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ARQUIDIOCESE DE FLORIANÓPOLIS PLANEJAMENTO PAROQUIAL DE PASTORAL ORIENTAÇÕES E ROTEIRO – FLORIANÓPOLIS – 2002 APRESENTAÇÃO OS CONSELHOS DE JETRO Jetro, sogro de Moisés, “ouviu falar de tudo quanto Deus tinha feito em favor de Moisés e de Israel, seu povo, quando o Senhor fizera Israel sair do Egito” (Ex 18,1). Foi, então, visitar Moisés no deserto, “onde estava acampado no monte de Deus” (v. 5). Jetro alegrou-se ao ouvir Moisés falar sobre o que o Senhor fizera ao faraó e aos egípcios por causa de Israel, sobre as dificuldades que o Povo de Deus enfrentara e como fora salvo. Por tudo isso, louvou o Senhor e lhe ofereceu holocaustos. Um dia, porém, acompanhou de perto os trabalhos de Moisés. Viu que ele sentou-se para julgar as questões do povo, o qual ficou diante de Moisés o dia inteiro. Então, não se conteve, e disse a seu genro: “Que estás fazendo com o povo? Por que apenas tu ficas aí sentado, com tanta gente parada diante de ti desde a manhã até à tarde?” Moisés respondeu ao sogro: “É que o povo vem a mim para consultar a Deus. Quando têm alguma questão, vêm a mim para que eu decida e lhes comunique os decretos e as leis de Deus”. Mas o sogro de Moisés disse-lhe: “Não está bem o que fazes. Acabarás esgotado, tu e este povo que está contigo. É uma tarefa acima de tuas forças. Não poderás executá-la sozinho. Agora, escuta-me: vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo. Tu deves representar o povo diante de Deus e levar até ele os problemas. Esclarece o povo a respeito dos decretos e das leis, e dá-lhe a conhecer o caminho a seguir e o que deve fazer. Mas procura entre todo o povo homens de valor, que temem a Deus, dignos de confiança e inimigos do suborno, e estabelece-os como chefes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez. Eles julgarão o povo em casos cotidianos. A ti levarão as questões de importância maior, decidindo eles mesmos as menores. Assim eles repartirão contigo o peso e tu ficarás aliviado. Se assim procederes, serás capaz de manter-te de pé quando Deus te der ordens, e o povo poderá chegar em segurança a seu destino” (Ex 18,14b-23). Moisés seguiu as orientações do sogro. Pôde, assim, realizar melhor suas responsabilidades e o povo foi altamente beneficiado. Creio que na descrição dessa situação vivida pelo Povo de Deus temos um dos primeiros casos de “planejamento pastoral”, planejamento que consiste, justamente, na divisão de responsabilidades, para que os objetivos que se pretendem atingir possam ser alcançados de forma eficiente, rápida e tranqüila. É o que pretende mostrar este “PLANEJAMENTO PAROQUIAL DE PASTORAL Orientações e Roteiro”, que o Conselho Arquidiocesano de Pastoral coloca em suas mãos, convidando-o e incentivando-o a pôr em prática, em sua

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ARQUIDIOCESE DE FLORIANÓPOLISPLANEJAMENTO PAROQUIAL DE PASTORAL

– ORIENTAÇÕES E ROTEIRO –– FLORIANÓPOLIS – 2002

APRESENTAÇÃOOS CONSELHOS DE JETRO

Jetro, sogro de Moisés, “ouviu falar de tudo quanto Deus tinha feito em favor de Moisés e de Israel, seu povo, quando o Senhor fizera Israel sair do Egito” (Ex 18,1). Foi, então, visitar Moisés no deserto, “onde estava acampado no monte de Deus” (v. 5).

Jetro alegrou-se ao ouvir Moisés falar sobre o que o Senhor fizera ao faraó e aos egípcios por causa de Israel, sobre as dificuldades que o Povo de Deus enfrentara e como fora salvo. Por tudo isso, louvou o Senhor e lhe ofereceu holocaustos.

Um dia, porém, acompanhou de perto os trabalhos de Moisés. Viu que ele sentou-se para julgar as questões do povo, o qual ficou diante de Moisés o dia inteiro. Então, não se conteve, e disse a seu genro: “Que estás fazendo com o povo? Por que apenas tu ficas aí sentado, com tanta gente parada diante de ti desde a manhã até à tarde?” Moisés respondeu ao sogro: “É que o povo vem a mim para consultar a Deus. Quando têm alguma questão, vêm a mim para que eu decida e lhes comunique os decretos e as leis de Deus”. Mas o sogro de Moisés disse-lhe: “Não está bem o que fazes. Acabarás esgotado, tu e este povo que está contigo. É uma tarefa acima de tuas forças. Não poderás executá-la sozinho. Agora, escuta-me: vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo. Tu deves representar o povo diante de Deus e levar até ele os problemas. Esclarece o povo a respeito dos decretos e das leis, e dá-lhe a conhecer o caminho a seguir e o que deve fazer. Mas procura entre todo o povo homens de valor, que temem a Deus, dignos de confiança e inimigos do suborno, e estabelece-os como chefes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez. Eles julgarão o povo em casos cotidianos. A ti levarão as questões de importância maior, decidindo eles mesmos as menores. Assim eles repartirão contigo o peso e tu ficarás aliviado. Se assim procederes, serás capaz de manter-te de pé quando Deus te der ordens, e o povo poderá chegar em segurança a seu destino” (Ex 18,14b-23).

Moisés seguiu as orientações do sogro. Pôde, assim, realizar melhor suas responsabilidades e o povo foi altamente beneficiado.

Creio que na descrição dessa situação vivida pelo Povo de Deus temos um dos primeiros casos de “planejamento pastoral”, planejamento que consiste, justamente, na divisão de responsabilidades, para que os objetivos que se pretendem atingir possam ser alcançados de forma eficiente, rápida e tranqüila.

É o que pretende mostrar este “PLANEJAMENTO PAROQUIAL DE PASTORAL – Orientações e Roteiro”, que o Conselho Arquidiocesano de Pastoral coloca em suas mãos, convidando-o e incentivando-o a pôr em prática, em sua

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paróquia, o planejamento de pastoral, como foi previsto e recomendado nas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja na Arquidiocese.

Florianópolis, agosto de 2002.Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de FlorianópolisSUMÁRIOINTRODUÇÃOI CONTEXTUALIZAÇÃOII MOTIVAÇÕES DE FÉIII FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICAIV PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS DE UM PLANEJAMENTO

1 VANTAGENS2 FORMAS DE ENCAMINHAMENTO3 PERSONAGENS4 PROCESSO5 ESCLARECIMENTOS

V PASSOS DO PLANEJAMENTO1 COMEÇAR O PLANEJAMENTO2 GARANTIR EM TODO O PROCESSO

DE PLANEJAMENTO3 VER A REALIDADE4 JULGAR-ILUMINAR A REALIDADE5 FIXAR O OBJETIVO GERAL6 AGIR NA REALIDADE7 AVALIAR O PLANEJAMENTO8 RETOMAR O PLANEJAMENTO

VI ESQUEMA DE UM PLANO DE PASTORALBIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

A nossa Arquidiocese está em processo de conhecimento e implementação das Diretrizes da Ação Evangelizadora definidas em 2001. Um dos aspectos práticos mais imediatos que as Diretrizes nos apontam é que “toda Paróquia deverá elaborar seu Plano de Pastoral, considerando sua realidade sócio-cultural, seus desafios pastorais e suas urgências próprias, tendo como pano de fundo estas Diretrizes. Para a elaboração de seu Plano Paroquial de Pastoral, deverá promover assembléias, que envolvam o maior número possível de agentes” (Diretrizes da Arquidiocese, p. 46).

Nós, cristãos católicos, fazemos parte de uma Igreja bem estruturada e organizada, com hierarquia forte, com muita infraestrutura - igrejas, salões - e com normas e doutrinas bem definidas. São valores importantes, mas, por causa deles muitas vezes somos levados a nos esquecer que, em primeiro lugar, a identidade de nossa Igreja está em sermos comunidade, grupos de pessoas seguidoras de Jesus Cristo e de seu projeto de vida para todos.

