arquipélago de pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis
DESCRIPTION
Este trabalho discute sobre a construção simbólica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar.TRANSCRIPT
䄀刀儀唀䤀倀준䰀䄀䜀伀 䐀䔀 倀䤀一䠀䔀䤀刀伀匀䄀刀䤀䄀一䔀 䨀 匀 儀唀䔀䤀刀伀娀
愀 瀀爀琀椀挀愀 瀀漀琀椀挀愀 搀漀 挀愀洀椀渀栀愀爀 挀漀洀漀 挀漀渀猀琀爀甀漀 搀攀 椀氀栀愀猀 猀攀渀猀瘀攀椀猀
1 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
2 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
3
CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
5
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso
apresentado ao Centro Universitaacuterio
Senac ndash Campus Santo Amaro como
exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do
grau de Bacharelado em Arquitetura
e Urbanismo
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
1 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
2 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
3
CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
5
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso
apresentado ao Centro Universitaacuterio
Senac ndash Campus Santo Amaro como
exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do
grau de Bacharelado em Arquitetura
e Urbanismo
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
2 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
3
CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
5
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso
apresentado ao Centro Universitaacuterio
Senac ndash Campus Santo Amaro como
exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do
grau de Bacharelado em Arquitetura
e Urbanismo
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
3
CENTRO UNIVERSITAacuteRIO SENAC
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
5
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso
apresentado ao Centro Universitaacuterio
Senac ndash Campus Santo Amaro como
exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do
grau de Bacharelado em Arquitetura
e Urbanismo
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
4 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
5
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso
apresentado ao Centro Universitaacuterio
Senac ndash Campus Santo Amaro como
exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do
grau de Bacharelado em Arquitetura
e Urbanismo
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
5
ARIANE JEacuteSSICA SANTANA QUEIROZ
ARQUIPEacuteLAGO DE PINHEIROS
a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas
sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso
apresentado ao Centro Universitaacuterio
Senac ndash Campus Santo Amaro como
exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do
grau de Bacharelado em Arquitetura
e Urbanismo
Orientador
Prof Mestre Ricardo Luis Silva
SAtildeO PAULO|SP
2015
6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
6 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
7
Ariane Jeacutessica Santana Queiroz
Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do
caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Trabalho de conclusatildeo de curso apresentado ao
Centro Universitaacuterio Senac ndash Campus Santo Amaro
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Orientador Prof Mestre Ricardo Luis Silva
A banca examinadora dos Trabalho de Conclusatildeo em
sessatildeo puacuteblica realizada em 04122015 considerou
a candidata
1) Ricardo L Silva
2) Maria Isabel Villac
3) Ralf Flocircres
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
8 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
9
Resumo Neste Trabalho de Conclusatildeo de Curso discuto sobre a praacutetica poeacutetica do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que eacute o espaccedilo em sua essecircncia isto eacute o que faz um espaccedilo um lugar A praacutetica de caminhar eacute um ato primordial de sobrevivecircncia e de orientaccedilatildeo no espaccedilo O indiviacuteduo caminhante experimenta o espaccedilo com o corpo sente a sua ambiecircncia e entra em contato com o inconsciente do lugar Ao se relacionar e se identificar com o espaccedilo ele constroacutei em seu imaginaacuterio um novo lugar de significado simboacutelico Para compreensatildeo do caminhar no espaccedilo urbano explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo Ademais revelo a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Um bairro estruturado por muacuteltiplos lugares aos quais chamo de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo ilhas construiacutedas cada nova deriva Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poeacutetica por quatro tipos de linguagem o mapa psicogeograacutefico a fotografia o viacutedeo e a escrita Palavras chave caminhar deriva urbana praacutetica poeacutetica imaginaacuterio do lugar Psicogeografia
Abstract In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence that is what makes a space a place The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space The walking person experiences the space with his own body feels its ambience and get in touch with the placersquos unconsciousness By connecting and identifying himself with the space he builds inside his imaginary a new place of symbolic meaning For understanding the walking in an urban place I explored Pinheiros neighborhood located at Satildeo Paulo city Moreover I reveal it from my own perceptions as a walker a new Pinheiros neighborhood A neighborhood structured by multiple places in which I call by ldquosensitive islandsrdquo each island built by each new drift Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language the psychogeographic map the photography the video and the writing Keywords walking urban derive practice imaginary place psychogeography
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
10 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
11
Agradecimentos
Primeiramente agrave minha matildee Adma por todo seu apoio dedicaccedilatildeo e confianccedila que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada ateacute aqui Ao meu amor e futuro marido Joatildeo por estar ao meu lado em todos os momentos Aos meus amigos do Senac Em especial aquelas que me acompanharam nesses uacuteltimos anos Liliane Iolanda Agatha Ao meu professor e orientador Ricardo por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada cujos pensamentos continuaratildeo a me acompanhar aleacutem deste trabalho
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
12 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
13
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 16
I A origem do homem caminhante 18
II Caminhar para construir um lugar 22
III O habitar momentacircneo 24
IV Orientar-se 29
V O caminho de Pinheiros 32
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar 34
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes 38
VII Arquipeacutelago de Pinheiros 48
ILHA PASSARELLI 51
ILHA VERDE 55
ILHA MERCADO MUNICIPAL 59
ILHA RESIDENCIAL 63
ILHA CARVALHO CAVALHEIRO 67
ILHA TERRAIN VAGUE 70
IlHA DOS INSTANTES 76
ILHA DAS COISAS 79
ILHA DE AMBULANTES 84
Ilhas documentadas ateacute hoje 87
Coletacircnea de histoacuterias 90
Consideraccedilotildees finais 98
Referecircncias bibliograacuteficas 99
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
14 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
15 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
16 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Introduccedilatildeo
Caminhar eacute o ato de atravessar de um ponto a outro algo que pode parecer simples poreacutem tem grande importacircncia na formaccedilatildeo simboacutelica de um lugar Eacute neste ato que o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com corpo e constroacutei um lugar a partir das suas percepccedilotildees sensoriais do ambiente e de seu imaginaacuterio
Quando observa um espaccedilo de longe sem experimenta-lo com o corpo o indiviacuteduo natildeo tem a capacidade de dar-lhe real significado seraacute preciso assimila-lo agrave algum outro no qual jaacute teve contato fiacutesico O olhar analisa o caminho mas eacute o corpo que o inaugura
Com o objetivo de documentar a construccedilatildeo simboacutelica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar explorei como cenaacuterio o bairro de Pinheiros localizado na cidade de Satildeo Paulo
Ademais inaugurei a partir das minhas percepccedilotildees como caminhante um outro bairro de Pinheiros Nessas caminhadas organizadas em forma de deriva experimentei a cidade com o corpo e construiacute em meu imaginaacuterio muacuteltiplos lugares aos quais chamei de ldquoilhas de sensiacuteveisrdquo
Um percurso natildeo eacute o mesmo em todos os pontos possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes Para percepccedilatildeo desses lugares (ilhas sensiacuteveis) eacute preciso ldquouma imersatildeo sensitiva uma presenccedila ativa do caminhante na recepccedilatildeo e na construccedilatildeo dessa relaccedilatildeo mapeando por meio do seu proacuteprio corpo uma inscriccedilatildeo no espaccedilo urbanordquo (CARVALHO 2007 p 49) Eacute preciso entender a fenomenologia da efemeridade eacute preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do especcedilo um lugar ou melhor dizendo uma ldquoilha sensiacutevelrdquo
Satildeo esses detalhes que determinam o caraacuteter de cada ilha ldquoO caraacuteter eacute determinado pela construccedilatildeo material e formal do lugarrdquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451)
Para documentar a atmosfera das percepccedilotildees sensitivas absolvidas em cada ilha foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios Mapas psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
Entretanto esse bairro de Pinheiros por onde caminho natildeo eacute o mesmo bairro que estaacute delimitado nos mapas da prefeitura
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
17 Introduccedilatildeo
