arquitetura e mobiliÁrio de bibliotecas e brinquedotecas: um estudo de caso

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ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO 1 ÍNDICE INTRODUÇÃO 03 OBJETIVO 04 Obetivos Gerais 04 Objetivos Específicos 04 METODOLOGIA 06 A Pesquisa Bibliográfica 07 CAPÍTULO 1. SELEÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO 09 CAPÍTULO 2. HISTÓRICO 11 2.1 Contexto Municipal 12 2.2 Uma mudança Significativa 18 2.3 A situação atual das Bibliotecas Infanto-Juvenis 21 CAPÍTULO 3. CASOS ESTUDADOS 23 C3.1 Vista às bibliotecas selecionadas 24 C3.2 Outros levantamentos 25 Biblioteca Infanto- Juvenil Monteiro Lobato 26 Biblioteca Infanto-Juvenil Anne Frank 43 BIJ Hans- Christian Andersen 57 Outras bibliotecas 67 Mobiliário das Bibliotecas 80 CAPÍTULO 4. MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS 107 Introdução 107 A origem 108 Modernidade 112 O Mobiliário das Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo 115

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Relatório Final de iniciação científica da pesquisa Arquitetura e Mobiliário de Bibliotecas e Brinquedotecas: um estudo de caso. Desenvolvida por Mariana Martinez Wilderom e orientada pela Prof.a Dr.a Cibele Haddad Taralli, durante o curso de graduação da FAUUSP em 2004. Caso queira alguma informação ou utilize o material, favor entrar em contato com [email protected]

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ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 03 OBJETIVO 04 Obetivos Gerais 04 Objetivos Específicos 04 METODOLOGIA 06 A Pesquisa Bibliográfica 07 CAPÍTULO 1. SELEÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO 09 CAPÍTULO 2. HISTÓRICO 11 2.1 Contexto Municipal 12 2.2 Uma mudança Significativa 18 2.3 A situação atual das Bibliotecas Infanto-Juvenis 21 CAPÍTULO 3. CASOS ESTUDADOS 23 C3.1 Vista às bibliotecas selecionadas 24 C3.2 Outros levantamentos 25 Biblioteca Infanto- Juvenil Monteiro Lobato 26 Biblioteca Infanto-Juvenil Anne Frank 43 BIJ Hans- Christian Andersen 57 Outras bibliotecas 67 Mobiliário das Bibliotecas 80 CAPÍTULO 4. MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS 107 Introdução 107 A origem 108 Modernidade 112 O Mobiliário das Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo 115

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CAPÍTULO 5. ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS 124 Introdução 124 Origem da Arquitetura Moderna e o Contexto Brasileiro 125 A Arquitetura das Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo 127 O Convênio Escolar 130 CAPÍTULO 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 137 BIBLIOGRAFIA 141

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INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta o resultado da pesquisa desenvolvida sobre o histórico de implantação da arquitetura e do mobiliário das Bibliotecas Infanto-Juvenis e Brinquedotecas na cidade de São Paulo sob o enfoque da arquitetura e do mobiliário desses equipamentos. O processo envolveu constantes reajustes e redirecionamentos, em busca de um alinhamento entre os questionamentos iniciais e o desenvolvimento e a obtenção de material de pesquisa e documentação , visando a fundamentação de uma análise ampla sobre a temática de estudo, por vezes dificultada pela escassez de publicações e dados sobre o assunto.

Este volume está organizado visando gerar, primeiramente, a compreensão do universo de estudo discutindo e analisando, a seguir, o material coletado.

O capítulo 1 contextualiza o histórico da implantação das bibliotecas no Brasil e na cidade de São Paulo, chegando até a estruturação da rede Infanto-Juvenil. No Capítulo 2, são apresentados os estudos de caso que geram o material da pesquisa de campo que será exposto no capítulo 3. O capítulo 4 e 5, tratam, respectivamente, de análises do mobiliário e da arquitetura, visando contextualizar a produção que contempla as Bibliotecas Infanto-Juvenis dentro da produção nacional e das tendências e influências internacionais. Encerrando o percurso de estudo, o capítulo 6 faz uma análise de todos os processos e materiais que compõem essa pesquisa, analisando e levantando as questões quanto ao futuro desses equipamentos.

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OBJETIVOS

Objetivo Geral

A pesquisa Arquitetura e Mobiliário de Bibliotecas e Brinquedotecas: um estudo de caso iniciou-se com a proposta de estudar e de reconhecer na implantação desses equipamentos, o modo como se organizam e, dentro desse processo, como a arquitetura, os móveis e os materiais que compõem seu espaço, se relacionam e contribuem para o desempenho de suas funções. Com base nessas observações, propunha-se uma análise dos aspectos conceituais, programáticos e operativos que incidem na configuração desses espaços, além de verificar se estes aspectos influem na seleção do mobiliário específico para os usos a que se destinam. Havia, nesse procedimento, a preocupação em investigar a existência de eventuais correspondências ou identidades entre as propostas arquitetônicas e o design, incluindo o arranjo do ambiente interno composto por móveis e equipamentos projetados especificamente para esta função, ou ainda pelo do uso de mobiliário padrão encontrado no ambiente escolar, residencial ou institucional (setor de serviços).

Os objetivos acima descritos contemplavam as duas tipologias de equipamento publico e coletivo, a Biblioteca e a Brinquedoteca, equipamentos autônomos e independentes, mas por vezes complementares, que atuam expressivamente no desenvolvimento e educação de crianças na faixa etária do pré-escolar ao ensino fundamental.

Objetivos Específicos

-Estudar as bibliotecas infanto-juvenis e brinquedotecas1 do município de São Paulo do ponto de vista do histórico da sua implantação, identificando a relação entre a arquitetura, o mobiliário, as políticas públicas, os programas e usos implantados.

-Estabelecer uma linha cronológica de evolução do mobiliário e do projeto arquitetônico para a rede de BIJs,2 levantando, documentando e analisando as variáveis que incidem na formulação, na organização e no funcionamento das bibliotecas públicas direcionadas a este público. 1 Embora a intenção inicial fosse pesquisar esses dois equipamentos, o levantamento sobre as brinquedotecas apontou alguns problemas de execução, limitando o levantamento à caracterização deste serviço, sem detalhamento na análises, conforme explicado a seguir na metodologia.

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-Verificar aspectos relativos às relações de identidade visual e projetual entre a arquitetura e todos os produtos que configuram os seus espaços (mobília, sistemas de objetos e equipamentos), assim como as inter-relações entre as propostas pedagógicas e técnicas com as características espaciais. Dentre as relações que incidem nos espaços estudados, estão também àquelas fomentadas por políticas públicas.

-Ampliar a análise da arquitetura e mobiliário com o contexto da produção brasileira e de suas respectivas características de produção do mobiliário (processos, materiais e meios).

2 Sigla utilizada para definir uma Biblioteca Infanto-Juvenil da rede pública municipal de São Paulo.

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METODOLOGIA

A metodologia considera o principio da correspondência projetual que embasa a produção da arquitetura, do design do mobiliário, com as políticas e programas sociais e culturais que sustentam o serviço de bibliotecas (e brinquedotecas) estudado. Isto é, parte -se do pressuposto da construção de uma relação de identidade entre os projetos, os ambientes e os programas estudados em cada tempo e lugar. Para buscar estas características utilizou-se de vários métodos de pesquisa, como pesquisa bibliográfica; visitas iniciais a equipamentos; entrevistas; seleção dos casos de estudo; levantamento de campo nas bibliotecas selecionadas; pesquisa na Secretaria de Cultura.

A amplitude do tema levou a execução de um levantamento preliminar do universo de estudo, visando delimitar o campo de estudo englobando os dois equipamentos.

Como resultado foi realizado um recorte que, em relação às Bibliotecas, resultou no reconhecimento de uma rede de Bibliotecas Infanto-Juvenis na cidade de São Paulo, a qual seria analisada sob um enfoque cronológico a partir das suas origens, desenvolvimento e identificação de períodos comparativos para o estudo dos objetivos propostos.

No caso da temática da Brinquedoteca, houve logo a princípio, uma dificuldade identificar uma rede, ou mesmo um conjunto de equipamentos representativos, ou padrões que direcionassem os estudos de caso. Com isso, primeiramente buscou-se compreender os conceitos que embasavam as atividades desenvolvidas na brinquedoteca do LABRIMP da USP (Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos). Por se tratar de um espaço Laboratório da Faculdade de Educação, pode-se contar com a colaboração de estudantes, funcionários e professores que contribuiriam fornecendo informações não só operativas e programáticas deste espaço, mas outras do ponto de vista acadêmico, de pesquisa. O material documental encontrado sobre os múltiplos conceitos que configuram esse equipamento, concentrava-se em análises do ponto de vista psicológico e pedagógico do brincar como atividade lúdica e educadora, e dentre as temáticas freqüentemente discutidas estavam: o brincar e sua importância para a formação da criança; o brinquedo e a educação e, algumas vezes, o espaço e a brincadeira3. Este foi o único equipamento com funcionamento autônomo encontrado na pesquisa exploratória, o que inviabilizou a ampliação da pesquisa sobre este equipamento.

Estas informações iniciais demonstraram a diversidade do campo de estudo proposto no plano de pesquisa, que supunha a existência equitativa de condições de implantação, e a disponibilidade de casos reais - bibliotecas e brinquedotecas – para os levantamentos. No caso das brinquedotecas, há ainda uma característica intrínseca e polêmica desses equipamentos que é o fato de que muitos desses dispositivos que se auto-denominam “quartinhos de brinquedos”, inseridos dentro de programas educacionais, culturais ou assistenciais, os quais

3 Temas expostos no Relatório Parcial da Pesquisa entregue em março/2005 e que constam no Anexo I

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apresentam deficiências quanto aos principais conceitos que regem este programa dentro de seus objetivos primordiais, como o desenvolvimento de atividades lúdicas e educativas, empréstimo de brinquedos e materiais de jogo.

Com isso, em relação as Brinquedotecas, houve um redirecionamento da pesquisa. Optou-se então, por não detalhar o estudo sobre estes equipamentos, pois além dos problemas explicitados anteriormente4, não se identificou durante o desenvolvimento da mesma, rede pública implantada e em funcionamento na cidade, denunciado uma inconsistência no prosseguimento dos levantamentos propostos, limitados ao estudo de caso isolado como o LABRIMP da USP, que sozinho, não geraria parâmetros de comparação essenciais para a análise proposta por esse trabalho. Os dados levantados estão apresentados no Anexo I.

Sendo assim, os materiais, dados e análises seguintes refere-se aos procedimentos de pesquisa em relação às bibliotecas públicas em São Paulo e seus desdobramentos.

A Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica iniciou-se abrangendo diversas áreas do conhecimento tais como a psicologia, a pedagogia, a arquitetura e a biblioteconomia, das quais buscou-se dados sobre as concepções, as visões de prestação de serviço, as políticas públicas, além dos conteúdos programáticos e específicos de cada área em relação à criança e o espaço.

Tendo redirecionado a pesquisa de maneira mais expressiva às bibliotecas infanto-juvenis, o levantamento bibliográfico deu ênfase à busca por informações que esclarecessem a origem do sistema de bibliotecas no Brasil e sua implantação gradativa, chegando até a esfera municipal, com a consolidação da rede de bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo. Posteriormente, tornou-se necessária a consulta de outro tipo de base como documentos e históricos fornecidos pelo departamento de bibliotecas, já que publicações sobre as Bibliotecas Infanto-Juvenis eram escassas, fornecendo apenas menções superficiais sobre a rede, que se confundiam freqüentemente com o histórico da rede pública de bibliotecas para o universo adulto.

Paralelamente a obtenção de informações sobre as políticas de implantação desses equipamentos, procurou-se estudar as relações cognitivas e de percepção do espaço pela criança, para que se pudesse analisar as demandas dos usuários e suas expectativas em relação às respostas arquitetônicas, de design do mobiliário e das características dos arranjos internos adotados nos casos estudados.

Estabelecidos as diversas concepções sobre as necessidades e as possibilidades de serviços que caracterizam o funcionamento de uma biblioteca, iniciou -se a pesquisa de campo, a qual adicionou outros conceitos e questionamentos orientando a uma segunda etapa de pesquisa bibliográfica. Esta atividade de busca de material bibliográfico referencial e teórico foi constante durante todo o processo de trabalho.

4 Somado às dificuldades de identificação de diretrizes de pesquisa para o recorte das brinquedotecas, houve a reforma da brinquedoteca do LABRIMP, que impossibilitaria a continuidade da pesquisa de campo durante o mês de julho.

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Na segunda etapa da pesquisa bibliográfica, após a análise dos primeiros materiais coletados em visita a campo, deu-se maior ênfase na obtenção de documentação relativa à produção arquitetônica, do design do mobiliário nacional, buscando estabelecer relações entre a produção nacional como um todo e aquela encontrada nos equipamentos públicos visitados. Buscou-se também estabelecer as influências no desenho e na produção dos espaços e móveis, numa tentativa de identificar as ideologias adotadas por arquitetos e designers participantes do processo.

As comparações entre os casos de estudo, e entre estes e o cenário arquitetônico e da indústria moveleira no país, são feitas através de referências visuais como fotos e desenhos obtidos em de livros publicações da época em que se estabelece correlações com o material fotográfico resultante das visitas técnicas, bem como dos demais materiais obtidos nesse processo.

Foram utilizadas também consultas a teses de mestrado e doutorado abordando temáticas como a informação e os dispositivos informacionais, dando suporte para a elaboração de novas questões que foram discutidas nas entrevistas e são expostas no presente trabalho.

A seguir, apresenta-se a descrição dos materiais consultados para a pesquisa relativa às Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo.

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CAPÍTULO 1. SELEÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO

A seleção dos casos de estudo foi promovida, em um primeiro momento, a partir da consulta à folhetos informativos e sites da prefeitura, contando indicações fornecidas pela bibliotecária Ivete Pieruccini, diretora do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria Municipal de Cultura no período de 2001 a 2003. A partir de sua experiência, Ivete forneceu contatos e descreveu informações sobre as características básicas de cada unidade implantada na cidade de São Paulo e a sua importância dentro do sistema das Bibliotecas Infanto-Juvenis.

Através dessas informações e de consultas à históricos fornecidos pelas próprias bibliotecas e o Departamento de Bibliotecas dentro da Secretaria Municipal de Cultura, construiu-se uma linha do tempo que expõe as bibliotecas da rede organizadas conforme às suas respectivas datas de inauguração.

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Quadro 1.1–HISTÓRICO DA IMPLANTAÇÃO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS - BIJ

30/40 50 60 70 80 90/00

1936- MONTEIRO LOBATO (Vila Buarque, Centro) – inauguração do prédio atual em 1950

1942- ANNE FRANK (Itaim Bibi, Zona Oeste)- inauguração do prédio atual em 1955

- 1952 HANS CHRISTIAN ANDERSEN (Tatuapé, Zona Leste)

- 1952 VIRIATO CORRÊA (Vila Mariana, Zona Sul)

- 1953 BENEDITO BASTOS BARRETO (Santo Amaro, Zona Sul)

- 1954 NARBAL FONTES (Santana, Zona Norte )

- 1956 ÁLVARO GUERRA (Pinheiros, Zona Oeste) P

- 1956 ZALINA ROLIM ( Saúde, Zona Sul)

7 de setembro de 1956

- ARNALDO MAGALHÃES DE GIACOMO (Tatuapé, Zona Leste)

- PABLO NERUDA (Vila Maria, Zona Norte)

- CECÍLIA MEIRELES (Vila Romana, Zona Oeste)

- CHÁCARA DO CASTELO (Jardim da Glória, Zona Sul)

- CLARICE LISPECTOR (Bairro Siciliano, Zona Oeste)

- LENYRA FRACCAROLI (Vila Nova Manchester, Zona Leste)

- PAULO SÉRGIO DUARTE MILLET (Mooca, Zona Leste)

- RICARDO RAMOS (Vila Prudente, Zona Leste)

- 1961 OPHELIA FRANÇA (Aclimação, Centro)

- 1965 ORÍGENES LESSA (Pirituba, Zona Norte)

- 1965 THALES CASTANHO DE ANDRADE (Freguesia do Ó, Zona Norte)

- 1966 CORA CORALINA

(Guaianazes, Zona Leste)

- 1966 JOSÉ PAULO PAES (Vila Formosa, Zona Leste)

- 1966 PADRE JOSÉ ANCHIETA (Perus, Zona Norte)

- 1967 ADELPHA FIGUEIREDO (Canindé, Zona Leste)

- 1971 SENHORA LEANDRO DUPRÉ ( Penha, Zona Leste)

- 1980 JOAQUIM JOSÉ DE CARVALHO, DR. (Jabaquara, Zona Sul)

12 de julho de 1981

- MARCOS REY ( Campo Limpo, Zona Sul )

- SYLVIA ORTHOF (Tucuruvi, Zona Norte)

- 1982 JOVINA ROCHA ÁLVARES PESSOA (Itaquera, Zona Leste)

- 1984 VINÍCIUS DE MORAES (Itaquera- COHAB, Zona Leste)

- 1986 ÉRICO VERÍSSIMO (COHAB, Parada de Taipas, Zona Norte)

- 1987 MALBA TAHAN (Veleiros, Zona Sul)

6 de novembro de 1988

- CAMILA CERQUEIRA CÉSAR (Butantã, Zona Oeste)

- CASTRO ALVES (Jardim Patente, Zona Sul)

- 1990 VICENTE PAULO GUIMARÃES (Vila Curuçá, Zona Leste)

- 1991 JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS (Parque Edu Chaves, Zona Norte)

- 1992 MENOTTI DEL PICCHIA (Limão, Zona Norte)

Legenda

Biblioteca padrão

Estudo de caso

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CAPÍTULO 2. HISTÓRICO

A implantação das bibliotecas se dá de forma gradativa e pontual. O histórico das bibliotecas públicas em São Paulo remonta à fundação da primeira Biblioteca Pública da Cidade, em 1825 (conforme documentação histórica do Departamento Municipal de Cultura) enquanto apenas em 1895 é instalada uma Biblioteca Pública Estadual. Quanto ao Departamento Municipal de Bibliotecas Públicas, este só vem a ser criado mais tarde, em 1907, sendo que a Biblioteca Municipal só funcionará, a partir de 1921.

Os anos mais importantes para a consolidação de um programa cultural nacional de maior abrangência se dão após a Revolução de 1930, quando Vargas assume a presidência do Brasil. Nessa época, o Estado lança as bases de uma política cultural que teve como marco inicial a criação do Ministério da Educação, e se desdobrou na formação de diversos outros órgãos. Segundo estudos do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil da FGV), nos anos 30 ocorre um entrelaçamento entre a cultura e a política, favorecendo um eixo estruturador dessas atividades no país. Desde os anos 20 já havia uma certa intenção, uma movimentação intelectual, colocando discussões sobre a identidade nacional e os rumos da sociedade brasileira nesse mesmo sentido.

Com a criação do Instituto Nacional do Livro, em 1937 por Gustavo Capanema (então Ministro da Educação) as Bibliotecas Públicas do Brasil, como um todo, passaram a contar com um respaldo oficial do governo. Dentre as atribuições desse órgão estavam: a edição de obras literárias julgadas de interesse para a formação cultural da população; a elaboração de enciclopédia e dicionário nacionais, e finalmente, a expansão, por todo o território nacional, do número de bibliotecas públicas. As bibliotecas, na definição de Capanema, eram necessárias por serem "centros de formação da personalidade, de compreensão do mundo, de auto-educação, enfim, centros de cultura"5.

Vários intelectuais passaram pelo Instituto Nacional do Livro durante o Estado Novo. Sua direção foi entregue inicialmente ao escritor, poeta e crítico literário modernista Augusto Meyer. Posteriormente, Sérgio Buarque de Holanda e Mário de Andrade também estiveram ligados ao instituto. Desde então, até 1990, data de sua extinção, foi esse o órgão responsável pela concepção e coordenação das políticas relacionadas às bibliotecas públicas brasileiras.

5 Trecho retirado do texto publicado no site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas. (www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/) acessado em 25/03/2005.

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C2.1 O Contexto Municipal

É dentro desse contexto histórico e político do país que se insere a origem da rede de Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo, contando com a ação de Mário de Andrade que em 1935 fundou, juntamente com Paulo Duarte, o Departamento Municipal de Cultura de São Paulo6, órgão que exerceria larga influência na democratização da cultura e do qual foi o primeiro diretor. O Departamento era composto por 5 divisões: Departamento da Divisão da Expansão Cultural (chefiado por Mario de Andrade); Divisão de Educação e Recreio (por Nicanor Miranda); Divisão de Documentação Histórica e Social ( por Sérgio Milliet e Bruno Rudolfer); Divisão de Turismo e Divertimentos Públicos (que não chegou a ser implantada). Para Mário de Andrade, a criação de um plano de equipamentos culturais para São Paulo serviria de referência deste serviço para todo o país, dentro de um projeto de reformulação cultural. A partir desses conceitos iniciais, a criação de uma rede de bibliotecas se mostrou como alicerce desse plano maior no âmbito nacional.

