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SUMÁRIO INTERNACIONAL 2 Cooperação entre a Rússia e o Brasil ENTREVISTA DO DIA 4 Carlos António da Rocha Paranhos COMPANHIAS E TECNOLOGIAS 10 Basalto Russo MERCADOS MILITARES 14 A evolução do mercado de armas do Brasil 18 Venezuela – maior consumidor do armamento russo TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS 24 Sistema de mísseis e artilharia antiaéreo “Pantsir–S1” 28 Sistema de mísseis antiaéros “Buk” 34 Izhmash hoje e amanhã COMBATE PELO CÉU BRASILEIRO 38 Futuro da FAB: «Rafale» ou «Gripen»? COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 46 GLONASS reinforça posições no Hemisfério Ocidental CASA EDITORA DIRETOR GERAL Valeri Stolnikov VICE-DIRETOR GERAL Ilia Kolikov Serguei Matveev REDATOR CHEFE Mikhail Khondoshko VICE-REDATOR CHEFE REDATOR CHEFE “ARMS” Alexandre Buharov REDATORES Maxim Khrustaliov Kirill Iablotchkine Dmitri Sergueev DESEHNO Maria Marakulina Olga Khrissanova Timofei Babkine WEB-GERENTE Maxim Iurkov PRINT GERENTE Anton Patsovsky GERENTE DE MARKETING Olessia Lazareva Fotos: Circulação: 5000 A Revista está registada no Comité para Imprensa da Federação da Rússia. Certifi cado № 016692 de 20.10.1997. Certifi cado № 77-15450 de 19.05.2003. Nenhum material desta edição pode ser reproduzido em qalquer forma sem autorização escrita da Casa Editora. Os autores são responsáveis pelo conteúdo dos seus artigos. A opinião do pessoal da Casa Editora pode não coincidir com a dos autores. Os autores da publicidade são responsáveis pelo seu conteúdo. ARMS, 2013 ENDEREÇO P.O. Box 77, Moscow, 125057, Russia Tel.: + 7 495 459-90-72 Fax.: + 7 495 459-90-42 E-mail: [email protected] Estrada Leningradskoie, 58/10 Moscovo, 125057, Russia EDITORIAL Passaram voando dois anos e estamos da volta na esposição LAAD 2013 no Brasil. Este país atrai qualquer russo. Desde a infância lem- bramos palavras dum nosso protagonista literário, que sustentou que o Rio foi um “sonho cor-de-rosa da minha infância”. Sim, ouvimos sobre o Brasil desde primeiros anos da vida e na verdade sonhamos de ir parar, mergulhar no oceano infinito e seleste, na praia Copacabana de quatro kilomet- ros seguidos de extensão, observar o pôr do Sol ou romper de dia, sentando na areia dourada, admirar a flora exuberante, sufocante e sempre florestente. Nós, na Rússia, claro, temos mais neve, menos verdura e mar quente. Porém, sem detalhas, eu concordo com a definição do Brasil como a Rússia tropical. A essência desta expressão não está nas particularidades da natureza deste país, mas nas caraterísti- cas naturais dos brasileiros, em que nós, os russos, são muito semelhantes. Ou eles parecem connosco. Gostamos de passar também uma ou outra hora com os amigos, falando e bebendo cerveja, sem dúvida, depois dum dia do trabalho difícil, adoramos a discutir qualquer detalhe da política internacional ou da moda, e determinar exatamente o que é precisa para a vitória da seleção no campeanato de futebol. Afinal, a sabedoria popular de que a gente não pode ser um treinador da seleção brasileira de futebol, porque neste país existem 197 milhões de pessoas que, sem dúvida, sabem a melhor maneira de jogar - embora seja atribuída aos brasileiros, é também aplicável aos russos. Não posso competir com o Ernesto Hemingway e não pretendo descrever o carnaval brasileiro. Mas eu sei com certeza que mil- hares dos russos amelharam e gastam dinheiro enorme, acumulam dívidas apenas para ir neste tempo ao Brasil, tentar dançar o samba juntos com os profissionais, divertir-se com imprudência, e depois a Quresma não lhes assusta nada. A gente neste país é particularmente jovial, e interação entre as pessoas é a coisa mais importante. Não é pela primeira vez que estou no Brasil, mas como antes sinto-me aqui levemente e sem constrangimento, mesmo que haja muito trabalho na exposição. Com certeza, vamos trabalhar na exposição, ter increvelmente muitos encontros, debater e discutir alguma coisa extraordinari- amete importante, mas vamos também comunicar, rir, brincar como cada brasileiro conhece desde a infância. O Brasil, eu estou contente de ver você de novo! Alexandre Buharov, Redator Chefe 2(69).2013

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Page 1: Arms 2(69) 2013

S U M Á R I O

INTERNACIONAL

2 Cooperação entre a Rússia

e o Brasil

ENTREVISTA DO DIA

4 Carlos António

da Rocha Paranhos

COMPANHIAS E TECNOLOGIAS

10 Basalto Russo

MERCADOS MILITARES

14 A evolução do mercado de

armas do Brasil

18 Venezuela – maior

consumidor do armamento

russo

TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

24 Sistema de mísseis e

artilharia antiaéreo

“Pantsir–S1”

28 Sistema de mísseis

antiaéros “Buk”

34 Izhmash hoje e amanhã

COMBATE PELO CÉU BRASILEIRO

38 Futuro da FAB:

«Rafale» ou «Gripen»?

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

46 GLONASS reinforça

posições no Hemisfério

Ocidental

CASA EDITORA

DIRETOR GERAL Valeri Stolnikov

VICE-DIRETOR GERALIlia KolikovSerguei Matveev

REDATOR CHEFEMikhail Khondoshko

VICE-REDATOR CHEFEREDATOR CHEFE “ARMS”Alexandre Buharov

REDATORES Maxim KhrustaliovKirill IablotchkineDmitri Sergueev

DESEHNOMaria MarakulinaOlga KhrissanovaTimofei Babkine

WEB-GERENTEMaxim Iurkov PRINT GERENTEAnton Patsovsky

GERENTE DE MARKETINGOlessia Lazareva

Fotos:

Circulação: 5000A Revista está registada no Comité para Imprensada Federação da Rússia. Certifi cado № 016692de 20.10.1997. Certifi cado № 77-15450de 19.05.2003.Nenhum material desta edição pode ser reproduzidoem qalquer forma sem autorização escrita daCasa Editora. Os autores são responsáveis peloconteúdo dos seus artigos. A opinião do pessoalda Casa Editora pode não coincidir com a dos autores.Os autores da publicidade são responsáveispelo seu conteúdo.

ARMS, 2013

ENDEREÇOP.O. Box 77, Moscow, 125057, RussiaTel.: + 7 495 459-90-72Fax.: + 7 495 459-90-42E-mail: [email protected]

Estrada Leningradskoie, 58/10 Moscovo, 125057, Russia

EDITORIAL

Passaram voando dois anos e estamos da volta na esposição LAAD 2013 no Brasil.Este país atrai qualquer

russo. Desde a infância lem-bramos palavras dum nosso protagonista literário, que sustentou que o Rio foi um

“sonho cor-de-rosa da minha infância”.Sim, ouvimos sobre o Brasil

desde primeiros anos da vida e na verdade sonhamos de ir parar, mergulhar no

oceano infinito e seleste, na praia Copacabana de quatro kilomet-ros seguidos de extensão, observar o pôr do Sol ou romper de dia, sentando na areia dourada, admirar a flora exuberante, sufocante e sempre florestente.Nós, na Rússia, claro, temos mais neve, menos verdura e mar

quente. Porém, sem detalhas, eu concordo com a definição do Brasil como a Rússia tropical. A essência desta expressão não está nas particularidades da natureza deste país, mas nas caraterísti-cas naturais dos brasileiros, em que nós, os russos, são muito semelhantes. Ou eles parecem connosco. Gostamos de passar também uma ou outra hora com os amigos, falando e bebendo cerveja, sem dúvida, depois dum dia do trabalho difícil, adoramos a discutir qualquer detalhe da política internacional ou da moda, e determinar exatamente o que é precisa para a vitória da seleção no campeanato de futebol. Afinal, a sabedoria popular de que a gente não pode ser um treinador da seleção brasileira de futebol, porque neste país existem 197 milhões de pessoas que, sem dúvida, sabem a melhor maneira de jogar - embora seja atribuída aos brasileiros, é também aplicável aos russos.Não posso competir com o Ernesto Hemingway e não pretendo

descrever o carnaval brasileiro. Mas eu sei com certeza que mil-hares dos russos amelharam e gastam dinheiro enorme, acumulam dívidas apenas para ir neste tempo ao Brasil, tentar dançar o samba juntos com os profissionais, divertir-se com imprudência, e depois a Quresma não lhes assusta nada.A gente neste país é particularmente jovial, e interação entre as

pessoas é a coisa mais importante. Não é pela primeira vez que estou no Brasil, mas como antes sinto-me aqui levemente e sem constrangimento, mesmo que haja muito trabalho na exposição. Com certeza, vamos trabalhar na exposição, ter increvelmente

muitos encontros, debater e discutir alguma coisa extraordinari-amete importante, mas vamos também comunicar, rir, brincar como cada brasileiro conhece desde a infância.O Brasil, eu estou contente de ver você de novo!

Alexandre Buharov, Redator Chefe

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Izhmash

hoje e amanhã

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2 ● ARMS Defence Technologies Review

INTERNACIONAL

tema da cooperação mi-litar-técnica entre os dois países foi discutido du-rante as negociações

de Dmitry Medvedev primeiro com a Presidente do Brasil Dilma Rousseff em 20 de fevereiro de 2013, e depois, mais especificamente numa conferên-cia com os ministros do Governo. O au-mento da circulação de mercadorias russo-brasileira até 10 mil milhões de dólares e a promoção de parceria es-tratégica dos dois países estiveram no centro das negociações.

O Ministério da Defesa do Brasil confirmou o interesse para os siste-mas de defesa antiaérea russos “Igla” e “Pantsir-S1”. Por sua vez, a Universidade Nacional do Brasil e a companhia “Sistemas Espaciais Russas” demons-traram como pode-se desenvolver a cooperação sem formalismo: num dos edifícios universitários acomodou--se uma estação do sistema GLONASS (Sistema de Navegação Global por Satélite), que assegurará a precisão de posicionamento no hemisfério austral.

O Serviço Federal de Cooperação Militar-Técnica da Federação Russa e Ministério da Defesa do Brasil as-sinaram a Declaração de Intenções sobre a cooperação na área de de-fesa antiaérea.

Na primavera de 2013 ambás as instituições começam negociações sobre a conlusão dum contrato pa-ra a aquisição pelo Brasil de siste-mas antimísseis e também desen-volvimento conjunto de novos tipos das armas, tendo em conta a partici-pação de companhias brasileiras no processo produtivo.

Anteriormente, o Chefe do Estado-Maior Conjunto José Carlos de Nardi assinalou que o seu país está interes-sado na aquisição de três baterias de defesa antiaérea “Pantsir-S1” e duas baterias do sistema portátil antimíssil “Igla”. A bateria de “Pantsir-S1” inclui seis veículos com radares e rampas de lançamento (alcance 15-20 km). O contrato é estimado em 1 mil mi-lhões de dolares, sendo que, de acor-do com o Sr. de Nardi, o Brasil recebe-

rá as tecnologias de produção destes sistemas e também construirá uma usina no seu território.