O novo mapeamento resultaraacute num mapa diferente do convencional Seraacute um mapa desfragmentado baseado na Psicogeografia1 Um mapa psicogeograacutefico diferentemente do o mapa cartograacutefico natildeo se importa com a localizaccedilatildeo geograacutefica real eacute pautado no imaginaacuterio poeacutetico do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar O criteacuterio usado para delimitar suas fronteiras eacute algo subjetivo baseado no ldquosentimento do lugar 2rdquo ldquoO modo de ser de uma fronteira depende de sua articulaccedilatildeo formal que estaacute novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi lsquoconstruiacutedarsquordquo (NORBERG-SCHUIZ 2006 p 451) Os mapas As paacuteginas a seguir satildeo resultantes das minhas reflexotildees como caminhante urbana Revelo em minhas caminhadas lugares efecircmeros que soacute existiram em mim em meu imaginaacuterio Convido cada caminhante leitor deste trabalho a construir as ilhas sensiacuteveis de seu proacuteprio imaginaacuterio
1 Psicogeografia - ldquoEstudo dos efeitos preciosos dos meio geograacuteficos conscientemente
organizados ou natildeo que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indiviacuteduosrdquo (CARERI
2013 p 90) 2 Sentimento do lugar refere-se ao ldquoespirito do lugarrdquo ou como diz Norberg-Schulz ldquogenius
locirdquo ldquoGenius Loci eacute um conceito romano Na Roma antiga acreditava-se que todo ser
lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves pessoas e
aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia rdquo
(NORBERG-SCHUIZ p 454)
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
18 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
I A origem do homem caminhante
O homem nocircmade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo um ato primordial de vivecircncia de criaccedilatildeo e de
percepccedilatildeo de lugares Antes de tudo o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivecircncia usado para buscar alimento
A origem da histoacuteria da humanidade eacute uma histoacuteria do caminhar [hellip] Eacute agraves incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o iniacutecio da lenta e complexa operaccedilatildeo de apropriaccedilatildeo e de mapeamento do territoacuterio (CARERI 2013 p 44)
O percurso eacute um espaccedilo anterior ao espaccedilo arquitetocircnico um espaccedilo imaterial com significado simboacutelico-religioso durante milhares de anos quando ainda era impensaacutevel a construccedilatildeo de um lugar simboacutelico percorrer o espaccedilo representou um meio esteacutetico atraveacutes do qual era possiacutevel habitar o mundo (Idem p 55)
Ao se satisfazer essa exigecircncia primaacuteria de sobrevivecircncia o homem passa a modificar o percurso como
um ato simboacutelico de habitar o mundo O homem nocircmade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaccedilo que tinha alguma importacircncia simboacutelica
Seu erguimento (do menir) representa a primeira accedilatildeo humana de transformaccedilatildeo fiacutesica da paisagem uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo eacute ainda apenas uma simples pedra sem conotaccedilotildees simboacutelicas mas a sua rotaccedilatildeo em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presenccedila que deteacutem o tempo e o espaccedilo institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante (Ibidem p 52)
O homem moderno eacute como um ldquonocircmade sedentaacuteriordquo usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaccedilo ademais caminha para conhececirc-lo e habita-lo
3 A palavra menir deriva do dialeto de bretatildeo e significa literalmente ldquopedra longardquo
(men=pedra e hir=longa) O erguimento do menir representa a primeira transformaccedilatildeo fiacutesica da
paisagem de um estado natural a um estado artificial (CARERI 2013 p 56)
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
19 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Erracircncias urbanas
O breve histoacuterico das erracircncias urbanas tambeacutem pode ser dividido em trecircs momentos [hellip] o periacuteodo das flanacircncias de meados e final do seacuteculo XIX ateacute iniacutecio do seacuteculo XX que criticava exatamente a primeira modernizaccedilatildeo das cidades o das deambulaccedilotildees dos anos 1910-30 que tambeacutem fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbaniacutesticas do iniacutecio dos CIAMs e o das derivas dos anos 1950-60 que criticou tanto os pressupostos baacutesicos dos CIAMs quanto sua vulgarizaccedilatildeo no poacutes-guerra o modernismo (JACQUES 2004)
O periacuteodo das flanacircncias corresponde agrave criaccedilatildeo da figura do o flacircneur personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830) inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade O flacircneur eacute um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente
O flacircneur aquele personagem moderno que se rebelando contra a modernidade perdia seu tempo deleitando-se com o insoacutelito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI 2013 p74)
Ao caminhar o flacircneur observa a cidade como um estrangeiro estranhando todos os acontecimentos
banais e cotidianos buscando a essecircncia das coisas Entretanto se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna
O periacuteodo das deambulaccedilotildees corresponde agraves accedilotildees dos dadaiacutestas e surrealistas Foram excursotildees urbanas por lugares banais e deambulaccedilotildees aleatoacuterias que visavam agrave experiecircncia fiacutesica da erracircncia no espaccedilo real Fazem um apelo revolucionaacuterio da vida contra a arte deixando de representar a vida pelo objeto passando a vivenciar a cidade fisicamente
A primeira accedilatildeo realizada pelos dadaiacutestas foi em 1921 um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre Nesse ato os dadaiacutestas retomam a atitude flacircnerie como uma operaccedilatildeo esteacutetica ou seja o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa praacutetica como uma arte
Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre eacute a primeira operaccedilatildeo simboacutelica que atribuiu valor esteacutetico a um espaccedilo vazio e natildeo a um objeto (Idem p 75)
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
20 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] um espaccedilo a ser indagado por ser familiar e desconhecido ao mesmo tempo natildeo frequentado e evidente um espaccedilo banal inuacutetil que como tantos realmente natildeo teriam razatildeo nenhuma de existir (Idem p 77)
Em 1924 o grupo encontrou-se novamente soacute que desta vez com o intuito de realizar uma caminhada erradica inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relaccedilatildeo do espaccedilo percorrido Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas
A primeira deambulaccedilatildeo realizada pelos surrealistas (Aragon Breton Morise e Vitrac) durou vaacuterios dias consecutivos natildeo teve como cenaacuterio a cidade e sim o vazio dos campos e bosques
A viagem empreendida sem escopo e sem meta tinha se transformado na experimentaccedilatildeo de uma forma de escrita automaacutetica no espaccedilo real uma erracircncia literaacuterio-campestre impressa diretamente no mapa de um territoacuterio mental (CARERI 2013 p 78)
O percurso surrealista se deu pela deambulaccedilatildeo que segundo Careri ldquoeacute um chegar caminhando a um
estado de hipnose a uma desorientadora perda de controle eacute um medium atraveacutes do qual se entra em contato com o inconsciente do territoacuterio rdquo (Idem p 80) Portanto os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaccedilos da cidade ou seja encontrar aquilo que natildeo eacute visiacutevel que estaacute na percepccedilatildeo do sujeito ldquoeacute uma espeacutecie de investigaccedilatildeo psicoloacutegica da proacutepria relaccedilatildeo com a realidade urbanardquo (Ibidem p 83) Como forma de representaccedilatildeo dessas percepccedilotildees do espaccedilo os surrealistas criavam mapas que chamavam de ldquomapas influenciadoresrdquo
Pensava-se em realizar mapas baseados nas variaccedilotildees das percepccedilotildees obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano em compreensatildeo as pulsotildees que a cidade provoca nos afetos dos pedestres (Ibidem 2002 p 82)
O periacuteodo das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma criacutetica radical
ao urbanismo Eles desenvolveram a noccedilatildeo de deriva urbana da erracircncia voluntaacuteria pelas ruas principalmente nos textos e accedilotildees de Debord Vaneiguem Jorn e Constant
Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e oniacuterica dos surrealistas por uma cidade luacutedica e espontacircnea Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construccedilatildeo de regras de jogo (Ibidem p 82)
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
21 A origem do homem caminhante
Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo que vatildeo ganhando significado a partir dos estiacutemulos sentidos ao longo do percurso Os mapas psicogeograacuteficos satildeo uma forma de registrar esse jogo resultante das derivas
Em 1957 Guy Debord funda a Internacional Situacionista Um movimento artiacutestico que questionava o urbanismo vigente na eacutepoca e os modos de viver na cidade os situacionistas criticavam a espetacularizaccedilatildeo da vida Por meio da deriva estimulavam a participaccedilatildeo sociedade na cidade como reconstruccedilatildeo urbana
A deacuterive eacute a construccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo de novos comportamentos na vida real a realizaccedilatildeo de um modo alternativo de habitar a cidade um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superaccedilatildeo de deambulaccedilatildeo surrealista (CARERI 2013 p 85)
Natildeo era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade era preciso experimentar modos de vida superiores atraveacutes da construccedilatildeo de situaccedilotildees na realidade cotidiana era preciso agir e natildeo sonhar (Idem p 85)
