arte contemporânea
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Arte contemporânea (c. 1850-atualidade)
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Entre meados do século XIX e o início do século XX se lançaram as bases da sociedade
contemporânea, marcada no terreno político pelo fim do absolutismo e a instauração dos
governos democráticos. No campo econômico, marcaram esta fase a Revolução
Industrial e a consolidação do capitalismo, que tiveram respostas nas doutrinas de
esquerda como o marxismo, e nas lutas de classes. Na arte o que tipifica o período é a
multiplicação de correntes grandemente diferenciadas. Até o fim do século XIX surgiram,
por exemplo, o realismo, o impressionismo, o simbolismo e o pós-impressionismo.
O século XX se caracterizou por uma forte ênfase no questionamento das antigas bases
da arte, propondo-se a criar um novo paradigma de cultura e sociedade e derrubar tudo o
que fosse tradição. Até meados do século as vanguardas foram enfeixadas no rótulo
de modernismo, e desde então elas se sucedem cada vez com maior rapidez, chegando
aos dias de hoje a um estado de total pulverização dos estilos e estéticas, que convivem,
dialogam, se influenciam e se enfrentam mutuamente. Também surgiu uma tendência de
solicitar a participação do público no processo de criação, e incorporar ao domínio artístico
uma variedade de temas, estilos, práticas e tecnologias antes desconhecidas ou excluídas.
Entre as inúmeras tendências do século XX podemos citar: art
nouveau, fauvismo, pontilhismo, abstracionismo, expressionismo, realismo
socialista, cubismo, futurismo,dadaísmo, surrealismo, funcionalismo, construtivismo, inform
alismo, arte pop, neorrealismo, artes de ação
(performance, happening, fluxus), Instalação, videoarte, op art,minimalismo, arte
conceitual, fotorrealismo, land art, arte povera, body art, arte pós-
moderna, transvanguarda, neoexpressionismo.
Impressionismo foi um movimento que surgiu na pintura francesa do século XIX, vivia-se
nesse momento a chamada Belle Epoque ou Bela Época em português. O nome do
movimento é derivado da obra Impressão: nascer do sol (1872), de Claude Monet. Tudo
começou com um grupo de jovens pintores que rompeu com as regras da pintura vigentes
até então.
Os autores impressionistas não mais se preocupavam com os preceitos do Realismo ou
da academia. A busca pelos elementos fundamentais de cada arte levou os pintores
impressionistas a pesquisar a produção pictórica não mais interessados em temáticas
nobres ou no retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em si mesma.
A luz e o movimento utilizando pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da
pintura, sendo que geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse
capturar melhor as variações de cores da natureza.
É um modo de pintar, sem muitos detalhes e geralmente é na natureza.
Orientações gerais que caracterizam a pintura
a tintura deve mostrar os pontos que os objetos adquirem ao refletir a luz do corpo
num determinado momento, pois as cores da natureza mudam todo dia, dependendo
da incidência da luz do sol;
é também, com isto, uma pintura instantânea (captação do momento), recorrendo,
inclusivamente, à fotografia;
as figuras não devem ter contornos nítidos pois o desenho deixa de ser o principal
meio estrutural do quadro, passando a ser a mancha/cor;
as sombras devem ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos
causam. O preto jamais é usado em uma obra impressionista plena;
os contrastes de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com a lei das cores
complementares. Assim um amarelo próximo a um violeta produz um efeito mais real
do que um claro-escuro muito utilizado pelos academicistas no passado. Essa
orientação viria dar mais tarde origem ao [pontilhismo];
as cores e tonalidades não devem ser obtidas pela mistura de pigmentos. Pelo
contrário,devem ser puras e dissociadas no quadro em pequenas pinceladas. É o
observador que, ao admirar a pintura, combina as várias cores, obtendo o resultado
final. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para se tornar óptica;
preferência pelos pintores em representar uma natureza morta a um objeto;
Valorização de decomposição das cores.
Entre os principais expoentes do Impressionismo estão Claude Monet,Edouard
Manet, Edgar Degas, Auguste Renoir, Alfred Sisley e Camille Pissarro . Podemos dizer
ainda que Claude Monet foi um dos maiores artistas da pintura impressionista da época.
Orientações gerais que caracterizam o impressionista:
rompe completamente com o passado;
inicia pesquisas sobre a óptica e os efeitos (ilusões) ópticos;
é contra a cultura tradicional;
pertence a um grupo individualizado;
falam de arte, sociedade, etc: não concordam com as mesmas coisas porém
discordam do mesmo;
vão pintar para o exterior, algo bastante mais fácil com a evolução da indústria,
nomeadamente, telas com mais formatos, tubos com as tintas, entre outras coisas.
Os efeitos ópticos descobertos pela pesquisa fotográfica, sobre a composição de cores e a
formação de imagens na retina do observador, influenciaram profundamente as técnicas
de pintura dos impressionistas.
Eles não mais misturavam as tintas na tela, a fim de obter diferentes cores, mas utilizavam
pinceladas de cores puras que colocadas uma ao lado da outra, são misturadas pelos
olhos do observador, durante o processo de formação da imagem.
Édouard Manet não se considerava um impressionista, mas foi em torno dele que se
reuniram grande parte dos artistas que viriam a ser chamados de Impressionistas. O
Impressionismo possui a característica de quebrar os laços com o passado e diversas
obras de Manet são inspiradas na tradição. Suas obras no entanto serviram de inspiração
para os novos pintores.
O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Claude Monet
(1840-1926) Impressão - Nascer do Sol, por causa de uma crítica feita ao quadro pelo
pintor e escritor Louis Leroy "Impressão, Nascer do Sol -eu bem o sabia! Pensava eu, se
estou impressionado é porque lá há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de
pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha". A expressão foi
usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas adotaram o título,
sabendo da revolução que estavam iniciando.
Simbolismo é um movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França,
no final do século XIX, como oposição aoRealismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da
época. Movido pelos ideais românticos, estendendo suas raízes à literatura, aos palcos
teatrais, às artes plásticas. Não sendo considerado uma escola literária, teve suas origens
de As Flores do Mal, do poeta Charles Baudelaire.1 2 É bastante relevante não
confundirmos o Simbolismo com a Simbologia, a qual é a ciência que estuda, analisa e
interpreta os significados dos símbolos reais ou metafóricos.
A partir de 1881, na França, poetas, pintores, dramaturgos e escritores em geral,
influenciados pelo misticismo advindo do grande intercâmbio com as artes, pensamento e
religiões orientais - procuram refletir em suas produções a atmosfera presente nas viagens
a que se dedicavam.
Marcadamente individualista e místico, foi, com desdém, apelidado de "decadentismo" -
clara alusão à decadência dos valores estéticos então vigentes e a uma certa afetação que
neles deixava a sua marca. Em 1886 um manifesto trouxe a denominação que viria marcar
definitivamente os adeptos desta corrente: simbolismo.
Principais características[editar | editar código-fonte]
Subjetivismo
Os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão mais
geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e, sim, está focalizada
sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se opõe à
poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém, mais do que voltar-se
para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do "eu" e buscam o
inconsciente, o sonho.
Oriundo do impressionismo, Paul Gauguin deixa-se influenciar pelas pinturas japonesas
que aparecem na Europa, provocando verdadeiro choque cultural - e este artista abandona
as técnicas ainda vigentes nas telas do movimento onde se iniciou, como a perspectiva,
pintando apenas em formas bidimensionais. A temática alegórica passa a dominar, a partir
de 1890. Ao artista não bastava pintar a realidade, mas demonstrar na tela a essência
sentimental dos personagens - e em Gauguin isto levou a uma busca tal pelo primitivismo
que o próprio artista abandonou a França, indo morar com os nativos da Polinésia
francesa.
Em França outros artistas, como Gustave Moreau, Odilon Redon, Maurice Denis, Paul
Sérusier eAristide Maillol, aderem à nova estética. Na Áustria, usando de motivos
eminentemente europeus do estilo rococó, Gustav Klimt é outro que, assim como Gauguin,
torna-se conhecido e apreciado. O norueguês Edvard Munch, autor do célebre quadro "O
grito", alia-se primeiro ao simbolismo, antes de tornar-se um dos expoentes do
expressionismo.
O pós-impressionismo foi a expressão artística utilizada para definir a pintura e,
posteriormente, aescultura no final do impressionismo, por volta de 1885, marcando
também o início do cubismo, já no início do século XX. O pós-impressionismo designa-se
por um grupo de artistas e de movimentos diversos onde se seguiram as suas tendências
para encontrar novos caminhos para a pintura. Estes, acentuaram a pintura nos seus
valores específicos – a cor e bidimensionalidade.
A maioria de seus artistas iniciou-se como impressionista, partindo daí para diversas
tendências distintas. Chamavam-se genericamente pós-impressionistas os artistas que
não mais representavam fielmente os preceitos originais do impressionismo, ainda que
não tenham se afastado muito dele ou estejam agrupados formalmente em novos grupos.
Sentindo-se limitados e insatisfeitos pelo estilo impressionista, alguns jovens artistas
queriam ir mais além, ultrapassar a Revolução de Monet. Aí se encontra a gênese do novo
movimento, que não buscava destruir os valores do grande mestre, e sim aprimorá-los.
Insurge-se contra o impressionismo devido à sua superficialidade ilusionista da análise à
realidade.
Movimentos impressionistas como o Pontilhismo ou o Divisionismo nunca são chamados
pós-impressionistas mas sim de neo-impressionistas.
Cubismo é um movimento artístico que surgiu no século XX, nas artes plásticas, tendo
como principais fundadores Pablo Picasso eGeorges Braque e tendo se expandido para
a literatura e a poesia pela influência de escritores como Guillaume Apollinaire, John dos
Passos e Vladimir Maiakovski.1 O quadro "Les demoiselles d'Avignon", de Picasso, 1907 é
conhecido como marco inicial do Cubismo.2Nele ficam evidentes as referências
a máscaras africanas, que inspiraram a fase inicial do cubismo, juntamente com a obra
de Paul Cézanne.
O Cubismo tratava as formas da natureza por meio de figuras geométricas, representando
as partes de um objeto no mesmo plano. A representação do mundo passava a não ter
nenhum compromisso com a aparência real das coisas.2
Historicamente o Cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria
tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Entretanto, os
cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar os objetos com todas
as suas partes num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e apresentassem
todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador.2 Na verdade, essa atitude
de decompor os objetos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência
real das coisas.1
O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana,
sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas. Não representa, mas sugere a
estrutura dos corpos ou objetos.1 Representa-os como se movimentassem em torno deles,
vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos
e volumes.2
Principais características[editar | editar código-fonte]
Geometrização das formas e volumes;
Renúncia à perspectiva;
O claro-escuro perde sua função;
Representação do volume colorido sobre superfícies planas;
Sensação de pintura escultórica;
Cores austeras, do branco ao negro passando pelo cinza, por um ocre apagado ou um
castanho suave.
Cores fechadas.
O Pontilhismo, é uma técnica de pintura, saída do movimento impressionista, em que
pequenas manchas ou pontos de cor provocam, pela justaposição, uma mistura óptica
nosolhos do observador (imagem).