Reconhecendo a importância do segmento infantil para a educação, Mário de Andrade convoca Dona Lenyra Fraccarolli, na época uma educadora atuante na Escola Normal Caetano de Campos, para estruturar a proposta de criação de uma Biblioteca Pública Infantil, já que Lenyra era uma referência no funcionamento deste programa devido ao desenvolvimento de seu trabalho bem sucedido com a biblioteca do Colégio em que trabalhava. Em 14 de abril de 1936, foi então criada a Biblioteca Infantil Municipal, como parte de um amplo projeto de incentivo à cultura. Esta biblioteca, inicialmente um anexo da Biblioteca Pública, logo ganhou um prédio próprio: foi instalada em uma casa à Rua Major Sertório nº 639, na Vila Buarque, região central de São Paulo.

Nesse contexto, as Bibliotecas Infanto-Juvenis surgem a partir da criação da Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade, unidade central, marcando o início da articulação de toda a rede municipal de bibliotecas públicas.

Essa biblioteca recebeu a denominação de Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato e é a mais antiga biblioteca infantil em funcionamento do Brasil, precusora de outras similares no programa de ativudades. Atualmente, a rede de Bibliotecas Infanto-Juvenis conta com 36 unidades, sendo a unidade central BIJ Monteiro Lobato, assim como a Biblioteca Mário de Andrade se coloca como referência em relação às demais Bibliotecas Públicas da cidade de São Paulo.

A partir de 1937, com o advento do Estado Novo e a posse de Getúlio Vargas, uma grande Reforma se processa na Prefeitura. Assume a municipalidade o prefeito Prestes Maia que inicia uma série de modificações estruturais em seu órgão e no Departamento de Cultura que culmina, entre outros fatores, na expulsão de Mário de Andrade do Departamento. Como parte de suas ações como Prefeito, Prestes Maia entrega à população em 1942, o Prédio da Biblioteca Pública Municipal que a partir de 1960 é chamada de Biblioteca Mário de Andrade.

6 O ato de fundação do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo foi efetivado em 1936 pelo ato nº1146

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Em 1945, é criada a Secretaria de Cultura e Higiene, constituída pelos Departamentos de Cultura e Higiene e pelos serviços relativos ao Estádio Municipal, passando a ser novamente reestruturada em 1947, quando se cria a Secretaria de Higiene e a Secretaria de Educação e Cultura.

O período da reestruturação da rede de bibliotecas infanto-juvenis corresponde ao início do desenvolvimento da industrialização em São Paulo, quando a cidade assistia a um aumento sem precedentes da população, acarretando no incremento da demanda educacional e cultural do município. Os bairros industriais cresciam, e a população infantil requeria um maior número de equipamentos culturais e educacionais. É o caso do Itaim Bibi, bairro onde se instalou a segunda biblioteca da rede: A Biblioteca Infanto-Juvenil Anne Frank, em 1946, seguindo o modelo da BIJ M. Lobato quanto ao serviço oferecido - programa de atividades e espaços correspondentes.

Ainda que a biblioteca, dentro da formação e das influências trazidas por Lenyra Fraccarolli, propiciassem um ambiente formal, as atividades por ela idealizadas e, posteriormente desenvolvidas em toda a rede de Bibliotecas Infanto-Juvenis, durante as primeiras décadas de sua existência, caracterizam em equipamento recreativo e atuante no processo educacional, que envolve considerar as questões lúdicas como forma de aprendizado. Dentro desse processo, as bibliotecárias cumprem um papel fundamentalmente de educadoras, cuja presença é constante e a interação com o usuário é expressiva, não se limitando apenas a serviços técnicos, como o auxílio à busca por livros.

Fonte: Acervo da BIJ Anne Frank

Crianças participando da “Hora do Disco” na BIJ Anne Frank

"Na discoteca são as crianças instruídas pelas explicações das professoras e entram em contacto com os mestres da música recebendo esclarecimentos sobre histórias ouvidas, enchendo suas horas agradavelmente, em divertimento sadio que instrui. Há ainda: sala de leitura, sala circulante (onde as crianças conseguem livros emprestados pelo prazo de uma semana), sala de artes (pintura moderna, modelagens, confecções de fantoches), sala de jogos e revistas (devidamente selecionados), sala de gravuras.

A reportagem teve ocasião de ver as crianças entregues à leitura, aos divertimentos, jogos infantis, pintura, ou ouvindo boa música. Não há obrigatoriedade de qualquer espécie. São matriculadas de acordo com autorização de seus pais, freqüentando a Biblioteca nos dia que bem entendem. Não há notas, existindo porém a distribuição de prêmios, maneira de incentivar às crianças.”

Relato de Dorian Jorge Freire São Paulo, 23 de Maio de 1955 7

"Amplas salas decoradas com figuras infantis bastante populares proporcionam prazer e bem estar à garotada, durante as horas que lá permanece. Na sala de leitura, dotada de livros didáticos, de recreação, de ficção científica, para infanto-juvenis, dicionários e assuntos

7 * Esse recorte de jornal faz parte do acervo de memória da Biblioteca Infanto Juvenil Anne Frank. Não há informações do nome do jornal devido a um problema de arquivamento da biblioteca.

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diversos, uma educadora orienta carinhosamente os alunos tem sua tarefa escolar, auxiliando-os também em trabalho de pesquisa. A seção circulante, mediante autorização escrita dos pais, empresta livros às crianças, que podem conserva-los em seu poder durante sete dias, com a possibilidade desse prazo ser renovado” . Gazeta do Itaim, 19 de Setembro de 1962.

Fonte: Acervo da BIJ Anne Frank

“(...)a gente vinha principalmente pra brincar, pelo menos pra minha geração. Porque pra ler, tinha a Terezinha, que primeiro obrigava o pessoal a ler: primeiro tinha que ler, depois podia brincar. Porque se deixasse a gente só brincava. Ela fazia leitura, pegava livro de José de Alencar e lia capítulos. Cada dia um lia um capítulo e se não fizesse aquilo, não tinha brincadeira(...)Ela era uma professora.”

Neusa Lima

1962 - Crianças participando da atividade conhecida como “Hora do Conto”

As atividades desenvolvidas e organizadas pelas bibliotecárias dependiam também da sua dedicação e de suas aptidões, exigências demandadas pelo programa desenvolvido por Lenyra.

“Até a década de 80, a Biblioteca é muito enfeitada com pinturas nos vidros e colagens feitas em papel ou papelão pintados, todos alusivos aos vários personagens das histórias infantis (Andersen, Grimm, Monteiro Lobato, Disney). Esse trabalho é feito pelas funcionárias e renovado a cada seis meses.

Após os anos 80, atendendo à nova orientação do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria Municipal de Cultura, esse procedimento é interrompido (até porque as funcionárias com talento para esse trabalho aposentaram-se).”

Relato extraído do Histórico da Biblioteca Infanto-Juvenil Hans Christian Andersen

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Fonte: Acervo da BIJ Anne Frank

1962 - Crianças na Sala de Artes

No final da década de 40, período em que São Paulo passou de 2 milhões de habitantes em 19508, pressionado pelo déficit de equipamentos escolares, firma-se um acordo entre a Prefeitura Municipal e o Estado para ampliar e implantar novos equipamentos. O “Convênio Escolar”, como foi chamado, estabelecia que a prefeitura ficaria responsável pela construção de prédios escolares, enquanto o governo estadual seria responsável pelo ensino. As bibliotecas faziam parte desse plano, assim como parques infantis, centros de saúde, escolas pré-primárias, ginásios, escolas rurais, etc. Em relação às Bibliotecas Infanto-Juvenis, em 1950, assinou-se um decreto que estipulava a

8 Dados provenientes do livro Arquitetura escolar paulista : restauro / organização e edição Avany De Francisco Corrêa, Maria Elizabeth Peirão Corrêa, Mirela Geiger de Mello. São Paulo : FDE, 1998

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criação de bibliotecas nos novos bairros que se formavam, fato que vem ao encontro à atuação do Convênio. Apesar do reduzido período de atuação da comissão executiva do convênio escolar (1949-1954), esta representou uma significativa mudança na concepção desses equipamentos, não só do ponto de vista projetual, como também do ponto de vista das práticas pedagógicas.

Ainda que o ensino fosse rigoroso e formal no início da década de 50 (aspectos documentados em fotos pertencentes aos acervos das bibliotecas, reforçados por depoimentos de bibliotecárias), Os intelectuais que faziam parte da comissão executiva promoveram amplas discussões sobre aspectos sociais, culturais, pedagógicos e psicológicos da criança e de suas necessidades, incorporando em seus projetos princípios e diretrizes em sintonia com propostas educacionais avançadas, já discutidas e implantadas em outros países. Seus ideais influenciaram toda a programação, projeto e implantação da rede de escola e equipamentos de ensino que se formou posteriormente. Pode-se encontrar, na pouca documentação desse período, depoimentos de Helio Duarte, um dos principais arquitetos que integravam o grupo, que exemplificam essa nova proposta. No artigo especial da revista Habitat nº 4, de 1951, Duarte explica que os projetos do grupo foram baseados na experiência de Anísio Teixeira, educador e secretário da Educação, em Salvador, cujo principal aspecto era reconhecer as vantagens de entrosar em um mesmo âmbito escolar as atividades completivas e socializantes.

Durante a pesquisa, verificou-se que de fato, as escolas, bibliotecas e demais equipamentos projetados em cada bairro, eram considerados como peça fundamental do processo de formação e inserção social. Isso resulta na produção de bibliotecas projetadas com salas de artes, salas de música, áreas para leitura ao ar livre, teatro para projeção de filmes e apresentação de espetáculos.

Não se pode precisar exatamente o período de atuação da equipe do Convênio Escolar como um todo (já que no município o Convênio deu origem à EDIF9 mantendo alguns arquitetos da Comissão Executiva a serviço deste por algum tempo), embora se tenha documentado que o seu programa de atividades inicial fora estabelecido para ser cumprido em 5 anos, pois os conceitos ideológicos desta atuação influenciaram a arquitetura escolar em todo o Brasil, por um longo período de tempo. Após terem feito um levantamento e um mapeamento sobre aspectos censitários quantitativos e qualitativos do segmento infantil em idade escolar 10, a Comissão estabeleceu um plano qüinqüenal que previra a construção de grupos escolares, ginásios, teatros, bibliotecas, parques infantis e postos de saúde. Os edifícios seriam construídos dentro de uma hierarquia de rede, sendo as escolas, os núcleos estruturadores.

9 Departamento de Edificações da Secretaria de Serviços e Obras – Prefeitura Municipal de São Paulo 10 Segundo artigo de Hélio Duarte da revista Habitat nº4 de 1951.

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“Qual o teu futuro?” (legenda da foto acima)

Imagens extraídas do artigo sobre o Convênio Escolar da Revista Habitat n º4 (1951).

A partir de 1951 introduz-se o atendimento de Serviços de Biblioteca diferenciado por faixas etárias criando-se 2 divisões administrativas separadas para a gerência de cada programa: Divisão de Bibliotecas para o atendimento de jovens a partir de 15 anos e adultos e a Divisão de Bibliotecas Infanto-Juvenis e de Cinema Educativo para Crianças e Adolescentes. Dentro deste contexto é inaugurada, em 1952, a BIJ Hans Christian Andersen no Tatuapé, considerada a primeira biblioteca de Bairro. Através dela, pode-se entender o significado de todos os processos descritos até então, quanto ao desenvolvimento da rede de BIJs. Em relação ao conteúdo programático, são desenvolvidas atividades artísticas, teatrais e projeções de cinema. Essas atividades já iniciadas na época das BIJ Monteiro Lobato e Anne Frank, passam a contar também com o respaldo de uma arquitetura especialmente projetada para essas atividades. No desenvolvimento desta pesquisa pode-se identificar esse período, que abrange principalmente a década de 50, como uma época em que o serviço oferecido pelas bibliotecas infanto- juvenis de São Paulo possuía melhor interação e desempenho em relação aos materiais disponíveis para o exercício de suas atividades e em relação ao conteúdo programático e organizacional, o qual envolve políticas públicas de ensino, administrativas, etc.

No período seguinte, a partir de 1956, há a criação de um expressivo número de bibliotecas as quais Ivete Pierrucini11 reconhece como “bibliotecas padrão”. Estas visam atender a demanda por equipamentos públicos culturais que se avoluma desde meados da década de 50,

11 Em entrevista realizada pela autora em 08/06/2005, vide anexo IV.

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em virtude do crescimento populacional. Caracterizadas por serem implantadas a partir de um projeto padrão de arquitetura. Percebe-se que a crítica quanto a esses equipamentos se dá pelo pragmatismo peculiar a sua implantação. São, no total, 12 bibliotecas cujas plantas, mobiliário e capacidade de atendimento são praticamente idênticos, cada uma num bairro da cidade. Estas não refletem um programa arquitetônico e de atividades especializado para cada localidade, não reconhecendo a especificidade das demandas de cada bairro e comunidade a qual o equipamento se propõe a atender.

Em comparação com os equipamentos anteriormente implantados há, portanto, uma perda na diversidade arquitetônica devido à perda de um projeto de autor e das relações com as características de implantação do local, o que faz com que muitos estudiosos da rede pública reconheçam esses anos como o período de massificação das BIJs.

C2.2 Década de 70 – Uma mudança significativa

A bibliotecas implantadas após a série de bibliotecas-padrão (a partir de 1966, vide quadro 1.1), apresentam especificidades que fogem a um padrão pré-definido. A primeira após esse período de padronização é a Biblioteca Cora Coralina (1966) que, segundo Ivete Pieruccini, trata-se de uma biblioteca de grandes proporções, uma das maiores da rede, em contraposição com as pequenas bibliotecas do período anterior. Já a BIJ José Paulo Paes (1966) reúne BIJ e BP (Biblioteca Pública que atende ao público adulto) assim como a BIJ Adelpha Figueiredo (1967), mas que difere da espaçosa BIJ Padre José de Anchieta (1966).

Essa variação da tipologia ainda não caracteriza uma mudança tão significativa na rede como a verificada a partir da década de 70. Durante os anos 70, ocorre uma grande mudança em termos administrativos e organizacionais das Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo. Nas entrevistas realizadas com os técnicos Ivete Pieruccini12, Eulália Câmara Lobato13, Neusa Prado Lima14 e Alexandre Delijaicov15 fica claro o reconhecimento de todos eles, desse importante momento da história das Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo, indícios que levam à indicadores da desestruturação da rede, desvinculando-a de sua concepção original sem fornecer em troca um novo programa consistente, levando-a ao quadro crítico atual. Esse processo se inicia com a Reforma do Ensino de 1964, sendo que somente a partir de 1970 é que os reflexos começam a surgir.

“Por conta da Reforma de Ensino feita pelo Governo Federal e tendo em vista a Lei de Diretrizes e Bases de 1964, aumenta o número de freqüentadores juvenis que procura, diariamente, a Biblioteca para realizar seus trabalhos escolares, o que obriga a readequação dos espaços. Cria-se então, a Sala de Consultas (atual sala de Pesquisa), a partir de janeiro de 1966”.

Trecho extraído do Histórico da Biblioteca Infanto-Juvenil Hans Christian Andersen

12 Ivete Pieruccini é bibliotecária e foi diretora do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria Municipal de Cultura no período de 2001 a 2003. 13 Eulália Maria Câmara Lobato é bibliotecária chefe, e trabalha há 7 anos na BIJ H.C. Andersen 14 Neusa Prado Lima, bibliotecária há 34 anos na Biblioteca Infanto- Juvenil Hans Christian Andersen e usuária da mesma durante a sua infância 15 Arquiteto e Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

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Fonte: Acervo Histórico da BIJ Anne Frank

Sala de Estudos da BIJ Anne Frank em 1966.

As alterações no sistema de Ensino Público atingem a biblioteca, a partir do momento em que se institui a pesquisa escolar. Até então, a Biblioteca Infanto-Juvenil, apesar de sempre trabalhar com o público escolar, possuía um caráter sócio cultural, como elemento fundamental do processo de formação da educação. Porém, com o crescimento da demanda de materiais e espaço para a pesquisa exigida nas escolas, e com a assistência de um número reduzido ou mesmo da ausência de bibliotecas escolares, as BIJ tiveram que se adaptar rapidamente. As salas dedicadas à leitura e arte, perderam a prioridade em relação à sala de pesquisa. Em um registros que atestam a história da Biblioteca Infanto Juvenil Hans Christian Andersen16 aparece documentado o fechamento da Sala de Jogos em setembro de 1979 pela falta de funcionários, e o deslocamento de funcionários na década de 70, das salas de Arte e de Leitura para a Sala de Pesquisa, devido ao aumento da procura dos usuários para a realização de trabalhos escolares.

16 Histórico da Biblioteca Infanto- Juvenil Hans Christian Andersen ( Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo), elaborado em dezembro de 1998 com o auxílio de Aparecida do Carmo Martins(assistente social); Neusa Prado Lima (bibliotecária) e Eulália Câmara Lobato (bibliotecária-chefe).

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Um novo tipo de mobiliário era necessário, que comportasse grandes quantidades de alunos. Ivete Pieruccini aponta para esse processo como sendo a “a fase de escolarização da biblioteca pública”17:

Fonte: acervo histórico da BIJ H. C. Andersen

Bibliotecária e usuário, estima-se que a foto date do

final da década de 70.

Quando, em 1975, cria-se a Secretaria Municipal de Cultura e, dentro dela, o Departamento de Bibliotecas Públicas ocorre um quebra do vínculo entre as Bibliotecas e à Secretaria de Educação (que antes estavam reunidas em Secretaria da Educação e Cultura). Após essa mudança, os professores passaram a não mais integrar o corpo de funcionários das bibliotecas, por fazerem parte da Secretaria de Educação. Devido essa divisão de competências entre as áreas de Cultura e Educação do Brasil, cada setor ganha especialização, desvinculando-se totalmente. Esse fenômeno se verifica na esfera municipal e federal, refletindo diretamente na estrutura organizacional das bibliotecas.

Até então, com a presença das educadoras (professoras) nas bibliotecas, tendo como parte do programa da biblioteca, atividades artísticas regulares, leitura de contos, atividades teatrais; a biblioteca possuía uma outra vocação. Era um local de recreação e aprendizagem, com um acompanhamento e atividades em tempo integral, além de oferecer um tratamento mais caloroso.

Essas mudanças implicam em uma transformação da Biblioteca, que passa de centro irradiador de cultura e atividades sociais, para uma função de apoio a atividade escolar.

17 Depoimento de Ivete Pieruccini, vide anexo III.

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C2.3 A Situação Atual das Bibliotecas Infanto- Juvenis

Atualmente, somados aos processos que vinham a desconfigurando os serviços prestados originalmente pela rede de BIJs, há os problemas enfrentados na municipalidade, com a descontinuidade de políticas públicas, dadas as diferentes administrações que se sucederam. Pieruccini (2004) coloca que as mudanças ocorridas na rede com o desvirtuamento de papéis “diante da falta de bibliotecas públicas escolares no país, às incompreensões (das instâncias políticas, de gestão e operação) sobre sua natureza, considerada a partir de seu objetivo primordial – formação de crianças e jovens - produziram alterações que fizeram a biblioteca fugir ao controle e retardando a definição de um papel que lhe é único. As dificuldades de implantação de projetos com características culturais e não meramente funcionais de apoio á escola, como tem se evidenciado nos últimos tempos, aliada a perda de recursos financeiros e humanos anteriormente a elas destinados, descaracterizaram parte de suas ações, hoje muito concentradas no empréstimo de livros e consulta local”.

Desde 2001 há uma tendência administrativa de unificação dos Departamentos de Bibliotecas Públicas e Bibliotecas Infanto-Juvenis. De maneira organizacional, isso já se efetuou, apenas ainda não foi formalizado por decreto. Aos poucos, as BIJ vêm atendendo um público adulto, acumulando as funções de acessar internet, leitura de revistas e jornais, colocando em segundo plano as suas particularidades de um equipamento destinado ao segmento infantil. Uma provável hipótese levantada como explicação para esse problema, seria a de que a falta de recursos no serviço público já observada desde meados da década de 80, somada a políticas públicas que não reconhecem o equipamento infantil como prioritário, se aproveitam de uma infra-estrutura já consolidada e de expressiva abrangência territorial, para suprir outras demandas da população em relação à equipamentos públicos. No caso, a demanda por bibliotecas que atendam ao público adulto, tem transformado as BIJs parcialmente em BPs.

As bibliotecas que, em sua origem possuíam mobiliário especialmente projetado e espaços organizados para atividades culturais constantes, apresentam atualmente uma colagem de mobiliários de diferentes projetos e produções, com conceitos e produção de design diversificados, prédios parcialmente reformados, denotando medidas reparadoras e não reestruturadoras do serviço prestado.

Durante as visitas de campo, pode-se observar os reflexos desses processos no espaço desses equipamentos: a rede de bibliotecas encontra-se desarticulada e desigual. Há casos em que, com a injeção de recursos privados (como na BIJ Anne Frank), esta realidade de crise foi atenuada, ao menos no que diz respeito aos equipamentos, tecnologias e dependências da biblioteca. Porém, na maior parte dos casos estudados até então, o quadro se repete.

