arte contemporânea

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Arte contemporânea (c. 1850-atualidade) Ver artigo principal: Arte moderna, Arte contemporânea Entre meados do século XIX e o início do século XX se lançaram as bases da sociedade contemporânea, marcada no terreno político pelo fim do absolutismo e a instauração dos governos democráticos. No campo econômico, marcaram esta fase a Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo, que tiveram respostas nas doutrinas de esquerda como o marxismo, e nas lutas de classes. Na arte o que tipifica o período é a multiplicação de correntes grandemente diferenciadas. Até o fim do século XIX surgiram, por exemplo, o realismo, o impressionismo, o simbolismo e o pós-impressionismo. O século XX se caracterizou por uma forte ênfase no questionamento das antigas bases da arte, propondo-se a criar um novo paradigma de cultura e sociedade e derrubar tudo o que fosse tradição. Até meados do século as vanguardas foram enfeixadas no rótulo de modernismo, e desde então elas se sucedem cada vez com maior rapidez, chegando aos dias de hoje a um estado de total pulverização dos estilos e estéticas, que convivem, dialogam, se influenciam e se enfrentam mutuamente. Também surgiu uma tendência de solicitar a participação do público no processo de criação, e incorporar ao domínio artístico uma variedade de temas, estilos, práticas e tecnologias antes desconhecidas ou excluídas. Entre as inúmeras tendências do século XX podemos citar: art nouveau, fauvismo, pontilhismo, abstracionismo, expressionismo, realismo socialista, cubismo, futurismo,dadaísmo, surrealismo, funcionalismo, construtivismo, inform alismo, arte pop, neorrealismo, artes de ação (performance, happening, fluxus), Instalação, videoarte, op art,minimalismo, arte conceitual, fotorrealismo, land art, arte povera, body art, arte pós- moderna, transvanguarda, neoexpressionismo. Impressionismo foi um movimento que surgiu na pintura francesa do século XIX, vivia-se nesse momento a chamada Belle Epoque ou Bela Época em português. O nome do movimento é derivado da obra Impressão: nascer do sol (1872), de Claude Monet. Tudo começou com um grupo de jovens pintores que rompeu com as regras da pintura vigentes até então. Os autores impressionistas não mais se preocupavam com os preceitos do Realismo ou da academia. A busca pelos elementos fundamentais de cada arte levou os pintores impressionistas a pesquisar a produção pictórica não mais interessados em temáticas nobres ou no retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em si mesma. A luz e o movimento utilizando pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da pintura, sendo que geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as variações de cores da natureza. É um modo de pintar, sem muitos detalhes e geralmente é na natureza.

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Page 1: Arte Contemporânea

Arte contemporânea (c. 1850-atualidade)

Ver artigo principal: Arte moderna, Arte contemporânea

Entre meados do século XIX e o início do século XX se lançaram as bases da sociedade

contemporânea, marcada no terreno político pelo fim do absolutismo e a instauração dos

governos democráticos. No campo econômico, marcaram esta fase a Revolução

Industrial e a consolidação do capitalismo, que tiveram respostas nas doutrinas de

esquerda como o marxismo, e nas lutas de classes. Na arte o que tipifica o período é a

multiplicação de correntes grandemente diferenciadas. Até o fim do século XIX surgiram,

por exemplo, o realismo, o impressionismo, o simbolismo e o pós-impressionismo.

O século XX se caracterizou por uma forte ênfase no questionamento das antigas bases

da arte, propondo-se a criar um novo paradigma de cultura e sociedade e derrubar tudo o

que fosse tradição. Até meados do século as vanguardas foram enfeixadas no rótulo

de modernismo, e desde então elas se sucedem cada vez com maior rapidez, chegando

aos dias de hoje a um estado de total pulverização dos estilos e estéticas, que convivem,

dialogam, se influenciam e se enfrentam mutuamente. Também surgiu uma tendência de

solicitar a participação do público no processo de criação, e incorporar ao domínio artístico

uma variedade de temas, estilos, práticas e tecnologias antes desconhecidas ou excluídas.

Entre as inúmeras tendências do século XX podemos citar: art

nouveau, fauvismo, pontilhismo, abstracionismo, expressionismo, realismo

socialista, cubismo, futurismo,dadaísmo, surrealismo, funcionalismo, construtivismo, inform

alismo, arte pop, neorrealismo, artes de ação

(performance, happening, fluxus), Instalação, videoarte, op art,minimalismo, arte

conceitual, fotorrealismo, land art, arte povera, body art, arte pós-

moderna, transvanguarda, neoexpressionismo.

Impressionismo foi um movimento que surgiu na pintura francesa do século XIX, vivia-se

nesse momento a chamada Belle Epoque ou Bela Época em português. O nome do

movimento é derivado da obra Impressão: nascer do sol (1872), de Claude Monet. Tudo

começou com um grupo de jovens pintores que rompeu com as regras da pintura vigentes

até então.

Os autores impressionistas não mais se preocupavam com os preceitos do Realismo ou

da academia. A busca pelos elementos fundamentais de cada arte levou os pintores

impressionistas a pesquisar a produção pictórica não mais interessados em temáticas

nobres ou no retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em si mesma.

A luz e o movimento utilizando pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da

pintura, sendo que geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse

capturar melhor as variações de cores da natureza.

É um modo de pintar, sem muitos detalhes e geralmente é na natureza.

Page 2: Arte Contemporânea

Orientações gerais que caracterizam a pintura

a tintura deve mostrar os pontos que os objetos adquirem ao refletir a luz do corpo

num determinado momento, pois as cores da natureza mudam todo dia, dependendo

da incidência da luz do sol;

é também, com isto, uma pintura instantânea (captação do momento), recorrendo,

inclusivamente, à fotografia;

as figuras não devem ter contornos nítidos pois o desenho deixa de ser o principal

meio estrutural do quadro, passando a ser a mancha/cor;

as sombras devem ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos

causam. O preto jamais é usado em uma obra impressionista plena;

os contrastes de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com a lei das cores

complementares. Assim um amarelo próximo a um violeta produz um efeito mais real

do que um claro-escuro muito utilizado pelos academicistas no passado. Essa

orientação viria dar mais tarde origem ao [pontilhismo];

as cores e tonalidades não devem ser obtidas pela mistura de pigmentos. Pelo

contrário,devem ser puras e dissociadas no quadro em pequenas pinceladas. É o

observador que, ao admirar a pintura, combina as várias cores, obtendo o resultado

final. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para se tornar óptica;

preferência pelos pintores em representar uma natureza morta a um objeto;

Valorização de decomposição das cores.

Entre os principais expoentes do Impressionismo estão Claude Monet,Edouard

Manet, Edgar Degas, Auguste Renoir, Alfred Sisley e Camille Pissarro . Podemos dizer

ainda que Claude Monet foi um dos maiores artistas da pintura impressionista da época.

Orientações gerais que caracterizam o impressionista:

rompe completamente com o passado;

inicia pesquisas sobre a óptica e os efeitos (ilusões) ópticos;

é contra a cultura tradicional;

pertence a um grupo individualizado;

falam de arte, sociedade, etc: não concordam com as mesmas coisas porém

discordam do mesmo;

vão pintar para o exterior, algo bastante mais fácil com a evolução da indústria,

nomeadamente, telas com mais formatos, tubos com as tintas, entre outras coisas.

Os efeitos ópticos descobertos pela pesquisa fotográfica, sobre a composição de cores e a

formação de imagens na retina do observador, influenciaram profundamente as técnicas

de pintura dos impressionistas.

Page 3: Arte Contemporânea

Eles não mais misturavam as tintas na tela, a fim de obter diferentes cores, mas utilizavam

pinceladas de cores puras que colocadas uma ao lado da outra, são misturadas pelos

olhos do observador, durante o processo de formação da imagem.

Édouard Manet não se considerava um impressionista, mas foi em torno dele que se

reuniram grande parte dos artistas que viriam a ser chamados de Impressionistas. O

Impressionismo possui a característica de quebrar os laços com o passado e diversas

obras de Manet são inspiradas na tradição. Suas obras no entanto serviram de inspiração

para os novos pintores.

O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Claude Monet

(1840-1926) Impressão - Nascer do Sol, por causa de uma crítica feita ao quadro pelo

pintor e escritor Louis Leroy "Impressão, Nascer do Sol -eu bem o sabia! Pensava eu, se

estou impressionado é porque lá há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de

pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha". A expressão foi

usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas adotaram o título,

sabendo da revolução que estavam iniciando.

Simbolismo é um movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França,

no final do século XIX, como oposição aoRealismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da

época. Movido pelos ideais românticos, estendendo suas raízes à literatura, aos palcos

teatrais, às artes plásticas. Não sendo considerado uma escola literária, teve suas origens

de As Flores do Mal, do poeta Charles Baudelaire.1 2 É bastante relevante não

confundirmos o Simbolismo com a Simbologia, a qual é a ciência que estuda, analisa e

interpreta os significados dos símbolos reais ou metafóricos.

A partir de 1881, na França, poetas, pintores, dramaturgos e escritores em geral,

influenciados pelo misticismo advindo do grande intercâmbio com as artes, pensamento e

religiões orientais - procuram refletir em suas produções a atmosfera presente nas viagens

a que se dedicavam.

Marcadamente individualista e místico, foi, com desdém, apelidado de "decadentismo" -

clara alusão à decadência dos valores estéticos então vigentes e a uma certa afetação que

neles deixava a sua marca. Em 1886 um manifesto trouxe a denominação que viria marcar

definitivamente os adeptos desta corrente: simbolismo.

Principais características[editar | editar código-fonte]

Subjetivismo

Os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão mais

geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e, sim, está focalizada

sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se opõe à

poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém, mais do que voltar-se

Page 4: Arte Contemporânea

para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do "eu" e buscam o

inconsciente, o sonho.

Oriundo do impressionismo, Paul Gauguin deixa-se influenciar pelas pinturas japonesas

que aparecem na Europa, provocando verdadeiro choque cultural - e este artista abandona

as técnicas ainda vigentes nas telas do movimento onde se iniciou, como a perspectiva,

pintando apenas em formas bidimensionais. A temática alegórica passa a dominar, a partir

de 1890. Ao artista não bastava pintar a realidade, mas demonstrar na tela a essência

sentimental dos personagens - e em Gauguin isto levou a uma busca tal pelo primitivismo

que o próprio artista abandonou a França, indo morar com os nativos da Polinésia

francesa.

Em França outros artistas, como Gustave Moreau, Odilon Redon, Maurice Denis, Paul

Sérusier eAristide Maillol, aderem à nova estética. Na Áustria, usando de motivos

eminentemente europeus do estilo rococó, Gustav Klimt é outro que, assim como Gauguin,

torna-se conhecido e apreciado. O norueguês Edvard Munch, autor do célebre quadro "O

grito", alia-se primeiro ao simbolismo, antes de tornar-se um dos expoentes do

expressionismo.

O pós-impressionismo foi a expressão artística utilizada para definir a pintura e,

posteriormente, aescultura no final do impressionismo, por volta de 1885, marcando

também o início do cubismo, já no início do século XX. O pós-impressionismo designa-se

por um grupo de artistas e de movimentos diversos onde se seguiram as suas tendências

para encontrar novos caminhos para a pintura. Estes, acentuaram a pintura nos seus

valores específicos – a cor e bidimensionalidade.

A maioria de seus artistas iniciou-se como impressionista, partindo daí para diversas

tendências distintas. Chamavam-se genericamente pós-impressionistas os artistas que

não mais representavam fielmente os preceitos originais do impressionismo, ainda que

não tenham se afastado muito dele ou estejam agrupados formalmente em novos grupos.