Como se sabe, o Brasil e a Rússia mantiveram negociações sobre o fornecimento do sistema de defe-sa antimíssil “Tor-M2E” desde 2009, mas a transacção não foi concluida. Em 2006, os brasileiros compraram à Federação Rússa um lote de sis-temas portáteis de defesa antimís-sil “Igla-C1” no valor aproximado de 20 milhões de dolares, e o protoco-lo, que foi assinado pela parte brasi-leira, preve a possibilidade da produ-ção autorizada destes sistemas no ter-ritório do Brasil. Além disso, em 2008 o Brasil comprou 12 helicópteros Mi-35M, mas no ano passado o forneci-mento do segundo lote destes ma-quinas foi adiada.

Uma das condições de lecitações de compra que o Brasil promove ac-tualmente é a transferência das tec-nologias de montagem do arma-mento e material. Particularmente, em 2009 o Brasil comprou à França

COOPERAÇÃO ENTREA RÚSSIA E O BRASIL

O

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INTERNACIONAL

aviões de caça Rafale com a possi-bilidade de montagem no territó-rio do Brasil.

O Brasil está interessado no desen-volvimento da sua própria indústria de defesa, e portanto tem uma inten-ção para chegar a um acordo com a Rúsuia sobre o desenvolvimento con-juto de novas armas, e também sobre a participação de companhias brasi-leiras nos processos de produção com a transferência de tecnologias com-pleta. Durante a visita ao Brasil o pri-meiro ministro russo sublinhou, que a Rússia “está pronta a abrir as tecnolo-gias, mas isso deverá ser um processo mutuamente vantajoso”.

Sobre o interesse deste país lati-noamericano na produção das armas próprias deste tipo diz o seguinte: de acordo com a imprensa brasileira, quase todos os países da OTAN têm em seu arsenal sistemas de defesa antiaérea de médio alcance, mas ne-nhum Estado da América Latina tem tais sistemas. Os sistemas de mísseis atiaéreos russos dispõem de siste-ma de pontaria e acompanhiamen-to de alvos dos quais o Brasil precisa tanto. Numa entrevista à companhia de televisão Globo o comandante da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea Márcio Heise deu a conhecer que no programa da modernização da defe-sa antiaérea brasileira tinha sido pla-nejado investir 2.354 mil milhões de reais. Há também informação de que até ao fim de 2023 os investimentos de capitais do Brasil na área militar serão de 859.4 mil milhões.

A questão de compra dos sistemas de defesa antiaérea russos foi levan-tada em dezembro do ano passado durante a visita da Presidente Dilma Rousseff à Rússia. Paralelamente, a brasileira Embraer espera criar uma empresa conjunta com a participa-ção de companhias russas para a produção do sistema portátil de de-fesa antimíssil “Igla-S”. A fonte pró-xima dos organizadores da visita do Primeiro-Ministro russo em fevereiro do ano corrente também informou que a Embraer discutiria as possibi-lidades da conclusão do contrato so-bre a produção dum avião de passa-geiros de percurso médio para as ne-cessidades da Rússia.

O General Jose Carlos de Nardi expressou uma opinião que os sis-

temas de defesa aérea russos se-riam fornecidos ao Brasil até o iní-cio dos Jogos Olímpicos. “Em termos de garantia de segurança nossa afli-ção principal não é o Campeonato Mundial de Futebol, que terá lugar numa cidade, mas precisamente os Jogos Olímpicos, que serão realiza-dos nas diferentes regiões do nosso país”, declarou o General. Porém, co-mo esclareceu-se, ausência no arse-nal da defesa aérea do Brasil de sis-temas de defesa antimíssil de médio alcance constitui um problema tam-bém em termos de garantia de se-gurança do Campeanato Mundial de Futebol em 2014, sobre que a FIFA espressou sua inqueitação.

Falando sobre os termos do forne-cimento dos sistemas de defesa aé-rea russos, o Chefe do Estado-Maior Conjunto do Brasil manifestou, que seria necessárioa mais tempo para aperfeiçoamento do contrato, e tam-bém para lançar a fabricação dos en-genhos nas empresas russas.

Ao mesmo tempo, o vice-presi-dente Michel Temer declarou, que seria necessário apenas resolver o assunto “de dinheiro”. Numa entre-vista para a “Voz da Rússia” Celso Amorim por sua vez informou: “Há ainda muitos assuntos por resolver, tais como aspetos financeiros, pro-blemas orçamentais e dificuldades, associadas à transferência de tecno-logias”. Isso indica, que o Brasil não está com pressa a abrir portas para o

Kremlin, mas ao mesmo tempo que-re receber tecnologias russas.

Neste contexto é necessário men-cionar, que o Brasil na sua aspiração de desenvolver a produção nacional retomou recentemente aquisições de armamento estrangeiro, porém formulando a transferência de tec-nologias modernas como uma con-dição obrigatória.

Depois da visita à Rússia da Presidente Rousseff e Ministro de Defesa Celso Amorim, uma delegação composta de representantes do Alto Comando Militar e empresários bra-sileiros visitou empresas russas pa-ra conhecer a produção e apresentar à Chefe de Estado um relatório deta-lhado sobre as características técnicas dos sistemas russos.

Agora o Brasil conta com seis di-visões de artilharia antiaérea, base-adas em diferentes regiões do país e armadas com sistemas de mísseis “Igla-S” (o alcance até 3 km),

Periodistas brasileiros são uná-nimes, o assunto principal da coo-peração bilateral militar é o do pre-ço, que o Brasil está pronto a pagar. “Não faz nenhum sentido transfe-rir tecnologias e perder dinheiro. Mas se se trata de empresas jun-tas que beneficiam tanto a Rússia, como o Brasil, se em resultado do uso conjunto das tecnologias todos nós recebemos algum dinheiro, is-so é normal”, assinalou o Primeiro-Ministro russo.

Encontro do Primeiro-Ministro russo Dmitry Medvedev e a Presidente brasilei-ra Dilma Rousseff

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ENTREVISTA DO DIA

4 ● ARMS Defence Technologies Review

Senhor ocupa a fun-ção de Chefe da repre-sentação diplomática brasileira na Rússia

desde 2008. Portanto, qual é a sua opinião sobre a dinâmica do de-senvolvimento das relações entre a República Federativa do Brasil e a Federação Russa?

As relações bilaterais entre Brasil e Rússia vivem momento especial. Nos últimos anos, o engajamento das mais altas autoridades nos dois países, das

respectivas burocracias estatais, co-munidades empresariais e sociedades como um todo vêm possibilitando que se logre avançar com grande êxi-to no desafio de conferir concretude ao compromisso mútuo com o apro-fundamento da Parceria Estratégica.

Nesse período, as visitas e encon-tros bilaterais tornaram-se freqüen-tes, contribuindo para que se desen-volva a percepção, tanto no Brasil como na Rússia, de que a relação é mesmo estratégica, por se trata-

rem de dois dos principais atores das relações internacionais com grande coincidência de interesses no cená-rio contemporâneo.

Apenas para mencionarmos en-contros entre os mais altos mandatá-rios ocorridos nos últimos anos, po-demos recordar que, em novembro de 2008 ocorreu a primeira visita do Presidente Dmitri Medvedev ao Brasil; que em junho de 2009, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou a Ecaterimburgo para participar da 1ª

CARLOS ANTONIO DA ROCHA PARANHOS

EMBAIXADOR DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL JUNTO À FEDERAÇÃO DA RÚSSIA

Embaixador do Brasil CARLOS

ANTONIO DA ROCHA PARANHOS

concede entrevista ao Redator-Chefe da Revista “ARMS”

Alexandre BUHAROV

O

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ENTREVISTA DO DIA

2(69).2013 ● 5

Reunião de Cúpula do então BRIC; que em maio de 2010 o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ofi-cialmente Moscou; que em maio de 2011, o Vice-Presidente Michel Temer visitou Moscou; que em março de 2012, a Presidenta Dilma Rousseff en-controu-se com o Presidente Dmitri Medvedev à margem da IV Cúpula dos BRICS, em Nova Delhi; que em ju-nho de 2012, a Presidenta Rousseff e o Presidente Putin mantiveram en-contro à margem da Reunião do G20, em Los Cabos no México; enquanto o atual Primeiro-Ministro Medvedev, reuniu-se com o Sr. Vice-Presidente Michel Temer também em junho de 2012, no Rio de Janeiro, à margem da Conferência Rio+20; que em de-zembro de 2012, a Presidenta Dilma Rousseff realizou sua primeira visi-ta oficial à Rússia; e que, o Primeiro-Ministro Dmitri Medvedev esteve no Brasil entre 19 e 21 de fevereiro últi-mo, por ocasião da VI CAN (Reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação).

A agenda de cooperação desen-volvida, na esteira dos encontros de alto nível, possibilitou a assinatura de importantes acordos bilaterais. O am-plo arco de temas desenvolvidos ofe-rece a justa medida do grau de ambi-ção para a Parceria Estratégica que se está logrando desenvolver, com re-sultados palpáveis para as duas socie-dades. Foram assinados instrumen-tos, vinculando os dois países, em áre-as como, entre outros, Cooperação Científica e Tecnológica; Cooperação no Campo do Uso da Energia Nuclear para Fins Pacíficos; Proteção Mútua de Tecnologia Associada à Cooperação na Exploração e Uso do Espaço Exterior para Fins Pacíficos; Proteção Mútua da Propriedade Intelectual e Outros Resultados da Atividade Intelectual Utilizados e Obtidos no Curso da Cooperação Técnico-Militar Bilateral; Cooperação no Campo da Segurança Internacional da Informação e da Comunicação; Cooperação, Intercâmbio de Informação e Assistência Mútua no Âmbito do Sistema Geral de Preferências; Cooperação na Área de Modernização da Economia; Cooperação na Área de Empresas de Pequeno e Médio Porte; Acordo so-bre Requerimentos Fitossanitários pa-

ra Trigo, proveniente da Federação da Rússia para a República Federativa do Brasil; Acordo sobre Cooperação em Defesa; Cooperação em Defesa Antiaérea; e Cooperação em Matéria de Governança e Legados Relativos à Organização de Jogos Olímpicos e Paraolímpicos e Copas do Mundo FIFA. Com a finalidade de conferir co-ordenação a essa ampla gama de ini-ciativas, foram também assinados o Plano de Ação da Parceria Estratégica e, mais recentemente, sua segunda versão, o Plano de Ação da Parceria Estratégica: Próximos Passos.

Os encontros de alto nível e a am-pla agenda desenvolvida não ocor-reram em prejuízo, mas antes, refor-çaram a concertação da atuação dos dois países em foros internacionais. Nesse período, assistiu-se à consoli-dação do agrupamento BRICS, bem como ao incremento da cooperação no âmbito do G-20. Brasil e Rússia compartilham do interesse na cons-trução de uma ordem internacional mais justa e equilibrada, o que se fa-rá, entre outras formas, pela reforma das instâncias decisórias internacio-nais. Nesse sentido, verifica-se grande coincidência nas aspirações e propos-tas dos dois países para a governan-ça do mundo contemporâneo. Essa identificação de perspectivas se re-flete, muitas vezes, em apoios mú-

tuos. Exemplo recente é a reafirma-ção, pelo Presidente Vladimir Putin, do apoio da Rússia ao Brasil como um forte candidato a um assento perma-nente num Conselho de Segurança da ONU reformado.

