arte visual comunista (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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ARTE VISUAL COMUNISTA Alberto Gawryszewski Coleção História na Comunidade – volume 4 imprensa comunista brasileira, 1945-1958

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Uma publicação do Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem (LEDI), do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina. (Coleção História na Comunidade, v.4)

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Page 1: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

ARTE VISUAL COMUNISTA

Alberto Gawryszewski

Coleção História na Comunidade – volume 4

imprensa comunista brasileira, 1945-1958

Page 2: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

Coleção História na Comunidade

volume 4

ARTE VISUAL COMUNISTAimprensa comunista brasileira, 1945-1958

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ReitoraProfa. Dra. Nádina Aparecida Moreno

Vice-ReitoraProfa. Dra. Berenice Quinzani Jordão

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduaçãoProf. Dr. Mário Sérgio Mantovani

Pró-Reitora de ExtensãoProfa. Dra. Cristianne Cordeiro Nascimento

Pró-Reitor de EnsinoProf. Dr. Ludoviko Carnascialli dos Santos

Diretor do Centro de Letras e Ciências HumanasProfa. Dra. Mirian Donat

Chefe do Departamento de HistóriaProfa. Dra. Edméia Ribeiro

Coordenador do LEDiOrganizador da Coleção História na ComunidadeProf. Dr. Alberto Gawryszewski

Agradecemos:

• Ao CEDEM/UNESP pela disponibilização do acervo, em especial ao funcionário Luis Alberto Zimbarg;• Aos funcionários da Biblioteca Nacional, em especial do Setor de Periódicos e da Divisão de informação Documental;• Aos funcionários da Divisão de Arquivo e Microfilmagem da UEL: Antonio Edson Menusso, Pedro Raimundo de Souza, Márcio Máximo Santo Agostinho, Roderley Rodolfo Santini• Pela cessão de imagens:

– Juliana Dela Torres (Momento Feminino);– Rodrigo Rodrigues Tavares (A Classe Operária).

Page 4: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

Alberto Gawryszewski

Universidade Estadual de Londrina

Londrina • 2010

Coleção História na Comunidade

volume 4

ARTE VISUAL COMUNISTAimprensa comunista brasileira, 1945-1958

Page 5: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

Uma publicação do Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem (LEDI), do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina

Copyright© do autor

Capa e editoração: Humanidades Comunicação Geral

imagem da capa: Revista Esfera, dezembro de 1948, p.19. Autoria de Quirino Campofiorito

imagem da contracapa: Tribuna Popular, 11/09/1946, p.5. Sem assinatura

Tiragem: 1000 exemplares

Distribuição gratuita. Venda proibida.

Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CiP)Catalogação elaborada pela Bibliotecária Roseli Inacio Alves – CRB 9/1590

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Feito depósito legal na Biblioteca Nacional

I31 Arte visual comunista: imprensa comunista brasileira, 1945-1958 / Alberto Gawrysewski. - Londrina : Universidade Estadual de Londrina / LEDI, 2010. (Coleção História na Comunidade, v.4) 90 p. : il.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7846-065-5

1. História – Brasil. 2. Comunismo – Brasil. 3. Imprensa comu-nista – Brasil. 4. Imagem – História. 5. Arte visual. I. Gawrysewski, Alberto.

CDU 930.1:77

Page 6: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

Apresentação

Introdução

Imprensa Comunista

Uso de Símbolos e Formas na Defesa e no Combate

Os Heróis da “Causa Operária”

Cotidiano, Organização e Festas

Referências bibliográficas

Sumário

6

11

25

39

89

63

7

Page 7: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

6

ApRESENTAçãO

A publicação deste quarto livro, integrante da coleção História na Comunidade, é a continuidade da realização de um desejo: dar transparência às atividades científicas produzidas pelos professores da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em especial do Departamento de História, que participam do Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem (LEDi). Objetiva também possibilitar um diálogo entre o saber científico e a comunidade.

Em agosto de 2006, foi criado no Departamento de História da UEL, na forma de projeto integrado (pesquisa/extensão), o LEDI. Em quatro anos de existência, este tem desenvolvido diversas atividades relevantes, entre elas podemos apontar: a realização do i e ii ENEiMAGEM (Encontro Nacional de Estudos da imagem); a publicação da revista semestral Domínios da Imagem – http://www2.uel.br/cch/his/dominiosdaimagem/; cursos de extensão e a futura realização, em maio de 2011, do III ENEIMAGEM (www.uel.br/eventos/eneimagem).

Em 2008, o LEDI teve aprovado seu projeto junto ao PROEXT/2008- Programa de Extensão Universitária (ProExt Cultura), um programa dos Ministérios da Cultura e da Educação, realizado com a colaboração da Fundação de Apoio à Universidade Federal de São João Del Rei (FAUF), o que possibilitou o início da coleção História na Comunidade e a realização de exposições e produção de vídeos.

Tivemos, ainda em 2008, a grata notícia da aprovação de nosso projeto junto ao Conselho Nacional Científico Nacional (CNPq), no Edital MCT/CNPq nº 42/2007 - Difusão e Popularização da C&T, com o qual daremos continuidade à coleção História na Comunidade, das exposições e da produção de vídeos. Para este projeto, partimos da afirmação contida nas Diretrizes Curriculares para o Ensino da História na Educação Básica, o que diz que as imagens, livros, jornais, fotografias, filmes etc. são documentos que podem ser transformados em materiais didáticos de grande valia na constituição do saber histórico.

Os documentos possibilitam a reflexão e a construção de conceitos sobre o passado e permitem a formulação de questões sobre os conceitos já constituídos. Compreendemos a imagem como importante instrumento/documento para a formulação do conhecimento histórico. Na realidade, ela pode ser a mediadora desse conhecimento. Assim, o projeto proposto atua em duas frentes: primeira, proporcionar ao aluno um novo olhar sobre as imagens, não como mera ilustração, mas rica de conceitos e interpretações; segunda, ajudar o professor a trabalhar com a imagem como instrumento de ensino e como fruto de uma criação humana repleta de significados.

Este material pode ser copiado, no todo ou em parte, devendo ser nomeada sua fonte. O download dos textos poderá ser realizado pela página do LEDI (http://www.uel.br/cch/his/ledi/), bem como dos vídeos produzidos e das imagens que compõem a exposição Arte visual comunista.

Prof. Dr. Alberto GawryszewskiCoordenador da coleção

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INTRODUçãO

Este trabalho é, em parte, fruto de meu pós-doutoramento em História

Social na UFRJ, com orientação do professor Renato Lemos, sob o título A

caricatura e a charge política na imprensa comunista - 1945/57 e da pesquisa

Caricaturando e Ilustrando: O desenho político na imprensa comunista (1945-

57), que contou com o apoio financeiro do CNPq (Edital no. 32/2004).1 Nessas

ocasiões, coletamos juntos aos periódicos do Partido Comunista do Brasil

(PCB) cerca de cinco mil imagens, sobre os mais diversos temas. O relatório

final do pós-doutoramento foi dividido em cinco partes. Na primeira parte,

buscamos desenvolver os conceitos de caricatura, especialmente, e de charge,

de suas origens à atual posição dos estudiosos. Desdobramos estes conceitos

em caricatura política, especialmente, e charge política. Esta versão foi revista e

publicada na revista Domínios da Imagem, na qual propomos uma nova visão

sobre os conceitos de caricatura e charge política: quando se tratar de fontes

retiradas de imprensa engajada, produzidas por artistas engajados, o melhor

conceito seria de charge ideológica e caricatura ideológica.

Na segunda parte, estudamos a imprensa comunista brasileira, em

especial a produzida na cidade do Rio de Janeiro, ou seja, em como ela estava

inserida em um projeto político-pedagógico do Partido Comunista. A sua

concepção de possuir a “verdade”, de querer conduzir as massas populares para

a “revolução”, de guiá-las, de instruí-las, de tirar de suas cabeças as confusões

e fazer as análises necessárias, dar as explicações compatíveis com seu ideário

político, as notícias, os editoriais e as imagens (incluindo aqui as caricaturas

e charges) funcionavam como um importante suporte. Da mesma forma que

fornecia e criava seus mitos, o Partido procurava destruir as mensagens e as

imagens de seus inimigos. Adjetivos pejorativos (“entreguista”, “lacaio”, “vende-

pátria”, “fascistas”, “ianques”, “trostkistas” etc.) foram fartamente usados por

esta imprensa para qualificar aqueles de quem divergia politicamente. Buscamos

compreender seu alcance popular, sua estrutura financeira e suas relações entre

militantes, redatores e o Comitê Central. Esta parte foi revista e compõe o

primeiro capítulo deste livro.

Na terceira parte, partimos para o estudo da construção de um

imaginário comunista em relação ao governo Dutra. Na quarta parte, o político

visado pelo Partido Comunista Brasileiro foi Getúlio Vargas. Foi um dos mais

retratados, nas páginas da imprensa do partido. Em um momento político de

grande radicalização (pós-50), o PCB - regido pelo “Manifesto de 50” e pelo

1 Veja outras produções em http://www2.uel.br/cch/his/ledi/pesquisas.htm.

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iV Congresso - queria derrubar o governo por meio da criação de um exército

popular. Foi um período fértil de lutas políticas, em que as caricaturas e as

charges passaram a ser mais um importante componente. Trechos desta parte

podem ver vistos no decorrer deste livro.

A quinta parte enfocou a questão da crise interna do PCB devido à

divulgação do relatório secreto de Krustchev. Após este, muitos questionamento

passaram a ocorrer entre os militantes e simpatizantes do Partido. Dogmas

sagrados foram postos à prova: o culto à personalidade (Stálin e Prestes); a

verdade partidária, a política do “prato feito” (cópia às determinações dos

congressos do PCUS) etc. A luta pela democratização do Partido e pela

efetivação de uma direção coletiva foram apresentados de forma contundente

pelos militantes. Tudo isto pode ser acompanhado pelas charges políticas que,

inteligentemente, foram usadas pelo Redator do jornal Voz Operária. O uso das

charges de autores estrangeiros mostrou que o debate era mundial, não apenas

localizado.

Na última parte, buscamos compreender a construção do imaginário

comunista frente às questões externas, ou seja, sobre temas internacionais, que

não passavam por decisões internas. Os temas que optamos em trabalhar foram

o Imperialismo (e suas formas de expansão), a Guerra da Coreia e a “Campanha

Mundial pela Paz”. Trechos desta parte poderão ver visto neste livro.

No decorrer do período do fim do pós-doutoramento até hoje (2010),

continuamos a estudar o discurso da imagem e a orientar trabalhos sobre o

tema. Em fins de 2009, concluímos uma versão deste trabalho. Mas, diante das

possibilidades apontadas e das dúvidas apresentadas, resolvemos rever esta

versão. O grande problema de escrever um trabalho deste tipo é a variedade

de cortes, escolhas de temas e imagens. Se pensarmos no limite imposto pelo

número de páginas dos livros que compõem a coleção História na Comunidade

(80 páginas) a situação se complica. O que colocar e deixar de fora?

Deixamos de fora no que se refere à questão imagética e conceitual: a

História do PCB, em especial com sua fase legal e sua organização eleitoral;

a discussão teórica sobre o conceito de charge política e caricatura política

e nossa proposta do conceito de charge ideológica e caricatura ideológica; a

guerra de Porecatu (PR); a Campanha do Petróleo; as formas de trabalho sob

a ótica dos artistas comunistas; a Guerra Fria; o uso intensivo das Histórias

em Quadrinhos e o discurso ideológico, combatendo-as enquanto produto a

serviço dos interesses estadunidenses; as imagens dos políticos entre outras.

Algumas questões estão presentes por serem obrigatórias, tais como: o

“culto à personalidade” de Prestes e Stálin; a discussão da reforma agrária; a

heroína Olga Prestes; e a luta sindical contra o pelego, incluindo a questão do

Primeiro de Maio.

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9

O número de artistas brasileiros e estrangeiros que pudemos encontrar

nas páginas da imprensa comunista foi muito grande. Podemos citar como

principais: Paulo Werneck, Arydio Cunha e Jorge Brandão, Maria Helena e Leda

Sá. Outros que apareceram com certa frequência: Quirino Campofiorito, Hilda

Campofiorito, Carlos Scliar, Edíria, Toledo, Ramiro, Pedrosa, Dan, Augusto

Rodrigues e Percy Dean. Com menos frequência: Portinari, Virgina Artigas,

Renina Katz entre outros. Do estrangeiro podemos citar: Gutuso (Itália),

Miltelberg (França), Gropper (EUA, com muitas charges) entre outros. Sem

falar em militantes que enviavam desenhos isolados. Enfim, uma quantidade

enorme de imagens (variando em sua forma de criação e suporte) e de artistas.

Portanto, a dimensão da pesquisa e o limite imposto por esta publicação nos

obrigaram às opções relatadas.

Vários intelectuais, inclusive o líder comunista Luiz Carlos Prestes,

escreveram artigos, publicados na imprensa comunista, pedindo a união dos

artistas “democratas” em torno da causa de uma arte que ajudasse a fortalecer

cultural e politicamente o povo brasileiro. Os artistas deveriam produzir a

arte do povo, com suas lutas e conquistas. O trabalhador, o comunista, o

sindicalista, o lutador pelas causas populares deveria expressar orgulho em

sua luta, expressar confiança e ser vitorioso. Aqui está se falando, sobretudo,

da produção artística: pintura, gravura, caricatura, teatro, cinema, poesia,

romance etc.

O período aqui estudado (1945-58) foi influenciado pelo chamado

“realismo socialista” vindo da União Soviética. Na verdade foi mais uma

orientação do que uma influência. Os temas das ilustrações, dos poemas, dos

romances entre outras produções artísticas e literárias enfocavam o cotidiano

urbano e rural, com seus problemas, lutas e, principalmente, conquistas. A

leitura da imagem ou do texto tinha que conduzir a um momento de otimismo,

de êxtase. A vitória era a meta final. Entretanto, uma observação atenta às

imagens produzidas pelos artistas comunistas ou engajadas faz-nos perceber

mais uma arte “crítico-social”, sem a ênfase na vitória. Estão mais voltadas à

narração da miséria, das dificuldades da vida do que a uma condução à luta,

isto é, tem um caráter mais de denúncia do que de propor organização (talvez

possamos excetuar muitas imagens ligadas ao movimento operário e às lutas

camponesas). No decorrer deste livro, o leitor poderá verificar as temáticas e as

imagens voltadas ao “realismo socialista” e/ou ao “crítico-social”.

A bibliografia utilizada foi composta pelos periódicos publicados

pelo PCB (diários, quinzenais e mensais), voltados para os mais diversos

segmentos: sindical, feminino, cultural, para o público em geral, entre outros.

Foi possível com tal material obter as imagens, os discursos dos membros do

Comitê Central, das propostas voltadas à área da cultura e da organização

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popular. Sobre o estudo da imagem comunista como fonte histórica existe,

além de nossa pesquisa, a Tese de doutoramento de Rodrigo Tavares (2010)

e a Dissertação de mestrado de Juliana Dela Torres (2009). Esta desenvolveu

pesquisa voltada sobre a imagem da mulher na imprensa comunista estudando

o período 1945/57. Rodrigo Tavares fez um trabalho mais amplo, seja temporal,

seja temático. Estudando o período de 1945-64, fazendo incursões na produção

imagética dos anos 1920 aos 1960. Entretanto, o período mais estudado foi dos

anos da legalidade (1945) ao golpe militar (1964). Trata-se, portanto, de um

trabalho bem amplo sobre o PCB, utilizando-se das imagens como fonte e como

importante componente de análise.

Este livro está dividido em quatro capítulos que se relacionam. O

primeiro capítulo é sobre a imprensa comunista, já comentado em parte acima.

O segundo capítulo é sobre o uso dos símbolos e das formas na defesa e no

combate ideológico travado entre a esquerda e a direita com uso das imagens

obtidas na imprensa comunista. O terceiro capítulo trata-se dos heróis da

“causa operária”. Logicamente estamos falando de Stálin e “La Passionária”, no

campo internacional, e Luiz Carlos Prestes e Olga Benário, no campo interno.

Mas, além destes obrigatórios, foram selecionados alguns outros mártires: a

estudante e militante Zélia Magalhães e a tecelã e militante Angelina. As imagens

do “Bem”, representado pelos comunistas, contra o “Mal”, representado pelos

capitalistas, estão presentes, em especial, na causa da paz. Por fim, a militante

Elisa Branco, presa por estender uma bandeira brasileira em desfile de sete de

setembro contra o envio de tropas brasileiras para a Coreia.

O último capítulo, de maior formato, buscou-se, por meio das imagens

contidas na imprensa comunista, mostrar: alguns problemas enfrentados no

cotidiano da população brasileira (alimentação, transporte coletivo, moradia,

saneamento básico, custo da vida e inflação); a atuação das organizações

sindicais, suas lutas e as repressões patronais e governamentais; os movimentos

pela posse da terra e condições de vida do camponês e, por fim, as festividades

envolvendo os militantes em campanhas de integração, arrecadação de dinheiro

etc. Neste item, há destaque para o Primeiro de Maio.

Como já foi escrito em linhas passadas, muito se deixou de discutir e

mostrar. imagens que não compõem este livro poderão ser visualizadas na

exposição Arte visual comunista e no vídeo de mesmo nome. Mesmo este

conjunto deixará de fora um grande número temas e questões. isto mostra

a importância e a dinâmica da produção visual comunista neste período

(1945-58). Esperamos que ajude a instigar novas aventuras neste campo

historiográfico e neste tema.

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IMpRENSA COMUNISTA

Introdução

O objetivo deste capítulo é compreender, em especial nas palavras

dos dirigentes comunistas, as razões do surgimento da imprensa

comunista no pós-guerra. Este texto vai apresentar a trajetória desta

imprensa entre os anos de 1945 e 1958. Assim, dados numéricos sobre

a produção da imprensa comunista, as mobilizações em torno dela

(festas, campanhas etc.), o financiamento, e a repressão sofrida entre

outras questões poderão ser vistas adiante.

A imprensa comunista

Na imagem acima, podemos visualizar vários títulos de jornais.

Neles verificamos diversas coisas: o uso comum da expressão povo; a

busca de uma identidade (A Classe Operária, Tribuna Popular, Jornal

do Povo, O Trabalhador, Voz do Povo); sua expansão geográfica

(Goiás, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, São Paulo – Hoje, Bahia

– O Momento, Rio de Janeiro – Tribuna Popular, entre outros).

Conhecendo um pouco do tema, pode-se acrescentar outro aspecto,

o nacional: A Classe Operária, Voz Operária e o Momento Feminino

tinham distribuição para todas as capitais estaduais, entretanto, não

eram diários.

Tribuna Popular, 01/05/1952

Page 13: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Arte Visual Comunista

A partir de 1945 o Partido Comunista do Brasil (PCB),

recentemente colocado na legalidade, depois de 10 anos de repressão

política empreendida pelo governo de Getúlio Vargas, deu início à

construção de uma vasta rede de publicações nacionais e regionais,

revistas, romances, discursos, clássicos do marxismo (Lênin, Marx etc.),

jornais e panfletos. Tal rede foi chamada de Imprensa Popular.

O tamanho da produção jornalística e cultural do PCB não é de

fácil quantificação e tem gerado controvérsias entre os pesquisadores.

Moraes (1984, p.65) apresenta, para o ano de 1945, o total de

oito jornais diários nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul,

Pernambuco, Ceará, Espírito Santo e no Distrito Federal. Rubim (1986,

p. 180, 352) afirma que entre 1945 e 1964, o PCB possuía as livrarias

Itatiaia e Das Bandeiras, em São Paulo, a agência Farroupilha, em

Porto Alegre, Popular, em Salvador, e Independência, na cidade do

Rio de Janeiro. Além das editoras Vitória e Presença, contava com a

simpatia da editora Calvino.

Em pesquisa junto ao Arquivo do Estado do Rio de Janeiro

(fundo DOPS – Departamento de Ordem Política e Social), localizamos

um relatório sobre a imprensa comunista em papel timbrado do

Departamento Federal de Segurança Pública, do Ministério da Justiça

e Negócios do interior. No qual dizia: “A imprensa vermelha conta

no país com cerca de 25 jornais, 07 revistas e 100 panfletos – estes

custeados pelas comissões das categorias profissionais que os editam”.1

Embora não datado, o relatório descreve os anos 1950, dando uma

visão da dimensão da imprensa comunista e chamando a atenção para

um dado importante: a publicação profissional controlada por esse

partido político. Afirma também possuir o PCB duas casas editoriais

e uma agência noticiosa, a Interpress. Esta última adquire um papel

fundamental em nossa pesquisa, pois é ela que vai distribuir aos

jornais e revistas comunistas brasileiros as charges e desenhos políticos

produzidos em todo o mundo, em especial, na imprensa comunista

mundial.

Já em 1922, ano de sua fundação, o PCB encarou a imprensa

como um importante instrumento de divulgação de suas propostas e

1 Dossiê PCB, Pasta 3B, folha 613.

Page 14: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Imprensa Comunista

metas, de sua ideologia e ditames do Comitê Central. Tal modelo estava

baseado em três pressupostos: a) educar as massas para elevar o nível

de consciência política; b) organizar os setores mais combativos da

classe operária em torno do partido; e c) propagar a linha ideológica.

(MORAES, 1994, p. 63).

Ao obter sua legalidade, voltou-se para reorganizar e expandir

sua imprensa. A leitura dos editoriais e manifestações dos dirigentes do

PCB, em especial de Luiz Carlos Prestes, publicados por essa imprensa,

ajuda a compor esse quadro. O jornal diário Tribuna Popular, chegou

às bancas em 22 de maio de 1945, editado na cidade do Rio de Janeiro.

Neste número, na primeira página, é possível encontrar uma carta do

dirigente máximo e herói comunista Luiz Carlos Prestes em que dizia

que este jornal era uma demanda do povo para representá-lo e denunciar

os males pelos quais passava. Nesta missiva, acompanhada pela foto

do líder, incluía outros escritos interessantes: “Saúdo [...] o advento

em nossa terra de uma nova imprensa – a imprensa popular capaz de

esclarecer, orientar e unir o nosso povo no caminho da democracia e do

progresso.”2 A referência aqui não é somente ao jornal mas a Imprensa

Popular, ou seja, a nova rede de jornais que, ao contrário da então

existente (que ironicamente a imprensa comunista chamava de “sadia”),

seria um espaço para o povo propor e resolver os seus problemas. Mas a

orientação “correta” seria dada pelo PCB.

Em seu editorial, intitulado O jornal que o povo espera,

expressava:

Nosso jornal chega na hora certa. Chega quando o povo necessita de uma

tribuna a que possa assomar com a sua voz clara e firme, e através da

qual receba mais diretamente a palavra orientadora de seus guias. Jornal

que quer ser companheiro, amigo de todos, sem outro desejo que o de

falar a verdade, esclarecer dúvidas, pôr fim a confusões, indicar o rumo

seguro das aspirações comuns dos brasileiros [...].3

Claro está que o papel da Tribuna Popular (e das demais

publicações que compunham a Imprensa Popular) era, na perspectiva

do partido, de esclarecer as dúvidas do povo, de pôr a cabo as confusões

2 “A saudação de Prestes”. In: Tribuna Popular, 22/05/45, p.01.3 “O jornal que o povo esperava”. In: Tribuna Popular, 22/05/45, p.03.

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14

Arte Visual Comunista

existentes nas mentes dos brasileiros,

enfim, de orientar, conforme as palavras

de seus guias (certamente os membros do

Comitê Central do PCB, de Prestes – “guia

de todos os brasileiros” – e de Stálin – “guia

de todos os povos”), de dar rumo a um povo

perdido e desorientado, de defendê-lo de

seus inimigos, que na visão do PCB seriam os integralistas, fascistas,

falsos democratas, trotskistas etc. A imagem ao lado deixa entrever que

o imperialismo alimentava não só a imprensa “sadia” como também o

anticomunismo.

Em 31 de março de 1946, circulou em Salvador o primeiro

número de O Momento. Em sua primeira página foi publicada uma

carta de Prestes saudando o surgimento do jornal. Nesta carta, que

já anunciava o início do radicalismo que se romperia em 1947/8,

novamente se contrapunha a uma imprensa vendida, contra a qual

surgia uma “verdadeira”, “autêntica”, “popular” e “esclarecedora” das

necessidades do povo brasileiro.

Saúdo o aparecimento do diário do proletariado e do povo da Bahia. [...] O

Momento deverá ser a mais autêntica voz do povo no desmascaramento

dos traidores da pátria, agentes do capital colonizador estrangeiro, no

esclarecimento das grandes massas trabalhadoras e populares, pondo

a nu a verdadeira face dessa imprensa vendida, que vive a soldo dos

senhores estrangeiros. O povo e o proletariado da Bahia saberão apoiar

o seu diário, saberão fazer dele sua trincheira e sua tribuna. (apud,

FALCÃO, 1988, p.311).

Em 25 de julho de 1947 foi às bancas pela primeira vez o jornal

Momento Feminino. Este era editado por mulheres comunistas, mas

se apresentava com um caráter pluripartidário e feminista. Diante de

seu público alvo, continha em suas páginas os clássicos artigos sobre

corte/costura, culinária, psicologia infantil e escolar etc. Entretanto,

frente ao seu caráter feminista e político possuía também reportagens

sobre custo da vida, problemas do cotidiano: (filas, aquisição de gêneros

alimentícios, o trabalho fora e no lar etc.), luta feminina, entre outros

assuntos. Na citação a seguir, podemos entender que o Momento

A Classe Operária, 25/01/1947

Page 16: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Imprensa Comunista

Feminino tinha como intenção “esclarecer” as dúvidas de todas as

mulheres brasileiras. Vejamos:

Precisamente quando avultam os problemas do povo brasileiro e sua

solução econômica encontra obstáculos cada vez maiores, aparece

Momento Feminino, órgão de luta auxiliar de todas as mulheres para

cumprir uma tarefa no seio da coletividade brasileira para ajudar o

erguimento intelectual, político e econômico em nossa pátria.4

Grabois, outro importante dirigente do PCB, quando do

aniversário do semanário A Classe Operária, em 1951, na fase do

radicalismo do Manifesto de Agosto, em que defendia a luta armada

contra o governo estabelecido pelas urnas, afirmou: “A Classe

Operária é um instrumento dos mais importantes para a educação

revolucionária dos operários e assalariados agrícolas para a liquidação

do espontaneísmo em suas lutas, para a estruturação das células que

reforçarão de maneira decisiva as bases partidárias”. (apud, MORAES,

1994, p. 68). Tal “espontaneísmo” era inconcebível dentro de doutrina

stalinista do PCB, pois aqueles deveriam seguir os ensinamentos e

direcionamentos de seu líder Prestes e, portanto, de seu partido. A

expressão “revolucionária” encaixava-se na proposta de luta armada

que então levava a cabo contra um governo que considerava de “traição

nacional e parceiro do imperialismo estadunidense”.

Quanto às publicações das revistas, Floriano Gonçalves assim

descreveu a função destas:

Hoje dispomos de revistas literárias e de divulgação cultural em

cinco grandes Estados: Para Todos, Fundamentos, Horizonte, Seiva e

brevemente Itinerário [...] Cada uma destas revistas [...] deverá ser o

centro aglutinador dos intelectuais democratas e das forças jovens que

procurem orientação justa e correta em torno do programa de defesa

da independência nacional e da paz. Nossas revistas nos Estados devem

unir-se uma às outras para formar ampla rede e refletir nacionalmente

uma cultura revolucionária em desenvolvimento, com novos valores e

novas perspectivas, uma cultura do ponto de vista da classe operária e

que traduza o interesse das amplas massas que lutam pela paz e pela

4 “Nossos problemas”. In: Momento Feminino, 25/07/47, p. 02.

Page 17: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Arte Visual Comunista

libertação nacional no jogo dos imperialistas forjadores de guerra e de

seus sócios nacionais. (apud MORAES, 1994, p.143).

O jornal A Classe Operária defendeu a aglutinação dos

intelectuais democratas, aqueles que pensassem a cultura revolucionária

em desenvolvimento, que lutavam pela paz mundial e pela libertação

nacional do imperialismo ianque. Assim, cristalino está o objetivo

principal apontado pela própria imprensa comunista, do papel que

deveria exercer sobre a população leitora e sobre os próprios produtores

culturais, que deveriam produzir a arte do povo, com suas lutas e

conquistas (realismo socialista)

O jornal Tribuna Popular, diário editado na cidade do Rio de

Janeiro (como Hoje, na cidade de São Paulo; O Momento, em Salvador,

entre outros), trazia em seu conteúdo, editoriais e colunas de pensadores

alinhados com o PCB, notícias do cotidiano do cidadão, problemas com

o transporte, alimentação etc.; das lutas dos setores organizados da

população, sindicatos, associação de moradores etc.; seções culturais,

de cinema e teatro, esportiva e de carnaval (no caso do Rio de Janeiro).

Os periódicos não diários, como a Voz Operária e A Classe

Operária, adquiriram um sentido mais programático. Possuíam

muitos artigos da direção do PCB e os mais diversos possíveis, mas com

conteúdo político e cultural. As lutas cotidianas dos trabalhadores, as

greves, postura contra as políticas econômicas e trabalhistas do governo

aí encontravam espaço privilegiado.

As revistas políticas e culturais como Fundamento, Seiva e

Horizonte entre outras, seguiam a linha de propagação do ideário

marxista-leninista-stalinista. Artigos dos dirigentes do partido e de

intelectuais com eles afinados, transcrição de artigos de pensadores

estrangeiros, em especial da URSS, lá eram encontrados. Propostas de

políticas culturais a serem produzidas pelos artistas comunistas estavam

ali posicionadas. Análise da situação econômica e política nacional, das

condições de vida no campo e cidade, informes do partido e orientação

política eram também os temas tratados, bem como elogios ao governo

de Stálin e sua organização.

Os romances e títulos publicados pelas editoras do PCB (Vitória,

Presença etc.) tinham um caráter político-pedagógico de extrema

Page 18: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

17

Imprensa Comunista

importância na luta empreendida por este partido, pois era mais uma

forma de divulgar seu ideário. Muitos títulos publicados em formato

popular e em papel jornal se destinavam ao grande público. Romances

de autores brasileiros vinculados ao partido eram encomendados. Os

temas escolhidos pelos dirigentes do PCB referiam-se aos problemas da

classe trabalhadora (luta dos pescadores, mineiros etc). Produções que

passavam pelo controle cultural do partido corriam o perigo de serem

engavetadas se não atendessem os seus objetivos. Por fim, encontramos

traduções de romances estrangeiros que também estavam dentro dos

interesses culturais do PCB.

A composição da chamada Imprensa Popular era ampla.

Buscava-se atingir diversos setores da população. Como afirmou

Hélio Benévolo, “no mundo jornalístico e cultural, tínhamos um

jornal para cada setor mais importante de atividades.” (BENÉVOLO,

2003, p. 133). Para os leitores comuns e setor de massas, existia o

jornal Imprensa Popular (antes chamado Tribuna Popular); para o

simpatizante e militante, Voz Operária; e para o militante, A Classe

Operária; o primeiro era diário, com notícias da cidade, do mundo

e do partido, o segundo semanário, com notícias sobre o movimento

agrário, operário e sobre os partidos comunistas do Brasil e do

mundo, o último “[...] era só doutrinário, cada tijolo desse tamanho,

ninguém lia”.5 Também existia Gazeta Sindical, editada pela

Frente Sindical. Enfim, nada ficava de fora desta construção e luta

ideológica.

O relatório do Departamento Federal de Segurança Pública,

anteriormente citado, dizia que os jornais

Voz Operária e Imprensa Popular seriam os

principais órgãos do Partido: “[...] Através

de suas colunas é que são transmitidas às

massas a orientação da direção do partido,

além da matéria doutrinária e propaganda

que enchem suas colunas. Os órgãos

publicitários do PCB não se acham registrado

sob a responsabilidade do Partido e sim em

5 Hélio Benévolo Nogueira – Entrevista ao autor, na cidade do Rio de Janeiro, 20/10/2003.

Imprensa Popular, 21/08/1955

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18

Arte Visual Comunista

nome de elemento ao mesmo filiado”. Um exemplo real desta afirmação

foi o caso da compra da nova sede do jornal Imprensa Popular,

localizada na Rua Álvaro Alvim, centro do Rio, que foi registrada em

nome de Eros Martins, um militante.6 Estes artifícios eram necessários

uma vez que o PCB estava na legalidade.

Da mesma forma em que não há consenso quanto à produção

jornalística e cultural do PCB, não há quanto à tiragem de seus jornais.

Os números variam conforme a época e a fonte consultada. Por exemplo,

em sua edição de 12 de janeiro de 1947, ainda na legalidade, uma

propaganda do próprio jornal Tribuna Popular afirmava que a tiragem

daquele número era de 132 mil exemplares, “a maior de todo o país”.7 O

contador do próprio partido, analisando as contas deste diário em abril

de 1947, afirmou que este era deficitário, tendo havido uma grande queda

em sua circulação. (FALCÃO, 1988, p. 336). Na afirmação de Raimundo

Souza, a tiragem média era, em 1945, de 90 mil exemplares nos dias de

semana e 150 mil aos domingos. (SOUZA, 2005, p. 17). Agildo Barata,

o responsável pelas finanças gerais do PCB, por sua vez informou que

a Tribuna Popular fora recebida inicialmente com curiosidade, tendo

grandes tiragens, mas que foram caindo verticalmente posteriormente.

(BARATA, s/d, p. 350). Já o referido relatório de polícia diz que “[...]

a tiragem média das folhas comunistas é de mais ou menos 8 mil

exemplares”. Rubim afirmou que a venda da Imprensa Popular no ano

de 1954 era de 5 a 7 mil exemplares, caindo para cerca de 4 mil em

1957, após a crise política-institucional que viveu o Partido. (RUBIM,

1986, p. 71). Basbaum, por sua vez, disse que após a saída de Agildo

Barata da Comissão Nacional de Finanças, ficou ainda mais difícil a

manutenção do Imprensa Popular, que passou a distribuir cerca de

1.000 exemplares. (BASABAUM, 1976, p. 237). Pode-se concluir, com

certeza, que houve uma queda dos números de exemplares no decorrer

do tempo, em especial com a ilegalidade do partido em 1947 e com a

saída de Agildo Barata, em 1956.

Vimos que a Imprensa Popular comprou um imóvel para sua

redação, o que demonstra que as sedes deste jornal e do jornal Voz

6 Hélio Benévolo Nogueira – Entrevista ao autor, na cidade do Rio de Janeiro, 20/10/2003.7 Tribuna Popular, 12/01/1947, p. 03.

Page 20: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

19

Imprensa Comunista

Operária ficavam em locais diferentes. A compra daquele imóvel, de

máquinas (ou aluguel delas), de material de consumo, pagamentos

de funcionários, distribuição etc., exigiam gastos constantes. Os

anunciantes eram escassos e as vendas não eram suficientes para cobrir

os custos. A Tribuna Popular, no ano de 1947, ainda teve propaganda de

agências oficiais (Caixa Econômica Federal, Institutos de aposentadorias

e pensões, por exemplo), mas com o acirramento das críticas ao governo

Dutra e a perseguição ao comunismo empreendida por este governo,

perdeu-se praticamente todos os anunciantes, os que se prontificaram a

usar este veículo de comunicação a partir deste momento eram médicos,

dentistas, advogados e de empresas de militantes e simpatizantes

do PCB. No caso do jornal Imprensa Popular de 1951 a 1953, por

exemplo, um anunciante constante era de uma loja chamada “Tic-Tac”

e praticamente mais ninguém. Outro exemplo pode ser encontrado no

ano de 1955 é da loja “O Camarada”, nada

mais sugestivo. Poder-se-ia pensar no

medo de represália por parte de agentes

policiais aos anunciantes, mas para Falcão

os problemas eram: queda das vendas,

pouco noticioso, sectário e mal-impresso.

Em síntese, para ele o jornal não era um

bom veículo de propaganda. (FALCÃO,

1988, p. 336). Barata compartilha desta

opinião ao afirmar que é um jornal pouco

noticioso, mal elaborado, com péssima

apresentação gráfica. (BARATA, s/d, p. 350).

Não se pode desprezar a ideia dos temores em anunciar ou

comprar exemplar de noticioso comunista nesse período. O próprio

Falcão relata que alguns jornaleiros atuavam como informantes da

polícia, assim não haveria certeza de que sua compra era “segura”.

(FALCÃO, 1988, p. 371). No Fundo DOPS do Arquivo Público do

Estado do Rio de Janeiro é possível encontrar um exemplar do jornal

Voz Operária, de 31/05/1951, acompanhado de uma carta na qual um

cidadão afirmava ter recebido em sua residência o referido exemplar e

Imprensa Popular, 21/08/1955

Page 21: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

20

Arte Visual Comunista

do qual não era assinante. Vê-se, portanto, o medo do cidadão de ver

sua imagem vinculada a um partido ilegal por meio do recebimento do

jornal Voz Operária, mesmo sendo este de circulação pública normal.8

Para resolver o impasse da falta de verbas pela pouca venda e

escassa publicidade e objetivando poder ampliar as ações da imprensa

comunista foi criado o “Movimento de Apoio

à Imprensa Comunista – MAIP”, que visava,

por meio de contribuintes permanentes por

festas, leilões, “pic-nics” etc., arrecadar as

verbas necessárias para tal.9 Hélio Benévolo,

que entrou para o jornal Imprensa Popular

em 1951, lembra dessas festas: “As festas

do Partido marcaram-me sobremodo. [...]

Dias imorredouros, durante os quais, além

da distração, geralmente se fazia coletas de

ajudas e recrutamento de militantes e amigos.”

(BENÉVOLO, 2003, p. 178-9). Mas não relatou

apenas a parte alegre, descreveu ações das forças repressivas, prendendo

e ameaçando os participantes das festas.

A primeira Campanha Pró-Imprensa Popular, ocorreu em

julho de 1946 por chamamento de Luiz Carlos Prestes, que desejava

a construção de uma grande imprensa “democrática”. Todos os

comunistas e simpatizantes foram mobilizados para a campanha, que

visava arrecadar 10 milhões de cruzeiros.

Seguiu-se ao lançamento da campanha intenso trabalho de organização

e divulgação e emulação. Todas as células, comitês distritais e municipais

tiveram sua cotas pré-fixadas e competiam entre si. Em todos os bairros,

empresas e setores profissionais foram criados comissões Pró-Imprensa

Popular. (FALCÃO, 1988, p.318-9).

Doadores e doações de todos os tipos: fazendeiros doando gado,

arrobas de cacau, populares doando alianças, joias antigas de família,

automóveis entre outros objetos. Foi uma campanha que teve forte

8 Dossiê PCB, Político/ Pasta 3B, folha 589.9 APERJ, Fundo DOPS, Dossiê PCB, Pasta 3B, folha 613.

Imp

rensa

Pop

ula

r, 31/08

/1955

Page 22: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

21

Imprensa Comunista

apelo popular. Com o dinheiro arrecadado foram compradas máquinas

de impressão para diversos jornais. Com uma imprensa deficitária e uma máquina partidária na

clandestinidade a sustentar, a Comissão Nacional de Finanças do PCB

se tornou um dos pilares deste, cuja arrecadação, que chegava a milhões

de cruzeiros, era suficiente para cobrir os custos das publicações e gastos

com a manutenção e segurança do Comitê Central do partido (aluguel

de imóveis, roupas, alimento etc.). (BARATA, s/d, p. 351).

A arrecadação se dava por cinco fontes: a) dos próprios

comunistas; b) dos simpatizantes; c) dos amigos; d) dos aliados; e) dos

inimigos. O primeiro grupo era obrigado pelo estatuto a contribuir,

sendo os mais aquinhoados economicamente, sempre participantes

das campanhas promovidas pelo partido. O segundo grupo, sempre

disposto a ajudar regularmente nas campanhas do Partido. O terceiro

grupo era de amigos dos comunistas ou liberais que discordavam da

política governamental de repressão aos comunistas. O quarto grupo era

o principal fornecedor de bens, visto que as campanhas nacionalistas,

por exemplo, defendiam interesses da burguesia nacional, ou seja,

de grandes grupos nacionais que discordavam da entrega do capital

estrangeiro. Por fim, o último grupo, constituiu-se de burgueses

temerosos de uma possível vitória do PCB, ou seja, compravam uma

apólice de seguro de vida. (PERALVA, 1960, p. 292; BENÉVOLO,

2003, p. 143). O artista plástico Arydio Xavier da Cunha, ilustrador da

Voz Operária, escreveu, com rancor, uma das formas percebidas para

arrecadar dinheiro:

[...] Considerando suas relações com os colecionadores de obras de

arte, grande número de artistas plásticos foi integrado em comissões

de finanças, com a tarefa ‘específica’ de conseguir dinheiro através de

visitas e do comércio de quadros, cujo valor era medido exclusivamente

em cruzeiros [...].10

A maioria dos empregados dos jornais comunistas fazia parte

do partido ou eram simpatizantes, assim diversos foram os relatos

dos memorialistas do partido em destacar a doação e coragem destes

10 CUNHA, Arydio. “Como organizar os artistas plásticos?” In: Voz Operária, 17/11/56, p. 06.

Page 23: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

22

Arte Visual Comunista

funcionários na existência desta imprensa: salários muito baixos,

horas extras, repressão policial etc. Um aspecto que encontramos foi

a solidariedade de militantes, simpatizantes e democratas no apoio

aos jornais comunistas na falta de material, mão de obra qualificada,

material gráfico e fotográfico e proteção quando da repressão. Uma

editora de importante revista feminina desviava material fotográfico

para atender as demandas do jornal Momento Feminino; quando da

invasão e empastelamento do jornal Imprensa Popular, a Associação

Brasileira de Imprensa (ABi) cedeu espaço em seu prédio para a

instalação provisória da redação, além do envio de matérias por

diversos jornalistas; linotipistas que também trabalhavam para outros

jornais e traziam escondidos matrizes em seus bolsos, devolvendo

no dia seguinte. Raimundo Alves de Sousa lembrou a campanha de

recolher tubos de pasta de dente vazios (que eram feitos de chumbo,

caro e necessário para confecção dos tipos), da qual foi arrecadada uma

tonelada. (SOUSA, 2005, p. 36).

A repressão e ameaça foi uma constante na vida dos funcionários

da imprensa comunista. Quando da declaração da ilegalidade do PCB

pelo Tribunal Superior Eleitoral em 1947, imediatamente houve várias

ações repressivas por parte do governo: invasão da sede do partido;

violência policial contra atos populares e comícios; e o empastelamento11

do jornal Tribuna Popular entre outras atividades. No dia 21 de outubro,

este jornal foi invadido por forças da repressão e teve suas oficinas e

escritórios destruídos. Voltou a sair em 31 de outubro, mas somente em

suas oficinas em 12 de novembro, ou seja, foi feita a recomposição das

máquinas de impressão independente de que forma, somente 22 dias

depois da invasão.

11 O empastelamento é uma ação de invasão e destruição dos escritórios e oficinas de uma empresa jornalística. Tal ato foi comum na História do Brasil. O empastelamento pode ocorrer por ação de civis revoltados pelo posicionamento do jornal, como também por forças repressivas oficiais.

Page 24: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

23

Imprensa Comunista

Mas a repressão estava em todos os movimentos do PCB: sindical,

imprensa, festas, comícios, greves, movimentos populares, favelas etc.

Houve prisões, assassinatos, tortura, demolição de barracos, apreensão

de jornais, ameaças morais e físicas entre tantas formas de ações. Onde

lutasse o partido lá estava a força repressiva para atuar.

Em 1955 podemos encontrar nas páginas da imprensa comunista

uma “Associação Carioca dos Amigos da imprensa Democrática”

(ACAiD). Esta promovia e organizava festas para arrecadação de verbas

para os periódicos do partido e as ações de propaganda e venda dos

exemplares. Em 1956 ressurgiu o Movimento de Apoio a Imprensa

Popular (MAiP). Agora era a campanha dos “Vinte Milhões para os

jornais do povo”. Foram chamados os “comandistas” para ajudar na

arrecadação de verbas e venderem assinaturas e exemplares avulsos.

Festas eram promovidas, mas o momento era outro, o entusiasmo

não era mais o mesmo de outros tempos. “[...] Existem muitos amigos

nossos que não têm manifestado a propósito desta nova campanha

de reaparelhamento da imprensa popular.” Estes colaboradores não

queriam apenas dar dinheiro, queriam também ter voz sobre o conteúdo

dos jornais. Este ponto não agradava o Comitê Central, o que dificultava

ainda mais a vitória da campanha.12 Um exemplo foi a crítica, até bem-

humorada para os padrões comunistas, do militante que não tinha

aderido à campanha (imagem abaixo a direita).

O próprio jornal Voz Operária afirmou que: 1º) os problemas da

imprensa popular não poderiam ser resolvidos apenas com campanhas

populares; 2º) os problemas não eram apenas materiais e técnicos.

Afirmou que o marasmo da campanha estaria no atraso das análises,

dos debates sobre a Imprensa Popular (conjunto de publicações do

12 “Abrir amplo debate sobre o conteúdo de nossos jornais”. In: Voz Operária, 22/09/56, p. 05.

Imprensa Popular, 17/08/1956 Imprensa Popular, 15/08/1956

Page 25: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

24

Arte Visual Comunista

partido). Por fim, clamou os leitores e o povo a se manifestarem com

suas críticas e opiniões.13

Toda essa mudança de posição, tanto dos colaboradores

como da própria concepção de ver o papel da imprensa comunista,

estava vinculada à crise interna, aos debates contra o centralismo e o

autoritarismo vigente no PCB. Uma pressão das bases, das editorias dos

jornais, dos militantes e simpatizantes que passaram a questionar os

mitos, as determinações do Comitê Central do Partido etc., acarretou a

decadência das publicações do Partido.

A desobediência dos diretores dos jornais Imprensa Popular

e Voz Operária, em promover um debate amplo e democrático sobre

a situação mundial e nacional após a divulgação do relatório segredo

de Krutschev (que denunciou os crimes de Stálin e condenou o culto à

personalidade), chegou a um ponto de crise interna que levou ao Comitê

Central do PCB a intervir duramente nos jornais.

Esta postura autoritária da direção do partido ocasionou a

saída em massa dos jornalistas dos jornais Voz Operária e Imprensa

Popular, significando o afastamento de 27 dos 32 jornalistas então

existentes. Segundo um militante: “Em 1959, o PCB, que possuíra

uma das principais cadeias de jornais e publicações do país, ficava sem

nenhum jornal diário.” (RODRIGUES, 1981, p. 424). Voz Operária e a

Imprensa Popular permaneceram até 1958, mas sem quase nenhuma

representatividade.

Em 1959, o PCB compra a gráfica Itambé e novos maquinários,

lançando neste ano o semanário Novos Rumos. Durante o governo de

João Goulart (1962-64), chegou a ter certo prestigio, mas com o golpe

militar de 1964, volta a se esvair.

Nos próximos capítulos, buscar-se-á mostrar o uso da imagem

na imprensa na construção de um imaginário comunista (heróis, lutas,

unidade entre outros modelos), bem como na descrição do cotidiano do

brasileiro e da postura do partido frente a este.

13 “Levar ao povo o debate dos problemas de nossa imprensa”. In: Voz Operária, 27/10/56, p.11.

Page 26: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

25

USO DE SÍMBOLOS E FORMAS NA DEFESA E NO COMBATE

A caricatura e a charge ideológica buscam, em essência,

denunciar, desnudar, desmascarar o seu alvo. O uso de símbolos

conhecidos pelo leitor da imagem é fundamental para o seu

entendimento. Uma charge ou uma caricatura muitas vezes ilustram ou

apoiam sua criação em um fato encontrado no noticiário, daí a dificuldade

de seu entendimento com o passar do tempo. Os personagens deixam de

ser conhecidos. Se havia uma graça, uma razão para o riso, muitas vezes

isto se perde. No caso da caricatura e charge ideológica, tal circunstância

também acontece, mas pode não ocorrer se o motivo extrapolar o tempo

e mantiver a atualidade. Podem-se citar dois importantes símbolos

bem conhecidos por todos e de fácil entendimento: a suástica, que

representava o regime nazista alemão de Hitler e a cruz, símbolo do

cristianismo. Outros que podem ser lembrados são a letra sigma, que

identificava o integralismo brasileiro; o cifrão, referente ao dinheiro,

suborno etc.; a pomba, simbolizando a paz; o punho em riste, dando a

ideia de luta; braço, simbolizando a força, a unidade da classe operária;

e a cartola, representando o burguês, o capitalismo etc.

Na imprensa comunista, a suástica foi diversas vezes utilizada

para reforçar ou desmascarar a essência, o caráter de um regime ou de um

político. Quando houve a ruptura

completa entre o PCB e o governo

Dutra (1946-50), anticomunista

histórico, um dos principais

responsáveis pela cassação do

partido em 1947, sua figura foi

constantemente retratada como

de um traidor da pátria, ditador,

mentiroso etc. A charge ao lado

é muito elucidativa do momento.

Tri

bun

a P

opu

lar,

22/

05/

194

7

Page 27: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

26

Arte Visual Comunista

Interessante como esta não se encontrava associada, diretamente, a

nenhuma notícia. Se na primeira página desta edição comentou-se que

a legalidade do partido era fundamental para a democracia brasileira,

na página três, na qual estava localizada, as referências são somente

sobre o Projeto número 24, na Câmara Federal, que tratava da cassação

dos mandatos, que se efetuaria em janeiro de 1948.

A charge não possui título, apenas a citação de uma poesia, que

sintetizava a própria charge. Tudo é nominado para não deixar dúvidas

da mensagem pretendida. A pedra, que havia no caminho era o chamado

do PCB pela unidade nacional contra os atos fascistas do presidente

“ditador”, que realizou alguns de seus sonhos e desejava realizar outros,

como a cassação dos mandatos e o fechamento do parlamento. Um

braço (a democracia) segura um cartaz clamando a volta do PCB à

legalidade. Somente sua existência poderia garantir tal fato. A figura de

Dutra é de fácil identificação. Seu corpo foi constituído pela suástica,

símbolo maior do nazismo. A relação nazismo/Dutra tem função

demolidora da imagem que Dutra queria construir de um presidente

democrático. O braço não é símbolo novo, pois foi bastante usado nas

causas proletárias de todo o mundo pelos diversos matizes. Junto com

o pé, que representa o chute que expulsa o inimigo, a mão traz em seu

conteúdo a ideia de união.

Um símbolo vinculado à suástica é a letra sigma, que identificava

o fascismo caboclo, o integralismo, sob as ordens de Plínio Salgado.

Na figura ao lado, pode-se visualizar uma figura

sinistra, violenta, pois além de ter um punhal

na mão direita, sua face, por meio do olhar e

da forma da boca, dão um aspecto ameaçador.

Seu cabelo e seu bigodinho lembram outro

personagem político da história de então: Hitler.

A camisa repleta com o sigma e a braçadeira

com a suástica deixam clara a relação entre os

dois símbolos, entre os projetos políticos. Para

completar o quadro de identificação, na mão

esquerda, o personagem carrega uma bandeira

do partido PRP, denunciando sua relação com

este partido político.

Tribuna Popular, 13/12/1945

Page 28: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

27

Uso de Símbolos e Formas na Defesa e no Combate

Na imagem a lado temos a

união dos brasileiros impedindo

que o presidente Getúlio Vargas

(1951-54) assinasse o Pacto

Militar, dito pelos comunistas

como a subordinação total

de soberania brasileira aos

interesses estadunidenses.

ilustrava a página que tinha por

título “Getúlio prepara a morte

e a ruína para o povo”. Em várias sub-reportagens, denunciava os

excessivos gastos com as Forças Armadas, a vinda de oficiais norte-

americanos no Brasil para treinar as tropas brasileiras, que seriam

encaminhadas para a Coreia, criticava a nova Lei do Serviço Militar, que

autorizava a convocação de todos os brasileiros de 16 a 47 anos de idade

a qualquer momento e estavam contra o Acordo Militar.

A charge ganha força e, às vezes, traz o riso quando se utiliza

da forma animal, a zoomorfia. Neste caso, há uma ilustração que

trata do tema acima, ou seja, o

Pacto Militar. Vemos o Tio Sam

com a chave na mão, afastando os

cães com “biscoitos”. A chave que

garantia a entrada no Brasil era o

Acordo Militar, e os animais foram

identificados pelas faces e por uma

marca na parte traseira deles “JN”

e “G”, ou seja, João Neves e Getúlio

Vargas. Estes cães que deveriam cuidar do Brasil, em troca de uns

biscoitos (moedas), deixam seus postos e não cumprem suas funções.

O uso de animais serviu para desqualificar os governantes e mostrar o

caráter frágil e dúbio de ambos. De outro lado, a nação norte-americana

foi representada pelo seu símbolo maior o Tio Sam, que aqui aparece

em papel suspeito, um tanto furtivo. Esta charge resumiu bem a visão

construída pelo discurso da imprensa comunista em relação ao governo

brasileiro e ao Acordo Militar: submissão, intervenção e controle.

Voz

Op

erá

ria

, 09

/08

/19

52

Voz Operária, 09/08/1952

Page 29: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

28

Arte Visual Comunista

O zoomorfismo está presente em outra charge de um grande

inimigo: o presidente dos EUA, Truman. Este está

na forma de um morcego sobrevoando a América

Latina. O morcego com rabo de diabo é identificado

como sendo o imperialismo ianque, que estava em

busca do sangue dos latino-americanos. O uso

de animais, com suas características específicas

somadas aos atributos negativos do caráter

humano poderia trazer consequências terríveis

para o caricaturado, uma vez que ficava marcado

na memória do leitor, de tal modo que seria difícil destruí-la.

A charge ao lado, de autoria do brasileiro Jorge Brandão,

denunciava o uso de armas bacteriológicas

na guerra da Coreia. Truman foi caricaturado

na forma de um mosquito transmissor de

uma doença letal, assim sendo não possuía

nenhum caráter cômico, visto a mensagem

transmitida e o título que carregava, mas

funcionava muito bem como arma de luta

política, de denúncia de uma política guerreira

contrária à Convenção de Genebra. Sua

legenda diz: “Ordenando e desencadeando

a agressão microbiana na Coreia, Truman se apresenta aos olhos da

Humanidade como o transmissor da morte, o portador de bactérias e

germes das mais terríveis doenças epidêmicas [...]”.

Gombrich ensina que a descoberta da diferença entre semelhança

e equivalência possibilitou a transformação da arte de desenhar e

de interpretar. Na caricatura acima, vemos a essência de Truman,

Voz O

perá

ria, 23/0

7/194

9

Imp

rensa

Pop

ula

r, 10/0

5/1952

Voz O

perá

ria, 26

/04

/1952

Page 30: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

29

Uso de Símbolos e Formas na Defesa e no Combate

ela é pura destruição, seu sorriso é falso. Mensagem direta, que nem

necessitava de legenda, mas esta veio realçar a proposta. É cômica, a

bomba se voltou contra o lançador. Quem viu não pôde esquecer, é o

traço básico da caricatura ideológica.

Truman também foi retratado ao lado do maior símbolo dos EUA,

a estátua da Liberdade. Na realidade encontramos no decorrer desta

pesquisa várias charges em que este símbolo foi usado para combater

os dirigentes do país e desqualificar o discurso sobre a existência de

liberdade nos Estados Unidos. Afinal, estávamos em plena Guerra Fria,

ou seja, o discurso ideológico de destruição do outro era fundamental.

Assim, utilizar um símbolo do tamanho

da Estátua da Liberdade para destruição,

da imagem de país berço da democracia,

tornava-se fundamental. A seguir,

comentamos dois exemplos. Na primeira

imagem, ao lado, há uma longa legenda

explicando a charge. Diz a mesma: “Na

excelente ilustração ao alto, Gropper, o

grande caricaturista norte-americano,

figura o panorama político dos Estados

Unidos sob o regime de Truman: a

liberdade está sendo acusada e contra

ela e os cidadãos inermes investem

os monstros da reação. O membro da

“Klu Klux Klan”, Franco, o Comitê de

Atividades Antiamericanas, o Federal

Bureau of Investigation, os grandes banqueiros e os veteranos fascistas

da primeira guerra ensaiam um festim selvagem, visando destruir

aquilo que o grande povo de Roosevelt tem de mais sagrado.” Lá vemos

Franco, o ditador espanhol, figura sempre presente nas caricaturas e

charges ideológicas da imprensa comunista carioca. O caráter fascista

de seu regime e as ligações com os Estados Unidos o colocou como um

personagem importante a ser caricaturado. Todos os caricaturados com

traços grotescos. A cartola, o boné, o chapéu de investigador, o punhal,

o machado, o fogo, a suástica, o cifrão etc., lá estão. Enfim, as siglas

e os nomes ajudam a compor o quadro. Lembramos que Gropper, o

Tribu

na

Pop

ula

r, 27/08

/194

7

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30

Arte Visual Comunista

desenhista, foi acusado de traidor, de atividades antiamericanas, pela

comissão do Senado (MacCarthismo). Nesta charge também não houve

a preocupação por parte do redator de se fazer a tradução.

Na segunda imagem, a estátua da Liberdade está

sendo identificada pelas forças policiais, como se fosse um

perigo para os Estados Unidos. Assim, o autor da imagem

busca reforçar a ideia de que neste país a liberdade estava

vigiada, era vista como algo perigoso, contrário aos interesses

do país. Percebe-se o descontentamento e o desconforto da

senhora Liberdade ao ter que ser identificada.

Nessa linha de descaracterização do ocidente como o

defensor do Bem contra o Mal que vem do Oriente, da União Soviética,

houve toda uma construção imagética por parte da imprensa comunista

procurando mostrar os males que a cultura capitalista no Ocidente traz.

Foi lançada uma série chamada de

“Civilização Ocidental”, na qual são

apresentadas várias denúncias sobre

a sociedade capitalista: corrupta,

violenta, antidemocrática, desigual,

entre outras. Muito dos desenhos que

compunham a série traziam crianças,

como no caso da imagem ao lado.

Denuncia a promoção da violência e o

acesso às armas. A criança se utilizou

de uma arma automática, fabricada

nos EUA, e fez vários disparos. Mas

não foi só isto, com uma faca matou

o cachorro, com uma machadinha

arrebentou a porta do armário e, ainda por cima, enforcou o gato. Toda

a família se protege sob a mesa, exceto a vovó, que foi atingida por

alguma coisa que não é claro para o leitor.

Um símbolo que não poderia faltar e que se soma à Campanha da

Paz é a pomba, mundialmente reconhecida. Essa foi desenhada de várias

formas e sentidos e podem ser visualizadas abaixo de duas maneiras.

