arqueologia pelas gentes

Upload: joeser-alvarez

Post on 01-Mar-2016

1 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

arqueologia

TRANSCRIPT

  • Arqueologia pelas Gentes: um Manifesto

    Constataes e Posicionamentos Crticos sobre a Arqueologia Brasileira em Tempos de PAC

    Viramos refns de uma legislao que preza pela preservao do patrimnio, mas que no conseguiu, at hoje, barrar um nico empreendimento com base na legislao vigente e argumentos de que o patrimnio arqueolgico mais importante do que o prprio empreendimento e seus inmeros impactos, irreversveis no caso do patrimnio cultural. Um agravo constitui-se no fato de que em muitos casos, no h como mitigar ou compensar a perda do meio de vida e de memria de populaes atuais que tem em marcos geogrficos especficos ou mesmo em stios arqueolgicos sobrepostos a locais sagrados a gravao de sua histria que raramente est escrita.

    O desenvolvimento da Arqueologia no Brasil tem frequentemente se mostrado

    incompatvel com a agenda da Arqueologia mundial, promovida pelo World Archaeological Congress (WAC), na qual a disciplina fornece uma plataforma para mediao entre diferentes interesses comunidades locais, instituies pblicas, empresas estatais e privadas. Nesse sentido, h uma necessidade urgente por assumirmos esta atuao, considerando que o passado dos povos indgenas e demais populaes marginalizadas negado at hoje e que este passado se constri no

    hoje.

    Isso se d no contexto de flagrantes empenhos no desmantelamento de direitos conquistados (e.g. PECs 215 e 237) e da postura poltica autoritria e desenvolvimentista governamental atual e soma-se a recente descoberta do chamado Relatrio Figueiredo que traz tona atos de tortura, campanhas de extermnio e esbulho de populaes indgenas em todo o pas

    que poder quintuplicar o nmero de mortes atribudas ditadura.1 Entendemos que este um momento em que, mais do que nunca, uma postura coerente e responsvel cobrada da comunidade de arquelogos profissionais e da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB).

    Entretanto, salvo raras excees, observamos a alarmante quietude e silncio da comunidade arqueolgica frente falta de uma conduta tica em trabalhos desempenhados por arquelogos e empresas de arqueologia no Brasil. A expanso desenfreada do grande capital pelo

    pas segue deixando comunidades locais, j marginalizadas, em situaes ainda mais precrias. Ao participarem de trabalhos de processos de licenciamento ambiental em contextos nos quais os

    1 http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2012/11/12/comissao-da-verdade-apura-mortes-de-indios-que- podem-quintuplicar-vitimas-da-ditadura.htm?cmpid=cfb-politica-news&fb_action_types=og.recommends

  • direitos de comunidades atingidas no so respeitados com destaque ao direito consulta livre, previa e informada prevista na Conveno 169, da Organizao Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil signatrio , entendemos que arquelogos esto se colocando como cmplices,

    sendo coniventes e participantes de processos ilegais e ilegtimos de expropriao e de espoliao de territrios tradicionais, bens culturais e recursos naturais.

    importante frisar que no se trata de fazermos crticas generalistas e idealistas arqueologia de contrato como um todo, mas sim de problematizarmos aspectos dessas prticas quando se do em contextos de relao direta com populaes indgenas e tradicionais e/ou em contextos de obras de alto impacto socioambiental. Essas situaes so problemticas e sua resoluo no se beneficia da dicotomizao reducionista que cria uma oposio entre pesquisadores ingnuos e idealistas e pesquisadores ambiciosos que venderam as almas ao capital. Embora existam atores que se enquadrem neles, ambos os cenrios so fices quando generalizados. preciso acima de tudo qualificar a crtica.

