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Articulando tecnologias sociais para o desenvolvimento integral do jovem

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Articulando tecnologias sociais para o desenvolvimento integral do jovem

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PREFÁCIO

Grupo de Assessoria e Mobilização de Talentos - GAMT vem trilhando um caminho que busca forta-lecer o protagonismo dos jovens através da efetivação de um espaço de referência, implementando projetos e programas que impactem positivamente na participação social dos jovens.

Em 2012, encaramos o desafio de remodelar as ações que a instituição desenvolvia com jovens, estruturando um novo projeto. Neste momento, em parceria com outros gestores do GAMT, passa-

mos a buscar alternativas que dialogassem com nossos ideais e oferecessem uma formação qualificada aos jovens de Caçapava. Em contato com as concepções que organizam o Programa Jovens Urbanos – PJU e “contaminado” por sua metodologia, demos início à construção de uma proposta de atuação que contribuísse com a ampliação social, cultural e de empregabilidade da juventude.

Essa proposta, pautada na mobilidade urbana, na apropriação de espaços públicos e na utilização de diferentes tecnologias, proporcionaria uma formação diferenciada aos jovens, contribuindo para maior participação destes nos espaços de participação social.

Esse novo desafio estruturou-se, inicialmente, com a denominação Projeto Ponto de Encontro, até que o contato entre GAMT e Fundação Itaú Social - FIS se solidificou, possibilitando um diálogo voltado à disseminação do PJU em Caçapava, com execução e gestão do GAMT. Deste encontro profícuo, desdobrou-se uma nova parceria com o GAMT para a coordenação técnica do Programa, ficando o Centro de Estudos em Educação, Cultura e Ação Comunitária – Cenpec como instituição responsável pela coordenação técnica e pela disseminação da metodolo-gia já efetivada no PJU.

Dessa forma, com o apoio de parceiros como FIBRIA, Instituto Votorantim, Instituto EDP e Petrobras efetivou-se o PJU em Caçapava, possibilitando o aprimoramento da formação dos profissionais e uma nova forma de atuação com a juventude. Focado nas concepções experimentar, explorar, expressar e produzir, o GAMT completa dois anos de parcerias e busca cada vez mais a afirmação coletiva do protagonismo juvenil, por meio da ampliação do PJU na Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte.

Assim, convidamos educadores, jovens e gestores a compartilhar desses dois anos de experiência do PJU em Ca-çapava, expressos ao longo dos relatos que organizam esta sistematização.

Boa leitura!

O

Fredy Matos RebouçasCoordenador do Programa Jovens Urbanos no GAMT

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Inspirados pelas referências que servem de base à metodologia do Programa Jovens Urbanos e por todo o processo vivenciado durante a transferência de tecnologia social, apresentamos um compên-dio com narrativas de experiências que remodelaram e permitiram a implantação do Jovens Urbanos no GAMT, em Caçapava/SP.

Inicialmente é preciso apontar duas especificidades desta publicação: o propósito ao qual ela se dedica e a forma através da qual ela se compõe. Como sistematização, a proposta é sintetizar conceitos e experiências, permitindo que, através das diferenças inerentes, perceba-se o diálogo entre elas e a composição de um sistema que tenha sentido compartilhado por todos os atores envolvidos no processo. Essa tarefa, por si só, já implicaria a reunião de diversos tipos de materiais (relatos, avaliações, planilhas de monitoramento...), mas a segunda especificidade que se deve destacar é justamente o que diferencia esta publicação. Tomando como pres-suposto a noção de cartografia, esta sistematização estrutura-se a partir dos significados atrelados a cada uma das experiências aqui relatadas. Para tanto, ela se compõe coletivamente, a fim de expressar as diferentes vivências e olhares que percorreram esses dois anos de implementação do Programa em Caçapava.

Constituindo-se como eixo transversal do Programa Jovens Urbanos, a cartografia está presente desde a concepção da metodologia, passando pela formação do educador e do jovem, até repercutir na própria gestão do Programa na instituição, desnaturalizando e problematizando a experiência dos atores envolvidos e, assim, ecoando na condução e remodelagem das ações previstas (JOVENS URBANOS, 2013).

Dessa forma, enquanto obra coletiva e cartográfica, esta publicação organiza os diferentes pontos de vista, com-preensões e significados produzidos a partir de todos os atores envolvidos na implementação e execução do PJU no GAMT. Através do diálogo e da combinação de experiências, interesses, desejos e saberes diversificados, deu-se forma ao Jovens Urbanos em Caçapava, uma releitura da metodologia proposta pela FIS e pelo Cenpec. Enquanto releitura, a nossa experiência mantém uma análise processual das ações, produzindo novos significados a partir dos marcos conceituais fundamentais, mantendo o elo estruturante com a metodologia, sem descaracterizar o programa.

Nesse sentido, o caminho mais profícuo para visibilizar esse processo é dar voz aos atores e personificar as ex-periências, construindo uma narrativa sistêmica e interativa, na qual pode se ter ao mesmo tempo a compreensão geral do processo e/ou das partes que o compõem, de acordo com o interesse do leitor.

Com o intuito de alcançar os sentidos mais subjetivos das experiências, a narrativa se constituirá a partir das falas dos atores envolvidos, de trechos ou reprodução de materiais utilizados nas formações dos jovens e dos educado-res, fotografias tiradas pelos jovens e pelos educadores que registraram os acontecimentos vividos, além de outros recursos que se fizerem necessário. Ressalta-se, entretanto, que a narrativa apresentada não se pretende totaliza-dora, uma vez que isso seria incoerente com as nossas proposições enquanto instituição e com os nossos ideais de formação, pois ao passo que totalizar implica homogeneizar, cartografar sugere desnaturalizar e problematizar a partir justamente das diversidades, reconhecendo a alteridade e a diferença como constitutivas da vida social.

DELINEANDO SUBJETIVIDADES, ORGANIZANDO SENTIDOS: SISTEMATIZANDO EXPERIÊNCIAS

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O Programa Jovens Urbanos foi planejado e implantado no GAMT seguindo as orientações contidas no “Ma-nual de Transferência de Tecnologia”, mas, mesmo antes do lançamento da publicação citada, alguns pro-

fissionais da instituição já se valiam dos pressupostos metodológicos e conceituais publicados em outros materiais da FIS e do Cenpec.

A partir da publicação “Jovens Urbanos: Marcos conceituais e metodológicos”, lançada em 2013, e da parceria formalizada entre GAMT, FIS e Cenpec o estudo sobre as concepções norteadoras do Programa deu-se de forma mais acentuada entre a equipe do Jovens Urbanos de Caçapava, uma vez que esses profissionais perceberam a necessidade de compreender além do que estava sistematizado nas publicações. Explorar, Experimentar, Expres-sar e Produzir são concepções de aprendizagem que constroem um sentido se trabalhadas concomitantemente na formação do jovem. Por essa razão, essas concepções aparecerão em destaque no texto, mas não serão apresen-tadas de forma isolada em cada atividade comentada, mesmo que se possa identificar a concepção predominante em cada contexto.

Como já exposto, a concepção de cartografia e de investigação que lhe está associada constituem-se como linha mestra do Programa Jovens Urbanos, inspirando, organizando e produzindo sentidos diferenciados para cada sujeito de experiência (BONDÍA, 2002). Assim, ainda que a metodologia esteja sistematizada e que tenha visibi-lizado os objetivos minimamente norteadores das ações, há amplo espaço para adequações e mesmo releituras, tanto na implantação do Programa pelas instituições, quanto na vivência de cada ator implicado (jovens, educa-dores, gestão, parceiros...).

O PJU NO GAMT: MANIFESTAÇÃO DOS MARCOS CONCEITUAIS

LINK

Confira o vídeo do lançamento do PJU no GAMT: https://www.youtube.com/wat-ch?v=4pfJSwDnz2k&list=UUS-d9IXp7ClM7_m8bpVnpQdw

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Seja nas atividades com os jovens, durante as formações da equipe, nos momentos de planejamento e avaliação, quanto na própria estruturação do Programa em Caçapava sempre priorizamos o caráter subjetivo das ações, pois acreditamos que o enquadramento numa objetividade fixa mina o processo criativo e reduz drasticamente as chances de transformação do “eu” e da realidade social.

Em decorrência dessa crença, sempre somos questionados sobre um ponto para o qual escolhemos não ter uma única resposta. Assim, quando nos perguntam “O que é o Jovens Urbanos?” inspiramos, expiramos e refletimos sobre a resposta que melhor descreve a experiência proporcionada pelo Programa. Essa resposta é sempre muito pessoal, pois reflete o caráter particular, subjetivo e relativo característico da experiência vivenciada pelo ator que responde.

Abrir-se à possibilidade da experiência pressupõe permitir-se a vulnerabilidade das sensações, suspendendo a ânsia por definições, os caminhos já mapeados por outros e os resultados previstos para cada ação. Ainda que cada ator passe por acontecimentos semelhantes ou iguais aos passados por outros atores no mesmo grupo de pares (jovem-jovem, jovem-educador, educador-educador, jovem-coordenação, educador-coordenação, coorde-nação GAMT- coordenação técnica Cenpec...), cada indivíduo se permite repercutir de modo diferenciado pelos acontecimentos. O PJU implantado no GAMT busca oferecer um contexto potente para a valorização da experiên-cia, mas não pretende controlar a forma como isso se dá na vivência de cada ator, pois a experiência não deve ser antecipada visando a assunção de metas e objetivos meramente formais, requisitos para a validação de uma proposta de atuação com jovens.

Dessa forma, a experiência é aqui pensada como parte do processo de (trans)formação dos atores envolvidos, podendo somente gotejar na vivência de uns, enquanto inunda a de outros, pois os atores são únicos e, assim, vivenciam de forma diferenciada os acontecimentos provocados pelo Programa Jovens Urbanos, resultando, por-tanto, em reconstruções subjetivas diversificadas.

Recomendações ao Programa

Embora existam referências fundamentais em termos de atividades, pressupostos e metodologias, o Programa Jovens Urbanos busca o

diálogo com os contextos e com as instituições. Assim, é necessário o reconhecimento efetivo das características sociais e populacionais dos participantes e de seus territórios para que as adaptações sejam planejadas, implementadas e avaliadas por todos os atores envolvidos na execução do Programa.

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omparado aos dados do Censo 2010, o perfil dos jovens inseridos no PJU em 2013 e 2014 con-figura-se a partir de características semelhantes às relacionadas com a juventude de Caçapava, como apresentado em “GAMT e Jovens Urbanos: tecendo diálogos para a formação de jovens” (disponível em www.gamt.org.br). Em síntese, os jovens dividem-se, quase equitativamente, entre homens e mulheres, autodeclaram-se predominantemente brancos (48%) e pardos (41%) e são

provenientes de escolas públicas e bairros diversos da cidade. Considerando-se as peculiaridades socioeconômi-cas relativas a território e renda familiar, pode-se afirmar que 58% dos educandos compõem famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo, 65% das famílias apresentam como principal provedor de renda uma figura do sexo masculino (pai, padrasto, avô, tio ou irmão), sendo que 30% dos jovens são oriundos de territórios vulneráveis.

Diante deste cenário, o GAMT propôs uma releitura do Programa a partir do contexto local e das especificidades implicadas nele e passou a refletir sobre a melhor composição das turmas que atenderia aos objetivos da metodo-logia, da instituição e dos parceiros envolvidos, favorecendo o desenvolvimento dos jovens.

Em 2013, a equipe de educadores era composta por quatro profissionais e a divisão das turmas deu-se a partir das configurações territoriais de Caçapava. Assim, os jovens provenientes do mesmo bairro ou bairros limítrofes foram agrupados em uma única turma, com exceção de um grupo que alocou os jovens dispersos por várias re-giões de Caçapava.

A intenção dos educadores era favorecer a consolidação de laços entre os jovens que residissem próximo e ainda proporcionar um conhecimento mais qualificado sobre o próprio território a partir das explorações que seriam

CAMINHOS POSSÍVEIS PARA A (TRANS)FORMAÇÃO DO JOVEM

C

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realizadas. O número previsto inicialmente para cada turma eram 15 jovens, sendo possível, entretanto, substituir algum jovem durante o período de adesão. Passaram pelo Programa em 2013, assim, 66 jovens.

Correspondendo ao mês inicial de atividades, o período de adesão é o único momento indicado pela metodolo-gia para uma possível substituição de um jovem desligado por outro. Como a formação do jovem se dá de manei-ra processual, a metodologia não indica a substituição de jovens depois desse período, porque as atividades são planejadas para que dialoguem entre si e produzam sentido para os jovens por meio da noção de continuidade. Dessa forma, a permanência do jovem no Programa e a baixa flutuação nos dados indicados pela frequência são pontos cruciais do monitoramento e da avaliação do PJU.

Para que o jovem produza um significado a partir da experiência no Programa que repercuta efetivamente no seu desenvolvimento ele precisa deixar-se contagiar pelas atividades e concepções de aprendizagem que norteiam a metodologia, sendo imprescindível, portanto, sua assiduidade.

No decorrer das atividades em 2013, a equipe de educadores reavaliou a composição das turmas, pois a es-colha por organizá-los a partir do território de origem influenciou significativamente em um tipo de absenteísmo “casado” dos jovens, principalmente daqueles provenientes de bairros mais distantes que, na possibilidade de ausência do amigo acabavam também faltando ao encontro. Quando muitos jovens da mesma turma estavam ausentes, o andamento da atividade ficava prejudicado e era necessário juntar, pelo menos, duas turmas, para que se pudesse desenvolver o que estava planejado para o encontro. Essa configuração de trabalho em duplas perpassou quase todos os encontros do Programa e havia um revezamento entre os educadores para que as duplas não fossem as mesmas.

Assim, nós redefinimos os critérios para a divisão de turmas que deveriam ser assumidos para 2014. Diante dessa questão que se impôs e da necessária reestruturação da equipe, apenas dois educadores ficaram à frente das atividades com os jovens em 2014. Optou-se, dessa forma, pela composição de um grupo único, mediado por dois educadores que, em ocasiões pontuais, dividiam a turma em duas para melhor desenvolvimento da atividade.

