arquipélago de pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

103

Upload: senacbau20112015

Post on 24-Jul-2016

216 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Este trabalho discute sobre a construção simbólica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar.

TRANSCRIPT

Page 1: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

䄀刀儀唀䤀倀준䰀䄀䜀伀 䐀䔀 倀䤀一䠀䔀䤀刀伀匀䄀刀䤀䄀一䔀 䨀 匀 儀唀䔀䤀刀伀娀

愀 瀀爀琀椀挀愀 瀀漀琀椀挀愀 搀漀 挀愀洀椀渀栀愀爀 挀漀洀漀 挀漀渀猀琀爀甀漀 搀攀 椀氀栀愀猀 猀攀渀猀瘀攀椀猀 

1 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

2 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

3

CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

5

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso

apresentado ao Centro Universitaacuterio

Senac ndash Campus Santo Amaro como

exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do

grau de Bacharelado em Arquitetura

e Urbanismo

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 2: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

1 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

2 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

3

CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

5

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso

apresentado ao Centro Universitaacuterio

Senac ndash Campus Santo Amaro como

exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do

grau de Bacharelado em Arquitetura

e Urbanismo

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 3: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

2 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

3

CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

5

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso

apresentado ao Centro Universitaacuterio

Senac ndash Campus Santo Amaro como

exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do

grau de Bacharelado em Arquitetura

e Urbanismo

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 4: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

3

CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

5

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso

apresentado ao Centro Universitaacuterio

Senac ndash Campus Santo Amaro como

exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do

grau de Bacharelado em Arquitetura

e Urbanismo

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 5: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

5

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso

apresentado ao Centro Universitaacuterio

Senac ndash Campus Santo Amaro como

exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do

grau de Bacharelado em Arquitetura

e Urbanismo

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 6: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

5

ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS

a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas

sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso

apresentado ao Centro Universitaacuterio

Senac ndash Campus Santo Amaro como

exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do

grau de Bacharelado em Arquitetura

e Urbanismo

Orientador

Prof Mestre Ricardo Luis Silva

SAtildeO PAULO|SP

2015

6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 7: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 8: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

7

Ariane Jeacutessica Santana Queiroz

Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do

caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao

Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva

A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em

sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou

a candidata

1) Ricardo L Silva

2) Maria Isabel Villac

3) Ralf Flocircres

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 9: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 10: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

9

Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia

Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 11: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 12: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

11

Agradecimentos

Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 13: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 14: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

13

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 16

I A origem do homem caminhante 18

II Caminhar para construir um lugar 22

III O habitar momentacircneo 24

IV Orientar-se 29

V O caminho de Pinheiros 32

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38

VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48

ILHA PASSARELLI 51

ILHA VERDE 55

ILHA MERCADO MUNICIPAL 59

ILHA RESIDENCIAL 63

ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67

ILHA TERRAIN VAGUE 70

IlHA DOS INSTANTES 76

ILHA DAS COISAS 79

ILHA DE AMBULANTES 84

Ilhas documentadas ateacute hoje 87

Coletacircnea de histoacuterias 90

Consideraccedilotildees finais 98

Referecircncias bibliograacuteficas 99

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 15: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 16: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 17: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Introduccedilatildeo

Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio

Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura

Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo

Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo

Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo

Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)

Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 18: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

17 Introduccedilatildeo

O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio

1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente

organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI

2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius

locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser

lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e

aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo

(NORBERG-SCHUIZ p 454)

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 19: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

I A origem do homem caminhante

O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de

percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento

A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)

O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)

Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como

um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica

Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)

O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo

3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo

(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da

paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 20: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Erracircncias urbanas

O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)

O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente

O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)

Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos

banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna

O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente

A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte

Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 21: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)

Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas

A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques

A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)

O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um

estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo

Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)

O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical

ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant

Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 22: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

21 A origem do homem caminhante

Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas

Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana

A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)

Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)

Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que

aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica

comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 23: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

II Caminhar para construir um lugar

Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem

Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)

Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se

funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4

De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)

Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido

4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-

Schulz 2006 p456)

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 24: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

23 Caminhar para construir um lugar

O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)

Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas

Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo

Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes

No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio

5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves

pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-

SCHUIZ 2006 p 454)

Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 25: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

III O habitar momentacircneo

O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)

Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa

habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar

O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo

Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo

Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar

O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 26: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