    Mas tambm importante destacar nosso apoio a ideia de que a economia sem a cultura no pode mais do que propagar a desvalorizao de uma sociedade, colocando-a a merc de

    interesses estritamente econmicos.2 Alm disto, conforme define Spensy Pimentel, num pas como o Brasil, o bom trato com a questo indgena ajuda a definir o grau de nobreza de um governo. Porque os indgenas, aqui, no so expressivos, em termos eleitorais, mas eles so um componente da mais alta relevncia no que se refere a nossa histria e nossa identidade como

    brasileiros.3 Acreditamos que a arqueologia deve contribuir para a promoo e valorizao da

    diversidade cultural do pas, sem dvida uma de suas maiores riquezas. Mais do que isso, o componente indgena na histria dessa parte do mundo hoje chamada Brasil, apenas pontualmente percebida pela antropologia social e etnohistria, pois a maior parte dessa histria indgena de longa durao e isso pode significar entre 15.000 e 50.000 anos antes do presente acessvel somente arqueologia, aos pajs e narradores indgenas.

    2 http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,despreparo-e-dolorosamente-evidente-dizem-intelectuais-sobre- gestao-do-minc,850226,0.htm#bb-md-noticia-tabs-1 3 http://www.ecodebate.com.br/2013/05/21/gigantesco-retrocesso-governo-cede-a-ruralistas-e-poe-fim-a-demarcacao- de-terras-indigenas/

  • Arqueologia para quem?

    Tanto quanto a Antropologia e a Histria, a prtica arqueolgica imbrica teoria, mtodo e

    posio poltica. Nesse sentido impossvel desvincular a pesquisa da relao com as pessoas vivas. Por isso, a opo por fazer salvamentos arqueolgicos em empreendimentos to controversos do ponto de vista social e ambiental como as mega usinas hidreltricas na Amaznia

    Santo Antnio e Jirau, Belo Monte, Teles Pires e Tapajs; a transposio do rio So Francisco, os grandes projetos de minerao, entre outros, acaba por, de certa forma, referendar lgicas histricas antagnicas s dos grupos culturais pretritos e atuais que buscamos entender. Fica claro que, apesar de ser amplamente criticado, um posicionamento poltico-epistemolgico colonialista ainda corrente na prxis brasileira recente (Latour 1994, Mignolo 2003, Gnecco 2009).

    No exerccio dessa arqueologia observa-se uma omisso da reflexo, discusso, posicionamento e manifestao crtica perante os direitos adquiridos por povos tradicionais e ao patrimnio cultural material e imaterial a eles relacionados. Parece-nos que o sacro argumento da Arqueologia para justificar sua funo social que aprendemos nas cartilhas e manuais, o de entender o passado para ter uma melhor compreenso das causas do presente e um quasi- consequente melhor planejamento do futuro, se torna uma falcia, pois a proposio fundante, o entendimento do passado perde seu sentido. Quais, ento, seriam os objetivos e justificativas dessa Arqueologia?

    Dentre outros exemplos, Politis e Curtoni (2011) notam como a criao de museus nacionais na Argentina na dcada de 1880, compunha uma estratgia para neutralizar a presena poltica indgena no presente, ao atribu-la ao passado, quebrando uma continuidade cultural e

    congelando no passado algo repleto de vitalidade no presente (2011:498). Nos parece que a arqueologia de contrato, infelizmente, desempenha este papel hoje no Brasil. A divulgao da pesquisa arqueolgica e constituio de novos museus no so problemas em si, mas o projeto ideolgico que est por detrs deles profundamente problemtico. No se troca vidas por exposio de vidas. A cega leitura das normas que so impostas pelos rgos legisladores transformou nossa prtica em um trabalho tcnico; assistimos a alienao no desenvolvimento de atividades impostas por empresas que foram a diluio da autoria dos trabalhos finais. com pesar que percebemos a Arqueologia brasileira sendo dominada por buraclogos acrticos e autmatos. Arqueo-Drones, para nos alinharmos moda mais atual nas tecnologias da morte.

    A Arqueologia no pode nem deve ser apenas um conjunto de resultados desconexos entre si, produzidos pelas urgncias de um trator atrs do pesquisador (o lupemproletariado de

  • campo) ou do empreendedor cobrando relatrios que acreditam ser feitos magicamente, sem necessrios processos de reflexo, pesquisa e incluso dos envolvidos, sejam ndios, quilombolas, ribeirinhos, ciganos, mendigos, o Estado e suas instituies, inmeros setores da sociedade civil,

    empresrios e empreiteiros. Conhecimento cientifico no pode ser produzido a toque de caixa. A Cincia requer tempo para pensar, para refletir, entre outras coisas, nos processos de converso de

    uma informao em dado cientfico, que no automtica, nem estatstica, nem inmeros dgitos numa planilha Excel: um processo reflexivo relacional e contextual, necessariamente demorado

    (manifesto Slow-Science4).