Sentindo-se limitados e insatisfeitos pelo estilo impressionista, alguns jovens artistas

queriam ir mais além, ultrapassar a Revolução de Monet. Aí se encontra a gênese do novo

movimento, que não buscava destruir os valores do grande mestre, e sim aprimorá-los.

Insurge-se contra o impressionismo devido à sua superficialidade ilusionista da análise à

realidade.

Movimentos impressionistas como o Pontilhismo ou o Divisionismo nunca são chamados

pós-impressionistas mas sim de neo-impressionistas.

Cubismo é um movimento artístico que surgiu no século XX, nas artes plásticas, tendo

como principais fundadores Pablo Picasso eGeorges Braque e tendo se expandido para

a literatura e a poesia pela influência de escritores como Guillaume Apollinaire, John dos

Page 5: Arte Contemporânea

Passos e Vladimir Maiakovski.1 O quadro "Les demoiselles d'Avignon", de Picasso, 1907 é

conhecido como marco inicial do Cubismo.2Nele ficam evidentes as referências

a máscaras africanas, que inspiraram a fase inicial do cubismo, juntamente com a obra

de Paul Cézanne.

O Cubismo tratava as formas da natureza por meio de figuras geométricas, representando

as partes de um objeto no mesmo plano. A representação do mundo passava a não ter

nenhum compromisso com a aparência real das coisas.2

Historicamente o Cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria

tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Entretanto, os

cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar os objetos com todas

as suas partes num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e apresentassem

todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador.2 Na verdade, essa atitude

de decompor os objetos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência

real das coisas.1

O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana,

sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas. Não representa, mas sugere a

estrutura dos corpos ou objetos.1 Representa-os como se movimentassem em torno deles,

vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos

e volumes.2

Principais características[editar | editar código-fonte]

Geometrização das formas e volumes;

Renúncia à perspectiva;

O claro-escuro perde sua função;

Representação do volume colorido sobre superfícies planas;

Sensação de pintura escultórica;

Cores austeras, do branco ao negro passando pelo cinza, por um ocre apagado ou um

castanho suave.

Cores fechadas.

O Pontilhismo, é uma técnica de pintura, saída do movimento impressionista, em que

pequenas manchas ou pontos de cor provocam, pela justaposição, uma mistura óptica

nosolhos do observador (imagem).

Esta técnica baseia-se na lei das cores complementares, avanço científico impulsionado

noséculo XIX, pelo químico Michel Chevreul. Trata-se de uma consequência extrema dos

supostos ensinamentos dos impressionistas, segundo os quais as cores deviam ser

Page 6: Arte Contemporânea

justapostas e não entre mescladas, deixando à retina a tarefa de reconstruir o tom

desejado pelo pintor, combinando as diversas impressões registradas.

A técnica de utilização de pontos coloridos justapostos também pode ser considerada o

culminar do desprezo dos impressionistas pela linha, uma vez que esta é somente uma

abstração do Homem para representar anatureza.

Esta técnica foi criada na França, com grande impulso de Georges Seurat e Paul Signac,

em meados do século XIX.

O fauvismo (do francês fauvisme, oriundo de les fauves, "as feras", como foram

chamados os pintores não seguidores do cânoneimpressionista, vigente à época) é uma

corrente artística do início do século XX, que se desenvolveu sobretudo entre 1905 e

1907.1 ODicionário Houaiss indica fovismo como um termo homônimo.2

O estilo começou em 1901 mas só foi denominado e reconhecido como um movimento

artístico em 1905. Segundo Henry Matisse, em"Notes d'un Peintre", pretendia-se com o

fauvismo "uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas

perturbadores ou deprimentes".3

O fauvismo tem como características marcantes:4

a simplificação das formas e utilização maciça de cores puras;

a pouca, ou nenhuma, gradação entre os matizes;

as pinceladas, largas e definitivas, que continham espontânea gestualidade;

a utilização da cor na delimitação dos planos e na sensação de profundidade;

a escolha dos matizes sem relação com a realidade;

o movimento rítmico sugerido pelas linhas, texturas e pela continuidade dos elementos

desenhados;

impulsividade e experimentação, em vez de exaustivos estudos preparatórios;

temas cotidianos que retratavam emoções e a alegria de viver;

a tradução de sensações elementares, no mesmo estado de graça das crianças e dos

selvagens;

Arte Abstrata

Entende-se por arte abstrata toda manifestação das artes plásticas, seja na pintura ou na

escultura, na qual se desistiu da representação natural ou ilustrativa da realidade, para dar

vazão a composições independentes dela. É preciso esclarecer que não é possível se falar

de uma arte abstrata própria e unificada. Na verdade, houve dentro dela várias correntes,

Page 7: Arte Contemporânea

que às vezes estavam muito próximas quanto à sua filosofia, outras vezes muito

afastadas, mas todas se mantinham sempre dentro do limite não-figurativo.

O pintor russo Kandinski foi o primeiro artista propriamente abstrato. Suas teorias sobre a

abstração das formas como expressão do espírito humano determinaram uma mudança

substancial na pintura e escultura do século XX.

Juntamente com ele, Piet Mondrian, da corrente neoplástica, propôs a redução às formas

geométricas puras de tudo aquilo que fosse representável. Essa foi uma proposta dos

cubistas que o pintor levou a extremos totalmente não-figurativos, com a conseqüente

racionalização da pintura.

A partir das obras dos pintores mais representativos das vanguardas européias, como

Kandinski, Duchamp, Delaunay e Picasso, entre outros, surgiu uma pintura que subsistiu

durante o período que medeou as duas guerras e veio à luz após a Segunda Guerra

Mundial.

A complexidade de motivações e a diversidade desses artistas produziram grupos

diferentes, com traços específicos de estilo e certas técnicas que dificultam uma

classificação estilística geral da pintura abstrata.

O abstracionismo divide-se em duas tendências:

Abstracionismo lírico, expressivo ou informal;

Abstracionismo geométrico.

O abstracionismo lírico, abstracionismo expressivo ou ainda abstracionismo

informal inspirava-se no instinto, no inconsciente e na intuição para construir uma arte

imaginária ligada a uma "necessidade interior". Foi influenciado pelo expressionismo, mais

propriamente pelo movimento O Cavaleiro Azul.

As formas orgânicas e as cores vibrantes são patentes nessa vertente.

O artista russo radicado na Alemanha Wassily Kandinsky inaugura o abstracionismo

no Ocidente com sua Primeira Aquarela Abstrata, de 1910. Kandinsky advoga o uso de

formas abstratas como meio de atingir uma transcendência não através das formas

reconhecíveis da realidade observável, como faz a arte tradicional acadêmica, mas através

dos elementos puros da arte visual, como as linhas, as cores, as formas geométricas - o

círculo, o quadrado, o triângulo - os pontos, etc. O artista faz analogias com a composição

musical, que é uma arte abstrata por definição, para atingir a abstração na arte visual. Por

isso, seus quadros são os primeiros a possuírem títulos que remetem à música

- composição, ritmo, etc.

O Abstracionismo geométrico, ao contrário do abstraccionismo lírico, foca na

racionalização que depende da análise intelectual e científica. Foi influenciado

pelo cubismo e pelo futurismo.

Page 8: Arte Contemporânea

O futurismo é um movimento artístico e literário, que surgiu oficialmente em 20 de

fevereiro de 1909 com a publicação do Manifesto Futurista, pelo poeta italiano Filippo

Marinetti, no jornal francês Le Figaro. Os adeptos do movimento rejeitavam o moralismo e

o passado, e suas obras baseavam-se fortemente na velocidade e nos desenvolvimentos

tecnológicos do final do século XIX. Os primeiros futuristas europeus também exaltavam

a guerra e a violência. O Futurismo desenvolveu-se em todas as artes e influenciou

diversos artistas que depois fundaram outros movimentos modernistas.

No primeiro manifesto futurista de 1909, o slogan era Les mots en liberté ("Liberdade para

as palavras") e levava em consideração odesign tipográfico da época, especialmente

em jornais e na propaganda. Eles abandonavam toda distinção entre arte e design e

abraçavam a propaganda como forma de comunicação. Foi um momento de exploração

do lúdico, da linguagem vernácula, da quebra de hierarquia na tipografia tradicional, com

uma predileção pelo uso de onomatopéias. Essas explorações tiveram grande

repercussão no dadaísmo, no concretismo, na tipografia moderna, e no design gráfico pós-

moderno. Surgiu na França, seus principais temas são as cores.

A pintura futurista foi explicitada pelo cubismo e pela abstração, mas o uso de cores vivas

e contrastes e a sobreposição das imagens pretendia dar a ideia de dinâmica, deformação

e não- materialização por que passam os objetos e o espaço quando ocorre a ação. Para

os artistas do futurismo os objetos não se concluem no contorno aparente e os seus

aspectos interpenetram-se continuamente a um só tempo. Procura-se neste estilo

expressar o movimento atual, registrando a velocidade descrita pelas figuras em

movimento no espaço. O artista futurista não está interessado em pintar um automóvel,

mas captar a forma plástica a velocidade descrita por ele no espaço.

Suas principais caracteristicas são:

Desvalorização da tradição e do moralismo;

Valorização do desenvolvimento industrial e tecnológico;

Propaganda como principal forma de comunicação;

Uso de onomatopeias (palavras com sonoridade que imitam ruídos, vozes, sons de

objetos) nas poesias;

Poesias com uso de frases fragmentadas para passar a ideia de velocidade;

Pinturas com uso de cores vivas e contrastes. Sobreposição de imagens, traços e

pequenas deformações para passar a ideia de movimento e dinamismo.

O movimento Dadá (Dada) ou Dadaísmo foi um movimento artístico da

chamada vanguarda artística moderna iniciado em Zurique, em 1916, durante a Primeira

Guerra Mundial, no chamado Cabaret Voltaire. Formado por um grupo

de escritores, poetas e artistas plásticos – dois deles desertores do serviço militar alemão

– liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp.

Page 9: Arte Contemporânea

Embora a palavra dada em francês signifique "cavalo de madeira", sua utilização marca

o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um bebê). Para

reforçar esta ideia, estabeleceu-se o mito de que o nome foi escolhido aleatoriamente,

abrindo-se uma página de um dicionário e inserindo um estilete sobre ela, de forma a

simbolizar o caráter antirracional do movimento, claramente contrário à Primeira Guerra

Mundial e aos padrões da arte estabelecida na época. Em poucos anos o movimento

alcançou, além de Zurique, as cidades de Barcelona, Berlim, Colônia, Hanôver, Nova

York e Paris. Muitos de seus seguidores deram início posteriormente ao surrealismo, e

seus parâmetros influenciam a arte até hoje.1 2

O impacto causado pelo Dadaísmo justifica-se plenamente pela atmosfera de confusão e

desafio à lógica sugerido por ele, optando por expressar de modo inconfundível suas

opiniões acerca da arte oficial e também das próprias vanguardas ("sou por princípio

contra o manifestos, como sou também contra princípios"). O Dada vem para abolir de vez

a lógica, a organização, a postura racional, trazendo para arte um caráter de

espontaneidade e gratuidade total. Segundo o próprio Tzara:

Dada não significa nada: Sabe-se pelos jornais que os negros Krou denominam a cauda da

vaca santa: Dada. O cubo é a mãe em certa região da Itália: Dada. Um cavalo de madeira, a ama-de-leite, dupla afirmação em russo e em romeno: Dada. Sábios jornalistas viram nela

uma arte para os bebês, outros Jesus chamando criancinhas do dia, o retorno ao primitivismo seco e barulhento, barulhento e monótono. Não se constrói a sensibilidade

sobre uma palavra; toda a construção converge para a perfeição que aborrece, a ideia

estagnante de um pântano dourado, relativo ao produto humano. —Tristan Tzara4

O principal problema de todas as manifestações artísticas estava, segundo os dadaístas,

em almejar algo que era impossível: explicar o ser humano. Na esteira de todas as outras

afirmações retumbantes, Tzara decreta: "A obra de arte não deve ser a beleza em si

mesma, porque a beleza está morta".