Uma criacutetica a visatildeo da vida imaginaacuteria e inconsciente dos surrealistas os situacionistas diziam que
aqueles ficavam limitados ao universo do sonho Os situacionistas visavam um reapropriaccedilatildeo do territoacuterio trocando o tempo de trabalho e de praacutetica
comercial por uma accedilatildeointervenccedilatildeo luacutedica Andar pela cidade como uma forma de lazer transformando o tempo uacutetil de trabalho no tempo ldquoluacutedico-construtivordquo (ibidem p98) encontrando significados nos momentos efecircmeros do cotidiano
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
22 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
II Caminhar para construir um lugar
Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar Lugar eacute mais do que uma definiccedilatildeo geograacutefica eacute um espaccedilo que foi ocupado fiacutesica ou simbolicamente pelo homem
Os lugares satildeo centros aos quais atribuiacutemos valor e onde satildeo satisfeitas as necessidades bioloacutegicas de comida aacutegua descanso e procriaccedilatildeo (TUAN 1983 p 04)
Tuan (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02) discursa que o significado de espaccedilo frequentemente se
funde ao de lugar uma vez que as duas coisas natildeo podem ser compreendidas uma sem a outra Segundo ele o que comeccedila como um espaccedilo indiferenciado transforma-se em lugar agrave medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4
De acordo com o autor podemos relacionar Tempo e o Lugar de trecircs formas ldquoadquirimos afeiccedilatildeo a um lugar em funccedilatildeo do tempo vivido nele o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento ou seja um lugar seria uma parada para o descanso para a procriaccedilatildeo e para a defesa e por uacuteltimo o lugar seria o tempo tornado visiacutevel isto eacute o lugar como lembranccedila de tempos passados pertencentes agrave memoacuteria rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 02)
Augeacute relaciona tempo e espaccedilo de forma semelhante agrave Tuan Ademais pontua sobre a existecircncia dos natildeo-lugares espaccedilos aos quais atribuiacutemos qualidades negativas ou valores negativos Se um espaccedilo precisa ser definido como Indentitaacuterio relacional e histoacuterico para ser um lugar a ausecircncias desses define um natildeo-lugar Portanto a afetividade do indiviacuteduo com o espaccedilo constroacutei em seu imaginaacuterio um lugar Esses lugares natildeo satildeo fixos e eternos podem modificar-se em funccedilatildeo do tempo vivido
4 Identificaccedilatildeo [hellip] significa ter uma relaccedilatildeo amistosa com determinado ambiente (Norberg-
Schulz 2006 p456)
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
23 Caminhar para construir um lugar
O propoacutesito existencial do construir eacute fazer um sitio tornar-se um lugar isto eacute revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado A estrutura de um lugar natildeo eacute fixa e eterna Eacute normal que os lugares mudem agraves vezes muito rapidamente Isso natildeo significa poreacutem que o genius loci necessariamente mude ou se extravie (NORBERG-SCHULZ 2006 p 454)
Um lugar eacute ldquoessencialmente um conceito estaacutetico Se vivecircssemos num mundo em processo em constante mudanccedila natildeo seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar rdquo (TUAN 1983 p 198) Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas
Ao caminhar o indiviacuteduo experimenta o espaccedilo com todo o corpo e todos os sentidos tomado pelas sensaccedilotildees corpoacutereas ele compreende de forma inconsciente o caraacuteter daquele lugar o seu genius loci5 Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci isto eacute um espirito do lugar eacute como se o lugar tivesse uma vontade proacutepria de ser algo
Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem comeccedilamos a observa-lo com mais atenccedilatildeo Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes
No viacutedeo ldquoChatildeo e Som crecherdquo [VER EM MIacuteDIA ANEXA] olho para uma calccedilada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros Ao olhar para um uacutenico elemento de um espaccedilo com o tempo desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes percebendo cada som e movimento O que antes parecia um barulho de crianccedilas gritando e de carros passando torna-se um som em sintonia uma muacutesica Mesmo natildeo sabendo onde fica essa escola infantil construiacutemos esse lugar no nosso imaginaacuterio
5 Genius Loci eacute um conceito romano usado por Norberg-Schulz par definir o espiacuterito do lugar Na Roma antiga
acreditava-se que todo ser lsquoindependentersquo possuiacutea um genius um espirito guardiatildeo Esse espirito daacute vida agraves
pessoas e aos lugares acompanha-os do nascimento agrave morte determina seu caraacuteter ou essecircncia (NORBERG-
SCHUIZ 2006 p 454)
Figura 1 - Foto de autoria proacutepria Ver viacutedeo Chatildeo e Som Creche
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
24 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
III O habitar momentacircneo
O lugar eacute a concreta manifestaccedilatildeo do habitar humano (NORGERG-SCHULZ 2006 p457)
Norbeg-Schulz (2006 p 447) nos fala do sobre o conceito de habitar ldquoHabitar uma casa significa
habitar o mundordquo os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possiacuteveis pois em conjunto eles conteacutem o conforto buscado para o habitar
O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo Coleta e guarda dentro de casa fragmentos deste mundo
Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ apud REIS-ALVES 2007 p 03) o habitar significa muito mais do que abrigo habitar eacute o que ele chama de suporte existencial O suporte existencial eacute conferido ao homem e seu meio atraveacutes da percepccedilatildeo e do simbolismo
Como percepccedilatildeo espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caraacuteter do lugar
O caminhante carrega instintos de homem nocircmade tem a necessidade de habitar o tempo todo Para isso habita momentaneamente procurando meios de se identificar orientar-se e de sentir-se protegido Procura momentos de conforto no percurso (mundo) assim como procura em dentro de seu lar
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
25 O habitar momentacircneo
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos pegar algo na mochila ou para descansar Eacute um momento de vivencia no espaccedilo Neste momento este espaccedilo torna-se um lugar habitado por este sujeito Foto de autoria proacutepria ndash Rua Paes Leme A construccedilatildeo da imagem eacute feita com a colagem de vaacuterias fotos tiradas sequencialmente Leia sobre essa linguagem no capiacutetulo VII ndash ldquoIlha dos instantesrdquo
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
26 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O caminhar mesmo natildeo sendo a
construccedilatildeo fiacutesica de um espaccedilo
implica uma transformaccedilatildeo do
lugar e dos seus significados
A presenccedila fiacutesica do homem num
espaccedilo natildeo mapeado ndash e o variar
das percepccedilotildees que daiacute ele
recebe ao atravessa-lo ndash eacute uma
forma de transformaccedilatildeo da
paisagem que embora natildeo deixe
sinais tangiacuteveis modifica
culturalmente o significado do
espaccedilo e consequentemente o
espaccedilo em si transformando-o
em um lugar (CARERI 2013 p 51)
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
27 O habitar momentacircneo
Lugares iacutentimos
ldquoOs lugares iacutentimos satildeo tantos quantas as ocasiotildees em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato Como satildeo esses lugares Satildeo transitoacuterios e pessoais Podem ficar guardados no mais profundo da memoacuteria e cada vez que satildeo lembrados produzem intensa satisfaccedilatildeo mas natildeo satildeo guardados como instantacircneos no aacutelbum da famiacutelia nem percebidos como siacutembolos comuns
[hellip] As aacutervores satildeo plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde mais apraziveil Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar Ao dar apenas algumas folhas as aacutervoers ainda natildeo produzem um impacto esteacutetico Entretanto jaacute podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos Cada arvore nova eacute um lugar em potencial para encontros humanos mas seu uso natildeo pode ser previsto pois depende da ocasiatildeo e da imaginaccedilatildeo
Os lugares iacutentimos satildeo aqueles em que temos experiecircncias afetuosas e espontacircneas que passam despercebidas Na hora natildeo dizemos ldquoeacute este o lugar que ficaraacute marcado na minha memoacuteriardquo Eles satildeo construiacutedos deliberadamente mas podem criar um sentimento duradouro Eacute somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
28 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo Foto de autoria proacutepria - Largo de Pinheiros
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
29 Orientar-se
IV Orientar-se
O caminhante procura orientar-se no percurso Para natildeo se perder eacute necessaacuteria uma boa imagem ambiental uma boa lsquoimagibilidadersquo que designa aquela forma cor ou organizaccedilatildeo que facilita a formaccedilatildeo de imagens mentais vividamente identificadas fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambienterdquo6 - ou seja eacute necessaacuteria a identificaccedilatildeo do ambiente para se sentir orientado O homem procura muitos meios de orientar-se e evita perder-se ldquoperder-se eacute justo o oposto do sentimento de seguranccedila que distingue o habitarrdquo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 457)
A viagem eacute uma experiecircncia potildee a prova e
aperfeiccediloa o caraacuteter do viajante (CARERI 2013 p 93)
Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje eacute algo que se evita O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaccedilo com novos pontos de referecircncia
6 Imagibilidade termo usado por Kevin Lynch em ldquoThe Image of the Cityrdquo para explicar a imagem mental do ambiente vivido A
Imagibilidade estaacute relacionada ao modo como o indiviacuteduo se identifica com o objeto e o ambiente conferindo-lhe seguranccedila emocional
Figura 4 - Orientar-se Foto de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
30 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico - das relaccediloes espaciais sem que seja necessario um mapa fisico real ldquoele precisa apenas de um sentido geral da direccedilatildeo do objetivo e saber o que fazer a seguir em cada trecho do percursordquo (TUAN 1930 p 82)
Figura 5 ndash ldquoDe espaccedilo a lugar a aprendizagem de um labirinto A princiacutepio somente o ponto de entrada eacute claramente reconhecido aleacutem fica o espaccedilo (A) Apoacutes um tempo mais referecircncias satildeo identificadas e o sujeito adquire confianccedila no movimento (B C) Finalmente o espaccedilo consiste em caminhos e referencias familiares ndash em outras palavras lugarrdquo Experimento de Warter Brown Fonte TUAN 1930 p 81
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
31 Orientar-se
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
32 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
V O caminho de Pinheiros
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos
Pinheiros A rua eacute como um entremeio ela eacute um
lugar em si Possui sua proacutepria vontade de ser
algo Foto de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
33 O caminho de Pinheiros
Um caminhante precisa eacute claro de um caminho para percorrer O caminho
apreendido neste trabalho eacute o caminho urbano a Rua Melhor dizendo as
ruas de Pinheiros A Rua eacute um espaccedilo puacuteblico um lugar que natildeo eacute nem fora e nem dentro lugar ldquoentre-lugaresrdquo Eacute um lugar de possibilidades pois natildeo tem uma delimitaccedilatildeo Eacute na rua que tudo acontece eacute por onde vai o caminhante
Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a natildeo ser isso nem aquilo ou um ou outro mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitando justamente por essa indefiniccedilatildeo (GUATELLI 2012 p 14)
A Rua eacute para o caminhante um lugar e natildeo um meio para chegar a lugares Sendo um lugar ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da accedilatildeo dos seus habitantes Assim como na arquitetura natildeo deve assumir um uso determinado Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade gosto imagibilidade de seus habitantes
A imagem do lugar baseada na lsquoestaacutevelrsquo e lsquoajustadarsquo relaccedilatildeo espaccedilo-uso (especiacutefico) eacute substituiacuteda pela relaccedilatildeo espaccedilo-tempo lugares cujas imagens vatildeo se alterando no tempo em virtude das accedilotildees que ocorrem no espaccedilo um espaccedilo sempre em processo nunca estaacutevel (GUATELLI 2012 p 31)
A rua eacute o lugar de ldquoimprevistas habilidades de habitaccedilotildees momentacircneas (hellip) eacute o lugar do evento do acontecimento da indefiniccedilatildeo e do imprevisiacutevelrdquo como diz Guatelli (2012)
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
34 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VI O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
35 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
Figura 7 - A relaccedilatildeo trajeto e tempo isto eacute a ralaccedilatildeo do caminhante com o espaccedilo e o tempo inaugura um lugar O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo Comprar um jornal pela manhatilde jaacute eacute uma accedilatildeo de habitar Foto de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
36 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Em seu livro ldquoA poeacutetica do espaccedilordquo Gaston Bachelard (2000) define a imagem poeacutetica como ldquoum suacutebito revelo do psiacutequicordquo Eacute algo que possui um dinamismo proacuteprio e tem a sonoridade do ser Eacute preciso pois ldquoestar presente presente agrave imagem no minuto da imagemrdquo Com ela podemos estudar o espaccedilo e entendecirc-lo como um instrumento de anaacutelise da alma humana
O poeta fala do acircmago do ser Seraacute necessaacuterio pois para determinar o ser de uma imagem senti-la em rua repercussatildeo (BACHELARD 2000 p06)
A poesia eacute a forma de expressatildeo usada para dizer metaforicamente sobre sensaccedilotildees emoccedilotildees e impressotildees Norberg-Schulz (2006 p 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciecircncia natildeo explica Ela lida com a o imaginaacuterio do ser explicando o devir7 de seu imaginaacuterio A praacutetica poeacutetica do caminhar revela natildeo apenas o inconsciente do lugar como tambeacutem o psiacutequico do caminhante
O que eacute a poeacutetica do caminhar se natildeo houver o homem os objetos e o percurso Satildeo os detalhes as eventualidades que constroem o imaginaacuterio poeacutetico do caminhante
7 Devir Eacute a capacidade de transformaccedilatildeo das coisas
um vir a ser
A construccedilatildeo de um imaginaacuterio poeacutetico sobre Pinheiros eacute resultante da relaccedilatildeo entre a observaccedilatildeo para os detalhes - que constroem o caraacuteter do lugar e o meu psiacutequico - meu sentimento sobre o lugar Portanto a imagem poeacutetica criada estaacute diretamente associada a ideia de construccedilatildeo de um lugar Bachelard (2000) fala que a criaccedilatildeo de uma imagem poeacutetica depende de uma fenomenologia microscoacutepica que eacute o que une o sujeito ao objeto os detalhes as miacutenimas coisas do lugar que produzem essa imagem poeacutetica
Ao niacutevel da imagem poeacutetica a dualidade do sujeito e do objeto eacute matizada iluminada incessantemente ativa em suas inversotildees No domiacutenio da criaccedilatildeo da imagem poeacutetica pelo poeta a fenomenologia eacute se assim podemos dizer uma fenomenologia microscoacutepica (BACHELARD 2000 p 07)
Norberg-Schulz tambeacutem se atem aos detalhes para explicar que os lugares construiacutedos pelo homem satildeo resultado de uma reuniatildeo de significados uma ldquoimago mundirdquo ou ldquomicrocosmordquo
O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiecircncia a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo que decirc concretude a esse mundo (NORBERG-SCHULZ 2006 p 453)
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
37 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Quando olhamos uma cena panoracircmica nossos olhos se detecircm em pontos de
interesse Cada parada eacute tempo suficiente para criar uma imagem de um
lugar que em nossa opiniatildeo momentaneamente parece maior (hellip) natildeo eacute
possiacutevel olhar uma cena de uma soacute vez nossos olhos continuam
procurando pontos onde repousar a vista (TUAN 1983 p 179)
O SUJEITO CAMINHANTE Eacute
FLUIDO
OS OBJETOS DA
PAISAGEM SAtildeO FIXOS
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
38 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Imaginaacuterio poeacutetico de outros caminhantes
Investiguei com estudo de caso poemas fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos Nos poemas investiguei autores que falam da rua o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar Na fotografia procurei por fotoacutegrafos de rua Fotografias que registram a essecircncia do lugar por meio da captura de seus instantes A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes esses lugares Os mapas satildeo mapeamentos psicogeograacuteficos praticados por outros caminhantes O mapa psicogeograacutefico eacute outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante Mostram caracteriacutesticas que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso
Reproduzir viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo em miacutedia anexa i
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
39 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que escrevem
A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua de poeta reta quieta discreta direita estreita bem feita perfeita com pregotildees matinais de jornais aventais nos portais animais e varais nos quintais e acaacutecias paralelas todas elas belas singelas amarelas douradas descabeladas debruccediladas como namoradas para as calccediladas e um passo de espaccedilo a espaccedilo no mormaccedilo de accedilo baccedilo e lasso e algum piano provinciano quotidiano desumano mas brando e brando soltando de vez em quando na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala e no ar de uma tarde que arde o alarde das crianccedilas do arrabalde e de noite no oacutecio capadoacutecio junto aos lampiotildees espiotildees os bordotildees dos violotildees e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata) e depois o silecircncio o denso o intenso o imenso silecircncio A rua que eu imagino desde menino para o meu destino pequenino eacute uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer eacute uma rua como todas as ruas com suas duas calccedilas nuas correndo paralelamente como a sorte diferente de toda gente para a frente para o infinito mas uma rua que tem escrito um nome bonito bendito que sempre repito e que rima com mocidade liberdade tranquilidade RUA DA FELICIDADEhellip (Poema ldquoA rua e as rimasrdquo de Guilherme de Almeida)
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
40 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A rua que eu acreditava fosse
capaz de imprimir agrave minha vida giros surpreendentes a
rua com as suas inquietaccedilotildees
e os seus olhares era o meu
verdadeiro elemento nela eu
recebia como em nenhum outro lugar o vento da
eventualidade (Breton 1924)
Eu amo a rua [hellip] Para compreender a
psicologia da rua natildeo basta gozar-lhes as