As questões levantadas durante o processo de pesquisa, apontam com maior ênfase para a desatualização do espaço, do acervo, dos equipamentos, das tecnologias e do próprio mobiliário como fatores que induzem a população ao não reconhecimento da biblioteca como um equipamento essencial, atrativo e mobilizador de atividades e funções culturais, sociais, educativas e de informação.

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Constata-se um descompasso entre as expectativas do público e o serviço oferecido, o que tem feito a procura por esses equipamentos diminuir significativamente. Questiona-se ainda a influência das novas tecnologias como a internet, que permitem o fácil acesso à informação sem a necessidade de deslocamento do usuário que possuí um computador conectado, de sua casa para um local onde estejam disponibilizadas às informações, como a biblioteca.

Tal realidade demanda uma reformulação do programa de atividades, assim como todas as demais variáveis que compõem os parâmetros para a configuração os espaços culturais, educativos e sociais, como no caso da biblioteca.

Esta pesquisa bibliográfica inicial nos coloca uma série de questionamentos que permearam todas as etapas de levantamentos efetuadas, orientando o olhar sobre o objeto de estudo e a busca por informações e documentações. Dentre os questionamentos os quais a pesquisa tenta responder estão: O problema do esvaziamento da função e perda de qualidade no serviço pode ser explicado exclusivamente pela desatualização do acervo e dos equipamentos? O espaço interno e o externo das bibliotecas, seu mobiliário e equipamentos não atendem às necessidades atuais e futuras de uso? Quais são os elementos de arquitetura e design a serem inseridos nestes ambientes em função das novas tecnologias de informação e comunicação; de convívio social e aprendizado educacional entre outros aspectos? Qual é o papel do bibliotecário ao se posicionar perante a comunicação entre o dispositivo e o usuário?

“O tempo mudou. O bairro mudou. As cabeças mudaram. As crianças mudaram(...)a freqüência em todas as bibliotecas caiu. Caiu absurdamente. O que eu, pra falar a verdade, tenho pensado ultimamente, é que, se não está na hora de nós começarmos a nos alertar pra pegar um pouco do que era, com um pouco de agora e começar a checar, rever muito bem o papel das bibliotecas. A que nós viemos? Pra que nós servimos? O que a gente realmente está fazendo aqui?”

Eulália Câmara Lobato

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CAPÍTULO 3. CASOS ESTUDADOS Dentre o universo das bibliotecas municipais, selecionou-se um grupo de equipamentos visando levantar registros e documentar dados

da produção arquitetônica, do mobiliário e equipamentos e das programações técnicas do serviço, que constituíssem material passível de comparação e análises históricas, das políticas e do uso e das referências na Arquitetura e no Design Nacional. Foram estudadas 7 unidades dentre o conjunto de 36 equipamentos municipais.

O primeiro caso estudado foi a Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato, selecionada por ser a primeira do gênero no Brasil. Esta foi a matriz geradora da rede, que serviu como padrão organizacional e programático para as demais unidades. Possui o mobiliário original em bom estado além de um edifício com manutenção das características originais de projeto, o que possibilitou uma série de visitas para documentação e compreensão das concepções que a conformaram e espelharam diretrizes para as demais.

Em contraposição à situação anterior, a Biblioteca Infanto-Juvenil Anne Frank, apresentava intervenções recentes na arquitetura e no mobiliário, representando um esforço de atualização do serviço, seu espaço e mobiliário, diferente da situação anterior.

O terceiro caso estudado foi a Biblioteca Hans Christian Andersen, que a princípio foi indicada por possuir praticamente todo o mobiliário antigo em uso. O estudo dessa unidade desencadeou a pesquisa sobre o Convênio Escolar e sua Comissão Executiva formada por arquitetos que introduziram o modernismo nos equipamentos públicos, refletindo as novas idéias e princípios pedagógicos que incidiram no funcionamento da biblioteca. Nesses três levantamentos foi aplicado o recurso da visita técnica, com realização de entrevistas, coleta de documentação histórica, levantamento fotográfico, elaboração de desenhos a partir da medição dos móveis.

As duas visitas que se seguiram, foram às bibliotecas padrão Álvaro Guerra, em Pinheiros, e Ophélia França, na Aclimação. Indicadas por Ivete Pieruccini como Bibliotecas-Padrão. Com o estudo destas unidades, chegou-se a caracterização de um mobiliário-tipo que, assim como a arquitetura desses locais, era padronizado nestas unidades. A maioria dos móveis levantados integravam peças da produção pioneira e seriada de alta qualidade da CIMO18, que contribuiu para a consolidação da indústria de móveis do Brasil.

Por último, as duas últimas visitas a bibliotecas, fogem ao recorte cronológico que a pesquisa se propõe a analisar. Mas estas foram escolhidas, para confirmar as hipóteses levantadas através de depoimentos e para fornecer parâmetros para a discussão dos rumos deste equipamento. A biblioteca Dr. Joaquim José de Carvalho, representa um caso isolado de biblioteca pensada e inserida dentro do conceito de Centro Cultural, com os ambientes concentrados em um único espaço.

Já a Biblioteca Senhora Leandro Dupré, é um caso que reflete outro contexto da produção política administrativa de programas municipais, ao ser estabelecida em um mesmo prédio com outros equipamentos públicos compartilhando o mesmo edifício, cuja arquitetura é relegada a segundo plano em detrimento ao baixo custo de uma obra mais pragmática. Nesses casos foram realizados levantamento fotográfico e pesquisa documental, sendo que não se obteve as plantas das edificações.

18 Vide capítulo O Mobiliário.

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Técnicas e Procedimentos

C3.1 Vista às bibliotecas selecionadas

Com o estabelecimento do local a ser visitado, foi feita uma pesquisa preliminar para a coleta de dados iniciais sobre a arquitetura, o mobiliário, e levantamento de documentos históricos que registrassem as alterações da vocação das BIJs com o passar dos anos, etc.

Durante as visitas, foram desenvolvidos vários procedimentos para a coleta de material. Além do registro fotográfico da arquitetura e do mobiliário, foram feitos estudos dos móveis a partir de croquis com medidas tomadas in loco. Solicitou-se também, registros fotográficos antigos e documentação impressa dos acervos históricos das unidades visitadas, para que se pudesse comparar a situação atual com as anteriores, tanto do ponto de vista espacial, quanto também programático, já que este material freqüentemente fornecia a visão de como os serviços eram prestados e como os usuários interagiam com os mesmos.

Desenho 1. Croquis feitos in loco nas BIJ H.C. Andersen e Álvaro Guerra. Por último, desenho de cadeira encontrada na BIJ Monteiro Lobato, feito com auxílio do computador. Procedimentos utilizados nessa pesquisa.

Além do material de referência visual (fotos antigas, atuais e croquis), foram feitas entrevistas com funcionários, diretores e usuários, cujos depoimentos complementaram e sugeriram novos enfoques e levantamentos para a pesquisa.

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C3.2 Outros levantamentos

Foram realizadas entrevistas com diferentes profissionais para o esclarecimento de questões que surgiam quanto ao funcionamento das bibliotecas, buscando dados que averiguassem as primeiras hipóteses levantadas com a pesquisa bibliográfica. A primeira entrevista, com William Okubo, diretor da BIJ Monteiro Lobato, forneceu os primeiros parâmetros que regeram o funcionamento das BIJ, assim como as mudanças de vocação desses equipamentos. Ivete Pieruccini, em sua entrevista, identificou os períodos correspondentes aos fenômenos descritos primeiramente por Okubo, oferecendo um panorama de toda a rede e das políticas públicas que as estrutura. Através de seus depoimentos, pode-se construir a estrutura de um primeiro histórico que direcionou a busca a outros documentos que pudessem preencher as lacunas dessa história e esclarecer as novas dúvidas que surgiam. Quanto às entrevistas de Neusa Prado e Eulália Lobato, pode-se ter acesso à uma visão do serviço prestado dentro de cada unidade e das problemáticas que cercam o dia a dia desses equipamentos. No caso de Neusa, seus depoimentos também forneceram algumas idéias quanto à realidade das BIJ nas décadas de 50 e 60, do ponto de vista de uma usuária. Por último, a entrevista com Alexandre Delijaicov visou esclarecimentos quanto à produção arquitetônica dos equipamentos públicos e a inserção das BIJs dentro desse contexto.

As informações obtidas com as entrevistas e a pesquisa bibliográfica ainda não esclareceram os questionamentos quanto a produção do mobiliário nem a sua relação com a produção da arquitetura. Para a construção de um histórico mais consistente, foram então feitas visitas à Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, buscando documentação sobre o mobiliário que atestasse a época, o tipo de aquisição, o tipo de produção e o desenho. Para tanto, pode-se analisar notas de aquisição de bens patrimoniais, históricos da secretaria, dentre outros documentos que foram disponibilizados pelo Departamento de Bibliotecas Públicas.

Em uma das visitas ao Departamento, foram revelados desenhos documentais até então arquivados, sem uso. Este material teve expressiva importância para o desenvolvimento desta pesquisa, por serem registros originais dos desenhos dos móveis produzidos especialmente para as BIJ. Estes forneceram indícios sobre as concepções de design para este equipamento público, material este original pois, até então, não havia sido documentada em nenhuma publicação. No anexo II estão reunidos parte dos desenhos obtidos, os demais encontram-se inseridos no capítulo 4 em uma comparação com os desenhos e os registros fotográficos do mobiliário remanescente dessa produção.

A pesquisa a seguir, visa conciliar então, uma primeira visão com as impressões e materiais obtidos nas inúmeras visitas, através de comparações entre os desenhos, registros fotográficos e através da sistematização dos diferentes formatos de informação.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO Material Levantado

Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO

Fonte: foto pertencente ao acervo da Biblioteca, s.d.

Vista externa da entrada da biblioteca

Fonte: Foto da autora

Detalhe da marquise atualmente.

Introdução

Inaugurada em 1936 por Lenyra Camargo Fraccaroli, a Biblioteca foi durante várias décadas o principal pólo de atração de crianças e jovens de toda a cidade ou daqueles que por ela passavam.

Fazia parte de um amplo projeto de incentivo à cultura, sendo a mais antiga biblioteca infantil em funcionamento no Brasil, precursora de outras similares tanto no município, no interior do estado de São Paulo como em outros Estados, como por exemplo, Salvador, cuja Biblioteca foi inaugurada em 1951.

Sua concepção constituiu a matriz geradora, no âmbito municipal, da rede de bibliotecas infanto-juvenis que conta atualmente com outras 35 unidades na cidade de São Paulo.

Passados mais de 65 anos de sua abertura, a biblioteca recebe sistematicamente ao longo do ano letivo, visitas de inúmeras escolas tanto da rede pública como da privada bem como de outras instituições. Durante o período escolar, o público atendido é de aproximadamente 15 mil pessoas/mês. Atende também, atualmente, o público adulto que mora ou trabalha nas suas proximidades, além de oferecer outros serviços e atividades à comunidade.

A biblioteca ocupou, primeiramente uma casa1 adaptada. Devido a alta frequëncia de crianças foi necessário a mudança para um edifício maior. Este foi construído ao lado da antiga casa que abrigava a biblioteca e abriga até hoje esta BIJ. Este foi projetado por William Hentz Gorham, da divisão de Arquitetura da Prefeitura Municipal, em 1948.

1A casa pertenceu ao Senador Rodolfo Miranda, localizava-se na quadra entre as Ruas Major Sertório (paralela a rua de acesso da biblioteca atual) e General Jardim (Vila Buarque), onde atualmente existe a Praça da Biblioteca.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO

Fonte: Folheto da DIVISÃO DE BIBLIOTECAS INFANTO JUVENIS DO DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE CULTURA. Biblioteca Infantil Municipal de São

Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1959.

Menino lendo na Biblioteca Infantil Municipal Monteiro Lobato

A foto ao lado exemplifica a formalidade com que era tratada a imagem da biblioteca pública, o seu uso e pressupondo a “conduta social” impecável. Tais conclusões podem ser tiradas a partir de fotos como estas, evidências históricas e através de relatos de bibliotecárias mas antigas, que apontam para regras de disciplina, de formalidade para o uso do espaço e as suas atividades. Na época da inauguração desta biblioteca, esse tipo de instituição, devido à situação política e aos órgãos que a controlavam, davam à ela um caráter que contribuíam para um distanciamento do leitor em relação ao livro. O espaço, não era convidativo, pois não induzia uma informalidade que permite e leitura espontânea. Tais características geram um questionamento quanto à eficiência da rigidez da organização da biblioteca. Por mais que a aplicação de recursos técnicos e de disciplina quanto a propostas de atividades e de ambientes seja um recurso eficiente para a administração dos serviços prestados por uma biblioteca, esta rigidez não poderia tolher as iniciativas de uma criança dentro do espaço da biblioteca?

Já na época desta foto, que consta em um folheto de divulgação de 1959, esse caráter vinha mudando, em uma tentativa de estreitar relações entre os usuários e as bibliotecas, através da formação de profissionais com um cuidado maior para sua especialização e ação dentro das bibliotecas.

Na concepção do projeto original, o uso do espaço interno já previa a interação com o mobiliário. O expositor das marionetes é um exemplo disso, pois se integra à coluna e às curvas do teto, além de permitir a passagem da luz através dos vãos de sua estrutura, dando uma dimensão cênica aos marionetes iluminados.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO

Fonte: Folheto da DIVISÃO DE BIBLIOTECAS INFANTO JUVENIS DO DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE CULTURA. Biblioteca Infantil Municipal de São

Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1959.

Primeira à esquerda: Exposição de fantoches no hall da Biblioteca;

Consultando o fichário, a leitora entra em contato com seus autores e livros prediletos; Livros em vários idiomas fazem parte do

acervo da biblioteca2

Um contraponto são as estantes fixas de madeira escura, com seu aspecto rígido e formal, abrigando os livros de uma maneira não tanto convidativa à exploração espontânea pelas crianças.

Os leitores e as crianças mantinham acesso direto aos fichários e às estantes, reunindo-os no mesmo espaço das mesas de leitura. Segundo William Okubo, atual diretor da biblioteca, esse mobiliário, assim como o edifício, foi construído especialmente para o público infantil, entre o final da década de 40 e começo de 50. Um outro tipo de mobiliário introduzido e utilizado junto com as cadeiras mais antigas é a mesa de leitura com o tampo inclinado. Consultando a literatura especializada, encontramos mesas desse tipo, principalmente no final da década de 50, mesma época do folheto em que aparecem essas fotos. Ao oferecer diferentes tipos de mesas, a biblioteca estimula o ato de ler, pois oferece maior flexibilidade de uso. Estudiosos do comportamento infantil atestam o fato de que crianças possuem espaços pessoais diferenciados e podem apresentar comportamentos inusitados quanto ao uso do espaço a sua volta. Ao se adaptar a essa condição, como no caso, oferecendo opções para o posicionamento do leitor, a biblioteca torna-se um espaço mais convidativo.

As atividades promovidas na BIJ Monteiro Lobato, eram diversificadas, possíveis pela diversidade de mobiliário especial para o desenvolvimento das mesmas. Dentre as atividades, estavam: coleções de selos e moedas antigas, sala de jogos, sala da revista “A Voz da Infância” (um jornal feito pelas crianças) hora do conto e sessão de cinema “sonoro”, até a atividade de desinfecção dos livros.

2 Legendas baseadas nas descrições das fotos segundo Folheto da DIVISÃO DE BIBLIOTECAS INFANTO JUVENIS DO DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE CULTURA. Biblioteca Infantil Municipal de São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1959

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO

Fonte: Folheto da DIVISÃO DE BIBLIOTECAS INFANTO JUVENIS DO

DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE CULTURA. Biblioteca Infantil Municipal de São

Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1959.

Em um folheto de caráter propagandístico da Prefeitura, que apresenta as atividades e a estrutura da Biblioteca, estas são descritas da seguinte maneira: “Possui também a Biblioteca uma Seção de Jogos, Jornais e Revistas, a qual tem o seu caráter educacional bastante acentuado. Tem ela por objetivo possibilitar o merecido descanso mental após horas de atenciosa leitura ou de compenetrado labor intelectual nas demais seções da biblioteca. Longe de ser mero passatempo, também instrui e ensina, porque até as peças do complicado quebra cabeça de que as crianças tanto gostam, visam estimular o raciocínio, dentro da didática rigorosa.”

Essa legenda confirma o rigor com que os freqüentadores eram orientados pelas educadoras nas atividades desenvolvidas. É um reflexo da influência da prática pedagógica aplicada na educação, naquela época. O relato de William Okubo confirma isso, quando explica o fato das bibliotecárias serem todas professoras até meados da década de 70.

Para as atividades de artes, dramatização e dança, desenvolvidas dentro da biblioteca, havia profissionais especializados que davam assistência às crianças. No folheto de 1959, há a descrição dos objetivos desses espaços: “A Seção de Arte é um outro setor no qual se prova de maneira irrefutável, que se pode conseguir, muito da criança, quando se lhes dá oportunidade. Ali, sob assistência de uma funcionária especializada, a criança inicia-se na pintura, escultura e modelagem”.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO

Fonte: Folheto da DIVISÃO DE BIBLIOTECAS INFANTO JUVENIS DO

DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE CULTURA. Biblioteca Infantil Municipal de São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1959.

Ao contrário do que ocorre atualmente na Biblioteca, os espaços para tais atividades ficavam disponíveis em tempo integral com salas designadas especialmente para atender essa demanda. Atualmente, existem as salas chamadas multi-uso, que não são acessadas livremente pelas crianças, sendo só utilizadas quando há um projeto pré-estabelecido, freqüentemente por iniciativa própria de uma bibliotecária ou do diretor, mas não como parte de um programa maior, de âmbito de um órgão municipal.

As fotos mostradas , foram reproduzidas como no folheto original. Elas denotam uma preocupação em apresentar a biblioteca, como um centro educacional, orientado pelas bibliotecárias, com função similar às professoras da rede escolar. É importante ressaltar a característica de incorporar a arte, a brincadeira e a música, como fontes de cultura e diversão, o que mostra uma intenção de caracterizar este equipamento como centro cultural, de agregar diferentes atividades ao antigo sistema rígido educacional. A biblioteca ainda contava com a Seção Braille. Criada em 29/04/46 com 200 volumes em alfabeto Braille. O atendimento era prestado por funcionária especializada nesta linguagem, que cumpria a função cultural similar as demais atividades regulares da Biblioteca, como “contar histórias”, além de prestar serviço de adaptação social e psicológica das crianças com distúrbios de visão.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO

PLANTAS

As plantas abaixo correspondem ao projeto original, com as salas e suas respectivas destinações. Analisando as seguintes plantas, percebe-se que a forma resultante do prédio, não corresponde diretamente ao partido adotado. Há uma rigidez nas formas que compreendem o setor das funções básicas da biblioteca como setor Braille, a sala de leitura e as áreas reservadas a administração. Essas seções caracterizam-se por salas ortogonalmente divididas, cuja comunicação se dá através de corredores, não havendo uma integração expressiva entre os ambientes.

Pavimento Térreo

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO

Elementos como o balcão em curva, que permite a vista do hall com seu pé direito duplo; o desenho orgânico do hall de exposições, o posicionamento em ângulo, do auditório, quebram a rigidez e monotonia que a configuração da biblioteca, que Mevissen (1958) classifica como modelo rígido de múltiplas salas, possa apresentar. Quanto a esse modelo, o fato das funções serem divididas em diferentes salas, pode, além de dificultar o conhecimento do usuário de todas as possibilidades oferecidas pelo equipamento, ser um fator inibidor da renovação e requalificação dos ambientes.

No projeto há uma incompatibilidade de intenções de formas que a planta sugere e o resultado plástico do edifício como um todo. O resultado é um prédio cuja percepção da área interna supera a expectativa que em um primeiro momento, a fachada e o volume do prédio induzem

Segundo Pavimento

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- PAVIMENTO TÉRREO

As fotos a seguir resultam das visitas à Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato

São expostas para que forneçam uma noção dos ambientes e da sua integração; do mobiliário, os quais configuram os espaços da biblioteca, dos elementos arquitetônicos que caracterizam o prédio; além de demonstrar o seu funcionamento atualmente.

O pavimento térreo é acessado através da marquise que se direciona para a Rua General Jardim. Nele funcionam as salas de leitura infantil, do acervo circulante e o museu, todos esses abertos ao público. A sala do acervo e da memória, também se encontra nesse pavimento, porém, assim como a sala que abriga o acervo do ônibus biblioteca, dentre outras poucas que fazem parte do serviço administrativo e da manutenção, não podem ser acessadas pelos visitantes.

Fonte: Foto da autora

A Praça e a Biblioteca ao fundo O quarteirão em que funciona a biblioteca inclui também uma praça com brinquedos e espaços próprios para a utilização de bicicletas, patins e skate, além de possuir uma quadra. Todo esse complexo de equipamentos é cercado por grades e o acesso se dá pelo portão ao lado da marquise da biblioteca.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- PAVIMENTO TÉRREO

Fonte: Foto da autora

Vista da Fachada A fachada encontra-se escondida pela vegetação e pelas grades, que foram colocadas devido à elevada violência com a degradação da região.