25 O habitar momentacircneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 27: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O caminhar mesmo natildeo sendo a

construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo

implica uma transformaccedilatildeo do

lugar e dos seus significados

A presenccedila fiacutesica do homem num

espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar

das percepccedilotildees que daiacute ele

recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma

forma de transformaccedilatildeo da

paisagem que embora natildeo deixe

sinais tangiacuteveis modifica

culturalmente o significado do

espaccedilo e consequentemente o

espaccedilo em si transformando-o

em um lugar (CARERI 2013 p 51)

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 28: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

27 O habitar momentacircneo

Lugares iacutentimos

ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns

[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo

Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 29: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 30: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

29 Orientar-se

IV Orientar-se

O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)

A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e

aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)

Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia

6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A

Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional

Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 31: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)

Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 32: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

31 Orientar-se

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 33: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

V O caminho de Pinheiros

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos

Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um

lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser

algo Foto de autoria proacutepria

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 34: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

33 O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho

apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as

ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante

Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)

A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes

A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)

A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 35: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 36: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 37: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana

O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)

A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante

O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante

7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas

um vir a ser

A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica

Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)

Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo

O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 38: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de

interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um

lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute

possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam

procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)

O SUJEITO CAMINHANTE Eacute

FLUIDO

OS OBJETOS DA

PAISAGEM SAtildeO FIXOS

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 39: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes

Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso

Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 40: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem

A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 41: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A rua que eu acreditava fosse

capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a

rua com as suas inquietaccedilotildees

e os seus olhares era o meu

verdadeiro elemento nela eu

recebia como em nenhum outro lugar o vento da

eventualidade (Breton 1924)

Eu amo a rua [hellip] Para compreender a

psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as

deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo

do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e

os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele

que chamamos flacircneur e praticar o mais

interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar

Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 42: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 43: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se

em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos

temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a

essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa

mesma imagem

Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 44: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos

Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 45: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Rebeca Solnit localiza em seus mapas

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 46: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 47: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte

Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120

Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a

partir de suas derivas pelas cidades do mundo

No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das

cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles

para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo

centrada em torno do ponto de onde se

localizava sua residecircncia

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 48: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 49: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

VII Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 50: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

49 Arquipeacutelago de Pinheiros

Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas

Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares

Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago

Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico

instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9

[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]

Cada ilha eacute um conjunto de instantes

construtores de um lugar uacutenico

Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar

Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago

8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar

9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A

maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 51: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

[hellip] eacute na cidade que o homem comum se

reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees

de cidades 12 milhotildees de mapas

sentimentais recortados pelas pequenas

histoacuterias de vida de seus pequenos

habitantes (KEHL sd)

Organizar dentro de uma totalidade

imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de

caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de

cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e

memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que

dela se imagina Existe uma cidade do

caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de

fragmentos dentro de cada um de noacutes

Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma

cidade definida ou uma cidade estaacutetica

natildeo eacute feita soacute de concretude pura

concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma

transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo

real e pelo imaginado ao mesmo tempo

(CARVALHO 2007 p233)

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 52: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

51 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA PASSARELLI

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 53: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 54: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

53 Arquipeacutelago de Pinheiros

Esta ilha eacute usada por seus

caminhantes como uma

passarela isto eacute uma ponte

para chegar agrave outras ilhas

Cada caminhante tem sua ilha

de destino por isso se

comportam cada um agrave sua

maneira

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 55: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii

Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 56: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

55 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA VERDE

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 57: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 58: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

57 Arquipeacutelago de Pinheiros

Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca

Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama

Mas vaacute agrave caraacuteter

Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local

Eacute a calccedila o sapato a camisa

Eacute verde a roupa de quem limpa

Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca

Eacute a cor da fruta comprada no Futurama

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo

em miacutedia anexa

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 59: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens

dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 60: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

59 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA MERCADO MUNICIPAL

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 61: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 62: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

61 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva

10 Veja em Ilha Terrain Vague

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 63: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo

disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta

Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do

Mercado Municipal de Pinheiros

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 64: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

63 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA RESIDENCIAL

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 65: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 66: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

65 Arquipeacutelago de Pinheiros

Nesta ilha te convido a sentir

Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]

Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som

vento - disponiacutevel em

miacutedia anexa

Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa

Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 67: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial

Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha

residencial

Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na

Ilha residencial

Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial

Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 68: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

67 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 69: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 70: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

69 Arquipeacutelago de Pinheiros

Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a

6402

metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas

Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x

e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 71: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 72: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

71 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA TERRAIN VAGUE

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 73: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)

[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 74: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

73 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio

Um terrain vague possiacutevel de habitar de

trabalhar e de transitar Lugar do habito

da crenccedila e do ritual

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 75: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de

infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes

lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu

imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 76: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

75 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio

Este Terrain vague convida a uma

pausa no caminhar uma pausa para

ouvir o que seu muro tem a dizer

Nele vague a palavra eacute maior que

seus transeuntes

A mensagem eacute mais importante que

seu mensageiro

A parede eacute mais necessaacuteria que o

ceacuteu e o chatildeo

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 77: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

IlHA DOS INSTANTES

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 78: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

77 Arquipeacutelago de Pinheiros

Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)

O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento

No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem

Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 79: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Figura 44 - Instantes Fotos de autoria

proacutepria

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 80: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

79 Arquipeacutelago de Pinheiros

ILHA DAS COISAS

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 81: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas coletadas

O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar

de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular

Coletei em Pinheiros

Coisas do tempo

Assim como o reloacutegio

Meu caminhar marcava

Os instantes que jamais iriam

voltar

Como num tic-tac

As pessoas iam num tic

Os carros passavam num tac

A nuvem cobria num tic

O sol iluminava num tac

Os sinos tocam num tic

E todos jaacute sabiam que

Jaacute era tempo do tac

Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 82: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

81 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chatildeo lugar do

passo tambeacutem eacute o

lugar das pedras

Pedras

concretadas no

chatildeo registram a

presenccedila anterior

de um outro

caminhante

Satildeo pedras fixas

inscrevem de

forma permanente

no percurso

fluido e efecircmero

Demarcam a

memoacuteria futura do

caminhante

presente

Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 83: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coisas monumentais

O hidrante eacute

como um menir

em Pinheiros

Eacute um monumento

Uma referecircncia

um ponto de

encontro

Um marco

simboacutelico para

o caminhante

nocircmade urbano

Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 84: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

83 Arquipeacutelago de Pinheiros

Coisas expostas e refletidas

As vitrines satildeo grande

atraccedilatildeo de um

caminhante urbano

Expotildeem e refletem

Expotildeem o dentro

O fixo

O produto do habitar

estaacutetico

Refletem o fora

O movimento

O transitoacuterio

O produto do habitar

momentacircneo

Quando passa por uma

vitrine o caminhante se

espoe para o dentro

E vecirc seu reflexo de

fora

Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 85: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

ILHA DE AMBULANTES

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 86: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

85 Arquipeacutelago de Pinheiros

Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 87: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo

carroccedilas

abrigos

plaacutestico

carrinho

quiosque

ferro

tecido

barraca

banquinho

madeira

lona

papel

habitam

perambulam

roda

recolhem

distribuem

reusam

trocam

vendem

entregam

recebem

juntam

andam e param

veem e satildeo

vistos evitados

procurados

esperados

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 88: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

87 Arquipeacutelago de Pinheiros

Ilhas documentadas ateacute hoje

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 89: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 90: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

89 Arquipeacutelago de Pinheiros

Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros

explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele

Carvalho Carvalheiro

Mercado Municipal

Residecircncias

Terrian Vague

Verde

Instantes

Ambulantes

Coisas

MICTRAV

CRATVIM

CAMTRIV

TRIVAMC

hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes

Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 91: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Coletacircnea de histoacuterias

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 92: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

91 Arquipeacutelago de Pinheiros

O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip

Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a

entrevista

Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve

Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela

impressora este mecircs

Robison acabara de se demitir da serralheria

Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua

jaqueta na cabeccedila

Alberto sim se ateve

Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees

Alberto parou para conversar com seu velho amigo

Finalmente um sorriso

Reproduzir viacutedeo

ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi

Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 93: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Faixa de encontro

Do outro lado da rua duas amigas de longa data se

encontram

Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento

que aconteceu ontem naquela mesma travessa

Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo

para onde foi o moccedilo apressado carregando uma

sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido

com o Augusto que morava ao lado da casa do

farmacecircutico

Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 94: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