Esta técnica baseia-se na lei das cores complementares, avanço científico impulsionado
noséculo XIX, pelo químico Michel Chevreul. Trata-se de uma consequência extrema dos
supostos ensinamentos dos impressionistas, segundo os quais as cores deviam ser
justapostas e não entre mescladas, deixando à retina a tarefa de reconstruir o tom
desejado pelo pintor, combinando as diversas impressões registradas.
A técnica de utilização de pontos coloridos justapostos também pode ser considerada o
culminar do desprezo dos impressionistas pela linha, uma vez que esta é somente uma
abstração do Homem para representar anatureza.
Esta técnica foi criada na França, com grande impulso de Georges Seurat e Paul Signac,
em meados do século XIX.
O fauvismo (do francês fauvisme, oriundo de les fauves, "as feras", como foram
chamados os pintores não seguidores do cânoneimpressionista, vigente à época) é uma
corrente artística do início do século XX, que se desenvolveu sobretudo entre 1905 e
1907.1 ODicionário Houaiss indica fovismo como um termo homônimo.2
O estilo começou em 1901 mas só foi denominado e reconhecido como um movimento
artístico em 1905. Segundo Henry Matisse, em"Notes d'un Peintre", pretendia-se com o
fauvismo "uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas
perturbadores ou deprimentes".3
O fauvismo tem como características marcantes:4
a simplificação das formas e utilização maciça de cores puras;
a pouca, ou nenhuma, gradação entre os matizes;
as pinceladas, largas e definitivas, que continham espontânea gestualidade;
a utilização da cor na delimitação dos planos e na sensação de profundidade;
a escolha dos matizes sem relação com a realidade;
o movimento rítmico sugerido pelas linhas, texturas e pela continuidade dos elementos
desenhados;
impulsividade e experimentação, em vez de exaustivos estudos preparatórios;
temas cotidianos que retratavam emoções e a alegria de viver;
a tradução de sensações elementares, no mesmo estado de graça das crianças e dos
selvagens;
Arte Abstrata
Entende-se por arte abstrata toda manifestação das artes plásticas, seja na pintura ou na
escultura, na qual se desistiu da representação natural ou ilustrativa da realidade, para dar
vazão a composições independentes dela. É preciso esclarecer que não é possível se falar
de uma arte abstrata própria e unificada. Na verdade, houve dentro dela várias correntes,
que às vezes estavam muito próximas quanto à sua filosofia, outras vezes muito
afastadas, mas todas se mantinham sempre dentro do limite não-figurativo.
O pintor russo Kandinski foi o primeiro artista propriamente abstrato. Suas teorias sobre a
abstração das formas como expressão do espírito humano determinaram uma mudança
substancial na pintura e escultura do século XX.
Juntamente com ele, Piet Mondrian, da corrente neoplástica, propôs a redução às formas
geométricas puras de tudo aquilo que fosse representável. Essa foi uma proposta dos
cubistas que o pintor levou a extremos totalmente não-figurativos, com a conseqüente
racionalização da pintura.
A partir das obras dos pintores mais representativos das vanguardas européias, como
Kandinski, Duchamp, Delaunay e Picasso, entre outros, surgiu uma pintura que subsistiu
durante o período que medeou as duas guerras e veio à luz após a Segunda Guerra
Mundial.
A complexidade de motivações e a diversidade desses artistas produziram grupos
diferentes, com traços específicos de estilo e certas técnicas que dificultam uma
classificação estilística geral da pintura abstrata.
O abstracionismo divide-se em duas tendências:
Abstracionismo lírico, expressivo ou informal;
Abstracionismo geométrico.
O abstracionismo lírico, abstracionismo expressivo ou ainda abstracionismo
informal inspirava-se no instinto, no inconsciente e na intuição para construir uma arte
imaginária ligada a uma "necessidade interior". Foi influenciado pelo expressionismo, mais
propriamente pelo movimento O Cavaleiro Azul.
As formas orgânicas e as cores vibrantes são patentes nessa vertente.
O artista russo radicado na Alemanha Wassily Kandinsky inaugura o abstracionismo
no Ocidente com sua Primeira Aquarela Abstrata, de 1910. Kandinsky advoga o uso de
formas abstratas como meio de atingir uma transcendência não através das formas
reconhecíveis da realidade observável, como faz a arte tradicional acadêmica, mas através
dos elementos puros da arte visual, como as linhas, as cores, as formas geométricas - o
círculo, o quadrado, o triângulo - os pontos, etc. O artista faz analogias com a composição
musical, que é uma arte abstrata por definição, para atingir a abstração na arte visual. Por
isso, seus quadros são os primeiros a possuírem títulos que remetem à música
- composição, ritmo, etc.
O Abstracionismo geométrico, ao contrário do abstraccionismo lírico, foca na
racionalização que depende da análise intelectual e científica. Foi influenciado
pelo cubismo e pelo futurismo.
O futurismo é um movimento artístico e literário, que surgiu oficialmente em 20 de
fevereiro de 1909 com a publicação do Manifesto Futurista, pelo poeta italiano Filippo
Marinetti, no jornal francês Le Figaro. Os adeptos do movimento rejeitavam o moralismo e
o passado, e suas obras baseavam-se fortemente na velocidade e nos desenvolvimentos
tecnológicos do final do século XIX. Os primeiros futuristas europeus também exaltavam
a guerra e a violência. O Futurismo desenvolveu-se em todas as artes e influenciou
diversos artistas que depois fundaram outros movimentos modernistas.
No primeiro manifesto futurista de 1909, o slogan era Les mots en liberté ("Liberdade para
as palavras") e levava em consideração odesign tipográfico da época, especialmente
em jornais e na propaganda. Eles abandonavam toda distinção entre arte e design e
abraçavam a propaganda como forma de comunicação. Foi um momento de exploração
do lúdico, da linguagem vernácula, da quebra de hierarquia na tipografia tradicional, com
uma predileção pelo uso de onomatopéias. Essas explorações tiveram grande
repercussão no dadaísmo, no concretismo, na tipografia moderna, e no design gráfico pós-
moderno. Surgiu na França, seus principais temas são as cores.
A pintura futurista foi explicitada pelo cubismo e pela abstração, mas o uso de cores vivas
e contrastes e a sobreposição das imagens pretendia dar a ideia de dinâmica, deformação
e não- materialização por que passam os objetos e o espaço quando ocorre a ação. Para
os artistas do futurismo os objetos não se concluem no contorno aparente e os seus
aspectos interpenetram-se continuamente a um só tempo. Procura-se neste estilo
expressar o movimento atual, registrando a velocidade descrita pelas figuras em
movimento no espaço. O artista futurista não está interessado em pintar um automóvel,
mas captar a forma plástica a velocidade descrita por ele no espaço.
Suas principais caracteristicas são:
Desvalorização da tradição e do moralismo;
Valorização do desenvolvimento industrial e tecnológico;
Propaganda como principal forma de comunicação;
Uso de onomatopeias (palavras com sonoridade que imitam ruídos, vozes, sons de
objetos) nas poesias;
Poesias com uso de frases fragmentadas para passar a ideia de velocidade;
Pinturas com uso de cores vivas e contrastes. Sobreposição de imagens, traços e
pequenas deformações para passar a ideia de movimento e dinamismo.
O movimento Dadá (Dada) ou Dadaísmo foi um movimento artístico da
chamada vanguarda artística moderna iniciado em Zurique, em 1916, durante a Primeira
Guerra Mundial, no chamado Cabaret Voltaire. Formado por um grupo
de escritores, poetas e artistas plásticos – dois deles desertores do serviço militar alemão
– liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp.
Embora a palavra dada em francês signifique "cavalo de madeira", sua utilização marca
o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um bebê). Para
reforçar esta ideia, estabeleceu-se o mito de que o nome foi escolhido aleatoriamente,
abrindo-se uma página de um dicionário e inserindo um estilete sobre ela, de forma a
simbolizar o caráter antirracional do movimento, claramente contrário à Primeira Guerra
Mundial e aos padrões da arte estabelecida na época. Em poucos anos o movimento
alcançou, além de Zurique, as cidades de Barcelona, Berlim, Colônia, Hanôver, Nova
York e Paris. Muitos de seus seguidores deram início posteriormente ao surrealismo, e
seus parâmetros influenciam a arte até hoje.1 2
O impacto causado pelo Dadaísmo justifica-se plenamente pela atmosfera de confusão e
desafio à lógica sugerido por ele, optando por expressar de modo inconfundível suas
opiniões acerca da arte oficial e também das próprias vanguardas ("sou por princípio
contra o manifestos, como sou também contra princípios"). O Dada vem para abolir de vez
a lógica, a organização, a postura racional, trazendo para arte um caráter de
espontaneidade e gratuidade total. Segundo o próprio Tzara:
Dada não significa nada: Sabe-se pelos jornais que os negros Krou denominam a cauda da
vaca santa: Dada. O cubo é a mãe em certa região da Itália: Dada. Um cavalo de madeira, a ama-de-leite, dupla afirmação em russo e em romeno: Dada. Sábios jornalistas viram nela
uma arte para os bebês, outros Jesus chamando criancinhas do dia, o retorno ao primitivismo seco e barulhento, barulhento e monótono. Não se constrói a sensibilidade
sobre uma palavra; toda a construção converge para a perfeição que aborrece, a ideia
estagnante de um pântano dourado, relativo ao produto humano. —Tristan Tzara4
O principal problema de todas as manifestações artísticas estava, segundo os dadaístas,
em almejar algo que era impossível: explicar o ser humano. Na esteira de todas as outras
afirmações retumbantes, Tzara decreta: "A obra de arte não deve ser a beleza em si
mesma, porque a beleza está morta".
No seu esforço para expressar a negação de todos os valores estéticos e artísticos
correntes, os dadaístas usaram, com frequência, métodos deliberadamente
incompreensíveis. Nas pinturas e esculturas, por exemplo, tinham por hábito aproveitar
pedaços de materiais encontrados pelas ruas ou objetos que haviam sido jogados fora.
O expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido
na Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos
da arquitetura, artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia.
Manifestou-se inicialmente através da pintura, coincidindo com o aparecimento
do fauvismo francês, o que tornaria ambos os movimentos artísticos os primeiros
representantes das chamadas "vanguardas históricas". Mais do que meramente um estilo
com características em comum, o Expressionismo é sinónimo de um amplo movimento
heterogéneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou
diversos artistas de várias tendências, formações e níveis intelectuais. O movimento surge
como uma reacção ao positivismoassociado aos movimentos impressionista e naturalista,
propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista – a
"expressão" – em oposição à mera observação da realidade – a "impressão".
O expressionismo compreende a deformação da realidade para expressar de forma
subjectiva a natureza e o ser humano, dando primazia à expressão de sentimentos em
relação à simples descrição objetiva da realidade. Entendido desta forma, o
expressionismo não tem uma época ou um espaço geográfico definidos, e pode mesmo
classificar-se como expressionista a obra de autores tão diversos como o holandês Piet
Zwiers, Matthias Grünewald, Pieter Brueghel, o Velho, El Greco ou Francisco de Goya.