    Percebe-se uma tendncia cada vez mais generalizada de instrumentalizao e mercantilizao do fazer cientfico. No Brasil observamos aspectos diversos dessa tendncia presentes, por exemplo, na obsesso pelo I no MCTI (Ministrio da Cincia Tecnologia e Inovao) e na mencionada rapidez agressiva com que a cincia de contrato feita. Um dos mecanismos que entendemos favorecer esse processo de instrumentalizao a condio, ou

    prerrogativa contratual nos licenciamentos ambientais que os empreendedores tm acerca da edio e consolidao dos relatrios. Ou seja, o pesquisador que levanta a informao e a partir dela tenta gerar o dado reflexivo e o coloca no relatrio no detm o direito autoral sobre o dado, ele cedido ao contratante, ou empreendedor. O mecanismo de edio, ou como dito, de consolidao final dos relatrios, um procedimento problemtico porque incide diretamente na capacidade real de tais documentos, quando apontam para aspectos que inviabilizariam as obras, serem validados e considerados enfaticamente enquanto tais, e no serem relativizados em Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), clusulas condicionais, medidas mitigatrias.

    A conseqncia direta que mesmo quando arquelogos apresentam dados de pesquisa que demonstrem tal inviabilidade, seja por critrios relacionados ao patrimnio arqueolgico em si ou pela relao deste com grupos sociais atuais, seus relatrios por terem seus direitos autorais cedidos passam pelos filtros das empresas e consrcios contratantes e se tornam neutros, leia-se, pr-empreendimento. Assim sendo, a tica individual no traz as garantias esperadas que tais observaes cruciais, embasadas cientificamente, sejam consideradas em seu potencial crtico- reflexivo e embargante, apoiado no princpio da precauo,5 pois os relatrios so

    reconsiderados, editados, segundo uma agenda poltica.

    4 slow-science.org/slow-science-manifesto.pdf

    5 http://jus.com.br/revista/texto/5879/o-principio-da-precaucao-no-direito-ambiental

  • Esta constatao tem um segundo efeito colateral: derruba tambm outro argumento comumente difundido, de que se arquelogos que se colocam enquanto ticos no assumirem o contrato, outros que no se sabe acerca de seus posicionamentos ticos assumiro, tornando piores os resultados e consequncias. Portanto, como dito, no se trata mais de tica individual, mas da

    ausncia de tica em termos de um paradigma (Kuhn, 1970) que oriente uma comunidade de praticantes de uma cincia. Nos perguntamos se o cdigo de tica da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) suficiente para preencher essa lacuna, ou se precisamos ampliar e atualizar a reflexo tica sobre a Arqueologia de Contrato em contextos especficos, dentro e fora dos

    tempos do PAC.

    Diante da ausncia de um paradigma tico basilar emerge um exemplo paradigmtico

    dessas novas prticas arqueolgicas, no mnimo digno de reflexo. Em abril de 2013, veio a conhecimento pblico que a empresa de Arqueologia Documento, a servio do consrcio de empresas responsvel pela obra da Hidreltrica Teles-Pires, escavou um nmero desconhecido de urnas funerrias reclamadas por indgenas Munduruku relacionadas a um lugar considerado sagrado por esta etnia, assim como para os indgenas Kayabi e Apiaka, na Cachoeira Sete

    Quedas/rio Teles Pires.6

    Invocar o caso Munduruku pertinente pela sua atualidade e implicaes. No contexto de uma srie de ataques contra sua integridade fsica das quais a mais trgica foi a morte a tiros de

    Adenilson Kirixi Munduruku (em 07/11/2012) por um delegado da Polcia Federal e a recente escolta armada para pesquisadores envolvidos nos estudos para licenciamento no rio Tapajs, podemos considerar a interveno da Documento que no contou com o consentimento dos Munduruku, como uma investida contra o prprio passado do grupo, contra sua identidade materializada nas urnas, apropriadas, fato que pode comprometer toda a comunidade de arquelogos em sua relao com os povos indgenas no Pas.