Fonte: Foto da autora

Hall/ Área de ExposiçãoNesse espaço são montadas exposições cujos temas se relacionam a literatura e a produção artística infantil.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- PAVIMENTO TÉRREO

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura Infantil Esse espaço têm recebido um número crescente de visitantes. Alguns brinquedos ambientam a sala sendo que esta é composta por diferentes tipos de mobiliário. As crianças possuem livre acesso às estantes e a bibliotecária presta ajuda quando necessário.

Fonte: Foto da autora

Detalhe da Sala de Leitura Infantil. Crianças lêem e se utilizam do espaço livremente.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- PAVIMENTO TÉRREO

Fonte: Foto da autora

Corredor e portas das salas de leitura infantil e do acervo circulante. A divisão dos ambientes em salas nos diferentes andares pode dificultar a interação das crianças de várias faixas etárias, e a integração entre as diversas atividades.

Fonte: Foto da autora

Sala do Acervo Circulante Espaço ocupado predominantemente por estantes de metal. Nessa sala, os usuários apenas escolhem os livros que retirarão para empréstimo. Não há um espaço para leitura.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- PAVIMENTO TÉRREO

Fonte: Foto da autora

Museu Área de Exposição dedicada à Monteiro Lobato, com móveis e pertences do autor.

Fonte: Foto da autora

Sala utilizada para armazenar e preservar os móveis antigos e a memória da Biblioteca.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- SEGUNDO PAVIMENTO

O segundo pavimento é acessado pela escada entre a recepção e o museu. Nele localizam-se a sala multimídia, a hemeroteca, a sala de pesquisa e a sala multi-meios, além da copa, da sala do diretor dentre outras salas cujos usuários não tem acesso. No espaço entre a sala de leitura adolescente/internet e a sala de pesquisa(a maior das salas) estão alguns móveis que não são utilizados (mesas e cadeiras semelhantes as do ambiente de pesquisa). Toda área envidraçada encontra-se coberta por grades, por motivo de segurança.

Fonte: Foto da autora

Sala Multi-meios Esta sala não fica disponível ao público em tempo integral, sendo só utilizada para a organização de oficinas. Segundo William Okubo, essa sala remete à função das antigas salas de arte, porém a falta de funcionários especializados (os “arte-educadores”) alterou o seu funcionamento assim como o espaço dedicado as suas funções. O mobiliário é adaptado, não possuindo características especiais para o atendimento das necessidades das atividades desenvolvidas.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- SEGUNDO PAVIMENTO

Fonte: Foto da autora

Hemeroteca Sala mais utilizada pelo público adulto, o qual a biblioteca também atende, oferecendo serviços como acesso a internet e disponibilidade de jornais e revistas.

fonte: Foto da autora Sala de Leitura Adolescente/ Internet Vista externa. A divisão do ambiente com vidros permite os usuários visualizarem as atividades que ocorrem em seu interior ao mesmo tempo que circulam.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- SEGUNDO PAVIMENTO

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura Adolescente/ Internet Nesta sala ficam os computadores pelos quais se pode acessar à internet. O material disponível para leitura é composto por revistas, gibis e alguns livros destinados aos adolescentes, o que não impede as crianças de usarem esse espaço. Este ambiente é caracterizado pela presença de uma grande variedade de mobiliário de diferentes épocas. A leitura de gibis e revistas pressupõe um comportamento mais informal. Essa postura é estimulada com a disponibilidade de móveis como sofás e poltronas, além de almofadas e tapetes que permitem que os usuários sentem-se de diferentes maneiras, utilizando inclusive o chão.

fonte: Foto da autora

Sala de Leitura/Pesquisa A configuração espacial dessa sala se baseia na estantes de livros contornando todo perímetro e as mesas para leitura situadas ao centro. As janelas contornam o perímetro e não permitem a visualização da área externa, pelos usuários. Mesas de tampo redondo de fórmica coexistem com mobiliário de escritório e mesas de tampo retangular. As estantes são predominantemente de metal.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL MONTEIRO LOBATO FOTOS- SEGUNDO PAVIMENTO

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura Adolescente/ Internet Pode-se ver a variedade do mobiliário que coexiste em todos os ambientes da biblioteca. Em primeiro plano, uma cadeira utilizada pela bibliotecária data da década de 50 e está associada a uma mesa mais nova,com características de mobiliário para escritório. Ao fundo estão móveis adquiridos recentemente, de cores fortes, utilizados para leitura e para a utilização dos computadores.

fonte: Foto da autora

Sala de Leitura/Pesquisa Os móveis típicos da sala de pesquisa e da hemeroteca, colocados nesse espaço, indicam uma baixa na demanda dos usuários pelos mesmos na própria sala a que pertencem. Esse mobiliário disposto na área de circulação não é muito utilizado pelo público, por não possuir um uso definido.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK Material Levantado

Biblioteca Infanto-Juvenil Anne Frank

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: foto pertencente ao acervo da Biblioteca, s.d.

Crianças participando do evento de inauguração da Biblioteca

em 1946 Fonte: Foto da autora

Casa que primeiro abrigou a atual Biblioteca Infanto-Juvenil Anne

Frank.

Introdução

A Biblioteca Infantil do Itaim, situava-se inicialmente na rua Santelmo (hoje rua Cojuba) n.º7.

Foi fundada em 25 de janeiro de 1946 em uma casa adaptada para o seu funcionamento.

Iniciou suas atividades em junho de 1947. Contando Inicialmente as salas de acervo fixo e circulante e a PORTARIA.

O número de crianças matriculadas naquele semestre foi de 778 e ao terminar o ano de 1948, já contava com 1056 matriculados.

O Crescente índice de matrículas e o grande número de freqüentadores obrigou a Biblioteca a criar uma sala de recreação, denominada Sala de Jogos e Revistas, onde as crianças tinham à disposição uma grande variedade de revistas e jogos educativos.

Em 1950, foi inaugurada a Sala de Artes (chamada de Sala Lenyra Fracaroli), destinada a atividades artísticas dos freqüentadores. Em 1953, a Biblioteca que já contava com 2347 matriculados, tornou-se pequena demais para o volume de frequentadores, surgindo então a necessidade de ampliar o prédio ou construir uma nova Biblioteca. Conhecendo o problema, o dr. Armando de Arruda Pereira, então prefeito, promoveu o lançamento da pedra fundamental em 23/02/1953, em um terreno de 1200m2, à rua Cojuba nº1.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

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Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

1955 –crianças na frente do edifício em sua inauguração.

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

1955 – fachada do edifício recém inaugurado

A Biblioteca só ficou pronta dois anos depois, sendo inaugurada em 17 de maio de 1955.

O funcionamento no prédio construído especialmente para este fim, melhorou sensivelmente já que as salas novas eram amplas e bem iluminadas, com amplo espaço para a colocação de estantes e mesas, assim como outras comodidades,, inclusive para funcionárias, é o caso da copa e da cozinha. A Biblioteca contava com Sala de Pesquisas, Sala de Leitura Infantil, Sala de Artes, Sala Circulante, Sala de Jogo e Revistas e um auditório para 350 lugares.

A cozinha era muito espaçosa, a portaria era ampla assim como os corredores de circulação.

O prédio é todo cercado de jardim, tornando o ambiente calmo e confortável. No final de 1969 foi feita uma reforma que aumentou a sala de pesquisas e trocou o piso paviflex, que facilitou a limpeza.

Em 28 de junho de 1962, A Biblioteca Infantil do Itaim foi, por ato do então Prefeito, o engenheiro Francisco Prestes Maia, denominada “Biblioteca Infantil Anne Frank”.

Fotos datadas dessa época nos mostram as atividades executadas dentro da Biblioteca e as crianças utilizando seus diferentes espaços.

Assim como na BIJML, as fotos indicam a formalidade no uso e na organização dos ambientes da Biblioteca. A bibliotecária acompanhava todas as atividades e sua presença era constante. O mobiliário original possui as mesmas características dos remanescentes originais da Biblioteca Monteiro Lobato, eram móveis de madeira maciça escura, pesada, de caráter formal.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

A Biblioteca, suas atividades e seus usuários.

O mobiliário que aparece nas fotos, já não pode mais ser encontrado na Biblioteca Anne Frank atualmente, com exceção de um fichário, já que a biblioteca teve seu mobiliário renovado na última reforma.

Quanto ao caráter pedagógico da biblioteca, as diferentes épocas refletem diferentes visões quanto à função desta instituição no papel da educação e como equipamento cultural para as crianças.

Há um certo padrão nas atividades organizadas e no mobiliário que configura os espaços nas Bibliotecas Monteiro Lobato e Anne Frank, como se pode observar nas fotos dos acervos históricos de ambas, principalmente as referentes à década de 60.

Analisando recortes de jornal referentes à Biblioteca Infanto-Juvenil Anne Frank e comparando as fotos mostradas anteriormente, alguns indícios dessas diferentes visões, podem ser denotados ao longo de sua história.

Nos jornais e nos depoimentos de usuários, as funcionárias são chamadas de "professoras", o que leva a reflexão do papel das bibliotecárias assim chamadas: não se trata de mera nomenclatura e sim, de uma função explicitada através deste termo. Neste contexto e tempo, uma bibliotecária desempenhava uma importante função como educadora também.

Há um acompanhamento e um desempenho técnico que aproximava a bibliotecária ao usuário: respaldando o nome de "educadoras". O que as crianças produzem em suas atividades, é exposto e utilizado como ambientação do espaço.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

* Esse recorte de jornal faz parte do acervo de memória da

Biblioteca Infanto Juvenil Anne Frank. Não há informações do nome do jornal devido a um problema de arquivamento da biblioteca.

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

Gazeta do Itaim, 19 de Setembro de 1962.

Até 1962, temos fotos e recortes de jornal que nos permitem analisar o funcionamento e o ambiente das bibliotecas. A partir de 64, com a ditadura militar, não foi encontrado nenhum material documental da época. No caso da Biblioteca Anne Frank, no começo da década de 80, encontra-se documentação das atividades desenvolvidas. Atualmente, na Biblioteca Anne Frank, as atividades extra-livro são limitadas. A sala de artes, na sua concepção original não existe mais. A organização espacial da biblioteca, apesar de ter espaços destinados à crianças, é um espaço rigidamente organizado, de maneira ambientação infantil é praticamente inexistente.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

1966 –Fachada

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

1966 –Sala de Artes

O mesmo não ocorre coma Biblioteca Monteiro Lobato, em que brinquedos estão espalhados pela seção infantil e, por todo o prédio, a programação visual que indica as funções de cada sala são decoradas com os personagens de Monteiro Lobato. Além disso, a própria decoração de natal ou mesmo enfeites que são colocados de tempos em tempos, são frutos das oficinas de arte realizadas nessa biblioteca. Apesar disso, o mobiliário em geral, não provém de um único conjunto, sendo compostos por diversas tipologias de diferentes épocas. Esse conjunto resulta em uma linguagem confusa que persiste ainda com adoção de prateleiras altas, modulares e fichários de ferro, que tendem à padronização. O que já não ocorre com a Biblioteca Anne Frank, cujo mobiliário apresenta cores que conferem com as tonalidades empregadas em toda a programação visual do estabelecimento.

Durante a década de 80, até a década de 90, vemos a predominância de móveis de madeira escura, alguns remanescentes dos primeiros tempos da biblioteca. Os freqüentadores passam a ter um comportamento muito mais despojado dentro da biblioteca, isso se reflete inclusive nos tipos de atividades organizadas por ela. As cadeiras já não possuem braços nem são, necessariamente, de madeira maciça, as bibliotecárias já não possuem uma tarefa disciplinadora, tudo isso resulta em um ambiente mais informal, descontraído. As fotos da década de 60 já denunciam uma diminuição dessa formalidade. Em 1990 a Biblioteca é reformada, mas apenas para reparo de danos como rachaduras e problemas com goteiras, o espaço interno e a arquitetura não são alterados.

No início da década de 90, a Biblioteca já adota o uso de estantes de metal, utilizadas até hoje mas ainda mantém as mesas de madeira antigas, só que com novos tipos de cadeiras. Essa mistura de diferentes tipos de mobiliário, também encontrada na BIJML denuncia a realidade dos órgãos públicos que vêm diminuindo os investimentos no setor. Com isso, os móveis adquiridos para suprirem as demandas imediatas das bibliotecas são aqueles cuja a aquisição se mostrar mais econômica e imediata possível, não permitindo uma reestruturação do espaço como um todo. Essa linguagem em que móveis novos confrontam com antigos é o resultado desse processo.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

1985 – Feira de Livros

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

1990 – Reabertura da Biblioteca

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

Jornal da Rua, Itaim Bibi – São Paulo, de 08 a 14 de agosto de 1990

Grandes mudanças, que alterariam todo o espaço da Biblioteca, só vieram a acontecer em outubro de 2002. Foi quando a Biblioteca Municipal Infanto-Juvenil começou a ser reformada e sendo só reinaugurada no dia 22 de Março de 2004. As reformas e obras de modernização, tiveram seu projeto de melhorias feito pela Grifa, e a Visanet investiu R$ 1,4 milhão nas obras.

A idéia apresentada ao Departamento de Bibliotecas da Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo propôs significativas mudanças na infra-estrutura da Biblioteca Anne Frank.

O espaço integra a rede de bibliotecas infanto-juvenis do Departamento de Bibliotecas da Secretaria da Cultura, que reúne 36 unidades e um acervo com mais de 1,3 milhão de livros. Com mais de quatro mil eventos por ano, a rede atende a 1,6 milhão pessoas

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

Oestado De São Paulo, 4 de outubro de 1991

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

Janeiro de 1996

A maior reforma desde a inauguração

Ao iniciar o processo de reforma e restauração da Biblioteca Infanto-Juvenil Anne Frank, os responsáveis pelos trabalhos tinham várias preocupações: o projeto da "nova biblioteca" não deveria destoar muito das linhas arquitetônicas originais os degraus deveriam ser eliminados para facilitar a mobilidade em suas dependências, entre outras medidas.

A maior preocupação, no entanto, foi não mudar as características originais mais marcantes do local que data da década de 50. As portas, tacos do piso e janelas foram apenas restauradas. O mesmo ocorreu com a fachada.

Outra importante preocupação foi a informatização do local. Com salas especiais e equipamentos audiovisuais e de microinformática, o projeto foi pioneiro dentro de um programa de modernização de bibliotecas, promovido pela Prefeitura de São Paulo para transformar as bibliotecas municipais em espaços multimídia com acesso à Internet.

Varandas cobertas e jardins permitem a realização de atividades externas como leituras e outras convivências culturais. Na parte externa, foi colocado piso de mosaico português, para dar “leveza” ao ambiente.

Tornar a biblioteca mais alegre foi outro desafio. Agora, a Anne Frank conta com algumas paredes coloridas nas tonalidades verde e azul. "Optei por cores vibrantes. As pessoas que estão do lado de fora vão olhar e perceber que se trata de um ambiente alegre, infanto-juvenil", diz o arquiteto responsável, Márcio Cantarelli, que usou as mesmas cores nos novos móveis do local.

A reforma durou quatro meses e tem, como um dos principais resultados, a remodelação do auditório, espaço desativado há oito anos.

Esse auditório, primeiramente contava com 320 lugares e foi muito utilizado para exibição de filmes, peças teatrais, palestras e festas comemorativas; estas eram atividades muito freqüentes nas bibliotecas da época. Um exemplo disso era a existência do grupo teatral TIMOL, formado por crianças freqüentadoras da B.I.J. Monteiro Lobato, que se apresentava também na B.I.J. Anne Frank. O auditório acabou sendo fechado por falta de

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Acervo Histórico da Biblioteca.

Saguão reformado a As cores verde e azul são utilizadas na

programação visual de todos os ambientes da biblioteca.

condições de uso, mas foi reformado. Agora possui capacidade para receber 170 espectadores, porém sua estrutura agora conta com a instalação de ar-condicionado central, telão e datashow; equipamento para projeção de imagens em alta definição. Além dos freqüentadores, também os artistas contarão com uma ótima estrutura: novos camarins e sistema de iluminação cênica fazem parte das melhorias.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK PLANTAS

A Planta abaixo corresponde ao projeto de reforma da Biblioteca, mostrando a parte do prédio utilizada livremente pelos usuários.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Foto da autora

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura com terminais de acesso à Internet. As janelas são amplas, permitindo o contato visual com a área externa. Em um mesmo espaço, estão reunidas diferentes funções: sala de pesquisa, de leitura e de acesso à internet.

Detalhe da Sala de Leitura. Pode-se ver o mobiliário novo e um porta revistas antigo ao fundo. A diferenciação entre os ambientes e as suas funções dentro da sala é feita através o mobiliário. Mais próximo às estantes estão as mesas e cadeiras que favorecem à pesquisa, os sofás para uma leitura informal, ficam próximos às revistas.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Foto da autora

Jardim para Leitura ao ar livre.

Fonte: Foto da autora

Sala de Acervo Circulante Vista do Balcão da Bibliotecária

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura Infantil

Fonte: Foto da autora

Sala Multimídia Sala cujo uso é agendado.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ANNE FRANK

Fonte: Foto da autora

Fachada

Fonte: Foto da autora

Área externa do auditório

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN Material Levantado

Biblioteca Infanto-Juvenil Hans Christian Andersen

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

Fonte: foto pertencente ao acervo da Biblioteca

Fachada da Biblioteca em 1961

Fonte: fotos pertencentes ao acervo da Biblioteca

Lateral da Biblioteca em 71 e em 73

Introdução

Em 22 de dezembro de 1944, o Prefeito Francisco Prestes Maia, através do Decreto nº 561, declara de utilidade pública, para o fim de serem desapropriados, os imóveis situados na quadra compreendida pela Avenida Celso Garcia e Ruas Simão Pimenta, Henrique Linddemberg e Coronel Carlos Oliva, no bairro do Tatuapé, com a finalidade de construir e instalar uma biblioteca de bairro e uma seção infantil correspondente.

Porém, só em 30 de janeiro de 1951, Lenyra Fraccaroli, diretora da Divisão de Bibliotecas Infantis e Cinema Educativo e fundadora da primeira Biblioteca Infantil (atual Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato), que deu origem a todas bibliotecas de bairro, lança a pedra fundamental do edifício que abrigaria a Biblioteca Infantil do Tatuapé (atual BIJ Hans Christian Andersen)

Esta biblioteca está inserida entre as obras realizadas pela Comissão Executiva do Convênio Escolar (comissão criada no final de 1948, mas que passou a atuar, efetivamente, em 1949). Essa Comissão era fruto de um convênio entre Estado e Municipalidade, em que a Prefeitura se encarregaria da construção de equipamentos relacionados à escola e o Estado forneceria subsídios para o ensino em questão. Integravam a comissão executiva os arquitetos Eduardo Corona, Roberto Tibau, Oswaldo Gonçalves e Ernest Mange que, nas palavras de Anísio Teixeira (educador que atuou na Bahia e cujo trabalho serviu de referência para o grupo), são responsáveis por essa “arquitetura ‘à brasileira’, uma arquitetura moderna redentora”. Essa afirmação de Anísio Teixeira reflete a importância que a inserção e a aplicação dos preceitos modernistas representavam, isso porque esta refletia o novo conceito de educação que se tentava implantar em São Paulo.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

Fonte: Acervo da Biblioteca

Fotos de usuários na BIJ H.C. Anderse na década de 70.

Fonte: Acervo da Biblioteca

Fotos da Biblioteca e seu entorno em 1971.

A partir dos anos 70 os espaços das BIJ destinados à pesquisa são os que recebem maior número de usuários, a ponto de se fazerem filas de usuários esperando a abertura da biblioteca (segundo depoimentos de Neusa Lima).

“(...)a gente vinha principalmente pra brincar, pelo menos pra minha geração. Porque pra ler, tinha a Terezinha, que primeiro obrigava o pessoal a ler, primeiro tinha que ler, depois podia brincar. Porque se deixasse a gente só brincava. Ela fazia leitura, pegava livro de José de Alencar e lia capítulos. Cada dia um lia um capítulo e se não fizesse aquilo, não tinha brincadeira(...)Ela era professora.”

Neusa Lima 1

1 Neusa Prado Lima, bibliotecária há 34 anos na Biblioteca Infanto- Juvenil Hans Christian Andersen e usuária da mesma durante a sua infância

Somado à essa mudança de vocação há a modificação do entorno, com o adensamento dessa área e com a forte atividade comercial existente na Avenida Celso Garcia; e a revolução informacional, com o advento da internet e de outras mídias. Isso implica em uma mudança no perfil dos usuários e de suas demandas, além da necessidade de uma reestruturação da biblioteca, nos aspectos organizacionais espaciais e conceituais, para atender esse novo público.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

Fonte: Acervo da Biblioteca

Fotos da Biblioteca e seu entorno em 1971.

Fonte: Foto da autora

Foto da biblioteca em agosto de 2005.

As dificuldades enfrentadas pela BIJ Hans Christian Andersen são discutidas pela sua bibliotecária chefe (Eulália Lobato) e por uma bibliotecária que lá trabalha (Neusa Lima). As questões por elas levantadas, refletem a problemática que atinge grande parte da rede de BIJs.

“Antes era aquela biblioteca que educativa e recreativa. Então vinha-se aqui pra arte, pra joguinhos, pra brincar, pra hora do conto, pra ler livros e depois poder brincar. Também vinha-se pra pesquisar, pra estudar. Agora, de uns bons anos pra cá, vem-se só para pesquisa e vai embora. Que papel, então, nós temos? Uma biblioteca só para pesquisa, só para pesquisa escolar? Não é uma biblioteca de escola,(...) porque nós não estamos em contato direto com a escola. Mas é uma biblioteca só de pesquisa escolar. E pela violência, pela insegurança, não se solta mais a criança para vir aqui, pra ficar aqui (...)”

Quanto a limitação das atividades e da interação da biblioteca com seus usuários Eulália e Neusa comentam:

“É você tem o computador: uma boa parte da população já o tem. Mas não tem uma biblioteca, não tem livros. Por isso matricula-se os filhos na biblioteca. A pessoa vem, pega o livro, e depois de uma semana devolve ou renova.”

Eulália Lobato

“Então: em 60, você teve a biblioteca recreativa; em 70, a biblioteca escolar; e agora o que é que você tem? Você tem a biblioteca que é um belo depósito de livros”

Neusa Lima

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

PLANTAS

Sendo a Comissão Executiva do Convênio Escolar, um grupo que trazia ao equipamento público, novos conceitos pedagógicos representados através de projetos que assimilavam o modernismo, algumas características são comuns aos edifícios projetados por esse grupo.

Nesse projeto algumas dessas características podem ser observadas: a interação visual entre a área interna e a área externa, que é garantida pelo uso de caixilhos amplos e também de elementos típicos da arquitetura modernista, como os cobogós (elementos vazados). Estes aparecem cercando os Jardins de leitura externa e o corredor de entrada, o qual é coberto por uma marquise, outro elemento marcante e moderno.

A integração dos diferentes ambientes da biblioteca não é muito expressiva, pois estes estão divididos em diferentes salas. Essa rigidez espacial, no entanto é atenuada através de portas largas e envidraçadas e da orientação das salas, as quais voltam-se para o centro da biblioteca, iluminado por um jardim central envidraçado.

A Cobertura curva do auditório é outro traço marcante em diversas obras de Hélio Duarte, membro integrante do Grupo do Convênio Escolar e autor principal deste projeto que junto da BIJ de Santo Amaro, integram a produção da Convênio Escolar para Bibliotecas reconhecida pela revista Habitat1.

Fonte: Revista Habitat nº4 (1951)

611 Revista Habitat nº4, 1951.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

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Fonte: Foto da autora

Marquise da Enfrada

Fonte: Foto da autora

Área externa do auditório com espaço para

apresentações ao ar livre.

Page 63: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

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Fonte: Foto da autora

Jardim para a sala de leitura. Separado da área externa por através de painéis de cobogós. Essa área não possuí mobiliário nem tem seu uso estimulado devido a falta de funcionários para supervisionar esse setor por conta dos furtos de livros )facilmente passados para a parte de fora da biblioteca).

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura. Porta que dá acesso para o jardim. Nesta foto aparecem as estantes com suas diferentes alturas.

Page 64: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

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Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura: vista geral.

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura Infantil. Paredes repletas de livros e a área de leitura fica concentrada na área mais central.

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BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

Fonte: Foto da autora

Salão de Jogos com Mesinhas de Xadrez. Esse espaço às vezes tem seu mobiliário retirado para a montagem de exposições.

Fonte: Foto da autora

corredor de acesso às salas de Leitura e Infantil. E corredor da entrada coberto por marquise.

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Page 66: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL HANS CHRISTIAN ANDERSEN

Fonte: Foto da autora

Sala do Acervo Circulante.

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Page 67: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS Material Levantado

Outras Bibliotecas Biblioteca Infanto-Juvenil Álvaro Guerra

Biblioteca Infanto-Juvenil Ophélia França

Biblioteca Infanto-Juvenil Joaquim José de Carvalho

Biblioteca Infanto-Juvenil Senhora Leandro Duprè

Levantamento Fotográfico

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BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ÁLVARO GUERRA

Fonte: Acervo da Biblioteca

Crianças na Sala de Leitura em 1966.

Introdução

A Biblioteca Infanto-Juvenil Álvaro Guerra foi inaugurada em 15 de maio de 1955 no Bairro de Pinheiros, trata-se da primeira biblioteca- padrão.

As chamadas Bibliotecas-Padrão formam um grupo de 12 unidades, com as mesmas características físicas. Nove dessas bibliotecas foram inauguradas no dia 7 de setembro de 1956 e, segundo histórico da Secretaria Municipal de Cultura, estas tiveram a sua inauguração simultânea divulgada através de uma emissora de rádio. As demais bibliotecas da Rede foram inauguradas posteriormente, na década de 60, sendo que em 1965, foi reinaugurada a BIJ Thales Castanho de Andrade, que até então não estava em funcionamento.

Atualmente a BIJ Álvaro Guerra atende à comunidade infantil da região e de outras localidades, ao público adulto, bem como a escolas que agendam visitas à biblioteca, onde atividades educativas e recreativas são desenvolvidas dentro do edifício e na sua parte externa. Essas atividades fazem parte do programa “Caminhando para a Leitura” e propõem a exploração do acervo de livros infantis pelas crianças como instrumento de descoberta do conhecimento, visando não só o acesso, mas também o uso, a troca e a produção, além de estimular a apropriação do espaço da biblioteca pela criança.

A principal diferença da BIJ Álvaro Guerra para as demais Bibliotecas-padrão é o fato de que dentro do espaço da Biblioteca também funciona a Estação Memória. Trata-se de um serviço pioneiro que desenvolve formas especiais e contemporâneas de coleta e mediação de memória de idosos, tendo em vista reinserí-la na vida social, em especial na educação de novas gerações. Nela os idosos são entrevistados e seus depoimentos e lembranças são registrados e documentados. Eles também podem participar de reuniões em que essas histórias são compartilhadas. Sessões de vídeo, exposições fotográficas, palestras e seminários são outras atividades também desenvolvidas pela Estação Memória.

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Page 69: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ÁLVARO GUERRA

Fonte: Foto da autora

Fachada atualmente

Fonte: Foto da autora

Sala Infantil onde são desenvolvidas atividades como Leitura de Histórias.

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Page 70: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ÁLVARO GUERRA

Fonte: Foto da autora

Hall de entrada onde são organizadas exposições

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura

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Page 71: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL ÁLVARO GUERRA

Fonte: Foto da autora

Computadores com acesso à Internet

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura vista do Hall de Entrada.

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Page 72: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL OPHÉLIA FRANÇA

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Fonte: Foto da autora

Fonte: Foto da autora

Fachada e Entrada da Biblioteca A Biblioteca Ophélia França foi edificada no mesmo padrão arquitetônico da BIJ Álvaro Guerra, contando com ambientes para pesquisa, leitura infantil, acesso à internet, acervo circulante e sala para desenvolvimento de atividades artísticas e culturais utilizada pelo público infantil e terceira idade. O mobiliário é do tipo semelhante da época da inauguração, acrescido de aquisições posteriores, principalmente estantes e arquivos de aço, dentre outras.

Fonte: Foto da autora

Vista da Sala de Leitura e do Acervo Circulante vistos do Hall de Entrada

Page 73: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL OPHÉLIA FRANÇA

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Fonte: Foto da autora

Acervo Circulante

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura

Page 74: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL OPHÉLIA FRANÇA

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Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura Infantil

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura Infantil e Computadores com acesso à internet vistos do Hall de Entrada

Page 75: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL OPHÉLIA FRANÇA

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Fonte: Foto da autora

Sala de Atividades: O acervo disponível nesta sala está disponível também na sala de leitura infantil.

Fonte: Foto da autora

Sala de Atividades: nesta sala são desenvolvidas atividades programadas para crianças e para o público da 3ª idade

Page 76: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL JOAQUIM JOSÉ DE CARVALHO

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Fonte: Foto da autora

Vista externa da Biblioteca Esta biblioteca está inserida dentro da Instalação do Centro Cultural do Jabaquara. Sua arquitetura se destaca pelo concreto aparente. O mobiliário difere do encontrado nas demais unidades da rede em relação à mesas e cadeiras, quanto à forma e os materiais dos modelos. As estantes de aço estão presentes e predominam nesta biblioteca, cujas funções estão reunidas em um mesmo espaço.

Fonte: Foto da autora

Vista da Sala de Leitura e do Acervo Circulante vistos do Hall de Entrada

Page 77: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL JOAQUIM JOSÉ DE CARVALHO

Fonte: Foto da autora

Sala de Leitura

Fonte: Foto da autora

Área externa vista da Sala de Leitura

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Page 78: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL SENHORA LEANDRO DUPRÈ

Fonte: Foto da autora

Vista externa da Biblioteca Criada da década de 70, a BIJ Senhora Leandro Dupré faz parte de um complexo de equipamentos públicos. No mesmo edifício estão reunidos a BIJ, a Biblioteca Pública de Adultos e um Teatro, sendo difícil o reconhecimento visual da BIJ exclusivamente por sua arquitetura.

Fonte: Foto da autora

Em primeiro plano, sala de leitura; em segundo, computadores para acesso à internet e Espaço de Leitura Infantil.

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Page 79: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS BIBLIOTECA INFANTO-JUVENIL SENHORA LEANDRO DUPRÈ

Fonte: Foto da autora

Espaço de Leitura Ifantil

Fonte: Foto da autora

Acervo Circulante

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Page 80: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS

Os quadros a seguir expõem as fotos do mobiliário encontrado nas BIJs ao lado dos desenhos dos projetos correspondentes encontrados na Secretaria

Municipal de Cultura. Encontram-se também, a seguir, desenhos feitos com base nas medidas tiradas in loco e painéis fotográficos que demonstram a

diversidade do mobiliário encontrado.

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Page 81: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MESAS

Fonte: Fotos da autora

BIJ Álvaro Guerra

BIJ Hans Christian Andersen

BIJ Sra. Leandro Duprè

BIJ Monteiro Lobato

BIJ Sra. Leandro Duprè Material: Tampo/ Estrutura de madeira maciça. Revestimento do tampo em fórmica, colocado posteriormente à aquisição.

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Page 82: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MESA ASSOCIÁVEL

Fonte: Foto da autora

Fonte: Foto da autora

Mesas antigas da BIJ Anne Frank

Material: Estrutura em madeira maciça; tampo em madeira maciça e compensado; acabamento do tampo em fórmica.

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Page 83: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MÓVEIS PARA SALA DE LEITURA INFANTIL

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Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato

Desenhos realizados pela autora com base nas medições in loco Material: compensado laqueado.

Page 84: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOT

Desenhos realizados pela autora com base nas medições in loco Material: Compensado e acabamento em fórmica.

Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato

Fonte: Foto da autora

BIJ Senhora Leandro Dupré

ECAS

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MÓVEIS PARA SALA DE LEITURA INFANTIL

Page 85: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MESA DE REFERÊNCIA

BIJ Senhora Leandro Duprè

Mesa para leitura em pé com tampo encontrada nas Bibliotecas Infanto-Juvenis Monteiro Lobato e Senhora Leandro Duprè. Fonte: foto da autora

Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato

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Page 86: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MESAS

BIJ Álvaro Guerra

BIJ Álvaro Guerra

BIJ Monteiro Lobato

BIJ Monteiro Lobato

BIJ Monteiro Lobato

BIJ Anne Frank

BIJ Anne Frank

BIJ Anne Frank

BIJ Joaquim José de Carvalho

Diferentes tipos de conjunto mesa/cadeira, para áreas de pesquisa e salas de leitura Fonte: Fotos da autora

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Page 87: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MÓVEIS PARA SALA DE ARTES

Fonte: Foto da autora

Fonte: Foto da autora

BIJ Senhora Leandro Dupré

Material: Compensado de madeira e revestimento de fórmica

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Page 88: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS CONJUNTO DE MESA DE TAMPO INCLINADO COM CADEIRA

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Fonte: Folheto da DIVISÃO DE BIBLIOTECAS INFANTO JUVENIS DO DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE CULTURA. Biblioteca Infantil Municipal de São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1959.

Fonte: Foto da Autora

Cadeira encontrada na BIJ H.C. Andersen

Fonte: BIJ Anne Frank

BIJ Anne Frank - 1955

Page 89: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MESA EXPOSITORA

Desenhos realizados pela autora com base nas medições in loco

Fonte: Foto da autora

Fonte: Foto da autora

Material: Estrutura em madeira maciça; tampo de vidro.

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Page 90: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS VITRINES

Fonte: Foto da autora

BIJ Senhora Leandro Duprè

Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato

Material: Madeira Maciça e vidro. 90

Page 91: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS CADEIRAS DA DÉCADA DE 40

Material:Estrutura em madeira maciça; assento/encosto estofado em couro; fixação com grampos ou tachas

Desenhos realizados pela autora com base nas medições in loco

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Page 92: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS CADEIRAS E CONJUNTO MESA/CADEIRA - DÉCADA DE 40

Desenhos realizados pela autora com base nas medições in loco

Material:Estrutura em madeira maciça; assento/encosto estofado em couro; fixação com grampos ou tachas Mesa: madeira maciça

Desenhos realizados pela autora com base nas medições in loco

Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato

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Page 93: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS CADEIRAS

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Fonte: Fotos da autora

Material: Madeira Maciça

Modelos encontrados nas Bibliotecas padrão, constantes dos catálogos dos móveis CIMO e P. Kastrup

Page 94: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS CADEIRAS

Diferentes e característicos tipos de cadeiras encontrados na BIJ Hans Christian Andersen, na Sala de Leitura.

Material: Madeira Maciça e estrutura em compensado

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Page 95: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS CADEIRAS – DÉCADA DE 70 EM DIANTE

Fonte: Foto da autora

BIJ Senhora Leandro Duprè

Fonte: Foto da autora

BIJ Joaquim José de Carvalho (Centro

Cultural Jabaquara)

Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato

Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato

Diferentes tipos de cadeiras utilizadas nas Salas de Leitura

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Page 96: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS

Fonte: Foto da autora

BIJ Sra. Leandro Duprè

Fonte: Foto da autora

Material: Estrutura de madeira maciça, tampo com acabamento em fórmica posterior à aquisição.

BALCÃO

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Page 97: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS BALCÃO

Fonte: Foto da autora

Fonte: Foto da autora

BIJ Álvaro Guerra

Material: Estrutura de madeira maciça, tampo com acabamento em fórmica posterior à aquisição.

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Page 98: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS BALCÃO

Fonte: Foto da autora

Fonte: Acervo da BIJ Anne Frank

Material: Estrutura de madeira maciça, revestimento em compensado.

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Page 99: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS ESTANTES

Fonte: Acervo da BIJ Anne Frank

Foto da BIJ Anne Frank – década de 50.

Fonte: Foto da autora

BIJ Hans Christian Andersen

Material: madeira maciça

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Page 100: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS

ESTANTES

Fonte: Foto da autora

Estantes na BIJ Hans Christian Andersen

Material: madeira maciça

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Page 101: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS ESTANTE DE TAMPO INCLINADO

Fonte: Foto da autora

BIJ Hans Christian Andersen

Fonte: Foto da autora

BIJ Hans Christian Andersen

Material: madeira maciça

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Page 102: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS ESTANTE BAIXA

Fonte: Foto da autora

BIJ Hans Christian Andersen

Material: madeira maciça

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Page 103: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS ESTANTE

Fonte: Foto da autora

BIJ Ophelia França

Material: madeira maciça

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Page 104: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS ESTANTES METÁLICAS

BIJ Anne Frank

BIJ Joaquim José de Carvalho

BIJ Hans. Christian Andersen

BIJ Álvaro Guerra

BIJ Anne Frank

Materiais: aço Fonte: Fotos da autora

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Page 105: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS FICHÁRIOS

BIJ Anne Frank

BIJ Monteiro Lobato

BIJ Monteiro Lobato

ESTANTE PARA PERIÓDICOS

BIJ Monteiro Lobato

BIJ Anne Frank

BIJ Anne Frank

Materiais: Arquivos de madeira e aço; estantes aramadas; estantes em aço e estantes em madeira Fonte: Fotos da autora

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Page 106: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS MESAS DE COMPUTADOR

Fonte: Foto da autora

BIJ Álvaro Guerra

Fonte: Foto da autora

BIJ Senhora Leandro Duprè

Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato

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Page 107: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Introdução

O objetivo deste capítulo é contextualizar a produção do mobiliário encontrado nas Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo, dentro da produção e da história do design de mobiliário no Brasil.

A principal dificuldade, como ressalta SANTOS (1995), é que o mobiliário brasileiro tem sido, em geral, pouco estudado, sendo que, nas poucas pesquisas realizadas, quase sempre se deu maior ênfase ao estudo do móvel colonial de estilo. Quanto ao início da indústria moveleira de São Paulo, são poucas as bibliografias que tratam do assunto e, em se tratando de mobiliário específico para biblioteca infantil, este ainda é mais escasso.

Os principais materiais utilizados para esta análise são desenhos pertencentes à Secretaria Municipal de Cultura e registros fotográficos feitos em diferentes unidades da rede, ou fornecidas pelo acervo histórico das mesmas. Nos desenhos, identificam-se muitos móveis que foram projetados especialmente para as BIJs. Em sua maioria, não estão detalhados com rigor projetual, contendo medidas básicas e indícios de uma linha, ou estilo, de época ou de desenho. Em muitos casos, esses móveis puderam ser encontrados em fotos antigas, ou até mesmo produzidos e em uso em várias bibliotecas, o que atesta a sua validade e propõe uma discussão sobre a indústria de móveis naquele período. As fotos tiradas em visitas de campo, em contrapartida, revelam a situação atual em que convivem os móveis antigos, os quais resistiram com o passar dos anos, e outros de diferentes tipos que foram sendo adquiridos conforme a demanda e a gestão de cada unidade.

Com isso, a construção desse histórico se faz, principalmente, sobre as referências visuais obtidas na pesquisa, com o intuito de promover comparações e associações relativas às influências e ao desenvolvimento do design do móvel encontrado na rede de bibliotecas infanto-juvenis de São Paulo.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

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Fonte: Museu da Casa Brasileira

Cadeira Portuguesa (Século XVIII)

A origem

Sobre o histórico da produção de móveis no Brasil, SANTI (2000) faz uma análise sobre as diferentes influências culturais que incidiram na produção do mobiliário brasileiro ao longo de sua história, sob a justificativa de que estas foram caracterizando e definindo sua produção. A análise começa com os dois primeiros séculos de colonização. Neste período, o móvel brasileiro é caracterizado por linhas retas, superfícies lisas e forma quadrangular nos elementos estruturais, gerando uma composição rígida que transparecia o modo de vida austero da população, dada a dificuldade de contato com a metrópole e dos poucos recursos da colônia. Além disso, havia uma ausência de modelo e de mão de obra especializada, o que contribuía para esse quadro. Alguns itens dessa época se mostram rústicos, com traços primitivos; outros agregam costumes da Metrópole, adaptados aos da colônia. Isso fazia com que os povoadores possuíssem um número reduzido de equipamentos, mas ao mesmo tempo apresentassem a assimilação de costumes dos nativos, principalmente na utilização de cerâmicas indígenas incorporados ao uso diário. A esteira e a rede são exemplos de utensílios de influência indígena que permaneceram com uma importante função dentro da casa brasileira ao longo de séculos.

Quanto ao mobiliário setecentista, este já apresenta formas mais elaboradas, com curvas, recortes, torneados e entalhes, além de uma preocupação com o conforto. Sendo móveis de linhas orgânicas, ajustavam-se mais adequadamente ao corpo. Porém, esse mobiliário, alinhado com as tendências da metrópole, era privilégio da camada economicamente mais abastada da colônia. Para os demais, os móveis continuaram rústicos.

Com as transformações sociais, econômicas e políticas que se sucederam a partir do último quarto do século XIX, ocorreram mudanças significativas na sociedade brasileira como um todo, mas tendo como principal centro irradiador dessas tendências, o estado de São Paulo. Além do crescimento da economia cafeeira, houve também a introdução de uma nova organização de trabalho no Brasil (com a intensificação da produção e a implantação do trabalho assalariado). No caso da cidade de São Paulo, esta crescia e atraía o imigrante em busca de trabalho, este trazia novos valores, hábitos e costumes. O comércio

di i i dú t i d l

Page 109: ARQUITETURA E MOBILIÁRIO DE BIBLIOTECAS E BRINQUEDOTECAS: UM ESTUDO DE CASO

MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

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Fonte: Museu da Casa Brasileira

Cadeira Rústica (Século XVII – presumível). Essa cadeira demonstra, ao mesmo tempo, a rusticidade dos hábitos, ao mesmo tempo que

este possui um entalhe de filiação renascentista (Museu da Casa Brasileira, 1995)

se expandiu, assim como a indústria começou a se desenvolver.

Nos lares brasileiros, a presença do escravo diminuía gradativamente (principalmente a partir de 1888, com a abolição da escravatura) e a casa já não poderia mais se estruturar sobre a sua força de trabalho.

A cidade se avoluma, agregando à sua população os negros libertos e os imigrantes, e ganha infra-estrutura urbana como: iluminação a gás, transporte coletivo, abastecimento de água e gás. Tudo isso são novos conceitos de se viver, que alteram a cultura e os hábitos da sociedade. Conseqüentemente, os ambientes domésticos, comerciais, administrativos, assim como a indústria, com seus novos equipamentos, criam demandas de um novo mobiliário compatível com essas atividades que surgiam.

Porém, o início da indústria brasileira, devido a uma tecnologia ainda incipiente, se deu de maneira quase artesanal, com pequenas marcenarias que produziam por encomenda, quase como manufaturas.

Em relação ao desenho característico da produção do mobiliário no país, no final do século XIX, este ainda refletia as influências artísticas geradas pela presença da Missão Francesa na cena cultural brasileira, assim como a herança artesanal da produção lusitana. Essas características de estilo e produção foram somadas à cultura dos artistas imigrantes europeus que aqui se radicaram. O desenvolvimento de uma linguagem projetual geradora de um design próprio, de uma linguagem inovadora que refletisse os valores brasileiros, foi impedido por muito tempo dentro da produção brasileira, devido à importação e valorização excessiva do mobiliário que seguia as tendências européias daquele período e que foram largamente aceitas pelo mercado.Quando não eram importados, os modelos eram copiados por marceneiros especializados em reproduções.

Segundo GALLI (1988), a ausência de autenticidade no desenho dos móveis é relatada pelo escritor português Eça de Queirós, que em visita ao país, escreve uma carta a Eduardo Prado: “Os velhos e simples costumes foram abandonados com desdém: cada homem procurou pôr na cabeça por uma coroa de barão e, com 47 graus à sombra, as senhoras começaram a derreter dentro dos gorgurões com veludos ricos. Já nas casas não havia uma honesta cadeira de palhinha onde, ao fim do dia, o corpo encontrasse pouso e frescura; começaram os damascos, e cores fortes, os móveis de pés dourados, os reposteiros de grossas borlas, todo o pesadume de decoração estofada com que Paris e Londres se defendem da neve e onde triunfa o micróbio”.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Museu da Casa Brasileira

Cadeira do artesanato popular (Século XVIII)

Cadeira popular com armação em madeira e com pés em X.

Esse mesmo fenômeno pode ser observado também na arquitetura, que reproduzia os estilos tradicionais, puros ou ecléticos nos inúmeros edifícios que surgiam nas cidades em expansão, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Por volta de 1880, despontaram algumas iniciativas de fabricação de móveis seriados no país. Em parte porque, havia uma população crescente que demandava por produtos a preços mais acessíveis. A Móveis Antônio de Mosso, a Irmãos Raffinette e Fábrica de Móveis Sholz & Comp. foram indústrias pioneiras nesse sentido. Seus projetos eram idealizados pelos próprios donos das fábricas e seguiam as tendências européias. Porém, no começo do século XX, mesmo com o expressivo desenvolvimento das indústrias têxtil e alimentícia se no Rio de Janeiro e em São Paulo, significativa parte da produção de mobiliário ainda se pulverizava em centenas de pequenas marcenarias.

Com os primeiros passos da mecanização industrial, percebeu-se a necessidade de mudanças nos modelos de mobiliário, para que se apropriassem à produção seriada. No entanto, aqueles que começaram a desenvolver nesse sentido (com formas mais limpas e menos adornados), foram preteridos por outros, importados ou aqui produzidos, mas ambos fiéis aos estilos do passado. Isso porque o requinte de detalhes e acabamentos, assim como o excesso de adornos era considerado valioso e representava status social.

Então, para as elites, quando os seus móveis não eram importados, eram feitos por encomenda aos marceneiros e artesãos, ou então pelo Liceu de Artes e Ofícios. Este funcionava como uma escola, mas também possuía a estrutura de uma empresa. As novas tecnologias e conhecimentos dos imigrantes contribuíam para a formação da mão de obra especializada que saía desta Escola. O Liceu possuía uma produção de alta qualidade, através de processos manuais e/ou mecânicos ainda bastante simples, mas capazes de competir com os móveis produzidos na Europa. Segundo NIEMEYER ( 1998 apud OGAMA; NASCIMENTO; SANTOS, 2000)1, pouco a pouco, as elites e instituições públicas foram substituindo a importação pelos móveis feitos no Liceu. Quanto aos seus alunos, os marceneiros formados pelo Liceu montaram oficinas ou fábricas, e algumas delas tornaram-se indústrias, como é o exemplo da “Celmar” e da “Casa e Jardim”. (Revista Moveleiro, 1990:4,5 apud SANTI, 2000)2 .

1 NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. Editora 2AB, Rio de Janeiro, 1998.

1102 2 Moveleiro Móveis & Designa. História da Indústria e Comércio do Mobiliário no Brasil – Os Pioneiros. São Paulo, Editora Moveleiro, Ano 10, n.97, jun. 1990.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Museu da Casa Brasileira

Cadeira Béranger (Século XX)

Cadeira com influências européias diversas da metade do século 19, com interpretação brasileira característica da escola de

moveleiros Béranger (Recife, PE). Feita em Jacarandá da Bahia com entalhes eruditos. (Museu da Casa Brasileira)

O Liceu “em mais de cinqüenta anos, ditou as regras sobre o que fosse bom ou ruim nos acabamentos arquitetônicos e no mobiliário em geral. Os professores do Liceu, eram quase todos italianos, e ao longo de muitos anos sempre lecionando junto, aos poucos foram criando uma mentalidade perfeccionista e uma reputação de honestidade na escolha dos materiais e no “modo faciendi”, de tal sorte que sempre se dizia “esse liceu é bom”. As várias gerações de profissionais dali saídos, essa é a importância de fato, vieram a praticar um “estilo” ou uma “escola” onde estavam homogeneizadas as tendências e gostos dos primeiros mestres e arquitetos de prestígio, (...). Naturalmente, hoje para nós foi uma produção de gosto muito discutível e embora essa miscelânea eclética não nos encante não podemos negar a sua importância(...). Toda a casa que se prezasse deveria possuir grades, cancelas, (...) Estofados e móveis incríveis, nas madeiras mais finas, em puro estilo provençal.”(LEMOS, 1989:116 apud SANTI, 2000) 3

Em relação à consolidação de um mercado nacional em detrimento da importação de produtos europeus, isto só ocorreu com a Primeira Guerra Mundial. Nesse momento, surgiram pequenas indústrias na tentativa de suprir as demandas do país, uma vez que as importações haviam sido interrompidas. Foi um momento também em que o produto nacional pode conquistar um mercado maior, inclusive daqueles que, antes, preferiam os móveis importados. Muitas dessas indústrias foram influenciadas pelo mobiliário que o Liceu produziu.

1113 LEMOS, Carlos. Alvenaria Burguesa. São Paulo, Nobel, 2ª edição, 1989.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Site do Museu Lasar Segall

Cadeira produzida por Lasar Segall. Em 1932, Lasar Segall desenhou uma série de móveis para sua residência da Rua Afonso Celso. Todos os móveis são em madeira, pintada com tinta preta, e os assentos estofados em tecido de cânhamo bege. AS linhas são retas, e o design se caracteriza pela sobriedade e funcionalidade, em nítida filiação com o espírito da Bauhaus. (Museu Lasar Segall)4

Modernidade

Segundo SANTOS (1995), apesar da modernização que vinha se processando, a grande mudança só ocorrerá em 30. Nessa época, com a emergência da arquitetura moderna, com a ressonância e o assentamento das principais idéias e polêmicas levantadas pelo Modernismo no âmbito da literatura e das artes plásticas do decênio anterior, enfim, com o desejo de modernização geral do país, configurou-se um conjunto de fatores que desempenhou importante papel no processo de modernização da mobília brasileira.

Os primeiros artistas que lançaram as bases do estilo moderno foram John Graz, Gregory Warchavchik e Lasar Segall. Estes trouxeram novas concepções estéticas, a utilização de novos materiais e até mesmo novos processos construtivos, muitos inspirados na produção européia. Joaquim Tenreiro é outro exemplo de grande contribuidor para o design do mobiliário moderno brasileiro, apesar de sua produção diferir esteticamente daquela dos artistas citados anteriormente. Este se tornou notável por agregar tradições brasileiras a um desenho despojado e sóbrio. No entanto, seu modo de produção continuou completamente artesanal.

O desenvolvimento do processo de modernização do mobiliário, principalmente em São Paulo, se dá em torno dos próprios arquitetos responsáveis pela modernização da arquitetura paulista: além de Warchavchik, estão em destaque os designers-arquitetos Oswaldo Bratke, João Batista Vilanova Artigas, Rino Levi, Henrique Mindlin, Paulo Mendes da Rocha. Já no início do século 20, despontava a arquitetura moderna que denunciava a necessidade de se integrar os espaços interiores e seus equipamentos, com a “casca” do edifício e estes arquitetos visavam produzir um mobiliário que se adaptasse a essa nova realidade.

1124 Informações provenientes do site do Museu Lasar Segall ( http://www.museusegall.org.br) acessado em 20/08/2005.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Museu da Casa Brasileira

Poltrona Estúdio Z, (anos 50) Fonte: Museu da Casa Brasileira

Poltrona R3, 1952, Branco & Preto

SANTOS (1995) expõe que o fato do desenho de mobiliário não ter acompanhado a velocidade de desenvolvimento da arquitetura, pode ter sido o principal motivo que também levou Lina Bo Bardi a se lançar na busca de um tipo de móvel que se identificasse com as exigências da nova arquitetura e com as condições brasileiras. A experiência de Lina Bo Bardi, outro grande nome de destaque no desenho do mobiliário moderno no Brasil, ilustra esse descompasso entre o design de móveis e a produção arquitetônica. Em 1947, em busca de um mobiliário que maximizasse o uso do espaço do auditório do Museu de Artes de São Paulo, Lina tentou encontrar no mercado algum tipo de mobiliário: “ (...) Nós viramos São Paulo inteira e não encontramos ninguém que tivesse uma cadeira moderna em 1947. Apesar das tentativas de Warchavchik, Graz, Tenreiro, Segall etc., não encontramos absolutamente nada, tanto em termos de cadeira, como de móveis modernos.” 5 Com isso, Lina desenhou uma expressiva obra para produção do mobiliário moderno nacional: a cadeira do auditório da primeira instalação do Museu de Arte de São Paulo, dobrável, empilhável em couro e madeira. As dificuldades continuaram ao se procurar um marceneiro que executasse o projeto. As 150 cadeiras acabaram sendo produzidas em uma pequena garagem por um tapeceiro italiano.

Após esses acontecimentos, visando preencher essa lacuna na produção de móveis modernos, Lina, Pietro Bardi e Giancarlo Palanti associaram-se e inauguraram, em 1948 o Estúdio de Arte Palma e a Fábrica Pau Brasil Ltda. A experiência do Studio Arte de Palma foi registrada detalhadamente pela revista Habitat nº4 de 1951: “Enquanto a arquitetura brasileira assumia notável desenvolvimento, o mesmo não se poderia dizer do mobiliário; os arquitetos, ocupadíssimos no trabalho construtivo mais urgente, febril, neste país que cresce com uma prodigiosa rapidez, não puderam empregar-se com tempo suficiente no estudo de uma cadeira, estudo que requer um técnico, como de fato o é o arquiteto, e não uma senhora que busca distrair-se como um tapeceiro, como muitos acreditam. O Studio de Arte Palma, fundado em 1948, nos mesmos moldes do Studio d’Arte Plama, de Roma, particularmente se dedicando ao desenho industrial numa tentativa de integração de todas as artes, abrangia uma seção de planejamento com oficina de produção, uma marcenaria equipada com moderníssimo maquinário e uma oficina mecânica. Buscou criar ali tipos de móveis (em especial cadeiras e poltronas) adaptados ao clima e à terra.(...)”.

1135 Depoimento de Pietro Maria Bardi a Maria Cecília Loschiavo dos Santos em 1980, retirado do livro Móvel Moderno no Brasil

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Museu da Casa Brasileira

Poltrona para visita, 1954. Giroflex S/A.

Fonte: Museu da Casa Brasileira

Poltrona D, 1964. Escriba.

A revista ainda registra o fato de que os móveis produzidos pelo Studio d´Arte Palma eram copiados de maneira improvisada, não demonstrando uma assimilação, por parte dos fabricantes, dos conceitos propostos pelo studio e pelos novos designers, o que derivou, em conseqüência, um típico formalismo “moderno superficial”. Esse mobiliário dito ”moderno”, de má qualidade, contribuía para a pouca aceitação do design modernista. As cadeiras de compensado, por exemplo, recebiam queixas quanto às lascas que rasgavam as meias das senhoras, ou por serem muito altas ou muito baixas, muito estreitas ou muito largas. O artigo se encerra afirmando que essa realidade logo faria com que o bom pai de família tivesse “saudade daquela cômoda cadeira falsa Chippendale, manufaturada pelo marceneiro da esquina”.

Warchavchik, segundo GALLI (1988) já descrevera problemas semelhantes em uma carta de 1930 :”Tive que montar oficinas para fazer executar janelas, portas de madeira lisa, móveis e equipamentos, porque a indústria de madeira, que trabalha regularmente para a construção comum, não podia e não queria realizar o que eu lhe pedia com a precisão e a limpeza adequadas e exigidas”.

A “mentalidade antimoderna”6, os meios de produção limitados que geram peças praticamente artesanais e de alto custo, a cópia e distorção dos modelos modernos pelo mercado são algumas das justificativas para que a produção do mobiliário moderno nacional tenha sido tão restrito. Por mais que possa se identificar um período fértil para o design brasileiro, entre 1945 e 1965, que corresponde um período de multiplicação de iniciativas destinadas a produzir em série móveis funcionais e modernos, como a abertura de vários escritórios, oficinas e lojas como Studio de Arte Palma, Forma, Unilabor, Z, Oca, Probjeto, Branco & Preto, Mobília Contemporânea, Giroflex, Látelier, Hobjeto, Escriba dentre outras, essa produção parece ainda não atingir as grandes massas. Isso aponta para a existência de uma história do design industrial paralela a história dessa produção inovadora e arrojada desses produtores acima citados (que atendia mais à classe média e alta da população).

Voltando-se para o objeto de estudo, que abrange o mobiliário das Bibliotecas Infanto- Juvenis, isso se confirma com o fato de que o “período fértil do design brasileiro” coincide com a produção moderna da arquitetura das Bibliotecas. Porém, o desenho moderno não contempla a produção moveleira que atinge as BIJs, sendo esse, um fenômeno que parece repetir -se dentro dos equipamentos públicos como um todo.

1146 Expressão utilizada por Pietro Maria Bardi em depoimento à Maria Cecília Loschiavo do Santos em O Móvel Moderno no Brasil

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

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Fonte: Acervo iconográfico da Escola Estadual Caetano de Campos - Aclimação, São Paulo, SP

Biblioteca do Colégio Caetano de Campos, s.d

Fonte: Acervo iconográfico da Escola Estadual Caetano de Campos - Aclimação, São Paulo, SP

Mobiliário da Escola Caetano de Campos

O Mobiliário das Bibliotecas Infanto Juvenis de São Paulo

Em se tratando de mobiliário para bibliotecas, em especial, as bibliotecas infanto-juvenis de São Paulo, a compreensão da sua história inicial não pode ser dissociada da história da escola. Primeiramente há o fato de que os departamentos, em sua origem, não eram separados, de maneira que o de Educação e o de Cultura eram geridos conjuntamente. Dessa maneira, as diretrizes que regeram o seu funcionamento, assim como a composição de seu espaço e mobiliário, até 1975 (ano em que ocorre a separação e autonomia da secretaria de educação e a de cultura), são praticamente análogas.

Nesta presente pesquisa, enfocando o recorte temporal que parte da década de 30, mais precisamente, a partir de 1936, com a criação da primeira Biblioteca Infantil de São Paulo, encontra-se como referência inicial, o mobiliário produzido pelo Liceu de Artes e Ofícios para a Biblioteca e as demais dependências do Colégio Caetano de Campos. Coordenando a relação entre os móveis escolares e os para as Bibliotecas está Lenyra Fraccaroli, a idealizadora das BIJ, que era professora e responsável pela Biblioteca desse Colégio e sua atuação ao longo da história das BIJ se mostra decisivo para a configuração dos serviços prestados pelas Bibliotecas Infanto-Juvenis como um todo.

O mobiliário produzido para o Colégio visava atender especialmente às demandas das atividades estruturadas por Lenyra para a biblioteca infantil. Ao analisarmos os registros fotográficos, pode-se perceber a semelhança com os móveis antigos encontrados em algumas BIJs, estes, assim como no Caetano de Campos, foram especialmente projetados segundo a concepção e as demandas das atividades a serem desenvolvidas.

Os diferentes tipos de mesas de uso coletivo, especiais para leitura, feitas de madeira maciça, dentre os quais a mesa com o tampo inclinado, aparecem tanto no conjunto do Colégio como nas Bibliotecas.

O mobiliário que configurou as primeiras décadas de funcionamento da Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato o qual, segundo registros das notas de aquisição de bens patrimoniais, foi adquirido em 1944, possui um design semelhante aos móveis produzidos pelo Liceu. Estes são de embuia, madeira sucupira, de madeiras nobres, com acabamento artesanal e estofamentos de couro. Essas tendências de projeto do mobiliário parecem se estender pela até a metade da década de 50, como indicam registros fotográficos do histórico da BIJ Anne Frank.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Foto da autora

Mobiliário de 1944 na BIJ Monteiro Lobato: cadeiras de sucupira e

couro

Fonte:Desenho feito pela autora

Mesa cujo mesmo modelo foi encontrada produzida por G. SAIA e

Móveis Concórdia.

Os demais desenhos de móveis encontrados na Secretaria Municipal de Cultura indicam as técnicas construtivas e a forma de produção e aquisição desse mobiliário. Os desenhos possuem pouco detalhamento, estabelecendo apenas diretrizes gerais e aspectos mais significativos do móvel a ser produzido (os quais são suficientes para definir as intenções plásticas do mesmo e garantir que estas sejam reproduzidas em todos os exemplares). Nas visitas a campo, em Bibliotecas como a BIJ Hans Christian Andersen, pode-se encontrar e analisar alguns móveis resultantes desses projetos, com isso, uma hipótese quanto à sua produção foi levantada. Encontrou-se um mobiliário com os aspectos gerais que correspondem com o desenho, porém com diferentes tipos de acabamento final, dentre outras particularidades como, por exemplo, tipo do material e detalhes de curvaturas. Essas evidências levam ao questionamento de que estas características poderiam indicar que houve diferentes tipos de fabricantes para este mesmo projeto e que, estes foram feitos em diferentes épocas. Há também características de uma produção ainda em escala reduzida, isso com base nos tipos de curvaturas e torneados, além dos detalhes construtivos, os quais aproximam a produção mais à uma manufatura do que à produção industrial consolidada.

Dentre os diversos nomes de fabricantes e fornecedores de móveis que aparecem no cadastro, entre 1944 e 1952 estão: Indústria de Móveis Paraguassú, Gaspar Villa, José Mahlmeister & Filhos, Carvalho Meira & Cia, Irmãos Janeiro, Indústrias Reunidas “Universo”- Busin Cattacini, Bernardini S/A, Tarricone & Filhos, entre outros. Outros nomes como Móveis Concórdia – Gaspar Villa, STORNI, SOMEX Comércio e Indústria Excelsior, Indústria de Móveis G. Saia (São Carlos), Barruffini (Cajuru – São Paulo), CIMO, P. Kastrup, aparecem em etiquetas afixadas nos móveis, que ainda podem ser identificadas.

Estas pequenas marcenarias concorriam entre si e barateavam os custos, o que contribuía para as vendas de grandes magazines como Casa Anglo Brasileira S/A (Mappin) e a Mesbla que já vendiam grandes quantidades de móveis prontos para setores cada vez mais amplos da sociedade. No caso do Mappin, já em 1948, aparece como um dos fornecedores de mobiliário para a rede de BIJs, em notas de aquisições da Divisão de Bibliotecas. Segundo GALLI (1988) os móveis comercializados por esses magazines eram móveis anônimos, que acompanham o gosto do público e o desenvolvimento de novos materiais que barateiam o custo, como o revestimento de fórmica em aglomerados de madeira. Na década de 40, esses estabelecimentos passaram a comercializar também os móveis de aço, que foram muito disseminados para o uso em

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Foto da autora

BIJ Hans Christian Andersen. Mobiliário da década de 50 de

madeira maciça

Fonte: Museu da Casa Brasileira

Símbolo da CIMO

escritórios e repartições públicas. É nessa época que se implantam indústrias de móveis de aço como a Securit (1942) e a Móveis de Aço Fiel (1943), ambas em São Paulo.

O material documental que fundamenta esta pesquisa, parece indicar a coexistência de um mobiliário adquirido nesses grandes magazines (como atestam as notas de aquisição de bens patrimoniais em anexo) e um mobiliário cujo desenho é assinado pelo convênio escolar, ou por responsáveis do setor público.

Identificam-se vários tipos de móveis, posteriores aos primeiros feitos em madeira maciça, que já apresentam uma configuração particular (apesar das diferenças de detalhamento) e que agregam novos materiais, assim como tendências de projeto. Passa-se a utilizar madeiras laminadas e compensados curvados e prensados. Há também uma mudança no design com um enxugamento das formas, o que resulta em móveis com menos curvaturas. Esses são indícios de uma mudança no modo de produção, necessários para compatibilizar o design com uma produção em série, de maior volume. Este fenômeno pode ser observado com maior clareza através das cadeiras e mesas utilizadas nas BIJs, devido ao seu maior desgaste e, por conseqüência, maior número de aquisições e substituições dentro das bibliotecas. Enquanto as cadeiras se transformam gradativamente em móveis de produções em larga escala, substituídas, em um último momento por cadeiras institucionais adotadas em repartições públicas e também em escritórios, o mesmo processo gradativo não se verifica com os balcões, estantes dentre outros móveis,que compõem os ambientes das bibliotecas.

No caso das estantes, por exemplo, parece haver um salto das estantes projetadas pelo setor público, de madeira maciça e confeccionadas por pequenas marcenarias, para aquelas de aço, de uso geral. Um primeiro momento em que o mobiliário introduzido nas Bibliotecas Infanto-juvenis, perde um pouco seu caráter artesanal ocorre com as Bibliotecas padrão. Ao contrário das Bibliotecas Infanto-Juvenis anteriores, as chamadas bibliotecas padrão (no total são 12 que integram a rede de BIJ), inauguradas entre 1956 e 1965 receberam boa parte do seu mobiliário padronizado, o que reflete o novo conceito de produção em série e reflete a realidade de uma fábrica significativa para a história do mobiliário brasileiro: a indústria de móveis CIMO.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

fonte: site do Museu da Casa Brasileira

CADEIRA CIMO 1001 e Cadeira de catálogo da CIMO que serve de

referência para diversos modelos encontrados nas BIJs

A origem da CIMO remonta à uma pequena indústria de caixa de laranja criada em 1912. Essa serraria foi crescendo e entrando no ramo do mobiliário e, em 1932 recebeu o nome de Martin Zipperer – Móveis Rio Negrinho – Sociedade Anônima. Em 1944, a fábrica Rio Negrinho junta-se às fábricas Irmãos Maida, Paulo Leopoldo Réu, Shauz e Buchmann, P.Kastrupp & Cia, e Raimundo Egg, representantes e lojistas, passando a ser conhecida como Companhia Industrial de Móveis S.A., a CIMO (OGAMA;NASCIMENTO; SANTOS, 2000). Essa união, faria da CIMO uma empresa de porte e facilitaria a compra de ferragens, vernizes e outros materiais que ainda precisavam ser importados da Europa. A CIMO chegou a ser a maior indústria de móveis da América Latina, controlando do plantio das árvores até a embalagem do produto. Produzia principalmente cadeiras e poltronas em madeira maciça, sobretudo imbuia, vendidas desmontadas. O forte da CIMO não era o design, que, segundo o Museu da Casa Brasileira (1995) era inspirado nas célebres cadeiras Thonet, mas a capacidade produtiva. Em 1941, quando mais de 500 mil poltronas CIMO estavam em casas de espetáculos em todo o país, e outras tantas em escritórios, igrejas, etc.- o DASP (departamento de administração do Serviço Público) oficializou suas medidas como padrão para o país (Museu da Casa Brasileira, 1995). A CIMO, apesar de seu pioneirismo e boa infra-estrutura nas suas primeiras décadas de funcionamento, fechou no início dos anos 80.

Nas BIJs os móveis CIMO aparecem de maneira expressiva, assim como na arquitetura escolar do período. Apesar da sua expressividade e capacidade produtiva, o design de seus móveis ainda possuía claras referências ao mobiliário produzido e consagrado até então.

Assim como na arquitetura, o mobiliário empregado na rede de bibliotecas padrão pendia para a massificação do equipamento. Segundo GALLI (1988), dos anos 30 aos anos 50, mais de 80% das escolas, casas de espetáculos e repartições públicas utilizavam os móveis CIMO. Independentemente da qualidade do design da CIMO, sua produção exerce influência gerando muitos móveis similares de outros produtores. Dentro da história do mobiliário das Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo, a produção da CIMO serve como elo de ligação entre dois momentos. O primeiro momento poderia ser caracterizado pela produção quase artesanal que atendia à demanda de uma rede de bibliotecas pequena e que, portanto, poderia ser pensada dentro da especificidade de cada unidade da rede, dentro das suas necessidades e do mobiliário adequado para as mesmas. A expansão da rede

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Foto da autora

Cadeiras CIMO na Sala de Pesquisa da BIJ Álvaro Guerra

Fonte: FDE7

Auditório da EEPSG Cardoso de Almeida, em Botucatu, São Paulo,

com cadeiras CIMO.

requer então um tipo de mobiliário em uma escala maior, a qual a CIMO pode atender.

Com base nas visitas e campo e seus registros fotográficos, pode-se inferir que atualmente o espaço das BIJ não possui um projeto de mobiliário definido, diferenciado, para atender as demandas de seus usuários e se atualizar perante as novas mídias e dispositivos informacionais.

A BIJ HansChristian Andersen, por exemplo, possui grande parte do mobiliário anterior à década de 80. A multiplicidade de tipos de cadeiras reflete a realidade da grande maioria dos equipamentos públicos (excetuando-se aqueles que receberam verbas de empresas privadas, como a BIJ Anne Frank). Com orçamentos muito limitados, a compra de móveis e equipamentos, ocorre de maneira fracionada, de acordo com a necessidade, sem que haja um planejamento maior e uma revisão do espaço como um todo. Isto resulta em espaços configurados por diferentes tipos de móveis, de diferentes épocas, desempenhando funções muitas vezes, variadas daquelas as quais foram designados originariamente. Em alguns casos, para atenuar as discrepâncias de estilos, os móveis são pintados; ou, para atenuar os desgastes, são reformados, recebendo novas coberturas como, por exemplo, revestimento em fórmica.

1197 FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Arquitetura Escolar Paulista: restauro. São Paulo: 1998.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Foto da autora

BIJ Hans Christian Andersen :Diferentes tipos de cadeiras.

Fonte: Site da Securit

Cadeiras da Securit. A primeira implantada na década de 70 na rede de BIJs e as duas últimas são modelos mais recentes

implantados na BIJ Anne Frank, após sua reforma.

Alguns móveis, como a mesa de pintura, perderam sua função por não corresponderem mais a uma atividade desenvolvida na biblioteca. Este é um reflexo do descompasso entre as funções aliadas ao conteúdo programático das bibliotecas e o seu respectivo mobiliário.

Fonte: Acervo Histórico da BIJ. H. C. Andersen

Crianças utilizando a mesa de pintura em atividade externa realizada em 1994.

Fonte: Foto da autora

Mesa de pintura na BIJ H.C. Andersen, inutilizada pela falta de atividades artísticas e de arte-

educadores.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS Fonte: Foto da autora

Cadeira da década de 40, utilizada junto a escrivaninha com

armação metálica em h (década de 90), ao fundo, mesas e estantes originais da inauguração da biblioteca (década de 50) e

cadeiras das décadas de 60 e 70.

Fonte: Foto da autora

BIJ do Centro Cultural Jabaquara /década de 80: estantes metálicas, mesas de fórmica e mobiliário para escritório.

A compra parcelada de mobiliário, que gera essa miscelânea de design (o pragmático móvel para escritório de aço e compensado de madeira da atualidade, com o pesado e formal mobiliário de madeira maciça da década de 50) teve sua origem na Lei de Licitações e reflete também a situação crítica da diminuição de verbas para o Departamento de BIJs e órgãos públicos em geral (situação que se agrava de maneira expressiva a partir da década de 70).

A partir daí, as necessidades foram preenchidas com equipamentos selecionados pelo critério de custo e não exatamente pela funcionalidade ou correspondência à demanda da biblioteca ou adaptabilidade ao seu usuário.

A importância do espaço como um todo é reconhecido por Dudziak (2001) quando esta diz que a biblioteca deve ser entendida como um sistema, segundo duas dimensões: organizacional e espacial. Como organização, é construída a partir de seres humanos; recursos materiais; tecnológicos e intelectuais; procedimentos; técnicas; produtos; serviços; sua estrutura. Como espaço ou lugar, é construída a partir de signos, artefatos (livros, estantes, computadores, mesas, etc.), espaços arquitetônicos e ambiência. O espaço e suas qualidades têm uma correspondência direta com o significado da biblioteca enquanto instituição, detentora de uma identidade, de uma cultura própria, sua missão, objetivos, crenças, valores, enfim, sua ideologia. Existe também uma lógica na organização. A biblioteca enquanto sistema organizado cria uma sensação de segurança, estabilidade e paz. Os ambientes estruturados facilitam o estabelecimento de padrões necessários ao conhecimento. (CARR, 1993 apud Dudziak, 2001)8

8 CARR, D. (1992)Cultural institution as structures for cognitive change. In: Cavalieri, L.A.; SGROI, A - Learning for personal developmento. San Francisco: Jossey- Bass. p. 21-35. (New Directons for Adult and Continuing Education, n.53)

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS Fonte: Foto da autora

BIJ H.C. Andersen: mobiliário das décadas de 50, 60 e 70.

Fonte: Foto da autora

BIJ Anne Frank. Mobiliário e Ambientação Novos.

O quadro atual da rede de BIJs demonstra uma colagem de mobiliário, de acervo, de espaços, de funções, que resultam de sua história segmentada por diferentes políticas públicas, muitas vezes conflitantes. Isso contribui para que o espaço tenha uma difícil compreensão para o seu usuário, já que o ambiente e seus equipamentos fazem parte do processamento da informação, atividade quotidianamente realizada pelos sistemas de informação, a qual envolve uma série de etapas, com alterações de entrada, de agrupamento, estocagem, acondicionamento e apresentação de dados/ informações, para o uso de alguém que esta fora do sistema (Dudziak, 2001). Todo este processo é denominado por Taylor (1994 apud Dudziak, 2001)9 como processo de adição de valor, valor este definido pelos e para os usuários.

Fonte: Foto da autora

Fotos da BIJ Monteiro Lobato: foto à esquerda mostra Sala de Leitura com diferentes tipos de

mesas e cadeiras; foto a direita mostra a sala de leitura adolescente com mobiliário recente e móveis antigos adaptados.

1229 TAYLOR, R.S. (1994) The value-added information system.Washington: Ablex.

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MOBILIÁRIO DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS Fonte: Foto da autora

Fotos acima da BIJ Anne Frank: reformada e com mobiliário da

atualidade.

Fonte: Foto da autora

BIJ Monteiro Lobato: Diferentes móveis de épocas variadas.

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Introdução

A rede de Bibliotecas Infanto-Juvenis se estrutura em uma época de expressivo desenvolvimento da arquitetura moderna. Essa produção relativa aos equipamentos públicos começa a absorver alguns preceitos modernistas adaptando-os às realidades locais. Entendendo que a arquitetura reflete os valores da sociedade de seu tempo, este capítulo pretende, através de comparações entre a produção arquitetônica brasileira, suas influências, e os edifícios das BIJS, entender as concepções que geraram os projetos dos edifícios das Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo em suas respectivas épocas.

Nesse percurso de estudo, busca-se também, continuar a investigar as relações de identidade entre os projetos arquitetônicos e o mobiliário correspondente analisando as referências projetuais de seus arquitetos e o material obtido com a pesquisa de campo.

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Arquivo Carmen Portinho1

Conjunto Residencial do Pedregulho : cobogós envolvem a

fachada.

Origem da Arquitetura Moderna e o Contexto Brasileiro

Desde a década de 20, a inserção do movimento moderno se intensifica na Europa pressionada pela falta de moradias originadas nos efeitos da Primeira Guerra Mundial, o que chamava a atenção dos jovens arquitetos da época como Walter Gropius, Ernst May, Bruno Taut e Hans Meyer.

Os princípios da arquitetura moderna se fortalecem nessa conjuntura, por se mostrarem eficientes para a ação do governo social democrata da época, que necessitava solucionar os problemas da habitação social. O funcionalismo e a otimização dos usos, dentre outros preceitos modernistas respondiam aos problemas daquele momento, gerando vantagem econômica e velocidade necessárias para aquela produção de caráter emergencial.

A arquitetura era responsável por uma mudança social, e essa mudança pedia uma nova arte, a arte do futuro, com novos valores: valores modernos. A pesquisa e a necessidade levaram à produção em série de moradias, em grandes conjuntos habitacionais funcionais, com expressivo uso de espaços comuns, coletivos e equipamentos urbanos incluídos, como escolas, bibliotecas, teatros, restaurantes, etc. A Arquitetura era pensada juntamente com o urbanismo, devido ao impacto desses grandes empreendimentos.

No Brasil, o período após a Primeira Guerra Mundial, é caracterizado por um crescimento no país, havendo um grande estímulo à industrialização, pois a produção nacional era obrigada a suprir a falta de importações (suspensas com a guerra). A questão social ganha força nesse momento, devido ao movimento operário que se destaca entre 1910 e 1920. Essa questão mobilizava e opunha diferentes setores da imprensa e da intelectualidade que lançava as primeiras bases do modernismo brasileiro, com a Semana da Arte Moderna de 1922 e o Manifesto Antropofágico.

Na arquitetura, um dos marcos do modernismo é representado pela atuação de Lúcio Costa, como diretor da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), em 1930. Lúcio trouxe consigo suas preocupações com habitação social, mostrando sua visão moderna e integrada já nessa época, BONDUKI (1999)

1251 Foto retirada do site www.institutobardi.com.br/.../ 03_Reidy.html (acessado em 15/08/2005).

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: autor desconhecido2

Escola do Conjunto Residencial do Pedregulho : referências para a

Comissão Executiva do Convênio Escolar

expõe a lembrança do arquiteto Ernani Vasconcelos que diz “com a entrada de Lúcio Costa para a direção, o ensino muda completamente, a ‘Torre de Pensamento às margens do Rio Sagrado’ cedeu lugar à habitação popular”.

As mudanças no ensino das ENBA irá influenciar toda uma geração de arquitetos que atuarão no Rio de Janeiro, capital federal, e gerarão referências para todo o Brasil.

Como na Europa do entre guerras, o Brasil da década de 30 e 40 enfrentava problemas com o déficit de moradias e coube ao Governo de Vargas e a sua política desenvolvimentista o equacionamento desta questão. A proposição de projetos de moradias econômicas para a implantação de uma política de habitação popular foi eleita como ponto central do movimento modernista. O estilo moderno seria a resposta para o problema da moradia, conseguindo assim deslocar a discussão com seus oponentes neocoloniais e acadêmicos do terreno estético, para um domínio ético.

O cenário político era favorável, pois no país a vanguarda era vinculada ao desenvolvimentismo de Vargas. Segundo Cavalcanti (2001) Brasil atravessava, na década de 30, um momento de certa pujança econômica e o governo se esforçava no sentido da “modernização”do país. O governo de Getúlio Vargas desejava se utilizar de reformas e obras no Rio de Janeiro como emblemas que representassem a força e o otimismo de seu governo. Ele então elege como uma de suas prioridades, a construção de palácios públicos da nova administração. A conquista de um mercado estatal era absolutamente fundamental em um país no qual as elites e empresas privadas apenas adotavam um estilo depois que tivesse sido experimentado e aprovado em obras públicas.

Foi através de obras expressivas como o Ministério da Educação e Cultura, do Rio de Janeiro que, por ser a capital Federal possuía uma grande representatividade dentro do país, que o modernismo começou a se firmar na arquitetura brasileira, consolidando abertura a sua difusão, sobrepondo-se à produção arquitetônica eclética produzida até então.

Um grande exemplo dessa produção, que irá influenciar a produção paulista de forma expressiva foi o Conjunto Residencial de Pedregulho, do Rio de Janeiro do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (década de 40/50) Pedregulho não

2Foto retirada do site http://www.bradleyshanks.net/riopedregulho.html (acessado em 15/08/2005).

1263 FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Arquitetura Escolar Paulista: restauro. São Paulo: 1998.

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

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Fonte: FDE3

EEPG Silva Jardim – Tucuruvi

Fonte: FDE

EEPG Visconde Congonhas do Campo

Uso de pilotis e esquadrias metálicas tornam-se freqüentes nas escolas da capital, a partir da metade da década de 30. Esses

edifícios demonstram um período de transição entre o art-déco e o modernismo.

Janeiro, do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (década de 40/50). Pedregulho não foi uma ação isolada, mas o apogeu desse tipo de obra, fruto de um grande estudo e amadurecimento da arquitetura moderna que influenciou diretamente os arquitetos do Convênio Escolar de São Paulo.

O projeto partiu de estudos feitos por Le Corbusier para o Rio de Janeiro e Argel. Além de bloco residencial, com a fachada marcada por elementos vazados (cobogós) tão característicos da arquitetura brasileira, e os blocos de equipamentos urbanos e de espaços de uso da coletividade, como escola, lavanderia, mercado e ginásio de esportes com piscina. Todos os elementos da arquitetura moderna estão presentes.

A arquitetura das Bibliotecas Infanto-Juvenis

Analisando a arquitetura empregada na rede de BIJs, percebe-se que o momento em que esta começa a se estruturar, coincide com esse importante momento da arquitetura moderna. Segundo Cavalcanti (2001) é no final dos anos trinta e no início dos anos quarenta que a arquitetura moderna brasileira se consolida, assim como declara a sua independência e autonomia em relação aos modelos europeus.

Se analisarmos a produção arquitetônica dos grupos escolares, admitindo que este gênero era o que mais se aproximava ao quadro de necessidades do equipamento biblioteca, a década de 30 representa um momento de mudança. No Estado de São Paulo, cria-se uma Comissão Permanente, com profissionais de diversas áreas, responsáveis pela elaboração de um plano de ação governamental na área da construção escolar. É a primeira vez que se elaboram diretrizes com base em um estudo prévio, um recenseamento, e realiza-se uma parceria com a Diretoria de Obras Públicas.

O ecletismo e os estilos europeus consagrados nos projetos escolares, por volta do final da década de 30, começam a dar lugar a projetos que manifestam a aplicação de idéias modernas da arquitetura, de uma maneira ainda não muito expressiva. Estes se utilizam de novas técnicas, de lajes de concreto armado e de terraços, porém ainda de maneira parcial. Todas as fachadas começam a ser consideradas na composição e se alteram com o uso

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: FDE

Escolas que começam a agregar conceitos modernistas em seus

projetos como fachadas mais retilíneas, ausência de adornos , volumetria de formas geométricas puras (curva, linha,

paralelepípedo), etc.

do concreto armado: as vergas vencem vãos maiores, as janelas se ampliam.

Quanto às bibliotecas Infanto-Juvenis, na década de 30/40, quando são inauguradas as BIJs Monteiro Lobato e Anne Frank, a arquitetura moderna em São Paulo ainda está sendo introduzida e a biblioteca consiste em um equipamento ainda não consolidado, sendo de abrangência limitada em relação ao município como um todo. Com isso as primeiras sedes que abrigaram essas duas bibliotecas, não possuíam um projeto específico para este uso, intalando-se em imóveis alugados.

As primeiras manifestações da arquitetura moderna que passaram a atingir a produção arquitetônica das escolas, só começaram a atingir as bibliotecas no começo da década de 50, com a inauguração de prédios especialmente projetados para esse fim.

O primeiro prédio construído foi o da BIJ Monteiro Lobato, inaugurado em 24 de dezembro de 1950 e que aparece na foto abaixo sem as grades e árvores que a ocultam agora sua fachada e seus contornos. Trata-se de um edifício cujas linhas simples e o telhado em quatro águas o aproximam a arquitetura empregada em casas comuns. O grande diferencial deste prédio, que já denota as influências do modernismo, seria a marquise com suas curvas sinuosas que vem buscar na calçada, na rua, os leitores e cidadãos, direcionando-os para a entrada da Biblioteca.

4 Foto retirada do site http://www.loc.gov/exhibits/eames/space.html (acessado em 10/08/2005)

1285 Foto retirada do site http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq020/bases/03tex.asp (acessado em 10/08/2005)

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS Fonte: foto da autora

Fonte: foto da autora

Fonte: foto da autora

Fonte: Acervo da BIJ Monteiro Lobato

BIJ Monteiro Lobato na época de sua inauguração

Por mais que esse prédio não possua uma linguagem de identidade direta com a concepção modernista, este desempenhou uma importante função como equipamento público gerador de referências para a arquitetura da cidade.

Sua notável marquise teve um impacto considerável para a arquitetura que surgia nas redondezas, gerando estruturas similares em prédios localizados no entorno próximo.

Ao lado encontram-se as fotos da marquise de um prédio da Av. Higienópolis. Esse edifício de apartamentos foi construído em duas etapas. O bloco III foi o primeiro a ser construído, em maio de 1950. Já os blocos I e II foram construídos em 1952, assim como a marquise que os interliga, ou seja, posterior à construção do prédio da BIJML e sua marquise.

A definição da linguagem moderna nas BIJs só ocorrerá em 1952, com a inauguração da sede da Biblioteca Infanto-Juvenil Hans Christian Andersen.

6 Em entrevista à autora, realizada em 09/08/2005 7 “Primeiro: escolas”, in Revista Habitat nº 4, São Paulo, 1951.

1298 Idem 7.

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: FDE

EEPSG Nossa Senhora da Penha (Eduardo Corona)

Fonte: FDE

EEPG Pandiá Calógeras (Hélio Duarte)

O convênio escolar

Fonte: Revista Habitat nº4, 1951

Maquete das Bibliotecas para adultos e Biblioteca Infanto-Juvenil (BIH H. C. Andersen) do Tatuapé.

Dentro das diferentes análises as quais esta pesquisa se propõe a desenvolver, abrangendo conteúdos programáticos, arquitetura e mobiliário (suas relações) e políticas públicas, o período de atuação da Comissão Executiva do Convênio Escolar, dentro da história das Bibliotecas estudadas, é aquele cujas premissas e conceitos se tornam mais nítidos.

As discussões que antecedem a sua existência servem de base para a articulação de uma política que entrelaça a cultura, a educação, a atividade lúdica com as potencialidades que a arquitetura modernista vinha desenvolvendo.

Como precedentes apresentam-se alguns exemplos nas obras de Rino Levy e a qualificação do edifício público, que começa no Rio de Janeiro, com planos como o Agache e o de Prestes Maia, em São Paulo, que não se limitavam à abertura de avenidas, propondo também a construção de um novo tecido urbano que incorporava o equipamento público como referência para a cidade, como é o caso do edifício do MEC. Delijaicov6 aponta também a grande influência da arquitetura moderna européia e da norte-americana, principalmente a da Califórnia exercida por Richard Neutra, Charles Eames, dentre outros, nos princípios adotados na arquitetura moderna no país e nesta Comissão

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

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Fonte: FDE

EEPSG Nossa Senhora da Penha, projeto de Eduardo Corona

Fonte: Foto da autora

Marquise, cobogós e pilotis da BIJ H.C. Andersene Cobogós na BIJ

Anne Frank.

Essas referências, somadas aos ideais primeiramente expostos por Mário de Andrade e as influências educacionais de Anísio Teixeira, geraram um programa de edifícios públicos estruturados em uma rede, que pretendia mudar os parâmetros educacionais que vinham se desenvolvendo até então, tendo a escola como centro dessa proposta, articulando-se com os demais equipamentos e, dentro deles, a biblioteca.

Segundo Lina Bo Bardi7, o objetivo dos edifícios escolares projetados pelos arquitetos do Convênio Escolar, era mudar a concepção de escola que se encontrava cristalizada, nos moldes de uma “escola-fortim, gótica, normanda ou sem estilo, mas com denominador comum de edifício-prisão” , já que esta escola havia se tornado “longínqua e obsoleta”.

As escolas produzidas até então, em um depoimento de Lina8 se caracterizavam por:

“(...) tentativas abortadas de jardim, janelas estreitas, corredores e a Diretoria, com um professor ou professora incitando os alunos com um sistema de cavalos de corrida, estimulados pela chegada, pelas medalhas, pela fita, pelos prêmios(...) Trata-se de uma sobre-estrutura cristalizada, de uma camisa de força (...) Pensamos que uma solução possível – e nos pareceu a única – fosse a humildade, e pensamos que talvez na perpetuação desta atitude, ter-se-ia podido abolir o nascimento periódico de dogmas que, verdadeiros e brilhantes no instante do nascimento arrastam periodicamente os homens à catástrofe, transformando-se logo após em rotina adquirida, em lugar comum”.

O depoimento de Lina Bo Bardi ilustra o caráter renovador dos conceitos que regeriam o projeto arquitetônico. Estes eram, muito diferentes dos utilizados até então e refletiam o ensino que era ministrado nas escolas brasileiras. Nessa nova concepção que se propunha, tornou-se como parâmetro, modelos pedagógicos e experiências européias na área da educação, além dos próprios referenciais brasileiros (como as experiências de Anísio Teixeira), que tinham a criança como referência central de todas as reflexões. A educação passou a ser vista de maneira mais abrangente, onde atividades complementares da educação formal, como atividades físicas e o bem estar corporal, tornam-se aspectos fundamentais da formação do indivíduo. A arquitetura se torna como parte crucial para a resolução desses problemas suprindo a falta de edifícios públicos escolares e o arcaico modelo de ensino. Os novos conceitos pedagógicos geram uma correspondência em termos espaciais pela adequação do prédio à escala da criança por abundância de ar e luz e pela

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Lucia Eames4

Estúdio na casa de Eames. Caixilhos amplos e integração visual

influenciaram os arquitetos do Convênio Escolar.

Fonte: site do portal Vitruvius5

Escola projetada por Neutra nos EUA.

adequação do prédio à escala da criança, por abundância de ar e luz e pela integração com a natureza. Os arquitetos Eduardo Corona, Roberto Tibau, Oswaldo Gonçalves e Ernest Mange trabalharam para a concretização desses conceitos em inúmeras obras como escolas, teatros e bibliotecas infanto-juvenis.

Em se tratando de Bibliotecas, não se identifica exatamente quais as que realmente foram projetadas pelo grupo (com exceção da BIJ H. C .Andersen e da BIJ Benedito Bastos Barreto). Porém a influência desses preceitos exercida na produção desses equipamentos a partir de então, é clara.

Fonte: Acervo da BIJ H. C. Andersen Fonte: Foto da autora

BIJ H.C. Andersen em dois momentos : década de 70 (vista lateral) e atualmente (fachada principal)

Os elementos característicos da arquitetura modernista brasileira aparecem nesses projetos garantindo a integração visual do interior com a exterior, através de caixilhos de piso a teto, parede a parede; de espaços de transição, de avarandados; e da utilização de diferentes tipos de brises, cobogós.

Pilotis e marquises são outros elementos que aparecem na produção da Comissão. Esses elementos de linguagem marcantes tornaram-se símbolos da arquitetura dos anos 50 época, e foram facilmente assimilados e reproduzidos em inúmeros projetos do período. Elementos como brises horizontais e verticais executados em lâminas de concreto,, elementos vazados de concreto utilizados em circulações e nos halls, tubos de ferro usados em “v” como pilaretes ou como cortinas verticais dispostos lado a lado muito próximos um dos outros, painéis de fechamento com recortes circulares são outros componentes deste vocabulário presentes nestes edifícios.

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Revista Habitat nº 4

Projeto da biblioteca Benedito Bastos Barreto

Os edifícios públicos projetados nessa época tinham como um de seus objetivos, criar relações de identidade para os locais e serem de fácil assimilação e reconhecimento para os seus usuários. Segundo Delijaicov, o intuito era criar referências para o local de modo que o cidadão recomnheça o prédio da biblioteca, do ginásio,etc através de uma arquitetura que simbolizasse o poder público, não de uma maneira opressiva.

A BIJ Benedito Bastos Barreto exemplifica a influência dos arquitetos da Califórnia devido a utilização de amplos caixilhos e de brises horizontais.Este projeto se insere dentro do programa de hierarquia de equipamentos, em que se tem escolas parque, onde se realizam atividades diversificadas (esportes, atividades culturais, dentre outras), como pólos centralizadores dos demais equipamentos como escolas classe (escolas apenas com salas de aula), bibliotecas, teatros, dentre outros equipamentos. Outra importante característica desses equipamentos é o fato de que a grande maioria deles está inserida em praças e parques públicos, integrando os espaços e áreas públicas aos equipamentos.

Além da produção do convênio ter sido responsável pela primeira manifestação do moderno nos edifícios públicos, outro mérito do grupo, é o fato de que, durante seu período de atuação , se observou a produção de edifícios especialmente projetados para cada local, não se observando a padronização que ocorrerá logo em seguida, a partir de 1956.

As bibliotecas construídas a seguir, até o meio da década de 50, como a BIJ Anne Frank, possuem características semelhantes e um repertório que demonstra a assimilação da linguagem arquitetônica do convênio escolar.

A partir de 1956, com a inauguração das bibliotecas padrão houve uma perda na diversidade do projeto arquitetônico desses equipamentos, conforme já mencionado na introdução deste volume. Ainda que estas demonstrem a absorção de alguns preceitos trazidos pela equipe do Convênio Escolar, a padronização não reconhece as particularidades de cada caso, que podem contribuir para o bom funcionamento de uma biblioteca, de acordo com o contexto em que esta se insere. A linguagem utilizada, o vocabulário arquitetônico ainda é o mesmo da comissão executiva, porém sem embasamento, sem o conceito anterior.

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: FDE

Fonte: Foto da autora

A esquerda a EEPG Brasílio Machado e a direita a BIJ Anne Frank

Fonte: Acervo da Biblioteca

Fachada da BIJ Anne Frank em 1955. Brises e Marquises

semelhantes às produzidas pela Comissão Executiva do Convênio Escolar

Fonte: Foto da autora Fonte: Foto da autora

Acima: Biblioteca-Padrão Álvaro Guerra (fachada e hall de entrada)

Fonte: Foto da autora Fonte: Foto da autora

Acima: Biblioteca-Padrão Ophélia França (fachada e hall de entrada)

A BIJ Ophélia França, por exemplo, tem seu terreno com divisa para o parque da Aclimação, no entanto, seu projeto ignora a existência do mesmo, não estabelecendo nenhum tipo de relação com o parque, o que denota a perda dos conceitos de integração dos espaços públicos e de áreas verdes com os equipamentos.

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

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Fonte: Foto da autora

Fonte: Foto da autora

A Sala de Pesquisa, a Sala Circulante e a Sala de Leitura Infantil,

nesta biblioteca, São ambientes criados através da disposição do mobiliário dentro de um único e amplo salão.

Delijaicov observa esse processo como um pragmatismo estatístico que visa resolver o atendimento ao aumento da demanda por equipamentos escolares através da construção de “renques de salas de aulas isoladas, desconectadas dos equipamentos importantes como teatro municipal, ateliers de arte, ginásio, balneário, tudo isso foi deixado de lado”. As concepções e a produtividade desta comissão diminuem, segundo hipótese levantada por Delijaicov, talvez por redirecionamento de verbas que passam a ser deslocadas em virtude da comemoração do quarto centenário da cidade, em 1954, aplicadas em obras como, por exemplo, a do Parque do Ibirapuera. Somando-se a esse problema, pouco a pouco profissionais como Hélio Duarte, membros importantíssimos, idealizadores dos primeiros projetos da Comissão Executiva, deixam o departamento no final da década de 50.

Com isso, a atuação da Comissão do Convênio Escolar, dentro da proposta da construção de edifícios públicos referenciais vai perdendo expressividade. A Comissão Executiva deu origem ao EDIF, que é o atual órgão responsável pelos projetos e obras dos equipamentos públicos e municipais.

A partir de então, começa uma nova etapa em que a falta de recursos redireciona a Prefeitura a utilizar edifícios pré-existentes para abrigar diferentes tipos de equipamentos. As verbas específicas para a construção de BIJs apaercem vinculadas a outros programas municipais. Esse processo se dá a partir da década de 70 com Bibliotecas como a BIJ Senhora Leandro Dupré cujo edifício abriga a Biblioteca Infanto Juvenil, A Biblioteca de Adulto e o Teatro Martins Penna.

Fonte: Foto da autora

Foto do Edifício que abriga a BIJ Senhora Leandro Dupré – Penha

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ARQUITETURA DAS BIBLIOTECAS INFANTO-JUVENIS

Fonte: Fotos da autora

Sala de Leitura da BIJ Joaquim José de Carvalho (centro Cultural

Jabaquara)

Fonte: Foto da autora Fonte: Foto da autora

Biblioteca Joaquim José de Carvalho – Centro Cultural Jabaquara

Este fenômeno se verifica também na organização do espaço interno. No caso da BIJ Sra. Leandro Dupré seu espaço interno único possuí um arranjo de mobiliário, muitas vezes improvisado, que determina os diferentes usos de cada ambiente por ele delimitado.

A heterogeneidade de tipologias das BIJ a partir da década de 70, refletem políticas públicas descontinuadas, e uma indefinição de um projeto de cultura e educação que seja consistente suficientemente para fornecer parâmetros de projeto e concepções de espaço e de serviços.

Algumas tentativas isoladas, de um programa mais complexo, podem ser verificadas como no caso da BIJ Joaquim José de Carvalho. Esta biblioteca é um caso isolado, que reflete a tentativa de se construir uma Biblioteca para o público infanto-juvenil inserida no programa de Centro Cultural. Quanto ao espaço externo, este já demonstra a assimilação de alguns conceitos provenientes do movimento brutalista de São Paulo, observado na produção de arquitetos como Vilanova Artigas. Um amplo espaço interno, sem divisões, é proposto agora como prerrogativa do projeto

No entanto, a estrutura organizacional e programática da biblioteca, continuou com o mesmo modelo das bibliotecas anteriores, gerando uma incompatibilidade entre o espaço projetado e sua estruturação interna, funcional. Pieruccini denota que surgiram “aqueles amplos espaços sem divisão nenhuma, mas como não mudou a concepção, o projeto cultural da época, se usava os mesmos modelos da outra biblioteca, então começaram a fazer salas, compartimentos, divididos por estantes” resultando “configurações realmente problemáticas”.

A partir desse momento a programação técnica das BIJs, que orientam os projetos de arquitetura e mobiliário não refletem com clareza um projeto pedagógico-educacional, indicando uma mudança de rumos acerca de sua vocação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

CAPÍTULO 5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

A multiplicidade de conceitos, áreas de estudo e variáveis que incidem na concepção da rede de bibliotecas infanto-juvenis e que essa pesquisa se propôs a estudar, revela a dificuldade em se estabelecer linguagens de projeto de arquitetura e de mobiliário que com elas dialoguem, de maneira eficiente. Mostra-se como desafio ao projeto a necessidade de mediar as políticas públicas, com o programa de necessidades do equipamento dentro da visão pedagógica e de serviços que o rege. Dentro dessa discussão ainda há o desafio de que essas visões e concepções gerem um equipamento que, no todo, reflita as concepções projetuais resultantes dessa mediação, englobando a arquitetura e todos os materiais que compõem o seu espaço.

Partiu-se do reconhecimento dessa problemática que cerca o objeto de estudo, em busca de uma análise da rede de Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo e como esta rede foi se articulando, ao longo do tempo, gerando linguagens que expressavam os valores da sociedade e os objetivos daquele equipamento. Este se apresentou perante a comunidade, ora como centro de convivência e de formação, ora como equipamento complementar à escola, até chegar na situação atual, que transita entre um passado consistente e um futuro incerto, caracterizado pela desatualização do acervo frente às novas tecnologias de informação, a limitação de verbas e a ausência de ações efetivas para o reposicionamento deste equipamento dentro da nova ordem informacional e do advento de novas tecnologias.

A partir de um recorte temporal, coube a essa pesquisa levantar dados, documentações que pudessem identificar as relações entre arquitetura e o mobiliário, dentro da realidade de cada época. O resultado desse levantamento aponta para um descompasso entre a produção arquitetônica e a produção do mobiliário.

Enquanto a arquitetura moderna se implantava tendo a frente a atuação da Comissão Executiva do Convênio Escolar, o mobiliário seguia uma produção por caminhos paralelos, cuja modernidade se restringiu a moveis destinados a uma parte seleta da população. Em parte por motivos já explicitados como altos custos e baixa produtividade. Mas também levanta-se a hipótese de que, diante

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CONSIDERAÇÕES FINAIS das discussões acerca da arquitetura das edificações públicas e das potencialidades do modernismo, o design do mobiliário tenha ficado em segundo plano dentro da produção dos arquitetos do serviço público. Esta dicotomia é verificada também se considerarmos que o trabalho exercido por arquitetos como C. Eames, que atuava numa visão conjunta – arquitetura e mobiliário- mesmo constituindo referência para os arquitetos paulistas, principalmente os do Convênio Escolar, aqui, nas BIJ esta relação de identidade entre a arquitetura e o mobiliário não se concretiza.

O design dos móveis que completaram os ambientes dos modernos edifícios foi deixado a cargo de outros participantes do processo ed implantação das BIJ pertencentes ao quadro do funcionalismo municipal. Os móveis e desenhos remanescentes indicam um mobiliário formal de madeira maciça adequada a uma educação rígida em contraposição à situação atual de desenvolvimento e modernização do país.

A estética do design moderno, na produção do mobiliário, só se verificará em uma aplicação pragmática, no uso do mobiliário institucional que entrará nas Bibliotecas através de cadeiras de compensado prensado e estantes metálicas, no período analisado por esta pesquisa, quando a indústria moveleira consolidada buscava mercado para sua sustentação.

Mesmo neste contexto, onde os conceitos, linhas e visões da arquitetura se distanciavam do mobiliário, o programa das BIJs atingiu seu apogeu no uso, no significado para a sociedade, e na sua importância de equipamento público no conjunto de ações municipais.

As eventuais incompatibilidades sugeridas pelas diferenças entre edifício e mobiliário correspondente passavam despercebidas diante de conceitos consistentes que embasavam os serviços de qualidade prestados e da disponibilidade de verbas, não podendo deixar de lado a ação das funcionárias especializadas que ali atuavam energicamente desenvolvendo atividades educativas e recreativas que influenciaram e formaram toda uma geração.

A prestação de serviços atual se mostra em condições de realidade diversa das premissas iniciais, que pressupunham um equipamento público em sintonia com as políticas e práticas de educação e cultura, que congregasse a comunidade do ponto de vista social, educativo e cultural, fornecendo não só um serviço de qualidade, mas também um ponto de encontro, um local propício ao desenvolvimento de relações sociais e culturais entre os diversos setores da

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CONSIDERAÇÕES FINAIS comunidade do entorno, dos setores educativos, entre outros.

As prioridades tornaram-se outras -como problemas financeiros, disponibilidade de funcionários, etc.- e o mobiliário, assim como a arquitetura, ficou para trás, dentro de uma hierarquia de questões importantes para os equipamentos públicos, em geral. Os espaços dessas bibliotecas ficam difíceis de serem compreendidos: encontram-se segmentados pelas diferentes linguagens dos numerosos tipos de móveis dispostos em edifícios que nem sempre recebem manutenção adequada.

Isso, aliado a um problema que esse equipamento já enfrenta, devido à revolução informacional e a necessidade de rever os seus conceitos, resultaram em uma biblioteca que além de refletir os problemas públicos administrativos, reflete também um equipamento que não se adaptou à nova realidade e nem possui um programa ou uma vocação definida, o que contribui para que este seja preterido por novos equipamentos, dispositivos, ou até mesmo atividades que se distanciam do seu âmbito inicial.

Enquanto sistema de informação, a biblioteca realiza diversas atividades que agregam valor à informação. O ambiente, o contexto onde os os processos informacionais ocorrem, tudo isso influí no serviço o qual a Biblioteca objetiva proporcionar aos seus usuários/clientes. No centro dos dois pólos definidos pelo contexto/ambiente e os usuários, estão as operações técnicas de tradução das mensagens/informações em termos/expressões informacionais, descrição de dados/informações, a interpretação, organização, padronização, as linguagens documentárias, o design do sistema até a interface com o usuário. Com a exposição de todas essas variáveis que incidem no desempenho da biblioteca, retorna-se à discussão da eficiência dos espaços oferecidos pelas BIJs dentro do que esse dispositivo se propõe a oferecer. Comparativamente ao tempo em que a rede desses equipamentos ainda estava sendo implantada, quando havia um projeto do espaço em relação às suas atividades, percebe-se uma perda de valores na rede como um todo.

Muitas das bibliotecas visitadas ainda apresentam um serviço de qualidade com uma alta procura pelo público. Porém, esta diferenciação da realidade de uma biblioteca para outra, reflete o esforço pessoal daqueles que são responsáveis pelo equipamento e não de um respaldo oficial da iniciativa pública. Sem um projeto claro de gestão, o projeto pedagógico fica desamparado e, por conseqüência, o projeto arquitetônico, fragilizado. Surge a necessidade de se recuperar a qualidade do edifício público, característico da

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CONSIDERAÇÕES FINAIS década de 50. Resgatando a sua importância dentro da estruturação da cidade e da sua contribuição para a formação do cidadão. Para tanto, dentro da realidade das bibliotecas, conta-se com instrumentos disponibilizados pela arquitetura, pelo design e pelo conhecimento gerado por outros campos de estudo na construção de um equipamento completo, em sintonia com a demanda da sociedade por atividades educacionais, culturais e lúdicas que competem a uma biblioteca infanto-juvenil.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bibliografia

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