Algunshistoriadores, de forma a estabelecer uma distinção entre termos, preferem o uso
de "expressionismo" – em minúsculas – como termo genérico, e "Expressionismo" – com
inicial maiúscula – para o movimento alemão.1
Através de uma paleta cromática vincada e agressiva e do recurso às temáticas
da solidão e da miséria, o expressionismo é um reflexo da angústia e ansiedade que
dominavam os círculos artísticos e intelectuais da Alemanha durante os anos anteriores
àPrimeira Guerra Mundial (1914-1918) e que se prolongaria até ao fim do período entre-
guerras (1918-1939). Angústia que suscitou um desejo veemente de transformar a vida, de
alargar as dimensões da imaginação e de renovar a linguagem artística. O expressionismo
defendia a liberdade individual, o primado da subjectividade, o irracionalismo, o
arrebatamento e os temas proibidos – o excitante, diabólico, sexual, fantástico ou
perverso. Pretendeu ser o reflexo de uma visão subjectiva e emocional da realidade,
materializada através da expressividade dos meios plásticos, que adquiriram uma
dimensão metafísica, abrindo os sentidos ao mundo interior. Muitas vezes visto como
genuína expressão da alma alemã, o seu carácter existencialista, o seu anseio metafísico
e a sua visão trágica do ser humano são características inerentes a uma concepção
existencial aberta ao mundo espiritual e às questões da vida e da morte. Fruto das
peculiares circunstâncias históricas em que surge, o expressionismo veio revelar o lado
pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo, que na sociedade moderna,
industrializada, se vê alienado e isolado.
O expressionismo não foi um movimento homogéneo, coexistindo vários polos artísticos
com uma grande diversidade estilística, como a
corrente modernista (Munch), fauvista (Rouault), cubista e futurista (Die
Brücke), surrealista (Klee), ou a abstracta (Kandinsky). Embora o seu maior polo de
difusão se encontrasse na Alemanha, o expressionismo manifestou-se também por meio
de artistas provenientes de outras partes
da Europa como Modigliani, Chagall, Soutine ou Permeke, e no
continente americano como, por exemplo, os mexicanos Orozco, Rivera, Siqueiros e o
brasileiro Portinari. Na Alemanha existiram dois grupos dominantes: Die Brücke(fundado
em 1905), e Der Blaue Reiter (fundado em 1911), embora tenha havido artistas
independentes e não afiliados com nenhum dos grupos. Depois da Primeira Guerra
Mundial surge a Nova Objetividade que, embora tenha sido uma reação
ao individualismoexpressionista e procurasse a função social na arte, a sua distorção das
formas e o seu intenso colorido fazem do grupo um herdeiro directo da primeira geração
expressionista.
A transição do século XIX para XX assistiu a inúmeras transformações políticas, sociais e
culturais. A burguesia vive um período áureo de grande ostentação económica e influência
política, a Belle Époque, que se manifestaria nas artes através do modernismo, movimento
artístico que responde ao luxo e ostentação copiosos procurados pela nova classe
dirigente. No entanto o receio perante a ocorrência de um novo episódio revolucionário,
face às constantes revoluções ocorridas ao longo de todo o século XIX desde aRevolução
Francesa (o último em 1871, durante a Comuna de Paris), levou a classe política a
decretar uma série de concessões sociais, como a reforma laboral, a segurança social e o
ensino básico obrigatório. A queda da taxa de analfabetismo e o aumento
daliteracia traduziu-se no crescimento assinalável dos meios de comunicação social, e
numa difusão dos fenómenos culturais a uma escala e velocidade sem precedentes que
estaria na origem da cultura de massas.2
O progresso tecnológico no campo das artes, sobretudo depois da aparição da fotografia e
do cinema, faz com que toda a comunidade artística se interrogue sobre o seu papel na
sociedade. A imitação da realidade deixou de fazer sentido, uma vez que as novas
técnicas tornaram o processo mais fácil, rápido e reprodutível. As novas teorias científicas
como a teoria da relatividade deEinstein, a psicanálise de Freud ou a subjectividade do
tempo de Bergson, abriram a porta a noções subjectivas da realidade, fornecendo
elementos para que o mundo artístico se questionasse sobre as próprias fronteiras da
objectividade. A procura de novas linguagens artísticas e novas formas de expressão
traduziu-se na formação de vários movimentos de vanguarda que exploravam uma nova
relação do artista com o público. Os vanguardistas pretendem integrar a arte com a própria
sociedade e fazer da sua obra uma expressão do inconsciente coletivo da sociedade que
representava. Por sua vez, a interacção com o espectador leva a que este se envolva na
percepção e compreensão da obra, assim como na sua difusão e mercantilização, factor
que estará na origem do crescimento exponencial das galerias de arte e dos museus.3
O expressionismo integra aquilo que se convencionou designar por "vanguardas
históricas"; o imenso grupo de movimentos artísticos surgidos desde o início do século XX
anterior à I Guerra Mundial até o fim da II Guerra Mundial em 1945. Esta designação inclui
ainda, entre outros, o fauvismo, o cubismo, o futurismo, o construtivismo, oneoplasticismo,
o dadaísmo e o surrealismo. A vanguarda está intimamente ligada ao conceito
de modernidade, caracterizado pelo fim do determinismo e da supremacia da religião,
substituídos pela razão e pela ciência, pelo objectivismo e pelo individualismo, e pela a
confiança na tecnologia, no progresso e nas próprias capacidades do ser humano. O
artista pretende desta forma colocar-se a si próprio na linha da frente do progresso social e
dar voz às ideias progressistas através da sua obra.4
O termo "expressionismo" foi utilizado pela primeira vez pelo pintor francês Julien-Auguste
Hervé, que usou a palavra "expressionisme" para designar uma série de quadros
apresentados no Salão dos Independentes de Paris em 1901, assumindo a sua diferença
em relação ao impressionismo. O termo alemão "expressionismus" foi adaptado
directamente do francês5 , tendo sido referido pela primeira vez no catálogo da XXII
Exposição da Secessão de Berlim em 1911, que reunia obras de artistas alemães e
franceses. Na literatura, foi usado pela primeira vez em 1911 pelo crítico Kurt Hiller.6 Já
numa fase posterior, o termo "expressionismo" foi popularizado pelo escritor Herwarth
Walden, editor da revista Der Sturm (A tormenta), que se viria a tornar o principal meio de
divulgação do expressionismo alemão. Walden usou inicialmente o termo para todas as
vanguardas surgidas entre 1910 e 1920. O seu uso de forma exclusiva para a arte alemã
de vanguarda surge a partir de uma proposta de Paul Fechter no seu livro Der
Expressionismus (1914) que, com base nas teorias de Worringer, veio a estabelecer uma
relação entre as novas manifestações artísticas e a expressão da alma coletiva alemã.7
Tirol (1914), de Franz Marc, Staatsgalerie Moderner Kunst, Munique.
O expressionismo surge a partir de uma reacção ao impressionismo. Ao contrário dos
impressionistas, que procuravam no espaço da tela transmitir uma "impressão" do mundo
à sua volta, os expressionistas procuravam representar o seu próprio mundo interior, uma
"expressão" dos seus próprios sentimentos. A linha e a cor são usadas de forma emotiva e
carregadas de simbolismo. Esta ruptura com a geração precedente fez com que o
expressionismo se tornasse sinónimo de arte moderna durante os primeiros anos do
século XX.8 O expressionismo implicou um novo conceito da arte, entendida como uma
forma de captar a existência, de transluzir em imagens o substrato que subjace sob a
realidade aparente, de refletir o imutável e eterno do ser humano e a natureza. Assim, o
expressionismo foi o ponto de partida de um processo de transmutação da realidade que
cristalizou no expressionismo abstrato e oinformalismo. Os expressionistas utilizavam a
arte como uma forma de refletir os seus sentimentos, o seu estado anímico, propenso pelo
general à melancolia, à evocação, a um decadentismo de corte neorromântico. Assim, a
arte era uma experiência catárquica, onde se purificavam os desafogos espirituais, a
angústia vital do artista.9
Na gênese do expressionismo, um fator fundamental foi a recusa do positivismo, do
progresso cientificista, da crença nas possibilidades ilimitadas do ser humano baseadas na
ciência e a técnica. Por outro lado, começou um novo clima de pessimismo, de cepticismo,
de descontente, de crítica, de perda de valores. Vislumbrava-se uma crise no
desenvolvimento humano, que efetivamente foi confirmada com o estouro da Primeira
Guerra Mundial.10 Também cabe destacar-se na Alemanha a recusa do regime imperialista
de Guilherme II por parte de uma minoria intelectual, afogada pelo militarismo
pangermanista do cáiser. Estes fatores propiciaram um caldo de cultura no que o
expressionismo se foi gestando progressivamente, com umas primeiras manifestações no
terreno da literatura: Frank Wedekind denunciou nas suas obras a moral burguesa, frente
à qual opunha a liberdade passional dos instintos; Georg Trakl evadiu-se da realidade
refugiando-se num mundo espiritual criado pelo artista; Heinrich Mann foi quem mais
diretamente denunciou a sociedade guilhermina.11
A aparição do expressionismo num país como a Alemanha não foi um fato aleatório, mas é
explicado pelo profundo estudo da arte durante o século XIX pelos filósofos, artistas e
teóricos alemães, do romantismo e as múltiplas contribuições para o campo da estética de
personagens como Wagner e Nietzsche, para a estética cultural e para a obra de autores
como Konrad Fiedler ("Para julgar obras de arte visual", 1876), Theodor Lipps ("Estética",
1903-1906) e Wilhelm Worringer ("Abstração e empatia", 1908). Esta corrente teórica
deixou uma profunda marca nos artistas alemães de finais do século XIX e princípios do
XX, centrada sobretudo na necessidade de se expressar do artista (a "innerer Drang" ou
necessidade interior, princípio que assumiu posteriormente Kandinsky), bem como a
constatação de uma ruptura entre o artista e o mundo exterior, o ambiente que o envolve,
fato que o torna num ser introvertido e alienado da sociedade. Também influiu a mudança
acontecida no ambiente cultural da época, que se afastou do gosto clássicogreco-
romano para admirar a arte popular, primitiva e exótica –sobretudo
da África, Oceania e Extremo Oriente–, bem como a arte medieval e a obra de artistas
como Grünewald, Brueghel e El Greco.12
"O ginete circense" (1913), de Ernst Ludwig Kirchner, Pinakothek der Moderne,Munique.
