arrendar casa ainda sai e há pouca...

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Arrendar casa ainda sai caro e pouca oferta MERCADO São precisas mais 70 milha- bitações para alugar. A procura é grande, mas os preços ainda estão muito altos. Nova lei está pronta e é conhecida este mês. actual págs. 2e 3

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Page 1: Arrendar casa ainda sai e há pouca ofertahabitacao.cm-lisboa.pt/documentos/1324559101D3oFE3lp9Rv12VD4.pdf · cutiva da Remax, empresa líder do mercado imobiliário, concorda. "Há

Arrendar casaainda sai caroe há pouca ofertaMERCADO São precisas mais 70 milha-bitações para alugar. A procura é

grande, mas os preços ainda estãomuito altos. Nova lei está pronta e é

conhecida este mês. actual págs. 2 e 3

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Casas para arrendar são carase mercado espera por nova leiExpectativa. Mercado de arrendamento está estagnado. As casas que existem para alugar são caras e proprietários espe-ram pela nova lei para colocar mais habitações no mercado. Custos são demasiado altos e a procura está a aumentar

LUÍS FONTES

"Procuro apartamento TO ouTl.Preço: 275 euros." António Gois,trabalhador-estudante, de 41

anos, colocou o anúncio este mêsà espera de uma resposta. "Poreste preço ninguém liga", diz comdesalento António, cuja procura"há cerca de um ano" se estendepela Internet e páginas de jor-nais. "Em Lisboa pedem valoresexorbitantes. "HáTO disponíveiscom uma renda mensal de 700 e

800 euros. Isto é incomportávelpara o meu orçamento" afirma o

candidato a inquilino, que neste

momento vive em casa de fami-liares enquanto tira o mestradoem Educação. "A casa mais bara-ta que encontrei foi na Pontinhapor mais de 300 euros", explica.

Luís Lima, presidente da Asso-

ciação dos Profissionais e Empre-sas de Mediação Imobiliária de

Portugal (APEMIP), conhece este

tipo de problema e sabe fazer o

diagnóstico. "Há neste momentoquatro vezes mais procura queoferta. O mercado de arrenda-mento precisa de mais 60 a 70 milcasas para arrendar", considera o

presidente da APEMIP. "As rendas

estão especuladasporque os proprie-tários não sentemconfiança na ac-tual lei do arrenda-mento e a nova leinunca mais é pu-blicada", afirmaLuís Lima (ver en-trevista ao lado).

Nesta nova lei o

prazo para despe-jo de inquilinosem caso de in-cumprimentocontratual será de

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três meses. "Isso irá trazer outraconfiança aos proprietários paracolocarem as casas no mercado",considera.

Maria da Luz tem 32 anos e éeducadora de infância no Porto.Há sete meses que procura casa."O dinheiro que pedem é proibiti-vo. Sou solteira e vivo em casa dosmeus pais porque não posso pagar600 euros mensais por um TO

quando tive de entregar uma casa

que estava a pa-gar ao banco por-que pagava 400euros mensais.Há casas mais ba-ratas para arren-dar que não têmas mínimas con-dições de habita-bilidade. Já mechegaram a pedir300 euros poruma casa semcondições e avi-saram logo quenão passavam re-

cibo. Neste momento ganho 600euros e vou continuar a viver coma ajuda da minha família", afirmaMaria da Luz.

Luís Menezes Leitão, da Asso-

ciação Lisbonense de Proprietá-rios (ALP) também conhece este

tipo de problema: "Cada vez hámais pessoas a entregar as casasao banco. Estamos a assistir a umacrise dramática num mercado quenão está regulado. Neste momen-to de emergência essas pessoasdeveriam poder viver em casas ar-rendadas. Mas a nova lei nuncamais é publicada e os proprietá-rios vivem no impasse. Preferemnão alugar. Logo que a nova lei es-

teja pronta estou convencido de

que os preços das rendas irão bai-xar, porque vai existir mais oferta",afirma o presidente da ALP.

Beatriz Rúbio, presidente exe-cutiva da Remax, empresa líder domercado imobiliário, concorda."Há neste momento muita procu-ra e pouca oferta num mercadoque cresceu, na Remax, 50 porcento em relação ao ano passado."

A presidente executiva ilustra o

"apetite" do mercado com o factode terem colocado na semanapassada um prédio com váriosapartamentos TO e Tl para arren-dar. "Ficámos logo com todos os

apartamentos arrendados a pre-ços que oscilam entre os 350 eurose 400 euros. Logo que saem coisas

assim, esgotam", assegura BeatrizRúbio.