No seu esforço para expressar a negação de todos os valores estéticos e artísticos

correntes, os dadaístas usaram, com frequência, métodos deliberadamente

incompreensíveis. Nas pinturas e esculturas, por exemplo, tinham por hábito aproveitar

pedaços de materiais encontrados pelas ruas ou objetos que haviam sido jogados fora.

O expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido

na Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos

da arquitetura, artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia.

Manifestou-se inicialmente através da pintura, coincidindo com o aparecimento

do fauvismo francês, o que tornaria ambos os movimentos artísticos os primeiros

representantes das chamadas "vanguardas históricas". Mais do que meramente um estilo

com características em comum, o Expressionismo é sinónimo de um amplo movimento

heterogéneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou

diversos artistas de várias tendências, formações e níveis intelectuais. O movimento surge

Page 10: Arte Contemporânea

como uma reacção ao positivismoassociado aos movimentos impressionista e naturalista,

propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista – a

"expressão" – em oposição à mera observação da realidade – a "impressão".

O expressionismo compreende a deformação da realidade para expressar de forma

subjectiva a natureza e o ser humano, dando primazia à expressão de sentimentos em

relação à simples descrição objetiva da realidade. Entendido desta forma, o

expressionismo não tem uma época ou um espaço geográfico definidos, e pode mesmo

classificar-se como expressionista a obra de autores tão diversos como o holandês Piet

Zwiers, Matthias Grünewald, Pieter Brueghel, o Velho, El Greco ou Francisco de Goya.

Algunshistoriadores, de forma a estabelecer uma distinção entre termos, preferem o uso

de "expressionismo" – em minúsculas – como termo genérico, e "Expressionismo" – com

inicial maiúscula – para o movimento alemão.1

Através de uma paleta cromática vincada e agressiva e do recurso às temáticas

da solidão e da miséria, o expressionismo é um reflexo da angústia e ansiedade que

dominavam os círculos artísticos e intelectuais da Alemanha durante os anos anteriores

àPrimeira Guerra Mundial (1914-1918) e que se prolongaria até ao fim do período entre-

guerras (1918-1939). Angústia que suscitou um desejo veemente de transformar a vida, de

alargar as dimensões da imaginação e de renovar a linguagem artística. O expressionismo

defendia a liberdade individual, o primado da subjectividade, o irracionalismo, o

arrebatamento e os temas proibidos – o excitante, diabólico, sexual, fantástico ou

perverso. Pretendeu ser o reflexo de uma visão subjectiva e emocional da realidade,

materializada através da expressividade dos meios plásticos, que adquiriram uma

dimensão metafísica, abrindo os sentidos ao mundo interior. Muitas vezes visto como

genuína expressão da alma alemã, o seu carácter existencialista, o seu anseio metafísico

e a sua visão trágica do ser humano são características inerentes a uma concepção

existencial aberta ao mundo espiritual e às questões da vida e da morte. Fruto das

peculiares circunstâncias históricas em que surge, o expressionismo veio revelar o lado

pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo, que na sociedade moderna,

industrializada, se vê alienado e isolado.

O expressionismo não foi um movimento homogéneo, coexistindo vários polos artísticos

com uma grande diversidade estilística, como a

corrente modernista (Munch), fauvista (Rouault), cubista e futurista (Die

Brücke), surrealista (Klee), ou a abstracta (Kandinsky). Embora o seu maior polo de

difusão se encontrasse na Alemanha, o expressionismo manifestou-se também por meio

de artistas provenientes de outras partes

da Europa como Modigliani, Chagall, Soutine ou Permeke, e no

continente americano como, por exemplo, os mexicanos Orozco, Rivera, Siqueiros e o

brasileiro Portinari. Na Alemanha existiram dois grupos dominantes: Die Brücke(fundado

em 1905), e Der Blaue Reiter (fundado em 1911), embora tenha havido artistas

independentes e não afiliados com nenhum dos grupos. Depois da Primeira Guerra

Page 11: Arte Contemporânea

Mundial surge a Nova Objetividade que, embora tenha sido uma reação

ao individualismoexpressionista e procurasse a função social na arte, a sua distorção das

formas e o seu intenso colorido fazem do grupo um herdeiro directo da primeira geração

expressionista.

A transição do século XIX para XX assistiu a inúmeras transformações políticas, sociais e

culturais. A burguesia vive um período áureo de grande ostentação económica e influência

política, a Belle Époque, que se manifestaria nas artes através do modernismo, movimento

artístico que responde ao luxo e ostentação copiosos procurados pela nova classe

dirigente. No entanto o receio perante a ocorrência de um novo episódio revolucionário,

face às constantes revoluções ocorridas ao longo de todo o século XIX desde aRevolução

Francesa (o último em 1871, durante a Comuna de Paris), levou a classe política a

decretar uma série de concessões sociais, como a reforma laboral, a segurança social e o

ensino básico obrigatório. A queda da taxa de analfabetismo e o aumento

daliteracia traduziu-se no crescimento assinalável dos meios de comunicação social, e

numa difusão dos fenómenos culturais a uma escala e velocidade sem precedentes que

estaria na origem da cultura de massas.2

O progresso tecnológico no campo das artes, sobretudo depois da aparição da fotografia e

do cinema, faz com que toda a comunidade artística se interrogue sobre o seu papel na

sociedade. A imitação da realidade deixou de fazer sentido, uma vez que as novas

técnicas tornaram o processo mais fácil, rápido e reprodutível. As novas teorias científicas

como a teoria da relatividade deEinstein, a psicanálise de Freud ou a subjectividade do

tempo de Bergson, abriram a porta a noções subjectivas da realidade, fornecendo

elementos para que o mundo artístico se questionasse sobre as próprias fronteiras da

objectividade. A procura de novas linguagens artísticas e novas formas de expressão

traduziu-se na formação de vários movimentos de vanguarda que exploravam uma nova

relação do artista com o público. Os vanguardistas pretendem integrar a arte com a própria

sociedade e fazer da sua obra uma expressão do inconsciente coletivo da sociedade que

representava. Por sua vez, a interacção com o espectador leva a que este se envolva na

percepção e compreensão da obra, assim como na sua difusão e mercantilização, factor

que estará na origem do crescimento exponencial das galerias de arte e dos museus.3

O expressionismo integra aquilo que se convencionou designar por "vanguardas

históricas"; o imenso grupo de movimentos artísticos surgidos desde o início do século XX

anterior à I Guerra Mundial até o fim da II Guerra Mundial em 1945. Esta designação inclui

ainda, entre outros, o fauvismo, o cubismo, o futurismo, o construtivismo, oneoplasticismo,

o dadaísmo e o surrealismo. A vanguarda está intimamente ligada ao conceito

de modernidade, caracterizado pelo fim do determinismo e da supremacia da religião,

substituídos pela razão e pela ciência, pelo objectivismo e pelo individualismo, e pela a

confiança na tecnologia, no progresso e nas próprias capacidades do ser humano. O

artista pretende desta forma colocar-se a si próprio na linha da frente do progresso social e

dar voz às ideias progressistas através da sua obra.4

Page 12: Arte Contemporânea

O termo "expressionismo" foi utilizado pela primeira vez pelo pintor francês Julien-Auguste

Hervé, que usou a palavra "expressionisme" para designar uma série de quadros

apresentados no Salão dos Independentes de Paris em 1901, assumindo a sua diferença

em relação ao impressionismo. O termo alemão "expressionismus" foi adaptado

directamente do francês5 , tendo sido referido pela primeira vez no catálogo da XXII

Exposição da Secessão de Berlim em 1911, que reunia obras de artistas alemães e

franceses. Na literatura, foi usado pela primeira vez em 1911 pelo crítico Kurt Hiller.6 Já

numa fase posterior, o termo "expressionismo" foi popularizado pelo escritor Herwarth

Walden, editor da revista Der Sturm (A tormenta), que se viria a tornar o principal meio de

divulgação do expressionismo alemão. Walden usou inicialmente o termo para todas as

vanguardas surgidas entre 1910 e 1920. O seu uso de forma exclusiva para a arte alemã

de vanguarda surge a partir de uma proposta de Paul Fechter no seu livro Der

Expressionismus (1914) que, com base nas teorias de Worringer, veio a estabelecer uma

relação entre as novas manifestações artísticas e a expressão da alma coletiva alemã.7

Tirol (1914), de Franz Marc, Staatsgalerie Moderner Kunst, Munique.

O expressionismo surge a partir de uma reacção ao impressionismo. Ao contrário dos

impressionistas, que procuravam no espaço da tela transmitir uma "impressão" do mundo

à sua volta, os expressionistas procuravam representar o seu próprio mundo interior, uma

"expressão" dos seus próprios sentimentos. A linha e a cor são usadas de forma emotiva e

carregadas de simbolismo. Esta ruptura com a geração precedente fez com que o

expressionismo se tornasse sinónimo de arte moderna durante os primeiros anos do

século XX.8 O expressionismo implicou um novo conceito da arte, entendida como uma

forma de captar a existência, de transluzir em imagens o substrato que subjace sob a

realidade aparente, de refletir o imutável e eterno do ser humano e a natureza. Assim, o

expressionismo foi o ponto de partida de um processo de transmutação da realidade que

cristalizou no expressionismo abstrato e oinformalismo. Os expressionistas utilizavam a

arte como uma forma de refletir os seus sentimentos, o seu estado anímico, propenso pelo

general à melancolia, à evocação, a um decadentismo de corte neorromântico. Assim, a

Page 13: Arte Contemporânea

arte era uma experiência catárquica, onde se purificavam os desafogos espirituais, a

angústia vital do artista.9

Na gênese do expressionismo, um fator fundamental foi a recusa do positivismo, do

progresso cientificista, da crença nas possibilidades ilimitadas do ser humano baseadas na

ciência e a técnica. Por outro lado, começou um novo clima de pessimismo, de cepticismo,

de descontente, de crítica, de perda de valores. Vislumbrava-se uma crise no

desenvolvimento humano, que efetivamente foi confirmada com o estouro da Primeira

Guerra Mundial.10 Também cabe destacar-se na Alemanha a recusa do regime imperialista

de Guilherme II por parte de uma minoria intelectual, afogada pelo militarismo

pangermanista do cáiser. Estes fatores propiciaram um caldo de cultura no que o

expressionismo se foi gestando progressivamente, com umas primeiras manifestações no

terreno da literatura: Frank Wedekind denunciou nas suas obras a moral burguesa, frente

à qual opunha a liberdade passional dos instintos; Georg Trakl evadiu-se da realidade

refugiando-se num mundo espiritual criado pelo artista; Heinrich Mann foi quem mais

diretamente denunciou a sociedade guilhermina.11

A aparição do expressionismo num país como a Alemanha não foi um fato aleatório, mas é

explicado pelo profundo estudo da arte durante o século XIX pelos filósofos, artistas e

teóricos alemães, do romantismo e as múltiplas contribuições para o campo da estética de

personagens como Wagner e Nietzsche, para a estética cultural e para a obra de autores

como Konrad Fiedler ("Para julgar obras de arte visual", 1876), Theodor Lipps ("Estética",

1903-1906) e Wilhelm Worringer ("Abstração e empatia", 1908). Esta corrente teórica

deixou uma profunda marca nos artistas alemães de finais do século XIX e princípios do

XX, centrada sobretudo na necessidade de se expressar do artista (a "innerer Drang" ou

necessidade interior, princípio que assumiu posteriormente Kandinsky), bem como a

constatação de uma ruptura entre o artista e o mundo exterior, o ambiente que o envolve,

fato que o torna num ser introvertido e alienado da sociedade. Também influiu a mudança

acontecida no ambiente cultural da época, que se afastou do gosto clássicogreco-

romano para admirar a arte popular, primitiva e exótica –sobretudo

da África, Oceania e Extremo Oriente–, bem como a arte medieval e a obra de artistas

como Grünewald, Brueghel e El Greco.12

Page 14: Arte Contemporânea

"O ginete circense" (1913), de Ernst Ludwig Kirchner, Pinakothek der Moderne,Munique.