Na Alemanha, o expressionismo foi mais um conceito teórico, uma proposta ideológica, do
que um programa artístico coletivo, se bem que se aprecia um selo estilístico comum a
todos os seus membros. Frente ao academicismo imperante nos centros artísticos oficiais,
os expressionistas agruparam-se em torno de diversos centros de difusão da nova arte,
especialmente em cidades como Berlim,Colônia, Munique, Hanôver e Dresde. Assim
mesmo, o seu trabalho difusor através de publicações, galerias e exposições ajudaram a
estender o novo estilo por toda Alemanha e, mais tarde, toda Europa.8 Foi um movimento
heterogêneo que, à parte da diversidade das suas manifestações, realizadas em diversas
linguagens e meios artísticos, apresentou numerosas diferenças e até mesmo
contradições no seu seio, com grande divergência estilística e temática entre os diversos
grupos que surgiram ao longo do tempo, e até mesmo entre os próprios artistas que os
integravam. Até mesmo os limites cronológicos e geográficos desta corrente são
imprecisos: se bem que a primeira geração expressionista (Die Brücke, Der Blaue Reiter)
foi a mais emblemática, a Nova Objetividade e a exportação do movimento a outros países
implicou a sua continuidade no tempo ao menos até a Segunda Guerra Mundial;
geograficamente, se bem que o centro neurálgico deste estilo se situou na Alemanha,
pronto se estendeu por outros países europeus e inclusive do continente americano.13
Depois da Primeira Guerra Mundial o expressionismo passou na Alemanha da pintura ao
cinema e ao teatro, que utilizavam o estilo expressionista nos seus décors, mas de modo
puramente estético, desprovido do seu significado original, da subjetividade e do
pungimento próprios dos pintores expressionistas, que se tornaram paradoxalmente
em artistas malditos.14 Com o advento donazismo, o expressionismo foi considerado como
"arte degenerada" (Entartete Kunst), relacionando-o com o comunismo e tachando-o de
imoral e subversivo, ao tempo que consideraram que a sua fealdade e inferioridade
artística eram um signo da decadência da arte moderna (o decadentismo, pela sua vez,
fora um movimento artístico que teve certo desenvolvimento). Em 1937 uma exposição foi
organizada no Hofgarten de Munique com o título precisamente de Arte degenerada,
visando injuriá-lo e mostrar ao público a baixa qualidade da arte produzida na República
de Weimar. Para tal fim foram confiscadas cerca de 16 500 obras de diversos museus, não
apenas de artistas alemães, mas de estrangeiros como Gauguin, Van
Gogh, Munch,Matisse, Picasso, Braque e Chagall. A maioria dessas obras foram vendidas
posteriormente a galeristas e marchands, sobretudo num grande leilão celebrado
em Lucerna em1939, embora cerca de 5000 dessas obras foram diretamente destruídas
em março de 1939, supondo um notável prejuízo para a arte alemã.15
Após a Segunda Guerra Mundial o expressionismo desapareceu como estilo, se bem que
exercesse uma poderosa influência em muitas correntes artísticas da segunda metade de
século, como o expressionismo abstrato norte-americano (Jackson Pollock, Mark
Rothko, Willem de Kooning), o informalismo (Jean Fautrier, Jean Dubuffet), o
grupo CoBrA(Karel Appel, Asger Jorn, Corneille, Pierre Alechinsky) e
o neoexpressionismo alemão –diretamente herdeiro dos artistas de Die Brücke e Der
Blaue Reiter, o qual é patente no seu nome, e artistas individuais como Francis
Bacon, Antonio Saura, Bernard Buffet, Nicolas de Staël e Horst Antes.16
Embora por expressionismo fosse conhecido nomeadamente o movimento artístico
desenvolvido na Alemanha em princípios do século XX, muitos historiadores e críticos da
arte também empregam este termo mais genericamente para descrever o estilo de grande
variedade de artistas ao longo de toda a História. Entendida como a deformação da
realidade para buscar uma expressão mais emocional e subjetiva da natureza e do ser
humano, o expressionismo é pois extrapolável a qualquer época e espaço geográfico.
Assim, com frequência qualificou-se de expressionista a obra de diversos autores
como Hieronymus Bosch, Matthias Grünewald, Quentin Matsys, Pieter Brueghel, o
Velho, El Greco, Francisco de Goya e Honoré Daumier.1
As raízes do expressionismo encontram-se em estilos como o simbolismo e o pós-
impressionismo, bem como nos Nabis e em artistas como Paul Cézanne, Paul
Gauguin e Vincent Van Gogh. Assim mesmo, têm pontos de contato com
o neoimpressionismo e ofauvismo pela sua experimentação com a cor.8 Os
expressionistas receberam numerosas influências: em primeiro lugar a da arte medieval,
especialmente a gótica alemã. De signo religioso e caráter transcendente, a arte medieval
punha ênfase na expressão, não nas formas: as figuras tinham pouca corporeidade,
perdendo interesse pela realidade, as proporções, a perspectiva. Por outro lado,
acentuava a expressão, sobretudo na olhada: as personagens eram simbolizas mais que
representadas. Assim, os expressionistas inspiraram-se nos principais artistas do gótico
alemão, desenvolvido através de duas escolas fundamentais: o estilo internacional (finais
do século XIV-primeira metade do XV), representado por Conrad Soest e Stefan Lochner;
e o estilo flamengo(segunda metade do século XV), desenvolvido por Konrad Witz, Martin
Schongauer e Hans Holbein, o Velho. Também se inspiraram na escultura gótica alemã,
que salientou pela sua grande expressividade, com nomes como Veit Stoss e Tilman
Riemenschneider. Outro ponto de referência foi Matthias Grünewald, pintor tardo-medieval
que, embora conhecesse as inovações do Renascimento, seguiu numa linha pessoal,
caracterizada pela intensidade emocional, uma expressiva distorção formal e um intenso
colorido incandescente, como na sua obra mestra, o Retábulo de Isenheim.17
Outro dos referentes da arte expressionista foi a arte primitiva, especialmente a da África e
Oceania, difundida desde finais do século XIX pelos museus etnográficos. As vanguardas
artísticas encontraram na arte primitiva uma maior liberdade de expressão, originalidade,
novas formas e materiais, uma nova concepção do volume e da cor, bem como uma maior
transcendência do objeto, pois nestas culturas não eram simples obras de arte, mas
tinham uma finalidade religiosa, mágica, totêmica, votiva, suntuária. São objetos que
expressam uma comunicação direta com a natureza e com as forças espirituais, com
cultos e rituais, sem nenhum de tipo de mediação ou interpretação.18
A igreja de Auvers-sur-Oise(1890), de Vincent Van Gogh,Musée d'Orsay, Paris.
Mas a maior inspiração veio do pós-impressionismo, especialmente da obra de três
artistas: Paul Cézanne, que começou um processo de desfragmentação da realidade em
formas geométricas que terminou no cubismo, reduzindo as formas
a cilindros, cones e esferas, e dissolvendo o volume a partir dos pontos mais essenciais da
composição. Colocava a cor por camadas, imbricando umas cores com outras, sem
necessidade de linhas, trabalhando com manchas. Não utilizava a perspectiva, mas a
superposição de tons cálidos e frios davam sensação de profundeza. Em segundo
lugar Paul Gauguin, que contribuiu uma nova concepção entre o plano pictórico e a
profundeza do quadro, através de cores planas e arbitrárias, que têm um valor simbólico e
decorativo, com cenas de difícil classificação, situadas entre a realidade e um mundo
onírico e mágico. A sua estadia em Tahiti provocou que a sua obra derivasse em um certo
primitivismo, com influência da arte da Oceania, refletindo o mundo interior do artista em
vez de imitar a realidade. Finalmente, Vincent Van Gogh elaborava a sua obra segundo
critérios de exaltação anímica, caracterizando-se pela falta de perspectiva, a instabilidade
dos objetos e cores, roçando a arbitrariedade, sem imitar a realidade, mas provêm do
interior do artista. Devido à sua frágil saúde mental, as suas obras são reflexo do seu
estado de ânimo, depressivo e torturado, refletindo-se em obras de pinceladas sinuosas e
cores violentas.19
Cabe sublinhar a influência de dois artistas que os expressionistas consideraram como
precedentes imediatos: o norueguês Edvard Munch, influenciado nos seus começos pelo
impressionismo e o simbolismo, pronto derivou para um estilo pessoal que seria fiel reflexo
do seu interior obsessivo e torturado, com cenas de ambiente opressivo e enigmático –
centradas no sexo, a doença e a morte–, caracterizadas pela sinuosidade da composição
e um colorido forte e arbitrário. As imagens angustiosas e desesperadas de Munch –como
em O Grito (1893), paradigma da solidão e da incomunicação– foram um dos principais
pontos de arranque do expressionismo.20 Igual de influente foi a obra do belga James
Ensor, que recolheu a grande tradição artística do seu país –em especial Brueghel–, com
preferência por temas populares, traduzindo-o em cenas enigmáticas e irreverentes, de
caráter absurdo e burlesco, com um senso do humor ácido e corrosivo, centrado em
figuras de vagabundos, borrachos, esqueletos, máscaras e cenas de carnaval. Assim, "A
entrada de Cristo em Bruxelas" (1888) representa a Paixão de Jesus no meio de um
desfile de carnaval, obra que causou um grande escândalo no seu momento.21
A pintura desenvolveu-se nomeadamente em torno de dois grupos artísticos: Die Brücke,
fundado em Dresde em 1905, e Der Blaue Reiter, fundado em Munique em 1911. No pós-
guerra, o movimento Nova Objetividade surgiu como contrapeso ao individualismo
expressionista defendendo uma atitude mais comprometida socialmente, embora técnica e
formalmente fosse um movimento herdeiro do expressionismo. Os elementos mais
característicos das obras de arte expressionistas são a cor, o dinamismo e o sentimento. O
fundamental para os pintores de princípios de século não era refletir o mundo de maneira
realista e fiel –justo ao contrário dos impressionistas– mas, sobretudo, expressar o seu
mundo interior. O objetivo primordial dos expressionistas era transmitir as suas emoções e
sentimentos mais profundos.
Na Alemanha, o primeiro expressionismo foi herdeiro do idealismo pós-romântico
de Arnold Böcklin e Hans von Marées, incidindo nomeadamente no significado da obra, e
dando maior relevância o desenha frente à pincelada, bem como à composição e à
estrutura do quadro. Assim mesmo, foi primordial a influência de artistas estrangeiros
como Munch, Gauguin, Cézanne e Van Gogh, plasmada em diversas exposições
organizadas em Berlim (1903), Munique (1904) e Dresde (1905).35
O expressionismo destacou-se pela grande quantidade de agrupamentos artísticos que
surgiram no seu seio, bem como pelas múltiplas exposições celebradas em todo o
território alemão entre 1910 e 1920: em 1911 a "Nova Secessão" foi fundada em Berlim,
cisão da "Secessão berlinesa" fundada em 1898 e que presidia Max Liebermann. O seu
primeiro presidente foi Max Pechstein, e incluía a Emil Nolde e Christian Rohlfs. Mais
tarde, em 1913, surgiu a "Livre Secessão", movimento efêmero que ficou eclipsado
peloHerbstsalon (salão de Outono) de 1913, promovido por Herwarth Walden, onde junto
aos principais expressionistas alemães expuseram diversos artistas cubistas e futuristas,
destacando-se Chagall, Léger, Delaunay, Mondrian, Archipenko, Hans Arp e Max Ernst.