93 Arquipeacutelago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para

transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa

xii

Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 95: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Identitaacuterio

Quando caminho por Pinheiros

retorno agrave minha simplicidade

agrave minha vivecircncia de bairro

Encontro nos detalhes

ruas que jaacute conheccedilo

e construo em meu imaginaacuterio

um bairro que soacute existem mim

O mercadinho

o vizinho que encontro na

esquina

o horaacuterio da missa

deixar as crianccedilas na creche

o conversar com um

desconhecido

o vendedor ambulante

o comer um salgado na esquina

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 96: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

95 Arquipeacutelago de Pinheiros

Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute

rua vinha em meu

pensamento sempre que

ouvia falar de Pinheiros

Era impressionante o fato

de que toda vez que eu ia

agrave Pinheiros acabava sempre

passando por ela

Deve ser porque todo mundo

vai para laacute tambeacutem Natildeo

importa a hora do dia

sempre haacute algueacutem subindo

ou descendo

Pinheiros eacute um desses

lugares cheios Cheio de

cores de sons de

cheiros de caminhantes

de ambulantes de carros

de preacutedios de placas

Ela eacute a 25 de marccedilo de

Pinheiros Assim como

naquela por mais que se

tenha apenas a intenccedilatildeo de

passar natildeo haacute como natildeo se

distrair com tantos

produtos implorando para

serem comprados Vocecirc pode

natildeo estar precisando de

bijuterias mas vai acabar

prestando atenccedilatildeo no que

fala ao microfone o moccedilo

da loja Khiara Biju

Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 97: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em

meio a um terrain vague

encontrei um grupo de

caminhantes urbanos

tocando muacutesicas

brasileiras Eles se

denominavam ldquoBanda Pelas

Ruasrdquo

Naquele momento aquele

vazio havia se tornado

um grande imatilde atraindo

atenccedilatildeo de todos os

caminhantes de

Pinheiros

Era de costume daqueles

caminhantes muacutesicos

transformar os vazios

urbanos em cheios

sonoros

Vivem de forma nocircmade

transformando os espaccedilos

em habitaccedilotildees

momentacircneas para outros

caminhantes

Satildeo na verdade

personagens da Ilha dos

Ambulantes pois

carregam consigo aquele

objeto coisa ou

instrumento de troca

Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv

Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 98: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

97 Arquipeacutelago de Pinheiros

A pausa chama o caminhar

Mas todo caminhante precisa da pausa

Um momento para satisfazer suas necessidades

primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para

comer e para descansar Ele procura um lugar

que ofereccedila conforto Avido por sua

atividade preferida a do caminhar ele

prefere que este lugar da pausa tenha vista

para o lugar do caminhar

Reproduzir viacutedeo

ldquoA pausa chama o

caminharrdquo em miacutedia

anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 99: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Consideraccedilotildees finais

O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 100: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

99 Referecircncias Bibliograacuteficas

Referecircncias Bibliograacuteficas

BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 101: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis

Lista de Figuras

Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23

Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25

Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28

Figura 4 - Orientar-se 29

Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30

Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32

Figura 7 - Habitar momentaneo 35

Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41

Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41

Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42

Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43

Figura 16 - Monarchs and Queens 45

Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46

Figura 18 ndash Moedas 48

Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52

Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54

Figura 21 - Ilha verde 56

Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58

Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60

Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62

Figura 25 - Ilha Residencial 64

Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65

Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65

Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65

Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65

Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65

Figura 31 - Fotografia D 66

Figura 32 - Fotografia F 66

Figura 33 - Fotografia E 66

Figura 34 - Fotografia A 66

Figura 35 - Fotografia C 66

Figura 36 - Fotografia B 66

Figura 37 - Fotografia G 66

Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68

Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72

Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73

Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 102: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

101 Lista de anexos

Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75

Figura 44 - Instantes 78

Figura 45 - Reloacutegios 80

Figura 46 - Pedras 81

Figura 47 - Hidrantes 82

Figura 48 - Vitrines 83

Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85

Figura 50 - Arquipeacutelago 88

Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89

Figura 52 - O sorriso 91

Figura 53 - Faixa de encontro 92

Figura 54 - Sentado no Banco 93

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95

Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96

Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97

Lista de anexos

i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria

ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria

iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria

iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria

v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria

vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria

vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria

viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria

ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria

x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria

xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria

xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria

xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria

xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria

xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria

Page 103: Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis