art metodologia de caracterização de resíduos de construção e demolição
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IBRACON
VI Seminário Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem na
Construção Civil - Materiais Reciclados e suas Aplicações
São Paulo 27 e 28 de outubro de 2003
CT- 206 MEIO
AMBIENTE
Instituto Brasileiro do Concreto – CT 206 –Meio Ambiente
METODOLOGIA DE CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO
ANGULO, Sérgio Cirelli (1); KAHN, Henrique (2); JOHN, Vanderley M. (3); ULSEN, Carina (4)
(1) Candidato a doutor. Departamento Eng. Civil/Escola Politécnica. Universidade de
São Paulo. Cx. Postal 61548. São Paulo-SP. CEP 05424-970. E-mail: [email protected]
(2) Prof. Dr. Livre-docente. Engenharia de Minas e do Petróleo/Escola Politécnica. Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
(3) Prof. Dr. Livre-docente. Departamento Eng. Civil/Escola Politécnica. Universidade de São Paulo. Cx. Postal 61548. São Paulo-SP. CEP 05424-970. E-mail: [email protected]
(4) Graduanda em Engenharia de Minas e do Petróleo/Escola Politécnica. Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
Palavras-chave: resíduos de construção e demolição, caracterização, instalações de
reciclagem, beneficiamento mineral.
RESUMO
Este artigo apresenta resultados preliminares do desenvolvimento de uma nova metodologia de caracterização de resíduos de construção e demolição (RCD). Esta metodologia permite a descrição das características físicas, químicas e mineralógicas dos produtos obtidos pela reciclagem, sendo capaz de subsidiar a busca de novos mercados, o projeto destas instalações e o planejamento de sistemas de controle da qualidade. O estudo permitiu concluir que a metodologia desenvolvida tem sido eficiente em descrever características relevantes dos agregados. Estes agregados atendem grande parte dos requisitos químicos de matéria-prima cerâmica (vermelha e revestimento). A composição química dos agregados oriundos de Itaquera e Vinhedo independente da classificação de acordo com a cor foi similar. Ela variou apenas com o tamanho das partículas do agregado. A ferramenta de separação por densidade em um produto cuja composição química é bastante homogênea permite obter a distribuição de massa específica aparente das partículas de forma eficiente. Os resultados também demonstram que a classificação dos agregados de acordo com a cor é, na melhor das hipóteses, imprecisa. Uma parcela significativa dos agregados atende requisitos físicos exigidos para concretos estruturais comuns, inclusive o requisito químico de teor de sulfatos.
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1. INTRODUÇÃO
1.1 Composição e geração de RCD
Os resíduos de construção e demolição (RCD), são constituídos em cerca de 90% da m/m por frações de natureza mineral (concretos, argamassas, rochas naturais, solos e cerâmicas), tanto no Brasil como na Europa (CARNEIRO et al., 2000; FERRAZ et al., 2001; EC, 2000). Do ponto de vista químico, a composição estimada do RCD brasileiro, em óxidos, seria majoritariamente sílica, seguido de alumina e óxido de cálcio (ANGULO et al., 2002). Os RCD são um dos responsáveis pelo esgotamento de áreas de aterros em cidades de médio e grande porte, uma vez que eles correspondem a mais de 50% (m/m) dos resíduos sólidos urbanos. No Brasil, estima-se que é gerado anualmente algo em torno de 68,5 x 106 t RCD. Além disso, eles são responsáveis por altos custos sócio-econômicos e ambientais nestas cidades em função das deposições irregulares. Por exemplo, na cidade de São Paulo, estes gastos são na ordem de R$ 45,0 x 106/ano para coleta-transporte-deposição destes resíduos (PINTO, 1999; JOHN, 2000; EC, 2000; SCHNEIDER, 2002; ANGULO et al., 2002). Por outro lado, o setor da construção civil é um grande consumidor de recursos naturais não-renováveis. Os agregados naturais estão entre os minerais mais consumidos no Brasil (380,6 x 106 t/ano) e no mundo, além de impactos ambientais relevantes como geração de áreas degradadas no entorno urbano e transporte intensivo. Na cidade de São Paulo, estima-se que a distribuição de areia natural na Região Metropolitana de São Paulo seja responsável por 1,35 milhões de viagens/ano (RANGEL et al., 1997; WHITAKER, 2001). Desta forma, a reciclagem de RCD é uma forma de aproximar o setor da sustentabilidade através da redução dos impactos negativos dos seus resíduos nas cidades e da geração de matéria-prima que pode ser substituída pela a natural, não-renovável.