Só em comunidade é que podemos ser verdadeiros seguidores e seguidoras de Jesus, e nossa missão é continuar a missão de Jesus, anunciando a boa notícia do Reino de Deus a todos as pessoas, para que todos possam sentir a presença concreta do Deus da Vida. Para sermos verdadeiras comunidades, não basta estarmos juntos, ou repetirmos a mesma profissão de fé, mas é preciso que estejamos em sintonia, como verdadeiros cúmplices em um projeto comum. Não podemos nos apegar às nossas estruturas já prontas, mas precisamos aproveitar-nos do que já temos, para descobrir, constantemente, a melhor forma de realizarmos nossa ação evangelizadora.

Este roteiro tem o objetivo de auxiliar nossas paróquias a realizarem seu Planejamento Paroquial de Pastoral. Após algumas reflexões sobre o atual contexto eclesiológico e pastoral, sobre nossas motivações de fé e a fundamentação bíblica e

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teológica do planejamento, constam alguns princípios pedagógicos de um planejamento pastoral. Por fim, a parte central deste roteiro: os passos concretos de um planejamento paroquial de pastoral, seguindo a metodologia ver-julgar-agir-avaliar.

É preciso considerar que, sendo um simples roteiro, este texto não deve ser considerado como algo fechado. Cabe aos participantes de cada processo de planejamento, em cada paróquia, a liberdade e a responsabilidade de fazerem as devidas adaptações.

I CONTEXTUALIZAÇÃO

Com o Concílio Vaticano II, a Igreja voltou às fontes bíblicas e retomou sua própria identidade e imagem, como povo peregrino de Deus. Ela se situa numa história em que Deus-Trindade é o protagonista principal. Como sinal e instrumento do Reino de Deus, como sacramento da salvação divina para todos os povos, a Igreja experimenta que a obra da evangelização é mais graça do que privilégio, mais vocação do que dever. Desde então, por fidelidade ao plano histórico e processual da revelação de Deus e da salvação da humanidade, a Igreja retomou a prática dos primeiros tempos de planejar sua ação pastoral. Já no Concílio, alguns documentos foram escritos seguindo o método ver-julgar-agir.

No Brasil, a CNBB encaminhou medidas claras para que toda a ação da Igreja em nível nacional fosse planejada. Estimulada pelo intercâmbio com as Igrejas da América Latina, através das conferências de Medellín, Puebla e Santo Domingo, e pelo dinamismo das paróquias e das comunidades, das pastorais e dos movimentos, a ação evangelizadora da Igreja no Brasil foi marcada por vivacidade e crescimento. A CNBB publica, a cada quatro anos, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Em grandes linhas, essas diretrizes propõem que a ação da Igreja leve sempre em conta a realidade sócio-cultural do país, aponte para novos rumos, descubra novos caminhos, responda às perguntas e anseios do mundo de hoje.

Em comum acordo com a Igreja no Brasil e em particular comunhão com as dioceses de Santa Catarina, articuladas pela CNBB–Regional Sul IV, nossa Igreja arquidiocesana também entendeu e assumiu o caminho do planejamento pastoral. Desde a década de 60, a Arquidiocese de Florianópolis vem elaborando, de tempos em tempos, seu Plano de Pastoral. Com o avanço da caminhada, com o planejamento pastoral que passou a ser realizado em algumas paróquias, com os projetos “Rumo ao Novo Milênio” e “Ser Igreja no Novo Milênio”, entendemos que a ação pastoral e evangelizadora deve acontecer, de fato, no chão das comunidades, no solo das paróquias. Desse modo, decidiu-se elaborar unicamente diretrizes, a partir das quais todas as paróquias deverão elaborar seu próprio planejamento pastoral.

Muitas paróquias já têm o hábito de fazer planejamentos, e as Diretrizes reforçam esta prática, apontando para que todos o façam. No entanto, muitos querem planejar a ação evangelizadora, mas encontram dificuldades; é por isso que apresentamos este texto, com o objetivo de motivar, esclarecer e trazer dicas práticas de como proceder para realizar da melhor forma possível o planejamento pastoral em cada paróquia.

II MOTIVAÇÕES DE FÉ

Relação entre reflexão e ação: Tudo o que fazemos poderia ser feito de modo

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diferente. Muitas vezes, tomam-se decisões e fazem-se coisas de maneira improvisada, sem refletir muito sobre o que se faz. Não se reflete bastante, nem antes, nem durante, nem depois. Na verdade, porém, nunca agimos sem planejar, pois não existe ação totalmente impensada. A diferença é que umas vezes pensamos mais e outras vezes pensamos menos. Não existe improvisação total. Mas, mesmo quando pensamos bem e bastante, sempre haverá o imprevisível. Por isso mesmo, é preciso garantir um bom espaço para a reflexão e o planejamento da ação: antes, durante e depois. Quando pensamos mais e bastante, quando preparamos a ação, começamos a fazer coisas diferentes, fazemos melhor o que temos que fazer, fazemos coisas que nem imaginávamos ter condições de fazer.

Em todas as atividades humanas usam-se, hoje, todos os meios cabíveis para uma melhor administração dos recursos, planejamento das ações, retorno de expectativas, etc.. Temos muito a aprender do mundo, sobretudo com a ciência humana da administração: gerência, planejamento participativo, gestão popular, etc. Tanto mais, então, deveríamos fazer nós, cristãos, no que diz respeito às coisas de Deus e da Igreja, que é sinal e instrumento do Reino.

A diferença de nossa ação evangelizadora: Somos cristãos, filhos e filhas de Deus. Esta é nossa distinção! Por isso, toda a nossa ação deve ser marcada por essa distinção, por essa graça. Pois, tudo o que somos e temos, o que podemos e fazemos, é dom de Deus. Toda a nossa vida deve estar orientada para Deus. Disse São Paulo: “quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10,31). Em tudo, até nas coisas mais corriqueiras, somos chamados a ser santos. Quanto mais na sublime missão do anúncio e do testemunho do Evangelho!

Se somos como o mundo é, se fazemos simplesmente o que o mundo faz, ou, pior, se nem conseguimos fazer as coisas divinas tão bem como o mundo faz as suas..., onde está a nossa diferença? “Os pagãos não fazem a mesma coisa?” (Mt 5,47), indagou Jesus, pedindo um amor mais exigente. “Entre vocês não deve ser assim...” (Mc 10,43), advertiu Jesus, reclamando maior disposição para o serviço. “Sede prudentes como as serpentes ...” (Mt 10,16), aconselhou Jesus, ao enviar os seus discípulos em missão.

Vê-se que nós, cristãos, temos que ser diferentes. Numa Igreja que se identificou como Povo de Deus, sacramento da comunhão, sinal da salvação para todos os povos, temos que buscar todos os meios para que todos os batizados se sintam cada vez mais participantes do serviço da evangelização. Não é mais possível permitir que a Igreja continue a ser separada entre agentes e espectadores. O planejamento pastoral tem, precisamente, este objetivo: fazer com que todos descubram seus dons e carismas, a fim de que, em unidade, todos se tornem servidores do Evangelho.

Ação pensada, organizada e avaliada: Antes de partir para o céu, Jesus nos deixou seu mandato missionário, como encargo de todos os seus discípulos e discípulas (Mt 28,18-20; Mc 16,15). A evangelização é obra comunitária. A Igreja se faz no próprio ato de evangelizar. Por sua vez, a evangelização acontece também no ato do planejamento comum. Planejar a evangelização já é evangelizar! Nesse sentido, temos muito a aprender com Jesus Cristo. Em seus muitos ensinamentos, ele nos deixou claro que toda a nossa ação evangelizadora deve ser pensada, organizada e avaliada.

Nossa pastoral deve ser pensada. Por exemplo: nas parábolas do homem que vai construir uma torre e do rei que vai fazer uma guerra (Lc 14,25-33), Jesus nos diz

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que nossa ação tem que ser pensada, temos que ponderar sobre o investimento a ser feito, para não acontecer que tenhamos que deixar as coisas pelo caminho, fazê-las pela metade, não sermos fiéis no seu seguimento até o fim.

Nossa pastoral deve ser organizada. Por exemplo: o próprio Jesus organizou a ação pastoral dos 72 discípulos (Lc 9,1-6; 10,1-12; Mc 6,7-13). Chamou-os, enviou-os dois a dois, mostrou-lhes aonde ir, ensinou-lhes o que dizer e fazer, indicou-lhes as atitudes a tomar diante da rejeição, confiou-lhes o anúncio do Reino, que era o específico de sua própria missão.

Nossa pastoral deve ser avaliada. Por exemplo: no retorno dos discípulos (Mc 6,30-32; Lc 9,10; 10,17), Jesus chamou-os à parte, retirou-se com eles para um lugar deserto, para descansar, para ouvi-los contar o que haviam feito e ensinado.