Contudo, em que pese à sua qualidade artística, a exposição foi um insucesso econômico,
pelo qual a iniciativa não foi repetida.36
O expressionismo teve uma notável presença, além de em Berlim, Munique e Dresde, na
região da Renânia, donde procediam Macke, Campendonk e Morgner, bem como outros
artistas como Heinrich Nauen, Franz Henseler e Paul Adolf Seehaus. Em 1902,
o filántropo Karl Ernst Osthaus criou o Folkwang (Sala do povo) de Hagen, com o objetivo
de promover a arte moderna, adquirindo numerosas obras de artistas expressionistas,
assim como de Gauguin, Van Gogh, Cézanne, Matisse e Munch. Assim mesmo, em
Düsseldorf um grupo de novos artistas fundaram a Sonderbund Westdeutscher
Kunstfreunde und Künstler ("Liga especial de amadores da arte e artistas da Alemanha
ocidental"), que celebrou diversas exposições de 1909 a 1911, mudando-se em 1912 para
Colônia, onde, a pesar do sucesso desta última exposição, a liga foi dissolvida.37
No pós-guerra surgiu o Novembergruppe ("Grupo de Novembro", pela revolta alemã de
novembro de 1918), fundado em Berlim a 3 de dezembro de 1918 por Max
Pechstein eCésar Klein, visando reorganizar a arte alemã após a guerra. Entre os seus
membros figuraram pintores e escultores como Wassily Kandinsky, Paul Klee, Lyonel
Feininger, Heinrich Campendonk, Otto Freundlich e Käthe Kollwitz; arquitetos como Walter
Gropius, Erich Mendelsohn e Ludwig Mies van der Rohe; compositores como Alban
Berg e Kurt Weill; e o dramaturgo Bertolt Brecht. Mais que um grupo com um selo
estilístico comum, foi uma associação de artistas com o objetivo de expor conjuntamente,
coisa que fizeram até a sua dissolução com a chegada do nazismo.38
Die Brücke ("A ponte") foi fundada a 7 de junho de 1905 em Dresde, formado por quatro
estudantes de arquitetura da Escola Técnica Superior de Dresde: Ernst Ludwig
Kirchner, Fritz Bleyl, Erich Heckel e Karl Schmidt-Rottluff. O nome foi ideado por Schmidt-
Rottluff, simbolizando através de uma ponte a sua pretensão de estabelecer as bases de
uma arte de futuro. Possivelmente a inspiração veio de uma frase de Assim falou
Zaratustra de Nietzsche: "A grandeza do homem é que é uma ponte e não um
fim".39 Em1906 uniram-se ao grupo Emil Nolde e Max Pechstein, bem como o suíço Cuno
Amiet e o holandês Lambertus Zijl; em 1907, o finlandês Akseli Gallen-Kallela;
em 1908, Franz Nölken e o holandês Kees Van Dongen; e, em 1910, Otto Mueller e
o tcheco Bohumil Kubišta. Bleyl separou-se do grupo em 1907, mudando-se para a Silésia,
onde foi professor na Escola de Engenharia Civil, abandonando a pintura. Nos seus
começos, os membros de Die Brücke trabalharam numa pequena oficina situada na
Berliner Straße nº 65 de Dresde, adquirido por Heckel em 1906, que eles mesmos
decoraram e mobiliaram seguindo as diretrizes do grupo.40
O grupo Die Brücke buscou ligar com o público em geral, tornando-o partícipe das
atividades do grupo. Concebiram a figura do "membro passivo" que, mediante uma
assinatura anual de doze marcos, recebiam periodicamente um boletim com as atividades
do grupo, bem como diversas gravuras (as "Brücke-Mappen"). Com o tempo, o número de
membros passivos ascendeu a sessenta e oito.41 Em 1906 publicaram um
manifesto, Programm, no que Kirchner expressou a sua vontade de convocar a juventude
para um projeto de arte social que transformasse o futuro. Visavam influir na sociedade
através da arte, considerando-se profetas revolucionários que conseguiriam mudar a
sociedade do seu tempo. A intenção do grupo era atrair qualquer elemento revolucionário
que quisesse unir-se; assim o expressaram numa carta dirigida a Nolde. O seu maior
interesse era destruir as velhas convenções, assim como se estava fazendo na França.
Segundo Kirchner, não podiam pôr-se regras e a inspiração devia fluir livre e dar
expressão imediata às pressões emocionais do artista. A carga de crítica social que
imprimiram à sua obra valiou os ataques da crítica conservadora que os tachou de serem
um perigo para a juventude alemã.42
Os artistas de Die Brücke eram influenciados pelo movimento Arts & Crafts, bem como
pelo Jugendstil e os Nabis, e artistas como Van Gogh, Gauguin e Munch. Também se
inspiraram no gótico alemão e na arte africana, sobretudo após os estudos realizados por
Kirchner das xilografias de Dürer e da arte africana do Museu Etnológico de
Dresde.43Também estavam interessados pela literatura russa, especialmente Dostoievski.
Em 1908, após uma exposição de Matisse em Berlim, expressaram igualmente a sua
admiração pelos fauvistas, com os que compartilhavam a simplicidade da composição,
o maneirismo das formas e o intenso contraste de cores. Ambos partiam do pós-
impressionismo, recusando a imitação e destacando-se a autonomia da cor. Contudo,
variam os temas: os expressionistas eram mais angustiosos, marginais, desagradáveis, e
destacavam mais o sexo do que os fauvistas. Rejeitavam o academicismo e aludiam à
"liberdade máxima de expressão". Mais do que um programa estilístico próprio, o seu nexo
era a recusa do realismo e do impressionismo, e a sua procura de um projeto artístico que
envolvesse a arte com a vida, para o que experimentaram com diversas técnicas artísticas
como o mural, a xilografia e a ebanesteria, à parte da pintura e da escultura.44
Duas garotas na erva (1926), de Otto Mueller, Staatsgalerie Moderner Kunst,Munique.
Die Brücke outorgou especial importância às obras gráficas: o seu principal meio de
expressão foi a xilografia, técnica que permitia plasmar a sua concepção da arte
diretamente, deixando um aspecto inacabado, bruto, selvagem, próximo do primitivismo
que tanto admiravam. Estes gravados em madeira apresentam superfícies irregulares, que
não dissimulam e aproveitam expressivamente, aplicando manchas de cor e destacando-
se a sinuosidade das formas. Também utilizaram a litografia, a água-tinta e a aquaforte,
que costumam ser de um reduzido cromatismo e simplificação estilística.45 Die
Brücke defendia a expressão direta e instintiva do impulso criador do artista, sem normas
nem regras, recusando totalmente qualquer tipo de regulamentação acadêmica. Como
disse Kirchner: "o pintor transforma em obra de arte a concepção da sua experiência".46
Aos membros de Die Brücke interessava-lhes um tipo de temática centrada na vida e a
natureza, refletida de jeito espontânea e instintiva, pelo qual os seus principais temas são
o despido –quer no interior ou no exterior–, bem como cenas de circo e music hall, onde
encontram a máxima intensidade que podem extrair da vida.47 Esta temática foi sintetizada
em obras sobre banhistas, que os seus membros realizaram preferentemente entre 1909 e
1911 nas suas estadias nos lagos próximos a Dresde: Alsen, Dangast, Nidden, Fehmarn,
Hiddensee, Moritzburg, etc. São obras nas quais expressam um naturismo sem rodeios,
um sentimento quasepanteísta de comunhão com a natureza, al mesmo tempo que
tecnicamente vão depurando a sua paleta, num processo de deformação subjetiva da
forma e da cor, que adquire um significado simbólico.39
Em 1911 a maioria de artistas do grupo instalaram-se em Berlim, iniciando a sua carreira
em solitário. Na capital alemã receberam a influência do cubismo e do futurismo, patente
na esquematização das formas e no uso de tons mais frios a partir de então. A sua paleta
tornou-se mais obscura e a sua temática mais desolada, melancólica, pessimista,
perdendo o selo estilístico comum que tinham em Dresde para percorrer caminhos cada
vez mais divergentes, iniciando cada um o seu.48 Uma das maiores exposições na que
participaram os membros de Die Brücke foi a Sonderbund de Colônia de 1912, na que
Kirchner e Heckel receberam a encomenda de decorarem uma capela, que teve um
grande sucesso.49 Ainda assim, em 1913 aconteceu a dissolução formal do grupo, devido
à recusa que provocou nos seus companheiros a publicação da história do grupo (Crônica
da sociedade artística de Die Brücke) por parte de Kirchner, na qual se outorgava uma
especial relevância que não foi admitida pelo restante de membros.50
Os principais membros do grupo foram:
Três banhistas (1913), de Ernst Ludwig Kirchner, Galeria de Arte de Nova Gales do Sul.
Ernst Ludwig Kirchner: grande desenhista –o seu pai era professor de desenho–,
desde a sua visita a uma exposição de xilografia de Dürer em 1898 começou a fazer
gravados em madeira, material no que também realizou talhas de influência africana,
com um acabamento irregular, sem polir, destacando-se os componentes sexuais.
Utilizava cores primárias, como os fauvistas, com certa influência de Matisse, mas com
linhas quebradas, violentas –ao contrário das arredondadas de Matisse–, em ângulos
fechados, agudos. As figuras são estilizadas, com um alargamento de influência
gótica. Desde a sua mudança para Berlim em 1910 realizou composições mais
esquemáticas, com linhas cortantes e zonas inacabadas, e certa distorção formal.
Progressivamente a sua pincelada tornou-se mais nervosa, agressiva, com linhas
superpostas, composição mais geométrica, com formas angulosas inspiradas na
decomposição cubista. Desde 1914 começou a padecer transtornos mentais e,
durante a guerra, sofreu uma doença respiratória, fatores que influíram na sua obra.
Em 1937 os seus trabalhos foram confiscados pelos nazistas, suicidando-se no ano
seguinte.51
Erich Heckel: a sua obra nutriu-se da influência direta de Van Gogh, ao que conheceu
em 1905 na Galeria Arnold de Dresde. Entre 1906 e 1907 realizou uma série de
quadros de composição vangoghiana, de pinceladas curtas e cores intensas –
predominantemente o amarelo–, com pasta densa. Mais tarde evoluiu para temáticas
mais expressionistas, como o sexo, a solidão e a incomunicação. Também trabalhou
com a madeira, em obras lineais, sem perspectiva, com influência gótica e cubista. Foi
um dos expressionistas mais ligados à corrente romântica alemã, o que se reflete na
sua visão utópica das classes marginais, pelas quais expressa um sentimento de
solidariedade e reivindicação. Desde 1909 viajou pela Europa, que o pôs em contato
tanto com a arte antiga quanto com as novas vanguardas, especialmente com o
fauvismo e com o cubismo, dos quais adotou a organização espacial e o colorido
intenso e subjetivo. Nas suas obras tende a descuidar o aspecto figurativo e descritivo
das suas composições para ressaltar o conteúdo emotivo e simbólico, com pinceladas
densas que fazem que a cor ocupe todo o espaço, sem outorgar importância ao
desenho ou a composição.52
Karl Schmidt-Rottluff: nos seus começos praticou o macropontilhismo, para passar a
um expressionismo de figuras esquemáticas e rostos cortantes, de pincelada solta e
de cores intensas. Recebeu certa influência de Picasso na sua etapa azul, bem como
de Munch e da arte africana e, desde 1911, do cubismo, palpável na simplificação das
formas que aplicou às suas obras desde então. Dotado de uma grande mestria para
a aquarela, sabia dosificar bem as cores e distribuir os chiaroscuros, enquanto na
pintura aplicava pinceladas densas e espessas, com claro precedente em Van Gogh.
Também realizou talhas em madeira, às vezes policromada, com influência africana –
rostos alongados, olhos amendoados–.53
Emil Nolde: ligado a Die Brücke durante 1906-1907, trabalhou em solitário, desligado
de tendências –não se considerava um expressionista, mas um "artista alemão"–.