1.2 Reciclagem de RCD
A reciclagem de RCD é, de forma simplificada, um beneficiamento mineral. O beneficiamento mineral é um conjunto de operações unitárias com o objetivo de se obter características específicas de uma matéria-prima como separação dos seus constituintes minerais, adequação de tamanho, etc. Estas operações unitárias são classificadas em quatro tipos: de redução, de classificação, de concentração e auxiliares (CHAVES, 1996; SANT’AGOSTINHO; KAHN, 1997; LUZ et al., 1998). As operações de redução, também conhecida como de cominuição, são utilizadas normalmente para se adequar o tamanho das partículas para a utilização ou para as operações subseqüentes. As operações de classificação separam as partículas pelo seu tamanho através de peneiras e classificadores (WILSON, 1996; CHAVES, 1996; LUZ et al., 1998). As operações de concentração são empregadas quando existem várias espécies minerais presentes em um minério e se tem por objetivo aumentar o teor de mineral útil. Esta concentração pode ser realizada por diferentes propriedades físicas dos minerais como densidade, cor, forma, propriedades elétricas, propriedades magnéticas, etc. Diversas
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operações unitárias podem ser utilizadas como catação, separação magnética, separação em meio denso e flotação, dentre outros (CHAVES, 1996; LUZ et al., 1998; HANISCH, 1998). No Brasil, grande parte das instalações de reciclagem de RCD mineral é gerida pelo setor público com finalidade de produzir agregados que são utilizados em atividades de pavimentação, porém ainda de forma incipiente. LEVY (2002) apresenta uma lista de 11 instalações de reciclagem nacionais de diferentes prefeituras. A Tabela 1 mostra as operações unitárias tipicamente empregadas nas instalações de reciclagem nacionais.
Tabela 1 Operações unitárias de beneficiamento através da reciclagem de RCD
Instalações de reciclagem
Operação de redução3
Operação de classificação
Operação de concentração
Auxiliares
Santo André – piloto/SP
Impacto (10 t/h)
Peneira (12,7 mm)
Catação (antes da redução)
Esteira
São Paulo (Itaquera)/SP
Impacto (100 t/h)
Peneiras (40, 20 e 4,8 mm)
Catação (antes/após redução) Separação magnética
Esteiras
Vinhedo/SP Mandíbula (62 t/h)
Peneiras (12,7, 9,5 e 4,8 mm)
Catação (antes da redução)
Esteira Sistema nebulizador (particulado)
Londrina/PR Impacto Peneiras Catação (antes da redução)
Esteira
Belo Horizonte (Estoril)/MG2
Impacto (25 t/h)
nd Catação (antes da redução)
Esteira
Ribeirão Preto/SP1
Impacto (30 t/h)
nd Catação (antes da redução) Separação magnética
Esteira Sistema nebulizador (particulado)
1 ZORDAN (1997)/2 PINTO (1999)/ 3 Somente britagem O mercado dos agregados naturais é vasto e mesmo que todo o RCD seja utilizado como agregado, a participação no mercado total não seria superior a 20%. Entretanto, este mercado está dividido em diversas aplicações: pavimentação, argamassas, concretos de diferentes resistências, etc. O uso de agregados para atividades de pavimentação não é suficiente para permitir a reciclagem completa dos resíduos, sendo necessário à utilização em outras aplicações, em especial, argamassas e concretos, em função da grande demanda (ANGULO et al., 2002). Ele também é relativamente pouco rentável. O uso de agregados reciclados em concretos demanda uma grande confiabilidade nas características dos agregados. Certamente o desenvolvimento deste mercado vai requerer melhorias na gestão do processo de reciclagem, nas ferramentas de controle de qualidade e na tecnologia de beneficiamento (ANGULO et al., 2002). Os agregados são produtos de mineração de baixo valor agregado, sendo que 2/3 dos custos são relativos às despesas de transporte (KULAIF, 2001). Como os RCD são