deliacutecias como se goza o calor do sol e o lirismo
do luar Eacute preciso ter espiacuterito vagabundo cheio de curiosidades malsatildes e
os nervos com um perpeacutetuo desejo incompreensiacutevel eacute preciso ser aquele
que chamamos flacircneur e praticar o mais
interessante dos esportes ndash a arte de flanar (Joatildeo do Rio)
Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memoacuteria Eacute a rua de sua imagibilidade rua da felicidade aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar Eacute a rua identitaacuteria relacional e histoacuterica Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo A caracteriacutestica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade Em Breton a rua eacute apresentada como um lugar de possibilidades eacute nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida Este sentimento eacute despertado em razatildeo de um consideraacutevel periacuteodo de tempo vivido este tempo pode ser o tempo do caminhar
Joatildeo do Rio nos diz que a rua natildeo deve ser apenas observada ela deve ser explorada com um olhar atento Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia isto eacute para conhecer seu genius loci
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
41 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que fotografam
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpswwwflickrcomphotosgeorge_eastman_housesets72157621011255003with3701272819gt
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomImagesPhotosEugeneAtgetatget21jpggt
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget Fonte lthttpwwwatgetphotographycomimagesphotoseugeneatgetatget21jpggt
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas pisam na faixa de pedestres Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo - fotografia e ediccedilatildeo de Pelle Cass Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas passaram por cima de uma mesma circunferecircncia desenhada no piso Fonte lthttpwwwpellecasscomgt
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
42 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Eugene Atget documentava os vazios de Paris Natildeo havia na maioria de suas fotos uma preocupaccedilatildeo em registrar as pessoas da cidade Suas fotografias satildeo como um registro do caraacuteter da cidade como um convite ao imaginaacuterio Quando aparentemente nada acontece haacute o momento do possiacutevel Seus vazios satildeo ao imaginaacuterio do caminhante como uma folha em branco pedindo para ser escrita Pelle Cass reuni numa mesma imagem vaacuterios instantes de um lugar Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas A formaccedilatildeo de um lugar depende da relaccedilatildeo espaccedilotempo assim como diz Tuan ldquoO espaccedilo transforma-se
em lugar agrave medida que adquire definiccedilatildeo e significado rdquo (TUAN apud REIS-ALVES 2007 p 2) Nas fotos
temos noccedilatildeo do espaccedilo e com a soma dos instantes temos a noccedilatildeo de tempo Assim compreendemos a
essecircncia do lugar Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa
mesma imagem
Usaremos para documentaccedilatildeo da essecircncia de Pinheiros esse tipo de linguagem Seraacute uma maneira de reunir o tempo que remete a uma accedilatildeo ou movimento e o a vivencia do espaccedilo uma pausa no movimento Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagenssobreposiccedilotildees desses fragmentos A leitura eacute de uma megacidade cheia de informaccedilotildees com elementos de diferentes escalas Desde os grandes edifiacutecios ao vendedor ambulante Vai desde a escala do edifiacutecio grande marco na cidade a algo que soacute se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo montagem de Pariwat A-Nantachina Fonte lt httpcargocollectivecomMiradasurbanasUrban-Collagesgt
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
43 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
O imaginaacuterio poeacutetico para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar eacute por mapas psicogeograacuteficos Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] satildeo resultado das derivas feitas pelos Situacionistas Foram construiacutedos a partir de fragmento da cidade de Paris No mapa ldquoThe Naked Cityrdquo de Guy Debord a cidade foi ldquoexplodidardquo seus fragmentos estatildeo desorganizados soltos no vazio e conectados por setas vermelhas Esses fragmentos satildeo regiotildees da cidade que possuem a mesma carateriacutestica ou ambiecircncia Satildeo regiotildees que natildeo estatildeo necessariamente localizadas na mesma posiccedilatildeo geograacutefica Podem estar bem distantes entre si entretanto haacute algo em comum que as une Uma caracteriacutestica que soacute pode ser percebida pela caminhada pela deambulaccedilatildeo As setas vermelhas representam essa conexatildeo E a sua direccedilatildeo indica o sentido usado na trajetoacuteria A delimitaccedilatildeo das partes as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores satildeo fruto de estados de animo experimentados (CARERI 2013 p 92) No mapa o usuaacuterio tem que se dispor a permanecer na cidade por mais tempo que o usual do dia-a-dia Entre os bairros vemos o vazio que satildeo as erracircncias mentais entre lembranccedilas e ausecircncias como se os fragmentos fossem lembranccedilas de caminhos percorridos
Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City Illustration De Irsquohypothegravese Des Plaques Tournates En Psychogeacuteographique Fontelt httpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos1517654gt
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
44 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Rebeca Solnit localiza em seus mapas
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
45 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
caracteriacutesticas peculiares da cidade de Satildeo Francisco O mapa da ldquoMonarchs and Queensrdquo [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade incluindo as espeacutecies migratoacuterias como as monarcas que satildeo encontradas em todo o continente e sobre a ldquoQueen Culturerdquo um evento de drag queen que floresceu em Satildeo Francisco Algumas espeacutecies de borboletas tecircm sido extintas Em contraposiccedilatildeo a ldquoQueen Culturerdquo continuou a evoluir e migrar para vaacuterios lugares da cidade O mapa mostra espaccedilos puacuteblicos das drag queens e os habitats das borboletas Solnit nos mostra de forma poeacutetica as metamorfoses de Satildeo Francisco
Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit Fonte SOLNIT 2010 p 46
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
46 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute Mapa psicogeograacutefico de Roger Paez i Blanch Fonte
Derivas urbanas la ciudad extrantildeada 2014 p 120
Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeograacuteficos a
partir de suas derivas pelas cidades do mundo
No mapa ao lado o autor sobrepotildee mapas das
cidades Barcelona Paris Nova York e Los Angeles
para a mesma escala e com a mesma orientaccedilatildeo
centrada em torno do ponto de onde se
localizava sua residecircncia
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
47 O imaginaacuterio poeacutetico do caminhar
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
48 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
VII Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 18 ndash Moedas Foto de autoria proacutepria capturada na Ilha das Coisasl Os nuacutemeros representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletacircnea de histoacuterias contada sobre seus personagens
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
49 Arquipeacutelago de Pinheiros
Apresento-lhe neste capitulo alguns dos muacuteltiplos lugares do bairro Pinheiros Lugares construiacutedos a partir das minhas caminhadas
Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme Os registros documentam elementos simboacutelicos (eventos pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginaacuterio um sentimento identitaacuterio relacional e histoacuterico essenciais para a construccedilatildeo destes lugares
Cada deriva resultou na construccedilatildeo de um lugar uacutenico Um lugar que jamais poderaacute existir novamente Pois em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepccedilotildees Eacute como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8 repleta de ilhas sensiacuteveis - um arquipeacutelago
Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei eacute necessaacuterio que o leitor explore de forma poeacutetica as fotografias viacutedeos mapas psicogeograacuteficos e poemas criados para representa-las Esses elementos simboacutelicos satildeo assim como os lugares aos quais pertencem uacutenicos Soacute puderam ser reproduzidos em um uacutenico
instrumento e armazenados numa uacutenica MALETA9
[Reproduzir viacutedeo ldquoexperimentaccedilatildeo da maletardquo em miacutedia anexa ii]
Cada ilha eacute um conjunto de instantes
construtores de um lugar uacutenico
Natildeo seraacute possiacutevel nem para mim nem para vocecirc encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geograacuteficos O retorno resultaria na construccedilatildeo de outras ilhas pois encontrariacuteamos outras pessoas outros instantes outros sentidos para nossos outros interesses Tambeacutem natildeo seraacute possiacutevel transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiecircncias durante o caminhar
Nos subcapiacutetulos seguintes estatildeo reproduzidas as ilhas que explorei ateacute agora Ilha Passarelli Ilha Verde Ilha Mercado Municipal Ilha Residencial Ilha Carvalho Cavalheiro Ilha Terrain Vague Ilha das Coisas Ilha dos Ambulantes Ilha dos Instantes e uma coletacircnea de histoacuterias sobre seus personagens Satildeo uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipeacutelago
8 Cidade liquida eacute como descreve Careri (2013 p 21) uma cidade na qual os espaccedilos de estar satildeo como as ilhas