Há previsão de novos encontros bilaterais no futuro próximo. Em ju-nho, por exemplo, o Chanceler Sergei

Lavrov visitará o Brasil, onde terá reu-nião de trabalho e posteriormen-te jantar oferecido pelo Chanceler Antonio Patriota. Na ocasião, os Ministros terão oportunidade de pas-sar em revista a agenda bilateral e te-mas da agenda internacional, como por exemplo questões que a Rússia terá tido a oportunidade de explorar em sua Presidência do Conselho de Segurança da ONU em março corren-te. Outro compromisso já agendado é a visita da Presidenta Dilma Rousseff a São Petersburgo em setembro para participar do VIII Encontro de Cúpula dos Países do G20.

A quota da Rússia no comércio exterior do Brasil é de 1,27% (con-forme dados de Janeiro-Dezembro 2012). No citado período, a rotati-vidade comercial russo-brasileira totalizou $ 2,790 bilhões e a Rússia ocupou, em 2012, o 19º lugar na es-trutura do comércio exterior brasi-leiro contra o 14º, em 2011. Diante dessa tendência decrescente do co-mércio bilateral, quais seriam as opções para se alterar este cenário?

Primeiramente, é preciso esclare-cer que há certa discrepância nos da-dos sobre o comércio bilateral entre o Brasil e a Rússia, em função de me-todologias diferentes adotadas pelos órgãos competentes nos dois países.

Segundo as estatísticas brasi-leiras, elaboradas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o fluxo comer-cial bilateral acumulado em 2012 foi de US$ 5,9 bilhões, com supe-rávit de US$ 350 milhões para o Brasil. Esse total é em torno de 17% menor do que os resultados de

“O MAIS IMPORTANTE É QUE O BRASIL NÃO QUER SER MERO COMPRADOR DE PRODUTOS TERMINADOS E, POR ISSO, ATRIBUI GRANDE IMPORTÂNCIA À INCORPORAÇÃO DE TECNOLO-GIAS. A RÚSSIA ENTENDE A POSIÇÃO DO BRASIL QUANTO À QUESTÃO TECNOLÓGICA”

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ENTREVISTA DO DIA

6 ● ARMS Defence Technologies Review

2011, quando se atingiu US$ 7,1 bi-lhões em trocas comerciais entre os dois países.

A queda do ano passado se deu principalmente por questões fitossa-nitárias que dificultaram a exporta-ção brasileira de carnes. Em paralelo, é preciso sublinhar que a Rússia de-senvolve importante projeto de segu-rança alimentar e autosuficiência, al-go que o Brasil respeita. Certamente, essa situação causa preocupação ao Governo do Brasil, mas temos con-fiança no potencial da parceria estra-tégica que temos, na amizade entre os dois povos e na complementarida-de entre as duas economias. Citarei exemplos concretos nesse sentido.

É sabido que o comércio Brasil-Rússia ainda é muito concentrado em produtos básicos. O Brasil ven-de sobretudo carnes e açúcar (90% do total), enquanto a Rússia nos ex-porta principalmente fertilizantes e combustíveis.

Queremos agregar valor à pau-ta bilateral e o setor de defesa é jus-tamente um dos que goza de maior potencial de desenvolvimento. Basta recordar que o Brasil adquiriu recen-temente 12 unidades do helicópte-

ro russo Mi-35. Atualmente, temos os projetos de aquisição do sistema an-tiaéreo Pantsir-S1, por exemplo.

Ressalto, no entanto, que o Brasil não tem interesse em meramen-te adquirir produtos de defesa rus-sos, e sim cooperar, elaborar proje-tos conjuntos e privilegiar trocas de tecnologias avançadas. Dessa for-ma aumentaremos não só o volume quanto o valor agregado da pauta comercial bilateral, sem prejuízo da continuidade das importantes tro-cas de produtos primários.

O Chefe do Governo russo Dmitri Medvedev esteve no Brasil, em fevereiro último, em visita ofi-cial, ocasião em que se encontrou com a Presidenta Dilma Rousseff. Quais serão as contribuições desse recente contato de alto nível para o relacionamento bilateral?

A visita deu continuidade ao cami-nho trilhado pelas relações bilaterais nos últimos anos e em especial ao pro-grama do Plano de Ação da Parceria Estratégica: Próximos Passos, assina-do durante a também ainda recente visita de Estado da Presidenta Dilma Rousseff a Moscou, em dezembro de 2012. Importantes progressos foram, contudo, alcançados desta feita, e va-le realizar um breve registro dos resul-tados mais concretos.

Consciente de que o adensamen-to das relações postula novos desa-fios, os dois Governos reconheceram que ainda há importante caminho a ser percorrido para que o comércio bilateral alcance o seu pleno poten-cial. As trocas comerciais entre o Brasil e a Rússia atingem hoje cerca de US$ 5,9 bilhões e o objetivo é alcançar, em prazo relativamente curto, US$ 10 bilhões. Como observou o próprio Primeiro-Ministro Medvedev em en-trevista a jornal brasileiro, o objetivo não é demasiadamente ambicioso, se consideramos que o intercâmbio co-mercial da Rússia com a China é ho-je de cerca de US$ 100 bilhões. Ao la-do dos projetos já em andamento, fo-ram colocadas em marcha iniciativas nos setores de energia, infraestrutura, cooperação industrial e altas tecnolo-gias. Há também uma atenção espe-cial voltada às possibilidades de coo-peração para a modernização dos par-ques industriais de ambos os países.

Os mandatários colocaram gran-de ênfase na identificação de no-vas oportunidades comerciais, a fim de diversificar as pautas de expor-tação e importação, ampliar a par-cela de bens de alto valor agrega-do, e incentivar a aproximação en-tre empresários brasileiros e russos. Nesse sentido, destaque-se o traba-lho, já em pleno andamento, desen-volvido pelos Conselhos Empresariais Rússia-Brasil e Brasil-Rússia e a re-alização do II Fórum Empresarial Brasil-Rússia, em Salvador, nos dias 18 e 19 de fevereiro do ano corren-te. Outro aspecto fundamental para a dinamização do intercâmbio eco-nômico entre os dois países é a estrei-ta cooperação técnica entre o Banco Nacional de Desenvolvimento e Comércio Exterior (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento e Atividade Econômica Exterior da Rússia (Vneshekonombank), com base em Memorando de Entendimento assi-nado em 2008. Esse acordo já permi-te a concessão de linhas de crédito em moeda local para financiamento de projetos de investimentos e incentivo às operações de exportação.

Cumpre mencionar igualmente a certificação pelo governo Russo de dois modelos de aeronaves produzi-dos pela Embraer. Esse acordo abre caminho para que a empresa brasilei-ra contribua para a atualização da fro-ta de aeronaves regionais russa, pau-ta de comércio intensiva em tecnolo-gia e de alto valor agregado.

Como um dos resultados da visita do PM Medvedev, sobressai a formali-zação da parceria em torno do proje-to Ciências sem Fronteiras. O Governo brasileiro pretende, através do pro-grama, ampliar exponencialmente o intercâmbio internacional do acadê-mico-científico no país, com o envio de 100 mil pós-graduandos ao exte-rior, no prazo de 4 anos. Nesse contex-to, deseja-se conferir à academia rus-sa especial destaque na implementa-ção do Programa, com o envio de es-tudantes brasileiros à Rússia, bem co-mo de pesquisadores russos ao Brasil. Também está previsto o estímulo ao setor privado com vistas a viabilizar estágios profissionalizantes.

Nesse mesmo sentido, foi alcan-çado importante resultado na área de cooperação espacial, a inaugura-

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ENTREVISTA DO DIA

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ção de estação de referência de cor-reção diferencial do sistema de loca-lização GLONASS no Brasil. Na oca-sião da visita do Primeiro-Ministro, foi assinado contrato entre a Fundação Universidade de Brasília e a "Corporação de Pesquisa Científica e Produção "Sistemas de Medição Precisa" (OAO NPK SPP)” para ins-talação, uso e pesquisa da Estação Óptica (EO), equipada com Estação de Medição Unidirecional (OWS) MS GLONASS – (Sazhen-TM-OWS) no Brasil. Outro tema relevante é o de-senvolvimento de projetos de coope-ração em áreas como nanotecnolo-gia e usos pacíficos da energia nucle-ar. Nesse sentido, vale mencionar a re-cente visita do Embaixador Ulianov a Brasília, para participar da II Reunião do Diálogo sobre Desarmamento e Não-Proliferação. Na seqüência o Embaixador seguiu para o Rio de Janeiro, onde visitou a ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares).

A visita do PM Medvedev serviu ainda para o desenvolvimento de iniciativas em setores fundamentais para a pauta comercial bilateral. O Comitê Agrário Brasil-Rússia avan-

çou em temas como o intercâmbio de experiências em modelos pro-dutivos integrados na indústria de carnes. O Brasil mantém a posição de principal fornecedor de carne à Rússia e concordou com a recente exigência da parte russa de produ-zir carne sem a utilização da subs-tância ractopamina. Deve ser men-cionada também o atendimento de antiga reivindicação russa de con-cessão de cota de 1 milhão de tone-ladas, que estarão isentas da tarifa de 10% cobrada aos países de fora do Mercosul sobre a importação do trigo. A cota terá validade de abril a julho do ano corrente. Em paralelo, autoridades russas na área agrícola comprometeram-se com a adoção de procedimentos fito-sanitários e administrativos que vão facilitar a importação da soja brasileira.

Também na área de energia, avan-çou-se na parceria entre empresas de ambos os países para a exploração de petróleo e gás natural na Bacia do Rio Solimões no Brasil. As empresas rus-sas estão sendo estimuladas a tomar parte em rodada de licitação de con-cessões para exploração de petróleo e gás, que irão ocorrer brevemente

em meu país e envolverão blocos de 9 Bacias Sedimentares brasileiras.

Gostaria de mencionar, por fim, a cooperação em cultura e espor-te, voltada à intensificação da par-ceria entre os dois países no con-texto da realização dos Mundiais de Futebol da FIFA no Brasil, em 2014, e na Rússia, em 2018; dos XXII Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, em 2014, e dos XXXI Jogos Olímpicos de Verão no Rio de Janeiro, em 2016; da Universíade 2013 em Kazan; e da Copa das Confederações FIFA 2013. Na vi-sita do Primeiro-Ministro Medvedev foi aprovado plano de ação Plano de Ação com vistas à implementa-ção do Memorando de Entendimento sobre Cooperação em Matéria de Governança e Legados Relativos à Organização de Jogos Olímpicos e Para-olímpicos e Copas do Mundo FIFA. Esse acordo possibilitará a inten-sificação do intercâmbio de visitas de representantes de órgãos das respec-tivas administrações públicas, o que objetiva de promover trocas de in-formações, de experiências e de boas práticas nas áreas relativas à organiza-ção, preparação e realização de gran-des eventos esportivos.

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ENTREVISTA DO DIA

8 ● ARMS Defence Technologies Review

Sobre as relações na área técni-co-militar, como o Senhor avalia os contatos entre o Brasil e a Rússia neste domínio?

As relações entre o Brasil e a Rússia na área técnico-militar adqui-riram maior importância na agen-da bilateral a partir da criação de adidâncias militares junto às res-pectivas Embaixadas, o que ocor-reu em 1995, no caso da Embaixada do Brasil em Moscou. Mas somen-te a partir de 1999, quando os dois países realizaram a primeira reunião da Subcomissão de Cooperação na Área Técnico-Militar, que se passou a verificar aumento significativo nos contatos entre representantes dos respectivos Ministérios da Defesa. Diante da importância desses con-tatos políticos para a construção da confiança, a avaliação dos interes-ses mútuos e a superação de even-tuais obstáculos , em 2002, o então Ministro da Defesa do Brasil, Geraldo Quintão, visitou Moscou, ocasião em que foi assinado com a Rússia o “Memorandum de Entendimento sobre Cooperação na Área Técnico-Militar”. Em abril de 2003, missão rus-sa participou da quarta edição da fei-ra latino-americana de exposições de tecnologias de defesa (“LAD/2003 – Latin America Defentech”, no Rio de Janeiro) e, em outubro de 2003, o en-tão Ministro da Defesa russo, Serguei Ivanov, realizou visita ao Brasil.

Desde então, Brasil e Rússia assi-naram uma série de acordos bilate-rais com o objetivo de criar o arca-bouço jurídico necessário para o de-senvolvimento de iniciativas que en-volvam aquisição de equipamentos de uso militar, transferência tecno-lógica, uso de propriedade intelec-tual, treinamento militar e conhe-cimento das respectivas doutrinas militares. Dentre esses instrumen-tos bilaterais, recordo que na visita da Senhora Presidenta da República Dilma Rousseff à Rússia, em dezem-bro de 2012, foi assinado o “Acordo sobre Cooperação em Defesa” que estabelece marco jurídico para que os Ministérios da Defesa de ambos os países realizem diversas ativida-des como visitas mútuas, exercícios militares conjuntos e intercâmbio de instrutores e alunos de institui-ções militares, inclusive nas áreas

de medicina e cultura militar. O re-ferido Acordo deverá funcionar co-mo “acordo guarda-chuva” dos de-mais Acordos já assinados na área de defesa. Ações conjuntas na área téc-nico-militar estão, igualmente, pre-vistas no Plano de Ação da Parceria Estratégica bilateral, adotado em 2010 e atualizado em 2012.

Como um dos resultados da maior aproximação entre Brasil e Rússia na área técnico-militar, destaco a com-pra pelo Brasil de 12 helicópteros MI35, cuja entrega foi escalonada em 4 Lotes. A aquisição desses equipa-mentos russos foi emblemática, pois, as negociações desse contrato e os contatos mantidos entre especialis-tas de ambas as Forças Aéreas agrega-ram elementos de confiança na rela-ção bilateral. Verificou-se também au-mento dos contatos de representan-tes do Ministério da Defesa do Brasil e empresários brasileiros com as em-presas russas relacionadas com o co-mércio de equipamentos de uso mi-litar, como a “Rosoboronexport” e a “Russian Technologies”. Em 2012, por exemplo, esteve na Rússia delega-ção do Ministério da Defesa do Brasil com o objetivo de visitar a fábrica dos helicópteros. Posteriormente, tam-bém estiveram na Rússia comitivas do Ministério da Defesa para conhecer sistemas de defesa antiaérea.

A cooperação com a Rússia em matéria de defesa oferece inegáveis oportunidades de parte a parte, tan-to pelo objetivo de diversificar e am-pliar a pauta comercial bilateral, quan-to pelo potencial de complementari-dade de interesses: de um lado, uma crescente capacidade de investimen-to brasileira, em contexto de redimen-sionamento de nosso aparato de de-fesa; de outro, o “know-how” de espe-cialistas russos, ciosos por diversifica-ção com parceiros duradouros e con-fiáveis, sobretudo se considerarmos a convergência política dos BRICS.

Quais foram as impressões dos representantes do Alto Comando Militar do Brasil, que visitaram e planejam realizar no-vas visitas à Rússia, acerca da in-dústria militar russa?

As visitas realizadas por represen-tantes do Ministério da Defesa do Brasil contribuíram para que as auto-

ridades brasileiras adquirissem maior conhecimento do mercado fornece-dor russo de equipamentos milita-res. Esse intercâmbio de especialistas é primordial para o fomento da con-fiança nos negócios. Além disso, em todas as visitas, militares brasileiros ti-veram oportunidade de conhecer as fábricas e também de avaliar in loco a eficiência dos equipamentos russos.

Em todas as ocasiões em que man-tive contato com as delegações do Ministério da Defesa, foram-me trans-mitidas avaliações positivas sobre os mais diversos tipos de equipamen-tos militares. Como exemplo, os heli-cópteros russos são considerados ro-bustos e adequados para uso em am-bientes hostis, o que é de interes-se para um país como o Brasil que, com o objetivo de explorar o petró-leo em águas profundas na costa bra-sileira, necessita de equipamentos de vôo com maior autonomia que per-mita acesso a áreas distantes e remo-tas e, muitas vezes, em circunstâncias climáticas adversas. Avalia-se que os russos têm cumprido satisfatoriamen-te as etapas contratuais, nada fican-do a dever, por exemplo, em relação a empreendimentos semelhantes efe-tuados entre o Brasil e países ociden-tais. Outro ponto a ser ressaltado é a economicidade dos helicópteros, tan-to pelos preços competitivos de mer-cado quanto para a manutenção des-ses equipamentos.

Já tive a oportunidade também de receber essas avaliações positivas de empresários brasileiros que traba-lham com helicópteros russos, como, por exemplo, a empresa Atlas Táxi Aéreo que já opera helicópteros rus-sos de múltiplas funções de médio porte – modelo Mi-171A1 – e, em de-zembro último, assinou contrato pa-ra a aquisição de novos equipamen-tos de transporte civil, modelo Ka-62.

O mais importante é que o Brasil não quer ser mero comprador de produtos terminados e, por isso, atribui grande importância à incor-poração de tecnologias. A Rússia en-tende a posição do Brasil quanto à questão tecnológica.

O Brasil tem-se dedicado a aper-feiçoar a defesa nacional com a fi-nalidade de combater possíveis de-safios militares e paramilitares. Por

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ENTREVISTA DO DIA

2(69).2013 ● 9

que o Brasil, como outros países, ao comprar armamentos estrangei-ros, atribui importância especial à questão da transferência tecnoló-gica? Tiveram ou não êxito estas iniciativas do Brasil?

O Brasil está interessado em esta-belecer cooperação de longo prazo, com base no princípio da transferên-cia de tecnologia, no estabelecimen-to de parcerias industriais e em pro-gramas de formação e aprendizado. Nesse sentido, o Governo brasilei-ro tem priorizado projetos que pre-vejam o desenvolvimento conjun-to de equipamentos de alta tecnolo-gia, não apenas a transferência tec-nológica. Como exemplo, recordo o Acordo entre o Brasil e a França pa-ra o desenvolvimento de submarino com propulsão nuclear que prevê a transferência de tecnologias de pro-jeto e construção, o que permitirá à Marinha do Brasil abreviar as etapas de desenvolvimento da parte não--nuclear do submarino.

A importância da transferência tecnológica também persiste no caso de compra de equipamentos, tendo em vista a necessidade de manuten-ção e reposição de peças. Esses ser-viços de pós-venda são essenciais pa-ra o prolongamento do tempo de uti-lização dos equipamentos e deman-dam acompanhamento de técnicos e especialistas dos fabricantes. Daí a reiterada solicitação das autoridades brasileiras em ter acesso irrestrito às informações dos equipamentos, de modo a agilizar e viabilizar a realiza-ção da manutenção dos equipamen-tos em território brasileiro e por técni-cos brasileiros habilitados.

Para o Brasil é importante o desen-volvimento conjunto de novas tecno-logias e a compra do sistema de defe-sa antiaérea é emblemática, pois, es-tá prevista a participação de empre-sas brasileiras no desenvolvimento de partes desse sistema.

Durante a visita ao Brasil do Primeiro-Ministro Dmitri Medvedev, foi abordada a ques-tão das futuras compras de mate-rial bélico russo. Foram menciona-dos, entre outros, sistemas anti-aé-reos “Pantsir-S1”, mísseis anti-aé-reos portáteis “Igla” e alguns ou-tros. Segundo informações de que

dispomos, as negociações sobre a conclusão destes contratos deve-rão ser finalizar neste semestre. Qual é a situação neste momento?

Esse tema tratado durante a visi-ta do Primeiro-Ministro Medvedev ao Brasil é, de fato, desdobramento de entendimentos que já vem sen-do mantidos entre autoridades do Ministério da Defesa do Brasil e fa-bricantes de equipamentos milita-res russos. Em outubro de 2012, co-mitiva do Exército brasileiro reali-zou visita à Rússia com o objetivo de discutir possibilidades de fabri-cação conjunta do Sistema “Igla-S” no Brasil e conhecer sistemas de defesa antiaérea como o “ANTEY 2500”, “Igla-S”, “Djiguit”, “Streletz” e “Pantcir–S 1”. É importante recor-dar que as Forças Armadas brasilei-ras utilizam, desde 1994, os mísseis portáteis russos IGLA e, portanto, é interessante para o Brasil aprofun-dar essa parceria. A Rússia não foi o único fornecedor de equipamen-to militar explorado pelo Ministério da Defesa do Brasil; no entanto, a avaliação positiva dessa visita con-tribuiu para que o tema fosse reto-mado pelo Ministro Celso Amorim em dezembro último, durante a vi-sita presidencial à Rússia. Em janei-ro último, comitiva de Generais che-fiada pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas este-ve na Rússia para avaliar e iniciar as negociações par a compra de siste-ma de defesa antiaérea.

Durante a visita ao Brasil do Primeiro-Ministro Medvedev, foi rea-lizada reunião da Subcomissão para Cooperação Técnico-Militar, em que foi confirmado o interesse brasileiro no desenvolvimento conjunto, com transferência de tecnologia efetiva e irrestrita, de baterias antiaéreas, com base nos sistemas russos Pantzir S1 e IGLA-S. Foi também criado Grupo de Trabalho do lado brasileiro que se de-dicará a coordenar as medidas neces-sárias para a implantação de Sistema de Defesa Antiaérea. O próximo pas-so será o inicio da negociação contra-tual com o lado russo.

Recordo que o reaparelhamen-to do sistema de defesa antiaéreo do Brasil é uma das prioridades da Estratégia Nacional de Defesa, que determina que o país adquira a ca-

pacidade de operar artilharia antia-érea de médio alcance. Atualmente, a artilharia antiaérea no Brasil já tem mais de 35 anos. Além da ne-cessidade de modernizar o siste-ma de defesa antiaéreo no Brasil, ressalto que é pré-requisito dos Comitês internacionais da Copa do Mundo e das Olimpíadas, compe-tições esportivas que serão sedia-das pelo Brasil em 2014 e 2016, res-pectivamente, que o país-sede pos-sua artilharia antiaérea de médio al-cance. Diante desse cenário que o Governo brasileiro iniciou, em 2011, elaboração de estudo de viabili-dade que indica os interesses na-cionais e os requisitos necessários para a consecução desse projeto. Portanto, em termos financeiros, o Governo brasileiro já havia estima-do previsão de investimentos nesse setor, mas a modalidade de finan-ciamento e as formas de pagamen-to ainda estão sendo analisadas.

Qual o mais importante resulta-do que possa ter a Feira LAAD 2013 tanto para o Brasil como para expo-sitores estrangeiros?

Sendo a maior feira de defesa e se-gurança da América Latina, a LAAD oferece oportunidade de maior repre-sentatividade do setor industrial de defesa não só do Brasil, mas também dos países da região. Como ponto de encontro de empresas nacionais e in-ternacionais que desenvolvem proje-tos e equipamentos para diversos se-tores tecnológicos voltados para as áreas de defesa e segurança, a LAAD propicia a criação de dinâmica de ne-gócios entre empresas nacionais e internacionais. No entanto, o even-to não se esgota na compra e venda de equipamentos. Será oportunida-de para que os participantes mante-nham contatos com altas autoridades do governo, conheçam empresas for-necedoras e tenham acesso ao que de mais representativo existe em termos de equipamentos e serviços dos seto-res de defesa e segurança desenvolvi-dos por diversos países.

Desejo sucesso ao evento, em particular aos expositores brasileiros que poderão demonstrar os avanços empreendidos pelo Brasil no desen-volvimento de equipamentos de alta tecnologia.

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COMPANHIAS E TECNOLOGIAS

10 ● ARMS Defence Technologies Review

BASALTO RUSSO

Vice-Chefe do Governo da FR e Membro da Comissão Militar-Industrial, Dmitri Rogozine (à esquerda), e Diretor-Geral da Embresa Estatal Unitária “Tecmash”, Serguei Russakov

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COMPANHIAS E TECNOLOGIAS

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conjunto industrial--científico “Bazalt” (em português – “Basalto”), a empresa bélica prin-

cipal da Federação Russa especia-lizada no fabrique e fornecimento de armas e munições para o Tropas Terrestres, Forças Aéreas e Marinha participa na IX Feira Internacional de Defesa e Segurança (LAAD Defence & Security 2013).

O conjunto industrial-científico “Bazalt” apresenta as amostras de munições e as de material de guerra.

O conjunto industrial-científico “Bazalt” é um centro principal que produz todos os tipos de bombas aéreas não-guiadas, obuses de vá-rias destinnações de todos os tipos e calibres, bazookas antitanque e anti-subversivas, granadas de mão ofensivas e defensivas, bem como munições não letais.

“Bazalt” é uma das empresas de defesa mais antigas na Rússia, cuja história iniciou em 1916.

Actualmente SAA CIC “Bazalt” é o principal e o único elaborador da documentação técnica, deten-tor dos originais destes documen-tos e titular da propriedade inte-lectual de munições produzidas em série no interesse do Ministério da Defesa da Rússia. Entre eles:

■■ Forças Aéreas – bombas aéreas não-guiadas de todos os tipos e calibres.

■■ Tropas Terrestres – bazookas pa-ra o combate corpo a corpo, granadas de mão, obuses de to-dos os tipos e calibres, projécteis de artilharia autopropulsionada (“Nona”, “Vena” etc.)

■■ Marinha de Guerra – lança-granadas anti-subversivos.Mais que 800 tipos de muni-

ções elaborados pelo “Bazalt” fo-ram postos em serviço nas FA´s pe-lo Ministério da Defesa da Rússia.

O conjunto industrial-científico “Bazalt” tem o direito a comercia-lizar produção militar no mercado externo, particularmente, forne-cer peças sobressalentes, grupos de máquinas, blocos, aparelhos e peças assessórias. Tambem pode vender produtos de caráter espe-cial, de instrução ou de apoio.

O director geral do CIC “Bazalt” é o Sr. Vladimir Anatolievich Porkhachiov.

O CIC “Bazalt” faz parte do Consórcio industrial-científ ico “Tecnologias de construção de máquinas“ (SAA CIC “Tecmash”). Esta grande unidade industrial foi fundada em 2011 pela Corporação Estatal “Rostekhnologii” (Rostech).

Do Consórcio fazem parte dezenas de usinas e instituições científicas.

A SAA CIC “Tecmash” é o geren-te de empresas na área de fabri-co de munições e de química es-pecial, nomeadamente, os mun-dialmente conhecidos produtores de munições para tanques T-90, veículos de combate de infanta-ria BMP-3, obuses autopropulsa-dos “Msta” e lança-foguetes múl-tiplos “Uragan” e “Smerch”, arti-lharia e aviação navais, morteiros, bazookas etc.

As organizações do Consórcio são responsáveis por todas as fa-ses de fabrique das armas – des-de o conceito até ao produto final e seu fornecimento ao cliente. O Consórcio tem tambem direito a prorrogar o prazo de exploração do produto e garantir a sua reci-clagem no caso de necessidade.

A SAA CIC “Tecmash” pra-tica as suas atividades comer-ciais no exterior com a assistên-cia do intermediário nacional – empresa “Rossoboronexport”. Entre os principais clientes figu-ram repúblicas da ex-URSS, países do Médio Oriente, Ásia Central, Suleste Asiático, África do Norte e América Latina – no total mais de 30 países..

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MERCADOS MILITARES

14 ● ARMS Defence Technologies Review

A EVOLUÇÃO DO MERCADO DE ARMAS DO BRASIL

ela primeira vez o Brasil ocupou em 2008 o se-gundo lugar no mun-do entre os maiores im-

portadores de armas referente ao volume de contratos de importa-ção de armamentos e artigos mili-tares fechados, arrecadando 12,743 bilhões de dólares de EUA ou se-ja 12,% de todos os contratos mun-diais. De um modo geral, ao longo do período de 2004 a 2008 o Brasil ocupa o 7 lugar – 14,908 bilhões de dólares. O volume de obrigações contratuais para importação dos ar-mamentos e artigos militares gran-jeadas pelo Brasil no ano de 2008 é um recorde absoluto para o pa-ís. Entretanto, é necessário ressal-

tar, que a tão alta posição ocupa-da pelo Brasil no ranking é tempo-rária, e no futuro irá se mover pa-ra uma posição habitual, no final da primeira dezena. A maioria de obri-gações contratuais do Brasil (mais de 95%) do ano de 2008 refere-se aos programas de longo prazo com a França. É um contrato de constru-ção e com transferência de tecno-logia (incluindo o apoia e assistên-cia no projeto de construção de um submarino nuclear nacional) de 4 submarinos diesel-elétrico da classe "Scorpene" no valor de 9,45 bilhões de dólares. Outro contrato, no volu-me de 2,67 bilhões de dólares, é de fabricação no Brasil, com transferên-cia de tecnologia, de 50 helicópteros

EC-725 Super Cougar. Além disso, foi concluído um contrato de forneci-mento de dois eurocopteros AS-565 Panther para a Marinha Brasileira no volume de 50 milhões de dólares.

Também, o Brasil é um grande exportador de armamento (ocu-pando em 2008 o 12° lugar pe-lo número de contratos de expor-tação de artigos militares e 21° ao longo do período de 2004 a 2008). O volume de contratos de expor-tação do Brasil no ano de 2008 foi de 902 milhões de dólares contra 90 milhões registrados no ano de 2007. O volume total de obrigações contratuais do Brasil ao longo do período de 2004 a 2008 foi de 1,27 bilhões de dólares.

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MERCADOS MILITARES

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No ano de 2008 o Brasil con-seguiu expandir o avião de treino EMB-314 "Super Tucano" logo pa-ra os mercados de vários países. Sendo que este avião tornou-se o principal item da exportação bra-sileira (carteira de encomendas) no ano de 2008.

O maior contrato de forneci-mento de aviões de treino EMB-314 "Super Tucano" foi comemorado com o Equador – 24 aviões no valor de 261 milhões de dólares. A Força Aérea do Chile recebeu 12 aviões de treino EMB-314 "Super Tucano" no valor de 120 milhões de dólares (com uma opção de fornecimen-to de mais 8 a 12 aviões). Foi assi-nado um contrato de fornecimento de 8 aviões EMB-314 "Super Tucano" no valor de 94 milhões de dóla-res com a República Dominicana. A Guatemala fez uma encomenda de 6 aviões EMB-314 "Super Tucano" no valor de 60 milhões de dólares.

Foi igualmente celebrado um contrato importante com a Índia no valor de 210 milhões para for-necimento de três aviões militares de transporte EMB-145 (como a pla-taforma para o Sistema de Alerta Aéreo Antecipado e de Controle).

Com Paquistão foi feito um acor-do no valor de 107 milhões de dóla-res para fornecimento de 100 mís-seis de antirradar MAR-1.

Formalmente na licitação de pro-mitentes aviões de caças o Brasil escolheu o Rafale, mas até a da-ta de hoje nada foi assinalado ofi-cialmente. Provavelmente, pode-mos qualificar como perdas ameri-canas os frustrados contratos com a Marinha Brasileira no ano de 2008, que foram, também, entregues pa-ra os franceses. Como é evidente, os Estados Unidos da América per-deram os concursos públicos de ad-quisição dos sistemas de aviação realizados na Índia e no Brasil pa-ra os franceses. Mas o Rafale fran-cês é muito mais caro comparan-do com qualquer avião de caça de quarta geração americano, ou pe-sados F-15 e F-18 Super Hornet, ou médio F-16. A preferência brasileira explica-se com a existência de ex-táveis ligações industriais e corrup-tas com a Dassault, além da dispo-nibilidade de franceses de transpas-

sar a tecnologia para fabricação de Rafale nas instalações de Embraer. Quando existem as razões de ordem bélica, política, industrial ou tecno-lógica o fator de custo passa a ser se-cundário. Mesmo por isso, a escolha

do Brasil e da Índia, que pretendem criar uma indústria nacional aero-náutica, foi de aviões franceses, ape-sar de ser mais dispendiosos.

Consecutivamente, o papel principal começa a desempenhar

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MERCADOS MILITARES

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a disponibilidade do exportador de passar a tecnologia e vender li-cenças. Atualmente, os mais notá-veis importadores deste tipo são a República Popular da China, o Brasil e a Índia. Ultimamente, a Coreia do Sul e a Turquia, também, passam a adotar este modelo com rapidez.

Em resultado disto, no respei-tante ao volume de acordos de importação do armamento assina-dos nos últimos quatro anos (2008-2012) a segunda dezena de países passou a ser composta por seguin-tes países: a Argélia (6,694 bilhões de dólares), a China (6,6 bilhões de dólares), o Israel (5,63 bilhões de dólares), a Malásia (4.783 milhões de dólares), a Indonésia (4.483 mi-lhões de dólares), a Turquia (4279 milhões de dólares), o Brasil (3.464 milhões de dólares), a Vietnã (3.419 milhões de dólares), o Kuwait (2872 milhões de dólares) e a Venezuela (2,841 bilhões de dólares).