O volume de negócios da Re-max neste momento é de 55 porcento de vendas e 45 de arrenda-mento. "Os preços estão muitoselevados mas irão estabilizar", afir-ma a responsável da Remax.

Miguel Poisson, director- geralda mediadora ERA, aponta a es-cassez de acesso ao crédito à habi-tação como causa de deflexão domercado de venda imobiliária. "Oarrendamento surge como opçãode recurso, embora o sonho dos

portugueses passe pela compra decasa", afirma.

Miguel Poisson estudou o tema:"Em 2007, o crédito bancário con-cedido era no valor de mil e 700milhões de euros. Os últimos nú-meros do Banco de Portugal apon-tam para 200 milhões de eurosmensais. Ficou seis vezes menor."

Nova lei doarrendamentoserá publicadapara o anoPROPOSTA A ministra do Ambientee do Ordenamento do Território játem preparada uma antepropostapara a revisão da Lei do Arrenda-mento. Fonte do gabinete de As-

sunção Cristas confirmou ao DNque o documento será entreguena Assembleia da República aindaeste mês "conforme está previstono Memorando de Entendimento,assinado com a troika".

O documento foi entregue napresidência de Conselho de Minis-tros e deverá sofrer alterações an-tes de ser apresentado na AR. Apublicação da lei acontecerá em2012. 0 mercado deverá ser libera-

lizado e as rendas deverão estabi-lizar com algumas excepções parajovens arrendatários, famílias ca-renciadas e reformados. Uma dasmedidas que constará na nova lei(anunciada por ocasião do PEC IV)será o despejo extrajudicial emtrês meses por quebra contratualentre inquilino e proprietário.

A anteproposta terá tambémpresente a redução do prazo denotificação de cancelamento dearrendamento por parte do senho-rio e também a limitação da possi-bilidade de transmitir o contrato aum parente em primeiro grau.

600 empresasdo ramoimobiliáriofecham portasFALÊNCIAS Segundo a APEMIR atéao final do ano deverão ter fecha-do 600 empresas de imobiliárionum ramo em que operavam cer-ca de 3000. As empresas mais tra-dicionais, sem acesso abanca, são

as mais fragilizadas. A actual situa-

ção em que os potenciais compra-dores não têm acesso ao crédito ea estagnação do mercado de ar-rendamento são o principal moti-vo para as falências.

Em Portugal, segundo os dados

provisórios dos Censos 201 1 divul-gados pelo Instituto Nacional deEstatística (INE), 62,4 por centodos contratos de arrendamentosão inferiores a 300 euros e meta-de destes pagam menos de 75 eu-ros. Segundo o estudo, "existem786 mil alojamentos familiares ar-rendados, o que representou umdiminuto crescimento de 43 479fogos face a 2001 .Portugal, segun-do um estudo da ConfederaçãoPortuguesa da Construção e doImobiliário, "é o segundo país on-de se verifica um maior número decasas próprias, registando um va-lor de 76 por cento". Apenas é su-perado pela Espanha. Na décadade 80, o valor do arrendamento re-presentava 52 por cento.

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ENTREVISTA: LUÍS LIMAPresidente daAPEMIP

U CltVttSO na lei do arrendamento é uma das principais críticas do presidenteda Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal,

que aponta ainda o dedo à especulação com o preço das rendas

"As rendas estão especuladase têm de baixar 20% a 30%"

A crise no imobiliário arrasta- sehá anos. Como se inverte a si-

tuação?O imobiliário e, em especial, a ha-bitação estão em crise já desde2003/2004, o que acabou por serpositivo para todos nós. Fez comque não tivéssemos uma bolhaimobiliária como a Irlanda e aEspanha e os preços acabaram pornão sofrer uma especulação tãogrande. De qualquer forma, tudose alterou há cerca de dois anos,com a crise financeira que veioafectar todos por igual.E qual é a solução?Julguei que este seria o ano da rea-bilitação e do arrendamento, fun-damentais para se dar a volta. Massem celeridade nos despejos e sema adopção de uma taxa liberatóriaque diminua a carga fiscal não será

possível dinamizar nem o arren-damento nem a reabilitação urba-na. O investidor quer saber qual orisco do negócio e qual a rentabi-lidade.Alei do arrendamento tarda...Eu espero que dentro de dias saia

alguma coisa. Porque não pode-mos cometer os erros do passado.Se não há crédito para a comprade casa nova também não vai haver

para as reabilitadas, por isso pre-cisamos urgentemente da nova leidas rendas. Porque é o sucessodesta que levará, por arrasto, aosucesso da reabilitação.Há quem diga que há mais casas

para arrendar já hoje.Não é verdade. Pelo menos, nãocom expressão. O que há é mais vi-sibilidade nas casas que estão paraarrendar, pela atenção que rece-bem das imobiliárias.