A composição de pequenas ou grandes turmas ainda é um ponto importante de reflexão do Programa, pois há van-tagens e desvantagens nos dois modelos. Enquanto turmas menores facilitam a aproximação e criação de vínculos entre os jovens e os educadores, turmas maiores produzem mais significados sobre as experiências coletivas. Do mesmo modo, grupos grandes dificultam o desenvolvimento de atividades que exijam maior intimidade e introspec-ção, assim como turmas pequenas minimizam o potencial inscrito na criação e produção coletivas.

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Quando a pergunta “O que é o Jovens Urbanos?” está direcionada aos jovens podemos perceber um certo desconforto e muita dificuldade em responder. Quanto mais tempo o jovem permanece no Programa, mais

amplificadas parecem ficar essas sensações, até que eles se percebem elencando melhorias em algumas carac-terísticas pessoais, novas formas de compreensão da realidade social, maior autoconhecimento, entre inúmeras outras características e constatações que são, principalmente, de ordem subjetiva. Esses apontamentos estão relacionados ao desenvolvimento do jovem, numa perspectiva pautada no desenvolvimento integral, suporte funda-mental do Programa Jovens Urbanos.

Eu não era nada comunicativa. Sempre tive opinião formada sobre diversas coisas, mas nunca consegui me expressar por conta da timidez. Foi no Jovens Urbanos que eu comecei a me expressar. Porque como, basicamente tudo, é regido pela dinâmica eu precisa falar e eu comecei a dizer tudo que eu pensava. Para minha surpresa, comecei a perceber que as minhas ideias nem sempre eram erradas. Comecei a conhecer mais gente, aí fui me soltando, radicalmente. Foi quando na escola eu comecei a fazer mais amigos.” Joanna Hemmings – Jovem Urbana 2013 apud APOLINÁRIO, Edilaine. GAMT: 40 anos de transformação social, Caçapava: 2014 (no prelo)

Assim, de forma fluida e subjetiva, como, então, acessar os significados produzidos na experiência do jovem? Recorrendo a cada fala registrada, a toda avaliação realizada e às pistas elucidadas nos comportamentos. Para a construção da narrativa sobre o processo formativo vivenciado pelos jovens foi elaborada uma análise semântica dos registros e sinais acima descritos, a partir dos quais foram elencados termos ou expressões de correspondên-cia. Essa estratégia, apresentada à equipe do GAMT pelo Cenpec, organiza e sistematiza experiências plurais que, de outra maneira, permaneceriam como dados isolados diante da complexidade que lhes é inerente.

PJU NA PERSPECTIVA DOS JOVENS

Considerar o perfil dos participantes é fundamental, pois a forma como será significada a experiência do Pro-grama está diretamente atrelada aos modos de vida dos jovens, implicados, por sua vez, em recortes de classe, gênero, etnia e outras questões de diversidade. Dessa forma, recorrer aos discursos dos jovens como meio para compreender as ações e repercussões do PJU na (trans)formação deles é a via crucial para compreensão do Programa em sua totalidade.

Recomendações ao Programa

A definição da composição que melhor dialogue com as atividades previstas pelo Programa deve, portanto, considerar a estrutura dis-

ponível, o tamanho da equipe de profissionais, as características dos jovens participantes e a elaboração compartilhada de um planejamen-to entre educadores e gestão.

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Nº de ocorrências

Correspondências relativas aos jovens (análises dos educadores e dos jovens)

33 Falar e ser ouvido, compartilhar ideias, diálogo e confiança

25 Participação, cidadania e planejamento participativo

23 Iniciativa, autonomia e protagonismo

23 Integração, trabalho em equipe e divisão de tarefas

23 Apropriação da metodologia, identificação e maior envolvimento

22 Observar, analisar e ampliar o olhar

20 Alteridade, diversidade e similaridades

17 Aprender fazendo

16 Desmotivação, dificuldades e dispersão

15 Identidade e reconhecimento das identidades jovens

14 Emoções e valores morais

11 "Experiência" = leque de vivências plurais

10 Ampliar horizontes profissionais e descoberta de interesses

10 Argumentação, criticidade e avaliação jovem

9 Continuidade da atividade e (trans)formação processual

9 Identidade coletiva e fortalecimento do grupo

8 Compromisso

8 Importância do roteiro: planejar e realizar a exploração

8 Criatividade

7 Conhecimentos

7 Importância do registro e da sensibilização

7 Escolha Consciente

6 Dificuldade e desconforto com a linguagem escrita

6 Sustentabilidade: Ações - intervenções

3 Cansativo - semelhanças com ambiente e atividades escolares

1 Valorização de espaços

1 Pressão familiar sobre o mundo do trabalho

A fim de ilustrar o procedimento acima explicitado, segue resultado da análise semântica realizada a partir do Registro Semanal de Atividades relativo ao ano de 2013, instrumental preenchido diariamente pelos educadores e que contém, além da visão do profissional sobre a atividade, o registro das falas dos jovens tomadas ao longo do encontro, relativas à formação e vivências deles no Programa em Caçapava.

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Assim, propusemos uma exploração nas imediações da instituição, que fica próxima ao centro da cidade, para que eles se familiarizassem com a construção de roteiro, com a possibilidade de olhar de forma diferenciada para algo que supostamente já se conhece, diferenciando olhar, observar e explorar. Em 2013, essa exploração deu-se seguindo as divisões das quatro turmas, por região de moradia, com destinos diferenciados, sugeridos pelos educadores, mas sem indicação prévia de quais caminhos levariam ao ponto indicado. A proposta era despertar nos jovens o início da discussão sobre o território, com foco na região central que, ao menos um pouco, todos já conheciam, mas foram convidados a explorar.

Com o intuito de dar as primeiras pistas para que o jovem compusesse sua explicação sobre “O que é o Jovens Urbanos?”, nós educadores optamos por mostrar como se concretizam as concepções de aprendizagem, sem expli-cá-las de antemão. Como já havíamos estudado os marcos conceituais e metodológicos do Programa, os objetivos atrelados a cada concepção de aprendizagem nos eram claros, mas explicar aos interessados do que efetivamente elas se tratavam gerou muita dúvida. Diante disso, valendo-nos das potencialidades e das parcerias com outros profissionais do GAMT planejamos, entre as primeiras atividades a serem realizadas com os jovens, algumas que traduzissem na prática aquilo que está idealizado em cada concepção de aprendizagem.

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O dia está muito quente e com isso mais pessoas saem de casa. Usam roupas leves, usam roupas longas quando estão no trabalho. Muitas têm alguns comportamentos estra-nhos, de como falarem com a gente e como nos tratarem. Enquanto uns trabalham, outros se distraem com amigos ou família. Muitas pessoas parecem cansada, talvez por causa do calor, várias rindo e outras preocupadas. Vimos também várias pessoas conhecidas. Vemos pessoas comprando, comendo, andando à toa. A maior circulação é feita a pé. Entrevistamos Lia, que vende crepes e trabalha há 8 anos nesse ponto da Praça da Bandeira. Pessoas não quiseram falar por timidez. (...) Vivemos em uma cidade individualista, muitos viram a cara ao ver que estamos nos aproximando. (...) (Kelly Spir – Jovem Urbana 2013)

O que diferenciou essa primeira exploração de 2013 para a de 2014 foi a quantidade de grupos, ao invés de quatro, foram apenas dois grupos, devido à quantidade de educadores que ficaram à frente das atividades no segundo ano do PJU em Caçapava. Nos dois anos a avaliação dos jovens foi muito positiva, ressaltando como ex-plorar proporcionou-lhes um olhar diferenciado sobre a realidade social, provocando neles o desejo de questionar, investigar e compreender mais profundamente os processos sociais nos quais estão envoltos: mobilidade urbana, acessibilidade, revitalização de parques e praças públicas, direito ao lazer, criminalidade e preservação ambiental foram temas que apareceram durante as explorações nas imediações do GAMT e que repertoriaram os jovens em outras atividades do PJU em seguida, sendo, muitas vezes, retomadas por eles, inclusive.

Para demonstrar os pressupostos que estão implícitos na concepção experimentar, os jovens vivenciaram oficinas de curta duração, denominadas pílulas de experimentação, que foram oferecidas por profissionais da instituição e visavam, mais do que despertar o interesse nos jovens para essas tecnologias, oferecer amostras do que poderiam ser as experimentações ao longo do Programa e começar a ampliar o repertório de possibilidades de inserção no mundo do trabalho. Tanto em 2013, como em 2014 oferecemos as pílulas de experimentação de Grafite e Audiovisual, em 2013 foi apenas um encontro para cada pílula de experimentação e, em virtude de avaliação dos jovens, para 2014 optamos por realizá-las em dois encontros.

O Grafite, assim como outros elementos da história e da cultura Hip Hop foram apresentados pelo arte-educador e grafiteiro Carlos Alberto da Silva, o Betão. Já a pílula de audiovisual foi coordenada pelo Núcleo Diaporama de Comunicação – NDC que, ao trabalhar nos princípios da Educomunicação, introduziu alguns elementos sobre roteiro, manuseio de equipamentos, captação e edição de imagens de forma colaborativa e voltada ao uso efetivo desses conceitos, propondo aos jovens a elaboração de um curta-metragem sob orientação dos jovens profissionais do NDC, formados pelo GAMT em anos anteriores. Em 2014, além dessas pílulas, os jovens puderam ser inseridos numa outra pílula de experimentação de percussão, organizada e coordenada pelo educador de música Diego Lourenço, que objetivava apresentar noções básicas de ritmo, melodia e manuseio de instrumentos de percussão.

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As concepções de aprendizagem expressar e produzir são partes constituintes tanto das explorações quanto das experimentações, bem como de outras atividades que compõem o cotidiano do Jovens Urbanos. Em decorrência das explorações os jovens sempre são estimulados a se expressarem, seja de forma lúdica ou plástica, cartogra-fando as observações feitas, as sensações vivenciadas e as considerações que podem levantar sobre os temas que as atravessam. Assim como nas pílulas de experimentação os jovens são convidados a finalizar a sequência de dois encontros com algum produto que expresse e exponha os significados daquelas vivências. No primeiro

Recomendações ao Programa

A estratégia para explicar “na prática” as concepções de aprendi-zagem que norteiam o Programa facilita a compreensão do jovem

sobre o tipo de formação a ser experenciada por ele e promove seu maior envolvimento com as atividades. O ideal é fazer essa apresen-tação do PJU logo no início, pois na hipótese de não haver identifica-ção de algum jovem com a metodologia, ele poderá ser substituído enquanto durar o período de adesão que, em média, corresponde ao mês inicial de atividades.

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Encontro Público todo o material produzido pelos jovens nos meses que o antecedem é apresentado à comuni-dade como forma de concretizar a participação deles no Programa, visibilizando, nesses produtos, a expressão dada por cada jovem à experiência proporcionada pelo Jovens Urbanos. Além disso, os jovens são convidados a elaborarem gradativamente um portfólio com as atividades mais significativas para eles ao longo do percurso, uma possibilidade de expressão da subjetividade dando significados ao processo e ressignificando a si mesma.

Embora a concepção produzir seja marca distintiva do Projeto Jovem, que só é apresentado ao participando no final do percurso no Programa, as questões vivenciadas nas explorações e as tecnologias com as quais os jovens têm contato nas experimentações moldam o olhar deles para a idealização de uma proposta efetiva de interven-ção na comunidade. Assim, vez ou outra, surgem movimentos pontuais de organização jovem em prol de alguma causa, mesmo antes da elaboração do Projeto Jovem.

Tanto em 2013 como em 2014, durante a exploração na Câmara Municipal de Caçapava e, em decorrência justamente da experiência proporcionada por esse acontecimento, podemos destacar dois fatos ilustrativos. Em 2013 um grupo de jovens questionou aos vereadores sobre a quadra poliesportiva do bairro Pinus Iriguassu e se mobilizou para a confecção de um abaixo-assinado, coleta de assinaturas e entrega deste documento na Tribuna da Câmara em Sessão Ordinária. Já em 2014, novamente questionados sobre algumas iniciativas e políticas pú-blicas focadas no esporte e no lazer, alguns profissionais ligados à Câmara se prontificaram a agendar uma con-versa entre os jovens do PJU e o então Diretor de Esportes da Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer de Caçapava. Esse encontro, ocorrido no GAMT em junho, contou também com a participação e apoio de um dos vereadores do município, que acompanhou e registrou o diálogo.

Com a apresentação das concepções de aprendizagem dada dessa maneira - “prática” -aos jovens, segue-se o curso das atividades planejadas que compõem a transferência de tecnologia social, coordenada pelo Cenpec. Assim, a proposta metodológica do Jovens Urbanos se organiza a partir da tríade EU – NÓS – SOCIEDADE, que pode ser compreendida na perspectiva do desenvolvimento do jovem dado de forma gradual e crescente, em consonância com o processo de reconhecimento de si enquanto ser e agente integrado em grupos de interesse e identidades coletivas que, organizadas, compõem a sociedade mais ampla.

No planejamento das atividades a serem realizadas com os jovens, estão dispostas algumas que revelam exata-mente esse caráter do PJU. O jovem, inicialmente, é convidado a olhar para si mesmo e reconhecer as suas poten-cialidades, assim como os pontos nos quais deve haver maior investimento para melhorias. Durante a formação dos educadores, a equipe da coordenação técnica do CENPEC apresentou o Autorretrato como a principal atividade voltada a esse primeiro momento com os jovens. Antes, no entanto, de propormos o Autorretrato aos jovens, op-tamos, devido às peculiaridades do Programa em Caçapava e ao perfil dos participantes, favorecer um espaço para integração, através de atividades lúdicas organizadas em forma de gincana cultural.