A necessidade atual do planejamento pastoral: O planejamento pastoral depende do jeito de ser Igreja. Nos últimos séculos, a Igreja havia perdido o sentido do planejamento. Por diversos motivos, deixou de confiar no planejamento pastoral que aprendera a fazer com Javé, com Jesus e com as primeiras comunidades. Começou a confiar mais nas coisas prontas, nas estruturas e leis, nos cargos e funções. Deixou-se fascinar pelo poder, pela organização centralizadora, pela conquista, pelo combate às heresias. Em vez de crescer com a obra da evangelização, manteve-se apenas pela sacramentalização, isto é, pela mera administração dos sacramentos, sem a devida preparação e conversão. Exatamente por isso, afastou-se muito do plano divino da salvação e, portanto, de sua missão evangelizadora.

Nossas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja na Arquidiocese de Florianópolis têm como objetivo primeiro a garantia de uma caminhada comum, de unidade pastoral, de concentração das forças vivas. Queremos, na Arquidiocese, evangelizar primeiramente pelo testemunho do amor cristão. Disse Jesus: “Nisso saberão que vocês são meus discípulos: se vocês se amarem...” (Jo 13,35). Ele continuaria, dizendo-nos: “se vocês agirem em comum, se tiverem uma mesma caminhada, se perseguirem um mesmo objetivo...”.

Para tanto, como primeiro e grande sinal de unidade pastoral, as Diretrizes propõem que cada paróquia faça seu planejamento pastoral.

III FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

O plano de Deus na primeira Aliança: Toda a história da revelação de Deus e de nossa salvação está marcada pelo planejamento. O Antigo Testamento está cheio de palavras e acontecimentos que fundamentam o planejamento pastoral. A teologia da revelação insiste no divino processo pedagógico: Javé vê o sofrimento do povo, analisa a realidade, escolhe parceiros, corrige os erros, coordena as ações, estabelece instituições de mediação entre ele e o povo, prevê o futuro, etc.

Em tudo isso, podemos perceber, com os olhos da fé, que havia um plano divino, o qual ia sendo seguido e executado, ao mesmo tempo com decisão e paciência.

Jesus e o planejamento da ação pastoral: Quando o Verbo de Deus se fez gente no meio de nós, também atuou de modo planejado. Jesus evangelizou as multidões, contando com a colaboração de 72 discípulos, dentre os quais escolheu 12 apóstolos, dos quais três eram amigos íntimos, sendo um deles o líder de todos. Jesus aprendeu na oração qual era a vontade divina, formou a consciência e a ação dos seus seguidores. Ele anunciou seu programa de governo, pôs em prática as ações de

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libertação, implantou as bases de seu Reino, parou a meio do caminho para fazer avaliação. Ele detectou os obstáculos à sua missão, enfrentou seus adversários, previu seu fim trágico, preparou os discípulos para o seu desaparecimento, garantiu-lhes sua presença permanente através de seu Espírito.

Em toda a história do ministério pastoral de Jesus de Nazaré, podemos constatar que havia um plano divino. A encarnação do Verbo passou pela encarnação desse plano, pela inserção do plano divino no meio da realidade humana. Não foi um plano executado de cima pra baixo, de fora pra dentro. O plano da salvação contou com seguidores e adversários, com avanços e recuos. A salvação humana deu-se de modo processual, histórico, planejado.

O planejamento das primeiras comunidades: Toda a história da Igreja, em sua missão evangelizadora, segue também um plano divino. Desde os primeiros tempos, Deus conta com agentes humanos, com suas mais diversas particularidades: temperamentos, capacidades, defeitos, etc. Inspirados pelo Espírito Santo, os apóstolos Pedro e Paulo e as primeiras comunidades planejaram a obra da evangelização: de Jerusalém para a Samaria, para todas as nações conhecidas da época, até chegar ao centro do império romano. Formaram novas comunidades, aprenderam línguas diferentes, estabeleceram ministérios diversos, deixaram sucessores, venceram adversários, superaram conflitos, adaptaram o Evangelho às novas culturas, etc.

Através das primeiras comunidades, o Espírito de Deus agia onde, como e quando queria, tudo renovando, tudo purificando, tudo integrando à nova religião, à fé em Cristo. A missão evangelizadora da Igreja acontece através da ação do Espírito divino nas pessoas e povos, nas culturas e religiões, nas civilizações e sociedades, nas filosofias e ciências. Em tudo isso, há um plano: “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,14).

A retomada do plano divino: A proposta de salvação, expressa na conversão dos corações, na transformação das estruturas, no empenho pela justiça social, no amor aos necessitados, etc., perdeu muito de seu vigor inicial. O fascínio pelo poder, a centralização clerical e a sacramentalização são marcas de uma evangelização que não se servia da força do planejamento, ou seja, da ação pensada de modo coerente com o plano salvífico de Deus. É claro que a obra da evangelização continuou. Por obra de santos e santas, de mártires, de missionários e missionárias, de fundadores de ordens e congregações, o Evangelho continuou a difundir-se entre os povos.

Mas, era necessário um retorno às fontes, uma re-fundação, uma retomada do plano divino de salvação, uma renovação do mistério do Evangelho. Foi o que a Igreja fez com o Concílio Vaticano II (1962-1965).

IV PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS DE UM PLANEJAMENTO

1 VANTAGENS:

Percebemos, através das motivações e do próprio projeto de Jesus, a importância do planejamento de toda a nossa ação pastoral. Sempre que se pensa em planejamento, este deve ser assumido como um processo onde todos são chamados a pensar no que fazem, por que fazem, e aonde querem chegar.

Os benefícios de um planejamento são muitos. Vejamos alguns. O

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planejamento ajuda a:• trabalhar melhor;• não perder de vista os objetivos;• confrontar tudo que acontece com os objetivos que queremos alcançar;• aproveitar melhor os recursos disponíveis;• evitar esforços inúteis ou duplicados;• entender com mais clareza o próprio trabalho;• tornarmo-nos mais competentes.É preciso tomar consciência de que planejamento não é uma camisa de força.

Na verdade, ele é um roteiro de ação. Ele prevê determinados passos; mas deixa em aberto a possibilidade de outros passos e outros caminhos. Ele possibilita que se avance pouco a pouco, até se conseguir o melhor.

Os defeitos de um planejamento são corriqueiros entre nós. Deve-se evitá-los a todo custo. Não se faz planejamento:

• só para ter um plano bonito e apresentar aos outros;• para constar no arquivo;• para fazer figura diante do bispo;• para obrigar todo mundo a trabalhar do mesmo jeito;• para se proibir a criação de coisas novas.

2 FORMAS DE ENCAMINHAMENTO:

O jeito de fazer um planejamento dá um novo rosto à Igreja. Criar um processo de planejamento é envolver toda a comunidade no espírito evangelizador. Quanto à participação do povo, há diversas formas de planejamento:

a) Planejamento para o povo. A participação do povo é nula quanto à preparação, elaboração e execução. Uma pessoa ou um pequeno grupo planeja tudo, para o povo obedecer e executar. Tudo é imposto, sem vez e voz para o povo. Isso torna o povo incapaz de dar sua opinião e de caminhar num processo.

b) Planejamento “com” o povo. O povo é chamado só para dar alguma opinião, é consultado sobre algumas questões menos essenciais, para parecer que existe participação. Mas o processo continua sendo conduzido por um líder, ou por algumas pessoas.

c) Planejamento do povo ou pelo povo. O povo é que planeja junto. Ele se torna o sujeito, o protagonista do processo a ser encaminhado. O planejamento é feito pelo próprio povo, de modo que se torna planejamento do povo. Aqui entra a co-responsabilidade e a comunhão, tanto na preparação, como na elaboração e execução.

Somente esta última forma é que provocará uma vivência e convivência de um testemunho cristão libertador. Ao fazer planejamento dessa forma já se está evangelizando. Ele já é um momento, aliás bastante significativo, da evangelização.

A real participação de todos e todas é importante. A participação de todos é fundamental, porque:

• é uma necessidade humana e, portanto, direito de todos;• desenvolve a consciência crítica;• capacita para a partilha do poder;• cria espírito de comunhão e de participação na obra evangelizadora;

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• leva o grupo a promover o seu próprio desenvolvimento.É importante perguntar-se sempre: De que adianta ter um plano extraordinário,

sem as pessoas capazes de executá-lo?