Dedicado em princípio à pintura de paisagens, temas florais e animais, sentia
predileção por Rembrandt e por Goya. Em princípios de século empregava a
técnicadivisionista, com empaste muito grosso e pinceladas curtas, e com forte
descarrega cromática, de influência pós-impressionista. Durante a sua estadia em Die
Brückeabandonou o processo de imitação da realidade, denotando na sua obra uma
inquietude interior, uma tensão vital, uma crispação que se reflete no pulso interno da
obra. Começou então os temas religiosos, centrando-se na Paixão de Jesus Cristo,
com influência de Grünewald, Brueghel e Hieronymus Bosch, com rostos
desfigurados, um profundo sentimento de angústia e uma grande exaltação da cor (A
última ceia, 1909; Pentecostes, 1909; Santa Maria Egipcíaca, 1912).54
Otto Mueller: grande admirador da arte egípcia, realizou obras sobre paisagens
e nus com formas esquemáticas e angulosas, nos quais se percebe a influência de
Cézanne e de Picasso. Os seus nus costumam localizar-se em paisagens naturais,
evidenciando a influência da natureza exótica de Gauguin. O seu desenho é limpo e
fluido, afastado do estilo áspero e gestual dos outros expressionistas, com uma
composição de superfícies planas e suaves linhas curvas, criando uma atmosfera de
fantasia idílica. As suas figuras delgadas e esbeltas estão inspiradas em Cranach, de
cuja Vênus tinha uma reprodução no seu estudo. São nus de grande simplicidade e
naturalidade, sem traços de provocação ou sensualidade, expressando uma perfeição
ideal, a nostálgia de um paraíso perdido, em que o ser humano vivia em comunhão
com a natureza.55
Max Pechstein: de formação acadêmica, estudou Belas Artes em Dresde. Em uma
viagem à Itália em 1907 entusiasmou-se com a arte etrusca e com
os mosaicos de Ravena, enquanto na sua seguinte estadia em Paris entrou em
contato com o fauvismo. Em 1910 foi fundador com Nolde e Georg Tappert da Nova
Secessão berlinesa, da qual foi o seu primeiro presidente. Em 1914 realizou uma
viagem pela Oceania, recebendo como tantos outros artistas da época a influência da
arte primitiva e exótico. As suas obras costumam ser paisagens solitárias e agrestes,
geralmente de Nidden, uma população da costa báltica que era o seu lugar de
veraneio.56
Der Blaue Reiter (O Ginete Azul) surgiu em Munique em 1911, agrupando Wassily
Kandinsky, Franz Marc, August Macke,Paul Klee, Gabriele Münter, Alfred Kubin, Alexej
von Jawlensky, Lyonel Feininger, Heinrich Campendonk e Marianne von Werefkin. O nome
do grupo foi escolhido por Marc e Kandinsky tomando café num terraço, após uma
conversação onde coincidiram no seu gosto pelos cavalos e pela cor azul, embora seja de
sublinhar que Kandinsky já pintara um quadro com o título O Ginete
Azul em 1903 (Coleção E.G. Bührlle, Zurique).57 De novo, mais que um selo estilístico
comum compartilhavam uma visão da arte, na que imperava a liberdade criadora do artista
e a expressão pessoal e subjetiva das suas obras. Der Blaue Reiter não foi uma escola
nem um movimento, mas um agrupamento de artistas com inquietudes similares,
centrados num conceito da arte não como imitação, mas como expressão do interior do
artista.58
Der Blaue Reiter foi uma cisão do grupo Neue Künstlervereinigung München ("Nova
Asociación de Artistas de Muniqu"e), fundada em 1909, da qual era presidente Kandinsky,
e que incluía ademais Marc, Jawlensky, Werefkin, Kubin, Klee, Münter, os
irmãos David e Vladimir Burliuk, Alexander Kanoldt, Adolf Erbslöh, Karl Hofer, etc.
Contudo, divergências estéticas originaram o abandono de Kandinsky, Marc, Kubin e
Münter, fundando o novo grupo.59 Der Blaue Reiter tinha poucos pontos em comum
com Die Brücke, coincidindo basicamente na sua oposição ao impressionismo e ao
positivismo; porém, frente à atitude temperamental de Die Brücke, frente à sua plasmação
quase fisiológica da emotividade, Der Blaue Reiter tinha uma atitude mais refinada e
espiritual, visando a captar a essência da realidade através da purificação dos instintos.
Assim, em vez de utilizar a deformação física, optam pela sua total depuração, chegando
assim à abstração. A sua poética foi definida como um expressionismo lírico, no qual a
evasão não se encaminhava para o mundo selvagem mas para o espiritual da natureza e
do mundo interior.60
Os membros do grupo mostraram o seu interesse pelo misticismo, pelo simbolismo e pelas
formas da arte que consideravam mais genuínas: a primitiva, a popular, a infantil e a de
doentes mentais. Der Blaue Reiter destacou-se pelo uso da aquarela, frente à gravura
utilizada nomeadamente por Die Brücke. Também cabe destacar-se a importância
outorgada à música, que acostuma assimilar-se à cor, o que facilitou a transição de uma
arte figurativa para uma mais abstrata.61 De igual forma, nos seus ensaios teóricos
mostraram a sua predileção pela forma abstrata, na que viam um grande conteúdo
simbólico e psicológico, teoria que ampliou Kandinsky na sua obra Do espiritual na
arte(1912), na que procura uma síntese entre a inteligência e a emotividade, defendendo
que a arte se comunica com o nosso espírito interior, e que as obras artísticas podem ser
tão expressivas quanto a música.57 Kandinsky expressa um conceito místico da arte, com
influência da teosofia e da filosofia oriental: a arte é expressão do espírito, sendo as
formas artísticas reflexo dele. Como no mundo das ideias de Platão, as formas e sons
ligam com o mundo espiritual através da sensibilidade, da percepção. Para Kandinsky, a
arte é uma linguagem universal, acessível a qualquer ser humano. O caminho da pintura
devia ser desde a pesada realidade material até a abstração da visão pura, com a cor
como meio, por isso desenvolveu toda uma complexa teoria da cor: em A Pintura como
arte pura (1913) sustém que a pintura é já um ente separado, um mundo em si mesmo,
uma nova forma do ser, que age sobre o espectador através da vista e que provoca nele
profundas experiências espirituais.62
São Jorge (1912), de August Macke, Kolumba Museum, Colônia.
Der Blaue Reiter organizou diversas exposições: a primeira foi na Galeria Thannhäuser de
Munique, inaugurada a 18 de dezembro de1911 com o nome I Ausstellung der Redaktion
des Blauen Reiter ("I Exposição dos Diretores do Ginete Azul").63 Foi a mais homogênea,
pois havia uma clara influência mútua entre todos os componentes do grupo, dissipada
mais adiante por uma maior individualidade de todos os seus membros. Expuseram obras
Macke, Kandinsky, Marc, Campendonk e Münter e, como convidados, Arnold Schönberg –
compositor mas autor também de obras pictóricas–, Albert Bloch, David e Vladimir Burliuk,
Robert Delaunay e o Aduaneiro Rousseau. A segunda exposição decorreu na Galeria
Hans Goltz em março de 1912, dedicada a aquarelas e obras gráficas, confrontando o
expressionismo alemão com o cubismo francês e o suprematismo russo. A última grande
exposição aconteceu em 1913 na sede de Der Sturm em Berlim, em paralelo ao primeiro
"Salão de Outono" celebrado na Alemanha.64
Um dos maiores quadros do grupo foi a publicação do Almanaque (maio de 1912), por
ocasião da exposição organizada em Colônia pelo Sonderbund. Foi realizado em
colaboração com o galerista Heinrich von Tannhäuser e com Hugo von Tschudi, diretor
dos museus de Baviera. Junto a numerosas ilustrações, recolhia diversos textos dos
membros do grupo, dedicados à arte moderna e com numerosas referências à arte
primitiva e exótica. A teoria pictórica do grupo era mostrada, centrada na importância da
cor e na perda da composição realista e do caráter imitativo da arte, frente a uma maior
liberdade criativa e uma expressão mais subjetiva da realidade. Falava-se igualmente dos
pioneiros do movimento (Van Gogh, Gauguin, Cézanne, Rousseau), no que se incluía
tanto aos membros deDie Brücke e Der Blaue Reiter como a Matisse, Picasso e Delaunay.
Também se incluiu a música, com referências a Schönberg, Webern e Berg.65
Der Blaue Reiter teve o seu final com a Primeira Guerra Mundial, na que faleceram Marc e
Macke, enquanto Kandinsky teve de voltar para a Rússia. Em 1924 Kandinsky e Klee,
junto a Lyonel Feininger e Alexej von Jawlensky, fundaram Die Blaue Vier" (Os Quatro
Azuis") no seio da Bauhaus, expondo conjuntamente a sua obra por dez anos.66
Os principais representantes de Der Blaue Reiter foram:
O moinho encantado (1913), de Franz Marc, Art Institute of Chicago, Chicago.
Wassily Kandinsky: de vocação tardia, estudou direito, economia e política antes de se
passar à pintura, após visitar uma exposição impressionista em 1895. Estabelecido em
Munique, começou no Jugendstil,conjugando-o com elementos da tradição russa.
Em 1901 fundou o grupo Phalanx, e abriu a sua própria escola. Durante 1906—
1909 teve um período fauvista, para passar posteriormente ao expressionismo.
Desde 1908 a sua obra foi perdendo o aspecto temático e figurativo para ganhar em
expressividade e colorido, iniciando progressivamente o caminho para a abstração, e
desde 1910 criou quadros nos quais a importância da obra residia na forma e na cor,
criando planos pictóricos por confrontação de cores.67 A sua abstração era aberta,
com um foco no centro, empurrando com uma força centrífuga, derivando as linhas e
manchas para fora, com grande riqueza formal e cromática. O próprio Kandinsky
distinguia a sua obra entre "impressões", reflexo direto da natureza exterior (que seria
a sua obra até 1910); "improvisações", expressão de signo interno, de caráter
espontâneo e de natureza espiritual (abstração expressionista, 1910-1921); e
"composições", expressão igualmente interna mais elaborada e formada devagar
(abstração construtiva, desde 1921).68
Franz Marc: estudante de teologia, durante uma viagem pela Europa
entre 1902 e 1906 decidiu tornar-se pintor. Imbuído de um grande misticismo,
considerava-se um pintor "expressivo", visando a expressar o seu "eu interior". A sua
obra foi bastante monotemática, dedicando-se aos animais, especialmente os cavalos.
Contudo, os seus tratamentos eram variados, com contrastes muito violentos de cor,
sem perspectiva linear. Recebeu a influência de Degas –que também fez uma série
sobre cavalos–, bem como do orfismo de Delaunay e das atmosferas boiantes de
Chagall. Para Marc, a arte era uma forma de captar a essência das coisas, o que
traduziu numa visão mística e panteísta da natureza, que plasmou sobretudo nos
animais, que para ele tinham um significado simbólico, representando conceitos como
o amor ou a morte. Nas suas representações de animais a cor era igualmente
simbólico, destacando-se o azul, a cor mais espiritual. As figuras eram simples,
esquemáticas, tendendo à geometrização após o seu contato com o cubismo.