Como poucos jovens se conhecem antes do início dos encontros, acreditamos que a gincana cultural consegue fomentar uma aproximação necessária ao reconhecimento das similaridades e das diferenças entre eles, consoli-dando os vínculos que contribuam para a assiduidade e manutenção do jovem no PJU.

O primeiro contato entre os jovens é sempre demonstrado com certa distância, o fato de não se conhecerem gera um desconforto e pouca comunicação. Mas com as atividades da gincana esse bloqueio costuma se quebrar. (Doka Miacci – educador 2013 e 2014)

“ “

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A turma mostrou-se bem disponível para a atividade. Meu grupo elegeu o nome de “Grupo Atitude” apontando a vontade e interesse em ter iniciativa para propor mudanças no município. Senti que todos participaram e se envolveram no desenvolvimento da atividade, é uma turma que mostrou facilidade para se expressar e se comunicar entre eles. (Jaqueline Reis – educadora 2013)

A partir do reconhecimento inicial motivado pela gincana cultural, as atividades podem conduzir os participantes à construção de uma identidade coletiva. Assim, o autorretrato é um momento que exige certa integração no grupo e alguns sinais evidentes de que o grupo já reconhece aquele jovem. Dessa maneira o jovem sente-se mais confiante para expor características que atribuem qualidades e defeitos a si mesmo, revelando-se mais transparente aos demais participantes e aos educadores.

Trabalhamos o Autorretrato como um momento significativo de exploração da própria subjetividade. É a partir da expressão daquilo que o jovem vê em si mesmo, que se inicia a descaracterização daquela identidade superficial que, de imediato, nós construímos quando conhecemos alguém, posto que esse alguém se veste e se porta de determinada forma, associada culturalmente a determinados estereótipos de comportamento. Soma-se, portanto, ao sentido da visão, para a maioria das pessoas, outras formas de compreensão do ser que vão moldando a cartografia de cada jovem que participa do PJU.

NO MEU AUTORRETRATO COMPARTILHEI MEUS ‘GOSTOS’

ATRAVÉS DE SÍMBOLOS. O GOSTO PELO ESPORTE ESTÁ DESCRITO EM

UMA CAMISA DE FUTEBOL. O GOSTO MUSICAL ESTÁ DESCRITO COM A

REPRESENTAÇÃO DE UM FONE DE OUVIDO E O MEU GOSTO POR

ALIMENTOS ESTÁ REPRESENTADO EM UM BALÃO DE PENSAMENTO.

Luan Alves Jovem Urbano 2014

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A adaptação mais significativa dessa atividade quando realizada no GAMT aconteceu a partir de sugestão dos jovens. Ao invés de usarem os espelhos que oferecemos a eles para que se pudessem ver refletidos, eles ques-tionaram sobre a possibilidade de utilizar a câmera do celular/smartphone para “tirar” uma selfie. As selfies são fotografias de si mesmo, sozinho ou em grupo, “tiradas” geralmente com o intuito de publicação e compartilha-mento nas redes sociais como Facebook e Instagram. Essas fotografias, bem como expressões de linguagem (oral, textual e icônicas – a exemplos do memes) características dos comportamentos associados à comunicação em rede são marcas que organizam as identidades juvenis na contemporaneidade e, portanto, não devem ser ignoradas/negadas. Diante do questionamento dos jovens, nós educadores revimos a proposta já em 2013 e em 2014 oferecemos as duas opções aos jovens: o espelho e a selfie.

Podemos questionar as diferenças qualitativas e os tipos de produtos gerados entre a imagem refletida pelo es-pelho e aquela que surge em uma selfie. O espelho mostra uma imagem relativamente móvel da pessoa e, nessa possibilidade de movimento daquele que se vê, torna-se, talvez, mais revelador. A selfie, em contrapartida, con-gela uma pose, uma expressão corpo-facial realizada propositalmente por aquele que se fotografa, além disso, oferece a oportunidade de descarte e nova produção, gerando autorretratos que reforçam aquelas características que o jovem quer destacar. No entanto, há que se considerar também o incômodo proporcionado pelo ato de se olhar no espelho, estando em grupo, e a naturalidade com a qual alguns jovens lidam com as selfies. Assim, tanto o espelho quanto a selfie oferecem potencialidades diferentes para a cartografia da subjetividade dos jovens, podendo tornar-se opção para o trabalho do educador.

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Após se verem refletidos, os jovens são convidados a reproduzirem a própria imagem e, neste momento, fica evi-dente o desconforto com o traço e a tinta. É o primeiro momento em que o conceito de experimentação aparece como suporte da formação dos jovens, pois, ainda que as dificuldades existam, é preciso trabalhar com o jovem a ideia de se expor, de experimentar, de se deixar repercutir por um acontecimento que proporcionará uma experiência (BONDÍA, 2002), ainda que persista inicialmente o desconforto. Os resultados obtidos depois do Autorretrato demonstraram que os desconfortos iniciais ficaram, na maioria das vezes, minimizados, pois os jovens de fato se perceberam refletidos nos desenhos. Isso pôde ser constatado em dois fatos pontuais. O primeiro narra o tipo de contato e de cuidado com o próprio desenho e o do colega; a maioria dos jovens quis fotografar seu autorretrato e se fotografar com ele para que pudessem mostrar aos familiares e aos amigos, que não participam do PJU, o resultado do seu trabalho.

A atividade me fez perceber os meus defeitos e ter que lidar com eles - (Andressa Mo-reira Mancini - Jovem Urbana 2013).

Eu sou muito crítica comigo. É difícil parar e olhar para mim. Não é o desenho, é me perceber, não fisicamente, mas todos os aspectos da minha personalidade. (Jennifer Guimarães Gomes - Jovem Urbana 2013).

Gostei de me olhar nos detalhes - (Aline Cristina dos Santos Souza - Jovem Urbana 2013).

Outro fato relaciona-se à montagem e organização da sala do PJU no GAMT. Embora muitos espaços sejam utilizados na instituição durante as atividades do PJU, a equipe de profissionais, sob orientação do Cenpec, per-cebeu a necessidade de configurar um local representativo do Jovens Urbanos e que, assim, pudesse agregar os participantes e gerar uma identificação entre eles, o Programa e o GAMT. Esta sala, idealizada pelos profissionais, mas totalmente montada pelos jovens, reflete as identidades dos jovens em cada turma, pois abriga os materiais produzidos e os significados a eles atrelados, constituindo-se como espaço de acolhimento e de expressão. Du-rante a organização da sala em 2013, a turma decidiu que os autorretratos confeccionados por eles deveriam ficar pendurados no meio da sala, para que pudessem ser instantaneamente observados por qualquer pessoa que

Recomendações ao Programa

Adaptar as atividades a partir de contextos e ferramentas que dia-loguem diretamente com a realidade vivida pelos jovens propor-

ciona a produção de mais experiências e de significados plurais. É importante que o jovem se reconheça nas ações do Programa, princi-palmente em relação ao planejamento das atividades.

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ali entrasse. O mesmo ocorreu com a turma de 2014. Em todas as ocasiões em que os jovens recebiam pessoas que não eram do PJU, o primeiro movimento dos jovens era mostrar onde estava localizado o seu autorretrato entre tantos autorretratos ali expostos. Percebe-se, assim, como a montagem da sala e a disposição dos autorretratos nela pode amplificar a noção de pertencimento ao grupo, agregando o EU ao NÓS.

Em continuidade ao processo de fortalecimento da identidade coletiva atrelada ao PJU - o NÓS -, são realizadas atividades que trabalham a alteridade e visam a consolidação do grupo através de ideais compartilhados, expe-riências semelhantes e vivências que, mesmo que díspares entre si, geram um sentido de coesão no grupo. Como a noção de alteridade é o sustentáculo dessas atividades, o objetivo dos educadores não está voltado à anulação ou negação da diferença, muito pelo contrário, objetivamos partir do reconhecimento da diferença inerente ao Outro, e base das relações sociais, para criarmos laços que se consolidem no tempo, alargando o espaço do GAMT e a temporalidade características dos acontecimentos proporcionados pelo PJU.

Esse processo de fortalecimento do grupo é marcado, preponderantemente, por duas atividades: Árvore dos De-sejos, sugerida pelo Cenpec, e Linha do Tempo, planejada pela equipe do Programa em Caçapava. A Árvore dos Desejos, construindo-se a partir de uma metáfora, propõe ao jovem o reconhecimento do caráter dinâmico e sistêmico da sua (trans)formação, concretizando em algo plástico – á árvore - esse caminho. Já a Linha do Tempo foi pensada por nós como uma atividade transitória entre o Autorretrato e a Árvore dos Desejos, visando garantir o emaranhamento dos significados gerados em cada um desses acontecimentos, bem como a noção de continui-dade, elemento fundamental na formação processual do jovem.

A Linha do Tempo tem como objetivo proporcionar aos jovens uma autorreflexão e a descoberta de características semelhantes ou diferentes que compõem a trajetória deles em relação à dos demais jovens. Assim, propõe-se aos

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jovens que, primeiro individualmente, eles identifiquem e expressem em uma folha de sulfite acontecimentos e adje-tivos que marcaram sua trajetória desde a infância até chegar ao PJU, além de traços que eles podem identificar no presente, bem como algumas perspectivas que eles possuem em relação ao próprio futuro. Abre-se a possiblidade do jovem elaborar esse registro em forma de texto, de desenho, de gráfico ou qualquer outra representação, de acordo com a sua preferência, fomentando um ambiente em que a diversidade já comece a se impor.

Em seguida, já reunidos em grupo, os jovens são orientados a comparar as linhas do tempo individuais e a carto-grafar coletivamente uma linha do tempo que represente as similaridades e discrepâncias encontradas na análise da trajetória de cada membro do grupo. Percebemos, ao realizarmos essa atividade, falas bastante recorrentes de jovens que pontuam as diferenças e as semelhanças entre eles. O interessante é a entonação que comumente visibiliza cada uma dessas constatações: as diferenças são narradas com certa obviedade, como se já estivessem previstas, pois a individualidade é traço marcante das identidades juvenis; já as semelhanças são narradas com tom de surpresa, pois a identificação de pontos comuns nas trajetórias pressupõe o reconhecimento de si como parte de um grupo social – a juventude.

O reconhecimento de inúmeras experiências compartilhadas, mesmo que se percebam como indivíduos únicos, passa por uma noção de coletividade cada vez mais fluida. Como todo elemento sócio-histórico, também a noção de coletividade foi ressignificada. Atualmente as mobilizações têm ocorrido não mais pautadas apenas em institui-ções e grandes lutas nas quais os jovens se reconheçam e a partir das quais se agreguem, como ocorreu à época da ditadura militar no Brasil, e sim a partir de traços culturais e comportamentais associados a temas que agregam os jovens em velocidade semelhante ao seu desmantelamento enquanto grupo mobilizado (SAFATLE, 2012).

Considerando tudo isso, a Linha do Tempo já seria uma das estratégias bem avaliadas e, por isso, mantidas nas próximas edições do Jovens Urbanos implementadas pelo GAMT. Entretanto, soma-se a isso o fato da atividade se desenrolar como uma maneira bastante efetiva para integração do jovem ao grupo, reforçando a emergência do elo EU-NÓS.

Recomendações ao Programa

A atividade Linha do Tempo, através do reconhecimento das simili-tudes e das diferenças nas trajetórias de vida dos jovens, amplia

a perspectiva sobre si mesmos uma vez que os insere em um grupo de pares (ele + outros jovens = jovens de Caçapava). A constituição de um laço eficiente entre EU e NÓS fica, assim, potencializada.

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A linha do tempo para mim foi interessante, expor um pouco da minha história e conhe-cer um pouco da história de meus colegas. Muitos de nós estávamos tímidos, mas agora já nos conhecemos e aos poucos vamos conhecendo uns aos outros (...).” (Wellington Alves dos Santos – Jovem Urbano 2014).

A proposição da Árvore dos Desejos pelo CENPEC visa estreitar os laços e o processo de identificação do jovem com e no grupo, fortalecendo os laços coletivos e propiciando um espaço de diálogo mais expansivo e frequente tanto entre jovens, quanto entre eles e os profissionais que os acompanham cotidianamente.

De modo geral, para que uma atividade repercuta de maneira positiva na experiência do jovem e seja realizada com ativa participação dele, é preciso que o jovem compreenda os sentidos a ela agregados e possa, a partir deles, criar outros significados, ampliando as possibilidades inicialmente previstas pelos educadores. Para motivar o envolvimento do jovem, nós, educadores do Jovens Urbanos no GAMT, planejamos as atividades a partir de 3 elementos mínimos: sensibilização, produção e fechamento. Orientados inicialmente pelo Cenpec, mas convenci-dos logo no início sobre a efetividade dessa combinação, percebemos o quanto a variedade de recursos utilizados durante as atividades também contribui para a participação do jovem, desestabilizando a rotina característica da escolaridade formal, que aparece recorrentemente nos discursos dos jovens.

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Assim, valendo-nos sempre de recursos textuais, multimídias e/ou lúdicos, começamos a atividade com uma sen-sibilização que visa instigar a curiosidade dos jovens para alguns pontos da realidade social, que podem ou não estar atrelados à sua vivência, a depender de cada atividade. Essa etapa consiste, então, numa preparação para a atividade principal, a ser realizada durante o que aqui chamamos de produção. Seguindo os procedimentos associados à cartografia, faz-se necessário que o jovem tenha elementos suficientes para descontruir uma reali-dade que lhe parece dada, apresentada na socialização escolar e familiar e por influência da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa. Os vídeos, trechos de textos, poesias, dinâmicas e outros recursos que são utilizados durante a sensibilização oferecem subsídios para que o jovem encaminhe autonomamente essa desconstrução.

A sensibilização, além disso, contribui fundamentalmente para o envolvimento do jovem, uma vez que esse está re-lacionado diretamente à compreensão, por ele, dos sentidos das atividades propostas. Quando há uma mediação bem conduzida pelos educadores na sensibilização e na produção, o fechamento acaba sendo protagonizado pelo próprio jovem. Entretanto, como a repercussão das atividades se dá de forma diversa na experiência de cada jovem, é essencial que os educadores retomem alguns pontos da atividade e a relacionem com atividades anteriores, reforçando a noção de continuidade e contribuindo para uma (trans)formação processual.