do imenso oceano formado pelo espaccedilo do andar
9 A maleta tambeacutem estaacute reproduzida na miacutedia anexa a este livro Veja os viacutedeos indicados nos subcapiacutetulos A
maleta eacute parte integrante deste trabalho seraacute necessaacuterio pois que o leitor explore seu interior
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
50 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
[hellip] eacute na cidade que o homem comum se
reconhece [hellip] Satildeo Paulo satildeo 12 milhotildees
de cidades 12 milhotildees de mapas
sentimentais recortados pelas pequenas
histoacuterias de vida de seus pequenos
habitantes (KEHL sd)
Organizar dentro de uma totalidade
imaginaacuteria de cidade as experiecircncias de
caminhar Sempre em uma imaginaccedilatildeo de
cidade camadas de realidade percepccedilatildeo e
memoacuteria juntam-se aos desejos daquilo que
dela se imagina Existe uma cidade do
caminhante ainda natildeo visiacutevel feita de
fragmentos dentro de cada um de noacutes
Conecta-se ao sonho Mas nunca eacute uma
cidade definida ou uma cidade estaacutetica
natildeo eacute feita soacute de concretude pura
concretude natildeo eacute uma imitaccedilatildeo natildeo eacute uma
transcendecircncia Eacute a realidade vista pelo
real e pelo imaginado ao mesmo tempo
(CARVALHO 2007 p233)
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
51 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA PASSARELLI
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
52 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 19 ndash Ilha Passarelli Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva Essa deriva teve como intensatildeo a observaccedilatildeo dos caminhantes
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
53 Arquipeacutelago de Pinheiros
Esta ilha eacute usada por seus
caminhantes como uma
passarela isto eacute uma ponte
para chegar agrave outras ilhas
Cada caminhante tem sua ilha
de destino por isso se
comportam cada um agrave sua
maneira
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
54 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Reproduzir video ldquoIlha Passarellirdquo em miacutedia anexa iii
Figura 20 ndash Viacutedeo Ilha Passarelli Foto de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
55 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA VERDE
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
56 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 21 - Ilha verde Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
57 Arquipeacutelago de Pinheiros
Na Rua dos Pinheiros verde eacute a cor que mais se destaca
Para entrar nela eacute preciso apenas encontrar o verde do Supermercado Futurama
Mas vaacute agrave caraacuteter
Quem vai agrave rua dos Pinheiros procura se vestir agrave moda local
Eacute a calccedila o sapato a camisa
Eacute verde a roupa de quem limpa
Verde eacute o brinquedo de quem nela brinca
Eacute a cor da fruta comprada no Futurama
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida na Maleta com o mapa psicogeograacutefico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o viacutedeo ldquoIlha Verderdquo
em miacutedia anexa
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
58 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 22 ndash Representaccedilatildeo das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde Apresenta alguns dos personagens
dessa ilha - Fotos de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
59 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA MERCADO MUNICIPAL
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
60 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 23 - Ilha Mercada Municipal Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida na regiatildeo proacutexima ao Mercado Municipal
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
61 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vaacuterios interesses O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha O Mercado Municipal eacute o centro de toda a ilha atrai todos os seus caminhantes Todos querem ver ouvir sentir o cheiro tocar trocar comprar comer pechinchar Eacute o lugar do carrinho de compras do caminhatildeo de carga e descarga da sacola das cores das frutas do pastel e do caldo de cana Das pessoas que vem e que vatildeo do comprador e atendente e do ambulante Mirante Ohtake10 A demoliccedilatildeo de alguns edifiacutecios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake Ao entrar neste mirante eacute possiacutevel se transportar para o edifiacutecio pela Rua Ohtake Estaccedilatildeo Faria lima A saiacuteda de Estaccedilatildeo eacute uma entrada para essa ilha eacute onde inicia minha deriva
10 Veja em Ilha Terrain Vague
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
62 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
A construccedilatildeo dessa ilha estaacute reproduzida com o mapa psicogeograacutefico e o viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo
disponiacutevel na miacutedia anexa iv e na maleta
Figura 24 - Reproduccedilatildeo de parte do viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo Foto de autoria proacutepria capturada de dentro do
Mercado Municipal de Pinheiros
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
63 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA RESIDENCIAL
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
64 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 25 - Ilha Residencial Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
65 Arquipeacutelago de Pinheiros
Nesta ilha te convido a sentir
Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa soacute melodia Natildeo soacute vemos como tambeacutem ouvimos algo caracteriacutestico os sons da vivecircncia da permanecircncia do constante e duradouro Por um instante com uma pausa no caminhar e um olhar atento habito momentaneamente esta ilha ndash a Ilha residencial Uma ilha construiacuteda com a conexatildeo entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros Assim como as pausas em minha caminhada vocecirc deveraacute me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro Ver e ouvir a representaccedilatildeo de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente A pausa provoca um olhar mais atento e sensiacutevel aos detalhes por ela eacute possiacutevel conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha e criar em seu imaginaacuterio um lugar repleto de sentidos essecircncias para o seu habitar Reproduza os seguintes viacutedeos em miacutedia anexa [v - vi - vii - viii - ix]
Figura 26 - Viacutedeo Chatildeo e som creche- disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 30 - Viacutedeo Chatildeo e som
vento - disponiacutevel em
miacutedia anexa
Figura 27 - Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 29 - Viacutedeo O guarda - disponiacutevel em miacutedia anexa
Figura 28 - Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo - disponiacutevel em miacutedia anexa
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
66 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 34 - Representaccedilatildeo da Fotografia A capturada na Ilha residencial
Figura 36 - Representaccedilatildeo da Fotografia B capturada na Ilha residencial
Figura 35 - Representaccedilatildeo da Fotografia C capturada na Ilha
residencial
Figura 31 - Representaccedilatildeo da Fotografia D capturada na Ilha residencial
Figura 33 - Representaccedilatildeo da Fotografia E capturada na
Ilha residencial
Figura 32 - Representaccedilatildeo da Fotografia F capturada na Ilha residencial
Figura 37 - Representaccedilatildeo da Fotografia G capturada na Ilha residencial
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
67 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA CAVALHEIRO CARVALHO
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
68 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 38 - Representaccedilatildeo da sobreposiccedilatildeo entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeograacutefico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
69 Arquipeacutelago de Pinheiros
Essa foi eacute a maior Ilha construiacuteda Corresponde a
6402
metros percorridos Com o desejo de conectar vaacuterias ilhas sensiacuteveis e de fazer encontrar seus personagens adentrei numa deriva limitada ateacute onde meus peacutes puderam andar num total de 6 horas caminhadas
Essa deriva estaacute documentada na forma de flipbook [disponiacutevel em miacutedia anexa x
e armazenado na maleta] e de mapa psicogeograacutefico [armazenados na maleta] Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas Descobri uma Ilha lugar do encontro encontro de personagens habitantes e transeuntes de coisas permanentes e efecircmeras pertencentes agrave outras ilhas
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
70 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 39 - Representaccedilatildeo do manuseio do flipbook Foto de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
71 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA TERRAIN VAGUE
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
72 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Terrain vague eacute o terreno vazio Existe uma ilha em Pinheiros construiacuteda de vazios Satildeo espaccedilos abertos sem uso definido mas com forte espirito de possibilidade Satildeo lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante Terrain vague eacute ldquoum lugar vazio sem cultivos nem construccedilotildees numa cidade ou num subuacuterbio um espaccedilo indeterminado sem limites precisos Tambeacutem eacute um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memoacuteria do passado sobre o presente um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbanardquo CARERI 2013 p 43)