Uma simboliza sua força perante a ganância dos ricos e guerreiros

capitalistas. É uma imagem positiva na qual a paz será sempre mais

Imp

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Pop

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51

Imprensa Popular, 18/07/1952

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31

Uso de Símbolos e Formas na Defesa e no Combate

forte que os interesses do capital. Na outra imagem, utilizando-se

da figura do Tio Sam, a paz situa-se em posição menos gloriosa, mas

denuncia o caráter guerreiro dos Estados Unidos. Aqui temos três

símbolos em apenas uma imagem: a paz, na forma da pomba com o

ramo, os Estados Unidos na forma do Tio Sam, e o símbolo do nazismo,

a suástica, representado pelo animal de estimação do Tio Sam. O gato

está aguardando o lanche, no caso, a paz mundial. A legenda reforça

ainda mais o desenho, não deixa dúvidas ao leitor. Em outra imagem,

do genial artista brasileiro Dan, denuncia o desejo do capitalista pela

guerra ao ver a pomba da paz abatida pelo tiro do canhão. Dan conseguiu

trazer o riso para um tema tão importante e sério para o partido.

Voz Operária, 10/09/1949

Fundamentos, setembro de 1951

Voz Operária, 26/04/1952

Page 33: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

32

Arte Visual Comunista

Se a pomba da paz surgiu para denunciar a posição guerreira do

capitalismo, também foi usada para a defesa da

paz mundial e para reforçar uma visão pacífica

da política externa da URSS. Inúmeras imagens

foram criadas nesse sentido. A imagem ao

lado, na qual é possível ver um homem e uma

mulher jovens abraçados, sobressai a figura

da pomba entre os braços de ambos, como se

a protegessem. O sentido é a difusão da união

entre todos na defesa da paz mundial. Não se

pode esquecer a Campanha Mundial pela Paz

levada a cabo em todo o mundo pelos partidos

comunistas e por entidades de diversos matizes contra uma nova guerra

mundial. (Ver capítulo 3 deste livro).

Podemos ver mais duas caricaturas que desnudam, na visão

da imprensa comunista, o caráter belicista de dois

importantes membros da comunidade estadunidense

e inglesa. A primeira, de 1954, denuncia a política

guerreira de Dulles de forma inconteste, dura,

mas que causa admiração e riso pela sua beleza

plástica e genialidade. Sob a imagem veio escrito:

“A revista ianque ‘Visão’ diz que Dulles atua hoje

com a bomba-H na mão como supremo argumento,

dando prova de uma ‘inflexibilidade’ só comparável

à de Hitler. Os povos, porém, respondem com a exigência de paz a esse

maníaco da guerra, de cujo cachimbo sobe um cogumelo atômico’, na

concepção do caricaturista norte-americano Max, de “The Worker”.

A segunda, seguindo o padrão da anterior, mas sem sua sutileza,

apresenta o Primeiro Ministro da Grã-Bretanha Churchill com seu

notório charuto na boca. De 1955, traduz muito bem

a visão de uma figura belicosa. A transformação do

clássico charuto em canhão deixa claro seu caráter

guerreiro. Talvez, diferentemente de seu colega

norte-americano, sua ação está mais no discurso

do que na ação. Lembrando que em 5 de março de

1946, Churchill, em visita aos EUA, fez um discurso

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Uso de Símbolos e Formas na Defesa e no Combate

na Universidade de Werstminster, Fulton, Missouri, afirmando que

havia descido sobre a Europa uma Cortina de Ferro e muitos países

estavam se subordinando a uma “esfera soviética”. Pediu, diante disto,

uma reação aliada para impedir a sovietização dos países do Leste.

Um símbolo que caracteriza o capitalismo, o poder, é o cifrão.

Ele foi usado, em geral, de três maneiras: para denunciar a compra

de um político/dirigente/ industrial, como lucro do capital, e para

representar o próprio capitalista. Em duas imagens anteriores já

foi mostrado o uso do cifrão: em uma está nas moedas jogadas aos

“cachorros” GV e JN, e na outra está no peito de um dos dançantes em

volta da estátua da Liberdade. Neste caso, veja-se como foi construída

a imagem do capitalista: obeso e de cartola (o padrão), de luvas e com

uma arma medieval em uma das mãos e uma saia de palha, enfim uma

figura grotesca.

O grotesco também foi uma estética a serviço da formação

de opinião. O monstruoso, o bizarro, o assustador, a aberração, o

diferente, o “feio”, enfim, o grotesco causava reações àquele que

visualizava o desenho. Estas reações variam conforme o gosto do

público e do personagem retratado, podendo causar o riso, a repulsa,

o constrangimento entre outras. No caso da charge e da caricatura

ideológica da imprensa comunista, o objetivo era reforçar o caráter de

denuncia contra o retratado. Exemplos já foram vistos.

Outro desenho que se utiliza do grotesco para denunciar

uma “traição” é este ao lado, que retrata o jornalista e político Assis

Chateaubriand, dono dos Diários Associados.

Este grupo editava a revista de maior circulação

do país, O Cruzeiro, que costumeiramente

apresentava em suas páginas reportagens

contrária à URSS e ao socialismo. Assim, a

imagem representa a compra do jornalista

pelo capital para produzir as ditas reportagens.

O corpo do jornalista não é humano, mais

parecendo um rato, suas unhas são afiadas e

enormes, tem os dentes para frente e a língua saindo da boca; babando,

possui uma coleira que, somada ao cifrão, indica que recebe ordens de

alguém. Por fim, a bandeira norte-americana no bolso da vestimenta diz

que é seu dono.

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52

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Arte Visual Comunista

Dois símbolos que não poderiam ficar de fora: Tio Sam e a foice

e martelo. Tio Sam certamente foi um dos símbolos usados com grande

frequência pela imprensa comunista. Ele foi produzido de várias formas,

mas com apenas um objetivo: vincular a imagem dos Estados Unidos

ao Mal, sinônimo do imperialismo norte-americano. O caricaturista

Thomas Nast, que contribuiu para a fixação da imagem do Tio Sam, com

suas calças de listas, colete estrelado, casaca azul chapéu de chaminé,

teria se baseado na figura de Lincoln. Tal figura adquiriu com o tempo o

valor de representar uma nação. (HERMAN, 1963, p. 09).

Se na imagem anterior de Tio Sam é apresentado como contrário

à paz e aliado ao nazismo, nas duas seguintes

podemos perceber mais duas facetas, com

aspectos distintos. A charge ao lado seguiu a

linha de denúncias contra o governo Vargas

(1951-54), apresentando-o como “entreguista”

das riquezas nacionais. Tio Sam, com suas

enormes unhas, está satisfeito com que lhe

é ofertado pelo governo Vargas: manganês,

areia monazita, café, petróleo e, por fim, o sangue do povo brasileiro.

Para garantir a alegria do visitante, Vargas pede a Vicente Ráo que lhe

“pergunte o que ele quer mais...”.

O ano de 1954 foi marcado por grave crise social, com a alta dos

gêneros alimentícios e muitas greves exigindo aumento de salários. O

movimento da Panela Vazia, no qual a dona

de casa paulista saiu às ruas para protestar

contra a alta do custo da vida, marcou este

período. Tio Sam foi apresentado como

importante componente nessa crise. A

dona de casa, tradicionalmente vestida,

reage com uma panela às ingerências de

Tio Sam na política econômica e política

do país. O calendário na parede com a data

de 3 outubro, dia das eleições estaduais e

municipais, simbolizava a derrota nas urnas dessa política de aliança

entre o governo de Getúlio Vargas e os Estados Unidos, representado

na figura de Tio Sam. Esta charge possuía uma legenda: “Esta charge,

Voz Operária, 19/09/1953

Voz Operária, 28/08/1954

Page 36: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

35

Uso de Símbolos e Formas na Defesa e no Combate

publicada em ‘notícias de Hoje’ está sendo distribuída, com grande

sucesso, entre os trabalhadores de São Paulo.” O seu autor foi Ramiro,

importante chargista da imprensa comunista paulista.

O símbolo maior do comunismo mundial é o conjunto formado

pela foice e o martelo, mostrando a força da união entre o operariado

urbano e o camponês. A estátua, de tamanho monumental, usada na

charge abaixo, estava colocada em Moscou até recentemente, quando

foi desmontada e guardada em depósito para “reforma”. A estátua é

composta por um homem que segura um martelo, e uma mulher que

segura uma foice de cabo curto, instrumento característico do corte do

trigo. Tal relação foi construída em função das referências ao homem

como ferreiro, com o uso do martelo e da bigorna (imagem clássica na

iconografia operária) e da mulher camponesa, a que colhe os frutos da

terra e usa a foice de cabo curto, geralmente na forma agachada. Na

imagem em questão, vemos os capitalistas chutando e não conseguindo

afetar a estátua, dando a entender a força do comunismo mundial.

Como legenda traz a seguinte frase: “Desespero do imperialismo ianque

contra a URSS”.

Não é o propósito fazer aqui um histórico e uma explicação

exaustiva do uso da foice e do martelo no movimento operário mundial.

As publicações iniciais oficiais da Rússia soviética não traziam a foice

e o martelo entrecruzados. Muitas traziam engrenagens de máquinas,

entre outras. A imagem acima, na direita, traz um desenho que foi

muito reproduzido pelas publicações dos diversos partidos comunistas,

A Classe Operária, 18/11/1949 Arquivo CEDEM/UNESP

Page 37: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

36

Arte Visual Comunista

inclusive pelo partido comunista do Brasil, no ano de sua fundação, em

1922. O destaque da imagem acima, na direita, é o uso do martelo por

um homem forte. A mensagem é clara, o trabalhador está libertando

o mundo das correntes exploradoras do capitalismo. É a vitória do

comunismo internacional.

A imagem da foice e do martelo passou a ser a marca da luta pelo

comunismo. Em todas as publicações oficiais dos partidos comunistas

era encontrada: na Franca, em Portugal, entre outras tantas nações. Nas

imagens abaixo, podemos visualizar a presença da foice e do martelo.

No Brasil, no período aqui estudado (1945-1964) a imagem da

foice e o martelo entrecruzados não foi usada na imprensa comunista

de forma exaustiva. Embora encontrada, desde suas origens, nos

cabeçalhos dos periódicos, em panfletos, faixas e propagandas, e tenha

marcado o imaginário dos militantes, não foi grande marca do Partido

Comunista do Brasil (PCB). O periódico A Classe Operária, órgão

central do PCB, foi um que utilizou em seu cabeçalho a foice e o martelo,

embora não em todo o período de sua existência.

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A Classe Operária, 29/06/1946

Page 38: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

37

Uso de Símbolos e Formas na Defesa e no Combate

No período da legalidade (1945-1947) foi o símbolo mais visível

na imprensa comunista, seja em fotos de atos públicos, seja em atos

mais privados. Fora deste período, irá aparecer mais em datas ou

acontecimentos políticos importantes, tal como o IV Congresso do PCB,

realizado em 1954, conforme podemos visualizar na imagem abaixo.

Na realidade a foice de cabo curto era muito pouco utilizada nos

campos brasileiros, sendo mais comum o uso da foice de cabo longo, ou

a enxada. Em geral, a representação visual do camponês na imprensa

comunista era com o uso da enxada. Ora estava em pleno uso, ora no

ombro do camponês, na pausa ou no caminho da casa.

Imprensa Popular, 06/11/1955

Page 39: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

38

Arte Visual Comunista

No capítulo a seguir, partiremos para a análise de outras formas

de símbolos: ações humanas. Para o fortalecimento do ideário comunista

no Brasil, o uso da figura do herói foi muito importante, de um lado

estava vinculada à prática do culto à personalidade, mas de outro

serviu para difundir exemplos individuais e coletivos que deveriam ser

seguidos como modelos da causa comunista.

Page 40: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

39

OS HERÓIS DA “CAUSA OpERÁRIA”

Heróis internacionais

A construção do herói é fundamental para legitimar qualquer

causa. O herói traz unidade, agrega valor. O herói é um ser superior,

possui ícones importantes no conjunto mental da coletividade. Estes

valores, reais ou não, estão expressos em sua ação (ou conjunto de

ações) que realizou em determinado momento de sua vida (ou em toda

a sua vida, neste caso demonstrando coerência). Se assim não for, não

conquista seguidores.

Apesar de estarmos lidando com um grupo político dito com um

caráter laico, nem todos os militantes e simpatizantes do comunismo o

eram, basta lembrar a importante atuação de judeus, espíritas e católicos,

entre outros, dentro dos partidos comunistas em vários países. Como

disse Mircea Eliade (2010, p.188): “O homem profano, queira-o ou no,

conserva ainda os vestígios comportamentais do homem religioso, mas

esvaziado de significações religiosas”. Podemos pensar na inter-relação

entre os dois campos simbólicos, ou mesmo numa troca entre as esferas

do profano e a política.

O fortalecimento da visão dicotômica do mundo entre a luta do

Bem contra o Mal, que faz parte da tradição cristã brasileira, portanto,

popular e religiosa, encaixava-se bem no discurso comunista em

diversas partes do globo. Assim, compreendemos a sacralização da terra

mãe do socialismo (URSS), dos heróis do comunismo, dos mártires e de

seus líderes, entre outros, como a identificação de suas causas e lutas no

combate do Bem contra o Mal.

Nas páginas dos jornais comunistas, as imagens dos heróis (e

heroínas) foram uma constante. Heróis internacionais, nacionais,

coletivos ou individuais. No primeiro caso, podemos nominar os

idealizadores do ideário marxista, ou seja, o próprio Marx e seu parceiro

Engels. Somando-se a este, no mesmo nível de importância, temos os

fundadores do estado soviético na Rússia: Lênin e Stálin.

Page 41: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

40

Arte Visual Comunista

Stálin esteve no comando da URSS do

ano de 1924 a 1953, quando veio a falecer.

A construção de sua imagem como grande

intelectual, militar e guia foi um dos pilares do

comunismo internacional. Vincular sua imagem

aos criadores do marxismo e ao líder e fundador

do estado soviético (Lênin) foi fundamental

para legitimar sua autoridade internacional na

causa comunista. Assim, a imagem ao lado, com ligeiras modificações

foi por diversas vezes republicada nas páginas dos diversos periódicos

comunistas. No caso, estava ilustrando uma propaganda do livro

História do Partido Comunista da URSS. Abaixo uma legenda: “Marx,

Engels, Lênin e Stálin, as maiores figuras de dirigentes da luta mundial

do proletariado, são os gênios criadores que inspiram as páginas deste

livro, através da teoria aplicada à prática política”.

A figura de Stálin foi reforçada com o importante papel da

URSS na derrota do nazismo/fascismo na Segunda Guerra Mundial.

Destacou-se como grande líder, estrategista militar etc. Sua figura foi

retratada de várias formas: altivo, sereno, com uma criança no colo,

com as medalhas etc. Sempre que possível, como visto, sua imagem era

relacionada à de Lênin, Marx e Engels. Na imagem da direita abaixo,

Stálin está sentado ao lado de Lênin, sem as medalhas. Chama a atenção

nesta imagem que ambos estão sorrindo, algo raríssimo em suas

representações imagéticas. Na imagem do centro, portando inúmeras

medalhas, tem como legenda: “O Generalíssimo Stálin, criador do

Exército Vermelho e edificador do Socialismo”. A imagem da esquerda,

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Tribuna Popular, 07/11/1946.Tribuna Popular, 04/05/1946. Tribuna Popular, 07/07/1946.

Page 42: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

41

Os Heróis da “Causa Operária”

um perfil sereno e tranquilizador. Todas as imagens feitas por artistas

comunistas brasileiros, Quirino Campofiorito e Paulo Werneck.

Stálin ganhou o epíteto de “Guia dos povos”, aquele a que

todos deviam seguir, pois só ele saberia conduzir as massas para a

sua liberdade, para conquistar seus direitos, ou seja, a construção de

um mundo comunista. Sua fala passou a ser considerada sagrada, sua

imagem idolatrada. Enfim, sua figura adquiriu aspectos místicos.

Na data natalícia de Stálin, os jornais do partido abriam páginas

inteiras para homenagear sua “liderança”, sua “clarividência” e as

“conquistas sociais e econômicas na URSS” sob sua direção. Com sua

morte, mais uma data passou a ser apresentada nas páginas comunistas

para homenageá-lo. isto até a divulgação do relatório secreto de

Krutschev, em 1956.

Heróis nacionais: Prestes e família

No caso brasileiro, não podemos deixar de destacar a figura de

Luiz Carlos Prestes. Se Stálin era o “Guia dos povos”, Prestes era o “Guia

dos brasileiros”. Da mesma forma que se construiu o ideal de herói de

Stálin o foi com Prestes.

Mas, deve-se destacar que a lenda e as passagens heroicas de

Luiz Carlos Prestes não começaram nas páginas dos periódicos da

imprensa comunista, muito pelo contrário. Como um importante

líder dos tenentes revoltosos da década de 1920, Prestes, assim como

a grande maioria dos revoltosos, não era comunista, pelo contrário,

queria distancia do povo. Possuía uma visão positivista, defendia uma

ditadura militar para fazer as reformas sociais, econômicas e políticas

que julgava necessárias para o país. O povo ficaria fora disto.

No ano de 1924, Prestes levou o Batalhão Ferroviário de Santo

Ângelo a aderir ao movimento dos Tenentes que já eclodira em São

Paulo. A fama da coluna é conhecida de todos. Esta atiçava a imaginação

popular e acalorava os debates políticos: teriam o corpo fechado? Afinal,

foram vinte e quatro mil quilômetros sem nenhuma derrota militar,

mesmo considerando o exílio ao final da caminhada.

O Partido Comunista já na década de 1920 procurou chegar a

Luiz Carlos Prestes para tentar cooptá-lo para sua causa revolucionária,

Page 43: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Arte Visual Comunista

mas fora em vão. Em 1927, Astrojildo Pereira vai ao seu encontro, mas

foi pouco produtivo, pois a coluna do “Cavaleiro da Esperança” nada

tinha de pretensões de levar a cabo a reforma agrária e agregar os

camponeses. Apenas em 1929 que Prestes começou a se empolgar com a

doutrina comunista. Em 1930 rompeu com os antigos aliados da Coluna

e, em 1931, aderiu à causa da III Internacional e do PCB, partindo para

o “solo sagrado da pátria mãe do socialismo”: a URSS

Retorna somente em 1935 ao Brasil, aderindo à Aliança Nacional

Libertadora e apoiando o movimento comunista revolucionário de 1935.

Como este fracassou, a repressão se abateu sobre os diversos grupos

políticos, não só para os comunistas. Assim, Prestes foi encarcerado e

condenado à prisão, onde permaneceu por dez anos.

Jorge Amado, na biografia de Prestes, de 1941, mas lançada no

Brasil somente em 1945, escreveu:

E o prendem, amiga, e o encarceram e o torturam e o emparedam e o

condenam. E ainda assim o povo tem esperança, ainda confia e ainda crê.

Tem os olhos no grande prisioneiro, sabe que ele é o homem

indicado para mudar a face do destino do Brasil. [...] Se ele

está vivo é que vivo está o Brasil. (AMADO, 1945, p. 43).

Mesmo na prisão, apesar de todo o seu

sofrimento, o Cavaleiro da Esperança estava a dar

conforto ao povo brasileiro. A foto ao lado, que ilustrava

a edição de 45, mostrava um Prestes que, apesar de

todos os sofrimentos, era feliz e esperançoso com o futuro.

Ao findar a Segunda Guerra Mundial, o mundo se colocava

frente ao problema da reconstrução da Europa e de um discurso de

paz. A união URSS/EUA/Inglaterra/França contra o movimento

nazifascista permitiu um momento de calma e liberdade mundial.

No Brasil, como em vários países, os partidos comunistas puderam

se tornar legais e participar das eleições. Getúlio Vargas, em plena

vigência do Estado Novo (1937-45), assinou a anistia para os presos

políticos e autorizou o funcionamento do Partido Comunista do Brasil

(maio de 1945). Prestes pôde sair da prisão. A foto deste acontecimento

torna-se histórica.

Page 44: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

43

Os Heróis da “Causa Operária”

Para difundir sua proposta política no meio popular, o PCB

promovia os chamados “comícios monstros”, que eram realizados com

frequência. A manchete acima diz que Prestes era “o grande líder” e

que sua palavra era aguardada com ansiedade pelo povo paulista. De

fato, os comícios eram populares, alcançando um número elevado

de participantes, deixando claro o seu prestigio popular. O culto à

personalidade de Prestes exigia o fortalecimento de sua figura como

“guia”.

Por ser dirigente máximo do PCB, tornar a figura de Prestes

em sagrada e em mito era fundamental para

os objetivos deste partido. Então, a partir

de 1945, temos o engrandecimento de sua

imagem. Lembremos das palavras de Jorge

Amado: era um mártir herói. Livros, cartazes,

fotos, desenhos e gravuras reforçavam os

epítetos de “homem provençal”, “chefe”, “guia”,

“salvador”, “clarividente” entre outros. Sua fala

tornava-se verdade, única. Era um erudito, um

professor que a todos ensinava. A charge ao

lado, intitulada “Golpismo”, procurava mostrar

que até para seus inimigos era difícil derrotá-lo

na oratória. Assim disse o “golpista”: “O diabo é

a clareza do discurso dele.”

Todo tipo de suporte imagético foi usado para valorizar os atos

heroicos de Prestes, sua liderança, seu caráter impoluto, sua altivez: foto,

cinema, desenho, gravura, História em Quadrinhos. Logicamente que a

Tribuna Popular, 11/07/1945

Tribuna Popular, 26/05/1945

Voz Operária, 10/09/1950

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Arte Visual Comunista

caricatura estava descartada, pois poderia trazer o riso e este tiraria a

seriedade do personagem, poderia destruir o mito. Dezenas de perfis

foram feitos de Prestes, todos o trazem em ar sério e pensativo: perfil à

direita, à esquerda, cabeça levemente curvada, semblante sempre sério,

firme, mas ao mesmo tempo sereno, passando tranquilidade e paz. Uma

exceção: o desenho de Jorge Brandão o traz de barba, entretanto, sem

as vestes do uniforme de militar da coluna. Os dois primeiros desenhos,

com traços mais leves, são de autoria de Portinari.

Quando a imprensa comunista o retratava como Cavaleiro da

Esperança, na forma de desenhos ou gravuras, fazia-o em grupo, em

geral mostrando sua liderança e comando, ou de forma isolada, isto

é, de barba e com uniforme militar e a galope. Os demais membros

poderiam ir a cavalo ou a pé, o fundamental é que sempre estariam

o seguindo, ele era o líder. Três imagens chamam a atenção, uma é a

do cavalo que é maior que Prestes que, apesar de sua beleza plástica,

deve ter causado certo constrangimento, em especial, levando-se em

consideração a estatura real de Prestes. Como a ilustração é de autoria

de Portinari, amigo do figurado, as críticas devem ter sido minimizadas.

As legendas reforçam as imagens. Muitas vezes Prestes está a conversar

Page 46: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

45

Os Heróis da “Causa Operária”

com os camponeses, dando a impressão de preocupação e liderança

com e sobre eles.

O culto à personalidade não poderia descartar o uso da arte

sequencial ou história em quadrinhos. Em uma HQ publicada em

maio de 1946 podemos ver um pouco da construção do mito Prestes.

Descreve sua trajetória desde os 26 anos quando adere ao movimento

de 24, passando pelo exílio, pelo movimento de 35, sua prisão, o envio

de Olga para Alemanha e, por fim, a democracia de 1945.

Tribuna Popular, 03/01/1947

A Classe Operária, 01/01/1949 A Classe Operária, 01/01/1949

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Arte Visual Comunista

No requadro 1: Lá está Prestes montado em seu cavalo liderando

os revoltosos: “escreveu a epopeia da Coluna invicta”. Depois desta veio

o exílio e a luta solitária: “[...] a coragem de ficar sozinho quando os

seus companheiros aderiram ao movimento de 30 [...]”; já no requadro

2: há a ausência de Prestes na imagem, mas no texto estava “chefiando

o glorioso movimento da Aliança Nacional Libertadora”; no requadro

3: Prestes, barba por fazer, cercado pelos algozes: “E foi por mais uma

vez levado à barra dos tribunais da reação revelando sempre aquela

fibra de aço que o povo já conhecia”; no requadro 4: novamente a figura

de Prestes não está presente, entretanto, o povo está ao seu lado: “O

povo brasileiro jamais esqueceu o seu líder heróico [...] E o governo,

sob a pressão do povo, assinou o decreto libertando Prestes e os seus

companheiros de ideal, a 18 de abril de 1945”; para fechar, no requadro

5: só os jovens não conheciam a grande história de Prestes: “[...] e a

frente do povo, que nele enxerga o seu guia esclarecido, dirige a grande

luta contra o retrocesso nas medidas democráticas já decretadas pelo

governo [...]”.

Na HQ “Prestes – herói e guia do povo brasileiro” publicado no

semanário “Voz Operária”, de 1949, portanto três anos após, vemos

novamente a trajetória da vida de Prestes, com novos dados.

Voz Operária, 03/01/1952

Page 48: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

47

Os Heróis da “Causa Operária”

Vincular seu nome a outro herói reconhecidamente popular foi

uma tática usada para reforçar ainda seus valores heroicos. Assim, no

semanário Voz Operária, de 1952, vemos seu nome ligado a Tiradentes

(“O glorioso exemplo de Tiradentes; Prestes – o glorioso continuador

de Tiradentes”). A figura barbuda de Tiradentes é associada à figura

barbuda de Prestes da Coluna. Tal como o herói mineiro, Prestes lutava

pela emancipação do povo contra a exploração estrangeira, agora

representada pelos trustes e monopólio imperialistas. No final do texto

conclui: “Indicam (Prestes e o PCB) ao povo o caminho da luta pela paz,

pela libertação nacional e a democracia popular. Milhões de brasileiros

seguem este caminho”. Clássica é a imagem de Tiradentes feita pelo

artista Portinari cuja semelhança com Prestes é absoluta.

Tal qual Stálin, o “guia dos povos”, Prestes, o “guia dos

brasileiros” era muito festejado em seu aniversário. Páginas e páginas

na imprensa comunista comemorando o seu grande líder. Lembrados

eram seus feitos, como as histórias em quadrinho vistas acima. No

seu 57º aniversário, por exemplo,

o periódico Imprensa Popular

publicou várias páginas dedicadas

a Luiz Carlos Prestes. Na imagem

ao lado, vemos ao centro sua figura

serena. Ao redor, outras imagens

impactantes sobre sua trajetória.

Ao fundo fábricas, o porto com a

figura do estivador, a favela e um

prédio. Pessoas (homens e mulheres)

trajando roupas simples estão atentas

e caladas, possivelmente ouvintes da

fala do líder. Abaixo da multidão,

pessoas atentas ao cartaz que sugere

a leitura do Programa do PCB. No

lado inferior direito, temos mais uma

vez o Cavaleiro da esperança. Acima

dele outro Prestes, agora de terno, de

gravata, o que indica o seu período

de Senador da república. E, por fim,

Page 49: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

48

Arte Visual Comunista

acima desta imagem, vê-se um grupo de pessoas lendo, provavelmente

um periódico do partido, com notícias do “IV Congresso”, no qual

Prestes foi reeleito Secretário Geral do PCB.

Esta liderança foi contestada em 1956/7, quando da divulgação

do relatório Krutschev, que denunciava os erros

e massacres sob as ordens de Stálin, outro mito,

como vimos. A partir deste fato, muitos começaram

a contestar o Comitê Central do PCB e a falta de

diálogo com as massas. Estavam se cansando de

seguir cegamente suas ordens e decisões. Queriam

ter voz ativa, queriam pensar, como mostra a

imagem ao lado (“Finalmente, agora posso usar

minha cabeça para pensar”). A forte centralização

do poder no PCB e o stalinismo reinante não

permitiram mudanças. Prestes não saiu, então o partido perdeu de seus

quadros importantes militantes, inclusive artistas plásticos, escritores e

jornalistas (ver capítulo 1 deste livro).

Por fim, três figuras intrinsecamente ligadas a Prestes: sua mãe,

esposa e filha. As duas primeiras consideradas heroínas: a primeira pela

luta internacional de defesa de Prestes e depois no resgate de sua neta,

Anita; a segunda por toda sua trajetória de vida na defesa do comunismo

internacional. Leocádia Prestes não foi desenhada. Fotos houve, mas

nenhuma ilustração desenhada. Já Olga, por sua trajetória política, seu

fim na câmara de gás em campo de concentração nazista, tornou-se uma

mártir da causa.

Olga Benário Prestes foi aquela que combateu o fascismo,

interno e externo, que defendeu com seu corpo a vida de seu marido,

portanto, uma mulher apaixonada, humana em todos os sentidos. Este

ato de bravura em que se colocou à frente de Prestes quando da prisão

em 1936, evitando que levasse um tiro, sempre foi lembrado nas HQs de

Prestes. A seguir temos duas imagens de Olga: uma, com cabelos longos

e face tranquila; outra, quando defendeu Prestes e teve uma arma

apontada para seu peito, destemida, com o rosto ligeiramente inclinado

para cima, e com olhar confiante.

Voz O

perá

ria, 15/12/19

56

Page 50: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

49

Os Heróis da “Causa Operária”

Mas não foi só, ainda ganhou nas páginas da imprensa do partido

uma história em quadrinhos que contava sua vida, de sua prisão até

sua morte. Nesta pode-se ver e ler toda a saga de uma mulher corajosa,

forte, solidária, boa mãe, enfim, de uma mulher comunista, um exemplo

a ser rememorado e seguido. Como diz o texto: “combatente heroína”.

Tribuna Popular, 12/02/1947

A C

lasse O

perá

ria, 14

/06

/194

7

A Classe Operária, 08/12/1947

Page 51: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

50

Arte Visual Comunista

No primeiro requadro está à frente de Prestes a protegê-lo da

morte e de seus algozes, em 1936. No segundo requadro, consolando as

companheiras do cárcere. No terceiro requadro, sua expulsão do país,

para ser entregue ao regime nazista da Alemanha, mesmo grávida de um

brasileiro, que lhe garantia sua permanência no Brasil. Os três últimos

requadros retratam sua vida na Alemanha: no campo de concentração,

sob a guarda nazista, com a filha no colo e, por fim, enfrentando com

coragem e serenidade o fuzilamento (ainda não se tinha o conhecimento

da causa real de sua morte: câmara de gás).

Anita Leocádia, filha de Prestes e Olga, foi sempre lembrada na

imprensa comunista, por ser quem era, por sua triste trajetória, pela

alegria de sua vitória. Muitas fotos com o pai, a tia e sozinha, às vezes

com suas bonecas. Sua imagem reforçava a causa comunista e mantinha

viva a memória de sua avó, que lutou pelo seu resgate após a guerra, e

de sua mãe, vítima dos campos de concentração nazista. Entre tantos

festejos temos mais uma festa na vida dos comunistas: o aniversário

de Anita em 1947. Abaixo se visualiza as imagens de Anita com seu

pai, solitária, a chamada para sua festa e um desenho no colo de Olga,

escrevendo uma carta para o seu marido, em sua cela na Alemanha.

Esta possuía uma legenda na qual está escrito: “A vida e a luta de Olga

Benário Prestes devem guiar-nos para os combates que travamos hoje

pela União Nacional, a democracia e o progresso [...]”. Faz a chamada

para a página 05, que contém duas cartas de Olga para Prestes.

Tri

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20

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194

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Tri

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194

7

A Classe Operária, 15/02/1947

Imp

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06

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52

Page 52: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

51

Os Heróis da “Causa Operária”

Heróis coletivos (campanhas populares) e outros heróis da

“causa”

As lutas operárias, as campanhas nacionais e internacionais

mostravam outros heróis da “causa operária”. As massas populares

foram exaustivamente retratadas. No Primeiro de Maio, data histórica

para os trabalhadores de todo o mundo, lá estavam elas, segurando

faixas e exigindo direitos. Assim foi com a luta pelo abono de Natal,

aumento de salários, melhores condições de trabalho entre outras

causas trabalhistas.

Outras campanhas políticas e populares foram empreendidas:

melhorias nos transportes e moradia, contra o custo da vida (“panela

vazia”), constituinte, anistia, “Petróleo é nosso”, legalidade do PCB

entre outras. Todas devidamente ilustradas. Algumas destas tinham

uma qualidade artística excepcional, outras com o padrão de ilustração

convencional ou charge de traços simples, embora diretas e algumas

vezes cômicas.

Destacamos para este trabalho as campanhas: pela paz mundial;

contra o envio de tropas brasileiras para a guerra da Coreia; contra a

condenação do casal Rosenberg pela justiça dos Estados Unidos; pela

memória do “movimento revolucionário de 1935”. Por fim, citamos três

heroínas da “causa”: duas brasileiras e uma espanhola.

A Campanha pela Paz foi empreendida pela imprensa comunista

mundial. Sua análise deve ser feita dentro de uma perspectiva de época

para não se cair em armadilhas ideológicas atuais e passadas. Em

primeiro lugar, encontrava-se em plena Guerra Fria, ou seja, os embates

ideológicos estavam à flor da pele de todos. Era a luta do Bem contra o

Mal, mas o problema era saber quem dizia a “verdade”, quem era o Bem

e quem era o Mal. A Segunda Guerra deixou um rastro de destruição

inédito pela grandeza e pela dimensão mundial. Esta destruição foi

marcante e a reconstrução não foi fácil, em especial nos países que não

contaram com o apoio do dinheiro americano (Plano Marshall).

Deve-se destacar que uma campanha ou movimento popular pela

paz surgiu logo após a Segunda Guerra. Por toda a imprensa mundial

foram publicadas reportagens e imagens sobre o medo de outra guerra,

e a busca da paz por meio de encontros internacionais. A imprensa

Page 53: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

52

Arte Visual Comunista

comunista não tardou em iniciar a publicação

de imagens pela paz. A imagem ao lado, capa

da revista Para Todos, trouxe uma imagem

fora dos padrões. Uma mulher com a bandeira

da paz enfrenta um homem em uma armadura

segurando uma espada. Ao chão um tipo de

seringa gigante. O homem tem a face enrugada.

Uma jovem mulher, defensora da paz, luta com

uma figura grotesca, de igual para igual. A paz

simbolizada pela beleza feminina e a guerra

por suas formas horrendas.

Outra imagem do mesmo ano, mas de outra publicação do partido,

é a que está ao lado, na qual se vê duas

mulheres chorando e se consolando. Uma

legenda reforçava a mensagem: “Para

que as mães e filhas não sucumbam num

mar de lágrimas, lutemos por um Pacto

de Paz entre as cinco grandes potências”.

A figura da mãe, desacompanhada ou

com a presença do filho, foi frequente na

campanha da paz nas páginas comunistas.

Assim, o medo de uma nova guerra era uma possibilidade na

mente de milhões de pessoas que tinham passado

recentemente pelo drama desta guerra. A campanha

pela paz mundial, de 1955, independente de suas

reais razões políticas, atingia diretamente muitas

pessoas.

Ferreira afirmou que os 500 milhões de

assinaturas conquistadas pelo Movimento Mundial

pela Paz (Apelo de Estocolmo) não significou

um sucesso, pelo contrário, pois 400 milhões de

assinaturas teriam vindo dos países comunistas

onde esta seria uma “obrigação”. (FERREIRA,

2002, p.240). O fato de ser “obrigação” não

significava que os que colocavam sua firma não

concordassem com a campanha. Os 100 milhões

Imprensa Popular, 10/05/1951

Page 54: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

53

Os Heróis da “Causa Operária”

de assinaturas restantes, vindas de 69 países, seriam muito pouco para

o autor. Não se pode esquecer que fazer tal campanha ou colocar sua

firma em países não comunistas poderia ser muito perigoso. O título

da imagem é muito significativa sobre a questão. Diz sua legenda: “[...]

Esses abnegados partidários da paz, no seu heroísmo anônimo, são os

propulsores da campanha em que manifesta o mais profundo anseio de

nosso povo”.

Para Falcão, que participou da delegação brasileira ao Congresso

Mundial pela Paz, em Helsinque, Finlândia, em junho de 1955, o

Movimento Mundial dos Partidários da Paz era composto por pessoas

comuns que não queriam uma nova guerra, abrigando não somente

comunistas, mas, também, democratas, socialistas, budistas, cristãos,

israelitas entre outros. (FALCÃO, 1988, p.401). A Campanha da Paz

contou com importantes artistas plásticos brasileiros que produziram

belas obras pela paz mundial. Os periódicos comunistas ainda

publicaram obras de renomados artistas mundiais, trazendo para a

campanha um arsenal de imagens de alto valor artístico.

Do lado brasileiro temos os gravuristas Danúbio Gonçalves

Scliar, Glênio Bianchetti, Virgina

Artigas, Renina Katz, Arydio

Cunha, Jorge Brandão, entre

outros. Do exterior, podemos

citar Gutuso (Itália), Diego

Rivera (México), Gropper

(EUA), Miltelberg (França),

entre outros. Ao lado vemos a

capa do periódico Voz Operária,

de março de 1955, em que se

destaque a “Campanha pela

Paz Mundial”. A imagem, uma

gravura de Danúbio Gonçalves,

está dividida em duas partes: um

homem assina o Apelo pela Paz;

em destaque, a professora ensina

os valores da paz aos alunos em

uma escola rústica popular.

Page 55: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

54

Arte Visual Comunista

Benévolo afirmou que o termo Partidário da Paz foi cria

do PCB ficando na memória de todos. Para ele, foi uma campanha

vitoriosa, em especial dentro das duras condições em que foi realizada

no país, pois muitos companheiros teriam sido presos e torturados.

(BENÉVOLO, 2003, p.129). As imagens da campanha foram inúmeras,

representando os operários, camponeses, massas anônimas etc. Estes

que simbolizavam o Bem e o Mal eram aqueles que desejavam a guerra,

que foi representada como fator de riqueza do imperialismo e dos países

capitalistas, principalmente dos Estados Unidos e dos que compunham

a OTAN. Eisenhower, presidente dos EUA após Truman, os secretários

de Estado Acheson e Dulles, bem como o general MacArthur eram

sinônimos de violência igualmente.

Acima vemos duas imagens. Na charge da esquerda, de 1951,

lê-se na legenda: ”A guerra de agressão de Truman e dos monopólios

ianques ao povo coreano, é o motivo da expressiva charge ao alto.” A

caveira, sempre sorrindo, foi tema corrente no imaginário comunista,

pois simbolizava a morte causada pelas guerras e pelos interesses

imperialistas norte-americanos. O homem de cartola, identificado

como o capitalismo, sorri com seu charuto na boca. Estava satisfeito

com os lucros da guerra. Não se preocupava com as mortes causadas

por ela, somente seu lucro era importante. Na outra charge, do ano

de 1952, com o mesmo sentido mas com a suavidade e genialidade do

brasileiro Dan. As notícias vindas sobre a paz na Coreia não eram boas

para os capitalistas, visto a perda de lucros que o fim da guerra causaria.

Voz O

perá

ria, 18

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/1951

Fu

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eiro de 19

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Page 56: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Os Heróis da “Causa Operária”

Curiosa a presença do quadro onde um capitalista comete suicídio com

o uso de arma de fogo e do enforcamento da cadela “fru-fru”. Por fim,

mais um suicídio à vista: um dos capitalistas segura em uma das mãos

uma garrafinha com veneno e na outra um copo cheio.

Em uma charge sobre o lucro com a guerra, vê-se

Truman trasvestido de estátua da Liberdade, sendo a coroa

formada por facas de guerra, a tocha foi substituída por uma

bomba e a tábua com a data da independência dos EUA por

um saco de dinheiro. Aos pés, vê-se homens agachados e

acorrentados, simbolizando a exploração e a opressão sob o

regime capitalista.