A partir, portanto, da combinação dessas estratégias – sensibilização, produção e fechamento – a atividade da Árvore dos Desejos pode ser conduzida pelos educadores de diversas maneiras, mas em todas elas fica latente a necessidade de expor e problematizar com os jovens a respeito da metáfora que lhe serve de base, especialmente durante a sensibilização. Pode ser através de imagens que retratam diferentes tipos de árvores, com raízes longas e galhos encorpados, com ou sem folhas e frutos, da forma que mais aprouver às intencionalidades do educador.

Pode-se também, não apenas mostrar alguns tipos de árvore, mas construir coletivamente um desenho que represente cada parte e foi assim que optamos para trabalhar esta atividade com os jovens em 2013. Um por vez, volun-tariamente, os jovens foram ao quadro e acrescentaram elementos para composição final da árvore. Depois de finalizado o desenho, os jovens foram questionados sobre as funções da raiz e das folhas, especificamente, para a sobrevivência da árvore e, então, foi-lhes solicitado que respondessem a duas questões: a primeira investigava as características individuais dos jovens e que, na percepção deles, eram essenciais ao desenvolvimento do PJU, representadas pelas raízes da árvore; a segunda, expressas pela folha da árvore, traduzia a expectativa que cada um possuía em relação ao projeto. Para a confecção das raízes e das folhas cada jovem escolheu uma palavra como resposta para cada pergunta e, em seguida, apresentou e explicou as razões que o conduziram a tal escolha.

Recomendações ao Programa

A consciência sobre o próprio percurso formativo é parte fundamen-tal da metodologia para que o jovem possa trabalhar o prota-

gonismo e a autonomia. Por meio da sensibilização, da produção e do fechamento é que esse percurso torna-se visível à compreensão do jovem. Dessa forma, é importante que todas as etapas das atividades sejam de conhecimento do jovem, só assim ele poderá participar efe-tivamente dela, pontuando o que pode ou não funcionar e, posterior-mente, avaliando se os objetivos previstos foram contemplados.

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Para a confecção das raízes e folhas correspondentes às palavras que os jovens elegeram sugerimos a utilização da técnica de estêncil apresentada pelo grafiteiro Betão durante a pílula de experimentação. Os jovens se envol-veram muito a partir desta sugestão, produziram o estêncil e imprimiram sua marca (expressão) em um dos muros externos do GAMT.

Eles gostaram muito da atividade e reforçaram que o envolvimento deles estava influencia-do pela chance de grafitar no muro a palavra escolhida.” (Kenya J. Marcon – educadora 2013).

Com a turma de 2014, os educadores preferiram não utilizar a técnica do estêncil e o grafite, pois os jovens, ao conhecerem a sala do PJU se interessaram bastante pela representação da Árvore dos Desejos que estava exposta. Essa Árvore foi construída pelos educadores durante o processo formativo coordenado pelo Cenpec e acabou atraindo a atenção dos jovens pela estética que ela tem, bastante colorida.

Para a sensibilização em 2014 os educadores planejaram a atividade a partir de uma terceira estratégia. Eles não mostraram imagens de árvores e nem propuseram um desenho coletivo, eles trabalharam dois curtas-metragens: “A Ilha” (2008), produzido pela OZI Escola de Audiovisual de Brasília e dirigido por Alê Camargo, e “A maior flor do mundo” (2006), de Juan Pablo Etcheverry. Com o primeiro vídeo os educadores sensibilizaram a respeito de escolhas, vínculos e sociabilidade, fornecendo elementos para os jovens problematizarem a respeito das folhas, principalmente. A metáfora da árvore foi mais trabalhada com o segundo curta, assim como o paralelo que se poderia traçar entre o menino do vídeo e cada jovem participante do PJU. Se a flor foi sustentada pelas escolhas e ações do menino, também o PJU se mantém através das escolhas e ações dos jovens que dele fazem parte. Para não sobrepor nenhuma palavra de um jovem à de outro, os educadores optaram pela construção simultânea de duas árvores, uma vez que em 2014 os jovens não foram separados em turmas.

LINKS

Veja o vídeo “A Ilha” :

http://ailhaofilme.blogspot.com.br/search?updated-max=2009-05-03T19:57:00-07:00&max-results=7

Confira “A maior flor do mundo”:

https://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U

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Acredito que mapear as expectativas é fundamental para perceber a compreensão inicial do jovem sobre o que vem a ser o programa e, posteriormente, avaliar o que mudou com o processo formativo.” (Relato de educador).

Depois de já construídos e reforçados os laços entre o jovem e o PJU, através da percepção de si, somada à per-cepção coletiva, nós damos início ao processo que visa abranger essas duas dimensões – Eu e NÓS – em uma totalidade só, a SOCIEDADE. Para favorecer esse movimento, trabalhamos com várias atividades: Roda de His-tória da Fotografia, Encontros Temáticos, Explorações diversificadas, Projeto Jovem (Produção), Encontro Público (Expressão), entre outras que possam surgir ao longo da formação do jovem, como necessidade inerente a esse objetivo ou motivada pelas próprias demandas dos jovens.

A Roda de História da Fotografia é uma estratégia que funciona como ponte entre o elo já estabelecido entre os jovens no grupo e a sociedade em geral, uma vez que nessa atividade privilegia-se o reconhecimento do Outro na história do jovem, assim cowmo o reconhecimento do jovem na história do Outro. Nesse sentido, a alteridade atua como cimento para a constituição de relações sociais mais amplas entre o grupo já formado e outros grupos que existam, existiram ou possam vir a existir e agregar significado à trajetória construída pelos jovens. Nessa atividade, o jovem é convidado a levar ao encontro uma fotografia sua no seu bairro, atual e/ou de origem, e organizados em roda, os demais participantes questionam sobre a imagem e o local ali representado. Assim, as histórias dos jovens e, consequentemente cada identidade ali presente, passa a ser localizada na unidade espaço-temporal que familiariza os integrantes do grupo a outros jovens brasileiros e estes a outros tantos tipos de brasi-leiros vivendo sob circunstâncias semelhantes, além de poder trabalhar outras dimensões subjetivas necessárias ao trabalho cotidiano, como a capacidade de escuta (ALVES, 1999) e os laços de confiança no grupo.

Sem dúvida, me identifiquei muito com a atividade da história da foto, exatamente pelo resgate da memória. Percebo muitas possibilidades de adaptações para o trabalho com o jovem, podendo usar a mesma temática (foto relacionada ao bairro) ou outras tantas, depen-dendo do objetivo da atividade. Sinto que o exercício fortalece o grupo, permite a troca de experiências e propicia um espaço de escuta e confiança.” (Relato de Educador).

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Recomendações ao Programa

Os Encontros Temáticos, quando planejados a partir de conteúdos e estratégias lúdicas e criativas, são importantes momentos de forma-

ção conceitual dos jovens, atuando como estratégia chave para a sensi-bilização de explorações no território. Esse tipo de atividade foi planeja-do pela equipe do PJU no GAMT para condensar alguns temas que, na visão dos educadores, são essenciais para a (trans)formação dos jovens.

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Além da História da Foto, outra estratégia são as explorações no território, associadas a uma discussão concei-tual sobre cultura, que ocorre no primeiro Encontro Temático realizado com os jovens. Essa atividade consiste na abordagem conceitual de determinado tema, mas de forma dinâmica, distanciando-se da maneira mais comum a partir da qual os conteúdos escolares são trabalhados – baseada fortemente na oralidade e com poucos recursos visuais, geralmente limitados a conteúdos produzidos na lousa.

Em 2013 esse Encontro Temático foi dividido em 2 momentos, uma parte conceitual trabalhada a partir de vídeos e de uma exposição dialogada sobre aspectos que compõem a noção de cultura, na perspectiva antropológica. E a segunda parte convidava os jovens a refletirem sobre alguns aspectos da cultura popular brasileira, dialogando com a questão de gostos individuais e identidade culturais a partir do tema “funk é cultura?”. Esse tema foi suscita-do por uma reportagem exibida pelo Jornal do SBT e reproduzida, na ocasião, aos jovens, a fim de motivar uma discussão, que se desenrolou de forma muito positiva. Logo depois desse Encontro Temático realizamos uma explo-ração no Centro Cultural da Juventude CCJ, que, ainda que esteja localizado em São Paulo, forneceu aos jovens subsídios para problematizar as políticas e os espaços culturais de Caçapava. Assim, os jovens relativizaram um contexto a partir de outro, seja através dos paralelos ou das diferenças observadas, mas analisando cartografi-camente. Desde o início da exploração, ao elaborarem o roteiro, até depois da socialização da experiência, os jovens se deixaram repercutir pela discussão de cultura empreendida durante o Encontro Temático.

No Encontro Temático realizado em 2014 foi novamente abordada, através de um pequeno texto sobre canibalis-mo e um vídeo com imagens e citações, a cultura como um conceito antropológico, colocando em relevo questões como valorização dos traços materiais e imateriais da cultura, etnocentrismo, cultura popular, entre outras questões transversais à discussão. O principal objetivo desse encontro é pensar a diversidade cultural, problematizando práticas canibais em alguns grupos ameríndios brasileiros, para que os jovens possam ampliar a noção de cultura,

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experimentando outros pontos de vista, diferentes daqueles que organizam a própria vida social e que serviriam de subsídios para a construção do roteiro na Exploração Vida na Cidade.

Hoje eu percebi o quanto há diferença entre as culturas, mesmo havendo diferenças entre elas, as pessoas deveriam querer saber mais e julgar menos.” (Willian Monteiro Chaves – Jovem Urbano 2014).

Pautados por essa discussão, os jovens foram convidados a explorar a sua região/bairro de origem e, para isso, aqueles que moravam relativamente próximos foram se organizando em grupos para elaboração do roteiro da exploração. Os grupos eram formados por cerca de 5 jovens e quando o número de jovens com moradia próxima era inferior a isso, eles eram convidados a compor outros grupos e realizar a exploração Vida na Cidade nos bairros dos colegas. Já organizados em grupo e elaborando o roteiro que iria pautar a exploração, os educadores planejaram que o acompanhamento desta atividade se daria através de um cronograma de horários nos quais eles passariam por cada região a ser explorada. Os grupos se organizaram nas seguintes regiões do município: Vila Menino Jesus, Caçapava Velha, Jardim Rafael, Nova Caçapava.

Foi uma experiência bem interessante, primeiro porque eu nunca fui no bairro de Ca-çapava Velha, e segundo que é um bairro bem distante no centro, tem bastante pichações, ruas esburacadas, casas abandonadas, cachorros mal tratados e na pracinha da igreja Nossa Senhora D’ajuda eu senti bastante cheiro de maconha, que no caso seria um pouco desagra-dável, se fosse para voltar eu não voltaria pelo local, mas se fosse possível fazer algo para preservar os patrimônio e a melhoria do bairro eu faria. Eu gostei muito da experiência e ter mudado um pouco a rotina” (Ana Carolina Damiano Antonio - Jovem Urbana 2014)

Para a realização da exploração no dia seguinte, os jovens não se encontraram na instituição, pois já foram orientados a marcar um local de encontro na região que iriam explorar. Geralmente as explorações são mar-cadas pelo roteiro elaborado pelos jovens, que serve como fio condutor das observações e coletas de dados e entrevistas, mas esse diferencial, marcado pela ausência de orientação efetiva dos educadores, oferecido pela Exploração Vida na Cidade gerou maior autonomia e senso de compromisso, segundo avaliação dos educadores que mediaram a atividade.

Gostei de ver que os jovens, mesmo sem a presença dos educadores usaram sua au-tonomia para se encontrarem, estavam muito dispostos no dia da exploração. Os grupos se encontraram e a maioria dos jovens foi responsável e compareceu para o compromisso. Estavam todos empolgados e atentos às pautas estabelecidas. Foi gratificante ver toda essa mobilização. (Camila Pimentel - educadora 2014)

Como ressaltado anteriormente, a exploração oferece aos jovens muitas inspirações para a posterior elaboração do Projeto Jovem, segundo a estratégia da produção. Isso acontece em decorrência do olhar reflexivo que eles passam

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a ter sobre o próprio território, questionando os serviços oferecidos, as funções das instâncias governamentais e da sociedade civil. Como continuidade das explorações e para fechamento da atividade, os jovens são convidados sempre a socializar as informações, impressões e sentimentos que repercutem nas suas experiências, dando vazão a formas de expressão diversificadas. O relato oral, a análise escrita, a confecção de um fanzine, o registro fotográ-fico, uma apresentação de Power Point, a elaboração de um cartaz, apresentações de curtas peças teatrais são as formas mais comumente eleitas pelos jovens para visibilizar os significados produzidos durante a exploração.

Durante a socialização, os jovens já expressaram suas ideias sobre a atividade. Mayra acha que a exploração também serve para ver o que pode ser melhorado no bairro. Thuany acha que dá para perceber que as estruturas poderiam ser melhores. Ana Carolina acredita que a exploração faz o jovem dar valor aos detalhes e prestar atenção nas mudanças que poderiam ser feitas. (Camila Pimentel - educadora 2014)

A maneira que os jovens expressam as suas experiências torna as atividades mais dinâmicas, e este tipo de atividade faz com que os jovens consigam observar melhor o que está a sua volta. (Doka Miacci - educador 2013 e 2014).

Durante a prospecção de ideias para os Projetos Jovens da turma de 2013 podemos observar claramente essa repercussão que as explorações exercem sobre os jovens. O Projeto Jovem “Aqui Bate um Coração: as árvores também têm vida” foi motivado pontualmente por uma atividade realizada com os jovens e que se pautava na série de vídeos com intervenções urbanas denominada “Aqui Bate um Coração” e disponível no youtube. Depois de assistirem ao vídeo, os jovens resgataram uma discussão sobre crescimento imobiliário e devastação ambiental suscitada durante o primeiro exercício de exploração realizado com os jovens. Durante a exploração nos arredo-res do GAMT, uma das turmas se deparou no bairro Jardim Julieta, próximo à região central, com um conjunto de árvores marcadas com tiras de pano pretas e cartazes com palavras e frases de repúdio.