Contudo, desenganado também dos animais, começou como Kandinsky o caminho
para a abstração, carreira que truncada com a sua morte na contenda mundial.69
August Macke: em 1906 visitou Bélgica e Holanda, onde recebeu a influência de
Rembrandt –empaste grosso, contrastes acusados–; em 1907, em Londres,
entusiasmou-se com os pré-rafaelitas; igualmente, em 1908 em Paris contatou com o
fauvismo. Desde então abandonou a tradição e renovou temáticas e coloridos,
trabalhando com cores claras e cálidas. Depois receberia a influência do cubismo:
restrição cromática, linhas geométricas, figuras esquematizadas, contrastes sombra-
luz. Por último chegou à arte abstrata, influenciado por Kandinsky e Delaunay: fazia
uma abstração racional, geométrica, com manchas lineais de cor e composições
baseadas em planos geométricos coloreados. Nas suas últimas obras –após uma
viagem pelo norte da África– voltou ao colorido forte e os contrastes exagerados, com
um certo ar surrealista. Inspirava-se em temas cotidianos, em ambientes geralmente
urbanos, com um ar lírico, alegre, sereno, com cores de expressão simbólica como em
Marc.70
Paul Klee: de formação musical, em 1898 passou à pintura, denotando como
Kandinsky um senso pictórico de evanescência musical, tendente à abstração, e com
um ar onírico que o levaria para o surrealismo.71 Iniciado no Jugendstil, e com
influência de Böcklin, Redon, Van Gogh, Ensor e Kubin, visava como este último
atingir um estado intermédio entre a realidade e a fantasia ideal. Mais tarde, após uma
viagem para Paris em 1912 onde conheceu a Picasso e Delaunay, interessou-se mais
pela cor e as suas possibilidades compositivas. Em uma viagem para África em 1914
com Macke reafirmou a sua visão da cor como elemento dinamizador do quadro, que
seria a base das suas composições, onde perdura a forma figurativa combinada com
uma certa atmosfera abstrata, em curiosas combinações que seriam um dos seus
selos estilísticos mais reconhecíveis. Klee recriou na sua obra um mundo fantástico e
irônico, próximo do das crianças ou os loucos, que acercará o universo dos
surrealistas –com numerosos pontos de contato entre a sua obra e a de Joan Miró–.72
Alexej von Jawlensky: militar russo, abandonou a sua carreira para se dedicar à arte,
instalando-se em Munique em 1896 com Marianne von Werefkin. Em 1902 viajou para
Paris, travando amizade com Matisse, com quem trabalhou um tempo e com quem se
iniciou no colorido fauve. Dedicou-se nomeadamente ao retrato, inspirado nos ícones
da arte tradicional russa, com figuras em atitude hierática, de grande tamanho e
esquematismo compositivo. Trabalhava com grandes superfícies de cor, com um
colorido violento, delimitado por fortes traços pretos.73 Durante a guerra refugiou-se na
Suíça, onde realizou retratos próximos do cubismo, com rostos ovais, de nariz
alongado e olhos assimétricos. Mais tarde, por influência de Kandinsky, aproximou-se
à abstração, com retratos reduzidos a formas geométricas, de cores intensas e
cálidas.74
Autorretrato (1910), de Marianne von Werefkin, Städtische Galerie im Lenbachhaus, Munique.
Lyonel Feininger: norte-americano de origem alemão, em 1888 viajou para Alemanha
para estudar música, passando posteriormente à pintura. Nos seus começos trabalhou
como caricaturista para vários jornais. Recebeu a influência do cubismo órfico de
Delaunay, patente no geometrismo das suas paisagens urbanas, de formas angulosas
e inquietantes, parecidas às de O gabinete do doutor Caligari –em cujos decoradores
provavelmente influiu–. As suas personagens são caricaturescas, de grande tamanho
–às vezes chegando à mesma altura dos edifícios–, construídas por superposição de
planos de cor. Professor da Bauhaus de 1919 a 1933, em1938, por causa do nazismo,
retornou para o seu Nova York natal.75
Gabriele Münter: estudou em Düsseldorf e Munique, ingressando no grupo Phalanx,
no que conheceu a Kandinsky, com o que iniciou uma relação e passou longas
temporadas na localidade de Murnau. Ali pintou numerosas paisagens nas quais
desvelava uma grande emotividade e um grande domínio da cor, com influência da
arte popular bávara, o que se denota nas linhas simples, cores claras e luminosas e
uma cuidada distribuição das massas. Recebeu de Jawlensky a justaposição de
manchas brilhantes de cor com nítidos contornos, que se tornariam no seu principal
selo artístico. Entre 1915 e 1927 deixou de pintar, após a sua ruptura com
Kandinsky.76
Heinrich Campendonk: influenciado pelo cubismo órfico e a arte popular e primitiva,
criou um tipo de obras de signo primitivista, com desenho de grande rigidez, figuras
hieráticas e composições deshierarquizadas. Nas suas obras tem um papel
determinante o contraste de cores, com uma pincelada herdeira do impressionismo.
Mais tarde, por influência de Marc, a cor ganhou independência a respeito do objeto,
adquirindo um maior valor expressivo, e decompondo o espaço à maneira cubista.
Superpunha as cores em camadas transparentes, realizando composições livres nas
quais os objetos parecem boiar sobre a superfície do quadro. Assim como em Marc, a
sua temática focou-se num conceito idealizado da comunhão entre o homem e a
natureza.77
Alfred Kubin: escritor, desenhista e ilustrador, a sua obra baseou-se num mundo
fantasmagórico de monstros, de aspecto excitante e alucinante, refletindo a sua
obsessão pela morte. Influenciado por Max Klinger, trabalhou nomeadamente como
ilustrador, em desenhos em branco e preto de ar decadentista com reminiscências de
Goya, Blake e Félicien Rops. As suas cenas enquadravam-se em ambientes
crepusculares, fantasmagóricos, que recordam igualmente a Odilon Redon, com um
estilo caligráfico, às vezes roçando a abstração. Os seus imagens fantásticas,
mórbidas, com referências ao sexo e a morte, foram precursoras do surrealismo.
Também foi escritor, cuja principal obra, O outro lado (1909), pôde ter influenciado
sobre Kafka.78
Marianne von Werefkin: pertencente a uma família aristocrata russa, recebeu classes
de Ilya Repin em São Petersburgo. Em 1896 mudou-se para Munique com Jawlensky,
com o que iniciara uma relação, dedicando-se mais à difusão da obra deste que à sua
própria. Nesta cidade criou um salão de notável fama como tertúlia artística, chegando
a influir em Franz Marc a nível teórico. Em 1905, após algumas divergências com
Jawlensky, voltou a pintar. Esse ano viajou para França, recebendo a influência
dos nabis e os futuristas. As suas obras são de um colorido brilhante, cheio de
contrastes, com preponderância da linha na composição, à qual a cor fica
subordinada. A temática é fortemente simbólica, destacando-se as suas enigmáticas
paisagens com procissões de mortos.79
O grupo Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade) surgiu após a Primeira Guerra Mundial
como um movimento de reação frente ao expressionismo, retornando à figuração realista e
à plasmação objetiva da realidade circundante, com uma marcada componente social e
reivindicativa. Desenvolvido entre 1918 e 1933, desapareceu com o advento do
nazismo.80 O ambiente de pessimismo que trouxe o pós-guerra propiciou o abandono por
parte de alguns artistas do expressionismo mais espiritual e subjetivo, de procura de novas
linguagens artísticas, por uma arte mais comprometida, mais realista e objetiva, dura,
direta, útil para o desenvolvimento da sociedade, uma arte revolucionária na sua temática,
se bem que não na forma.81 Os artistas separaram-se da abstração, refletindo sobre a arte
figurativa e recusando toda atividade que não atendesse os problemas da diligente
realidade do pós-guerra. Encarnaram este grupo Otto Dix, George Grosz, Max
Beckmann, Conrad Felixmüller, Christian Schad, Rudolf Schlichter, Ludwig Meidner, Karl
Hofer e John Heartfield.
Frente à introspeção psicológica do expressionismo, o individualismo de Die Brücke ou o
espiritualismo de Der Blaue Reiter, a Nova Objetividade propôs o retorno ao realismo e à
plasmação objetiva do mundo circundante, com uma temática mais social e comprometida
politicamente. Contudo, não renunciaram aos sucessos técnicos e estéticos da arte de
vanguarda, como o colorido fauvista e expressionista, a "visão simultânea" futurista ou a
aplicação da fotomontagem à pintura e à gravura do verismo. A recuperação da figuração
foi uma consequência comum no espaço no final da guerra: para além da Nova
Objetividade, surgiu na França o purismo e na Itália a pintura metafísica, precursora do
surrealismo. Mas, na Nova Objetividade, este realismo é mais comprometido que em
outros países, com obras de denúncia social que visam desmascarar a sociedade
burguesa do seu tempo, denunciar o estamento político e militar que os levou ao desastre
da guerra. Se bem que a Nova Objetividade opôs-se ao expressionismo por ser um estilo
espiritual e individualista, manteve por outro lado a sua essência formal, pois o seu caráter
grotesco, de deformação da realidade, de caricaturamento da vida, transladou-se à
temática social abordada pelos novos artistas do pós-guerra.82
A "Nova Objetividade" surgiu como recusa do Novembergruppe, cuja falta de compromisso
social rejeitavam. Assim, em 1921, um grupo de artistas dadaístas –entre os quais se
encontravam George Grosz, Otto Dix, Rudolf Schlichter e Hanna Höch.– apresentaram-se
como "Oposição ao Grupo de Novembro", redigindo uma Carta aberta a este. O termo
"Nova Objetividade" foi concebido pelo crítico Gustav Friedrich Hartlaub para a
exposição Nova Objetividade. Pintura alemã desde o expressionismo, celebrada
em 1925 naKunsthalle de Mannheim. Segundo palavras de Hartlaub: "o objetivo é superar
as mesquindades estéticas da forma através de uma nova objetividade nascida do
desgosto para a sociedade burguesa da exploração".83
Em paralelo à Nova Objetividade surgiu o denominado "realismo mágico", nome proposto
igualmente por Hartlaub em 1922 mais difundido sobretudo por Franz Roh no seu livroPós-
expressionismo. Realismo mágico (1925). O realismo mágico situou-se mais à direita da
Nova Objetividade –embora fosse igualmente eliminado pelos nazis–, e representava uma
linha mais pessoal e subjetiva que o grupo de Grosz e Dix. Frente à violência e
dramatismo dos seus coetâneos objetivos, os realistas mágicos elaboraram uma obra mais
acalmada e intemporal, mais sereia e evocadora, transmissora de uma quietude que
visava a pacificar os ânimos após a guerra. O seu estilo era próximo do da pintura
metafísica italiana, visando a captar a transcendência dos objetos para além do mundo
visível. Entre as suas figuras destacaram-se Georg Schrimpf, Alexander Kanoldt, Anton
Räderscheidt, Carl Grossberg e Georg Scholz.84
Os principais expoentes da Nova Objetividade foram:
George Grosz: procedente do dadaísmo, interessado pela arte popular. Mostrou desde
novo na sua obra um intenso desgosto pela vida, que se tornou após a guerra em
indignação. Na sua obra analisou fria e metodicamente a sociedade do seu tempo,
desmistificando as classes dirigentes para mostrar o seu lado mais cruel e despótico.
Carregou especialmente contra o exército, a burguesia e o clero, em séries como O
rosto da classe dominante (1921) ou Ecce Homo (1927), em cenas onde predomina a
violência e o sexo. As suas personagens costumam ser mutilados de guerra,
assassinos, suicidas, burgueses ricos e rechonchudos, prostitutas, vagabundos, em
figuras sucintas, silhuetadas em poucos traços, como bonecos. Tecnicamente,
empregou recursos de outros estilos, como o espaço geometrizante do cubismo ou a
captação do movimento do futurismo.85
Otto Dix: iniciado no realismo tradicional, com influência de Hodler, Cranach e Durero,
em Dix a temática social, patética, direta e macabra da Nova Objetividade ficava
enfatizada pela representação realista e minuciosa, quase diáfana, das suas cenas
urbanas, povoadas pelo mesmo tipo de personagens que retratava Grosz: assassinos,
aleijados, prostitutas, burgueses e mendigos. Expôs fria e metodicamente os horrores
da guerra, as carniçarias e matanças que presenciou como soldado: assim, na série A
Guerra (1924), inspirou-se na obra de Goya e de Callot.86
Max Beckmann: de formação acadêmica e começos próximos do impressionismo, o
horror da guerra levou-o, como aos seus companheiros, a plasmar cruamente a
realidade que o envolvia. Acusou então a influência de antigos mestres como
Grünewald, Brueghel e Hieronymus Bosch, junto a novas contribuições como o
cubismo, do qual tomou o seu conceito de espaço, que se torna na sua obra em um
espaço agoniante, quase claustrofóbico, no qual as figuras têm um aspecto de solidez
escultórica, com contornos muito delimitados. Na sua série O inferno (1919) fez um
retrato dramático do Berlim do pós-guerra, com cenas de grande violência, com
personagens torturados, que berram e se retorcem de dor.86
Conrad Felixmüller: fervente opositor da guerra, durante a contenda assumiu a arte
como compromisso político. Ligado ao círculo de Pfemfert, editor da revista Die Aktion,
moveu-se no ambiente antimilitarista de Berlim, que recusava o esteticismo na arte,
defendendo uma arte comprometida e de finalidade social. Influenciado pelo colorido
deDie Brücke e pela decomposição cubista, simplificou o espaço como formas
angulares e quadriláteros, que ele denominava "cubismo sintético". A sua temática
focou-se em operários e nas classes sociais mais desfavorecidas, com um forte
componente de denúncia.87
Christian Schad: membro do grupo dadaísta de Zurique (1915-1920), onde trabalhou
com papel fotográfico –as suas "schadografias"–, dedicou-se posteriormente ao
retrato, em retratos frios e desapassionados, estritamente objetivos, quase
desumanizados, estudando com olhada sóbria e científica as personagens que retrata,
reduzidas a simples objetos, sós e isoladas, sem capacidade de se comunicarem.84
Ludwig Meidner: membro do grupo Die Pathetiker (Os Patéticos) junto a Jakob
Steinhardt e Richard Janthur, o seu principal tema foi a cidade, a paisagem urbana,
que mostrou em cenas abigarradas, sem espaço, com grandes multidões e edifícios
angulosos de precário equilíbrio, num ambiente opressivo, angustioso. Na sua
sériePaisagens apocalípticas (1912-1920) retratou cidades destruídas, que ardem ou
estouram, em vistas panorâmicas que mostram mais friamente o horror da guerra.88
Karl Hofer: iniciado num certo classicismo próximo a Hans von Marées, estudou
em Roma e Paris, onde o surpreendeu a guerra e foi feito prisioneiro durante três
anos, fato que marcou profundamente o desenvolvimento da sua obra, com figuras
atormentadas, de gestos vacilantes, em atitude estática, enquadradas em desenhos
claros, de cores frias e pincelada pulcra e impessoal. As suas figuras são solitárias, de
aspecto pensativo, melancólico, denunciando a hipocrisia e a loucura da vida moderna
(O casal, 1925;Homens com tochas, 1925; O quarto preto, 1930).89
Denomina-se Escola de Paris a um grupo heterodoxo de artistas que trabalharam
em Paris no período entre-guerras(1905—1940), ligados a diversos estilos artísticos como
o pós-impressionismo, o expressionismo, o cubismo e o surrealismo. O termo abrange
uma grande variedade de artistas, tanto franceses quanto estrangeiros que residiam na
capital francesa no intervalo entre as duas guerras mundiais. Naquela época, Paris era um
fértil centro de criação e difusão artística, tanto pelo seu ambiente político, cultural e
econômico, quanto por ser a origem de diversos movimentos da vanguarda, como o
fauvismo e o cubismo, além de ser lugar de residência de grandes mestres como Picasso,
Braque, Matisse e Léger. Também era um remarcável centro de colecionismo e de
galerias de arte. A maioria de artistas residia nos bairros de Montmartre e Montparnasse, e
caracterizava-se pela sua vida mísera e boêmia.99
Na Escola de Paris houve uma grande diversidade estilística, se bem que a maioria
estiveram ligados com maior ou menor intensidade ao expressionismo, embora
interpretado de jeito pessoal e heterodoxo: artistas como Amedeo Modigliani, Chaïm
Soutine, Jules Pascin e Maurice Utrillo foram conhecidos como Les maudits ("Os
malditos"), pela sua arte boêmia e torturada, reflexo de um ambiente notâmbulo, miserável
e desesperado. Por outro lado, Marc Chagall representa um expressionismo mais vitalista,
mais dinâmico e colorista, sintetizando a sua iconografia russa natal com o colorido
fauvista e com o espaço cubista.100
Os membros mais destacados da escola foram:
Amedeo Modigliani: instalou-se em Montmartre em 1906, onde se reunia em "O coelho
ágil" com Picasso, Max Jacob, Apollinaire, Soutine, etc. Influenciado pelo simbolismo e
pelo maneirismo (Pontormo, Parmigianino), dedicou-se nomeadamente à paisagem, o
retrato e o nu, com figuras alongadas inspiradas nos mestres italianos
do Cinquecento.Hedonista, procurava a felicidade, o agradável, pelo qual não lhe
interessava a corrente destrutiva nietzscheana do expressionismo alemão. Nas suas
obras sublinhava com força o contorno, de linhas fluidas, herdeiras
do arabesco modernista, enquanto o espaço se formava por justaposição de planos de
cor. Os seus retratos eram de grande introspeção psicológica, ao que contribuía uma
certa deformação e a transmissão desse ar melancólico e desolado próprio da sua
visão boêmia e angustiada da vida. Dedicou-se também à escultura, com influência
de Brâncuşi, bem como maneirista e africana, com obras simétricas, alongadas,
frontais, próximas à escultura arcaica grega.101
Marc Chagall: instalado em Paris em 1909, realizou obras de caráter onírico, próximas
a um certo surrealismo, distorcendo a realidade ao seu capricho. Empregava uma
gama de cor exaltada, principal nexo de união com o expressionismo alemão –embora
ele não se considerasse expressionista–, em temas populares e religiosos, com
desproporção e falta de interesse pela hierarquização na narração dos fatos.
Influenciado pelo fauvismo, o cubismo e o futurismo, as suas cenas encontram-se num
espaço irreal, alheio a regras de perspectiva ou de escala, num mundo no que evoca
as suas lembranças infantis e os temas populares russos e judeus, misturados com o
mundo dos sonhos, com a música e com a poesia. Tomou de Delaunay a
transparência de planos e cores, bem como a criação de espaço através da cor e da
simultaneidade temporária mediante a justaposição de imagens. Entre 1914 e 1922
voltou para a Rússia, onde foi comissário cultural na Escola de Belas-Artes de Vitebsk.
De volta para Paris, evoluiu para o surrealismo.102
Georges Rouault: ligado em princípio ao simbolismo –foi discípulo de Gustave
Moreau– e ao fauvismo, a sua temática de índole moral –centrada no religioso– e o
seu colorido obscuro acercaram-no ao expressionismo. As suas obras mais
emblemáticas foram as de nus femininos, com um ar amargo e desagradável, com
figuras lânguidas e esbranquiçadas (Odaliscas, 1907); cenas circenses,
nomeadamente de palhaços, com ar caricaturesco, sublinhando notavelmente os
contornos (Cabeça de um palhaço trágico, 1904); e cenas religiosas, com desenho
mais abstrato e colorido mais intenso (A Paixão, 1943). A obra de Rouault –
especialmente as obras religiosas– tinha uma forte carga de denúncia social, de
increpação para os vícios e defeitos da sociedade burguesa; até mesmo numa
temática como a circense enfatizava o seu lado mais negativo e deprimente, sem
concessões cômicas ou sentimentais, com um aspecto sórdido e cruel. Sentia
predileção pelo guache e pela aquarela, com tons obscuros e superfícies salpicadas,
em camadas superpostas de pigmentos translúcidos, com um grafismo de linhas
quebradas que enfatizava a expressividade da composição.103
Cena de café, de Jules Pascin, Museum of Fine Arts, Boston.
Jules Pascin: de origem búlgara e ascendência judaica, instalou-se em Paris após
breves estadias em Berlim, Viena ePraga; em 1914 transladou-se aos Estados Unidos,
voltando para Paris em 1928 até o seu suicídio dois anos depois. A sua obra
expressava o desarraigo e a alienação do desterrado, bem como as obsessões
sexuais que marcaram desde a sua adolescência. Nos seus inícios mostrou a
influência do fauvismo e do cubismo, bem como de Toulouse-Lautrec e Degas nos
nus. Tinha uma delicada técnica, com uma linha finamente sugestionada e uma cor de
tons iridescentes, mostrando nos seus despidos um ar lânguido e evanescente.104
Chaïm Soutine: russo de família judaica, instalou-se em Paris em 1911. A sua
personalidade violenta e autodestrutiva provocava uma relação apaixonada com a sua
obra, levando-o muitas vezes a romper os seus quadros, e refletindo-se numa
pincelada forte e incontrolada e uma temática angustiosa e desolada, como no seu Boi
aberto de cima a baixo(1925), inspirado no Boi esfolado de Rembrandt. Pintor
impulsivo e espontâneo, tinha uma necessidade irrefreável de plasmar imediatamente
na tela a sua emotividade interior, motivo pelo qual as suas obras carecem de
qualquer preparação prévia. Influenciado por Rembrandt, El Greco e Tintoretto, o seu
colorido é intenso, expressando com a direção das pinceladas os sentimentos do
artista. Assim mesmo, segue o rasto de Van Gogh na impulsividade do gesto pictórico,
sobretudo nas suas paisagens.105
Maurice Utrillo: artista boêmio e torturado, a sua atividade artística foi paralela à sua
adição ao álcool. De obra autodidata e com certo aspecto naïf, dedicou-se
nomeadamente à paisagem urbana, retratando magistralmente o ambiente popular do
bairro de Montmartre, enfatizando o seu aspecto de solidão e opressão, refletido com
uma técnica depurada e linear, de certa herança impressionista.106
Outros artistas que desenvolveram a sua obra no seio da Escola de Paris foram Lasar
Segall, Emmanuel Mané-Katz, Pinchus Krémègne, Moïse Kisling, Michel Kikoïne e
ojaponês Tsuguharu Foujita.