para que as desigualdades de gênero em relação aos acesso aos mercados sejam identificadas e modificadas, tanto na esfera das organizações da AF como na das políticas públicas. (Ex: No PAA, há um conjunto de fatores relacionados com a documentação para a formalização dos contratos, que dificulta uma maior participação direta das mulheres, de forma que os seus nomes apareçam formalmente nos projetos)

Resgate,valorização e promoção da agrobiodiversidade e da cultura alimentar

- Valorização da agrobiodiversidade e da cultura alimentar local

- Promoção da reconexão da produção ao consumo local, respeitando a sazonalidade, a proximidade, os atributos de qualidade, o saber-fazer local, as relações sociais, etc.

- Mudanças positivas no padrão alimentar das crianças em idade escolar através da alimentação escolar proveniente da agricultura familiar regional e ecológica, com alimentos frescos, variados e de melhor qualidade, confluindo para uma melhor aceitabilidade e consumo por parte dos alunos. Estudos têm se reportado também a efeitos positivos em termos de frequência, rendimento escolar e saúde das crianças.

- Educação alimentar na comunidade escolar

Certificação

- Reconhecimento da importância do processo de construção social e regulamentação da certificação participativa, com o Sistema Participativo de Garantia (SPG) da Rede Ecovida sendo uma grande conquista no enfrentamento ao modelo predominante de certificação, constituindo um processo diferenciado de geração de credibilidade que se apoia na valorização da organização em rede e na construção da relação direta agricultor-consumidor.

- Muitos projetos do PAA não são contabilizados como ecológicos, seja porque alguns grupos ainda não concluíram seu processo de certificação, seja porque boa parte dos projetos e feita agrupando agricultores de produção convencional e ecológica, constando todos como produtos convencionais

Reconhecimento social e político

- O mercado institucional tem contribuído para o reconhecimento da sociedade sobre a importância da agricultura familiar e camponesa no abastecimento alimentar local e tem levado à construção de novos arranjos organizacionais e laços de solidariedade

- É necessário criar canais de comunicação com o poder público para o reconhecimento e apoio aos Circuitos de Comercialização, fazendo incidência politica para que os mesmos possam acessar recursos que viabilizem a consolidação, aprimoramento e ampliação, bem como possa servir de referência para outras organizações e redes.

- As Cooperativas de Consumidores para o enfrentamento de suas principais dificuldades (abastecimento continuado, sazonalidade da produção x cultura alimentar e exigência dos consumidores, participação ativa do associados; custos x vendas; falta de divulgação) precisam ser reconhecidas pela agricultura familiar, poder público e sociedade em geral, como uma iniciativa que precisa de estímulo e apoio.

Ampliação do universo de famílias agricultoras

- Em um contexto de ausência quase total de políticas públicas para o fomento desta estratégia, as feiras ecológicas tal qual estruturadas no momento possuem limites em sua capacidade de absorção dos volumes produzidos pelos grupos da Rede Ecovida e, principalmente, para inserção de novas famílias no processo.

- Predomina uma visão consensual de que na maioria dos municípios há espaço e demanda para abertura de novos pontos de feira A ampliação das feiras não está ocorrendo de forma mais efetiva em função da falta de condições e/ou priorização das organizações da Rede Ecovida. As organizações de assessoria se encontram cada vez mais fragilizadas em termos de composição de equipes de trabalho e de acesso a recursos para seu trabalho. Também influencia o contexto geral do mercado de orgânicos e da abertura do mercado institucional que têm demandado volumes de produção que acabam por colocar em segundo plano este esforço de expansão.

- Ha uma necessária relação a ser estabelecida com o poder público local em torno da concessão de alvarás, liberação de espaços públicos e vigilância sanitária, que são determinantes para as possibilidades de expansão das feiras ecológicas. Assim, as possibilidades para uma ampla difusão das feiras ecológicas se vêm restringidas pelas condições conjunturais de cada localidade ou região. A ausência de politicas públicas aliada à fragilização vivenciada nos últimos anos pelas ONGs de assessoria, têm dificultado a expansão das feiras ecológicas.

- Em relação ao PNAE, há a capacitação e abertura de novas frentes de trabalho junto a estados e municípios. Essa vertente é possível já que se multiplicaram as instituições que estão trabalhando com o tema (universidades, prefeituras, conselhos, ongs, redes de agricultores familiares, gov. estadual e federal).

Defesa e Fortalecimento do PAA

- Fazer frente à ofensiva contra o PAA, mostrando à sociedade brasileira os resultados e impactos obtidos pelo PAA e a injustiça cometida pela Operação Agrofantasma no Paraná.

- É necessário que a definição do conjunto de medidas administrativas: normas, procedimentos, portarias, decretos, que orientam o financiamento, a simplificação e o aperfeiçoamento do PAA, ocorra em sintonia com as propostas dos trabalhadores do campo e da sociedade civil de todo o Brasil que vêm construindo o PAA ao longo de sua trajetória. Para tal, é fundamental que o Grupo Gestor do PAA (GGPAA) dialogue com as organizações da agricultura familiar e camponesa, com os representantes dos beneficiários consumidores e com espaços de representação e articulação da sociedade, como o Consea.

- Garantir as conquistas da AF no PAA, mantendo a perspectiva da ação organizada via associações e cooperativa na gestão, operacionalização e controle social do programa.

- Ampliação dos recursos do PAA, aumentando as cotas e limites/família das modalidades do PAA

-Substituição de produtos: Atualmente está previsto a substituição dos produtos, sendo necessário consultar a entidade, e posteriormente solicitar autorização para a CONAB, ocasionado grande burocracia. Proposição: Implementar a metodologia utilizada pelo PNAE estadual/PR de grupos de produtos (hortaliças, tubérculos, pães), onde permite substituir os produtos dentro do grupo, sem a necessidade de solicitar autorização da CONAB, sendo que, havendo necessidade de substituição de produto de um grupo para outro, aí sim deverá ser solicitado autorização

- O enquadramento das organizações como executores da política pública as coloca sob a necessidade de adequação a um conjunto de regulações e normativas instituídas, as quais têm incidência direta sobre a estruturação e atuação cotidiana das mesmas. A forma como isso acontece depende do contexto local/regional e das condições objetivas que favorecem ou dificultam estas adequações, incidindo diretamente na possibilidade de inclusão e permanência no programa.

- Acompanhamento técnico para organização dos agricultores(as), planejamento, produção, logística, interlocução, certificação, etc.

- Aumento do corpo técnico da Conab envolvido com o PAA para dar mais agilidade aos projetos.

- Políticas Públicas

FEIRAS ECOLÓGICAS

- Há demanda por recursos para qualificar e ampliar as feiras: fomento para produção ecológica e agroindustrialização, infraestrutura, insumos, equipamentos, transporte, divulgação e comunicação/marketing educacional.

- É necessário viabilizar assessoria técnica na esfera da organização, produção ecológica, agroindustrialização, certificação, gestão comercial junto às famílias agricultoras, grupos, associações, cooperativas, redes, etc.

-É urgente a adequação da legislação à realidade da agricultura familiar e camponesa e dos empreendimentos econômicos solidários urbanos (processamento, vigilância sanitária, tributação, etc).

PNAE

- Políticas públicas específicas para estruturação das associações/cooperativas.

- Acompanhamento técnico para organização dos agricultores(as), planejamento, produção, logística, interlocução, certificação, etc.

- Apoio e incentivo aos grupos produtivos e mulheres agricultoras no acesso ao PNAE.

- Adequação da legislação à realidade da agricultura familiar e camponesa e dos empreendimentos econômicos solidários urbanos. (processamento, vigilância sanitária, tributação, etc).

PAA

- Viabilizar e equipar infraestrutura descentralizada para a organização da distribuição dos alimentos nos bairros populares das cidades com controle e gestão social.

- Necessidade de Políticas públicas para apoiar a comercialização da produção da AF. Medidas específicas para estruturação das associações/cooperativas, inclusive com revisão da carga tributária para a AF.

- Politicas públicas que reconheçam, valorizem, fomentem e ampliem as iniciativas das mulheres agricultoras e suas organizações no PAA.

- É necessário que a definição do conjunto de medidas administrativas: normas, procedimentos, portarias, decretos, que orientam o financiamento, a simplificação e o aperfeiçoamento do PAA, ocorra em sintonia com as propostas dos trabalhadores do campo e da sociedade civil de todo o Brasil que vêm construindo o PAA ao longo de sua trajetória. Para tal, é fundamental que o Grupo Gestor do PAA (GGPAA) dialogue com as organizações da agricultura familiar e camponesa, com os representantes dos beneficiários consumidores e com espaços de representação e articulação da sociedade, como o Consea.

- Acompanhamento técnico para organização dos agricultores(as), planejamento, produção, logística, interlocução, certificação, etc.

- Adequação da legislação à realidade da agricultura familiar e camponesa e dos empreendimentos econômicos solidários urbanos. (processamento, vigilância sanitária, tributação, etc.

CIRCUITO SUL DE COMERCIALIZAÇÃO

- Apoio do poder púbico para estruturar e operacionalizar o Circuito/ Rotas/ Estações.

- Acessar projetos/recurso para rede de comercialização.

- Acompanhamento técnico para organização dos produtores, planejamento, produção, logística, interlocução, certificação, etc.

- Criar canais de comunicação com o poder público para o reconhecimento e apoio a esta iniciativa, fazendo incidência politica para que o Circuito possa acessar recursos que viabilizem a consolidação, aprimoramento e ampliação, bem como possa servir de referência para outras organizações e redes.

-Políticas públicas específicas para estruturação das associações/cooperativas.

- Revisão tributária e fiscal na perspectiva de diferenciação para produtos agroecológicos, estimulando a produção e o consumo.

- Adequação da legislação à realidade da agricultura familiar e camponesa e dos empreendimentos econômicos solidários urbanos. (processamento, vigilância sanitária, tributação, etc).

CIRCUITO DE PEQUENOS MERCADOS

- Há a necessidade de fortalecer as articulações regionais e territoriais para a organização e implementação das propostas de comercialização, em especial, o Mercado Institucional (PAA, PNAE, Compra institucional, etc).

- Políticas públicas específicas para estruturação de circuitos de comercialização e para acompanhamento técnico (para organização dos produtores, planejamento, produção, logística, interlocução, certificação, etc).

- Adequação da legislação à realidade da agricultura familiar e camponesa e dos empreendimentos econômicos solidários urbanos (processamento, vigilância sanitária, tributação, etc).

CADEIA SOLIDÁRIA DE FRUTAS NATIVAS

- Acessar recursos em diferentes frentes para as ONGs realizarem acompanhamento aos empreendimentos rurais e urbanos, para viabilizar recursos para infraestrutura e logística,

- Incidência para adequação das legislações à realidade e demandas da AF e da produção ecológica.

-A construção de uma regulamentação deste processo por parte dos órgãos competentes, adequada à realidade da agricultura familiar e os propósitos de trabalho com Sistemas Agroflorestais e frutas nativas.

-Uma política de apoio em infraestrutura e equipamentos para a instalação das unidades comunitárias.

- Pesquisa e desenvolvimento de equipamentos adequados a este trabalho.

- Assessoria no desenvolvimento de produtos, rotulagem e apresentação.

- Adequação da legislação à realidade da agricultura familiar e camponesa e dos empreendimentos econômicos solidários urbanos. (processamento, vigilância sanitária, tributação, etc).

INICIATIVAS DE ORGANIZAÇÕES DE CONSUMIDORES

- Não existem praticamente ações e políticas públicas que envolva diretamente estas iniciativas. O apoio ocorre através de projetos de ONGS de assessoria do campo agroecológico.

- Necessidade de reconhecimento das organizações dos consumidores e inclusão de suas necessidades e demandas nas ações do poder público, pois representam uma alternativa de abastecimento/comercialização de produtos ecológicos que diminuem a sobrecarga sobre a AF, pois o escoamento da produção de base ecológica ocorre através de parcerias dos mesmos com os cidadãos urbanos e suas organizações.

6. CONSIDERAÇOES FINAIS

As experiências de organização e comercialização visitadas nas duas Rotas da Caravana Agroecológica do Sul e que foram os elementos referenciais e motivadores da reflexão coletiva neste evidenciam que a agricultura familiar e camponesa ao praticar a produção de base agroecológica também busca construir canais alternativos de comercialização. Nas diversas regiões e municípios verificou-se uma gama de propostas e iniciativas que procuram equacionar o desafio de realizar a comercialização do produtos ecológicos, através de novas práticas e dinâmicas que contemplem os princípios da Agroecologia e que confluam para os objetivos da economia solidária e para a garantia da segurança e soberania alimentar. Neste sentido, cabe destacar o PAA e PNAE que vêm contribuindo de forma decisiva para a ampliação dos espaços de escoamento da produção ecológica e da agricultura familiar e camponesa, ao mesmo tempo que possibilita o fornecimento de alimentos de alta qualidade aos grupos sociais em situação de risco social e aos estudantes das escolas públicas. Importante conquista da sociedade brasileira, tem contribuído significativamente para a diversificação das dinâmicas locais de abastecimentos e incidido positivamente no processo de transição agroecológica pela sua capacidade estruturante e dinamizadora do processo de comercialização e no fortalecimento das relações e parcerias entre os segmentos populares do campo e da cidade.

Assim, concretamente vê-se desconstruir a visão de que não é possível comercializar fora do grande varejo concentrador e excludente, de que é utopia pensar em mercados que não sigam a lógica da competição e da exploração. Buscando um mercado alternativo para os produtos ecológicos, democratiza o acesso e populariza o seu consumo, em contraposição à proposta elitista dos nichos de mercado. As cooperativas locais e regionais, associações, grupos informais de famílias agricultoras juntamente com as instituições de assessoria e organizações urbanas vêm construindo novas formas de distribuição e circulação da produção ecológica, através de dinâmicas que aproximam os atores sociais do campo e da cidade. Privilegiando as formas diretas e em rede nos mercados locais e regionais, com ênfase na economia solidária, promove o consumo consciente e responsável. O consumo é entendido como uma ação política, aliando o interesse das pessoas em se alimentar melhor à compreensão de que estão contribuindo para o fortalecimento das organizações sociais e produtivas do campo que estão construindo a Agroecologia e que produzem alimentos de alta qualidade ao mesmo tempo em que recuperam e conservam os recursos naturais.

Neste contexto as demandas por políticas públicas emergem de todas as estratégias de abastecimento e comercialização em construção havendo a necessidade de se ampliar e fortalecer os espaços de interlocução entre as organizações rurais e urbanas junto às diversas esferas e estruturas governamentais. Somente com a definição e implementação de políticas públicas conjugadas com a adequação da legislação, será possível consolidar, ampliar, multiplicar e capilarizar as propostas e iniciativas aqui relatadas.

7. Referências Bibliográficas

ARAÚJO, E,V & KARAM, K.F. Estudo dos Mercados Locais de Produtos Ecologicos- Potencialidades e Limites – Estudo de caso nas Regiões de Curitiba/PR e Caxias do Sul/RS. Centro Ecológico. 2007. Disponível em: www.centrecológico.org.br Acesso em 5/11/2014

FLEXOR, Georges. A globalização do varejo e seus impactos no Brasil: o caso do

Wal-Mart. In: COSTA, L. F. C; FLEXO