Na Alemanha, o expressionismo foi mais um conceito teórico, uma proposta ideológica, do

que um programa artístico coletivo, se bem que se aprecia um selo estilístico comum a

todos os seus membros. Frente ao academicismo imperante nos centros artísticos oficiais,

os expressionistas agruparam-se em torno de diversos centros de difusão da nova arte,

especialmente em cidades como Berlim,Colônia, Munique, Hanôver e Dresde. Assim

mesmo, o seu trabalho difusor através de publicações, galerias e exposições ajudaram a

estender o novo estilo por toda Alemanha e, mais tarde, toda Europa.8 Foi um movimento

heterogêneo que, à parte da diversidade das suas manifestações, realizadas em diversas

linguagens e meios artísticos, apresentou numerosas diferenças e até mesmo

contradições no seu seio, com grande divergência estilística e temática entre os diversos

grupos que surgiram ao longo do tempo, e até mesmo entre os próprios artistas que os

integravam. Até mesmo os limites cronológicos e geográficos desta corrente são

imprecisos: se bem que a primeira geração expressionista (Die Brücke, Der Blaue Reiter)

foi a mais emblemática, a Nova Objetividade e a exportação do movimento a outros países

implicou a sua continuidade no tempo ao menos até a Segunda Guerra Mundial;

geograficamente, se bem que o centro neurálgico deste estilo se situou na Alemanha,

pronto se estendeu por outros países europeus e inclusive do continente americano.13

Depois da Primeira Guerra Mundial o expressionismo passou na Alemanha da pintura ao

cinema e ao teatro, que utilizavam o estilo expressionista nos seus décors, mas de modo

puramente estético, desprovido do seu significado original, da subjetividade e do

pungimento próprios dos pintores expressionistas, que se tornaram paradoxalmente

em artistas malditos.14 Com o advento donazismo, o expressionismo foi considerado como

"arte degenerada" (Entartete Kunst), relacionando-o com o comunismo e tachando-o de

imoral e subversivo, ao tempo que consideraram que a sua fealdade e inferioridade

artística eram um signo da decadência da arte moderna (o decadentismo, pela sua vez,

Page 15: Arte Contemporânea

fora um movimento artístico que teve certo desenvolvimento). Em 1937 uma exposição foi

organizada no Hofgarten de Munique com o título precisamente de Arte degenerada,

visando injuriá-lo e mostrar ao público a baixa qualidade da arte produzida na República

de Weimar. Para tal fim foram confiscadas cerca de 16 500 obras de diversos museus, não

apenas de artistas alemães, mas de estrangeiros como Gauguin, Van

Gogh, Munch,Matisse, Picasso, Braque e Chagall. A maioria dessas obras foram vendidas

posteriormente a galeristas e marchands, sobretudo num grande leilão celebrado

em Lucerna em1939, embora cerca de 5000 dessas obras foram diretamente destruídas

em março de 1939, supondo um notável prejuízo para a arte alemã.15

Após a Segunda Guerra Mundial o expressionismo desapareceu como estilo, se bem que

exercesse uma poderosa influência em muitas correntes artísticas da segunda metade de

século, como o expressionismo abstrato norte-americano (Jackson Pollock, Mark

Rothko, Willem de Kooning), o informalismo (Jean Fautrier, Jean Dubuffet), o

grupo CoBrA(Karel Appel, Asger Jorn, Corneille, Pierre Alechinsky) e

o neoexpressionismo alemão –diretamente herdeiro dos artistas de Die Brücke e Der

Blaue Reiter, o qual é patente no seu nome, e artistas individuais como Francis

Bacon, Antonio Saura, Bernard Buffet, Nicolas de Staël e Horst Antes.16

Embora por expressionismo fosse conhecido nomeadamente o movimento artístico

desenvolvido na Alemanha em princípios do século XX, muitos historiadores e críticos da

arte também empregam este termo mais genericamente para descrever o estilo de grande

variedade de artistas ao longo de toda a História. Entendida como a deformação da

realidade para buscar uma expressão mais emocional e subjetiva da natureza e do ser

humano, o expressionismo é pois extrapolável a qualquer época e espaço geográfico.

Assim, com frequência qualificou-se de expressionista a obra de diversos autores

como Hieronymus Bosch, Matthias Grünewald, Quentin Matsys, Pieter Brueghel, o

Velho, El Greco, Francisco de Goya e Honoré Daumier.1

As raízes do expressionismo encontram-se em estilos como o simbolismo e o pós-

impressionismo, bem como nos Nabis e em artistas como Paul Cézanne, Paul

Gauguin e Vincent Van Gogh. Assim mesmo, têm pontos de contato com

o neoimpressionismo e ofauvismo pela sua experimentação com a cor.8 Os

expressionistas receberam numerosas influências: em primeiro lugar a da arte medieval,

especialmente a gótica alemã. De signo religioso e caráter transcendente, a arte medieval

punha ênfase na expressão, não nas formas: as figuras tinham pouca corporeidade,

perdendo interesse pela realidade, as proporções, a perspectiva. Por outro lado,

acentuava a expressão, sobretudo na olhada: as personagens eram simbolizas mais que

representadas. Assim, os expressionistas inspiraram-se nos principais artistas do gótico

alemão, desenvolvido através de duas escolas fundamentais: o estilo internacional (finais

do século XIV-primeira metade do XV), representado por Conrad Soest e Stefan Lochner;

e o estilo flamengo(segunda metade do século XV), desenvolvido por Konrad Witz, Martin

Schongauer e Hans Holbein, o Velho. Também se inspiraram na escultura gótica alemã,

Page 16: Arte Contemporânea

que salientou pela sua grande expressividade, com nomes como Veit Stoss e Tilman

Riemenschneider. Outro ponto de referência foi Matthias Grünewald, pintor tardo-medieval

que, embora conhecesse as inovações do Renascimento, seguiu numa linha pessoal,

caracterizada pela intensidade emocional, uma expressiva distorção formal e um intenso

colorido incandescente, como na sua obra mestra, o Retábulo de Isenheim.17

Outro dos referentes da arte expressionista foi a arte primitiva, especialmente a da África e

Oceania, difundida desde finais do século XIX pelos museus etnográficos. As vanguardas

artísticas encontraram na arte primitiva uma maior liberdade de expressão, originalidade,

novas formas e materiais, uma nova concepção do volume e da cor, bem como uma maior

transcendência do objeto, pois nestas culturas não eram simples obras de arte, mas

tinham uma finalidade religiosa, mágica, totêmica, votiva, suntuária. São objetos que

expressam uma comunicação direta com a natureza e com as forças espirituais, com

cultos e rituais, sem nenhum de tipo de mediação ou interpretação.18

A igreja de Auvers-sur-Oise(1890), de Vincent Van Gogh,Musée d'Orsay, Paris.

Mas a maior inspiração veio do pós-impressionismo, especialmente da obra de três

artistas: Paul Cézanne, que começou um processo de desfragmentação da realidade em

formas geométricas que terminou no cubismo, reduzindo as formas

a cilindros, cones e esferas, e dissolvendo o volume a partir dos pontos mais essenciais da

composição. Colocava a cor por camadas, imbricando umas cores com outras, sem

necessidade de linhas, trabalhando com manchas. Não utilizava a perspectiva, mas a

superposição de tons cálidos e frios davam sensação de profundeza. Em segundo

lugar Paul Gauguin, que contribuiu uma nova concepção entre o plano pictórico e a

profundeza do quadro, através de cores planas e arbitrárias, que têm um valor simbólico e

decorativo, com cenas de difícil classificação, situadas entre a realidade e um mundo

onírico e mágico. A sua estadia em Tahiti provocou que a sua obra derivasse em um certo

primitivismo, com influência da arte da Oceania, refletindo o mundo interior do artista em

vez de imitar a realidade. Finalmente, Vincent Van Gogh elaborava a sua obra segundo

critérios de exaltação anímica, caracterizando-se pela falta de perspectiva, a instabilidade

Page 17: Arte Contemporânea

dos objetos e cores, roçando a arbitrariedade, sem imitar a realidade, mas provêm do

interior do artista. Devido à sua frágil saúde mental, as suas obras são reflexo do seu

estado de ânimo, depressivo e torturado, refletindo-se em obras de pinceladas sinuosas e

cores violentas.19

Cabe sublinhar a influência de dois artistas que os expressionistas consideraram como

precedentes imediatos: o norueguês Edvard Munch, influenciado nos seus começos pelo

impressionismo e o simbolismo, pronto derivou para um estilo pessoal que seria fiel reflexo

do seu interior obsessivo e torturado, com cenas de ambiente opressivo e enigmático –

centradas no sexo, a doença e a morte–, caracterizadas pela sinuosidade da composição

e um colorido forte e arbitrário. As imagens angustiosas e desesperadas de Munch –como

em O Grito (1893), paradigma da solidão e da incomunicação– foram um dos principais

pontos de arranque do expressionismo.20 Igual de influente foi a obra do belga James

Ensor, que recolheu a grande tradição artística do seu país –em especial Brueghel–, com

preferência por temas populares, traduzindo-o em cenas enigmáticas e irreverentes, de

caráter absurdo e burlesco, com um senso do humor ácido e corrosivo, centrado em

figuras de vagabundos, borrachos, esqueletos, máscaras e cenas de carnaval. Assim, "A

entrada de Cristo em Bruxelas" (1888) representa a Paixão de Jesus no meio de um

desfile de carnaval, obra que causou um grande escândalo no seu momento.21

A pintura desenvolveu-se nomeadamente em torno de dois grupos artísticos: Die Brücke,

fundado em Dresde em 1905, e Der Blaue Reiter, fundado em Munique em 1911. No pós-

guerra, o movimento Nova Objetividade surgiu como contrapeso ao individualismo

expressionista defendendo uma atitude mais comprometida socialmente, embora técnica e

formalmente fosse um movimento herdeiro do expressionismo. Os elementos mais

característicos das obras de arte expressionistas são a cor, o dinamismo e o sentimento. O

fundamental para os pintores de princípios de século não era refletir o mundo de maneira

realista e fiel –justo ao contrário dos impressionistas– mas, sobretudo, expressar o seu

mundo interior. O objetivo primordial dos expressionistas era transmitir as suas emoções e

sentimentos mais profundos.

Na Alemanha, o primeiro expressionismo foi herdeiro do idealismo pós-romântico

de Arnold Böcklin e Hans von Marées, incidindo nomeadamente no significado da obra, e

dando maior relevância o desenha frente à pincelada, bem como à composição e à

estrutura do quadro. Assim mesmo, foi primordial a influência de artistas estrangeiros

como Munch, Gauguin, Cézanne e Van Gogh, plasmada em diversas exposições

organizadas em Berlim (1903), Munique (1904) e Dresde (1905).35

O expressionismo destacou-se pela grande quantidade de agrupamentos artísticos que

surgiram no seu seio, bem como pelas múltiplas exposições celebradas em todo o

território alemão entre 1910 e 1920: em 1911 a "Nova Secessão" foi fundada em Berlim,

cisão da "Secessão berlinesa" fundada em 1898 e que presidia Max Liebermann. O seu

primeiro presidente foi Max Pechstein, e incluía a Emil Nolde e Christian Rohlfs. Mais

tarde, em 1913, surgiu a "Livre Secessão", movimento efêmero que ficou eclipsado

Page 18: Arte Contemporânea

peloHerbstsalon (salão de Outono) de 1913, promovido por Herwarth Walden, onde junto

aos principais expressionistas alemães expuseram diversos artistas cubistas e futuristas,

destacando-se Chagall, Léger, Delaunay, Mondrian, Archipenko, Hans Arp e Max Ernst.