3 PERSONAGENS:

Planejar apenas, não é a solução. A questão é como envolver a todos e a todas. Portanto, é fundamental trabalharmos num processo participativo. Poderíamos nos perguntar: A quem convidar? A quem envolver? Como envolver?

Nas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja em nossa Arquidiocese, encontramos: “Para a elaboração do seu Plano de Pastoral, (a paróquia) deverá promover assembléias, que envolvam o maior número possível de agentes” (Diretrizes da Arquidiocese, p. 46). Portanto, olhando para a realidade de cada paróquia, é interessante promover uma participação efetiva, sobretudo do pároco, diáconos, CPP, CPCs, CAEPs, ministros, catequistas, movimentos, irmandades, agentes da área da saúde, da educação, animadores de grupos de reflexão, congregações religiosas, serviços, organismos, pessoas que criam a opinião pública, representantes da sociedade civil...

A qualidade de um planejamento passa pelos seus participantes, caso contrário teremos um processo “faz de conta”. Quem não é capaz de participar do planejamento, também não é capaz de executar o que foi planejado. Fica, portanto, impossibilitado de entender o processo. Não se pode exigir de quem não atuou no planejamento, que atue na execução.

O ato de planejar faz parte da educação de todos nós. À medida que nos envolvemos, aprendemos e nos comprometemos com aquilo que fazemos. À medida que planejamos, aprendemos a planejar melhor. Mais ainda, aprendemos a nos evangelizar, através da partilha de idéias, sugestões, convicções. O planejamento é sinal de comunhão.

É incentivando a participação, que descobrimos talentos. A multiplicação dos agentes evangelizadores depende em grande parte do nível de participação que lhes é oferecido. Portanto, se os agentes continuarem a receber o plano de presente, de cima pra baixo, sem participar do processo de planejamento, fica difícil, senão impossível, melhorar o trabalho pastoral.

4 PROCESSO:

O processo de preparação, de elaboração e execução de um planejamento, não é principalmente questão de técnica. É preciso, antes de tudo, a vivência de atitudes e posturas que venham ajudar a sua condução.

Conta-se que um camponês ficou impaciente, certo dia, porque seu milharal demorava a crescer. Resolveu, então, dar uma ajudazinha: andou pela plantação e foi puxando, esticando todos os pés de milho para apressar o crescimento. No dia seguinte, a plantação estava toda seca: o milho, com raízes danificadas pelo puxão fora de hora, não resistiu.

Esta parábola nos ensina que é preciso:a) Dar tempo para os frutos amadurecerem e não queimar etapas: Trata-

se de um processo de crescimento e não de uma solução mágica.b) Amar a verdade em vez de cultivar as aparências: O planejamento

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participativo terá o rosto do grupo, com suas grandezas, mas também com suas limitações. Crescerá e se aperfeiçoará, na exata medida em que o grupo cresce e se aperfeiçoa.

c) Confiar na criatividade de todos: O “novo” aparece de baixo para cima. Muita novidade é sufocada, porque sempre aparece alguém dizendo que “não é assim que se faz”.

d) Entender o poder como um serviço e não como um posto, um cargo, um privilégio: No planejamento participativo, o poder é circular, isto é: todos os membros são chamados a exercer seus carismas, numa comunidade democrática que promova o rodízio das lideranças.

e) Promover a intervenção de todos: Todos os que participam, devem ser considerados capazes de dar sua opinião. Não se pode esquecer que deverão ser os mesmos que executaram o planejamento, os que, na hora de agir, irão pôr em prática as decisões.

f) Descentralizar a ação: Dar um voto de confiança aos participantes do planejamento e considerá-los capazes de gerenciar em conjunto as ações a serem realizadas.

g) Dar passos lentos, mas seguros: Evitar queimar etapas, pulando por cima dos passos indicados e da capacidade das pessoas.

h) Criar clima de mística: A espiritualidade garante a unidade e o sentido de toda a ação, em todo o processo de planejamento.

i) Planejar já é um novo modo de evangelizar: O processo de planejamento participativo já é um modo novo de fazer pastoral, de evangelizar, de viver a mística cristã.

5 ESCLARECIMENTOS:

Em nossa ação evangelizadora, quando se trata de organizar o andamento de nosso trabalho pastoral, facilmente confundimos alguns conceitos.

Por isso, queremos esclarecer os seguintes termos:Planejamento é o processo de tomar decisões sobre o trabalho a ser feito. Não

se faz numa reunião. Ele acompanha todo o trabalho que se vai realizando. O próprio planejamento é que vai indicando os caminhos para serem seguidos. O planejamento nunca termina; é um processo permanente.

Plano é o registro por escrito das decisões tomadas em conjunto. É o resultado concreto do planejamento. O registro por escrito do planejamento ajuda a organizar melhor o trabalho. O plano vai sendo redigido de acordo com as etapas do planejamento. Pode ser modificado, no decorrer da caminhada, ou mesmo ao final, se ou quando se percebe que há a necessidade de correção, ou de algum acréscimo. O plano é para ser usado, consultado, anotado, revisto que nem mapa ou roteiro de um viajante. Deve ter um prazo definido para ser executado. Depois, deve ser avaliado.

Prioridades são frentes de ação escolhidas por todos, para serem postas em primeiro lugar, para aparecem primeiro. Elas têm a primazia sobre todo outro tipo de ação pastoral. Devem ser levadas em conta por todas as comunidades, pastorais, movimentos que elaboram projetos de ação.

Programas são indicações gerais de ação, em que se descrevem os pormenores e as intenções da paróquia, como um todo. São as grandes linhas de orientação

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pastoral. Formam a plataforma de ação pastoral de toda a paróquia em conjunto.Projetos são os empreendimentos, eventos, obras, ações a serem realizados por

determinada comunidade, pastoral ou movimento, dentro de determinado tempo, por determinadas pessoas, em favor de determinados objetivos. Cada projeto é apresentado com seus prazos, datas, locais, agentes e destinatários. Os projetos devem ter em conta as prioridades e os programas gerais da paróquia. É pela execução do cronograma dos projetos que o plano vai sendo posto em prática.

Calendário é o conjunto de todos os eventos a serem realizados no decorrer de cada ano. Deve ser elaborado ao final de cada ano, em vista do ano seguinte. É feito por todos os agentes de pastoral (coordenadores de comunidades, pastorais, movimentos, organismos, etc.), levando em conta as prioridades, programas e projetos comuns a toda a paróquia. Nele constam as datas, horários, atividades e locais de cada evento. Trata-se de uma agenda paroquial, que seja fiel ao Plano de Pastoral, com suas prioridades, programas e projetos.

V PASSOS DO PLANEJAMENTO

O planejamento participativo é feito com decisão e paciência, na obediência ao Espírito e à realidade. Ele conta com a graça de Deus e as inspirações do Espírito Santo, mas também com as técnicas humanas da administração e gerência, de planejamento e orçamento, de reengenharia e metodologia.

Quanto mais uma paróquia se habituar à prática do planejamento, mais ela poderá enriquecê-lo e sofisticá-lo. Como este roteiro tem a intenção de favorecer e estimular a iniciação de nossas paróquias ao planejamento, oferece apenas os passos mais significativos. Em cada um deles, são apresentadas as motivações bíblicas e metodológicas, bem como as ações concretas para sua execução.

Para facilitar a realização do Planejamento Paroquial de Pastoral, os seguintes passos são fundamentais:

1 COMEÇAR O PLANEJAMENTO:

1. Reunir o CPP: ler juntos este roteiro, debatê-lo, introjetá-lo e assumi-lo.2. Convencer-se mutuamente sobre a necessidade e as vantagens do

Planejamento Paroquial de Pastoral. Tomar a firme decisão de realizar o planejamento.

3. Criar uma comissão para conduzir o planejamento (com coordenador/a e secretário/a).

4. Criar clima de espiritualidade e oração. Encarregar um grupo de pessoas que garantam a oração, durante todo o processo de planejamento.

5. Convidar alguém (que entenda de planejamento pastoral) para ajudar em todo o processo.

6. Lançar a proposta do planejamento a todos os paroquianos, através de motivações bíblicas, teológicas e pastorais.

7. Criar estratégias metodológicas, que possibilitem maior participação e representatividade (reuniões por comunidades, por assuntos temáticos, mini-assembléias, etc.).