[hellip] A relaccedilatildeo entre a ausecircncia de utilizaccedilatildeo e o sentimento de liberdade eacute fundamental para entender toda a potecircncia evocativa e paradoxal do terrain vague na percepccedilatildeo da cidade contemporacircnea O vazio eacute a ausecircncia mas tambeacutem a esperanccedila o espaccedilo do possiacutevel (CARERI 2013 p 43)
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio Neste Terrain vague existe a vontade de brincar vontade de experimentar com o corpo vontade de ser apenas ceacuteu e vento
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
73 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 41 - Terrain vague do ambulante Representaccedilatildeo das fotografias capturadas na ilha do vazio
Um terrain vague possiacutevel de habitar de
trabalhar e de transitar Lugar do habito
da crenccedila e do ritual
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
74 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Deixou de ser lugar construiacutedo para tornar-se lugar do vazio e de
infinitas possibilidades Com a demoliccedilatildeo dos edifiacutecios destes
lotes Rua Pedro Christi foi possiacutevel a construccedilatildeo em meu
imaginaacuterio de um mirante para o Edifiacutecio Instituto Tomie Ohtake
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
75 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 43 ndash Terrain vague Muro entre a Rua Butantatilde e a Rua Paes Leme Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio
Este Terrain vague convida a uma
pausa no caminhar uma pausa para
ouvir o que seu muro tem a dizer
Nele vague a palavra eacute maior que
seus transeuntes
A mensagem eacute mais importante que
seu mensageiro
A parede eacute mais necessaacuteria que o
ceacuteu e o chatildeo
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
76 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
IlHA DOS INSTANTES
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
77 Arquipeacutelago de Pinheiros
Gostaria de definir lsquoinstantersquo de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes [hellip] Natildeo deveriacuteamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapeacuteus ocupam os cabides Somos pois compelidos a buscar uma definiccedilatildeo que faccedila do instante uma estrutura composta de uma seleccedilatildeo adequada de eventos Cada evento seraacute parte integrante dessas estruturas que satildeo instantes durante os quais ele existe ele existe lsquoarsquo cada instante que eacute uma estrutura na qual o evento faz parte (RUSSEUL 1948 apud SANTOS 2012 p 143)
O instante estaacute diretamente relacionado a tempo e espaccedilo marcando um evento Segundo Eddington (1968 apud SANTOS 2012 p144) um evento eacute ldquoum instante do tempo e um ponto do espaccedilordquo Os eventos natildeo se repetem ldquosatildeo pois todos novos Quando eles emergem tambeacutem estatildeo propondo uma nova histoacuteria rdquo (LEFEBVRE 1958 apud SANTOS 2012 p145) A fotografia tem o poder de registrar por meio de uma imagem um instante A partir da interpretaccedilatildeo dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento
No entanto o que aconteceria se uniacutessemos vaacuterios instantes numa uacutenica imagem
Teriacuteamos o registro de um lugar Unir vaacuterios instantes numa mesma imagem marca um evento uacutenico a existecircncia efecircmera de um lugar instantacircneo Poderiacuteamos ver a atmosfera daquele lugar Nossa compreensatildeo de lugar se daacute a partir associaccedilatildeo indenitaacuteria entre tempo e espaccedilo Para que exista um evento eacute preciso haver o espaccedilo e o tempo Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaccedilo (distacircncia)
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
78 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Figura 44 - Instantes Fotos de autoria
proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
79 Arquipeacutelago de Pinheiros
ILHA DAS COISAS
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
80 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas coletadas
O caminhante tem o desejo de coletar | registrar | guardar
de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente Seleciona souvenires
para recordar os momentos dos caminhos por onde passou Satildeo os detalhes os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular
Coletei em Pinheiros
Coisas do tempo
Assim como o reloacutegio
Meu caminhar marcava
Os instantes que jamais iriam
voltar
Como num tic-tac
As pessoas iam num tic
Os carros passavam num tac
A nuvem cobria num tic
O sol iluminava num tac
Os sinos tocam num tic
E todos jaacute sabiam que
Jaacute era tempo do tac
Figura 45 - Reloacutegios Fotos de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
81 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas inscritas
Inscrever | demarcar | entalhar | registrar
O chatildeo lugar do
passo tambeacutem eacute o
lugar das pedras
Pedras
concretadas no
chatildeo registram a
presenccedila anterior
de um outro
caminhante
Satildeo pedras fixas
inscrevem de
forma permanente
no percurso
fluido e efecircmero
Demarcam a
memoacuteria futura do
caminhante
presente
Figura 46 - Pedras Fotos de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
82 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coisas monumentais
O hidrante eacute
como um menir
em Pinheiros
Eacute um monumento
Uma referecircncia
um ponto de
encontro
Um marco
simboacutelico para
o caminhante
nocircmade urbano
Figura 47 - Hidrantes Fotos de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
83 Arquipeacutelago de Pinheiros
Coisas expostas e refletidas
As vitrines satildeo grande
atraccedilatildeo de um
caminhante urbano
Expotildeem e refletem
Expotildeem o dentro
O fixo
O produto do habitar
estaacutetico
Refletem o fora
O movimento
O transitoacuterio
O produto do habitar
momentacircneo
Quando passa por uma
vitrine o caminhante se
espoe para o dentro
E vecirc seu reflexo de
fora
Figura 48 - Vitrines Fotos de Autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
84 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
ILHA DE AMBULANTES
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
85 Arquipeacutelago de Pinheiros
Figura 49 - Ilha dos Ambulante Representaccedilatildeo das fotografias tiradas dos ambulantes vendedores ambulantes catadores de reciclagem entregadores de produtos
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
86 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Os ambulantes satildeo aqueles que habitam de forma nocircmade todas as ilhas Juntos eles formam uma soacute ilha Ningueacutem conhece melhor o arquipeacutelago de Pinheiros do que seus ambulantes Todos eles transportam algo consigo para onde vatildeo
carroccedilas
abrigos
plaacutestico
carrinho
quiosque
ferro
tecido
barraca
banquinho
madeira
lona
papel
habitam
perambulam
roda
recolhem
distribuem
reusam
trocam
vendem
entregam
recebem
juntam
andam e param
veem e satildeo
vistos evitados
procurados
esperados
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
87 Arquipeacutelago de Pinheiros
Ilhas documentadas ateacute hoje
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
88 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
89 Arquipeacutelago de Pinheiros
Pinheiros eacute um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de Satildeo Paulo O bairro de Pinheiros
explorado por mim natildeo eacute a mesma daquele
Carvalho Carvalheiro
Mercado Municipal
Residecircncias
Terrian Vague
Verde
Instantes
Ambulantes
Coisas
MICTRAV
CRATVIM
CAMTRIV
TRIVAMC
hellip Pinheiros pode ser lida de vaacuteria maneiras e ter diversos nomes
Figura 51 ndash Na paacutegina anteriorndash Arquipeacutelago Reproduccedilatildeo da junccedilatildeo de todos os mapas das ilhas ateacute hoje documentadas Eacute evidente que o mapa de todo o arquipeacutelago algo eacute eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composiccedilatildeo Imagem de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
90 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Coletacircnea de histoacuterias
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
91 Arquipeacutelago de Pinheiros
O Sorriso Haacute ilhas em que se deve sorrirhellip
Silvio passou apressado com a chuva e o transito ele poderia perder a
entrevista
Onivaldo irritado com o sumiccedilo de seu martelo nem se ateve
Rogeacuterio fazia as contas em sua cabeccedila Seraacute que daria para comprar aquela
impressora este mecircs
Robison acabara de se demitir da serralheria
Ingride saiacutera de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua
jaqueta na cabeccedila
Alberto sim se ateve
Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartotildees
Alberto parou para conversar com seu velho amigo
Finalmente um sorriso
Reproduzir viacutedeo
ldquoO sorrisordquoem miacutedia anexa xi
Figura 52 - O sorriso Foto de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
92 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Faixa de encontro
Do outro lado da rua duas amigas de longa data se
encontram
Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento
que aconteceu ontem naquela mesma travessa
Apontando com a bengala uma delas mostra a direccedilatildeo
para onde foi o moccedilo apressado carregando uma
sacola verde Um moccedilo que ela achou muito parecido
com o Augusto que morava ao lado da casa do
farmacecircutico
Figura 53 - Faixa de encontro Foto de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
93 Arquipeacutelago de Pinheiros
Sentado no Banco
Um banco era tudo o que Joatildeo precisava para
transformar Pinheiros num lugar iacutentimo Reproduzir viacutedeo ldquoSentado no bancordquo em miacutedia anexa
xii
Figura 54 - Sentado no Banco Foto do viacutedeo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
94 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Identitaacuterio
Quando caminho por Pinheiros
retorno agrave minha simplicidade
agrave minha vivecircncia de bairro
Encontro nos detalhes
ruas que jaacute conheccedilo
e construo em meu imaginaacuterio
um bairro que soacute existem mim
O mercadinho
o vizinho que encontro na
esquina