O que é uma alteração significa-tiva na forma de estar das media-doras. Elas já estão preparadaspara abordar o mercado do ar-rendamento?Têm de estar, é o único mercado

que têm. Eu sempre defendi umatransferência gradual porque já se

antevia que os números da com-pra e venda não se iam mantereternamente. Infelizmente issonão aconteceu. O crédito acaboude repente e agora a atenção é toda

para o arrendamento. O paradig-ma está a mudar.Há mais procura?Há muito mais procura do queoferta, o que faz com que o pro-prietário saiba, de antemão, que

PERFIL

LUÍS CARVALHO LIMA> 50 anos

> Fomado em Gestão de

Empresas> Está no seu segundo mandatoà frente da APEMIP. É tambémvice-presidente da

Confederação Portuguesa da

Construção e do Imobiliário,tendo tido uma participaçãoactiva na criação da

Confederação do Imobiliáriode Língua Oficial Portuguesa.Foi distinguido este ano com o

prémio PersonalidadeImobiliária do Ano.

pode colocar a renda acima dovalor do mercado caso ache quecorre risco com o arrendatário. O

que acho mal, porque as rendasdos imóveis arrendados estão es-

peculadas. Ainda há pouco foramconhecidos os factores de correc-ção e eu defendi que as novas nãodeviam ser actualizadas porque jáestão demasiado elevadas para o

que seria um valor razoável. A APE-MIP fez uma sondagem e concluiu

que 50% das pessoas acham queestão a pagar uma renda acima das

suas possibilidades. No futuro isso

pode ser muito complicado e eujá dei essa indicação ao Governo.Corremos o risco do incumpri-mento no arrendamento aumen-tar.Quanto é que as rendas deveriambaixar?As rendas estão 20% a 30% acimado valor do mercado. E é para quenão digam que sou injusto. Nãocritico os proprietários, o merca-do proporciona-se, mas as rendasdeviam baixar, pelo menos, nessaordem de grandeza.Os senhorios estarão sensíveis aisso?Têm de estar. Veja a compra evenda. Houve pessoas em 2003,2004 e 2005 que pediam tanto pelascasas que eu dizia que só as tinham

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à venda na cabeça deles. A partemais forte era a oferta. Hoje o mer-cado mudou e é preciso não repe-tir os mesmos erros.A nova lei do arrendamentopodia ajudar?Será necessário um ano para criara dinâmica de mercado. Mas acre-dito que se a lei sair até ao fim do

ano, em 2012 o arrendamentopossa já abranger 25% ou 26% da

população, em vez dos actuais19,3%. E com o aumento da ofer-ta as rendas acabarão por estabi-lizar. Toda a gente procura umarenda entre 350 e 450 euros. Diga--me onde é que há umTl minima-mente aceitável por esse valor.

Quantas casas são precisas?Para equilibrar a oferta e a procu-ra precisávamos de 60 a 70 milcasas. Julgo que haverá 350 milimóveis para vender, dos quais 140mil serão novos. Se se retirassemdaí as tais 60 a 70 mil casas, resol-viam-se dois problemas em simul-tâneo.E a taxa liberatória?Sabemos que há resistência aonível do Ministério das Finanças.Apresentámos um estudo do im-pacto da medida, provando queuma taxa de 21,5% geraria recei-tas fiscais de 1,06 mil milhões deeuros em três anos. É urgente, por-que a reabilitação é a única tábuade salvação que temos para aju-dar a estancar este aumento enor-me do desemprego. A cada dia quepassa fecham entre uma a duas

empresas da construção e imobi-liário e são mais cem pessoas no

desemprego. Só na mediação temo

que fechemos o ano com menos20% de empresas, num universototal de três mil. E a banca tem deser mais sensível às dificuldades e

estar mais disponível para nego-ciar planos de regularização de dí-vidas, quer com empresas quercom famílias. A entrega de imóveistem vindo a aumentar, suponhoque a banca não queira ficar donade todo o património imobiliárioem Portugal.

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