    Existem outros casos como esse, notoriamente um transcorrido em 2006, que envolveu a mesma empresa a servio do consrcio da PCH Paranantinga II, quando foi denunciada pelo antroplogo Carlos Fausto por, dentre outros problemas, ter desconsiderado o que diziam lideranas indgenas da regio do rio Culuene de que a obra ameaava seu patrimnio cultural,

    pois estava destruindo um local sagrado onde, de acordo com a mitologia alto-xinguana, teria

    ocorrido o primeiro Quarup, ritual de homenagem as lideranas falecidas (Fausto, 2006).

    6 http://racismoambiental.net.br/2013/05/munduruku-denunciam-roubo-de-urnas-funerarias-e-violacao-de-lugar- sagrado-no-teles-pires-e-pedem-ao-mpf-paralisacao-dos-trabalhos-e-investigacao-imediata/

  • Tais procedimentos remetem a um tipo de prtica arqueolgica que h muito tempo utilizada no continente americano para justificar o progresso. Assim, apresenta-se como um exemplo perfeito da chamada Arqueologia colonialista definida por Trigger (1986) para a prxis desenvolvida nos EUA no sculo XIX, quando o estudo organizado de artefatos indgenas emulava o interesse pela pr-histria na Europa e que se encaixava em uma convico

    romntica de que americanos brancos tinham o dever de preservar um registro da raa que eles estavam a suplantar no continente norte americano (1986:192).

    Enquanto objetos etnogrficos eram exibidos como trofus apropriados de povos conquistados, a exibio de artefatos pr-histricos simbolizava o controle branco do solo e territrios onde estes objetos foram retirados (1986:193). Aes como essas exemplificam outros casos em que no se observa o cdigo de tica da SAB no que toca ao Reconhecer como legtimos os direitos dos grupos tnicos investigados herana cultural de seus antepassados, bem como aos seus restos funerrios, e atend-los em suas reivindicaes, uma vez comprovada sua ancestralidade (2.2.1),7 ou mesmo a ignorada Moo sobre a relao entre arquelogos,

    patrimnio e comunidades indgenas, construda no I Seminrio Internacional de Gesto do

    Patrimnio Arqueolgico Pan-Amaznico em 2007.8

    Semelhante lgica dos bons arquelogos ticos disputando os contratos contra os antiticos, entendemos como conformista e falaciosa a impotncia implcita na lgica de que a obra no vai parar pela argumentao arqueolgica. Argumento este que no pode servir para legitimar a destruio de stios arqueolgicos e de lugares sagrados amerndios, nem para afirmar diante desta suposta impotncia que nos colocamos como salvadores de um patrimnio condenado a perecer inexoravelmente e que, sem a Arqueologia, absolutamente nada restaria. O sentido da histria, do passado, de forma nenhuma se encontra num objeto ou no acmulo de objetos numa reserva tcnica, mas num contexto situado; contradizer esse princpio negar fundamentalmente a Arqueologia e, por contexto entendemos um complexo de relaes numa paisagem social, num

    sistema vivo. Portanto, destruir o stio, o lugar, a paisagem, o ambiente, para resgatar peas no legitima os benemritos do contrato, porque ele parte de uma premissa falsa, a de que a pea resgatada compensa, ainda que minimamente, a destruio cientificamente questionvel de um

    contexto.

    7 Cdigo de tica: http://www.sabnet.com.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=623 8 http://revistadearqueologiapublica2008.wikispaces.com/Erika+M.+Robrahn- Gonz%C3%A1lez+e+Maria+Clara+Migliacio

  • Alguns dos empreendimentos que a Arqueologia baliza em seus laudos, so muito mais do que causadores de danos ao patrimnio arqueolgico e histrico, eles so a perpetuao de um processo histrico e colonialista de sublimar o direito de todos terra e ao seu modo de

    vida escolhido. Assim, quando ao salvamento arqueolgico se agrega uma escolta armada da Fora Nacional de Segurana, como se testemunha no Tapajs, perde-se o sentido da histria e da vida, d-nos vergonha de nossa profisso. Empunhar uma pacetta entre fuzis apontados a indgenas neo-colonialismo brutal e brutalizador. a perpetuao reeditada das prticas expostas no Relatrio Figueiredo e, o que mais aterrorizante, sob a chancela de Cincia Humana na maior democracia da Amrica do Sul.

    Eco-genocdio simplesmente no progresso extino, anttese da valorizao e promoo do patrimnio arqueolgico, socioambiental, humano e biosfrico. Esses mega- empreendimentos simbolizam a falta de um projeto nacional, perpetuando o papel do Brasil como fornecedor de commodities, matrias primas ou bens indstrias primrios. A energia produzida

    nas usinas beneficia lobbies polticos e uma pequena parte da populao9; uma de suas principais

    funes fornecer s indstrias eletrointensivas, alimentando o projeto desenvolvimentista atual. Os beneficiados de fato, so outros grandes empreendimentos e empreendedores, como as prprias empreiteiras construtoras de megaobras e financiadoras de campanhas e agendas polticas; a minerao em escala industrial; o agronegcio e, de maneira geral, as indstrias

    multinacionais instaladas no Brasil com incentivo fiscal.

    O n grdio desse processo, a argumentao de que o atual modelo de desenvolvimento energtico do Brasil necessita inexoravelmente das mega usinas hidreltricas, projetos estes todos licenciados pela Arqueologia e outras cincias. O argumento de que as mega usinas hidreltricas representam as nicas alternativas energticas em larga escala para o Brasil vem

    sendo contestado

    e questionado de forma contundente.10 Entretanto, muitos ainda se convencem pelo discurso da

    inexorabilidade do processo. So argumentos falaciosos. A natureza apresenta processos inexorveis erupes vulcnicas, impactos de meteoro, eventos de mega-nio, por exemplo; assim como hidreltricas e grandes mineraes, so capazes de afetar processos ecossistmicos de

    forma irremedivel. A diferena entre ambos o fator da escolha: os fenmenos naturais esto alm de nosso controle, diferente de nosso modelo de desenvolvimento. No se trata de

    necessidade como condio sine qua non, pois h uma escolha poltica explcita nisso. O alto

    9 http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/10/belo-monte-nosso-dinheiro-e-o-bigode-do-sarney.html 10 E.g. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,energia--mitos-que-custam-caro,642102,0.htm

  • custo de matrias-primas e energia baratas est sendo exteriorizado e pago pelas comunidades

    locais e meio ambiente.

    Temos a obrigao de defender a vida e o direito terra de inmeras populaes, reconhecidas ou no pelos critrios postos pelo prprio governo como tradicionais e alertamos o direito (e dever) de sermos ticos. ndios, quilombolas, ribeirinhos, caiaras, ciganos, povo de santo, sertanejos, enfim, as populaes tradicionais socioambientalmente diversas: cabe a ns arquelogos, como cientistas sociais e humanos, no esquecermos que sobre o passado dessas populaes que empreendemos esforos de pesquisa.

    Entendemos, por prtica arqueolgica, no somente o bem fazer dessa disciplina que envolve reflexes tericas e proposies metodolgicas adequadas, mas aquilo que a torna uma disciplina tica: sua posio poltica clara e aberta em relao a todos os atores sociais que possam estar envolvidos e que reconstroem a si mesmos com base no historicizar e ressignificar suas representaes do prprio passado. A Arqueologia no se resume a simples contagem de cacos e elaborao de laudos tcnicos. Somos contra uma Arqueologia que intenta unicamente liberao de reas, uma Arqueologia que desconsidera as populaes do presente.