o horaacuterio da missa
deixar as crianccedilas na creche
o conversar com um
desconhecido
o vendedor ambulante
o comer um salgado na esquina
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
95 Arquipeacutelago de Pinheiros
Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo estaacute
rua vinha em meu
pensamento sempre que
ouvia falar de Pinheiros
Era impressionante o fato
de que toda vez que eu ia
agrave Pinheiros acabava sempre
passando por ela
Deve ser porque todo mundo
vai para laacute tambeacutem Natildeo
importa a hora do dia
sempre haacute algueacutem subindo
ou descendo
Pinheiros eacute um desses
lugares cheios Cheio de
cores de sons de
cheiros de caminhantes
de ambulantes de carros
de preacutedios de placas
Ela eacute a 25 de marccedilo de
Pinheiros Assim como
naquela por mais que se
tenha apenas a intenccedilatildeo de
passar natildeo haacute como natildeo se
distrair com tantos
produtos implorando para
serem comprados Vocecirc pode
natildeo estar precisando de
bijuterias mas vai acabar
prestando atenccedilatildeo no que
fala ao microfone o moccedilo
da loja Khiara Biju
Reproduzir viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo em miacutedia anexa xiii
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio Foto de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
96 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Sextandashfeira agrave noite Sexta-feira agrave noite em
meio a um terrain vague
encontrei um grupo de
caminhantes urbanos
tocando muacutesicas
brasileiras Eles se
denominavam ldquoBanda Pelas
Ruasrdquo
Naquele momento aquele
vazio havia se tornado
um grande imatilde atraindo
atenccedilatildeo de todos os
caminhantes de
Pinheiros
Era de costume daqueles
caminhantes muacutesicos
transformar os vazios
urbanos em cheios
sonoros
Vivem de forma nocircmade
transformando os espaccedilos
em habitaccedilotildees
momentacircneas para outros
caminhantes
Satildeo na verdade
personagens da Ilha dos
Ambulantes pois
carregam consigo aquele
objeto coisa ou
instrumento de troca
Reproduzir viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo em miacutedia anexa xiv
Figura 56 - Banda Pelas Ruas Foto de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
97 Arquipeacutelago de Pinheiros
A pausa chama o caminhar
Mas todo caminhante precisa da pausa
Um momento para satisfazer suas necessidades
primarias de sobrevivecircncia Uma pausa para
comer e para descansar Ele procura um lugar
que ofereccedila conforto Avido por sua
atividade preferida a do caminhar ele
prefere que este lugar da pausa tenha vista
para o lugar do caminhar
Reproduzir viacutedeo
ldquoA pausa chama o
caminharrdquo em miacutedia
anexa xv
Figura 57 - A pausa chama o caminhar Foto de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
98 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Consideraccedilotildees finais
O caminhar eacute o ato principal de minha investigaccedilatildeo pois eacute a partir dele que experimento o espaccedilo e identifico os muacuteltiplos lugares que existem em Pinheiros O caminhar eacute primeiramente uma pratica de sobrevivecircncia de habitar o mundo Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simboacutelicos ao lugar O homem sedentaacuterio moderno retoma a essa praacutetica de forma artiacutestica e passa a caminhar como forma de observar o espaccedilo Passa a compreendecirc-lo como um ser que tem vivencia e vontade proacutepria um ser que tem espirito O homem procura habitar o tempo todo isto eacute ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo O caraacuteter do lugar cria nesse homem caminhante uma ldquoimagibilidaderdquo responsaacutevel por sua identidade e habitaccedilatildeo momentacircnea Pelo caminhar experimento o espaccedilo com o corpo e com todas as minhas percepccedilotildees sensiacuteveis Ouccedilo seus sons sinto seus cheiros seu clima Sinto sua ambiecircncia identifico seu caraacuteter e seu espirito Vejo em seu microcosmo em seus detalhes - cores objetos e eventos - algo que me desperta uma lsquoimagibilidadersquo Nessa experiecircncia crio uma relaccedilatildeo de habitat com o tempo vivido passo a habitar estes espaccedilos e torna-los um lugar simboacutelico de sentimentos um lugar imaginado e relacionado agrave minha memoacuteria O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentaacuteria urbana que neste trabalho passa a ser nocircmade Em minhas caminhadas identifiquei os muacuteltiplos lugares (ilhas sensiacuteveis) de um uacutenico bairro Documentei-as com mapeamentos psicogeograacuteficos fotografias viacutedeos e poesias
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
99 Referecircncias Bibliograacuteficas
Referecircncias Bibliograacuteficas
BACHELARD Gaston A poeacutetica do espaccedilo Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 CARERI Francesco Walkscape O caminhar como praacutetica esteacutetica Satildeo Paulo Editora G Gili 2013 CARVALHO F R Caminhar na cidade experiecircncia e representaccedilatildeo dos caminhares de Richard Long e Francis Alys Depoimentos de uma pesquisa poeacutetica Tese de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Satildeo Paulo 2007 GUATELLI Igor Arquitetura dos entre lugares sobre a importacircncia do trabalho conceitual Satildeo Paulo Editora Senac Saatildeo Paulo 2012 JACQUES Paola Berenstein Apologia da deriva Escritos situacionistas cobre a cidade Internacional Situacionista Organizaccedilatildeo ABREU Estrela dos Santos traduccedilatildeo ndash Rio de Janeiro Casa da Palavra 2003 _________________________ Elogio aos errantes Breve histoacuterico das erracircncias urbanas Arquitextos Satildeo Paulo ano 05 n 05304 Vitruvius out 2004 lthttpwwwvitruviuscombrrevistasreadarquitextos05053536gt KEHL Rita Olhar no olho do outro Pisegrama Nordm07 NORBERG-SCHULZ Christian O fenocircmeno do lugar Cosac Naify Satildeo Paulo 2006 BLANCH Roger Paez i Derivas urbanas la ciudad extrantildeada Rita Revista Indexada de Textos Acadeacutemicos 2014 pp 120-129 SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 SOLNIT Rebecca Infinity City a San Francisco Atlas University California 2010 TUAN Yi-Fu Espaccedilo e lugar a perspectiva da experiecircncia Satildeo Paulo Difel 1983
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
100 Arquipeacutelago de Pinheiros a praacutetica poeacutetica do caminhar como construccedilatildeo de ilhas sensiacuteveis
Lista de Figuras
Figura 1 - Viacutedeo Chatildeo e Som Creche 23
Figura 2 - Momento em que habitamos um eacute uma pausa durante o percurso 25
Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar iacutentimo 28
Figura 4 - Orientar-se 29
Figura 5 ndash De espaccedilo a lugar 30
Figura 6 ndash Terrain vague Rua dos Pinheiros 32
Figura 7 - Habitar momentaneo 35
Figura 8 - Foto de autoria proacutepria 37
Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget 41
Figura 12 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 13 - ldquoSelected Peoplesrdquo 41
Figura 14 - ldquoColagens Urbanasrdquo 42
Figura 15 - Psychogeographique De Paris 43
Figura 16 - Monarchs and Queens 45
Figura 17 - As casas satildeo onde o coraccedilatildeo estaacute 46
Figura 18 ndash Moedas 48
Figura 19 ndash Ilha Passarelli 52
Figura 20 ndash Imagem do Viacutedeo Ilha Passarelli 54
Figura 21 - Ilha verde 56
Figura 22 ndash Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde 58
Figura 23 - Ilha Mercado Municipal 60
Figura 24 - Viacutedeo ldquoIlha mercado Municipalrdquo 62
Figura 25 - Ilha Residencial 64
Figura 26 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som creche 65
Figura 27 - Imagem do Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessaro 65
Figura 28 - Imagem do Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo 65
Figura 29 - Imagem do Viacutedeo O guarda 65
Figura 30 - Imagem do Viacutedeo Chatildeo e som vento 65
Figura 31 - Fotografia D 66
Figura 32 - Fotografia F 66
Figura 33 - Fotografia E 66
Figura 34 - Fotografia A 66
Figura 35 - Fotografia C 66
Figura 36 - Fotografia B 66
Figura 37 - Fotografia G 66
Figura 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro 68
Figura 39 - Imagem do video manuseio do flipbook 70
Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa 72
Figura 41 - Terrain vague do ambulante 73
Figura 42 - Mirante Ohtake Representaccedilatildeo da fotografia capturada na ilha do vazio 74
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria
101 Lista de anexos
Figura 43 ndash Terrain vague Muro 75
Figura 44 - Instantes 78
Figura 45 - Reloacutegios 80
Figura 46 - Pedras 81
Figura 47 - Hidrantes 82
Figura 48 - Vitrines 83
Figura 49 - Ilha dos Ambulante 85
Figura 50 - Arquipeacutelago 88
Figura 51 ndash Arquipelago das ilhas exploradas ateacute agora 89
Figura 52 - O sorriso 91
Figura 53 - Faixa de encontro 92
Figura 54 - Sentado no Banco 93
Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio 95
Figura 56 - Banda Pelas Ruas 96
Figura 57 - A pausa chama o caminhar 97
Lista de anexos
i Viacutedeo ldquoOs registros de meu imaginaacuterio poeacuteticordquo de autoria proacutepria
ii Viacutedeo ldquoExperimentaccedilatildeo da maletardquo de autoria proacutepria
iii Viacutedeo ldquoIlha Passarellirdquo de autoria proacutepria
iv Viacutedeo ldquoIlha Mercado Municipalrdquo de autoria proacutepria
v Viacutedeo Chatildeo e som crecherdquo de autoria proacutepria
vi Viacutedeo ldquoChatildeo e som ventordquo de autoria proacutepria
vii Viacutedeo Ceacuteu e som paacutessarordquo de autoria proacutepria
viii Viacutedeo O guarda de autoria proacutepria
ix Viacutedeo ldquoCeacuteu e som construccedilatildeordquo de autoria proacutepria
x Viacutedeo ldquoFlipbookrdquo de autoria proacutepria
xi Viacutedeo ldquoO sorrisordquo de autoria proacutepria
xii Viacutedeo ldquoSentado no bancordquo de autoria proacutepria
xiii Viacutedeo ldquoRua Teodoro Sampaiordquo de autoria proacutepria
xiv Viacutedeo ldquoSexta-feira agrave noiterdquo de autoria proacutepria
xv Viacutedeo ldquoPausa para o caminharrdquo de autoria proacutepria