8. Definir um prazo para começar e terminar o planejamento de pastoral (um ano, por exemplo!).

9. Distribuir os passos do planejamento no decurso desse prazo definido.

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10. Agendar datas para reuniões e assembléias: - pode-se reservar um tempo para o processo do planejamento, nas

próprias reuniões ordinárias do CPP;- é necessário, porém, agendar reuniões extraordinárias do CPP

específicas para o Planejamento de Pastoral;- pode-se reservar um tempo para o processo do planejamento na

Assembléia Paroquial de Pastoral anual;- se for preciso, pode-se agendar uma Assembléia Extraordinária para

o Planejamento de Pastoral.

2 GARANTIR EM TODO O PROCESSO DE PLANEJAMENTO:

1. Registrar todos os dados em arquivo à parte, formando assim um banco de dados sobre cada passo da caminhada (atas, textos, fotos, vídeos, etc.). Esses dados são úteis tanto para a história da paróquia quanto para futuros planejamentos.

2. Redigir, passo a passo, o Plano Paroquial de Pastoral, que será a conclusão concreta e objetiva do planejamento.

3. Celebrar cada passo do processo, com orações, leituras bíblicas, atos penitenciais, missas, etc. (nas reuniões do CPP, nas Assembléias, nos encontros e celebrações da comunidade, conforme o caso).

3 VER A REALIDADE:

A evangelização requer conhecimento adequado da realidade a ser evangelizada. É impossível evangelizar, isto é, anunciar uma boa notícia (de conversão pessoal, de libertação histórica, de justiça social, de transformação da realidade, etc.), sem que se procure conhecer a realidade (das pessoas e da sociedade) em que essa boa notícia será ouvida e acolhida. O semeador do Evangelho deve conhecer os terrenos em que a semente é lançada.

Sofremos hoje a tentação do imediatismo! O mundo de hoje nos leva a sermos muito pragmáticos, práticos, eficientes. Por isso, temos pressa de agir. Queremos ver logo os resultados. Quantas vezes, ao parar para planejar nossa ação, já vamos logo perguntando: “o que vamos fazer?” Esta não é, porém, a primeira pergunta a se fazer num verdadeiro planejamento de ação pastoral.

A primeira pergunta deve voltar-se para a realidade em que vamos atuar: Onde vamos desenvolver nossa ação? Quem são as pessoas que desejamos atingir? Quais suas necessidades, preocupações, angústias, alegrias, ideais, valores, cultura...? Qual sua situação econômica, política, social, religiosa? Como as instituições civis, as outras igrejas e religiões vêem a Igreja Católica? Como irão acolher o nosso anúncio?

Nenhum olhar sobre a realidade é neutro. Cada ponto de vista é a vista de um ponto. Ao observar e coletar dados da realidade, já se tem uma pré-compreensão dessa realidade e já se faz uma opção de ação. Qual deve ser nosso ponto de vista? Como devemos ver a realidade?

O olhar de Deus inspira nosso olhar. O olhar do agente de pastoral deve assemelhar-se ao olhar de Deus, um olhar que se direciona à ação salvadora, que tem como objetivo transformar a realidade. Por exemplo: No Antigo Testamento, Javé diz: “Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi os gritos de aflição diante dos

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opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos” (Ex 3,7). No Novo Testamento, Jesus Cristo vê a multidão faminta e diz: “Tenho compaixão dessa multidão. Já faz três dias que estão comigo, e não têm nada para comer” (Mt 15,32).

A caridade pastoral direciona o olhar. O agente de pastoral observa a realidade a partir de um ponto de vista bastante específico: a partir do próprio impulso para a caridade pastoral, para o anúncio de uma boa nova, para o empenho pela justiça. Nosso ponto de vista é ao mesmo tempo pessoal e comunitário. É como comunidade cristã que olhamos o mundo ao nosso redor!

Pode-se “ver” a realidade de muitos modos. Por ex.: a partir do lugar em que se está; a partir da experiência que se tem; a partir de quem participa da Igreja; a partir de estudos científicos (estatística, demografia, sociologia, etc.); a partir de pesquisas e questionários. Existem, também, modos diferentes de se conseguir as respostas desejadas.

A história pastoral da Arquidiocese de Florianópolis mostra uma preocupação constante com esse conhecimento da realidade. Dois exemplos: a) O 12º Plano de Pastoral (1992-1996) fez uma radiografia da realidade a partir de três ângulos de visão: elementos de nossa história; aspectos da realidade conjuntural vivida na ocasião; faces de nossa realidade pastoral, sua organização, sua ação e as preocupações que apresentavam; b) As atuais Diretrizes, com criatividade, nos fazem olhar a realidade de um jeito novo: “é necessário, antes de tudo, um rápido olhar sobre a realidade social que nos envolve, e sobre a realidade eclesial em que vivemos, para detectar aí os desafios à nossa evangelização, na forma de ameaças, oportunidades e apelos” (Diretrizes da Arquidiocese, p. 11).

Qual a abrangência de nosso olhar? Como cristãos, devemos ter sempre o olhar alargado sobre todo o mundo, um olhar dilatado, uma visão global. Mas, para o Planejamento Paroquial de Pastoral interessa um olhar sobre o âmbito da paróquia: sua geografia e história, seu povo e sua cultura, seus problemas e conquistas. A visão global ajuda a ver de modo mais claro o mundo da paróquia, pois se pode observar melhor como os grandes desafios sociais e culturais afetam particularmente a comunidade, o bairro e a cidade em que vivemos.

Como proceder, então?1) Reler e meditar o texto acima.2) Reunir um grupo de pessoas que ajude o CPP e a comissão do

planejamento a observar a realidade.3) Ter o desejo sincero de querer conhecer, com a maior profundidade

possível, a realidade. Deixar-se questionar pela realidade. Não ter medo de ver, ouvir, sentir o mundo ao redor, com seus valores e suas angústias. Não ter receio de pôr a mão nas feridas da própria Igreja.

4) Delimitar o enfoque com qual se quer olhar a realidade: sobre que aspectos do social (político, econômico, cultural, ideológico, etc.) e do eclesial (lideranças, catequese, liturgia, vocações, etc.) seria necessário buscar informações?

5) Definir os dados que se quer ter, com vistas à ação pastoral.6) Dispor-se a um levantamento da realidade. Perguntar-se: como esse

levantamento será feito? Com quem? Em que prazo? Com que custos? Através de que estratégias? Seria bom um questionário a ser levado a

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campo? 7) No caso de um questionário, como elaborá-lo e em vista de que resultados?

Se for decidido por um questionário, preparar perguntas diretas, capazes de oferecer as respostas desejadas. Pode-se contar com a ajuda de especialistas (que entendem de estatísticas e de levantamento da realidade).

8) Aproveitar a observação pessoal, entrevistas, pesquisa em livros, revistas, jornais, etc. Consultar pessoas que, por competência, estudo e vivência, conhecem melhor a comunidade.

9) Servir-se das Diretrizes da Arquidiocese, no capítulo sobre os desafios sociais e eclesiais à evangelização, para auxiliar na observação da realidade paroquial (Diretrizes da Arquidiocese, pp. 11-22).

10) Valer-se de documentos da sociedade civil (do IBGE, por exemplo), da imprensa, de estatísticas e levantamentos já feitos.

11) Prestar atenção às contínuas mudanças da sociedade. Hoje, é preciso atualizar constantemente nossa visão da realidade.

12) Considerar os mais diversos aspectos de nossa realidade: urbana, semi-urbana e rural, conforme a situação de cada paróquia ou comunidade.

13) Sugestão de aspectos a serem considerados: - Aspectos pessoais: Quem são as pessoas com quem lidamos? Quais

seus sonhos, medos, problemas, conquistas, alegrias? Como vivem? Que influências sofrem?

- Aspectos sociais: Como as pessoas se relacionam? Como são as famílias? Que valores são vividos e apreciados? Que preconceitos há na comunidade? Que tipo de lazer é procurado pelas famílias, pelos jovens? Que tipo de educação é oferecido às crianças e jovens? Quais os acessos à saúde e à educação? Como está a situação das drogas?

- Aspectos políticos: Que nível de participação as pessoas têm na comunidade? Que interesse têm pelas eleições para líderes políticos? Que tipo de governo desejam? Como a autoridade é exercida nas famílias, entre os jovens, na comunidade?

- Aspectos econômicos: De que vivem as pessoas? Onde trabalham? Que tipo de empregos lhe é oferecido? Como moram? A que classe social pertencem? Qual a relação entre ricos e pobres?