Curiosos com o significado desses símbolos, os jovens questionaram aos moradores do bairro e descobriram que o movimento, identificado nesses símbolos, representava o descontentamento da população local com a derrubada, ao longo da madrugada em um fim de semana, de 54 árvores centenárias do bairro e de uma antiga capela loca-lizada em um terreno particular, vendido a uma incorporadora para a construção de imóveis. Sensibilizados pelo tema e pela série de vídeos do youtube, os jovens propuseram um projeto de intervenção urbana que objetivava retomar a discussão sobre questões ambientais e chamar a atenção dos moradores da cidade para as árvores que ainda compõem o cenário da região central.

A retomada ao PJU e ao projeto está sendo um dos momentos mais emocionantes. Agora permaneceram apenas os mais empolgados e é visível o quanto mudamos e evoluímos. O projeto é inteiramente nosso, uma responsabilidade e um conhecimento único. Uma expe-riência totalmente inspiradora (Aline Cardoso – Jovem Urbana 2013).

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LINKS

Programa “Chamada” sobre o Projeto Jovem: https://www.youtube.com/watch?v=TSSKIxMK-IA

“Aqui Bate um Coração” SP: https://www.youtube.com/watch?v=npkWlXRj8xs

“Aqui Bate um coração” tutorial: https://www.youtube.com/watch?v=4efbjX7eJOg

“Aqui Bate um Coração: as árvores também têm vida” Caçapava/SPhttps://www.youtube.com/watch?v=pNej_KmZu4A

Vídeo sobre a Banca de Projetos Jovens no GAMT: http://tinyurl.com/kuby8xw

A exploração no CCJ de São Paulo também repercutiu positivamente no processo criativo dos Projetos Jovens, um dos grupos em 2013 apresentou a proposta de uma festival de música, o “Young Music”, um evento cultural para agitar e agregar os moradores de Caçapava e que visava gerar visibilidade para os artistas locais. Embora esse projeto tenha sido aprovado na Banca de Projetos, composta por representantes do GAMT e dos parceiros, ele acabou não acontecendo devido à desintegração do grupo após a Banca. Houve ainda a proposição inicial de outros 3 Projetos Jovens motivados também pelas explorações, propondo eventos e ações de revitalização para espaços e praças públicas identificados como abandonados pelos jovens durante as explorações.

Assim como a socialização sobre a exploração, a elaboração do roteiro previamente é um dos pontos cruciais para a realização da atividade, pois é durante esse momento que os jovens começam a se familiarizar com os locais alvos das explorações e valendo-se de conhecimentos prévios de alguns jovens, eles elegem pontos que devem ser problematizados. Desde 2013 a equipe de educadores do PJU no GAMT sempre privilegiou muito a elaboração dos roteiros, justamente por esse potencial reflexivo que ele oferece aos jovens. O caminho esperado pela equipe de educadores é o seguinte: escolha do local a ser explorado, reunião dos conhecimentos prévios que alguns jovens já possuam sobre o lugar, levantamento pelos jovens dos aspectos e temas que devem ser con-siderados durante a exploração, construção de tópicos a serem investigados, socialização sobre a experiência e elaboração de um produto que represente a cartografia desse processo e visibilize a expressão dos jovens a partir dessa experiência. Durante esses dois anos, podemos avaliar que quanto mais integrado e trabalhado esse percurso, mais a exploração contribui na (trans)formação efetiva do jovem.

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LOCAL CIDADE / BAIRRO TEMAS DISCUTIDOS EXPRESSÃO

Ruas do bairro Caçapava / Vila Resende

Mobilidade Urbana, desigualdade social e presença de jovens

Cartazes

Rodoviária e percurso Caçapava / Jardim Santo Antônio e Jardim Itamaraty

Mobilidade Urbana, ocupação de espaços públicos, oferta de serviços públicos e privados

Fanzine Coletivo

Ruas do centro e bairro Caçapava / Centro e Jardim Julieta

Meio ambiente, serviços públicos e privados para jovens, segurança no trânsito, infraestrutura das ruas,

Fanzine Coletivo

Praça da Bandeira Caçapava / Centro Mobilidade Urbana, relações sociais e de consumo e circulação de pessoas

Fanzine Coletivo

Centro Cultural da Juventude CCJ

São Paulo / Vila Nova Cachoeirinha

Políticas públicas (cultura e lazer) para a Juventude

Cartazes, apresentação de slides, RAP

Câmara Municipal de Caçapava

Caçapava / Centro Participação e controle social Simulação Câmara Jovem

Câmara Municipal de Caçapava

Caçapava / Centro Participação e controle social Simulação Câmara Jovem

Avenida Paulista e Conjunto Nacional

São Paulo / Bela Vista - Consolação

Diversidade e disputa de território, mobilidade Urbana, Arquitetura

Álbum Digital de fotografias

EXPLORAÇÕES EM 2013

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LOCAL CIDADE / BAIRRO TEMAS DISCUTIDOS EXPRESSÃO

Bairros próximos ao GAMT

Caçapava / diversos bairros

Cultura Cartazes

Bairros próximos ao GAMT

Caçapava / diversos bairros

Cultura Cartazes

Ruas do bairro Caçapava / Caçapava Velha

Lazer, mudança e desenvolvimento e cultura

Fanzine

Ruas do bairro Caçapava / Vila Menino Jesus

Lazer, mudança e desenvolvimento e cultura

Fanzine

Ruas do bairro Caçapava / Jardim Rafael Lazer, mudança e desenvolvimento e cultura

Fanzine

Ruas do bairro Caçapava / Nova Caçapava

Lazer, mudança e desenvolvimento e cultura

Fanzine

Parque Municipal Roberto Burle Marx

São José dos Campos / Santana

Meio ambiente, paralelos entre São José dos Campos e Caçapava considerando espaços de lazer

Registro individual no portfólio

Memorial Aeroespacial Brasileiro (MAB)

São José dos Campos / Jardim Aeroporto

História, inovações tecnológicas e impactos sociais

Registro individual no portfólio

Espaço Adolescer Saudável

Centro / Caçapava Esclarecimento sobre a oferta de serviços para adolescentes: oficinas, atendimento com hebiatra e psicopedagoga e trabalho com grupos

Cartografia da Rede de Serviços em Caçapava / Teatro

Conselho Tutelar Centro / Caçapava Atendimentos motivados por denúncias sobre violações de direito da criança e do adolescente

Cartografia da Rede de Serviços em Caçapava / Teatro

CREAS (Centro de Referência de Assistência Social)

Vila São João / Caçapava Apresentação do ambiente, importância da ética no atendimento, tipos de atendimentos (população de rua, casos de abuso na família, abrigo e adoção)

Cartografia da Rede de Serviços em Caçapava / Teatro

CAPS II - Saúde Mental

Vila São João / Caçapava Tipos de transtornos mentais, atendimento aos usuários e acompanhamento das famílias

Cartografia da Rede de Serviços em Caçapava / Teatro

23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

São Paulo Literatura, circulação de pessoas, consumo

Relato compartilhado e análise

EXPLORAÇÕES EM 2014

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A elaboração de um roteiro com os jovens que possa, dentro das expectativas deles, conduzir a exploração é fundamental para que eles se apropriem do objetivo da atividade. Além disso, a própria organização do grupo é importante, dividindo papeis o grupo se sente mais responsável por cada uma das funções a ser desempenhada pelos membros do grupo, facilitando a interlocução e a melhor execução das atividades”. (Educador não identificado)

A elaboração de um bom roteiro funciona também como estratégia para relacionar os temas trabalhados, os luga-res explorados e os acontecimentos que pretendem repercutir na experiência dos jovens, fornecendo a noção de continuidade visada pelo PJU.

Um dos grandes diferenciais do Jovens Urbanos no GAMT é a possibilidade de abrigar jovens de todo o municí-pio, tendo em vista a dimensão territorial e populacional da cidade, a localização central da sede, bem como as características da instituição. Diante dessa possibilidade um dos temas que acaba se destacando é a participa-ção social, uma vez que o GAMT procura estimular a participação, acreditando no potencial democrático como ferramenta para o enfrentamento das desigualdades sociais. Assim, em virtude dessa conjuntura, a discussão do território, considerando território em uma extensão alargada que compreende toda a cidade, pauta-se em questões

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relativas a políticas públicas, direitos sociais e políticos, cidadania e meios de inserção e de controle da sociedade civil nos processos decisórios do país e do município.

Como forma de fundamentar essas discussões, pautando-se nas estratégias de aprendizagens que organizam os marcos conceituais e metodológicos do PJU, propusemos aos jovens nesses dois anos de implementação uma ex-ploração à Câmara Municipal de Caçapava. Essa exploração articula-se a partir de parcerias que o GAMT vem estabelecendo com vereadores, assessores e funcionários da Câmara e que visa estabelecer um mínimo diálogo entre os jovens e as instâncias legislativas. Durante essas explorações os jovens são introduzidos à dinâmica de funcionamento da Câmara, bem como às razões e funções da divisão dos três Poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário. Além disso, a funcionária que conduz esse momento inicial apresenta quais são os protocolos das Ses-sões, as possibilidades de participação da sociedade civil, assim como os trâmites necessários para apresentação de projetos de lei, requerimento e utilização da plenária.

Tanto em 2013, quanto em 2014, os jovens que participaram da exploração à Câmara tiveram contato com os vereadores e alguns assessores, podendo questioná-los sobre temas gerais que afetam a população, além de questões pontuais sobre o próprio bairro e a juventude do município. Afetados positivamente pelas atividades já ocorridas no PJU e principalmente pelo roteiro da exploração elaborado, os jovens mostraram-se bastante confor-táveis para dialogar com os representantes legislativos.

Iniciamos a atividade de elaboração de roteiro, com uma chuva de ideias sobre o que os jovens conheciam e imaginavam encontrar em um espaço como a Câmara Municipal. Partindo desse ponto foi possível discutir participação e controle social, apropriação de espaços públi-cos, políticas públicas para juventude entre outras questões frente essa temática.

O roteiro construído com os jovens traz as seguintes indagações:

• Quantos e quem são os vereadores?

• Existe algum projeto de lei para a juventude em andamento?

• Como e quando acontecem as sessões de Câmara?

• Quais e como as verbas recebidas são utilizadas?

• O que mudou depois das manifestações de junho?

• Quais as pessoas que frequentam aquele espaço? Há participação da comunidade?

• Como está a situação do Bairro Jardim Julieta?

• Existem verbas específicas para o Centro Cultural?

A elaboração do roteiro foi muito positiva, além de preparar os jovens para a explora-ção, possibilitou iniciar a discussão sobre a importância e a potencialidade dos espaços de participação popular e o quanto é preciso fortalecer essa ação no município. (Jaqueline Reis – educadora 2013)

Com a turma de 2013 podemos destacar pontualmente como decorrência dessa exploração uma forma de ex-pressão dos jovens: três jovens do PJU moradores do bairro Pinus Iriguassu questionaram ao presidente da Câmara a respeito de uma quadra poliesportiva do bairro que estava necessitando de reparos e reformas e não satisfeitos

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com as respostas obtidas, esses jovens organizaram um abaixo-assinado, coletaram as assinaturas e comparece-rem à Sessão da Câmara para entregar o documento e demonstrar a insatisfação com a situação. A possibilidade de ser ouvido e poder dialogar com representantes governamentais sobre questões que os afligem, como relatado através desse acontecimento, foi um dos pontos mais ressaltados pelos jovens durante a socialização, avaliação e fechamento da atividade.

Os jovens foram participativos a todo o momento da exploração. O educando Efrain pontuou que foi a exploração que ele mais gostou e achou interessante, pois conseguiu ex-por os problemas do seu bairro para os vereadores. Os jovens Matheus e Jefferson relataram que se sentiram importantes e que foi legal ser escutado e ter o apoio de um vereador para melhorar a quadra do seu bairro, sendo que este é o único espaço de lazer que eles têm no Pinus do Iriguassu. (Gisele Maria Lopes – educadora 2013)

Como já expusemos, o envolvimento dos jovens nas atividades propostas está condicionado à compreensão que ele possuem sobre os objetivos da atividade e como esta pode contribuir para a (trans)formação deles. Com a exploração à Câmara, fica manifesto que o planejamento elaborado pelos educadores conciliou-se a um interesse já instaurado no jovem, mas adormecido por estruturas formais que não favorecem a participação social. Nesse sentido, o PJU e os educadores atuam como facilitadores para a assunção de papeis e lugares sociais que já eram visualizados como necessidade e desejo pelos jovens, mas que lhes permaneciam distantes.

Dessa forma, aproximar a estrutura legislativa ao cotidiano do jovem cumpre fundamentalmente um dos principais objetivos do PJU no GAMT: favorecer o protagonismo juvenil através da ampliação da noção de cidadania. Acre-ditamos que a cidadania é moldada a partir de ações individuais e coletivas que podem contribuir para o desen-

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volvimento integral dos jovens e a construção e efetivação de políticas públicas que considerem a complexidade inerente às relações juvenis, fornecendo múltiplas respostas que impactem positivamente a realidade vivenciada por eles.

Neste dia as atividades contaram com participação oral efetiva da maioria dos jovens, re-flexo talvez do quanto eles avaliaram positivamente a experiência provocada pela exploração à Câmara.(Kenya J. Marcon – educadora 2013)

Em 2014, como já adiantamos anteriormente, como decorrência da exploração à Câmara, os jovens receberam no GAMT para uma conversa, organizada e conduzida totalmente por eles, o Diretor de Esportes da Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer de Caçapava, um vereador e seu respectivo assessor. Durante a exploração o tema que mais foi questionado pelos jovens foram as políticas referentes ao esporte no município. Diante disso, a neces-sidade de um diálogo com o diretor para esclarecimento de dúvidas, formalização de reivindicações coletivas e cobranças sobre os projetos voltados à juventude ficou latente.