Os governos brasileiros também foram retratados

na Campanha de forma negativa, em especial no de Getúlio Vargas. A

charge ao lado seria um exemplo deste embate

na política interna. Nela vemos, provavelmente,

Truman, Acheson e MacArthur, ao lado de um

saco com um cifrão marcado, observando o

“enrosco” de Vargas, Góes Monteiro e João

Neves. Na mão de um desses personagens

(achamos que Góes) encontrava-se um papel

amassado com os dizeres “envio de tropas para

a Coreia”, e pela boca de João Neves escorre

uma longa baba. Um enorme abaixo-assinado

feito por brasileiros procurava impedir que o

governo brasileiro aderisse aos anseios norte-

americanos. A mensagem é compreensível

para o leitor: as figuras do governo foram identificadas e mostrava

que somente com a união (abaixo-assinado) seria possível derrotar a

política guerreira. O saco de dinheiro com seu cifrão, tema constante

das caricaturas e charges, significava o suborno realizado ou os

empréstimos sempre disponíveis ao Brasil, caso apoiasse os interesses

norte-americanos.

O tema do envio de tropas brasileiras para a guerra da Coreia foi

outro grande movimento levado a cabo pelo PCB: “mais uma memorável

batalha de mobilização popular”. (BENÉVOLO, 2003, p.128). Deste

movimento surgiu uma personagem que passou a figurar entre as

Voz Operária, 25/08/1951

Pa

rato

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Page 57: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Arte Visual Comunista

heroínas do PCB e que impulsionou o movimento: Elisa Branco. Em

solenidade, na data de 7 de setembro, na cidade de São Paulo, esta

militante do partido abriu uma faixa com os dizeres: “Os soldados

nossos filhos não irão para a Coreia”. Propondo uma insubordinação

militar, no pensamento da elite militar, foi presa e condenada a quatro

anos e três meses de prisão. Este fato foi retratado de várias formas

pela imprensa comunista. Elisa teve sua biografia sempre divulgada,

na qual era apresentada como uma mulher comum, batalhadora

(na vida e no trabalho) e militante do partido. Vamos analisar três

imagens. A primeira, de autoria do ilustrador da “Imprensa Popular”,

Jorge Brandão que se preocupou em fazer uma Elisa sorridente, bem

feminina, com cabelos penteados, brincos e de batom. Na segunda e

terceira imagens visualizamos a militante. Numa mais próxima do

real, está segurando a faixa com a frase referida, noutra, longe do que

poderia ter ocorrido, conduz uma leva de mulheres, muitas carregando

faixas, em defesa da paz.

Outro fato, que estranhamente não constou nas autobiografias

dos militantes, mas que esteve presente na imprensa

do partido, foi o movimento mundial em defesa ao casal

Rosenberg. Acusados pela justiça americana de passar

informações secretas à União Soviética e por tal razão

condenados à morte, pena capital pela cadeira elétrica. O

julgamento, iniciado em 1951, somente teve o seu desfecho

no ano de 1953, quando da execução do casal. Durante

estes dois anos, movimentos em defesa do casal foram

realizados no mundo todo. As ilustrações apresentadas na

imprensa comunista eram de vários artistas brasileiros e internacionais.

Impressa Popular, 03/08/1952Im

pressa

Pop

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8/19

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Fundamentos, janeiro de 1952

Fu

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Os Heróis da “Causa Operária”

Miltelberg, artista francês, fez uma charge

de Truman carregando duas cadeiras elétricas,

as destinadas ao casal Rosenberg. Publicada na

primeira página, não era acompanhada de texto,

pois falava por si só. Na legenda vemos a chamada

para a segunda página, na qual há demonstrações

de solidariedade dos trabalhadores brasileiros e da

existência da Associação Brasileira dos Direitos do

Homem (ABDH).

Em outra imagem temos a estátua da Liberdade

transformada em símbolo do Mal. Em uma das mãos

segura uma bomba “H”, com a outra aciona a energia da

cadeira elétrica, simbolizando a morte do casal. O uso da

caveira e das moedas traz a ideia do capitalismo como

sinônimo de morte. O desenho é do brasileiro Pedrosa e

ilustrava uma reportagem de página inteira com o título

Pequena história do processo Rosenberg.

Para dar mais emoção ao caso e ajudar a mobilizar as famílias,

a imprensa comunista não poupou os filhos do casal. A imagem ao

lado traz os dois filhos dos Rosenberg, Michael

e Robby, com olhar de espanto, demonstrando

medo e insegurança. O irmão mais velho abraçava

o caçula, reforçando o apelo de solidariedade.

Infelizmente, a legenda é de difícil leitura. Pelos

traços, a imagem deve ser uma reprodução de um

periódico internacional.

Retornando no tempo, nas páginas

comunistas, o movimento revolucionário de

1935 foi anualmente festejado pelos seus atos

“heroicos”. Já foi visto nas HQs sobre Prestes a

memória de 1935. Mas, como exemplo de uma

reportagem, pode-se citar a de 27 de novembro

de 1954, do jornal diário Imprensa Popular, em

sua primeira página, no lado direito, ocupando

o espaço de ¼ da página. É costumeiramente a

primeira notícia que o olhar humano busca ler

Imprensa Popular, 17/02/1954

Fundamentos, janeiro de 1952

Impressa Popular, 10/01/1953

Imp

ress

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01/

1953

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Arte Visual Comunista

em um jornal. A imagem retrata a figura de Luiz Carlos Prestes e trazia

uma faixa com a sigla ANL (Aliança Nacional Libertadora), fundada

em março de 1935 e que tinha por líder Prestes. Embora não fosse um

movimento de exclusividade comunista, agregava muitos democratas

que combatiam o nazifascismo no Brasil, no caso, o Integralismo. Com o

título Gloriosa data histórica, defendeu a data como importante para o

povo brasileiro, numa disputa de memória com o legalismo do governo

que rememorava os mortos que combateram este movimento, trazendo

um longo texto em homenagem a Prestes e a ANL:

[...] A frente do movimento popular da Aliança Nacional Libertadora e

da insurreição armada deflagrada sob a sua bandeira, estava a figura de

Luiz Carlos Prestes, o patriota incorruptível a que o povo ama e segue

[...]. Hoje, passados 19 anos dessa luta gloriosa contra a qual se abatem

as calúnias dos agentes internos do imperialismo, pode nosso povo olhar

para trás com legítimo orgulho [...] 27 de novembro é uma etapa gloriosa

na luta de todos os brasileiros pela independência nacional, as liberdades

democráticas, o progresso da Pátria, o bem-estar e a felicidade de nosso

povo.

Nas Histórias em Quadrinhos sobre Prestes, se lá não estava

retratado, era citado. No caso do requadro ao lado,

da HQ “Prestes – Herói e guia do povo brasileiro”,

possuía a seguinte legenda: “No Brasil, o povo é

sacudido pela Aliança nacional Libertadora. PÃO,

TERRA e LiBERDADE é a palavra de ordem que

agita as massas, traduzindo os mais sagrados anseios

de conquista de uma vida feliz para a classe operária

e a massa camponesa sem terra”. Lembrando que

em uma HQ, vista anteriormente, no requadro 2,

há a ausência de Prestes na imagem, mas no texto

estava “chefiando o glorioso movimento da Aliança

Nacional Libertadora”.

inúmeros foram os heróis da causa operária. Muitos assassinados

ou presos, de outrora ou contemporâneos, vivos ou mortos, brasileiros ou

estrangeiros: Siqueira Campos, Agliberto, Jaime Calado, “La Passionária”,

Barthé, Rosa Luxemburgo, Gramsci, Lênin, Mao, entre tantos.

Voz O

perá

ria, 0

3/01/19

49

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Os Heróis da “Causa Operária”

Zélia Magalhães, jovem de 23 anos, gênio alegre e cativante,

uma moça bem brasileira, uma filha adorada, participou de todas

as campanhas democráticas com fervor e entusiasmo. Defendeu a

redação do jornal Imprensa Popular de uma invasão policial, em 1946.

Enfrentou a ira policialesca, sua ofensa e brutalidade. Ajudou seu noivo,

futuro marido, Aristeu Magalhães, jornalista do citado periódico, a

suportar sua prisão abusiva em função de seu idealismo. Condenado a

dois anos, casou-se com Aristeu no presídio. Jamais deixou de sonhar

com a pátria livre e feliz. Em 1949, mesmo grávida, dividiu-se entre o

enxoval do bebê, os estudos e a luta democrática. Neste ano, mais uma

batalha política: impedir a aprovação da Lei de Segurança Nacional que

iria reduzir os direitos políticos dos brasileiros. Em comício organizado

pelo PCB, no dia 16 de novembro deste ano, na Esplanada do Castelo,

cidade do Rio de Janeiro, em meio ao ato, a policia começou a atirar

e a espancar populares. Aristeu retirou

Zélia, grávida de seu primeiro filho,

do local e entraram em um bonde

na tentativa de se protegerem. A

polícia cercou o coletivo arrancando

e surrando Aristeu. Zélia começou a

gritar para defender seu esposo amado,

covardemente atacado: “[...] Nesse

instante ouviu-se um estampido e Zélia

cai mortalmente ferida!. Um tiro na

altura da nuca! Um assassinato frio,

brutal, selvagem!”1 A imagem, de autoria de Virgínia Artigas, retrata

este momento.

Outra heroína da causa operária foi uma tecelã, Angelina

Gonçalves. Nas comemorações de primeiro de maio de 1950, dia do

trabalhador, na cidade de Rio Grande (RS), Angelina foi morta por

um tiro da repressão policial. Embora não tenha sido a única ferida e

morta neste dia, tornou-se mais simbólica para a causa em função de

estar na frente da passeata com a bandeira nacional em sua mão direita.

Momento Feminino, periódico do partido destinado às mulheres, trazia

1 Fundamentos, março de 1950, p. 27. Desenho de Virgínia Artigas, para o texto de autoria de Diocelia Viana. O parágrafo foi baseado neste artigo.

Fundamentos, março de 1950

Page 61: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

60

Arte Visual Comunista

uma narrativa bem emotiva para descrever a cena de sua morte: “[...]

Angelina cai. O vermelho de seu sangue mancha o pano da bandeira e o

solo de sua cidade natal”.2

Angelina ganhou também uma poesia em sua homenagem em

que se pode ler: A bandeira que desfraldava cobriu seu caixão; que a

música que cantava [hino operário segundo a reportagem] outros lábios

entoarão, chamando os oprimidos, como era Angelina, para a luta; que

em outros Primeiro de Maio, nunca a esquecerão; que outras jovens

operárias corajosas, como ela era, marcharão. Por fim, que sua morte

não foi em vão, que será vingada por outras mãos.

Canção de Angelina, a tecelã3

A primavera está florindo pelo mundo,

Angelina está morta em seu caixão.

Desfraldara a bandeira sobre o corpo,

a bandeira que cobriu o seu caixão.

O hino que seus lábios repetiam,

cresce em ritmos de rápida explosão.

Do coração ferido o agudo grito

é mais um toque de rebelião,

que chama os oprimidos para a luta

e que levanta as pedras pelo chão.

Porque tecia o linho do futuro,

Angelina está morta em seu caixão.

Mas de suas mãos, os fios que tecia,

em bandeiras de paz tremularão.

Pois nossas mãos já tecem os fios de fogos,

que seu corpo baleado vingarão.

Nos desfiles de maio do futuro,

as novas Angelinas marcharão,

e de mãos dadas entoarão o hino,

que milhões de oprimidos cantarão.

(Nair Batista)

2 Retirado de Momento Feminino, maio de 1954, p. 3.3 Retirado de Para Todos, abril de 1951.

Impressa Popular, 01/05/1952.

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61

Os Heróis da “Causa Operária”

Do contexto internacional podemos citar, como exemplo a ser

seguido, a heroína do movimento comunista e espanhola Dolores

Ibarruri. Conhecida mundialmente como “La Passionária”, foi uma das

líderes contra o governo ditatorial fascista de Franco, na Espanha, foi

sempre festejada na imprensa comunista brasileira. Muitas foram as

reportagens publicadas sobre os combates

contra a ditadura franquista, ilustradas com

caricaturas de Franco e com os heróis desta

luta, entretanto, “La Passionária” foi a mais

ilustrada e comentada. Em reportagem do

jornal A Classe Operária foi apresentada

como aquela que inspirava confiança,

segurança, abnegação, sacrifício, heroísmo

aos que lutavam contra Franco: “Com ela,

para a frente, até a nossa vitória!” A imagem

ao lado traz uma mulher bem feminina, com

um colar no qual se destaca uma estrela.

Seu rosto é tranquilo e feliz, apesar de

todo o sofrimento que tinha passado e que

estaria passando no combate a Franco. Seria impensável, como vimos

em outros exemplos, colocar o herói em posição inferior, de abatimento

e tristeza.

Muitos seriam os heróis e heroínas que poderiam ser mostrados

e analisados aqui, mas, por falta de espaço, optou-se por uma pequena

seleção que possibilite mostrar as formas de construção do imaginário

heroico comunista e operário, enfim do militante ideal para o partido.

No capítulo seguinte, buscar-se-á dar uma visão geral do

cotidiano e das lutas pela organização dos trabalhadores e dos operários

pelo PCB.

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46

.

Page 63: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)
Page 64: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

63

COTIDIANO, ORGANIZAçãO E FESTAS

Introdução

Este capítulo visa estudar alguns problemas enfrentados no

cotidiano da população brasileira, em especial a carioca. O cotidiano

do brasileiro nos anos aqui estudados (1945/58), no que refere à

alimentação, transporte coletivo, moradia, saneamento básico, custo

da vida e inflação foi diariamente retratado na imprensa comunista.

A organizações sindicais, suas lutas e as repressões patronais e

governamentais sentidas; os movimentos pela posse da terra e

condições de vida do camponês foram igualmente apresentados nesta

imprensa. Ainda se pode acrescentar o programa do PCB para os

problemas mencionados, seus vínculos com organizações populares, e

as festividades envolvendo os militantes em campanhas de integração,

arrecadação financeira etc. O cotidiano feminino ficou de fora. Para tal

tema, é sugerida a leitura da dissertação de mestrado de Juliana Dela

Torres.1 Este capítulo está composto pelos temas acima apontados e

apresentados nesta ordem.

O difícil dia a dia

A questão de moradia, incluindo o saneamento básico, foi

fartamente apresentada, discutida e ilustrada na imprensa do partido.

Neste aspecto, a favela adquiriu um papel importante, não só pela

dimensão numérica que já tinha na época (169.305 moradores pelo

Censo de 1950) como também pela penetração do ideário comunista

neste meio. Quirino Campofiorito, sua esposa Hilda Campofiorito e

Renina Katz produziram belas imagens deste cotidiano sofredor.

1 Sugiro a leitura da dissertação, sob minha orientação. Disponível em: <http://www2.uel.br/cch /his/mesthis/arqtxt/disonline/DissertacaoJuliana.pdf>.

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64

Arte Visual Comunista

O barraco era de paredes de barro, resto de madeiras ou metais;

o telhado de zinco ou de telhas usadas ou outro material qualquer;

o assoalho de chão. Sem água e com o esgoto correndo a céu aberto,

casas amontoadas, ruas sem traçado ou planejamento, assim era a

favela carioca. Nas imagens acima, vemos mulheres carregando latas

de água na cabeça, subindo o morro com a água para cozinhar, tomar

banho ou lavar seus pratos, panelas e roupas, que são lavadas em tinas

e depois dependuradas em varais, para secar ao sol e vento. Crianças

ficam ao lado da mãe, sem escolas para ficar ou estudar. Lembrando um

sucesso carnavalesco: “Lá vai Maria, sobe o morro e não se cansa, pela

mão leva a criança, lá vai Maria” (Lata d’água, Luís Peixoto e J. Junior,

1952). Diferente desta Maria, a retratada tem uma face que demonstra

o cansaço de sua labuta.

Em geral, a moradia popular – os cortiços, casas de cômodos e

os barracos das favelas – ficavam próximas aos locais onde houvesse

disponibilidade de emprego. O custo da alimentação e do transporte

coletivo era proibitivo aos trabalhadores com menor poder aquisitivo.

Como a procura por moradias era maior que a sua disponibilidade, seu

custo era elevado, havendo a necessidade da ocupação dos morros, no

qual a habitação não era gratuita, mas possível de pagar.

A seguir, uma imagem fazia parte de uma propaganda do partido,

publicado no jornal Tribuna Popular, visando às eleições municipais de

1946. Cinco problemas são visíveis: condições de trabalho; alimentação

(uso da marmita); transporte coletivo (excesso de passageiros);

habitação subnormal; alto custo da vida. O título tem a ver com o

período da legalidade do PCB, da conciliação com a burguesia nacional

e da união nacional, daí a vinculação da melhoria das condições de vida

e trabalho com o aumento da produtividade, ou seja, do lucro patronal.

Fundamentos, setembro de 1951 Tribuna Popular, 14/01/1947 Momento Feminino, 12/05/1947

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Cotidiano, Organização e Festas

No primeiro requadro, há a queixa das condições de trabalho,

do ambiente insalubre e anti-higiênico, que causava o desânimo e

problemas de saúde no empregado, o que dificultava sua saída da

miséria. No segundo requadro, a situação da alimentação, onde o

trabalhador comia sentado na sarjeta ou em cima de latas, uma comida

fria e sem gosto, apenas para enganar o estômago. Muitas vezes a

comida estragava ou azedava pela má conservação e o calor, causando

males a este trabalhador. Tudo isto levando à queda da produtividade.

No terceiro quadro, o caótico transporte coletivo, seja qual tipo fosse:

trem suburbano, bondes, ônibus, lotações ou O Amigo da Onça. O

cansaço das viagens ajudava na queda da produtividade. No penúltimo

requadro, lá está o barraco, acompanhado da subalimentação e do

cansaço físico, disseminando a tuberculose para toda a família. Por fim,

a queixa da alarmante carestia da vida e a sua solução: os trabalhadores

deveriam se organizar em seus sindicatos e comissões de salários na

luta por melhores condições de vida e por uma produtividade maior.

Neste período eleitoral, um importante

membro do partido e intelectual brasileiro

se destacou pela sua marca: o deboche

e a comicidade. Apparício Torelly, mais

conhecido por “Barão de Itararé”, lançou

como seu slogan de campanha para vereador

da cidade do Rio de Janeiro a seguinte frase:

”Mais leite! Mais água! Mas menos água no

leite! Vote no Barão de itararé”. A imagem ao

lado traz a faixa com o perfil do “Barão”. Ela

foi feita por Edíria Carneiro, uma das militantes que ilustrava o jornal

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Arte Visual Comunista

A Classe Operária e, quando era requisitada, fazia cartazes e faixas para

o partido. O que parece cômico na faixa do “Barão”, não o era para a

maioria da população carioca nas décadas de 1940 e 1950, pois a frase

da campanha denunciava três graves problemas no seu cotidiano: falta

de leite no mercado consumidor; falta de água nas torneiras, em especial

no verão; e a adulteração do leite com a adição da água.

Após a cassação do partido,

em 1947, inicia-se uma fase de muita

contestação ao governo e a imagem

passa a ser uma importante arma de

combate e denúncia das condições de

vida e trabalho da população. A charge

ao lado sintetiza este momento: de

um lado a sede do partido é fechada

e cercada pelas forças militares do

governo; de outro denuncia o alto custo

das mercadorias de primeira necessidade, a cobrança de luvas para

se conseguir alugar uma casa e, mais uma vez, o quadro caótico do

transporte coletivo.

Na realidade, não era só o leite que

faltava para os consumidores cariocas.

Era difícil de encontrar na praça a carne,

a farinha de trigo, a banha, a cebola, entre

outras tantas mercadorias alimentícias.

Quando existia era com ágio, no câmbio

negro, como se chamava, uma vez que as

mercadorias tabeladas pelo governo eram

ignoradas pelos comerciantes. Na imagem

ao lado é possível visualizar mulheres e

crianças na porta de um estabelecimento

comercial esperando para entrar. Um

cansou de esperar em pé e sentou na sarjeta. A espera por um conjunto

de produtos poderia levar o dia inteiro, dependendo da quantidade

de gêneros alimentícios a comprar e do número de pessoas na fila.