O orçamento da defesa do Brasil em 2012, segundo os dados do res-petivo Ministério, foi de 63,7 bilhões de reais. Enquanto oito bilhões de reais deste montante foram desti-nados à adquisição do novo arma-mento e equipamento, que corres-ponde a um aumento de 18%, com-parando com o ano de 2011.

A tendência geral é seguinte: du-rante últimos 5 anos as despesas com a defesa dos países da América Latina e do Caribe aumentaram 2 vezes. A Rússia conseguiu reforçar sua posição neste mercado de arma-mentos, afastando os fornecedores tradicionais, tais como, os Estados Unidos da América, a França, a Itália e o Israel. Entre os primeiros cinco países da região, maiores compra-dores do armamento russo, figu-ram: a Venezuela, o Brasil, o México, o Peru e a Colômbia.

No entanto, a análise da colabo-ração russo-brasileira na área técni-co-militar confirma, que, apesar dos obstáculos, criados pelos Estados Unidos com fim de impedir a pene-tração da Rússia no mercado de ar-mamento da América Latina, e, pri-meiramente, ao maior país da região, o Brasil, a colaboração russo-brasi-leira neste dimínio tem o futuro.

Alexandre BUHAROV

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TECNOLOGIAS DE PONTA

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MERCADOS MILITARES

18 ● ARMS Defence Technologies Review

mérica Latina nunca fa-zia parte do grupo de re-giões de influência russa determinante. Este fato

teve as consequências no sentido de cooperação técnico-militar, permane-cendo a última no estado rudimentar. Permanecendo na sombra dos EUA, os países da América Latina compravam ao longo de todo o sáculo XX as armas de fabricação americana. A expanção de armas soviéticas tinha o caráter ex-cepcional e foi limitado pelo grupo de países que permaneciam nas condi-ções extremamente complicadas. Os fornecimentos de armas tinham neste caso o caráter não comercial.

A presença soviética militar na América Latina tomou o seu início nos anos 1950-1960, quando Cuba pediu o apóio militar. Os fornecimentos de ar-mas soviéticas ajudaram Cuba a recha-çar o ataque na Praia Giron. Estes for-

necimentos deram o início à constru-ção do veículo militar capaz de agir fo-ra de Cuba – basta recordar neste caso a participação ativa do Exército cuba-no nos conflitos militares nos territó-rias de países arficanos.

O segundo país colaborante ati-vo com a União Soviética foi o Peru. O regime militar deste país, encabe-çado pelo general Alvorado, que che-gou ao poder em 1968 tomou o rumo à colaboração estreita com a União Soviética. Em 1968, o Peru sofreu um terramoto destrutivo e a União Soviética reagiu de modo rápido com a ajuda humanitária sendo esta trans-portada para o Peru por aviões milita-res estratégicos AН-22 “Antei”. As ar-mas soviéticas foram aplicadas no Peru no combate contra os maoistas e con-tra os trotsquistas.

O terceiro país na região (aliado da União Soviética e consumidor de ar-

mas soviéticas) deveria ser o Chile, mas os planos não chegaram a ser en-carnados com a chegada do Augusto Pinochet ao poder.

Finalmente, além da colabora-ção com Cuba e com o Peru a União Soviética tinha que satisfazer-se com a colaboração com a Nicarágua, onde o movimento de sandinistas chegou ao poder em 1979.

A Venezuela foi o primeiro país na região com quem a Rússia con-seguiu estabelecer as relações téc-nico-militares de caráter permanen-te após a descomposição da União Soviética. Por parte da Venezuela a referida decisão foi estipulada, co-mo sempre, pelos motivos politi-cos, em particular pelo conflito de recém-falecido Hugo Chávez com os EUA. O resumo do referido con-flito foi a cessação do fornecimen-to de armas para a Venezuela. Foi

VENEZUELA –

А

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MERCADOS MILITARES

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assim que a Rússia ocupou o lugar dos EUA nesta area. Atualmente, a Venezuela celebrou uma série de acordos com a Rússia no sentido de fornecimento de armas, treinamen-to do pessoal militar e organização de manutenção técnica para os pro-dutos fornecidos.

Espera-se que o valor total de fornecimento de armas para este país atingirá em breve os 10 milhões de dólares.

É preciso notar que a política téc-nica e militar da Venezuela é bem ponderada. A nomenclatura de arti-gos fornecidos manifesta a vontade de Caracas de ter as Forças Armadas equi-libradas, capazes de agir às ameaças “paramilitares” de maneira apropriada e em caso da necessidade poder resis-tir aos Exércitos estrangeiros (dos po-tenciais inimigos). E possível dizer que a contraposição militar com os EUA não faz parte de planos do Governo da Venezuela. Provavelmente, a Venezuela está aplicando os instru-mentos políticos para evitar os confli-tos com o líder global.

“Devido às armas russas a Venezuela ganhou o poder militar que não o tinha durante os últimos 150 anos. Porém, precisamos de ar-mas não para atacar. Somos um pa-ís pacífico, não precisamos de guer-ras. Queremos que terminem todas as guerras no mundo. Os militaristas não somos nós, mas sim os que nos amea-çam” – disse o ex-líder da Venezuela, usando da palavra na cerimónia da to-mada de posse do novo Ministro da Defesa. O Ministro da Defesa, Henry Rangel Silva declarou: “Nós condegui-mos garantir a nossa serurança no ár, no mar e na terra devido ao armamen-to russo, chinês e espanhol.

As maiores dificuldades relaciona-das com a expanção de armas russas na América Latina estão relacionadas com a distância entre os países latinoa-mericanos e a Federação Russa. Os pa-

íses latinoamericanas estão passando por certo receio acerca de questões de manutenção e reparação. A Rússia está trabalhando no sentido de resolver es-te problema. Mais um problema con-siste em que estes países receiam que as iniciativas (na àrea militar) russas al-vejam terceiras partes.

A “Rossoboronexport” tem as representações permanentes no Brasil, Venezuela, Colúmbia, Cuba,

México, Peru e Uruguai, participa na maioria das exibições de armas e de material de guerra, realizadas na América Latina.

Com certeza pode ser falado de uma união estratégica da Rússia com os países da América Latina em ge-ral e com a Venezuela, em particular. Atualmente, a Rússia presta créditos para os países da América Latina com objetivo de estes adquirirem o equipa-

VENEZUELA – MAIOR CONSUMIDOR DO ARMAMENTO RUSSO

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MERCADOS MILITARES

20 ● ARMS Defence Technologies Review

mento militar russo.“Nos últimos três anos foram toma-

das decisões sobre a conceição de cré-ditos no valor de cerca de 7 bilhões de dólares” – disse o director geral da “Rossoboronexport” o Sr. Anatoly Issaikin numa entrevista ao jornal rus-so “Vedomosti” em Junho de 2012.

Na América Latina o maior bene-ficiário destes créditos é a Venezuela. O valor destes créditos foi superior a quarto bilhões de dólares nos últimos quarto anos. Em 2006 foi levantada a questão da criação dum banco russo--venezuelano a fim de continuar a co-laboração nas áreas do comércio de armas, entre outros assuntos. Em no-vembro de 2008, as partes assinaram o memorando sobre a organização do referido banco com o fundo estatuá-

rio de quarto bilhões de dólares. Em fevereiro de 2011, foi noticiado que a Venezuela transferiu a sua parte do fundo estatuário em montante de 400 milhões de dólares (dados não oficiais).

Esta nova instituição financeira foi fundada na base do banco russo “Eurofinance Mosbank”. Por parte da Venezuela os acionistas foram o Banco del Tesoro venezuelano e a Petróleos da Venezuela. A distribuição do capital por partes: 51% de ações russas, 49% de ações venezuelanas.

A Venezuela comprou tanques de combate T-72, lança-foguetes “Smerch” e mísseis da defesa costei-ra “Bal-E”.

No ano passado o Governo da Venezuela aprovou a destinação de 156 milhões de dólares ao treino do

pessoal e à aquisição simuladores de mísseis teledirigidos C-3000BM “Antei-2500” e 9K37M2/9K317 “Buk-M2” da fabricação russa. A res-petiva declaração foi feita pelo Ministro de Defesa nacional General-de-Exército Henry Rangel Silva.

Além de dois sistemas mencio-nados, a Venezuela comprou ou-tros sistemas de mísseis teledirigi-dos de fabricação russa – 300 veícu-los 3Y-23/3OM-1-4 (de 23 milímetros), mais que um mil de complexos portá-teis “Igla” e uma quantia de complexos móveis de mísseis C-125 “Pechora-2M”. As armas mencionados já se encon-tram no país, tendo sido distribuidos entre as unidades militares.

Pequenas unidades da defesa an-tiaérea foram agrupadas em bate-rias de defesa antiaérea sendo es-tas subordinadas ao Comando da Defesa Antiaérea Aeroespacial Integral (CADAI) do Comando Estratégico Operacional (CEO) das Forças Armadas do país. Recentemente, foram forma-das a 19ª e 39ª Baterias da Defesa Antiaérea, com a sede do commando em Caracas.

A Venezuela junto com a Jordânia e o Egipto faz parte do trio dos maio-res importadores de sistemas portáteis da defesa antiaérea (referente ao perí-odo de 2003-2010). Conforme aos da-dos não comprovados a Venezuela im-portou os referidos sistemas no valor de 300 milhões de dólares, durante o período de 2003 a 2010.

A Rússia não é o único país que par-ticipa no processo de fornecimentos militares da Venezuela. O mesmo faz o seu vizinho e parceiro, a Belarus. A úl-tima é o país-coordenador do projeto de criação do sistema único da defesa antiaérea da Venezuela, o que prome-te os proveitos financeiros e económi-cos para o Minsk.

A Belarus e Venezuela planejam re-alizar projetos comuns no futuro pró-ximo no valor total de 5 bilhões de dó-lares, conforme declarações feitas pe-lo primeiro Vice-Premier da Belarus o Sr. Vladimir Semashko, ao comen-tar a visita de Alexander Lukashenko à Venezuela. Também o Sr. Semashko divulgou a lista das áreas de colabora-ção, evitando falar sobre a área militar.

Entretanto, os temas militares tive-ram uma grande importância nas re-lações entre a Belarus e a Venezuela a

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MERCADOS MILITARES

2(69).2013 ● 21

partir da assinatura do memorando de entendimento. O referido documen-to foi fechado em 16 de setembro de 2006 em Havana na Cimeira do movi-mento dos não alinhados.

Conforme várias fontes, represen-tantes da Venezuela mostraram gran-de interesse por sistemas da defe-sa antiaérea de todos os níveis, a par-tir de complexos portáteis e canhões de pequeno calibre da defesa antiaé-rea até mísseis DAA da longo alcan-ce. Porém, surgiu a questão organizar um comando integro destes sistemas. Uma vez que Hugo Chávez preferiu não colaborar com países ocidentais, oprou pela Belorus.

Isto resultou num acordo de co-laboração na articulação dum siste-ma único da defesa antiaérea, que foi assinado em Caracas em 8 de de-zembro de 2007 no quadro da visita do Lukashenko à Venezuela. O acordo previa o apóio belorusso à Venezuela na criação do sistema único da defesa antiaérea e sistema nacional de guerra rádio-eletrónica na base num projeto científico (concretizado pela Comissão belorusso-venezuelana).

Em janeiro de 2008, em vésperas da visita a Moscou, Hugo Chávez de-clarou que um dos objetivos princi-pais desta foi a coordenação de por-menores do acordo de aquisição dum

sistema íntegro da defesa antiaérea. O sistema deveria integrar radares de deteção a larga distância e mísseis de alcance respectivo. A coordena-ção foi realizada com êxito. A Câmara de Representantes da Assembléia Nacional da Belarus ratificou o acordo de colaboração na criação do sistema íntegro da defesa antiaérea numa reu-nião fechada (conforme o pedido de Chávez) em 9 de abril de 2008.

No quadro deste documento foi acorado que entidades da Venezuela assinariam contratos com entidades da Belarus e alguns outros Estados da aquisição de mercadorias e serviços conforme o projeto da criação do sis-

tema de defesa antiaérea e guerra rá-dio-eletrónica, concebido por peritos belorussos. Segundo expertos inde-pendentes, a par de empresas milita-res belorussas, na concretização deste projeto participarão igaulmente com-panhias russas, chineses e iraniánas. O acordo foi assinado por cinco anos e será prorrogado automaticamente pa-ra cada seguinte período quinquenal.

Pouco depois da ratificação do do-cumento, o então Chefe Adjunto do Estado-Maior General belorusso Petr Tikhonovsky prometeu que o siste-ma da defesa antiaérea e guerra rádio--eletrónica na Venezuela, que inclui o treino das tripulações e do pessoal

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MERCADOS MILITARES

22 ● ARMS Defence Technologies Review

de comando, será criado quase do ze-ro durante seis anos. E isso permetirá a Belarus entrar no mercado de armas da América Latina.

Passados poucos meses, em 16 Março de 2010 ao disrursar perante a Assembléia Nacional da Venezuela Alexander Lukashenko abordou o te-ma de defesa antiaérea. Ele, particular-mente, prometeu ao seu colega vene-zuelano toda a colaboração na criação da “defesa sistémica do Estado”, que permitiria não recear qualquer inimi-go, mesmo o mais poderoso.

De acordo com peritos militares, defesa sistémica do Estado significa a organização na Venezuela dum con-

junto defensivo íntegro, que inclui a defesa antiaérea, meios da guerra rá-dio-eletrónica e resistência às armas de alta precisão, que pressupõe o uso, a título do “cérebro”, dum sistema au-tomatizado de comando do tipo “Bor” que agora é o núcleo “intelligente” da defesa antiaérea da Belarus.

No que se refere aos armamentos antimísseis, segundo alguns analistas, as empresas do conjunto militar-indus-trial belorusso em colaboração com a indústria de defesa russa, são capazes de se apresentar como fornecedores dos modernizados complexos de mís-seis de curto alcance C-125 “Pechora”.

Durante um período bastante longe

nas fontes abertas não existiram dados detalhados sobre a realização do prote-jto de criação do sistema íntegro da de-fesa antiaérea da Venezuela. Entretanto, há alguma informação. Recentemente, na mídia foi citado o Minístro da Defesa nacional da Venezuela Henri Ranjel Silva quem declarou a criação da “Base Pechora” perto do aeroporto interna-cional Josef Camejo em Las-Piedras (peninsual Paraguana).

A base passou a ser o local de ins-talação da primeira bateria autopro-pulsionado “Pechora-2M”, fabricado pelo grupo financeiro-industrial belo-russo-russo “Oboronitelnye sistemy” (“Sistemas da Defesa”). A tarefa princi-pal da bateria é a defesa do maior con-junto refinário no país. Outras dez ba-ses estão na fase de instalação no ter-ritório do país no quadro da forma-ção do Comando da Defesa Antiaérea Aeroespacial Integral CADAI. Em maio de 2011, o sistema de defesa antiaérea da Venezuela recebeu da Rússia mais de 10 sistemas de mísseis móveis de curto alcance C-125 “Pechora-2”, e tam-bém equipamento auxiliar, como os ra-dares M2KT-8022-1S.

A bateria integra até oito rampas de lançamento 5П73-2M com dois mísseis antiaéreas guiados cada, montados nos chassis MZKT-8021-020 todo-terreno, radar de guiamento SNR S-125-2М (com a antena UNV-2М e posto de controlo UNK-2М) com chassis MZKT-80211-020, veículos de transporte e de carga nos chassis “Ural-4320”, meios de forneci-mento de eletricidade, manutenção e reparação. Assim, à Venezuela serão fornecidas pelo menos 11 engenhos SNP С-125-2М e 44 rampas de lança-mento 5P73-2M.

A compra dos sistemas de mísseis móveis de médio alcance “Buk-M2” (três divisões) e C-300BM de longo al-cance (uma divisão) foi também apro-vada em setembro de 2009, mas eles ainda não foram fornecidos. Segundo CADAI, o seu fornecimento esperava--se até o fim de 2012, porém isto não foi confirmado. Como resultado da com-pra e instalação de todos os sistemas de defesa antiaérea, previstos no pro-jeto, todo o território da Venezuela será seguramente protegido. Além disso, se-gundo dados não verificados, em pers-petiva Caracas pode oferecer aos seus vizinhos – Guiana e Colômbia – criar um sistema conjunto da defesa antiaérea.

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As Forças Armadas da Venezuela no quadro do crédito russo recente de 4 bilhões de dolares, prestado pa-ra o pagamento dos fornecimentos de armamentos e material de guer-ra receberão, particularmente, avi-ões de família “Su” e “Il”. Semelhante acordo foi fechado durante negocia-ções, que tiveram lugar em Moscou em dezembro de 2011.

Sabe-se também que há possibi-lidade de comprar uma nova lote de doze aviões de caça multifuncionais Su-30 MK2 que se juntarão aos ante-riormente fornecidos 24 aviões. Além disso, a parte venezuelana monstrou o interesse pela compra de novos avi-ões de caça multifuncionais Su-35 e também aviões de transporte pesa-dos Il-476.

Segundo peritos, o volume total dos fornecimentos da Rússia à Venezuela em 2012 excedeu 2 bilhões de dólares. Existe uma opinião, que no tempo mais próximo o volume total de novos for-necimentos dos armamentos russos a este país pode atingir 5 bilhões de do-lares. Espera-se também a continuação dos fornecimentos de tanques Т-72B1, veículos blindados de combate de in-fantaria BMP-3М e BTR-80А, obuses au-topropulsionados 2С19 “Msta-С”, lan-ça-foguetes BM-21 “Grad” de 122-mm, morteiros autopropulsionados “Nona-SKV”, caminhões militares “Ural-4320”, “Ural-3206” e outr material de guerra.

Durante o ano passado deveriam ser fornecidos doze lança-foguetes autopropulsionados 9К58 “Smerch”, e também iniciar-se os fornecimentos

de dez helicópteros de apoio de fogo Ми-28НЭ “Caçador Nocturno”, que a Venezuela comprou em abril de 2010. Segundo alguns dados, em 2012 fo-ram planejados os fornecimentos de novos sistemas de mísseis da defesa antiaérea russos à Venezuela para o re-forço do Comando Nacional de Defesa Antiaérea Aeroespacial.

A Rússia e Belarus não são os úni-cos fornecedores da produção militar à Venezuela. Sabe-se que nos anos re-centes a Venezuela comprou à China para a defesa antiaérea sistemas de ra-dar de longa distância par a DAA – se-te engenhos JLY-11 e três JY-1B, e tam-bém comprou equipamento, munição, coletes a prova de balas e capacetes no valor de 85 milhões de dólares.

Nos próximos 10-20 anos, a América Latina segundo os volumes de com-pras dos armamentos russos cederá seriamente a países asiáticos. Se a coo-peração com a Venezuela permanecer ao nível corrente as exportações mi-litares russas nos países da região di-ficilmente excederá o indicador anu-al de 1-1.5 bilhões de dólares. Mesmo nos países amigáveis como Venezuela o material de guerra russo terá que competir com o da Europa Ocidental, porque até mesmo Chávez não está pronto a cortar laços com a Europa. Na perspetiva vai aumentar a concorrên-cia do lado da China.

Periodicamente a Rússia pode obter contratos para fornecimen-tos do número limitado dos siste-mas de armamentos e material de guerra baratos para vários países de

região. Porém, os contratos de lon-go prazo para o fornecimento dos tipos caros são possíveis somente com a Venezuela e em perspetiva com o Brasil. A conclusão dos con-tratos importantes com o Brasil po-de abrir vastas perspetivas para a cooperação com este gigante lati-noamericano. Vale ressaltar que o Brasil está interessando nos forneci-mentos de avião de caça russo de 5ª generação, que agora passa por tes-tes. Por sua vez, a Rússia pode obter uma vantagem grande ao cooperar com a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica).

O interesse de tal ou qual país la-tinoamericano na cooperação téc-nico-militar com a Rússia é deter-minado, antes de mais nada, por razões políticas – aspiração de re-duzir a influência dos EUA. Para a Rússia este desenrolar dos aconte-cimentos é favorável em todos os sentidos. Em termos económicos aumentam as exportações de pro-dutos de alta tecnologia, em ter-mos estratégicos – fornecimentos de armas russas fortalecem o pres-tígio da Rússia na região. Em fim, em termos morais a cooperação militar com os países da América Latina não permite acusar a Rússia do apoio ao fundamentalismo islâ-mico e terrorismo que se pratica fre-quentemente em relação à assitên-cia russa a vários países do Médio Oriente e Ásia Central.

Olguerd Truhan

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

24 ● ARMS Defence Technologies Review

SISTEMA DE MÍSSEIS E ARTILHARIA ANTIAÉREO

“PANTSIR-S1”

A análise de conflitos militares recentes monstra que as armas principais nos ataques aéreos são as de alta precisão, e também zangões. Devido ao grande número de alvos aéreos e à densidade destes, os meios de defesa antiaérea precisam ter alta eficácia, grande reserva de munições sempre pronta para abrir fogo e a capacidade de completá-la com rapidez.

COMPOSIÇÃO MODULAR ADAPTADA A VÁRIAS CONDIÇÕES DE COMBATE

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

2(69).2013 ● 25

sistema de mísseis e artilharia antiaéreo “Pantsir-S1”, atualmen-te e no próximo futuro

totalmente corresponde às exigên-cias de combate com meios mo-dernos de ataque aéreo, devido às particularidades da construção, tais como:■■ equipamento antiaérea do tipo

combinado, que permite criar a aérea totalmente batida até 20 quilômetros de distância e até 15 quilômetros de altitude;

■■ sistema radar/óptico de controle multifuncional à prova de inter-ferências, funcionando nas faix-as de ondas decimétricas, mili-métricas e infravermelhas;

■■ regime automático de funcio-namento;

■■ capacidade de fazer fogo em movimento e de curtas paragens;

■■ empo curto de reação (4-6 se-gundos) devido ao rastreamento automático de até 20 alvos, re-alizado pelo radar de detecção de alvos. Este tem a alta pre-cisão de indicação de alvos (0.3º pelo azimute, 0.5º pelo ângulo de altitude e 60 metros pela dis-tância), o que assegura uma de-teção e aquisição de alvos pelo radar de rastreamento de alvos

multifuncional e o sistema ópti-co-eletrónico;

■■ capacidade de actuar autónoma-mente e enquadrado na bateria;

■■ ataque simultâneo contra quarto alvos no setor de ± 45 º pelo az-imute e pelo ângulo de altitude.As altas características técnicas

do “Pantsir-S1” asseguram a van-tagem significativa às Tropas da Defesa Antiaérea, equipadas com estes engenhos, perante seus aná-logos de curto alcance estrangeiros.