- Aspectos religiosos: Em que as pessoas acreditam? Qual o nível de prática religiosa da maioria? Que devoções cultivam? Como relacionam fé e vida? Que tipo de igrejas ou religiões freqüentam?

- Experiências anteriores: O que já foi feito na ação pastoral? O que deu certo e o que errado? Por quê? Quais foram nossas grandes conquistas e deficiências?

- Interferências externas: Que valores da sociedade interferem na dinâmica paroquial? Como as novelas, jogos, eventos, etc. interferem na vida paroquial?

14) Feita a coleta de dados, é preciso catalogar o resultado, tabular os dados obtidos.

15) Analisar cada problema detectado: - Como aparece o problema?- Quais suas possíveis causas?- O que este problema tem a ver com a construção do Reino?

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- O que pode contribuir para diminuir ou aumentar o problema?- Que pistas podemos apontar para a solução do problema?- Como tem sido a pastoral paroquial até agora frente a este problema?

16) Fazer uma análise sobre os dados coletados, em reuniões do CPP e/ou com toda a comunidade. Contar, se possível, com a ajuda de algum assessor (sociólogo, demógrafo, estatístico, pastoralista, teólogo, etc.) para analisar os fenômenos da realidade, com suas causas e conseqüências. Tirar as conclusões preliminares.

17) Pôr por escrito todos os dados coletados e a análise feita.

4 JULGAR-ILUMINAR A REALIDADE:

Além da análise social, nós, cristãos, julgamos a realidade com os olhos de Deus. Julgamos a realidade não com os nossos critérios, com um julgamento humano de condenação ou de absolvição. Para nós, julgar a realidade é analisá-la à luz da fé, iluminá-la com a Palavra de Deus. É perguntar-se: O que Deus diria de nossa realidade? O que nela há de bom e de mau, segundo os critérios de Deus? O que nela está de acordo ou é contrário ao plano de salvação de Deus?

Como nosso interesse pela realidade é conhecê-la para melhor evangelizar, é preciso buscar luzes na Palavra de Deus e nos documentos da Igreja para uma melhor compreensão, um discernimento adequado. Queremos descobrir o que Deus estaria pedindo de nós.

A Escritura nos leva a fazer um confronto entre o que Deus quer e sonha e o comportamento humano. Em toda a Escritura, há diversas passagens em que Deus julga o comportamento do povo. Alguns exemplos: No Antigo Testamento, Javé faz um julgamento positivo sobre o povo: “Sobre ti brilha o Senhor, sobre ti aparece a sua glória. As nações caminharão à tua luz, os reis, ao brilho do teu esplendor” (Is 60,2-3). Também emite um juízo negativo: “Vejo que este é um povo de cabeça dura. Deixa que a minha ira se inflame contra ele e eu os extermine” (Ex 32,9-10). No Novo Testamento, também Jesus faz um juízo positivo sobre o povo: “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20). Faz também um juízo negativo: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!” (Mt 11,21).

Não se pode esquecer ainda “o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2,7.11.17.29; 3,6.13.22), aos fiéis de sete igrejas da Ásia Menor. Faz-lhes elogios, mas também advertências e reprovações. Faz-lhes promessas e garante-lhes sua assistência permanente, convidando-os a continuarem unidos no amor e na fidelidade.

Como se vê, a realidade humana dos tempos bíblicos é marcada por luzes e sombras. Também a nossa situação, quando julgada com os olhos e os juízos de Deus, revelará angústias e esperanças, retrocessos e avanços, perdas e ganhos. Importante é permanecer diante da Palavra de Deus, ouvi-la e praticá-la. Ela é espelho com o qual vemos e julgamos o mundo em que vivemos.

Como proceder, então?1) Reler e meditar o texto acima.2) Reunir passagens ou elaborar uma síntese da Palavra de Deus e de

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documentos da Igreja, que possam iluminar a realidade observada e analisada.

3) Servir-se da mística de nossas Diretrizes, presente na explicitação de cada item de nosso Objetivo Geral (Diretrizes da Arquidiocese, pp. 25-40).

4) Refletir em grupo e tirar um tempo para a oração, para dar espaço à graça divina e ouvir o que Deus tem a dizer sobre a realidade e sobre nossa ação.

5) Contar, se possível, com a ajuda de algum assessor (pastoralista, teólogo, etc.), para iluminar a realidade com a luz da Palavra de Deus. Um retiro espiritual pode ser muito útil nesse ponto da caminhada.

6) Comparar a realidade com os ideais do Reino. Perceber a distância entre ambos.

7) Reconhecer os desafios com os quais a realidade se constitui. Classificar os desafios, segundo se nos apresentam: como oportunidades, ameaças ou apelos.

8) Fazer uma relação das urgências que requerem prioridade, porque não podem esperar.

9) Para evitar o risco de sermos tarefeiros, e discernir o que realmente Deus e a realidade querem de nós, é preciso, antes de determinar “o que fazer”, responder às seguintes questões:- o que queremos afinal?- para quem vamos fazer o trabalho?- para que serve o nosso trabalho?- a quais interesses queremos servir?- que comportamentos queremos incentivar?- que tipo de relação humana queremos criar?- que prioridade devemos privilegiar? por quê?- com que recursos espirituais contamos?- que dificuldades podemos prever?- que cruzes devemos assumir?

10) Pôr por escrito todas as reflexões feitas, na forma de motivações de fé e de princípios doutrinais que deverão inspirar a ação que será proposta.

5 FIXAR O OBJETIVO GERAL:

Quem não sabe aonde vai, nunca chega. Por isso, é preciso um Objetivo Geral. Ele é o resultado do confronto entre o ver e o julgar. Para isso, é preciso muita humildade e paciência. Deve-se evitar a tentação de se saber antes o que se quer e o que se vai fazer. É a luz e a graça de Deus que vão apontar o caminho.

Do encontro entre os sinais dos tempos (a realidade) e os sinais de Deus (a Palavra), é que sai a definição do Objetivo Geral. Ele é a expressão do resultado que se quer alcançar, por meio do Plano de Pastoral. É o ideal concreto que se quer conseguir na Paróquia. Ele deve responder a duas questões: O que se quer fazer? Para quê se quer fazer?

Ele pode ter uma formulação diferente do Objetivo Geral da Arquidiocese. Mas, não pode estar em contradição com os objetivos da Igreja como um todo.

O Objetivo Geral deve:

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- Ser o elemento integrador de toda a atividade a ser desenvolvida na paróquia, pelas comunidades, pastorais e movimentos.

- Sinalizar nossa utopia, nossos sonhos, o fim último de nossa ação.- Comprometer-nos com o aqui e o agora, em vista do ideal a ser alcançado.- Expressar sempre nossa missão de evangelizar.- Relacionar-se com a realidade coletada e analisada.- Estar de acordo com o Objetivo Geral da Arquidiocese.- Ser uma frase que sintetize claramente o que se quer.- Ser uma frase curta, de fácil memorização.Como proceder, então?1) Reler e meditar o texto acima.2) Retomar os dados da realidade coletados e analisados. Retomar os textos

da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja e de nossas Diretrizes.3) Confrontar a realidade com a fé; os sinais dos tempos com a Palavra de

Deus.4) Elaborar juntos o Objetivo, numa fórmula que responda aos critérios acima

apresentados e que alcance o consenso de todos os participantes do planejamento.

5) Redigir, em breves parágrafos, um texto que explicite e aprofunde os itens do Objetivo aprovado.

6 AGIR NA REALIDADE:

A Sagrada Escritura está cheia de chamados à ação. Os cristãos têm uma missão específica: ir pelo mundo, anunciar o Evangelho, ensinar os povos a observar os mandamentos divinos, curar os doentes, evangelizar os pobres, transformar o mundo. O amor que Deus tem por nós, é ao mesmo tempo um dom e uma tarefa, uma graça e um compromisso. “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). “Se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros” (1 Jo 4,11).

Toda vez que Deus faz uma observação e um julgamento sobre a realidade, tem como objetivo interferir nela e transformá-la. Por exemplo: No Antigo Testamento, após dizer que viu a opressão do povo, Javé acrescenta: “Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e faze-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel” (Ex 3,8). Também Jesus, após ver a multidão faminta, diz: “Não quero mandá-los embora sem comer, para que não desfaleçam pelo caminho” (Mt 15,32).