    Somos a favor do nosso direito enquanto arquelogos de sermos ticos, e no simplesmente cumpridores de protocolos legais, porm ilegtimos, que muitas vezes nos so impostos como a nica forma de ganharmos nosso beij e caxir de cada dia. A atuao acrtica da Arqueologia de contrato nas obras do PAC, como exemplo repetido ad nauseum do conundrum em que nos situamos, no uma inexorabilidade de nossa disciplina, uma escolha poltica.

    Outras arqueologias eram possveis antes e continuam sendo, mas devem ser retomadas e postas em prtica com urgncia. Nosso primeiro compromisso com as gentes, no o capital.

    Autores:

    Bruna Cigaran da Rocha - doutoranda, University College London

    Camila Jcome Arqueloga, Doutoranda MAE-USP Guilherme Z. Mongel - ArqueoTrop - MAE/USP

    Francisco Forte Stuchi - Bilogo/Etnoarquelogo (Mov. Teles Pires Vivo) Raoni Valle - Arquelogo PAA UFOPA

  • Lista de Signatrios

    1. Ricardo Chirinos Portocarrero. Instituto Unay Rvna. Per.

    2. Fabiola Andrea Silva PPArq MAE (USP)

    3. Carlos Fausto Antroplogo MN-UFRJ

    4. Joo Victor Souza Faria - aluno de graduao em Antropologia (UFMG)

    5. Luciana Barroso Costa Frana - Antroploga - PAA/UFOPA

    6. Sarah Kelly Silva Schimidt Graduanda em Antropologia (UFMG)

    7. Carlos Eduardo Marques- Doutorando em Antropologia (UNICAMP)

    8. Vinicius Melquades - Arquelogo

    9. Henrique de Alcantara e Silva - aluno de graduao de Antropologia (UFMG) e estagirio do

    MHNJB-UFMG

    10. Vanessa Linke USP

    11. Luisa de Assis Roedel - UFMG

    12. Erendira Oliveira mestranda MAE/USP

    13. Dbora Leonel Soares mestranda MAE/USP

    14. Eduardo Bespalez arquelogo- MAE/USP

    15. Jullie Anne Kutz Truss mestranda PPGAN UFMG

    16. Fabiana Belm arqueloga MAE/USP

    17. Mauricio Andr Silva educadoR MAE/USP

    18. Bruno Sanches Ranzani da Silva - Doutorando em Histria Cultural/Unicamp

    19. Claudia Plens arqueloga- UNIFESP

    20. Claide de Paula Moraes arquelogo- UFOPA

    21. Sandra Martins Farias - Antroploga, doutoranda em Integrao na Amrica Latina-USP

    22. Fernando Ozorio de Almeida, Doutor em Arqueologia (MAE-USP)

    23. Gustavo Jardel Coelho estudante UFMG

    24. Marcia Lika Hattori arqueloga MAE/USP

    25. Jos Alberione dos Reis arquelogo- FURG

    26. Adriana Dias arqueloga UFRGS

    27. Loredana Ribeiro arqueloga UFPel

    28. Andres Zarankin arquelogo- UGMG

    29. Guilherme Macedo graduando em arqueologia - FURG

    30. Elisngela de Morais arqueloga UFMG

    31. Natalia Fraga graduando em arqueologia - FURG

    32. Luiz de Lima graduando em arqueologia FURG

    33. Creise Correa Vieiro graduanda em arqueologia FURG

    34. Ingrend Comaquini - graduanda em arqueologia FURG

    35. Andr Dal Bosco de Oliveira graduando em arqueologia FURG

    36. Beatriz Ferreira de Oliveira - graduanda em arqueologia - FURG

    37. Cleiton S. da Silveira graduando em arqueologia FURG

    38. Eberson Martins do Couto graduando em arqueologia FURG

  • 39. Karla Fredd graduanda em arqueologia FURG

    40. Dimitri Zin Vaucher graduando em arqueologia PUC/GO

    41. Matheus Fuscaldo Ball graduando em arqueologia FURG

    42. Marina da Fonseca Lopes graduanda em arqueologia - FURG

    43. Alexandre de Lima - graduando em arqueologia FURG

    44. Thalis Daiani Paz Garcia graduanda em arqueologia - FURG

    45. Adauto Okuyama graduando em arqueologia UNIFASF

    46. Eduarda Rafaella Rippel graduanda em arqueologia FURG

    47. Daniella Magri Amaral Etnoarqueloga

    48. Laura Pereira Furquim IDSM/ArqueoTrop

    49. Cristiana Barreto ArqueoTrop

    50. Jorge Eremites de Oliveira Arqueolgo/UFPel

    51. Lucio Menezes Ferreira Arquelogo/ UFPel

    Para contribuir e assinar o Manifesto, envie um e-mail para:

    [email protected]

  • Referncias citadas

    FAUSTO, C. Cincia de Contrato e o Contrato da Cincia: Observaes sobre o laudo da empresa Documento sobre a PCH Paranatinga II (rio Culuene, MT). Publicado em: http://site-antigo.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2317

    GNECCO, C. Caminhos de la Arqueologa: de la violencia epistmica a la relacionalidad. Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi, Cincias Humanas, vol. 4, n. 1, 2009, p. 27-37.

    KUHN, T. S. 1970. The Structure of Scientific Revolutions. (2a edio). Chicago: University of Chicago Press.

    LATOUR, B. Jamais fomos modernos ensaio de antropologia simtrica. So Paulo: Editora 34, 1994.

    MIGNOLO, W. Histrias locales, diseos globales - colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Madrid: Ed. Akal, 2003.

    POLITIS, G.G. e CURTONI, R.P. Archaeology and Politics in Argentina During the Last 50 Years. In: L.R. Lozny (ed.), Comparative Archaeologies: A Sociological View of the Science of the Past. New York; Dordrecht; Heidelberg; London: Springer. p. 495-525

    TRIGGER, B.G. 1986. Prehistoric archaeology and American society: an historical perspective. In: D. Meltzer, D.D. Fowler, J.A. Sabloff (eds.) American Archaeology: Past and Future, 187 215. Washington, DC: Smithsonian Institution.

    Endereos eletrnicos de fontes disponveis na World Wide Web

    Gigantesco retrocesso. Governo cede a ruralistas e pe fim demarcao de terras indgenas: http://www.ecodebate.com.br/2013/05/21/gigantesco-retrocesso-governo-cede-a- ruralistas-e-poe-fim-a-demarcacao-de-terras-indigenas/

    'Despreparo dolorosamente evidente', dizem intelectuais sobre gesto do MinC: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,despreparo-e-dolorosamente-evidente-dizem- intelectuais-sobre-gestao-do-minc,850226,0.htm#bb-md-noticia-tabs-1

    Comisso da Verdade apura mortes de ndios que podem quintuplicar vtimas da ditadura: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2012/11/12/comissao-da-verdade- apura-mortes-de-indios-que-podem-quintuplicar-vitimas-da-ditadura.htm?cmpid=cfb-politica- news&fb_action_types=og.recommends

    Munduruku denunciam roubo de urnas funerrias e violao de lugar sagrado no Teles Pires e pedem ao MPF paralisao dos trabalhos e investigao imediata: http://racismoambiental.net.br/2013/05/munduruku-denunciam-roubo-de-urnas-funerarias-e-

  • violacao-de-lugar-sagrado-no-teles-pires-e-pedem-ao-mpf-paralisacao-dos-trabalhos-e- investigacao-imediata/

    Cdigo de tica: http://www.sabnet.com.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=623

    Gigantesco retrocesso. Governo cede a ruralistas e pe fim demarcao de terras indgenas:http://www.ecodebate.com.br/2013/05/21/gigantesco-retrocesso-governo-cede-a- ruralistas-e-poe-fim-a-demarcacao-de-terras-indigenas/

    'Despreparo dolorosamente evidente', dizem intelectuais sobre gesto do MinC: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,despreparo-e-dolorosamente-evidente-dizem- intelectuais-sobre-gestao-do-minc,850226,0.htm#bb-md-noticia-tabs-1

    Energia - mitos que custam caro http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,energia-- mitos-que-custam-caro,642102,0.htm

    slow-science.org/slow-science-manifesto.pdf

    http://jus.com.br/revista/texto/5879/o-principio-da-precaucao-no-direito-ambiental