Como dizia outro sucesso carnavalesco: “[...] Deixo em casa os meus

serviços/ Toda a minha obrigação/ Saio andando pelas ruas procurando

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Cotidiano, Organização e Festas

alimentação/ Vivo penando na fila para comprar/ A carne, a banha, o

leite e o pão/ Esse sacrifício eu não aguento não [...]” (A situação vai

melhorar, Claudionor Santana e Andreza M. Silva, 1946).

Quirino Campofiorito produziu uma série intitulada “Zezé”. Em

cada estória, Zezé ajudava, apoiava, tranquilizava, organizava entre

outras ações. Foi apresentada em uma estória da série: brasileirinha

morena, esportiva, alegre, boa amiga de todos; gostava de tudo que

existe de bom na vida, tal como o sol, conforto, beleza e saúde. Mas

o mais importante é que estava sempre disposta a ajudar, sempre

solidária com quem precisava. Abaixo temos a estória “Zezé e os preços”,

que parte da tristeza de Zezé até uma tomada de decisão: organizar as

mulheres. A vida estava cara demais, tudo subia no cartaz, o dinheiro

não chegava para gastar. O que fazer? A solução foi encontrada na

solidariedade, na organização das mulheres em seus bairros por meio

das Uniões Femininas. Estas foram criadas em vários bairros cariocas

e tratavam de exigir aos poderes públicos ações contra a carestia, tais

como: ida da vaca leiteira às praças do bairro; criação de cooperativas

de consumidores etc. Também fazia trabalhos estatísticos da situação

econômica e habitacional dos seus moradores.

Uma figura no folclore cotidiano das pessoas de então era o

“tubarão”. Este foi retratado de várias maneiras: peixe marinho sem

pernas; com pernas e usando polainas; sem roupas; de paletó (com ou

sem cartola); ao lado de presidentes e governadores; ou até mesmo com

a face de um industrial ou de negociante. Para o cidadão comum, era

aquele que ganhava muito dinheiro sobre a miséria alheia: comerciante

ou atravessador ganancioso.

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Arte Visual Comunista

Na imagem da esquerda, abaixo, o “tubarão”, formalmente

vestido, segura um balão bem grande, que irá subir às alturas quando se

soltar. Neste balão está escrito os nomes dos bens indispensáveis para

o povo (comida, escola, transporte, vestimenta e moradia). Embaixo,

gritando de forma desesperada e de braços erguidos, o salário. Enfim,

quem determina a altura dos custos é o “tubarão”, que tem muita linha

para soltar. Neste sentido vai o desenho da esquerda, no qual o salário

suando, de muletas e perna quebrada, não consegue acompanhar a

escalada da carestia da vida

A alimentação, como pôde ser visto em várias imagens, era

precária e cara. Morar perto do trabalho tornava-se importante por três

razões: a) não se atrasava para chegar ao trabalho; b) não tinha custo com

o transporte; c) economizava-se no gasto com comida, pois se poderia

almoçar em casa. O gráfico abaixo traz informações precisas sobre como

e onde se alimentava o operário carioca nos anos 1940. A indústria

de tecelagem era a que mais empregava no período, e verificando o

gráfico pode-se perceber que quase 90% dos trabalhadores comiam

em casa ou traziam marmitas. Este quadro reflete bem como era cara a

alimentação fora do lar. Poucos eram os operários que se alimentavam

em restaurantes particulares, e poucas eram as empresas que cumpriam

a lei de oferecer restaurantes ou refeitórios aos seus empregados.

Lembremos o requadro já visto, em que muitos trabalhadores comiam

usando a marmita, sentados em caixotes ou na sarjeta. A marmita era

a companheira do dia a dia do trabalhador, lembremos assim mais

um trecho de outro sucesso carnavalesco: “Você conhece o pedreiro

Gazeta Sindical, 15/02/1956 Gazeta Sindical, 1ª quinzena, maio de 1952

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Cotidiano, Organização e Festas

Valdemar?/ Não conhece/ Mas eu vou lhe apresentar […] Leva a

marmita embrulhada no jornal/ se tem almoço nem sempre tem jantar

[...].” (Pedreiro Valdemar, sucesso do carnaval de 1949, de Roberto

Martins e Wilson Batista)

Gráfico I: formas de alimentação dos industriários – 1946

Fonte: Revista Municipal de Engenharia, julho-setembro 1951, p.147. Gráfico elaborado pelo autor.

Outro problema já apresentado nas imagens acima, e que envolvia

o cotidiano do trabalhar, era do transporte coletivo. No caso da cidade

do Rio de Janeiro, o bonde, principal transporte, era de propriedade

de uma companhia anglo/canadense (Light). Os trens suburbanos,

por outro lado, pertenciam ao governo federal (Central do Brasil e

Leopoldina). Ambos os serviços se mostravam deficientes em números

de carros e eram lentos, caros e perigosos. Os trens da Central, movidos

a eletricidade, tinham maior rapidez, entretanto, as outras linhas ainda

se utilizavam da “Maria Fumaça”, lentos e sujando os passageiros de

fuligem. As portas dos trens estavam constantemente quebradas, não

fechavam mais, ocasionando acidentes. Da mesma forma, as janelas

quebradas e sem vidros. Isto tudo sem falar nos pingentes, passageiros

que eram obrigados a viajar dependurados nas janelas e portas pela

falta de espaço interno nos vagões.

Os bondes seguiam as mesmas regras, eram velhos, e com o tempo

não tiveram aumento no número de carros, mesmo diante do aumento

Page 71: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Arte Visual Comunista

de demanda de passageiros. A carência dos trens suburbanos e bondes

fez aumentar o uso do ônibus, em especial por este ir aonde os trilhos

não iam. Mas, mesmo com os ônibus, o problema não foi resolvido, pois

seu custo era elevado. Assim, surgiu mais um meio de transporte: O

Amigo da Onça. Estes seriam caminhões de todos os tamanhos e tipos,

coberto com toldo, com escadinhas para o acesso dos passageiros, que

iam aos solavancos enfrentando as ruas de terra dos subúrbios cariocas.

Assim explicou uma reportagem o que seria este e o porquê de seu uso:

[...] O bom humor carioca batizou de “amigo da onça” os caminhões que

fazem lotação para longínquos subúrbios da Leopoldina e da Central

[...]. Contudo, prestam inestimável serviço a milhares de pessoas

residentes em subúrbios completamente desprovidos de condução. Vem

daí o interessante apelido de “Amigo da Onça”, isto é, prestam serviços,

mas são traiçoeiros, inseguros e desconfortáveis, expondo os que neles

viajam, ao sol, à chuva e à possibilidade de graves desastres.2

A imprensa comunista não desenhou nenhum Amigo da

Onça, no entanto, o bonde foi muitas vezes retratado, em especial

por ser de propriedade de uma empresa

“imperialista”, que não visava o bem-

estar da comunidade, apenas o lucro.

Na ilustração ao lado, mais uma vez o

bonde lotado. Em sua legenda se pode ler

a denúncia do aumento dos preços das

passagens dos bondes, favorecendo o lucro

do “polvo canadense”, como chamavam

a Light. Diga-se que o desenho da Light

como polvo a sugar com seus tentáculos

a riqueza nacional e o salário do povo foi uma realidade na imprensa

comunista. Começa a legenda com: “Isto é um escândalo! Um crime

contra o povo!”.

O cronista Porto da Silveira do Jornal do Brasil sintetizou

em poucas palavras sua opinião, escrevendo sobre o problema do

2 Restrições aos lotações particulares – Céticos os moradores do subúrbio quanto à oportunidade da medida, O Jornal, 21/10/48, In: Recortes Lux (Transportes III), v.LXXVI, p.69.

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Cotidiano, Organização e Festas

deslocamento na cidade: “Entre os problemas que angustiam os cariocas,

o do tráfego é, no momento, talvez, o mais grave. Não há exagero em

afirmar que ele constitui para a maioria dos moradores desta cidade,

um verdadeiro flagelo social”. (15/08/1948).

Toda essa problemática referente ao cotidiano exigia do

trabalhador alguma forma de protesto. Este poderia ser organizado ou

espontâneo. Na próxima parte do capítulo veremos, por meio de imagens

da imprensa comunista, algumas formas levadas à cabo pelo PCB.

Organização e Luta

Esta parte divide-se em duas: a luta sindical e a luta no campo.

Evidentemente que dentro dos limites impostos nesta publicação, os

problemas apontados não foram analisados profundamente. Procurou-

se apresentar questões que atingiam diretamente a organização sindical

operária e camponesa por meio das imagens.

• A luta sindical

O jornal do partido voltado para os sindicatos era a Gazeta

Sindical, de tiragem quinzenal. A imagem acima fazia parte da série

“Apuros de um pelego”. Pelo formato do título, é possível visualizar que

o pelego está fugindo, pois as pernas das letras que formam a palavra

estão em movimento. Reforça a fuga a palavra “apuros”. No primeiro

requadro, sob olhar de várias pessoas (homens e mulheres), dois

militantes sindicais picham e colam cartazes no muro de uma grande

fábrica. Neles há a chamada para a luta pelo abono de Natal, o que

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representa o atual 13º salário, mas dado em forma de abono, ou seja, não

era obrigatório e não incidia nem descontava previdência social. Assim,

em todo fim de ano era necessária a mobilização dos trabalhadores para

a conquista do abono.

O segundo requadro nos oferece informações valiosas (ou

denúncias para os trabalhadores) tais como: o abono não desejado pelos

patrões; o diretor sindical como “empregado” do Ministro do Trabalho,

ou seja, deveria ser um interventor federal no sindicato; e na visão do

pelego uns saquinhos de castanhas apaziguariam os trabalhadores em

suas lutas.

Em 15 de Março de 1946, com os poderes ditatoriais contidos

na Carta de 37, o presidente Dutra baixou o decreto-lei número 9.070,

regulando o direito de greve, o que significou sua proibição quase

que total. Quanto aos sindicatos, em 8 de maio de 1947 foi assinado

pelo governo o decreto número 23.046, autorizando-o a intervir nos

sindicatos em que as diretorias tivessem dado apoio à Confederação

Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), de orientação comunista.

Só até agosto de 1947, o governo já havia feito intervenções em 170

sindicatos. E assim foi até o fim de seu governo em dezembro de 1950. A

imagem acima é de 1949, ou seja, em plena vigência das leis repressivas

de Dutra.

Por fim, o último requadro: “Fica com teus sacos, puxa-saco!

Castanha não veste nem enche barriga de ninguém! Nossas famílias

estão passando fome e têm direito a um Natal decente! O que queremos

e havemos de conseguir é um mês de abono de Natal!” O público

presente ao sindicato reage e denuncia a política da direção de classe.

Na mesa saquinhos de castanha, na plateia homens e mulheres com

rostos raivosos, mostrando descontentamento. O pelego, por outro

lado, assustado e não entendendo a revolta dos sindicalizados.

A luta sindical na forma de desenhos foi fartamente usada

nas páginas da imprensa comunista brasileira. Acima a existência do

pelego, sua subordinação ao Ministro do Trabalho, a luta e organização

do empregado pela repulsa ao pelego e na luta pelo abono. Na política

de controle do sindicato por parte do governo federal dois importantes

componentes foram usados: o imposto sindical e o atestado ideológico.

Este era fornecido pelo Departamento de Ordem Política e Social

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Cotidiano, Organização e Festas

(DOPS) que era responsável pela repressão aos

movimentos sociais desde os tempo da ditadura

Vargas (1937-1945). Aos militantes operários

que tinham ficha suspeita não era fornecida o

atestado ideológico, certidão obrigatória para

obter a inscrição do nome na chapa sindical.

Com tal atestado ficava fácil ao governo impedir

que pessoas “não confiáveis” fossem candidatos

e vencessem eleições para cargos em diretorias

sindicais.

A figura ao lado fazia parte de um desenho maior chamado

“História de um roubo”. Nesta parte

vemos trabalhadores (homens e

mulheres) desfilando com uma faixa com

os dizeres “abaixo o imposto sindical”. A

legenda destaca a importância da união,

dizendo ao final que “Não queremos mais

ser roubados”. Assim, o imposto sindical

era considerado um roubo. Este foi criado

pelo decreto-lei n. 2.377, de 08 de julho

de 1940. Descontado anualmente na

folha de pagamento de todos os trabalhadores brasileiros, sindicalizados

ou não, regidos pela CLT, no valor de um dia de trabalho. Pelo decreto-

lei n. 4.298, de 14 de maio de 1942, ficava prevista sua aplicação pelo

sindicato: a) em agências de colocação; b) assistência à maternidade;

c) assistência médica e dentária; d) assistência judiciária; e) escolas

de alfabetização e pré-vocacionais; f) em cooperativas de crédito e

consumo; g) colônias de férias; h) bibliotecas; i) finalidades esportivas;

e j) despesas decorrentes de encargos criados pela lei. Pode-se perceber

o caráter assistencialista do sindicato, ou seja, pouco vinculado às lutas

sindicais propriamente ditas. Do total arrecadado, 54% ficavam para os

sindicatos, 15% para as federações e 5% para as confederações.

Com esse recolhimento gerando verbas para os sindicatos fazerem

políticas assistencialistas, com o atestado ideológico controlando o

acesso às diretorias, com as intervenções sindicais pelo Ministério do

Trabalho, pode-se concluir que o imposto sindical financiava a própria

Gazeta Sindical, 2ª quinzena, maio de 1952

Gazeta Sindical, 1ª quinzena, maio de 1953

Page 75: ARTE VISUAL COMUNISTA (imprensa comunista brasileira, 1945 -1958)

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Arte Visual Comunista

manipulação, opressão e dominação dos sindicatos pelo estado e pelo

patronato.

Em enquete do jornal Imprensa Popular, de 13 de março de 1952,

alguns operários declararam o que achavam do Imposto Sindical. Um

declarou: “O imposto sindical é uma roubalheira. Em que beneficia os

operários? Sai do nosso bolso para custear banquetes de pelegos e farras

na Europa”. Outro concluiu: “Ser descontado em um dia de trabalho é

diminuir o pão de nossos filhos.” Apesar de toda a queixa e reclamação,

o imposto, agora chamado de “Contribuição Sindical”, permanece até

hoje (2010).

O apelo da “União faz a força” e do lema internacional do

proletariado, “operários de todo o mundo, uni-vos”, estiveram

constantemente presentes nos desenhos que expressavam a luta dos

trabalhadores contra os patrões. No caso das duas imagens a seguir, tais

frases estão ausentes. Na esquerda, uma mão gigante esmaga os patrões.

Estes estão vestidos de terno e usando cartola, símbolos tradicionais na

representação patronal. Em cada dedo uma sílaba formando a palavra

“organização”. Portanto, uma mensagem simples em um desenho

de fácil entendimento: a organização dos trabalhadores venceria os

patrões. Na outra imagem, novamente o patrão tradicionalmente

vestido, obeso e de charuto na mão, tranquilo, contando com o apoio do

Ministro do Trabalho e da força policial para reprimir os trabalhadores.

O uso da legenda ajudava a identificar os personagens e os símbolos. Ao

lado da repressão há a construção de um monstro de três cabeças, cada

qual com um significado: imposto sindical; congelamento de salários e

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Cotidiano, Organização e Festas

a Lei de Segurança Nacional. No combate, os trabalhadores (homens

e mulheres), unidos, contavam com outra representação, uma enorme

marreta. Esta simbolizava a unidade dos trabalhadores. Novamente a

mesma mensagem: só a união dos operários venceria o patronato e seus

aliados do governo.

• A luta camponesa

Para o partido comunista, seguindo a tradição marxista, a

revolução socialista seria uma construção da classe operária, portanto,

uma revolução urbana. As massas camponesas significavam atraso,

falta de consciência política, subordinação ao proprietário da terra. Os

intelectuais comunistas brasileiros diziam que as relações estabelecidas

entre o camponês e o patronato rural era medieval, o que demonstrava

uma generalização desta relação em um país continental, portanto,

desconhecimento da realidade campesina e da relação trabalhista por

desconsiderar que o proprietário rural como um capitalista que explora

a mão de obra, paga salários, obtém lucro com mais valia.

As condições de vida no campo, o contrato de trabalho, expulsões,

assassinatos, migração para a cidade, organização e congressos, enfim

uma infinidade de temas voltados ao trabalho no campo foi retratado

nas páginas da imprensa comunista.

Falar em vida camponesa é falar de reforma agrária. No jornal

Tribuna Popular, de 1947, lá estava a figura do camponês, com seu

chapéu típico, roupa rude e olhar simplório, ao fundo a plantação,

razão de seu sustento. Esta imagem acompanha uma coluna chamada

Gazeta Sindical, dezembro de 1951

Gazeta Sindical, 22/03/1949

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Arte Visual Comunista

“Camponês”. Esta coluna era dirigida ao camponês.

Primeiro, descreve-o desesperançoso (mãos cheias

de calos e mesmo depois de idoso continua a

trabalhar, mais cansado e mais pobre, cultivando

uma terra que e nunca será sua, sem esperança no

futuro etc.). Depois coloca uma luz no fim do túnel

de sua vida: “[...] Tribuna Popular tem como um

dos pontos mais altos do seu programa: a reforma

agrária. É a entrega das terras aos camponeses. É

a melhoria de condições de vida e de trabalho da

grande massa trabalhadora do campo. É dinheiro na mão do camponês,

é saúde, instrução e moradia [...]”. Este jornal seria o porta-voz dos

camponeses, assim pede que o assinem. Mas, percebe-se que a reforma

agrária seria a solução do camponês, pois com a posse da terra ele teria

melhores condições de vida.

Segundo o Censo de 1950, a população rural brasileira era

superior a 33 milhões, sendo o número de assalariados ativos em torno

de quatro milhões. Estes seriam aqueles que recebem a maior parte

do salário em dinheiro, ou seja, nesta conta se está excluindo um bom

número de trabalhadores agrícolas, já que muitas vezes o contrato

que faziam com o proprietário da terra variava o valor recebido em

dinheiro, às vezes nem recebendo em espécie, mas na comercialização

da mercadoria.

Segundo o jornal Voz Operária, de 10 de dezembro de 1955,

os colonos do café constituíam um dos setores mais numerosos do

campesinato brasileiro. Pelo decreto n. 34.450, de 1º de maio de 1951,

os trabalhadores que cuidavam de mil pés de café deviam receber o

salário mínimo, que não era cumprido. No setor da cotonicultura, o

mesmo jornal informou que os plantadores de algodão no estado de

São Paulo pagavam ao dono da terra, pelo arrendamento, 25 a 40%

sobre a colheita. Os empréstimos bancários, as compras de sementes

e insumos, a plantação e colheita ficavam por conta do arrendatário.

Assim se estes ganhavam pouco, quanto ganhariam os trabalhadores

provisórios da colheita?

O tema da reforma agrária não era novo na política nacional,

já existia antes de 1945 e continua até hoje. Na proposta do PCB,

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Cotidiano, Organização e Festas

como vimos acima, a ideia era doar terras para os camponeses, mas

não só. Além da posse legal, medidas de estímulo à produção seriam

prestadas, tais como apoio técnico, fornecimento de ferramentas,

maquinário, inseticidas, adubos e sementes. Uma das grandes críticas

ao governo federal seria a má qualidade das sementes, que causava

baixa produtividade, denunciando o conluio com as multinacionais,

em especial a estadunidense Anderson Clayton. O PCB estruturou a

“União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil” (ULTAB)

que promovia reuniões, conferências, campanhas pela organização dos

camponeses e pela reforma agrária. Esta entidade promoveu em 1955

uma grande campanha por coleta de assinaturas pró-reforma agrária,

sem obter êxito político algum.

Uma imagem fundamental na questão agrária brasileira e

levantada pela imprensa comunista

é a posse da terra, realizada por meio

da reforma agrária, com distribuição

dos títulos da terra para quem nelas

trabalhasse e para aqueles que chegaram

primeiro, tornassem-na cultivável.

A ilustração ao lado é significativa.