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gerados dentro das cidades, pode existir uma grande vantagem competitiva dos agregados reciclados com relação aos naturais. Entretanto, em ambos os casos, é necessária produção em larga escala para que a operação seja lucrativa o que torna muitas vezes a atividade incompatível com a necessidade de ocupação da malha urbana. Este é mais um argumento a favor da exploração de outros empregos no qual o RCD potencialmente tenha maior valor agregado, como matéria-primas para cerâmica de revestimento e cimento. O uso do RCD como matéria-prima cerâmica (incluindo indústria de cimento) tem sido objeto de investigação em países como Holanda, Japão e Espanha desde 1998. Na Holanda, o mercado da reciclagem como agregados para atividades de pavimentação irá saturar nos próximos anos (MULDER et al., 2003). Potencialmente, o RCD brasileiro é mais adequado como matéria-prima para a indústria cerâmica segundo os seus quesitos químicos (ANGULO et al, 2002). No Brasil, os mercados das matérias-primas da indústria cerâmica, de forma isolada, não são capazes de absorver integralmente o RCD. Mas, caso haja maior interesse econômico e/ou ambiental, ele pode ser explorado. Uma parcela de 30% dos mercados das matérias-primas de cerâmica vermelha, de cerâmica de revestimento e de cimento poderia empregar algo em torno de 60% de todo o RCD (Figura 1).
0 20 40 60 80
Cer
verm
elha
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Vid
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uças
Mat
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s pr
imas
Consumo (milhões tpa)
Figura 1 Consumo brasileiro de matérias-primas cerâmicas (dados de TANNO, MOTTA, 2000)
A otimização da seqüência de operações unitárias de beneficiamento, a exploração de novas utilizações e o controle da qualidade dependem de caracterização. A caracterização tecnológica, na área da Engenharia Mineral, compreende o estudo de matérias-primas minerais visando o seu aproveitamento econômico, seja em um estudo dirigido ao seu beneficiamento mineral ou a adequação das especificações requeridas para a sua utilização (SANT´AGOSTINHO; KAHN, 1997; CHAVES, 1996; LUZ et al., 1998). Assim, o objetivo deste artigo é apresentar resultados preliminares de uma nova metodologia de caracterização dos RCD. Esta metodologia permite a descrição das
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características físicas, químicas e mineralógicas dos produtos obtidos pela reciclagem, sendo capaz de subsidiar a busca de novos mercados, o projeto destas instalações e o planejamento de sistemas de controle da qualidade. 2 METODOLOGIA
2.1 Amostragem
Foi realizada uma amostragem representativa dos produtos de duas instalações de reciclagem que operam na região de São Paulo. A instalação de Vinhedo (SP) é considerada de pequeno porte e a de São Paulo, situada no distrito de Itaquera, é de grande porte. A instalação de Itaquera processava dois produtos: cinza (proveniente de compostos à base de cimento) e vermelho (provenientes de resíduos cerâmicos, solos e demais materiais combinados), enquanto que a de Vinhedo somente o produto vermelho. A Figura 2 ilustra o procedimento de coleta. Pilhas alongadas foram construídas nas instalações para cada tipo de produto através da coleta diária, em quatros períodos regulares, no período de 20 dias. Quatro alíquotas de 65 kg (total de 260 kg) de cada produto foram novamente homogeneizadas através de pilha em laboratório sendo que uma alíquota (1/4) da pilha destinada aos ensaios de caracterização.
Coleta de amostras
Redução produto tipo C Redução produto tipo V
Produto tipo C Produto tipo V
Pilha tipo C Pilha tipo V
Alíquota caracterização Alíquota caracterização
Pilha tipo C Pilha tipo V
3744 kg
1872 kg 1872 kg
260 kg 260 kg
260 kg 260 kg
65 kg 65 kg
65 kg65 kg
Ativ
idad
es n
a in
stal
ação
Ativ
idad
es n
o la
bora
tóri
o
Coleta de amostras
Redução produto tipo C Redução produto tipo V
Produto tipo C Produto tipo V
Pilha tipo C Pilha tipo V
Alíquota caracterização Alíquota caracterização
Pilha tipo C Pilha tipo V
3744 kg
1872 kg 1872 kg
260 kg 260 kg
260 kg 260 kg
65 kg 65 kg
65 kg65 kg
Ativ
idad
es n
a in
stal
ação
Ativ
idad
es n
o la
bora
tóri
o
C igual a produto cinza e V igual a produto vermelho.
Figura 2 Obtenção de alíquota para ensaios de caracterização.
2.2 Classificação granulométrica e cominuição secundária
A classificação foi realizada por peneiramento em peneiras com aberturas de 25,4; 19,1; 12,7; 9,52; 4,76; 2,38; 1,19; 0,59; 0,297; 0,149 mm. Estas frações foram identificadas como Tal Qual (TQ).
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A fração retida na peneira de abertura de malha 25,4 mm foi cominuída em laboratório em britador de mandíbula (marca Furlan modelo BM 2010). A abertura da mandíbula foi equivalente à dimensão máxima definida para Itaquera cinza e Vinhedo vermelho. A mandíbula ficou toda fechada para Itaquera vermelho. As frações foram classificadas nas mesmas peneiras e identificadas como Britado (B). Após a britagem, o produto foi combinado com a fração da amostra original com menos de 25,4mm.
2.3 Análise química das frações granulométricas
As diversas frações granulométricas foram caracterizadas quanto a composição química. A análise química quantitativa foi realizada por FRX (fluorescência de raios X) em amostra fundida, com análise de teores dos onze óxidos de maior abundância, sendo eles: SiO2, Fe2O3, Al2O3, CaO, MgO, Na2O, K2O, MnO, TiO2, P2O5, SO3. O equipamento empregado foi espectrômetro Pan Panalytical Magix-Pro. Adicionalmente foi realizada a medida de perda ao fogo.
2.4 Separação por líquidos densos
As frações granulométricas (> malha 4,8 mm) foram objeto de separações por líquidos densos nas seguintes densidades de corte: 1,9 kg/dm3 com solução de cloreto de zinco (ZnCl2) e água, e em 2,2 e 2,5 kg/dm³ com solução de bromofórmio e álcool etílico. Os resultados de separação da fração miúda não serão apresentados neste trabalho por razões de espaço, entretanto, eles fazem parte da metodologia.
2.5 Caracterização física dos produtos da separação
Os produtos da separação por líquidos densos foram caracterizados quanto a critérios físicos de agregados como massa específica aparente e absorção de água, conforme procedimentos da NBR 9937/87. Os resultados de caracterização química e mineralógica também não serão apresentados neste trabalho por razões de espaço, entretanto, eles fazem parte da metodologia, incluindo um estudo de composição de fases dos agregados empregando diferentes métodos. 3 ANÁLISE DE RESULTADOS
3.1 Granulometria das frações
A granulometria dos produtos obtidos nas instalações de reciclagem de RCD pelas operações de cominuição e classificação é adequada ao uso como agregados. A fração graúda corresponde 50% do total (Figura 3). Desta forma, somente 50% da produção nas instalações poderiam potencialmente ser utilizados como agregados para a produção de concretos uma vez que o uso da fração miúda é restringido na especificação da RILEM (RILEM RECOMMENDATION, 1994). Conclui-se que uma instalação de reciclagem de RCD deve considerar necessariamente uma outra aplicação concomitantemente com esta para ser eficiente do ponto de vista técnico e econômico.
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0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
VI V
IT C
IT V
Pro
duto
s
% em massa
graúdo
graúdo
graúdo
miúdo
miúdo
miúdo
Figura 3 Fração graúda e miúda dos produtos das instalações.
A Figura 4 mostra as distribuições granulométricas acumuladas dos produtos graúdos das instalações. Os produtos TQ das instalações apresentam distribuições semelhantes enquanto que a regulagem da mandíbula na cominuição secundária altera significativamente a distribuição dos produtos B (curva IT V B). Uma regulagem de abertura de mandíbula permite uma melhor adequação da distribuição dos produtos como agregados graúdos para concretos.
0
20
40
60
80
100
1 10 100
Diâmetro de Partículas (mm)
Freq
uênc
ia a
cum
ulad
a ab
aixo
(%)
IT C TQ
IT C B
IT V TQ
IT V B
limite ABNT-B1
VI V TQ
VI V B
Figura 4 Distribuições granulométricas dos produtos graúdos e especificação.
3.2 Analise química das frações
Do ponto de vista químico, os produtos obtidos pelas operações de cominuição e classificação são compostos majoritariamente por sílica (60 a 85%) e outros óxidos como Al2O3 e CaO. A fração passante em peneira de abertura de malha 0,15 mm é diferente das demais. A variação da composição química pode ser observada entre a fração graúda e miúda, não dependendo do tipo de produto ou da origem do resíduo da instalação (Figura 5).
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40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
19,1 12,7 9,5 4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 0,15 -0,15
Tamanho da partícula (mm)
Teor
es d
e S
iO2
(%)
IT C
IT V
VI V
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
19,1 12,7 9,5 4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 0,15 -0,15
Tamanho da partícula (mm)
Teor
es d
e A
l2O
3 (%
)
IT C
IT V
VI V
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
19,1 12,7 9,5 4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 0,15 -0,15
Tamanho da partícula (mm)
Teor
es d
e C
aO (%
)
IT C
IT V
VI V
Figura 5 Resultado de análises químicas, em teor dos três principais óxidos, para as diversas frações granulométricas.
Os resultados dos teores médios dos produtos foram confrontados com algumas especificações químicas de matéria-prima da indústria cerâmica. As aplicações de melhor conformidade frente às especificações foram matéria-prima de cerâmica vermelha e de revestimento (Tabela 2). A Tabela 3 mostra os teores médios de alguns óxidos de interesse para especificações de agregados. O teor de sulfatos totais dos produtos é inferior ao teor limite de sulfatos especificado pela RILEM. Esta especificação é utilizada para o uso de agregados graúdos reciclados em concretos.
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Tabela 2 Atendimento aos requisitos químicos de especificações de matérias-primas da indústria cerâmica (AMORIN et al., 2000; CARDOSO et al., 1998). Células brancas significam que o critério estabelecido foi atendido enquanto que células cinzas que não foi atendido.
Composição química – teores de óxidos (%) Aplicações RCD SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO Na2O K2O TiO2 SO3 PF
IT C 66,5 8,56 2,80 8,72 1,22 1,14 2,35 0,44 0,18 8,36 IT V 66,9 9,34 3,16 7,34 1,15 0,88 2,36 0,46 0,14 7,72
Cerâmica vermelha (estruturais)
VI V 69,5 9,81 3,14 5,98 1,07 0,68 1,99 0,51 0,27 6,76 IT C 66,5 8,56 2,80 8,72 1,22 1,14 2,35 0,44 0,18 8,36 IT V 66,9 9,34 3,16 7,34 1,15 0,88 2,36 0,46 0,14 7,72
Cerâmica branca (ball clays)
VI V 69,5 9,81 3,14 5,98 1,07 0,68 1,99 0,51 0,27 6,76 IT C 66,5 8,56 2,80 8,72 1,22 1,14 2,35 0,44 0,18 8,36 IT V 66,9 9,34 3,16 7,34 1,15 0,88 2,36 0,46 0,14 7,72
Cerâmica branca (caulins)
VI V 69,5 9,81 3,14 5,98 1,07 0,68 1,99 0,51 0,27 6,76
Tabela 3 Teores médios de alguns óxidos totais para os agregados reciclados.
Teores médios dos óxidos (em %) Produtos Fe2O3 MgO Na2O K2O SO3
Itaquera cinza 2,80 1,22 1,14 2,35 0,18 Itaquera vermelho 3,16 1,15 0,88 2,36 0,14 Vinhedo vermelho 3,14 1,07 0,68 1,99 0,27
3.3 Caracterização física dos produtos de separação
A Figura 6 mostra os resultados de massa específica aparente das frações granulométricas submetidas a separação em líquidos densos. Os valores médios de massa específica aparente (número em destaque) das frações encontram-se dentro dos intervalos de pesos específicos definidos pela separação.
1,97
2,61
2,20
1,8 1,9 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8
> 2.
52,
2 <
d <2
,51,
9 <
d <2
,2
Faix
a de
sep
araç
ão (k
g/dm
³)
Massa específica aparente (kg/dm³)
Figura 6 Resultados de massa específica aparente das frações granulométricas submetidas a separação em líquidos densos.
A Figura 7 apresenta a distribuição (m/m) da fração graúda em função do intervalo de densidade medido pela separação por líquidos densos. Os resultados demonstram que não houve diferença significativa entre a distribuição de massa nos intervalos de
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densidade do produto vermelho e cinza de Itaquera. A classificação dos agregados graúdos como “cinza” e “vermelho” é pouco precisa. Já a distribuição de massa do produto vermelho de Itaquera foi muito diferente da obtida no produto vermelho de Vinhedo, uma vez que os agregados graúdos de Itaquera apresentam maior participação de produtos de separação acima de 2,2 kg/dm³ enquanto que os de Vinhedo apresentam maior participação de produtos de separação abaixo deste valor.
0% 10% 20% 30% 40% 50%
< 1,
91.
9 - 2
.22.
2 - 2
.5>
2,5
Den
sida
de d
o líq
uido
(kg/
dm³)
Massa da fração graúda (m/m)
IT V IT C
VI V
Figura 7 Distribuição normalizada (m/m) da fração graúda em função dos produtos de separação.
Como os produtos de RCD têm composição química, massa específica aparente e absorção de água muito similares (Tabela 4 e 5), conclui-se que os agregados do produto vermelho e cinza de Itaquera apresentam a mesmas características físicas quanto a massa específica e absorção de água, inclusive de resistência mecânica. Já o produto vermelho de Vinhedo possui maior concentração de produtos porosos e, portanto, de menor resistência mecânica que o do produto vermelho de Itaquera. Desta forma, a classificação do RCD de acordo com a cor foi pouco efetiva para estas propriedades. Os produtos do intervalo de peso específico inferior a 1,9 kg/dm³ não devem ser utilizados como agregado em razão da presença de resíduos não minerais, tais como plásticos, materiais betuminosos, madeira, dentre outros. Os produtos de separação por meio denso contidos no intervalo de peso específico 1,9 < d < 2,2 kg/dm³ não atendem a especificação da RILEM para uso dos agregados graúdos em concretos estruturais comuns (resistência mecânica até 50/60 MPa) quanto ao critério massa específica aparente (Tabela 4) e absorção de água (Tabela 5), quando presentes em teores superiores à 57%.
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Tabela 4 Resultados de massa específica aparente para os produtos da separação
1,9 < d < 2,2 2,2 < d < 2,5 d > 2,5 Produtos IT V VI V IT C IT V VI V IT C IT V VI V IT C
-25,4+19,1 mm 1,99 1,93 2,03 2,14 2,27 2,34 2,62 2,61 2,60 -19,1+12,7 mm 2,02 1,90 1,99 2,12 2,24 2,18 nd 2,62 2,59 -12,7+9,5 mm 1,98 1,83 1,93 2,12 2,15 2,15 2,59 2,67 2,63 -9,5+4,8 mm 1,88 1,96 1,95 2,15 2,09 2,11 2,60 2,58 2,60 Média 1,90 1,97 1,97 2,19 2,13 2,19 2,61 2,62 2,61 Desvio-padrão 0,05 0,06 0,04 0,08 0,01 0,10 0,02 0,04 0,02
O texto em cinza indica o não atendimento dos valores frente às especificações de uso como agregados graúdos reciclados em concretos sem limite de resistência mecânica.
Tabela 5 Resultados de absorção de água para os produtos da separação
1,9 < d < 2,2 2,2 < d < 2,5 d > 2,5 Produtos IT V VI V IT C IT V VI V IT C IT V VI V IT C
-25,4+19,1 mm 7,1 11,6 7,9 3,8 7,1 4,3 0,7 0,9 1,3 -19,1+12,7 mm 6,4 11,8 9,2 3,9 7,4 6,9 nd 0,6 1,4 -12,7+9,5 mm 6,5 14,7 10,3 5,5 8,2 6,4 1,1 0,3 1,0 -9,5+4,8 mm 10,5 9,4 10,5 7,0 7,6 7,4 1,3 1,3 1,1 Média 7,6 11,9 9,5 5,0 7,6 6,2 1,0 0,8 1,2 Desvio-padrão 2,0 2,2 1,2 1,5 0,5 1,4 0,3 0,4 0,2
O texto em cinza indica o não atendimento dos valores frente às especificações de uso como agregados graúdos reciclados em concretos sem limite de resistência mecânica.
Os demais intervalos de pesos específicos superior a 2,2 kg/dm³ são potencialmente adequados para uso como agregados graúdos em concretos estruturais comuns. Cerca de 70% da massa dos agregados produzidos em Itaquera e 50 % dos agregados produzidos em Vinhedo tem esta característica. Assim a inclusão de equipamento na instalação para realizar separação por densidade permitiria obter agregados de melhor qualidade do ponto de vista mecânico, viabilizando aplicações de maior valor agregado. 4 CONCLUSÕES
A metodologia desenvolvida tem se revelado eficiente em descrever em detalhe as características relevantes dos agregados reciclados. Os agregados de RCD atendem grande parte dos requisitos químicos como matéria-prima cerâmica (vermelha e de revestimento). A composição química dos agregados oriundos de Itaquera e Vinhedo foi similar e foi independente da classificação de acordo com a cor, variando apenas em função do tamanho das partículas. Além disso, a ferramenta de separação por densidade em um produto cuja composição química é bastante homogênea permite obter a distribuição de massa específica aparente das partículas de forma eficiente. Os resultados de distribuição de massa através da separação em líquidos densos e de caracterização físico-química demonstram de maneira objetiva que a classificação dos agregados de acordo com a cor é, na melhor das hipóteses, imprecisa. Os resultados da separação por densidade nas amostras representativas de duas instalações de reciclagem brasileiras demonstram que uma fração significativa dos produtos atenderia requisitos físicos e poderiam ser utilizados em concretos estruturais comuns, desde que atendam os requisitos químicos.
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Estudo de desempenho mecânico com os produtos da separação por líquidos densos está sendo realizado, com o objetivo de comprovar a eficiência na produção de concretos estruturais comuns. Quanto aos requisitos químicos, os teores de sulfatos totais medidos nos produtos foram inferiores ao limite especificado pela proposta de normalização internacional para sulfatos solúveis, permitindo sugerir a viabilidade da utilização em concretos estruturais comuns desde que a instalação de reciclagem seja capaz de “classificar” os produtos de acordo com a densidade. Para analisar objetivamente esta possibilidade será realizado um estudo simulando um lay-out de instalação incluindo concentração por jigagem. 5 AGRADECIMENTOS
Este projeto é financiado pela FINEP, dentro do programa HABITARE e com recursos do Fundo Verde e Amarelo, pela FAPESP e pelo CNPq. Os autores gostariam de agradecer a Prefeitura de São Paulo (Sr. Dan Moche Schneider e funcionários) , a empresa NORTEC (Sr. Artur Granato e funcionários), a Prefeitura de Vinhedo (Sr. Geraldo, Sr. Henrique e demais funcionários) e os laboratórios LCT, LTM e CPqDCC da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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