No Planejamento de Pastoral, este é o momento de selecionar e programar atividades. Como foi visto desde o início, a observação da realidade e o julgamento divino sobre ela têm como intenção abrir pistas para se discernir qual deve ser nossa ação. Deve-se priorizar ações e escolher atividades que possam transformar a realidade que foi até aqui observada e julgada com os nossos olhos e os olhos de Deus. É preciso lembrar, ainda uma vez, que somente agora é que se decide sobre a ação a ser praticada. Sem uma observação e um julgamento divino sobre a realidade, nossa ação deixa de ser evangelizadora e transformadora. Tornamo-nos ativistas, tarefeiros.

Para esse momento, é importante contar com a graça iluminadora de Deus. É preciso deixar-se possuir pelo desejo de agir como Deus age, de fazer o que Deus quer, de ser simples operários de um Reino que não é nosso, mas de Deus. Nesta hora, todos os participantes, de todas as comunidades, pastorais, movimentos e organismos,

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são postos à prova! É hora de decidir juntos o que se vai fazer juntos. O maior fruto do Planejamento de Pastoral irá se revelar aqui: a superação do individualismo, a força da comunhão.

Quatro virtudes deverão ser buscadas para nossa ação pastoral: unidade, criatividade, visibilidade e objetividade.

- Unidade, porque, sem ela, em vez agentes do Reino, estaremos compactuando com o reino da divisão e da maldade. Disse Jesus: “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).

- Criatividade, porque somos chamados a continuar não uma obra qualquer, mas a do próprio Jesus, que disse: “Quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas” (Jo 14,12).

- Visibilidade, porque se não falarmos do que fazemos, acabarão dizendo que nada fazemos. Disse Jesus: “Se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19,40). E ainda: “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados” (Mt 10,27).

- Objetividade, porque a ação pastoral trabalha com prioridades e não com escolhas confusas; porque as propostas da ação pastoral devem ser claras. Disse Jesus: “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno” (Mt 5,37).

Como proceder, então?1) Reler e meditar o texto acima.2) Organizar (dividir, listar, ordenar, agrupar, juntar) a realidade observada e

analisada, para responder adequadamente aos desafios que ela representa?3) Rever a ação pastoral realizada até aqui. Diante do Objetivo Geral

assumido, analisar: Como enxugar o que já se faz? Que atividades poderão ser deixadas de lado? Que pastorais poderiam ser assumidas por outras afins? Que atividades poderiam ser concentradas por determinadas lideranças, pastorais ou movimentos, a fim de que haja pessoas liberadas para novas frentes? O que precisaria ser mais valorizado?

4) Ousar novo tipo de ação pastoral. Deixar-se questionar pelos novos desafios: Que outras frentes de trabalho terão que ser abertas? Que situações da realidade precisariam receber mais presença de nossa ação pastoral? O que está ao nosso alcance realizar?

5) Comparar o que existe com o que deveria existir.6) Fazer opções claras: Que pastorais ou organismos são essenciais à vida da

paróquia (sem as quais, não haveria paróquia)? 7) Retomar as indicações práticas das Diretrizes da Arquidiocese, adaptando-

as à Paróquia. A partir das Diretrizes da Arquidiocese, que pastorais ou frentes de ação pastoral, devem existir na Paróquia? (Diretrizes da Arquidiocese, pp. 45-52).

8) Definir as prioridades pastorais, relacionando-as com as prioridades e destaques da Arquidiocese: Grupos de Reflexão e Formação de Lideranças; Escola de Ministérios e Missões Populares. Como estas prioridades e destaques estarão presentes no Plano de Pastoral Paroquial? As prioridades devem:- responder aos desafios verificados no “ver”.

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- ser atraentes, para cativar o interesse de todos.- ser ao mesmo tempo abrangentes e aglutinadoras.- alcançar todos os campos da evangelização.- dizer respeito a todos.- concentrar atividades.

9) Elaborar programas e projetos: O que fazer? Onde fazer? Quando fazer? Como fazer? Quem vai fazer? Com que recursos materiais?

10) Prestar atenção ao seguinte: Não é o número coisas que se faz ou de frentes de ação que se enfrenta, que vai definir a eficiência de nossa evangelização. No fundo e no final das contas, o que vale é a ação de Deus realizada através de nós.

11) Criar estruturas e espaços que forem necessários para responder aos novos desafios.

12) Definir responsabilidades e lideranças para cada programa e projeto.13) Pôr por escrito todo o conjunto de ações propostas.14) Concluir e publicar o Plano Paroquial de Pastoral, que será formado por:

dados da realidade observada; princípios de fé; Objetivo Geral e sua explicitação; propostas de ação.

15) Definir um prazo de vigência do Plano, em sintonia com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, em Santa Catarina e na Arquidiocese.

16) Usar de todos os meios para que o Objetivo Geral esteja sempre presente na ação pastoral e evangelizadora: musicá-lo, montar celebrações sobre ele, fazer dele o conteúdo de retiros para lideranças, captar a espiritualidade e a mística que ele contém, transformá-lo numa oração a ser repetida nas celebrações, nos grupos, nas famílias, na catequese...

7 AVALIAR O PLANEJAMENTO:

A avaliação é um processo permanente. Através dela, se confrontam os resultados conseguidos com os objetivos propostos. É a oportunidade para se fazer algum ajuste, ou mesmo alguma mudança de direção da ação. É a hora de colher os frutos, ou de penitenciar-se pelas falhas e omissões.

A Sagrada Escritura traz diversas ocasiões em que Deus propõe uma avaliação de sua própria ação salvífica. Por exemplo: No Antigo Testamento, Javé avaliou a obra da criação e “achou que era muito bom” (Gn 1,31). Depois do dilúvio e da aliança feita com Noé, o Senhor avaliou o que havia feito com a humanidade e disse: “Nunca mais tornarei a amaldiçoar a terra por causa do gênero humano, por serem más desde a infância as inclinações do coração humano; nunca mais tornarei a castigar todos os seres vivos como acabei de fazer” (Gn 8,21). Diante das súplicas de Moisés, “desistiu do mal que havia ameaçado fazer a seu povo” (Ex 32,14). No Novo Testamento, Jesus pára a meio do caminho para avaliar seu ministério pastoral, começando com a instigante pergunta (da qual freqüentemente nós fugimos): “Quem dizem as pessoas que eu sou?” (Mc 8,27). Ele propõe também uma avaliação do trabalho apostólico de seus discípulos, que “se reuniram em torno de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado” (Mc 6,30).

Quem não se avalia, continua repetindo sempre os próprios erros. A avaliação pastoral carrega consigo um forte tom penitencial. A avaliação pode propor

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uma mudança de vida, de rota. A avaliação exige metanóia, conversão, convergência contínua ao Plano de Pastoral, que passa a ser um sinal concreto dos planos de Deus para a paróquia.

Como proceder, então?1) Reler e meditar o texto acima.2) Identificar problemas e acertos durante a execução da programação.3) Confrontar constantemente os resultados com o Objetivo, com as

prioridades, os programas e os projetos assumidos: Quanto conseguimos? Fomos eficientes? Qual foi a qualidade do trabalho? Fizemos bem, ou apenas fizemos? Os resultados foram válidos? Construíram algo? Como se sentem as pessoas? Produziram-se bons relacionamentos?

4) Procurar descobrir as causas dos erros, para acertar da próxima vez.5) Estar pronto para efetuar adaptações, correções, ajustes a qualquer hora.6) Dispor-se a aceitar sugestões e críticas, e fazer delas trampolim para uma

ação mais eficaz.7) Criar formas diversas para que a avaliação se faça de forma espontânea e

para que se concretize a eventual necessidade de correção.8) Abrir espaços para avaliação junto ao povo (pequenos questionários a

serem preenchidos após as missas, ou na secretaria).9) Propiciar momentos, nas reuniões ordinárias do CPP, para avaliar os

programas e projetos.10) Contar com 2 ou 3 pessoas que tenham a tarefa específica de chamar a

atenção de todos sobre a caminhada, através de comentários pessoais, observações que tenham coletado da comunidade, críticas ouvidas no meio do povo, memorizações do processo.

11) Montar celebrações da penitência tendo o Objetivo Geral como referencial para o exame de consciência. Montar celebrações de ação de graças.

12) Destacar, nas missas e celebrações da comunidade, os passos bem sucedidos.

13) Agendar, para um semestre antes do prazo final de execução, uma assembléia para: avaliação geral do planejamento e proposição de um novo processo/etapa de planejamento.