Os jovens puderam entender que a participação deles nas decisões e ações políticas da cidade é importante para que eles possam exercer plenamente sua cidadania. Eles acharam muito curioso e a exploração os deixou instigados para agir de alguma forma em favor de seus direitos. Acredito que eles estão elaborando ideias, mas ainda não sabem como vão agir. (Camila Pimentel – educadora 2014)

Acreditamos em um modelo de gestão compartilhada, no qual jovens, parceiros, GAMT e demais atores envol-vidos no PJU possam dialogar e construir, a partir do lugar ocupado por cada um na Rede e da perspectiva que esse ator possua, um programa para a (trans)formação e desenvolvimento integral do jovem. Dessa forma, o viés político demarcado fortemente nas ações do PJU no GAMT contribui para a consolidação do espaço dos jovens nos processos decisórios que lhes repercutem. Um dos momentos mais característicos dessa atuação é a organiza-ção e escolha das experimentações a serem vivenciadas pelos jovens.

Desde a organização de contatos de assessores tecnológicos, passando pela apresentação das propostas aos jovens, até a escolha e formação das turmas, contamos com a efetiva participação dos jovens. É a partir dos desejos manifestados por eles que os assessores tecnológicos de cada área são convidados a participar do Edital de Seleção, apresentando projetos com experimentações que, em seguida, são apresentados aos jovens para seleção das propostas e, finalmente, formação das turmas.

Em 2013, a rede de contato de assessores tecnológicos ficou pouco numerosa, em virtude do tempo entre publi-cação do Edital de Seleção, envio de projetos, escolha das experimentações e início das atividades. Recebemos no primeiro ano 7 propostas, 4 no Eixo Linguagens da Arte, 2 em Multimeios, Comunicação e Tecnologia e 1 em Produção Cultural. Após apresentação aos jovens, eles optaram por 3 experimentações: “Educação Patrimonial: História Oral e Fotografia”, “Tv é na Web” e “Dança”.

O segundo Encontro Público tem como foco visibilizar os produtos das experimentações com as marcas da ex-pressão jovem. Assim, numa manhã de sábado de novembro, ocorreu um Encontro Público, organizado pelos jo-vens em parceria com os profissionais do GAMT e direcionado à participação de toda comunidade, principalmen-

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te aos familiares dos jovens participantes do PJU. Durante o evento houve a exposição de fotografias elaboradas e editadas pelos jovens na experimentação de Educação Patrimonial, exibição de vídeos com depoimentos de personagens reconhecidos na cidade, produto da mesma experimentação. Além disso, os programas realizados durante a experimentação de Audiovisual também foram apresentados, bem como o clipe elaborado durante as oficinas de experimentação de dança e uma coreografia previamente ensaiada pelos jovens. Na programação, que durou todo o dia, houve também um Cinedebate com filme que compõe a 8ª Mostra Cinema e Direitos Huma-nos na América do Sul, um campeonato de manobras de skate e um show com a banda “Psicoletivo”.

Bem legal, muito diferente do que eu imaginava. Eu não costumo dançar e agora estou perdendo a vergonha. É algo novo, quase não tem atividades assim em Caçapava pra gente fazer, me identifiquei muito com essa experimentação. (Larissa Verônica Castro dos Santos – Jovem Urbana 2013)

Já em 2014, com um tempo maior para fazer a divulgação do Edital de Seleção para oficinas de experimenta-ção, aumentamos nossa rede de assessores tecnológicos. Recebemos 3 propostas no eixo de Linguagens da Arte, 5 de Multimeios, Comunicação e Tecnologia, 1 de Intervenção Urbana e Meio Ambiente e 2 de Empreendedo-rismo e Gestão de Negócios, totalizando 11 projetos de experimentação. A escolha dos jovens se deu pelas seguintes experimentações: “Jogos Teatrais” – Linguagens da Arte, “Ponto de Olho: performance e intervenção urbana” – Intervenção Urbana e Meio Ambiente e “Fotografia básica para câmeras digitais e celular” – Multimeios, Comunicação e Tecnologia”.

No Encontro Público, ocorrido em outubro de 2014, jovens e assessores tecnológicos apresentaram peça teatral, performance e exposição de fotografias. Ao longo da experimentação “Ponto de Olho” os jovens realizaram di-versas intervenções no GAMT e nas ruas próximas, registrando-as com vídeos e fotografias disponibilizadas pelos jovens e pelo assessor responsável em página do grupo no Facebook.

Ainda sobre o viés voltado à cidadania do PJU no GAMT podemos destacar como repercussão positiva a organiza-ção do Conselho Jovem, uma instância de participação efetiva do jovem que busca constituir-se enquanto um espaço de escuta direta. Ainda que durante os encontros diários os educadores fortaleçam o processo de escolha, tomada de decisões e a iniciativa jovem para expor suas opiniões e desejos, o Conselho Jovem é uma instância que proporciona um diálogo diferenciado, pois conta com a participação da coordenação e outros profissionais envolvidos no PJU, mas que não mantém contato cotidiano com os jovens. Esse espaço-tempo proporcionado pelo Conselho Jovem visa favorecer uma atuação micropolítica, estimulando comportamentos e iniciativas de controle social e cidadania que ultrapassem os objetivos desse Conselho no escopo do PJU e ecoem para outras instâncias de ação social.

Recomendações ao Programa

O Conselho Jovem é uma instância de participação criada no GAMT para promover o reconhecimento do jovem como ator fundamental

do diálogo para a promoção da participação social. Acreditamos que a constituição deste Conselho contribui efetivamente para a formação do jovem em temas tangenciais ao protagonismo e às discussões de cidadania.

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É previsto na reunião do Conselho Jovem uma avaliação processual das atividades, da (trans)formação do jovem, dos relacionamentos entre jovens e desses com os educadores e com outros profissionais que possam atuar even-tualmente no PJU, assim como dos objetivos propostos frente às conquistas realizadas e aos desafios colocados. Além do Conselho Jovem, alguns jovens são convidados a compor o Conselho de Acompanhamento, instância de governança do Programa, que, realizada ao menos 2 vezes ao ano, conta com a participação dos diversos atores envolvidos, estabelecendo um diálogo entre eles e contribuindo para o fortalecimento da Rede, formada a partir do jovem e, nesse sentido, com o jovem.

O conselho jovem é bom porque veio em uma boa hora onde podemos falar sobre o projeto pela nossa perspectiva que temos dos demais jovens e que os educadores. (Gabriel Alvarenga – Jovem Urbano 2014.)

Esse processo de fortalecimento do protagonismo juvenil é fundamental para que o PJU dialogue diretamente com os anseios dos jovens que frequentam o Programa, uma vez que é através das respostas fornecidas por eles que a metodologia se remodela e as atividades são planejadas. Acreditamos que a construção de interesses comuns entre jovem, instituição e demais atores da Rede, alinhada a um planejamento coletivo favorecem o desenvolvi-mento integral do jovem e a ampliação do repertório sociocultural, fornecendo-lhe maior diversidade de opções profissionais e segurança para a inserção no mundo do trabalho.

Ao considerar, ao mesmo tempo, a singularidade de cada jovem, expressa na identidade individual, assim como a identidade coletiva resultante daquele grupo, o PJU vale-se das ações de estímulo ao protagonismo jovem para estruturar seu modelo de gestão compartilhado naquilo que se refere preponderantemente ao planejamento das atividades. O jovem sempre é convidado a participar desse planejamento, bem como da avaliação dessas ati-vidades, iniciativas por meio das quais há a integração efetiva do jovem a esse modelo de gestão. Assim, ao longo do percurso no Programa, os jovens se apropriam tanto do modelo de gestão, contribuindo no diálogo e no planejamento das ações, quanto da possibilidade de ver os seus desejos e vontades representados nas explora-ções realizadas, na condução das atividades, na montagem da cesta de assessores para experimentações, nas próprias experimentações, na organização do Encontro Público, no momento de produção com os Projetos Jovens e nas diversas formas de expressão favorecidas pela ambiência criada no PJU.

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O questionamento “O que é o Jovens Urbanos?” quando direcionado aos educadores gera res-postas que podem ser classificadas em 2 amplos conjuntos, dependentes e complementares entre si: os relatos sobre formação profissional e pessoal compõem o primeiro conjunto e os relativos a experiências pessoais e profissionais compõem o segundo, tomando novamente aqui a noção de experiência como fundante na vivência dos atores envolvidos no Programa.

Como base para a manifestação desses conjuntos de respostas estão os encontros de formação dos educadores organizados a partir da homologia de processos, meio pelo qual a coordenação técnica do Cenpec planeja suas ações direcionadas a esses profissionais. A homologia de processos oferta a possibilidade de vivenciar, de manei-ra conceitual e prática, as atividades que serão desenvolvidas com os jovens, para que elas sejam compreendidas na ótica da experiência vivida pelos educadores.

Gosto da ideia de vivenciar/experimentar para dar sentido a minha ação com os jovens. (Relato de educador).

A forma como esse dois conjuntos de respostas se constituem implica em não poder analisá-los isoladamente, ra-zão pela qual eles serão considerados juntos e intrincados ao processo de formação dos educadores. De maneira geral, os momentos de formação procuraram conciliar os diferentes perfis profissionais, trajetórias de vida e cren-ças dos educadores com a pluralidade de significados provocados pelo Programa e por seus marcos conceituais e metodológicos, assim como a repercussão deles na experiência de cada ator.

A formação nos auxilia no planejamento e agrega sentido às ações, partindo da perspec-tiva que temos tanto a concepção teórica, quanto a referência da vivência dessas atividades.” (Relato de educador).

A equipe de formação do Cenpec afirma não ter trabalhado com um grupo de profissionais reduzido como o nosso, pois o número de jovens no PJU em São Paulo é muito maior e exige uma ampla equipe de educadores. Em 2013 éramos quatro educadores, um coordenador e uma assistente de projetos, além de outros profissionais do GAMT que atuavam de maneira pontual nas ações do Programa. No segundo ano ficamos com dois educa-dores à frente das atividades com os jovens, uma cientista social organizando e redigindo as sistematizações, uma assistente social e um coordenador.

Os educadores que compunham a equipe em 2013 eram de formação e trajetórias profissionais diversas entre

HOMOLOGIA DE PROCESSOS: FORMAÇÃO EDUCADOR, ESPELHO DA FORMAÇÃO JOVEM

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si, assim selecionados para agregar sentidos diferenciados ao PJU, pois as experiências são significadas a partir do contato com diversas referências, leituras, conteúdos e práticas que moldam o educador, enquanto profis-sional e ser social. Assim, a composição da equipe de educadores com duas assistentes sociais, uma cientista social e um professor de teatro compôs um cenário plural de formação dos jovens. Além disso, essa pluralidade repercutiu também na “metaformação” dos educadores, bem como no planejamento e na avaliação do PJU no GAMT.

Em dezembro de 2013 a equipe promoveu um momento de reflexão dirigida e avaliação das ações do Programa ao longo do ano e se impõe como necessária uma reformulação na atuação dos profissionais a fim de potencia-lizar efetivamente as contribuições que cada membro da equipe poderia oferecer ao Programa, constituindo uma atuação multiprofissional para o PJU em 2014.

Recomendações ao Programa

A composição da equipe de profissionais, assim como a distribuição dos jovens nas turmas, deve dialogar com os pressupostos do Pro-

grama e com os objetivos delineados pelas instituições, considerando as demandas trazidas pelo contexto e o perfil dos jovens com os quais as atividades ocorrerão.

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Os encontros de formação coordenados pelo Cenpec apresentaram formatos diferenciados ao longo desses dois anos do PJU em Caçapava. Houve, inicialmente, duas semanas de formação intensa. A primeira semana reuniu educadores e profissionais do GAMT que compunham a equipe do Jovens Urbanos e outras iniciativas da insti-tuição, pois a proposta era fortalecer a discussão sobre educação e as concepções de juventude que norteiam o Programa, mas que devem permear as ações das organizações no geral.

Foi possível compreender a metodologia do programa, pautada na aprendizagem a par-tir da experiência. (Relato de educador).

Apesar de ter contato na universidade sobre a discussão das ‘juventudes’, ouvir os relatos dos colegas de trabalho fez com que eu refletisse sobre como nos relacionamos, concretamente, no cotidiano com essas percepções. Isso significa que os nossos comportamentos com os jovens ou como jovens se relacionam diretamente com o ‘conceito’ que assumimos por juven-tude. (Relato de educador).

Já a segunda semana de formação foi voltada apenas para a equipe do PJU, uma vez que seriam trabalhadas as concepções de aprendizagem que modelam o Programa e algumas das atividades a serem desenvolvidas com os jovens, como o Autorretrato, a Árvore dos Desejos e a Roda de História da Foto. Na abordagem das atividades, as profissionais do Cenpec, pautadas na homologia de processos, propuseram que os educadores vivenciassem as atividades e produzissem significados a partir da experiência.

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Pessoalmente tenho muita dificuldade com atividades lúdicas e/ou artísticas e algumas atividades de metaformação geraram incômodo para mim, mas consigo, agora, avaliar a ne-cessidade de passar por elas, até para conciliar as atividades propostas com o perfil dos nos-sos educandos. (Relato de educador).

Certamente ir para o território depois de toda sensibilização e discussão, apreciação das mú-sicas e dos poemas, preparação do roteiro e divisão dos papeis leva-nos a perceber e explorar de forma diferenciada. (Relato de educador).

Depois dessas duas semanas de formação nos meses que antecederam o início das atividades com os jovens em 2013, aconteciam encontros mensais nos quais o Cenpec acompanhava a gestão e encontros com os jovens, além de oferecer formação continuada aos educadores. Em 2014 foram mantidos apenas os encontros de ges-tão e formação, que passaram a ocorrer bimestralmente com o objetivo apenas de abordar temas circunscritos à juventude, motivados por demandas dos educadores.

Recomendações ao Programa

Uma demanda constante dos educadores, mas que, por inúmeras va-riáveis, não pode se concretizar é um diálogo diferenciado com

educadores e gestores do Programa em outros municípios, a fim de re-conhecer como as diferenças nos contextos locais podem impactar nas ações cotidianas com os jovens. Assim, os momentos para comparti-lhamento das experiências, em um tipo de formação plural e coletiva, poderia potencializar o Programa em todos os territórios nos quais ele é desenvolvido.

Os momentos de formação conduzidos e planejados pelo Cenpec compõem parte das estratégias desenvolvidas pelo PJU no GAMT para instaurar momentos de reflexão sobre a prática profissional e o impacto que uma media-ção qualificada pode surtir na formação dos jovens. Para os educadores, desvincular-se dos moldes da educação formal no cotidiano das atividades exige empatia pela metodologia do Programa, crença nos resultados a serem obtidos na formação do jovem, disposição para manter-se constantemente reflexivo sobre a própria prática profis-sional, além da observância sobre a necessária aprendizagem contínua e ressignificada todos os dias.

O trabalho reflexivo é um trabalho de linguagem, de construção, de decifração de signos, de produção de possibilidades de enunciação e não de absorção de enunciados prontos. O cerne de toda a questão educativa é que não pode fazer isso aquele educador que, ele mesmo, não se emancipou, seja na metafísica da formação, seja no mergulho indiscriminado no efêmero. É isso que está na base do que se chama “formação dos educadores”. (EDUCAÇÃO INTEGRAL..., 2013, p. 36, 37)

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Outras estratégias criadas com o intuito de oferecer espaço-temporais para formação dos educadores organizam-se a partir do preenchimento diário do Registro de Atividades, do planejamento participativo e compartilhado das ações do Programa em Caçapava, além de grupos de estudo com temas voltados à reflexão sobre juventude, participação e educação. Dessa forma, o Registro de Atividades constitui-se também como meio de avaliar o al-cance das atividades desenvolvidas através das reflexões escritas dos educadores e dos depoimentos dos jovens. A própria coleta desses relatos já institui um tipo diferenciado de relação entre educador e jovem, meio principal para fortalecimento do vínculo entre esses atores, posicionando o educador apenas como mediador da formação autônoma do jovem.

O tipo de relação que construímos no GAMT entre educadores, jovens e gestão pretende estabelecer um espaço de escuta e de diálogo e, justamente por isso, a mediação é trabalhada como forma de favorecer o desenvolvi-mento integral do jovem a partir de um contexto não hierárquico que minimize os potenciais conflitos geracionais. Esse contexto é erigido através do reconhecimento das diferenças entre os atores, das suas potencialidades e histórias de vida e pelo tipo de envolvimento a que cada ator está disposto a estabelecer com os demais atores e com o Programa.

“Regina Novaes: (...) E o diálogo exige alteridade. Se eu achar que sou igual ao jovem, não vou avançar nada. Porque a diferença é justamente o reconhecimento da alteridade, o reconhecimento de uma experiência geracional anterior de acúmulos. É uma experiência nova, inédita, porque toda experiência geracional é inédita. É uma possibilidade de diálogo que não iguala, não homogeneíza. E um não pode falar pelo outro, porque diálogo significa que um não fala pelo outro. (...) O diálogo existe para induzir que as contradições apareçam. É importante que surjam contradições entre as gerações. A partir das contradições, é possível negociar, acordar, criar regras de convivência. É isso que temos de fazer: regras de convivência que permitam que se olhe o outro, que se reconheça o outro e se reconheçam diferentes responsabilidades.” (NOVAES apud EDUCAÇÃO INTEGRAL..., 2013, p. 106).

A solidificação do papel do educador enquanto mediador e facilitador para o desenvolvimento do jovem exige que a reflexão seja o norte da atuação desse profissional, tornando-se, assim, fundamental para a formação do educador, tanto em aspectos relativos à atuação cotidiana com os jovens quanto naqueles relacionados com as experiências proporcionadas pelo Programa e que, por pressuposto, ultrapassam-no. Nesse sentido, a formação continuada contribui efetivamente para a construção desse papel a ser desempenhado pelo educador.

Durante os encontros com o Cenpec podemos destacar alguns momentos que, ao longo desses dois anos, possi-bilitaram uma formação continuada de qualidade, com a profundidade e a reflexividade necessárias à construção dessa função de mediação característica dos educadores do PJU no GAMT.

Todo início de encontro era marcado pelo relato das atividades, momento no qual os educadores apresentavam o que de fato havia sido desenvolvido com os jovens desde a última formação, relacionando as etapas de planeja-mento e execução a fim de avaliar quais os aspectos mais relevantes a serem revistos ou ressaltados.

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Esse momento é interessante, pois conseguimos avaliar junto às formadoras do Cenpec se estamos atingindo os objetivos propostos na transferência de tecnologia, bem como veri-ficar se as atividades pensadas na capacitação anterior, para serem realizadas no mês, foram executadas. (Relato de educador).

No encerramento dos encontros era reservado um tempo para a socialização do planejamento, que era elaborado pelos educadores previamente com base nas concepções de aprendizagem basilares à metodologia. Diante dos apontamentos realizados pela equipe de coordenação técnica, os educadores eram convidados a refletir sobre prazos, organização, efetividade e outros aspectos que tangenciavam as atividades a serem desenvolvidas na sequência com os educandos.

As estratégias de compartilhamento (relato de prática e socialização do planejamento) favorecem o reconhecimento do processo formativo dos jovens e dos educadores e contri-buem para dar visibilidade ao trabalho desenvolvido. Possibilita também dialogar com as formadoras o planejamento da equipe sobre as próximas ações. (Relato de educador).

Analisando os encontros e todo o processo de formação dos educadores, pode-se compreender que a coorde-nação técnica assumiu para esses os mesmos pressupostos indicados para a formação do jovem, reafirmando a lógica da homologia de processos. Assim, os educadores eram constantemente convidados a refletir sobre a própria formação, construindo de forma autônoma seu percurso no Programa, de maneira análoga àquilo que eles deveriam proporcionar aos jovens.

A lógica participativa é fundamental para o desenvolvimento das atividades com os jo-vens. Essa proposta de planejamento participativo é importante, pois incentiva o protagonis-mo da equipe e dos jovens. (Relato de educador).

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Programa Jovens Urbanos se organiza a partir de parcerias, construídas e mantidas por meio da noção de rede. Essa noção, no entanto, não se configura como um fim em si mesmo, pois a rede que o PJU visa estabelecer, mais do que apoiar a assunção de resultados positivos frente aos ob-jetivos vislumbrados, atua como pressuposto da metodologia.

Dialogando com as discussões referentes à educação e desenvolvimento integral, o Programa foi estruturado para articular instâncias de governança públicas e da sociedade civil organizada (movimentos sociais, ONGs, coletivos de juventude), assim como as demandas e desejos da “juventude”. Afinal, o contexto sociocultural que molda esses jovens e os oprime, paradoxalmente, pouco os interpela. Esse contexto invisibiliza singularidades identitárias em noções superficiais de uma juventude estereotipada que não se harmoniza com as experiências dos jovens bra-sileiros, principalmente quando os observamos pelo prisma dos marcadores da diferença condensados em raça, gênero e classe social.

Para visibilizar esses jovens e favorecer instâncias efetivas de participação social que os reconheça legitimamente como parte fundamental do diálogo, o Programa acredita que os atores e instituições emaranhados pela rede devem estabelecer uma relação igualitária, fundamentada em processos democráticos realizados em parceria e cogestão.

SOMANDO OLHARES, CONJUGANDO ESFORÇOS: O PJU EM FOCO

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Ao fomentar esse modelo de relação, de parceirização, que pressupõe divisão de res-ponsabilidades, abertura às negociações e ao trabalho conjunto, plasticidade para mudanças, inovações e adequações – ao mesmo tempo em que preserva seus fundamentos, o progra-ma afirma seu compromisso ético-político com as cidades e com os jovens. (JOVENS URBA-NOS..., 2013, p. 16)

Partindo dessa ótica, o Jovens Urbanos no GAMT implementou uma série de procedimentos e estratégias de mo-nitoramento e avaliação que visam conscientizar os atores sobre as responsabilidades a eles delegadas, chaman-do-os a participar de instâncias de acompanhamento das ações do Programa.

Compreender o alcance das ações empreendidas pelo Programa Jovens Urbanos em relação aos participantes, à equipe de profissionais envolvidas, ao GAMT ou ao contexto socioeconômico e cultural que nos cerca,

conduz a uma análise necessariamente sistêmica, pois as ações do Programa articulam-se em rede.

A realização de ações conjugadas e em rede confere legitimidade, dá suporte técnico e político e agrega capital social às instituições e atores envolvidos. A lógica de ação em rede, entendida aqui em todas as suas variações, valoriza o Programa ao conferir sustentabilidade técnica e legitimidade política. (JOVENS URBANOS, 2013, p. 15).

Cada ator ou esfera de atuação – governo, empresas parceiras, sociedade e terceiro setor - implicados no e pelo Programa são corresponsáveis pelo êxito nas ações desenvolvidas com os jovens. Cabe, no entanto, à equipe de profissionais envolvida diretamente com as atividades, assim como aos jovens por elas afetados avaliar proces-sualmente quais os avanços obtidos e os pontos que demandam revisão mais detalhada, identificando possíveis modificações na perspectiva de quem vive a experiência todos os dias, embora os demais atores não sejam exi-midos dessa responsabilidade.

OLHAR AVALIATIVO PARA O PROCESSO

PONTOS DE VISTA E FORMAS DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Para acessar os significados que o PJU possui para os participantes são necessárias estratégias de avaliação que priorizem a oralidade e a ludicidade, a fim de emergir um olhar mais reflexivo e crítico para a própria formação.

Assim, diariamente o jovem é questionado sobre as atividades desenvolvidas, ressaltando aos educadores o ponto de vista coletivo. Esta avaliação se dá em grupo e individual, por meio da tomada de depoimentos dos jovens. Es-sas impressões são apresentadas pelos educadores no documento Registro de Atividades, criado como instrumento de avaliação desde o início da primeira turma em 2013.

JOVEM

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Achei interessante. A gente viu a diferença das avenidas de SP em comparação com as avenidas de Caçapava. A movimentação das pessoas é muito diferente, o ritmo acelerado, a quantidade de gente, todo mundo correndo. Vários estilos em um só lugar. (Kelly Spir – Jo-vem Urbana 2013).

Estou achando muito interessante a experimentação de dança. Achei que só gostava de funk, eu só queria dançar funk. Mas estou vendo que não, eu não gostava de sertanejo e agora estou gostando de dançar. E também tem vários ritmos que estamos aprendendo. (Clayton Luiz de Souza – Jovem Urbano 2013)

Há também o Conselho Jovem, uma instância participativa de avaliação desenvolvida pelo GAMT como estratégia para trabalhar observação, análise, liderança e representatividade entre os jovens. As turmas elegem represen-tantes que, periodicamente, se reúnem com a gestão do Programa para avaliar as atividades desenvolvidas e apresentar propostas a serem incorporadas à estrutura do PJU.

Em relação ao conselho jovem, vejo a importância dos jovens começarem a ter res-ponsabilidades sociais e políticas, assim criando um senso crítico. (Doka Miacci – educador 2013 e 2014).

Os jovens também são convidados a participar da Oficina Avaliativa: Perfil do Jovem Urbano, um encontro total-mente lúdico planejado para acessar as opiniões dos jovens a respeito dos impactos e influências que as ativi-dades do Programa exercem sobre a formação deles. Através de metáforas e paralelos com o corpo humano, os

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Como anteriormente explicitado, os educadores preenchem diariamente o Registro de Atividades, instrumento que contribui para avaliar a qualidade das atividades desenvolvidas e a execução do planejamento. Além de

atuar como espaço de reflexão para o educador, esse instrumento fornece dados qualitativos para a avaliação de gestão, pois aglutina no mesmo documento a percepção que educador e jovem têm sobre as atividades.

EDUCADORES

participantes criam representações gráficas para elucidar as características que, na visão deles, compõem o perfil do jovem que vivencia o Programa.

O Jovem Urbano 2014 é tipo um lobo mau, tem olhos grandes para ver melhor as coisas e ouvidos grandes para escutar as pessoas e respeitar as diferenças. (Willian Monteiro Cha-ves– Jovem Urbano 2014).

Nessa oficina, os aspectos mais salientados pelos grupos, tanto em 2013 como em 2014, foram: a possibilida-de de desenvolver uma observação mais apurada da realidade que os cerca, de desenvolver talentos até então inimagináveis, abrindo novas possibilidades de escolhas profissionais e de estratégias para inserção no mundo do trabalho. Além disso, os jovens ressaltam novas habilidades associadas à comunicação, como a necessidade de trabalhar o diálogo a partir da tríade ouvir-refletir-falar.

A oficina também revelou que o PJU no GAMT tem conseguido trabalhar a autonomia e o protagonismo juvenil, uma vez que os jovens destacam que todo plano de futuro depende das escolhas e dos caminhos que percorrerem. Pautando-se no que eles identificam como maior flexibilidade para opinar sobre os temas que os implicam e mais ousadia para elaborar propostas de transformação social, os jovens reconhecem um amadurecimento ao longo do processo proporcionado pelo Programa.

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Recomendações ao Programa

O Registro de Atividades foi um instrumental criado pela equipe do PJU no GAMT para organizar as atividades e visibilizar os pontos de vista

dos educadores e dos jovens sobre elas. A forma como foi estruturado, a partir do diálogo com as concepções de aprendizagem e os eixos temáti-cos apresentados pela metodologia, favorece a formação continuada do educador e fornece informações qualitativas à gestão. É importante que os educadores reconheçam a eficácia do instrumental para que o preencham garantindo a reflexividade sobre o processo. Além disso, a gestão deve ler e sistematizar as informações deste Registro de Atividades e promover devolu-tivas sobre elas aos educadores, reforçando a importância do instrumental e favorecendo a crença do educador a respeito da validade do seu trabalho.

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A reflexão dos educadores sobre a prática profissional também se dá durante os Encontros de Formação planeja-dos pelo Cenpec, pois em meio aos conteúdos trabalhados, os profissionais do GAMT são convidados a avaliar os processos e atividades, identificando os avanços e os pontos a serem melhorados.

Penso que a atividade [cápsula do tempo], dentre outros aspectos, extrapolou o campo de história de vida individual, proporcionando algumas discussões sobre o contexto atual, como por exemplo, o avanço da tecnologia, as redes sociais e pensar qual a sociedade que queremos para 2023”. (Jaqueline Reis – educadora 2013).

Gostei de ver que os jovens, mesmo sem a presença dos educadores usaram sua autonomia para se encontrarem, estavam muito dispostos no dia da exploração [Exploração Vida na Ci-dade]. Os grupos se encontraram e a maioria dos jovens foi responsável e compareceu para o compromisso. Estavam todos empolgados e atentos às pautas estabelecidas. Foi gratificante ver toda essa mobilização. (Camila Pimentel – educadora 2014).

(...) A maior dificuldade é não interferir propriamente na escrita e o Projeto Jovem se tornar Projeto Educador/a, esse exercício de pontuar o que precisa ser melhorado sem influenciar no “jeito” do texto é difícil e atua como uma dos pilares de formação dos/as educadores/as. (Kenya J. Marcon – educadora 2013).

Acho que a sensibilização para a escolha da experimentação deve ser mais detalhada, mas conscientizamos os jovens a todo o momento para a escolha individual. (Gisele Maria Lopes – educadora 2013).

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Apesar de usarmos algumas atividades de sensibilização, como vídeo, música, eu percebi que não conseguimos envolver de forma mais contundente todos os jovens, alguns fizeram o au-torretrato, mas sem ainda entender o verdadeiro sentido. (Doka Miacci – educador 2013 e 2014).

Outra estratégia utilizada para avaliar o andamento das atividades com os jovens, bem como olhar para as ques-tões relativas à gestão do Programa é Reunião de equipe, que pode se configurar de duas maneiras. As reuniões podem ter um enfoque mais voltado ao planejamento e análise das ações ou à formação da equipe, através de leitura e análise coletiva de textos, nos moldes semelhantes a um grupo de estudo.

Avalio que o diálogo estabelecido entre o assessor e os jovens se deu de maneira muito positiva. Thiago reforçou desde o início que pretende conhecer o grupo, identificar preferên-cias e construir junto com os jovens quantas e quais apresentações serão feitas. Relatou tam-bém, que a proposta é trazer um pouco de cada gênero musical para que a turma possa expe-rimentar. Nessa perspectiva, sinto que a proposta de planejamento participativo, trabalho em equipe, respeito às diversidade jovens e ampliação de repertório tenham sido contempladas. (...) Pontuo também, a postura positiva do assessor em dar liberdade de escolha aos jovens, como por exemplo, os grupos apresentaram as coreografias que se sentiam mais seguros e as de maior identificação. (Jaqueline Reis – educadora 2013).

Em 2013, a equipe de educadores do Programa contou com duas assistentes sociais que, embora possuíssem a formação em serviço social não atuavam neste escopo. Diante da avaliação final realizada pelos educadores e

gestão no final do mesmo ano, evidenciou-se que a atuação dedicada exclusivamente às ações do Serviço Social poderia potencializar o acompanhamento dos jovens, gerando inúmeros benefícios ao Programa.

Assim, em 2014, a inserção da assistente social começou a se efetivar já no período de inscrição dos jovens, configurando, desde então, uma série de estratégias de avaliação. Houve, nesse período, Entrevista inicial com as famílias, recebimento e conferência de documentação. A partir das informações geradas nesse processo, a pro-fissional pôde avaliar o perfil socioeconômico das famílias atendidas e propor mecanismos de acompanhamento dos jovens e atendimento destes e seus familiares.

Em decorrência disso, foram realizadas Abordagens individuais e em grupo. Se individuais, os atendimentos vi-savam realizar o acompanhamento social dos atendidos, bem como o encaminhamento para a rede de serviços, fornecendo orientações diversas que possam repercutir para a continuidade do jovem no Programa e seu desen-volvimento integral. Já as abordagens em grupo focaram temas de formação dos jovens relacionados diretamente à atuação do Serviço Social a partir das concepções de aprendizagem que moldam o Programa, principalmente a exploração e a expressão.

Na minha opinião ao irmos ao Conselho Tutelar vi que as coisas não eram como eu pensava. E na exploração da casa do adolescente, pude perceber que aquele local era uma escola, e agora lá acontecem várias oficinas e essas oficinas quase não são utilizadas pelos adolescentes. (Messias dos Santos Alvarenga – Jovem Urbano 2014).

SERVIÇO SOCIAL

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O CAPS é legal porque eles abordam as pessoas que sofrem de esquizofrenia, eles vêm essas pessoas como gente normal, diferente da sociedade que por eles deixariam num manicômio. Eles oferecem varias experimentações como artesanato, kung fu, arte, música e outros, e isso é legal. (Pedro Paulo de Moura Oliveira – Jovem Urbano 2014).

Embora não seja em si uma estratégia de avaliação, o monitoramento das ausências dos jovens nas atividades e a criação de procedimentos para resgatá-los ou efetivar os desligamentos gerou um conjunto de informações para que a gestão avalie os objetivos colocados pelo Programa nas próximas edições.

Ao constatar ausências consecutivas, a assistente social entrava em contato via telefone e Facebook com o jovem, identificando as razões da flutuação. Nos casos de desligamento, adotou-se um Termo de desligamento no qual o jovem e/ou a família apontam as razões que ocasionaram a saída do jovem do Programa, além de avaliarem as atividades como um todo.

Além desse acompanhamento da frequência do jovem no Programa, a assistente social, através do Portal Gestão Dinâmica da Administração Escolar – GDAE, obtém informações sobre a frequência escolar e rendimento dos jovens que estão cursando Ensino Fundamental e Médio. Essa estratégia tem o intuito de avaliar se houve alguma melhoria nos dados a partir da inserção do jovem no Programa, comparando a evolução do primeiro ao último bimestre. Em 2014 será a primeira vez que esse tipo de avaliação ocorrerá, assim que os dados forem totalmente disponibilizados no sistema.

Em relação à gestão do Programa no GAMT há momentos nos quais a avaliação se dá a respeito dos próprios processos, em outros a gestão organiza documentos e relatórios que geram dados avaliativos para os parceiros

e, por fim, há casos em que esta avaliação é designada para instâncias e instituições externas ao Programa.

GESTÃO, PARCEIROS E REDE

Recomendações ao Programa

As ações de acompanhamento realizadas pelo Serviço Social junto aos jovens consolida um tipo diferenciado de relação entre profissional e

educando, favorecendo um espaço de escuta e diálogo somado àquele que os jovens estruturam cotidianamente nas atividades com os educadores. O tipo de abordagem adotado com os jovens e as suas famílias cria vínculos de confiança que equaliza a relação. Além disso, o monitoramento sobre a assiduidade dos jovens e as razões que os levam ao desligamento ficou mais organizado desde a criação dos procedimentos colocados pelo Servi-ço Social, gerando dados para a avaliação dos educadores e da gestão.

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No que se refere aos processos inerentes ao Programa, a gestão recebe e analisa o Registro de Atividades, preen-chido pelos educadores, o Relatório dos Assessores Tecnológicos que desenvolvem as experimentações com os jovens, além de coordenar os encontros do Conselho Jovem.

Conseguimos atingir quase todos os objetivos da Oficina, tanto no que diz respeito à formação quanto à produção. Isto é, a dimensão formativa (conceitual e teórica) foi acompa-nhada de debate / discussão com os alunos e construímos os produtos previstos (exposição fotográfica e vídeo-documentário). De início foi um pouco difícil pelo fato de não conhecer-mos os educandos, mas fomos adquirindo intimidade e entrosamento, o que possibilitou a realização de um ótimo trabalho. (Diana Costa Poepcke e Diego Ferreira Valladares Soares – Assessores Tecnológicos em 2013)

Além disso, periodicamente a gestão elabora e envia relatórios aos parceiros do Programa e ao Cenpec, respon-sável pela coordenação técnica. Nesses relatórios são apresentadas as informações referentes às atividades, além de dados quantitativos necessários para que cada instituição parceira possa avaliar, como preferir, o retorno do subsídio fornecido ao Programa.

A comunidade em geral, assim como as famílias dos participantes são convidados ao longo do Programa para prestigiarem os Encontros Públicos, momentos nos quais os jovens apresentam seu percurso no PJU, seja enfatizan-do as explorações vivenciadas, as experimentações ou intervenções realizadas no território.

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O encontro público é importante, pois estabelece a responsabilidade do compartilha-mento, é uma abertura pública do processo de vivência e experimentação para com a or-ganização do GAMT e demais convidados. (...) gostaria de parabenizar a equipe do GAMT/Programa Jovens Urbanos pelo trabalho que vem sendo desenvolvido na região, de enorme importância, por trabalhar a liberdade criativa, o sentido da experimentação artística e da constante descoberta desse vasto conhecimento de repertórios culturais que habita dentro de nós. (Sérgio Ponti - Assessor Tecnológico em 2014)

Os parceiros também têm a possibilidade de realizar a avaliação do Programa em contato direto com os jovens durante a Banca de Projetos Jovens e no Conselho de Acompanhamento. Este último é uma instância participativa de monitoramento, consulta e avaliação composta por um conjunto de atores voltados à discussão e condução de programas, projetos e políticas voltados à juventude.

Achei que foi muito importante ter essa experiência da banca, pois posso utilizar isso mais pra frente. Foi muito legal, pois vimos o retorno e o reconhecimento do nosso trabalho. E con-seguimos ter o resultado que esperávamos. (Breno de Almeida Leão – Jovem Urbano 2013).

Como patrocinador estou muito feliz e realizado com a turma, o fruto do Jovens Urbanos culmi-nou em ideias bacanas que serão implementadas. (Daniel Pengo – representante da Petrobras).

Como o Conselho de Acompanhamento é aberto à participação, torna-se, assim, uma importante ferramenta para avaliar a articulação da rede local e o papel que o GAMT pode desempenhar enquanto força aglutinadora na Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Contribui para esse ponto específico de avaliação, a relação que o GAMT possui com os meios regionais de comunicação, pois ao visibilizar o Programa e seus par-ceiros, as matérias publicadas e as entrevistas concedidas ampliam as possibilidades de articulação.

Acho que o principal desafio é exatamente esse, não pensar que nós temos uma meto-dologia pronta e acabada que serve para qualquer espaço, mas reconhecer as características, as necessidades, as particularidades da cultura local e pensar quais são as possibilidades de adaptação, de integração. Mais do que adaptação é preciso que o Programa realmente se integre e se articule com a organização que vai desenvolver e com o território e a realidade onde atua. (Anna Helena Altenfelder – Superintendente do Cenpec).

Como mecanismo de avaliação e aprimoramento contínuo da metodologia do PJU, a Fundação Itaú Social, através do Instituto Fonte, está desenvolvendo uma Avaliação Complementar Qualitativa sobre as ações do Programa. Entre os quatro focos em questão, um deles refere-se à transferência de tecnologia aos moldes de franquia, estabe-lecida entre GAMT, FIS e Cenpec.

Por fim, o GAMT recebeu apoio da Fundação Itaú Social para realizar uma Avaliação de impacto com as turmas do PJU de 2013 e 2014. Totalmente gerenciada por essa fundação, a avaliação busca compreender como o Programa Jovens Urbanos em Caçapava pode impactar na realidade dos jovens atendidos. Focando dados de empregabilidade, renda, educação, leitura e participação em organizações sociais, esta avaliação iniciou-se em agosto de 2014 e está prevista para ser finalizada em 2015.

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ALVES, Rubem. “Escutatória”. Originalmente publicado em Correio Popular de 04/09/1999. Disponível em <http://www.rubemalves.com.br/10mais_03.php> . Acesso em Março 2014.

BONDÍA, Jorge Larrosa. “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” In: Revista Brasileira de Educa-ção, nº 19. Campinas: 2002 pp. 20-28 . Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttex-t&pid=S1413-24782002000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em Março 2014.

BOURDIEU, Pierre. “A ‘juventude’ é apenas uma palavra” In: Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

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LOMONACO, Beatriz Penteado & SILVA, Letícia Araújo Moreira da. Percursos da educação integral em busca da qualidade e da equidade. São Paulo: CENPEC: Fundação Itaú Social – Unicef, 2013.

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REFERÊNCIAS

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Iniciativa: Fundação Itaú SocialCoordenação Técnica: Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec)Apoiadores e parceiros: Fibria, Instituto Votorantim, Instituto EDP, Petrobras, Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social de CaçapavaGestão e execução: Grupo de Assessoria e Mobilização de Talentos (GAMT)• Presidência: Alessandra Maria Ribeiro da Luz• Secretaria executiva: Paulo Roberto Ribeiro da Luz• Coordenação geral de projetos: Cassios Clei Pinheiro Nogueira• Coordenação do Programa Jovens Urbanos: Fredy Matos Rebouças• Serviço Social: Jaqueline Reis• Assessoria de Imprensa: Maria BernardinoEducadores:• Camila Pimentel• Doka Miacci• Gisele Maria Lopes• Jaqueline Reis• Kenya J. MarconOrganização, sistematização e textos: Kenya J. MarconProjeto e Produções Gráficas: Revistaria EdiçõesFotografias: Acervos Núcleo Diaporama de Comunicação (NDC - GAMT) e Programa Jovens Urbanos 2013 e 2014 - GAMT

FICHA TÉCNICA

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