Destaca-se o título de propriedade, mas

se pode ver a terra produzindo e a alegria do camponês. Agora estaria

seguro de que o título lhe garantiria a tranquilidade para continuar

produzindo.

Mas, o que se viu em abundância na imprensa comunista foi

a denúncia de violência e mortes nos campos brasileiros. Na imagem

seguinte, de autoria de Arydio, importante ilustrador da imprensa

comunista, retrata a violência policial ao camponês. Esta poderia vir de

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Arte Visual Comunista

agentes do estado como por capangas

de um latifundiário. Para o estado do

Paraná, por exemplo, nos anos de 1949

e 1950 tiveram várias reportagens do

jornal Voz Operária sobre violência

e assassinatos com apoio do governo

estadual. A guerrilha de Porecatu,

no estado do Paraná, mereceria um

destaque, mas foge aos objetivos deste texto e ao espaço disponível.

Duas ilustrações sobre o Paraná se destacam para o ano de 1951

e que retratavam bem os problemas ocorridos naqueles tempos. Ambas

de autoria de Jorge Brandão, ilustrador do jornal Imprensa Popular.

A primeira, da esquerda, ilustrava a reportagem “Foi a polícia que

matou meu pai!” Em sua legenda está escrito: “o heroico camponês

Francisco Bernardo foi trucidado pela polícia a serviço do latifundiário

Lunardelli. Mas seu filho, honrando sai memória prossegue na luta

pela posse da terra”.3 A segunda, da direita, ilustra a reportagem

“Forças policiais semeiam o terror em toda a região norte do Paraná”.

Sem legenda, apresentava a cena de policiais e capangas incendiando

as casas e matando os camponeses. Na parte frontal, à esquerda, um

policial fardado impede uma mulher de socorrer seus companheiros.

Da reportagem se pode ler: “[...] Sob o pretexto de revistar os posseiros,

3 Imprensa Popular, 31/06/1951, p. 3.

Voz O

perá

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3/12/1955

Imprensa Popular, 31/05/1951Imprensa Popular, 29/06/1951

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Cotidiano, Organização e Festas

à procura de material ‘subversivo’, os bandidos incendeiam as casas,

saqueiam os paióis de cereais, destroem as plantações, matam a tiros o

gado. A política de terra arrasada está sendo posta em prática em toda

a região.”4 Tal política estava baseada na destruição das condições de

subsistência do camponês para obrigá-lo a abandonar as terras. Este

tinha chegado à região, desmatado e limpado o terreno, construído casa

e plantado. Após anos, chegaram os supostos proprietários com títulos

conseguidos junto ao governo do estado, exigindo a saída das terras sem

nenhuma indenização.

Para a organização do camponês, ou seu “esclarecimento”

político, a história em quadrinho foi usada pela imprensa comunista.

A HQ “Trabalho e comida para os flagelados” conta a história da seca

que assolava o interior e atingia 12 milhões de brasileiros. A falta d’água

matando a plantação e o gado. A população miserável em busca de

comida nas cidades, sem encontrar apoio de ninguém, muito menos

do governo. Aos latifundiários tudo! Eles não tinham problemas com a

água, pois possuíam açudes e incentivo do governo. Ao final da HQ, os

retirantes descobrem certas verdades: “[...] Verificam que as verbas para

o combate às secas, além de muito pequenas, não são empregadas. Mas

as despesas militares [...] aumentam sem parar. Eles protestam contra

esse regime de guerra que os condena [...] que venha outro regime”.

O requadro final é muito auspicioso. Carregando faixas com dizeres de

luta (“Viva a união dos operários e camponeses”, “Viva Prestes”, “Terra

para os camponeses”, “Por um governo do povo sem ‘coronéis’”, “Paz,

pão e Trabalho”), os camponeses caminhavam para um novo porvir, um

novo horizonte em suas vidas.

4 Imprensa Popular, 29/06/1951, p. 3.

Voz Operária, 06/03/1953

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Arte Visual Comunista

Uma HQ que não poderia ficar de fora deste trabalho é a

intitulada “O camponês Belarmino encontra o caminho”. Composta por

18 requadros, conta a história de vida do camponês Belarmino.

Voz O

perá

ria, 30

/09

/1950

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Cotidiano, Organização e Festas

Belarmino era um pequeno sitiante, levava uma vida dura e

sem apoio do governo. Morava com sua esposa Zefa e seus três filhos.

Precisando de crédito foi ao banco, mas este exigiu garantias que não

poderia dar. Procura, então, um armazém da cidade para conseguir

fornecimentos, mas os preços estavam altos e juros medonhos. Na hora

de comercializar seus produtos tinha que se sujeitar aos caprichos do

“tubarão”. Confiando no governo Vargas plantou hortelã-pimenta para

comercializar e um pouco de feijão, arroz e milho para o seu sustento.

Mas na hora da venda, os preços tinham caído e o governo não garantiu

o valor mínimo. As terras vizinhas eram do latifundiário Coronel Antão,

que comprou as dívidas de Belarmino e o expulsou das terras. Diz um

requadro: “Sem terra própria, Belarmino teve que ir arrendar outras

terras. Tinha que pagar 40 arrobas de algodão por alqueire, fazer o

rancho, o mangueirão e não tinha direito a posto. Água no corgo sujo”.

Trabalhava muito e vivia na miséria. Os coronéis “Tatuíra”, como eram

chamados os latifundiários, não trabalhavam nada e ficavam cada dia

mais ricos. Em outro requadro está escrito: “[...] Desde o governo até o

cupim, todos são seus inimigos. Belarmino há de encontrar seus amigos.

Eles existem. São os operários”. Belarmino vai de sítio em sítio, fazenda

em fazenda ensinando o que aprendeu com os operários e com Prestes.

Participa do Congresso Camponês da Zona, do qual foi eleito presidente.

Em seu discurso inflamado disse: “Chega de sermos explorados como

escravos. [...] Só existe um caminho para nos libertarmos da exploração

do latifúndio e dos tatuíras. É o caminho da luta organizada pela tomada

da terra e pela paz. [...] O único partido capaz de nos dirigir e nos guiar

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Arte Visual Comunista

é o partido de Prestes. Só podemos seguir o que Prestes nos ensina [...].

Só podemos conseguir terra e as nossas melhorias através da luta e da

organização. Com eleição isso não pode acontecer [...]. Só devemos fazer

o que Prestes mandar. Ele é nosso maior amigo e nosso guia”.

Nesse momento da história, novembro de 1950, o partido havia

proposto a luta armada contra os inimigos (latifundiários, burguesia

nacional e internacional). No Manifesto de Agosto foi declarada a

necessidade da fundação de uma “Frente Nacional de Libertação

Nacional”. Assim, a eleição não era vista como uma solução para os

males sociais do Brasil. Somente Prestes e seu partido seriam capazes

de “guiar o povo para a vitória”.

Por fim, cabe destacar a imagem do Coronel “Tatuíra”: obeso,

bem vestido, com chapéu de aba larga, charuto na boca, com belo cavalo

ou automóvel. A HQ o descreve como uma pessoa má, pois soltava seu

gado na plantação de Belarmino. Aquele que comprou suas dívidas para

aumentar seu latifúndio. Aquele que se apoiava no governo e dispunha

de crédito farto nos bancos e junto ao governo. Enfim, aquele que não

trabalhava, mas era rico. Um inimigo a ser vencido!

Mas não só de luta viviam os comunistas. Haviam as festas. É

claro que voltadas a atender os interesses do partido, mas que possuíam

um lado de lazer, lúdico. No caso das festividades do Primeiro de Maio,

temos dois lados: da homenagem e da organização. Outras festas,

entretanto ocorreram e isto será o tema da próxima parte do capítulo.

O Primeiro de Maio e Outras Festas

• Primeiro de Maio: dia de festa e dia de luta

A festividade do Primeiro de Maio passou por dois momentos na

história do Brasil. No início do século XX, a data era comemorada com

grandes manifestações populares conduzidas pelos anarquistas, em

especial. Mesmo com forte repressão as festividades eram realizadas.

Para o governo e para a classe patronal, estas festividades tinham

caráter subversivo, de grande perigo para a sociedade capitalista. Eram

realizados comícios, apresentações de peças teatrais, bailes e outras

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Cotidiano, Organização e Festas

ações. Nem sempre os bailes tinham o aval de muitos anarquistas,

mas era um importante chamariz (ver volume 2 desta coleção).

Com a fundação do PCB em 1922, a

festividade do Primeiro de Maio passou

a ser dividida, principalmente, entre

anarquistas e comunistas que tinham

posição política totalmente antagônica.

Ambos procuravam trazer as origens da

festa. No caso do PCB, a imagem ao lado

tentava explicar a data com imagens e

texto: século XIX, nos EUA, no ano de

1886, mais de 5.000 mil greves foram

realizadas pelas 8 horas de trabalho

(8 horas de descanso e 8 de lazer). Em

Chicago, grande manifestação realizada

em apoio à memória de 9 operários mortos

em cidade vizinha. A repressão não se fez esperar e, deste embate, 20

policiais foram mortos por uma bomba. Muitos operários foram presos,

quatro condenados à forca. A partir de então, o Primeiro de Maio passou

a ser uma data a ser lembrada como de luta, de lembrar os mártires de

Chicago. Na imagem estão representadas as manifestações, repressões

e mortes.

No período da ditadura de Getúlio Vargas, o chamado “Estado

Novo” (1937-45), a festividade do Primeiro de Maio ficou restrita ao

âmbito governamental, com a subordinação total dos sindicatos e a

realização das grandes festas no estádio de São Januário. Após a queda

de Vargas, o PCB tentou restaurar a data como de luta e unidade classista.

A partir daí, a disputa pela data não se daria com os anarquistas, mas

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01/

05/

1952

A Classe Operária, 01/05/1946

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Arte Visual Comunista

com os trabalhistas, ou seja, com o Partido Trabalhista Brasileiro, o

partido de Vargas. O jornal A Classe Operária, lançado em 1º de maio

de 1926, como o jornal oficial do partido, em um artigo na edição de 1º

de maio de 1946, assinado por Grabois, dirigente do Comitê Central,

exprimia a alegria das conquistas do imediato após guerra. Dizia em

relação ao Brasil: “Em nosso país, o atual 1º. de maio transcorre em

circunstâncias inéditas. Pela primeira vez, o dia internacional dos

trabalhadores é comemorado com o Partido Comunista na legalidade,

Partido que conquistou grandes vitórias para o nosso povo [...]”.

Este entusiasmo e alegria logo deram lugar ao desânimo e uma

postura mais crítica, já que o PCB caiu na ilegalidade novamente em

1947. A partir daí, até o governo JK em 1956, o Primeiro de maio passa

a ser uma data de embate entre o PCB e o governo federal, este aliado

com a classe patronal. O cabeçalho da notícia de última página do jornal

Imprensa Popular deixa clara esta disputa.

A primeira página do mesmo jornal, do mês de abril, encontra-se

uma nota do Comitê Nacional do PCB, chamando o 1º de maio de jornada

de luta contra a fome e a reação, pela paz e a união dos trabalhadores. Diz:

“Festejamos com orgulho e alegria as grandes vitórias alcançadas pelos

povos, com a classe operária à frente, na luta pela paz, pela democracia

e pelo socialismo.” Na disputa da memória do movimento operário e do

1º de maio, a imprensa comunista não cita em suas linhas as vitórias das

greves e dos congressos operários sob a direção anarquista ocorridos

nas duas primeiras décadas do século XX. A leitura da frase anterior nos

deixa claro que: a luta é pelo socialismo, portanto, proposta distinta do

anarquismo; foram incluídos temas gerais e genéricos como democracia

e paz; a liderança é da classe operária, visão tradicional marxista em que

esta classe é a possuidora do saber, o irmão mais velho do camponês,

atrasado politicamente.

Imprensa Popular, 01/05/1952

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Cotidiano, Organização e Festas

O presidente JK teve

o apoio do PCB nas eleições

e tomou posse em 1956. Na

primeira data de comemoração

do dia internacional do trabalho,

o PCB estava ao lado de JK nas

festividades. Seguindo a tradição

de Vargas, a festa foi no estádio de São Januário, na capital federal. No

programa desfiles de entidades de trabalhadores com suas bandeiras,

diversões artísticas e exibições atléticas, desfile da banda dos Fuzileiros

Navais, Recepção ao presidente Juscelino Kubitschek, o discurso

presidencial e, ao final, partida de futebol entre o tricampeão carioca,

Flamengo, e o América de Belo Horizonte, vice-campeão mineiro.

Assim, dependendo do posicionamento do partido, ora estava

festejando o 1º de maio com o governo

federal, ora atacando-o e promovendo a

festividade só, propondo a paz mundial, a

luta contra a “reação”, a carestia da vida,

pela liberdade sindical, o fim do imposto

sindical etc.

• Festas e eleições

Em outro momento deste trabalho, vimos as festas da imprensa

comunista. As demais festas do partido e suas chamadas ilustradas

seguiam a mesma trilha: os locais tendiam a ser os mesmos (Praia de

Charitas e Granja das Garças). Os

motivos: campanha eleitoral e/ou

político, congraçamentos.

A Associação Brasileira

de Defesa dos Direitos Humanos

(ABDDH) que promovia

movimentos em defesa das

liberdades democráticas no Brasil,

libertação de presos no Brasil e exterior etc., promoveria uma animada

festa na praia de Charitas em março de 1956. Estava previsto banho de

Imprensa Popular, 01/05/1956

Imprensa Popular, 01/05/1951

Imprensa Popular, 01/03/1956

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Arte Visual Comunista

mar, angu à baiana e um baile dançante na parte da tarde e, ainda, um

torreio de futebol. Na propaganda, uma imagem bem animada e feliz,

vê-se o futebol, a festa, as bandeirolas dependuradas e o mar.

Em 1954, uma grande chamada no jornal Imprensa Popular

para uma festa: “Tudo para todos na festa da Granja”. Estava previsto

futebol, vôlei, tênis de mesa, baile (foi contratada um orquestra),

barracas, shows, palestras,

debate etc. Seriam servidas

comidas de todos os tipos

(vatapá, caruru do Pará, frango

assado, macarronada, peixe

assado, feijoada etc.) e haveria

distribuição de prêmios para as

barracas e os propagandistas.

Esta festa era em apoio aos candidatos populares que o PCB havia

lançado sob outra legenda para as eleições desse ano. Duas imagens

compõem a chamada (uma churrascada e um baile), mas na mesma

página, bem ao lado, há mais duas imagens: fotografia do candidato

à Câmara Federal, Lycio Hauer e um desenho de uma favela com os

dizeres do programa dos Candidatos Populares e que mostravam

aos favelados o caminho da luta. Sob a imagem do baile está escrito

“Festa dos candidatos populares” e sua imagem composta por casais

elegantemente vestidos, dançando felizes.

Na edição de 10 de agosto de 1954, o jornal Imprensa Popular

traz uma reportagem sobre a festa: “Mais de 5 mil pessoas na festa da

Granja das Garças”. Segundo esta, a maioria dos presentes era composta

por trabalhadores de vários setores profissionais, superando todas as

festas anteriores no local. Estas festas ajudavam na campanha para o

fundo financeiro dos candidatos do partido, que também contava com

outras formas de arrecadação levadas a cabo pelos comitês eleitorais.

Pela imagem a seguir, pode-se ler que a reportagem fazia parte do

“Diário da campanha’, que desejava recolher 50 milhões de cruzeiros

para ajudar na campanha dos candidatos “patriotas”. As faixas que os

participantes (homens e mulheres) do movimento ajudam a entendê-

la: “Elejamos 8 patriotas”, “Votem nos candidatos populares”,

“Derrotemos os entreguistas”, “50 milhões”. Assim, ao mesmo tempo

pedia verbas, apoiava os candidatos do partido e conclamava a derrota

aos candidatos entreguistas.

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Cotidiano, Organização e Festas

Valorizar os seus candidatos e denunciar

os demais, em especial os chamados “traidores”,

foi uma constante na imprensa comunista

brasileira. Combater o voto nulo ou em branco,

passava por diferenciar os candidatos indicados

pelo partido dos demais. Em julho de 1954, o

Imprensa Popular publicava a imagem ao lado,

muito curiosa e bem humorada na denuncia

aos candidatos “picaretas” que existiam:

“Bom Zinho”, “La Drone”, “Nêgo Ciata”. Ainda

apresentava a compra de votos: “paga-se bem”

e “quer ficar rico?” O personagem bem trajado,

carregava em uma das mãos uma mala e na outra um martelo. A legenda

explicava quem é este: Zacarias Sentomalho. Acabara de chegar ao Rio

de Janeiro. Um homem de grande capacidade de observação, objetivo

na argumentação, inflexível contra os aproveitadores. O desenho foi

feito por ICE, ilustradora do “Diário da Campanha”, que teve a ideia de

criar o personagem quando olhava as paredes da cidade cobertas por

cartazes eleitorais, aí pensou: “Creio que o malho vai ter que funcionar

pra cima desses chantagistas!...”

O partido contava com um grande

número de simpatizantes ou militantes

artistas. Do meio do teatro e rádio

podemos citar Mário Lago e da área da

música, o comediante e cantor Jararaca.

Mas, para garantir diversão e shows e

comícios do partido, a Célula Mascha

Berger se encarregava da matéria, como

se pode ver na ilustração ao lado.

Imprensa Popular, 10/08/1954

Imprensa Popular, 27/07/1954

A Classe Operária, 07/12/1946

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Arte Visual Comunista

Nas HQs sobre Prestes e o PCB, por exemplo, que se encontravam

nas páginas dos periódicos comunistas, os anos eleitorais de 1945 e 1946,

período da legalidade, são sempre retratados na forma de comícios. Lá,

falando no palanque, sendo aclamado pela multidão, está Luiz Carlos

Prestes, o candidato ao Senado Federal.

Quando da legalidade do partido (1945-47), os candidatos

poderiam ser eleitos pela sua própria legenda. Quando da cassação do

registro, a opção foi lançar seus candidatos sob legenda emprestada,

como vimos. Os comícios eram chamados de “monstros”. As fotos

abaixo mostram um comício composto por uma multidão e uns cartazes

colados em muros e postes com fotos e nomes dos candidatos do Partido

Comunista do Brasil, com sua foice e martelo. A chamada aos comícios,

em todo o período estudado, seja por qual motivo fosse, campanha do

“Petróleo é Nosso”, pela Anistia, campanha eleitoral, contra o alto custo

da vida, contra a Lei de Segurança etc., era promovida com o apoio de

ilustrações.

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Campanha do PCB, 1946 “Comício Monstro” no Rio de Janeiro

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Entrevistas:

Hélio Benévolo Nogueira – Cidade do Rio de Janeiro, 20/10/2003.

Édila Pires – Cidade de São Paulo, 16/12/2003. Esposa de Jorge Brandão.

Edíria Carneiro – Cidade de São Paulo, 15/12/2003. Ilustradora da imprensa comunista. Esposa

de João Amazonas.

Leda Sá – Cidade do Rio de Janeiro, 28/08/2003. Ilustradora do Momento Feminino.

Regina Yolanda Werneck – Cidade do Rio de Janeiro, 16/10/2003. Filha de Paulo Werneck e

membro do Clube de Gravura do Rio de Janeiro.

Ítalo Campofiorito – Cidade do Rio de Janeiro, diversos encontros não gravados. Filho de Quirino

e Hilda Campofiorito. Ilustradores da imprensa comunista.

Fontes primárias:

Periódicos não oficiais:

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Jornal Imprensa Popular, 1951-57

Jornal Momento Feminino – 1947-57

Jornal Tribuna Popular – 1945-47

Jornal Voz Operária (Órgão oficial do PCB) – 1949-57

Jornal A Classe Operária – 1945-57.

Revista Fundamentos – 1951-57

Revista Esfera –1945-1949.

Fontes primárias não oficiais:

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Janeiro: Civilização Brasileira, 1988.

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