Contudo, em que pese à sua qualidade artística, a exposição foi um insucesso econômico,

pelo qual a iniciativa não foi repetida.36

O expressionismo teve uma notável presença, além de em Berlim, Munique e Dresde, na

região da Renânia, donde procediam Macke, Campendonk e Morgner, bem como outros

artistas como Heinrich Nauen, Franz Henseler e Paul Adolf Seehaus. Em 1902,

o filántropo Karl Ernst Osthaus criou o Folkwang (Sala do povo) de Hagen, com o objetivo

de promover a arte moderna, adquirindo numerosas obras de artistas expressionistas,

assim como de Gauguin, Van Gogh, Cézanne, Matisse e Munch. Assim mesmo, em

Düsseldorf um grupo de novos artistas fundaram a Sonderbund Westdeutscher

Kunstfreunde und Künstler ("Liga especial de amadores da arte e artistas da Alemanha

ocidental"), que celebrou diversas exposições de 1909 a 1911, mudando-se em 1912 para

Colônia, onde, a pesar do sucesso desta última exposição, a liga foi dissolvida.37

No pós-guerra surgiu o Novembergruppe ("Grupo de Novembro", pela revolta alemã de

novembro de 1918), fundado em Berlim a 3 de dezembro de 1918 por Max

Pechstein eCésar Klein, visando reorganizar a arte alemã após a guerra. Entre os seus

membros figuraram pintores e escultores como Wassily Kandinsky, Paul Klee, Lyonel

Feininger, Heinrich Campendonk, Otto Freundlich e Käthe Kollwitz; arquitetos como Walter

Gropius, Erich Mendelsohn e Ludwig Mies van der Rohe; compositores como Alban

Berg e Kurt Weill; e o dramaturgo Bertolt Brecht. Mais que um grupo com um selo

estilístico comum, foi uma associação de artistas com o objetivo de expor conjuntamente,

coisa que fizeram até a sua dissolução com a chegada do nazismo.38

Die Brücke ("A ponte") foi fundada a 7 de junho de 1905 em Dresde, formado por quatro

estudantes de arquitetura da Escola Técnica Superior de Dresde: Ernst Ludwig

Kirchner, Fritz Bleyl, Erich Heckel e Karl Schmidt-Rottluff. O nome foi ideado por Schmidt-

Rottluff, simbolizando através de uma ponte a sua pretensão de estabelecer as bases de

uma arte de futuro. Possivelmente a inspiração veio de uma frase de Assim falou

Zaratustra de Nietzsche: "A grandeza do homem é que é uma ponte e não um

fim".39 Em1906 uniram-se ao grupo Emil Nolde e Max Pechstein, bem como o suíço Cuno

Amiet e o holandês Lambertus Zijl; em 1907, o finlandês Akseli Gallen-Kallela;

em 1908, Franz Nölken e o holandês Kees Van Dongen; e, em 1910, Otto Mueller e

o tcheco Bohumil Kubišta. Bleyl separou-se do grupo em 1907, mudando-se para a Silésia,

onde foi professor na Escola de Engenharia Civil, abandonando a pintura. Nos seus

começos, os membros de Die Brücke trabalharam numa pequena oficina situada na

Berliner Straße nº 65 de Dresde, adquirido por Heckel em 1906, que eles mesmos

decoraram e mobiliaram seguindo as diretrizes do grupo.40

O grupo Die Brücke buscou ligar com o público em geral, tornando-o partícipe das

atividades do grupo. Concebiram a figura do "membro passivo" que, mediante uma

Page 19: Arte Contemporânea

assinatura anual de doze marcos, recebiam periodicamente um boletim com as atividades

do grupo, bem como diversas gravuras (as "Brücke-Mappen"). Com o tempo, o número de

membros passivos ascendeu a sessenta e oito.41 Em 1906 publicaram um

manifesto, Programm, no que Kirchner expressou a sua vontade de convocar a juventude

para um projeto de arte social que transformasse o futuro. Visavam influir na sociedade

através da arte, considerando-se profetas revolucionários que conseguiriam mudar a

sociedade do seu tempo. A intenção do grupo era atrair qualquer elemento revolucionário

que quisesse unir-se; assim o expressaram numa carta dirigida a Nolde. O seu maior

interesse era destruir as velhas convenções, assim como se estava fazendo na França.

Segundo Kirchner, não podiam pôr-se regras e a inspiração devia fluir livre e dar

expressão imediata às pressões emocionais do artista. A carga de crítica social que

imprimiram à sua obra valiou os ataques da crítica conservadora que os tachou de serem

um perigo para a juventude alemã.42

Os artistas de Die Brücke eram influenciados pelo movimento Arts & Crafts, bem como

pelo Jugendstil e os Nabis, e artistas como Van Gogh, Gauguin e Munch. Também se

inspiraram no gótico alemão e na arte africana, sobretudo após os estudos realizados por

Kirchner das xilografias de Dürer e da arte africana do Museu Etnológico de

Dresde.43Também estavam interessados pela literatura russa, especialmente Dostoievski.

Em 1908, após uma exposição de Matisse em Berlim, expressaram igualmente a sua

admiração pelos fauvistas, com os que compartilhavam a simplicidade da composição,

o maneirismo das formas e o intenso contraste de cores. Ambos partiam do pós-

impressionismo, recusando a imitação e destacando-se a autonomia da cor. Contudo,

variam os temas: os expressionistas eram mais angustiosos, marginais, desagradáveis, e

destacavam mais o sexo do que os fauvistas. Rejeitavam o academicismo e aludiam à

"liberdade máxima de expressão". Mais do que um programa estilístico próprio, o seu nexo

era a recusa do realismo e do impressionismo, e a sua procura de um projeto artístico que

envolvesse a arte com a vida, para o que experimentaram com diversas técnicas artísticas

como o mural, a xilografia e a ebanesteria, à parte da pintura e da escultura.44

Page 20: Arte Contemporânea

Duas garotas na erva (1926), de Otto Mueller, Staatsgalerie Moderner Kunst,Munique.

Die Brücke outorgou especial importância às obras gráficas: o seu principal meio de

expressão foi a xilografia, técnica que permitia plasmar a sua concepção da arte

diretamente, deixando um aspecto inacabado, bruto, selvagem, próximo do primitivismo

que tanto admiravam. Estes gravados em madeira apresentam superfícies irregulares, que

não dissimulam e aproveitam expressivamente, aplicando manchas de cor e destacando-

se a sinuosidade das formas. Também utilizaram a litografia, a água-tinta e a aquaforte,

que costumam ser de um reduzido cromatismo e simplificação estilística.45 Die

Brücke defendia a expressão direta e instintiva do impulso criador do artista, sem normas

nem regras, recusando totalmente qualquer tipo de regulamentação acadêmica. Como

disse Kirchner: "o pintor transforma em obra de arte a concepção da sua experiência".46

Aos membros de Die Brücke interessava-lhes um tipo de temática centrada na vida e a

natureza, refletida de jeito espontânea e instintiva, pelo qual os seus principais temas são

o despido –quer no interior ou no exterior–, bem como cenas de circo e music hall, onde

encontram a máxima intensidade que podem extrair da vida.47 Esta temática foi sintetizada

em obras sobre banhistas, que os seus membros realizaram preferentemente entre 1909 e

1911 nas suas estadias nos lagos próximos a Dresde: Alsen, Dangast, Nidden, Fehmarn,

Hiddensee, Moritzburg, etc. São obras nas quais expressam um naturismo sem rodeios,

um sentimento quasepanteísta de comunhão com a natureza, al mesmo tempo que

tecnicamente vão depurando a sua paleta, num processo de deformação subjetiva da

forma e da cor, que adquire um significado simbólico.39

Em 1911 a maioria de artistas do grupo instalaram-se em Berlim, iniciando a sua carreira

em solitário. Na capital alemã receberam a influência do cubismo e do futurismo, patente

na esquematização das formas e no uso de tons mais frios a partir de então. A sua paleta

Page 21: Arte Contemporânea

tornou-se mais obscura e a sua temática mais desolada, melancólica, pessimista,

perdendo o selo estilístico comum que tinham em Dresde para percorrer caminhos cada

vez mais divergentes, iniciando cada um o seu.48 Uma das maiores exposições na que

participaram os membros de Die Brücke foi a Sonderbund de Colônia de 1912, na que

Kirchner e Heckel receberam a encomenda de decorarem uma capela, que teve um

grande sucesso.49 Ainda assim, em 1913 aconteceu a dissolução formal do grupo, devido

à recusa que provocou nos seus companheiros a publicação da história do grupo (Crônica

da sociedade artística de Die Brücke) por parte de Kirchner, na qual se outorgava uma

especial relevância que não foi admitida pelo restante de membros.50

Os principais membros do grupo foram:

Três banhistas (1913), de Ernst Ludwig Kirchner, Galeria de Arte de Nova Gales do Sul.

Ernst Ludwig Kirchner: grande desenhista –o seu pai era professor de desenho–,

desde a sua visita a uma exposição de xilografia de Dürer em 1898 começou a fazer

gravados em madeira, material no que também realizou talhas de influência africana,

com um acabamento irregular, sem polir, destacando-se os componentes sexuais.

Utilizava cores primárias, como os fauvistas, com certa influência de Matisse, mas com

linhas quebradas, violentas –ao contrário das arredondadas de Matisse–, em ângulos

fechados, agudos. As figuras são estilizadas, com um alargamento de influência

gótica. Desde a sua mudança para Berlim em 1910 realizou composições mais

esquemáticas, com linhas cortantes e zonas inacabadas, e certa distorção formal.

Progressivamente a sua pincelada tornou-se mais nervosa, agressiva, com linhas

superpostas, composição mais geométrica, com formas angulosas inspiradas na

decomposição cubista. Desde 1914 começou a padecer transtornos mentais e,

durante a guerra, sofreu uma doença respiratória, fatores que influíram na sua obra.

Em 1937 os seus trabalhos foram confiscados pelos nazistas, suicidando-se no ano

seguinte.51

Erich Heckel: a sua obra nutriu-se da influência direta de Van Gogh, ao que conheceu

em 1905 na Galeria Arnold de Dresde. Entre 1906 e 1907 realizou uma série de

quadros de composição vangoghiana, de pinceladas curtas e cores intensas –

predominantemente o amarelo–, com pasta densa. Mais tarde evoluiu para temáticas

mais expressionistas, como o sexo, a solidão e a incomunicação. Também trabalhou

com a madeira, em obras lineais, sem perspectiva, com influência gótica e cubista. Foi

um dos expressionistas mais ligados à corrente romântica alemã, o que se reflete na

sua visão utópica das classes marginais, pelas quais expressa um sentimento de

solidariedade e reivindicação. Desde 1909 viajou pela Europa, que o pôs em contato

tanto com a arte antiga quanto com as novas vanguardas, especialmente com o

Page 22: Arte Contemporânea

fauvismo e com o cubismo, dos quais adotou a organização espacial e o colorido

intenso e subjetivo. Nas suas obras tende a descuidar o aspecto figurativo e descritivo

das suas composições para ressaltar o conteúdo emotivo e simbólico, com pinceladas

densas que fazem que a cor ocupe todo o espaço, sem outorgar importância ao

desenho ou a composição.52

Karl Schmidt-Rottluff: nos seus começos praticou o macropontilhismo, para passar a

um expressionismo de figuras esquemáticas e rostos cortantes, de pincelada solta e

de cores intensas. Recebeu certa influência de Picasso na sua etapa azul, bem como

de Munch e da arte africana e, desde 1911, do cubismo, palpável na simplificação das

formas que aplicou às suas obras desde então. Dotado de uma grande mestria para

a aquarela, sabia dosificar bem as cores e distribuir os chiaroscuros, enquanto na

pintura aplicava pinceladas densas e espessas, com claro precedente em Van Gogh.