8 RETOMAR O PLANEJAMENTO:

O processo de planejamento é interminável. Ele acontece de duas maneiras: a) Planeja-se no decorrer da execução de um determinado Plano Paroquial de Pastoral, com o fim de realizá-lo e continuamente avaliá-lo; b) Planeja-se ao fim da vigência de um Plano de Pastoral, com o fim de preparar e estabelecer um novo plano.

Importante é manter o espírito e a prática de planejamento.

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VI ESQUEMA DE UM PLANO DE PASTORAL:

Comunidade/Pastoral/Movimento:

Situação:

Objetivosespecíficos Atividades Quem Com que Quando O

1. 1.

2.

3.

2. 1.

2.

3.

OBJETIVO:

O QUEFAREMOS? POR QUÊ? ATÉ

QUANDO?COM

QUEM? COM QUÊ? C

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QUADRO GERAL DO ROTEIRO DO PLANEJAMENTO PAROQUIAL

DE PASTORAL

QUADRO GERAL DO ROTEIRO DO PLANEJAMENTO PAROQUIAL DE PASTORAL

COMEÇAR O PLANEJAMENTO – livreto p. 18

1. Reunir o CPP: ler juntos este roteiro.2. Convencer-se mutuamente sobre a necessidade e as

vantagens do Planejamento Paroquial de Pastoral.3. Criar uma comissão para conduzir o Planejamento (com

coordenador/a e secretário/a).4. Convidar alguém (que entenda de planejamento pastoral)

para ajudar em todo o processo. 5. Agendar datas para reuniões e assembléias:

- pode-se reservar um tempo para o processo do planejamento, nas próprias reuniões ordinárias do CPP;

- é necessário, porém, agendar reuniões extraordinárias do CPP específicas para o Planejamento de Pastoral;

- pode-se reservar um tempo para o processo do planejamento na Assembléia Paroquial de Pastoral anual;

- se for preciso, pode-se agendar uma Assembléia Extraordinária para o Planejamento de Pastoral.

GARANTIR EM TODO O PROCESSO DE PLANEJAMENTO – página 19

1. Registrar todos os dados em arquivo à parte, formando assim um banco de dados sobre cada passo da caminhada (atas, textos, fotos, vídeos, etc.).

2. Celebrar cada passo do processo, com orações, leituras bíblicas, atos penitenciais, missas , etc. (nas reuniões do CPP, nas Assembléias, com a comunidade, conforme o caso).

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VER – OBSERVAR A REALIDADE – livreto p. 19

1.Coletar dados sobre a realidade, em seus diversos aspectos: social, cultural, político, econômico, religioso, eclesial, pastoral...

2. Responder a perguntas sobre a realidade, tais como: Onde vamos atuar? Quem são as pessoas que queremos atingir? Quais suas necessidades, preocupações, angústias, alegrias, ideais, valores, cultura? Qual sua situação econômica, política, social, religiosa? Como as instituições civis, a sociedade, as outras igrejas e religiões vêem a Igreja?

3. Isso pode ser feito de diversos modos: A) Nas reuniões ordinárias do CPP, através de coleta espontânea de observações sobre esses aspectos. Em cada reunião, coletam-se dados sobre um ou mais desses aspectos. B) Através de um questionário, com perguntas sobre a realidade. Ele pode ser enviado aos fiéis participantes das missas, às lideranças, aos/às religiosos/as, aos grupos de reflexão, às comunidades, pastorais, movimentos. Deve ser diferenciado, conforme os destinatários. Com perguntas simples e diretas.

4. Catalogar o resultado, tabular as respostas e redigir um texto ágil sobre a realidade.

5. Quando se tiver completado o quadro, faz-se uma reunião extraordinária do CPP ou uma Assembléia Extraordinária, para partilhar, ordenar e ampliar o conjunto dos dados coletados.

6. Pode-se pedir a algum assessor (sociólogo, demógrafo, assistente social, economista, pastoralista, teólogo, etc., conforme o caso e a necessidade), para fazer uma primeira análise sobre esses dados.

7. Celebrar a realidade vista, com símbolos e gestos que a retratem.

JULGAR – ILUMINAR A REALIDADE – livreto p. 23

1. Encontrar na Palavra de Deus passagens ou ensinamentos que possam iluminar essa realidade.

2. Servir-se de documentos da Igreja (Papa, CNBB Nacional e Regional Sul IV) e de nossas Diretrizes para iluminar a realidade.

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3. Compor um texto que contenha os princípios doutrinais da fé, da espiritualidade e da evangelização, que irão inspirar a ação transformadora desta realidade.

4. Pode-se convidar algum pastoralista ou teólogo (que esteja a par da realidade levantada), para ajudar a iluminar a realidade com os dados da fé.

5. Celebrar a mística do Planejamento, com orações de compromisso que reflitam o desejo comum de deixar-se guiar pela graça de Deus.

FIXAR O OBJETIVO GERAL – livreto p. 26

1. Elaborar o Objetivo Geral da Ação Evangelizadora da Paróquia.2. Compor um breve texto que aprofunde a compreensão de cada item do Objetivo Geral.

AGIR – TRANSFORMAR A REALIDADE – livreto p. 27

1. Estabelecer prioridades (poucas!), ao redor das quais devem girar as outras propostas de ação.

2. Decidir sobre programas e projetos a serem executados em vista de intervenção eficaz e transformadora sobre a realidade.

3. Definir estruturas, espaços, agendas, recursos, etc., que sejam necessários para a execução de tais programas e projetos.

4. Especificar as responsabilidades (quem fica responsável por isso e aquilo!).

5. Determinar um prazo de execução do Planejamento (de acordo com orientações da Arquidiocese).

6. Estabelecer meios para propagação dos dados, objetivos e decisões do Planejamento.

7. Elaborar, em cada ano, o cronograma geral de ação, insistindo sobre as prioridades e os programas e projetos comuns.

8. Pode-se convidar algum pastoralista ou teólogo (que esteja a par do processo), para ajudar a propor ações que intervenham

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na transformação da realidade.9. Compor um texto que contenha todas as propostas de

ação (prioridades, programas e projetos).10. Concluir e publicar o Plano Paroquial de Pastoral, que

será formado por: dados do ver, princípios do julgar, Objetivo Geral e sua explicitação, e propostas de ação.

11. Após tudo isso, cada comunidade, pastoral e movimento faz seu cronograma, levando em conta o que foi decidido em comum.

12. Celebrar o empenho pela transformação da realidade eclesial e social, com orações de súplica e invocações ao Espírito Santo.

AVALIAR A CAMINHADA DO PLANEJAMENTO – livreto p. 30

1. Definir os critérios que servirão para avaliação.2. Verificar constantemente se o Plano, o Objetivo Geral e as

prioridades estão sendo efetivados.3. Agendar, nas reuniões ordinárias do CPP, espaços para

avaliar, permanentemente, a execução dos programas e projetos.4. Garantir a possibilidade de fazer algum ajuste ou mesmo

mudança de direção na ação.5. Agendar, para um semestre antes do prazo final de

execução, uma assembléia para: avaliação geral do Planejamento e proposição de um novo processo/etapa de planejamento.

6. Celebrar a avaliação, com ato penitencial, tendo em conta a realização do Plano, do Objetivo geral e das prioridades.

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BIBLIOGRAFIA

BRIGHENTI, Agenor. Metodologia para um planejamento participativo. São Paulo: Paulus, 1988.

BRIGHENTI, Agenor. Reconstruindo a esperança: Como planejar a ação da Igreja em tempos de mudança. São Paulo: Paulus, 2000.

CABELLO, Miguel e outros. Manual de planejamento pastoral. São Paulo: Paulinas, 1988.

CNBB. É hora de mudança: Planejamento Pastoral dentro do projeto Rumo ao Novo Milênio. São Paulo: Paulus, 1998.

CRUZ, Therezinha. Planejamento, processo que faz crescer. Brasília: CPP, s/d.GANDIN, Danilo, Planejamento como prática educativa. São Paulo: Loyola, 1983.MINICUCCI, Agostinho. Técnicas de trabalho de grupo. 2. ed. São Paulo: Atlas,

1992.PIERRE, Luiz A. Projeto educativo para uma educação libertadora, São Paulo:

Loyola, 1988.SANDRINI, Marcos; GHISLENI, Maria Augusta; SILVA PERES, João Pedro da. Planejar é..., Porto Alegre: Instituto de Pastoral da Juventude, 1988.