Também realizou talhas em madeira, às vezes policromada, com influência africana –

rostos alongados, olhos amendoados–.53

Emil Nolde: ligado a Die Brücke durante 1906-1907, trabalhou em solitário, desligado

de tendências –não se considerava um expressionista, mas um "artista alemão"–.

Dedicado em princípio à pintura de paisagens, temas florais e animais, sentia

predileção por Rembrandt e por Goya. Em princípios de século empregava a

técnicadivisionista, com empaste muito grosso e pinceladas curtas, e com forte

descarrega cromática, de influência pós-impressionista. Durante a sua estadia em Die

Brückeabandonou o processo de imitação da realidade, denotando na sua obra uma

inquietude interior, uma tensão vital, uma crispação que se reflete no pulso interno da

obra. Começou então os temas religiosos, centrando-se na Paixão de Jesus Cristo,

com influência de Grünewald, Brueghel e Hieronymus Bosch, com rostos

desfigurados, um profundo sentimento de angústia e uma grande exaltação da cor (A

última ceia, 1909; Pentecostes, 1909; Santa Maria Egipcíaca, 1912).54

Otto Mueller: grande admirador da arte egípcia, realizou obras sobre paisagens

e nus com formas esquemáticas e angulosas, nos quais se percebe a influência de

Cézanne e de Picasso. Os seus nus costumam localizar-se em paisagens naturais,

evidenciando a influência da natureza exótica de Gauguin. O seu desenho é limpo e

fluido, afastado do estilo áspero e gestual dos outros expressionistas, com uma

composição de superfícies planas e suaves linhas curvas, criando uma atmosfera de

fantasia idílica. As suas figuras delgadas e esbeltas estão inspiradas em Cranach, de

cuja Vênus tinha uma reprodução no seu estudo. São nus de grande simplicidade e

naturalidade, sem traços de provocação ou sensualidade, expressando uma perfeição

Page 23: Arte Contemporânea

ideal, a nostálgia de um paraíso perdido, em que o ser humano vivia em comunhão

com a natureza.55

Max Pechstein: de formação acadêmica, estudou Belas Artes em Dresde. Em uma

viagem à Itália em 1907 entusiasmou-se com a arte etrusca e com

os mosaicos de Ravena, enquanto na sua seguinte estadia em Paris entrou em

contato com o fauvismo. Em 1910 foi fundador com Nolde e Georg Tappert da Nova

Secessão berlinesa, da qual foi o seu primeiro presidente. Em 1914 realizou uma

viagem pela Oceania, recebendo como tantos outros artistas da época a influência da

arte primitiva e exótico. As suas obras costumam ser paisagens solitárias e agrestes,

geralmente de Nidden, uma população da costa báltica que era o seu lugar de

veraneio.56

Der Blaue Reiter (O Ginete Azul) surgiu em Munique em 1911, agrupando Wassily

Kandinsky, Franz Marc, August Macke,Paul Klee, Gabriele Münter, Alfred Kubin, Alexej

von Jawlensky, Lyonel Feininger, Heinrich Campendonk e Marianne von Werefkin. O nome

do grupo foi escolhido por Marc e Kandinsky tomando café num terraço, após uma

conversação onde coincidiram no seu gosto pelos cavalos e pela cor azul, embora seja de

sublinhar que Kandinsky já pintara um quadro com o título O Ginete

Azul em 1903 (Coleção E.G. Bührlle, Zurique).57 De novo, mais que um selo estilístico

comum compartilhavam uma visão da arte, na que imperava a liberdade criadora do artista

e a expressão pessoal e subjetiva das suas obras. Der Blaue Reiter não foi uma escola

nem um movimento, mas um agrupamento de artistas com inquietudes similares,

centrados num conceito da arte não como imitação, mas como expressão do interior do

artista.58

Der Blaue Reiter foi uma cisão do grupo Neue Künstlervereinigung München ("Nova

Asociación de Artistas de Muniqu"e), fundada em 1909, da qual era presidente Kandinsky,

e que incluía ademais Marc, Jawlensky, Werefkin, Kubin, Klee, Münter, os

irmãos David e Vladimir Burliuk, Alexander Kanoldt, Adolf Erbslöh, Karl Hofer, etc.

Contudo, divergências estéticas originaram o abandono de Kandinsky, Marc, Kubin e

Münter, fundando o novo grupo.59 Der Blaue Reiter tinha poucos pontos em comum

com Die Brücke, coincidindo basicamente na sua oposição ao impressionismo e ao

positivismo; porém, frente à atitude temperamental de Die Brücke, frente à sua plasmação

quase fisiológica da emotividade, Der Blaue Reiter tinha uma atitude mais refinada e

espiritual, visando a captar a essência da realidade através da purificação dos instintos.

Assim, em vez de utilizar a deformação física, optam pela sua total depuração, chegando

assim à abstração. A sua poética foi definida como um expressionismo lírico, no qual a

evasão não se encaminhava para o mundo selvagem mas para o espiritual da natureza e

do mundo interior.60

Page 24: Arte Contemporânea

Os membros do grupo mostraram o seu interesse pelo misticismo, pelo simbolismo e pelas

formas da arte que consideravam mais genuínas: a primitiva, a popular, a infantil e a de

doentes mentais. Der Blaue Reiter destacou-se pelo uso da aquarela, frente à gravura

utilizada nomeadamente por Die Brücke. Também cabe destacar-se a importância

outorgada à música, que acostuma assimilar-se à cor, o que facilitou a transição de uma

arte figurativa para uma mais abstrata.61 De igual forma, nos seus ensaios teóricos

mostraram a sua predileção pela forma abstrata, na que viam um grande conteúdo

simbólico e psicológico, teoria que ampliou Kandinsky na sua obra Do espiritual na

arte(1912), na que procura uma síntese entre a inteligência e a emotividade, defendendo

que a arte se comunica com o nosso espírito interior, e que as obras artísticas podem ser

tão expressivas quanto a música.57 Kandinsky expressa um conceito místico da arte, com

influência da teosofia e da filosofia oriental: a arte é expressão do espírito, sendo as

formas artísticas reflexo dele. Como no mundo das ideias de Platão, as formas e sons

ligam com o mundo espiritual através da sensibilidade, da percepção. Para Kandinsky, a

arte é uma linguagem universal, acessível a qualquer ser humano. O caminho da pintura

devia ser desde a pesada realidade material até a abstração da visão pura, com a cor

como meio, por isso desenvolveu toda uma complexa teoria da cor: em A Pintura como

arte pura (1913) sustém que a pintura é já um ente separado, um mundo em si mesmo,

uma nova forma do ser, que age sobre o espectador através da vista e que provoca nele

profundas experiências espirituais.62

São Jorge (1912), de August Macke, Kolumba Museum, Colônia.

Der Blaue Reiter organizou diversas exposições: a primeira foi na Galeria Thannhäuser de

Munique, inaugurada a 18 de dezembro de1911 com o nome I Ausstellung der Redaktion

des Blauen Reiter ("I Exposição dos Diretores do Ginete Azul").63 Foi a mais homogênea,

pois havia uma clara influência mútua entre todos os componentes do grupo, dissipada

mais adiante por uma maior individualidade de todos os seus membros. Expuseram obras

Page 25: Arte Contemporânea

Macke, Kandinsky, Marc, Campendonk e Münter e, como convidados, Arnold Schönberg –

compositor mas autor também de obras pictóricas–, Albert Bloch, David e Vladimir Burliuk,

Robert Delaunay e o Aduaneiro Rousseau. A segunda exposição decorreu na Galeria

Hans Goltz em março de 1912, dedicada a aquarelas e obras gráficas, confrontando o

expressionismo alemão com o cubismo francês e o suprematismo russo. A última grande

exposição aconteceu em 1913 na sede de Der Sturm em Berlim, em paralelo ao primeiro

"Salão de Outono" celebrado na Alemanha.64

Um dos maiores quadros do grupo foi a publicação do Almanaque (maio de 1912), por

ocasião da exposição organizada em Colônia pelo Sonderbund. Foi realizado em

colaboração com o galerista Heinrich von Tannhäuser e com Hugo von Tschudi, diretor

dos museus de Baviera. Junto a numerosas ilustrações, recolhia diversos textos dos

membros do grupo, dedicados à arte moderna e com numerosas referências à arte

primitiva e exótica. A teoria pictórica do grupo era mostrada, centrada na importância da

cor e na perda da composição realista e do caráter imitativo da arte, frente a uma maior

liberdade criativa e uma expressão mais subjetiva da realidade. Falava-se igualmente dos

pioneiros do movimento (Van Gogh, Gauguin, Cézanne, Rousseau), no que se incluía

tanto aos membros deDie Brücke e Der Blaue Reiter como a Matisse, Picasso e Delaunay.

Também se incluiu a música, com referências a Schönberg, Webern e Berg.65

Der Blaue Reiter teve o seu final com a Primeira Guerra Mundial, na que faleceram Marc e

Macke, enquanto Kandinsky teve de voltar para a Rússia. Em 1924 Kandinsky e Klee,

junto a Lyonel Feininger e Alexej von Jawlensky, fundaram Die Blaue Vier" (Os Quatro

Azuis") no seio da Bauhaus, expondo conjuntamente a sua obra por dez anos.66

Os principais representantes de Der Blaue Reiter foram:

O moinho encantado (1913), de Franz Marc, Art Institute of Chicago, Chicago.

Page 26: Arte Contemporânea

Wassily Kandinsky: de vocação tardia, estudou direito, economia e política antes de se

passar à pintura, após visitar uma exposição impressionista em 1895. Estabelecido em

Munique, começou no Jugendstil,conjugando-o com elementos da tradição russa.

Em 1901 fundou o grupo Phalanx, e abriu a sua própria escola. Durante 1906—

1909 teve um período fauvista, para passar posteriormente ao expressionismo.

Desde 1908 a sua obra foi perdendo o aspecto temático e figurativo para ganhar em

expressividade e colorido, iniciando progressivamente o caminho para a abstração, e

desde 1910 criou quadros nos quais a importância da obra residia na forma e na cor,

criando planos pictóricos por confrontação de cores.67 A sua abstração era aberta,

com um foco no centro, empurrando com uma força centrífuga, derivando as linhas e

manchas para fora, com grande riqueza formal e cromática. O próprio Kandinsky

distinguia a sua obra entre "impressões", reflexo direto da natureza exterior (que seria

a sua obra até 1910); "improvisações", expressão de signo interno, de caráter

espontâneo e de natureza espiritual (abstração expressionista, 1910-1921); e

"composições", expressão igualmente interna mais elaborada e formada devagar

(abstração construtiva, desde 1921).68

Franz Marc: estudante de teologia, durante uma viagem pela Europa

entre 1902 e 1906 decidiu tornar-se pintor. Imbuído de um grande misticismo,

considerava-se um pintor "expressivo", visando a expressar o seu "eu interior". A sua

obra foi bastante monotemática, dedicando-se aos animais, especialmente os cavalos.

Contudo, os seus tratamentos eram variados, com contrastes muito violentos de cor,

sem perspectiva linear. Recebeu a influência de Degas –que também fez uma série

sobre cavalos–, bem como do orfismo de Delaunay e das atmosferas boiantes de

Chagall. Para Marc, a arte era uma forma de captar a essência das coisas, o que

traduziu numa visão mística e panteísta da natureza, que plasmou sobretudo nos

animais, que para ele tinham um significado simbólico, representando conceitos como

o amor ou a morte. Nas suas representações de animais a cor era igualmente

simbólico, destacando-se o azul, a cor mais espiritual. As figuras eram simples,

esquemáticas, tendendo à geometrização após o seu contato com o cubismo.

Contudo, desenganado também dos animais, começou como Kandinsky o caminho

para a abstração, carreira que truncada com a sua morte na contenda mundial.69

August Macke: em 1906 visitou Bélgica e Holanda, onde recebeu a influência de

Rembrandt –empaste grosso, contrastes acusados–; em 1907, em Londres,

entusiasmou-se com os pré-rafaelitas; igualmente, em 1908 em Paris contatou com o

fauvismo. Desde então abandonou a tradição e renovou temáticas e coloridos,

trabalhando com cores claras e cálidas. Depois receberia a influência do cubismo:

restrição cromática, linhas geométricas, figuras esquematizadas, contrastes sombra-

Page 27: Arte Contemporânea

luz. Por último chegou à arte abstrata, influenciado por Kandinsky e Delaunay: fazia

uma abstração racional, geométrica, com manchas lineais de cor e composições

baseadas em planos geométricos coloreados. Nas suas últimas obras –após uma

viagem pelo norte da África– voltou ao colorido forte e os contrastes exagerados, com

um certo ar surrealista. Inspirava-se em temas cotidianos, em ambientes geralmente

urbanos, com um ar lírico, alegre, sereno, com cores de expressão simbólica como em

Marc.70

Paul Klee: de formação musical, em 1898 passou à pintura, denotando como

Kandinsky um senso pictórico de evanescência musical, tendente à abstração, e com

um ar onírico que o levaria para o surrealismo.71 Iniciado no Jugendstil, e com

influência de Böcklin, Redon, Van Gogh, Ensor e Kubin, visava como este último

atingir um estado intermédio entre a realidade e a fantasia ideal. Mais tarde, após uma

viagem para Paris em 1912 onde conheceu a Picasso e Delaunay, interessou-se mais

pela cor e as suas possibilidades compositivas. Em uma viagem para África em 1914

com Macke reafirmou a sua visão da cor como elemento dinamizador do quadro, que

seria a base das suas composições, onde perdura a forma figurativa combinada com

uma certa atmosfera abstrata, em curiosas combinações que seriam um dos seus

selos estilísticos mais reconhecíveis. Klee recriou na sua obra um mundo fantástico e

irônico, próximo do das crianças ou os loucos, que acercará o universo dos

surrealistas –com numerosos pontos de contato entre a sua obra e a de Joan Miró–.72

Alexej von Jawlensky: militar russo, abandonou a sua carreira para se dedicar à arte,

instalando-se em Munique em 1896 com Marianne von Werefkin. Em 1902 viajou para

Paris, travando amizade com Matisse, com quem trabalhou um tempo e com quem se

iniciou no colorido fauve. Dedicou-se nomeadamente ao retrato, inspirado nos ícones

da arte tradicional russa, com figuras em atitude hierática, de grande tamanho e

esquematismo compositivo. Trabalhava com grandes superfícies de cor, com um

colorido violento, delimitado por fortes traços pretos.73 Durante a guerra refugiou-se na

Suíça, onde realizou retratos próximos do cubismo, com rostos ovais, de nariz

alongado e olhos assimétricos. Mais tarde, por influência de Kandinsky, aproximou-se

à abstração, com retratos reduzidos a formas geométricas, de cores intensas e

cálidas.74

Page 28: Arte Contemporânea

Autorretrato (1910), de Marianne von Werefkin, Städtische Galerie im Lenbachhaus, Munique.

Lyonel Feininger: norte-americano de origem alemão, em 1888 viajou para Alemanha

para estudar música, passando posteriormente à pintura. Nos seus começos trabalhou

como caricaturista para vários jornais. Recebeu a influência do cubismo órfico de

Delaunay, patente no geometrismo das suas paisagens urbanas, de formas angulosas

e inquietantes, parecidas às de O gabinete do doutor Caligari –em cujos decoradores

provavelmente influiu–. As suas personagens são caricaturescas, de grande tamanho

–às vezes chegando à mesma altura dos edifícios–, construídas por superposição de

planos de cor. Professor da Bauhaus de 1919 a 1933, em1938, por causa do nazismo,

retornou para o seu Nova York natal.75

Gabriele Münter: estudou em Düsseldorf e Munique, ingressando no grupo Phalanx,

no que conheceu a Kandinsky, com o que iniciou uma relação e passou longas

temporadas na localidade de Murnau. Ali pintou numerosas paisagens nas quais

desvelava uma grande emotividade e um grande domínio da cor, com influência da

arte popular bávara, o que se denota nas linhas simples, cores claras e luminosas e

uma cuidada distribuição das massas. Recebeu de Jawlensky a justaposição de

manchas brilhantes de cor com nítidos contornos, que se tornariam no seu principal

selo artístico. Entre 1915 e 1927 deixou de pintar, após a sua ruptura com

Kandinsky.76

Heinrich Campendonk: influenciado pelo cubismo órfico e a arte popular e primitiva,

criou um tipo de obras de signo primitivista, com desenho de grande rigidez, figuras

Page 29: Arte Contemporânea

hieráticas e composições deshierarquizadas. Nas suas obras tem um papel

determinante o contraste de cores, com uma pincelada herdeira do impressionismo.

Mais tarde, por influência de Marc, a cor ganhou independência a respeito do objeto,

adquirindo um maior valor expressivo, e decompondo o espaço à maneira cubista.

Superpunha as cores em camadas transparentes, realizando composições livres nas

quais os objetos parecem boiar sobre a superfície do quadro. Assim como em Marc, a

sua temática focou-se num conceito idealizado da comunhão entre o homem e a

natureza.77

Alfred Kubin: escritor, desenhista e ilustrador, a sua obra baseou-se num mundo

fantasmagórico de monstros, de aspecto excitante e alucinante, refletindo a sua

obsessão pela morte. Influenciado por Max Klinger, trabalhou nomeadamente como

ilustrador, em desenhos em branco e preto de ar decadentista com reminiscências de

Goya, Blake e Félicien Rops. As suas cenas enquadravam-se em ambientes

crepusculares, fantasmagóricos, que recordam igualmente a Odilon Redon, com um

estilo caligráfico, às vezes roçando a abstração. Os seus imagens fantásticas,

mórbidas, com referências ao sexo e a morte, foram precursoras do surrealismo.

Também foi escritor, cuja principal obra, O outro lado (1909), pôde ter influenciado

sobre Kafka.78

Marianne von Werefkin: pertencente a uma família aristocrata russa, recebeu classes

de Ilya Repin em São Petersburgo. Em 1896 mudou-se para Munique com Jawlensky,

com o que iniciara uma relação, dedicando-se mais à difusão da obra deste que à sua

própria. Nesta cidade criou um salão de notável fama como tertúlia artística, chegando

a influir em Franz Marc a nível teórico. Em 1905, após algumas divergências com

Jawlensky, voltou a pintar. Esse ano viajou para França, recebendo a influência

dos nabis e os futuristas. As suas obras são de um colorido brilhante, cheio de

contrastes, com preponderância da linha na composição, à qual a cor fica

subordinada. A temática é fortemente simbólica, destacando-se as suas enigmáticas

paisagens com procissões de mortos.79

O grupo Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade) surgiu após a Primeira Guerra Mundial

como um movimento de reação frente ao expressionismo, retornando à figuração realista e

à plasmação objetiva da realidade circundante, com uma marcada componente social e

reivindicativa. Desenvolvido entre 1918 e 1933, desapareceu com o advento do

nazismo.80 O ambiente de pessimismo que trouxe o pós-guerra propiciou o abandono por

parte de alguns artistas do expressionismo mais espiritual e subjetivo, de procura de novas

linguagens artísticas, por uma arte mais comprometida, mais realista e objetiva, dura,

direta, útil para o desenvolvimento da sociedade, uma arte revolucionária na sua temática,

se bem que não na forma.81 Os artistas separaram-se da abstração, refletindo sobre a arte

Page 30: Arte Contemporânea

figurativa e recusando toda atividade que não atendesse os problemas da diligente

realidade do pós-guerra. Encarnaram este grupo Otto Dix, George Grosz, Max

Beckmann, Conrad Felixmüller, Christian Schad, Rudolf Schlichter, Ludwig Meidner, Karl

Hofer e John Heartfield.

Frente à introspeção psicológica do expressionismo, o individualismo de Die Brücke ou o

espiritualismo de Der Blaue Reiter, a Nova Objetividade propôs o retorno ao realismo e à

plasmação objetiva do mundo circundante, com uma temática mais social e comprometida

politicamente. Contudo, não renunciaram aos sucessos técnicos e estéticos da arte de

vanguarda, como o colorido fauvista e expressionista, a "visão simultânea" futurista ou a

aplicação da fotomontagem à pintura e à gravura do verismo. A recuperação da figuração

foi uma consequência comum no espaço no final da guerra: para além da Nova

Objetividade, surgiu na França o purismo e na Itália a pintura metafísica, precursora do

surrealismo. Mas, na Nova Objetividade, este realismo é mais comprometido que em

outros países, com obras de denúncia social que visam desmascarar a sociedade

burguesa do seu tempo, denunciar o estamento político e militar que os levou ao desastre

da guerra. Se bem que a Nova Objetividade opôs-se ao expressionismo por ser um estilo

espiritual e individualista, manteve por outro lado a sua essência formal, pois o seu caráter

grotesco, de deformação da realidade, de caricaturamento da vida, transladou-se à

temática social abordada pelos novos artistas do pós-guerra.82

A "Nova Objetividade" surgiu como recusa do Novembergruppe, cuja falta de compromisso

social rejeitavam. Assim, em 1921, um grupo de artistas dadaístas –entre os quais se

encontravam George Grosz, Otto Dix, Rudolf Schlichter e Hanna Höch.– apresentaram-se

como "Oposição ao Grupo de Novembro", redigindo uma Carta aberta a este. O termo

"Nova Objetividade" foi concebido pelo crítico Gustav Friedrich Hartlaub para a

exposição Nova Objetividade. Pintura alemã desde o expressionismo, celebrada

em 1925 naKunsthalle de Mannheim. Segundo palavras de Hartlaub: "o objetivo é superar

as mesquindades estéticas da forma através de uma nova objetividade nascida do

desgosto para a sociedade burguesa da exploração".83

Em paralelo à Nova Objetividade surgiu o denominado "realismo mágico", nome proposto

igualmente por Hartlaub em 1922 mais difundido sobretudo por Franz Roh no seu livroPós-

expressionismo. Realismo mágico (1925). O realismo mágico situou-se mais à direita da

Nova Objetividade –embora fosse igualmente eliminado pelos nazis–, e representava uma

linha mais pessoal e subjetiva que o grupo de Grosz e Dix. Frente à violência e

dramatismo dos seus coetâneos objetivos, os realistas mágicos elaboraram uma obra mais

acalmada e intemporal, mais sereia e evocadora, transmissora de uma quietude que

visava a pacificar os ânimos após a guerra. O seu estilo era próximo do da pintura

metafísica italiana, visando a captar a transcendência dos objetos para além do mundo

visível. Entre as suas figuras destacaram-se Georg Schrimpf, Alexander Kanoldt, Anton

Räderscheidt, Carl Grossberg e Georg Scholz.84

Os principais expoentes da Nova Objetividade foram:

Page 31: Arte Contemporânea

George Grosz: procedente do dadaísmo, interessado pela arte popular. Mostrou desde

novo na sua obra um intenso desgosto pela vida, que se tornou após a guerra em

indignação. Na sua obra analisou fria e metodicamente a sociedade do seu tempo,

desmistificando as classes dirigentes para mostrar o seu lado mais cruel e despótico.

Carregou especialmente contra o exército, a burguesia e o clero, em séries como O

rosto da classe dominante (1921) ou Ecce Homo (1927), em cenas onde predomina a

violência e o sexo. As suas personagens costumam ser mutilados de guerra,

assassinos, suicidas, burgueses ricos e rechonchudos, prostitutas, vagabundos, em

figuras sucintas, silhuetadas em poucos traços, como bonecos. Tecnicamente,

empregou recursos de outros estilos, como o espaço geometrizante do cubismo ou a

captação do movimento do futurismo.85

Otto Dix: iniciado no realismo tradicional, com influência de Hodler, Cranach e Durero,

em Dix a temática social, patética, direta e macabra da Nova Objetividade ficava

enfatizada pela representação realista e minuciosa, quase diáfana, das suas cenas

urbanas, povoadas pelo mesmo tipo de personagens que retratava Grosz: assassinos,

aleijados, prostitutas, burgueses e mendigos. Expôs fria e metodicamente os horrores

da guerra, as carniçarias e matanças que presenciou como soldado: assim, na série A

Guerra (1924), inspirou-se na obra de Goya e de Callot.86

Max Beckmann: de formação acadêmica e começos próximos do impressionismo, o

horror da guerra levou-o, como aos seus companheiros, a plasmar cruamente a

realidade que o envolvia. Acusou então a influência de antigos mestres como

Grünewald, Brueghel e Hieronymus Bosch, junto a novas contribuições como o

cubismo, do qual tomou o seu conceito de espaço, que se torna na sua obra em um

espaço agoniante, quase claustrofóbico, no qual as figuras têm um aspecto de solidez

escultórica, com contornos muito delimitados. Na sua série O inferno (1919) fez um

retrato dramático do Berlim do pós-guerra, com cenas de grande violência, com

personagens torturados, que berram e se retorcem de dor.86

Conrad Felixmüller: fervente opositor da guerra, durante a contenda assumiu a arte

como compromisso político. Ligado ao círculo de Pfemfert, editor da revista Die Aktion,

moveu-se no ambiente antimilitarista de Berlim, que recusava o esteticismo na arte,

defendendo uma arte comprometida e de finalidade social. Influenciado pelo colorido

deDie Brücke e pela decomposição cubista, simplificou o espaço como formas

angulares e quadriláteros, que ele denominava "cubismo sintético". A sua temática

focou-se em operários e nas classes sociais mais desfavorecidas, com um forte

componente de denúncia.87

Page 32: Arte Contemporânea

Christian Schad: membro do grupo dadaísta de Zurique (1915-1920), onde trabalhou

com papel fotográfico –as suas "schadografias"–, dedicou-se posteriormente ao

retrato, em retratos frios e desapassionados, estritamente objetivos, quase

desumanizados, estudando com olhada sóbria e científica as personagens que retrata,

reduzidas a simples objetos, sós e isoladas, sem capacidade de se comunicarem.84

Ludwig Meidner: membro do grupo Die Pathetiker (Os Patéticos) junto a Jakob

Steinhardt e Richard Janthur, o seu principal tema foi a cidade, a paisagem urbana,

que mostrou em cenas abigarradas, sem espaço, com grandes multidões e edifícios

angulosos de precário equilíbrio, num ambiente opressivo, angustioso. Na sua

sériePaisagens apocalípticas (1912-1920) retratou cidades destruídas, que ardem ou

estouram, em vistas panorâmicas que mostram mais friamente o horror da guerra.88

Karl Hofer: iniciado num certo classicismo próximo a Hans von Marées, estudou

em Roma e Paris, onde o surpreendeu a guerra e foi feito prisioneiro durante três

anos, fato que marcou profundamente o desenvolvimento da sua obra, com figuras

atormentadas, de gestos vacilantes, em atitude estática, enquadradas em desenhos

claros, de cores frias e pincelada pulcra e impessoal. As suas figuras são solitárias, de

aspecto pensativo, melancólico, denunciando a hipocrisia e a loucura da vida moderna

(O casal, 1925;Homens com tochas, 1925; O quarto preto, 1930).89

Denomina-se Escola de Paris a um grupo heterodoxo de artistas que trabalharam

em Paris no período entre-guerras(1905—1940), ligados a diversos estilos artísticos como

o pós-impressionismo, o expressionismo, o cubismo e o surrealismo. O termo abrange

uma grande variedade de artistas, tanto franceses quanto estrangeiros que residiam na

capital francesa no intervalo entre as duas guerras mundiais. Naquela época, Paris era um

fértil centro de criação e difusão artística, tanto pelo seu ambiente político, cultural e

econômico, quanto por ser a origem de diversos movimentos da vanguarda, como o

fauvismo e o cubismo, além de ser lugar de residência de grandes mestres como Picasso,

Braque, Matisse e Léger. Também era um remarcável centro de colecionismo e de

galerias de arte. A maioria de artistas residia nos bairros de Montmartre e Montparnasse, e

caracterizava-se pela sua vida mísera e boêmia.99

Na Escola de Paris houve uma grande diversidade estilística, se bem que a maioria

estiveram ligados com maior ou menor intensidade ao expressionismo, embora

interpretado de jeito pessoal e heterodoxo: artistas como Amedeo Modigliani, Chaïm

Soutine, Jules Pascin e Maurice Utrillo foram conhecidos como Les maudits ("Os

malditos"), pela sua arte boêmia e torturada, reflexo de um ambiente notâmbulo, miserável

e desesperado. Por outro lado, Marc Chagall representa um expressionismo mais vitalista,

mais dinâmico e colorista, sintetizando a sua iconografia russa natal com o colorido

fauvista e com o espaço cubista.100

Page 33: Arte Contemporânea

Os membros mais destacados da escola foram:

Amedeo Modigliani: instalou-se em Montmartre em 1906, onde se reunia em "O coelho

ágil" com Picasso, Max Jacob, Apollinaire, Soutine, etc. Influenciado pelo simbolismo e

pelo maneirismo (Pontormo, Parmigianino), dedicou-se nomeadamente à paisagem, o

retrato e o nu, com figuras alongadas inspiradas nos mestres italianos

do Cinquecento.Hedonista, procurava a felicidade, o agradável, pelo qual não lhe

interessava a corrente destrutiva nietzscheana do expressionismo alemão. Nas suas

obras sublinhava com força o contorno, de linhas fluidas, herdeiras

do arabesco modernista, enquanto o espaço se formava por justaposição de planos de

cor. Os seus retratos eram de grande introspeção psicológica, ao que contribuía uma

certa deformação e a transmissão desse ar melancólico e desolado próprio da sua

visão boêmia e angustiada da vida. Dedicou-se também à escultura, com influência

de Brâncuşi, bem como maneirista e africana, com obras simétricas, alongadas,

frontais, próximas à escultura arcaica grega.101

Marc Chagall: instalado em Paris em 1909, realizou obras de caráter onírico, próximas

a um certo surrealismo, distorcendo a realidade ao seu capricho. Empregava uma

gama de cor exaltada, principal nexo de união com o expressionismo alemão –embora

ele não se considerasse expressionista–, em temas populares e religiosos, com

desproporção e falta de interesse pela hierarquização na narração dos fatos.

Influenciado pelo fauvismo, o cubismo e o futurismo, as suas cenas encontram-se num

espaço irreal, alheio a regras de perspectiva ou de escala, num mundo no que evoca

as suas lembranças infantis e os temas populares russos e judeus, misturados com o

mundo dos sonhos, com a música e com a poesia. Tomou de Delaunay a

transparência de planos e cores, bem como a criação de espaço através da cor e da

simultaneidade temporária mediante a justaposição de imagens. Entre 1914 e 1922

voltou para a Rússia, onde foi comissário cultural na Escola de Belas-Artes de Vitebsk.

De volta para Paris, evoluiu para o surrealismo.102

Georges Rouault: ligado em princípio ao simbolismo –foi discípulo de Gustave

Moreau– e ao fauvismo, a sua temática de índole moral –centrada no religioso– e o

seu colorido obscuro acercaram-no ao expressionismo. As suas obras mais

emblemáticas foram as de nus femininos, com um ar amargo e desagradável, com

figuras lânguidas e esbranquiçadas (Odaliscas, 1907); cenas circenses,

nomeadamente de palhaços, com ar caricaturesco, sublinhando notavelmente os

contornos (Cabeça de um palhaço trágico, 1904); e cenas religiosas, com desenho

mais abstrato e colorido mais intenso (A Paixão, 1943). A obra de Rouault –

especialmente as obras religiosas– tinha uma forte carga de denúncia social, de

Page 34: Arte Contemporânea

increpação para os vícios e defeitos da sociedade burguesa; até mesmo numa

temática como a circense enfatizava o seu lado mais negativo e deprimente, sem

concessões cômicas ou sentimentais, com um aspecto sórdido e cruel. Sentia

predileção pelo guache e pela aquarela, com tons obscuros e superfícies salpicadas,

em camadas superpostas de pigmentos translúcidos, com um grafismo de linhas

quebradas que enfatizava a expressividade da composição.103

Cena de café, de Jules Pascin, Museum of Fine Arts, Boston.

Jules Pascin: de origem búlgara e ascendência judaica, instalou-se em Paris após

breves estadias em Berlim, Viena ePraga; em 1914 transladou-se aos Estados Unidos,

voltando para Paris em 1928 até o seu suicídio dois anos depois. A sua obra

expressava o desarraigo e a alienação do desterrado, bem como as obsessões

sexuais que marcaram desde a sua adolescência. Nos seus inícios mostrou a

influência do fauvismo e do cubismo, bem como de Toulouse-Lautrec e Degas nos

nus. Tinha uma delicada técnica, com uma linha finamente sugestionada e uma cor de

tons iridescentes, mostrando nos seus despidos um ar lânguido e evanescente.104

Chaïm Soutine: russo de família judaica, instalou-se em Paris em 1911. A sua

personalidade violenta e autodestrutiva provocava uma relação apaixonada com a sua

obra, levando-o muitas vezes a romper os seus quadros, e refletindo-se numa

pincelada forte e incontrolada e uma temática angustiosa e desolada, como no seu Boi

aberto de cima a baixo(1925), inspirado no Boi esfolado de Rembrandt. Pintor

impulsivo e espontâneo, tinha uma necessidade irrefreável de plasmar imediatamente

na tela a sua emotividade interior, motivo pelo qual as suas obras carecem de

qualquer preparação prévia. Influenciado por Rembrandt, El Greco e Tintoretto, o seu

colorido é intenso, expressando com a direção das pinceladas os sentimentos do

artista. Assim mesmo, segue o rasto de Van Gogh na impulsividade do gesto pictórico,

sobretudo nas suas paisagens.105

Page 35: Arte Contemporânea

Maurice Utrillo: artista boêmio e torturado, a sua atividade artística foi paralela à sua

adição ao álcool. De obra autodidata e com certo aspecto naïf, dedicou-se

nomeadamente à paisagem urbana, retratando magistralmente o ambiente popular do

bairro de Montmartre, enfatizando o seu aspecto de solidão e opressão, refletido com

uma técnica depurada e linear, de certa herança impressionista.106

Outros artistas que desenvolveram a sua obra no seio da Escola de Paris foram Lasar

Segall, Emmanuel Mané-Katz, Pinchus Krémègne, Moïse Kisling, Michel Kikoïne e

ojaponês Tsuguharu Foujita.