O sistema “Pantsir-S1” passou pela grande volume de testes no campo e confirmou seus altas de-sempenhas nas diferentes condi-ções de aplicação táctica.

Nas fotos (1-4) estão representa-dos os resultados de tiros de mís-seis e de canhões contra alvos ter-restres e aéreos tanto na marcha como de breves paragens.

A projeção dum sistema de de-fesa antiaérea que satisfaça requisi-tos de diversos clientes exigiu a so-lução de problemas científico-téc-nicos complicados, tais como:■■ solução de tarefas de com-

posição e construção a fim de assegurar o princípio modular do sistema;

■■ projeção de radar multifuncio-nal novo que garanta a restrea-

mento de alvos e míssil;■■ resolução de problemas da in-

tegração do sistema informati-vo do “Pantsir-S1” no do cliente;

■■ projeção e a implementação de meios de identificação nacional amigo-inimigo levando em con-sideração os requisitos do cliente;

■■ criação do sistema de coman-do automático, que funciona 24 horas, em quaisquer condições atmosféricas, unificado quanto à aparelhagem, leva em consider-ação todos os ajustamentos es-pecíficos e modificações algorít-micos próprios acietáveis por ca-da cliente concreto;

■■ projeção e fabrico de munições, kit de peças sobressalente e in-strumentos, bem como materi-ais didacticos unificados acie-táveis por cada cliente concreto.O grande potencial científico da

empresa permitiu resolver todo es-te conjunto de problemas, conce-ber e fabricar um sistema de mís-seis e artilharia antiaéreo, que satis-faz as mais rebuscadas exigências técnico-táticas e que não tem aná-logos no estrangeiro.

O conceito inovador do “Pantsir-S1”, assentado no princípio de composição modular, permitiu utilizar vários tipos de chassis, in-

Esq. 1 – Tiros de canhões

A – Contra alvo ter-restreB – Alvo abatido

Esq. 1, A Esq. 2, A

Esq. 1, B Esq. 2, B Esq. 2 – Tiros de canhões

A – Contra alvo aéreoB – Alvo abatido

О

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

26 ● ARMS Defence Technologies Review

clusive de lagartas, e fabricar mo-dificações estacionárias e de basea-mento marítimo (por exemplo, pa-ra defender uma plataforma de pe-tróleo, instalções administrativas, de improtância tática, militar etc.). O sistema pode ser montado tam-bém em plataformas ferroviárias, que permite integrá-lo facilmente nos programas existentes de assis-tência técnica, de treino e apoio lo-gístico típicos do cliente concreto. Este princípio permite igualmente conceber modificações do sistema, conforme às condições geográficas e topográficas do cliente.

Além disso, o princípio de compo-sição modular possibilita modernizar o sistema com despesas mínimas, au-mentando a sua eficácia em comba-te e, por conseguinte, amplia as pos-sibilidades da sua comercialização.

O radar multifuncional do “Pantsir-S1” acompanha três alvos e transmite sinais de comando a qua-tro mísseis antiaéreos guiados, fa-zendo frente a diversos alvos aére-os: aviões, helicópteros antes que estes aplicarem as suas armas, mís-seis guiados e bombas de aviação de pequenas dimensões, bem co-mo aeronáves de controle remoto.

A grande resistência a interfe-rências e, por conseguinte, a efi-

cácia em conbate, são garantidas devido ao sistema radar/óptico de controle polivalente e multifaceta-do, funcionando na faixa de ondas decimétricas, milimétricas e infra-vermelhas.

As realidades do combate mo-berno apresentam exigências rigo-rosas as sistemas de mísseis e arti-nharia antiaéreos cujos meios elec-trónicos devem ser rigorosamente integrados no sistema único da de-fesa antiaérea do cliente.

Essas exigências devem-se aos factores seguintes:■■ apresentação uniformizada da

localização dos alvos em todos os níveis e componetes do siste-ma da defesa antiaéreo;

■■ condições topográficas compli-cadas impõem distribuir de mo-do flexível os alvos tanto entre as peças de uma bateria, como entre os elementos do sistema íntegro da defesa antiaérea;

■■ proliferação contínua das arams de alta precisão e aeronáves de controle remoto, utilizados em ataques aéreos, impõe que uma peça isolada saiba actuar sem o uso do seu radar, recebendo to-da a informação necessária das peças vizinhas ou de sistemas de radar externos.

O sistema cartográfico de ma-pas digitais permite planejar auto-maticamente ações de combate de modo eficaz, em função das con-dições geográficas e cartográficas concretas.

Os problemas da proteção de in-formação transmitida contra as in-terferências tinham sido resolvidos com êxito. A distância de transmis-são da informação aumenta até 20 quilômetros caso o posto do co-mando de cada peça tiver contac-to com todos os pontos de coman-do, existentes no exército do clien-te, o que é possível sem modifica-ções algo sérias.

O princípio de composição mo-dular repercutiu-se não só nas par-ticularidades de construção do sis-tema, mas também no seu softwa-re. É precisamente por isto que os parâmentros do “Pantsir-S1” po-dem ser facilmente adaptados ao sistema de identificação amigo-ini-migo nacional para cada cliente. Portanto, o sistema de identifica-ção amigo-inimigo nacional pode ser modernizado por encomenda.

O sistema de comando automá-tico, que funciona 24 horas, em quaisquer condições atmosféricas amplia significativamente a área de destruição, atenua o impacto psico-

Esq. 3 – Tiros de mísseis

A – Contra alvo aéreo

B – Alvo abatido

Esq. 3, A Esq. 4, A

Esq. 3, B Esq. 4, BEsq. 4 – Tiros de canhões

A – Contra alvo ter-restre

B – Alvo abatido

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

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física na tripulação, minimizando o fator humano em combate.

Foram igualmente solucionadas as tarefas específicas formuladas pelos clientes concretos, a saber:■■ funcionamento do radar de de-

teção de alvos, menosprezando sinais falsos gerados pelo relevo muito acidentado;

■■ deteção de alvos sobre superfí-cie plana dum mar ou deserto;

■■ escolha da frequência do func-ionamento do sistema antiaéreo em função do relevo do terreno que o cliente indicar;

■■ adaptação do engenho ao siste-ma de identificação amigo-in-imigo nacional do cliente;

■■ delimitação rápida da área de deteção e acompanhamento de alvos no mapa topográfico gra-ças ao uso do sistema de carto-grafia com mapas digitais;

■■ integração no sistema de defesa antiaérea do cliente com a possi-bilidade de modificar este siste-ma segundo o modelo em que se baseia o “Pantsir-S1”;

■■ diversificação de métodos segu-ros de destruição de mísseis an-tiaéreos guiados conforme é in-dicado pelo cliente:a) destruição na trajetória as

cendente;

b) destruição na trajetória descendente;

c) destruição em resultado da colisão com a terra.

Estas terefas foram soluciona-das tanto modificando softwear co-mo alterando a combinação de blo-cos sem o aperfeiçoamento técni-co destes.

A composição modular e uni-formização de blocos possibilita-ram adaptar o engenho ao sistema de manutenção técnica de chassis, aproveita o kit uniformizado, bem como organizar centros de manu-tenção padonizados.

O sistema do controlo incorpo-rado permite manter cada peça de combate “Pantsir-S1” e cada veícu-lo de manutenção técnica a um al-to nível de prontidão de combate.

A composição modular possibi-lida alterar a configuração do siste-ma e montá-lo em diferentes pla-taformas ou usar a modificação es-tacionária.

No esq. 5 estão mostradas as op-ções de montagem do “Pantsir-S1”.

O sistema pode ser montado em veículos ligeiramente blindados e usado como poderoso meio antiaé-reo aerotransportado, bem como nas plataformas de rodas ou de lagartas, fazendo parte das grandes unidades

da defesa antiaérea da Força Aérea, Tropas Terrestres e Marinha.

Atualmente e no futuro pró-ximo as caraterísticas do sistema de mísseis e artilharia antiaéreo “Pantsir-S1” corresponderão intei-ramente a todas as exigências do combate moderno.

A justeza dos conceitos técnicos implementados no “Pantsir-S1”, ho-je produzido em série, passou pelas provas dos testes promovidos pela Comissão Estatal, durante os quais se realizaram mais de 500 exercí-cios de tiro.

Há já anos que “Pantsir-S1” par-ticipa na parada militar, dedicada ao Dia da Vitória, (9 de maio) na Praça Vermelha em Moscou e no Dia da Independência da República da Belarus, em Minsk.

Além disso, o sistema “Pantsir-S1” tomar parte feiras de produtos mi-litares, tais como IDEX, MAKS etc.

Tanto hoje como no futuro visí-vel o sistema de mísseis e artinha-ria antiaéreo “Pantsir-S1” contitua-rá a ser um meio que garante a se-gurança do espaço aéreo, podendo rechaçar todos os tipos de ataques aéreos.

A.A. ZubarevA.A. Nikiforov

Opções de montagem

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

28 ● ARMS Defence Technologies Review

primeiro avião inimigo (o avião de reconhe-cimento aéreo Martin RB-57D “Canberra”

das Forças Aéreas do Taiuã (Ilha Formosa) foi abatido na altitude de 20600 metros em 7 de novem-bro de 1959 pelos chineses, que o fizeram por meio do sistema sovi-ético de mísseis terra-ar C-75. Em 1960, no dia de feriado soviéti-co, 1 de maio, o avião norte-ame-ricano de reconhecimento aéreo Lockhead U-2 pilotado por Garry Powers foi abatido perto da cidade de Sverdlovsk por meio do mesmo sistema de mísseis terra-ar. Em 27 de outubro de 1962, no período da crise das Caraíbas, foi abatido mais um U-2 norte-americano pilotado por major de Forças Aéreas dos Estados Unidos Rudolf Anderson.

Entretanto, a época de vasta apli-cação de sistema de mísseis terra-

-ar iniciou somente nos anos 60 do século passado. A experiência do Vietnã e Médio Oriente (onde os sis-temas provaram ser armas temíveis capazes de dar réplica não só aos aviões de reconhecimento aéreo à grande altura, mas também aos de combate táticos) evidenciou que na defesa aérea, além de carateristicas gerais, uma grande importância te-ve a capacidade de mísseis de reali-zar as manobras tácticas e o nível de sua proteção. Este fato foi eviden-temente manifestado em 1973 no Médio Oriente, onde o sistema do médio alcance soviético “Quadrado” (SA-6 Gainful) estreiou com êxito. O referido sistema foi uma modifi-cação do sistema “Cubo”, concebi-do pelo Gabinete de Projeção OKB-15 GKAT – repartição do Instituto de Pesquisas Científicas 17, actualmen-te Instituto de Pesquisas Científicas de Instrumentação V. V. Tikhomirov.

Naqueles tempos, os “Quadrados” destruiram na Síria 64 aviões de com-bate israelitos. O lança-mísseis SA-6 tinha sido fornecido para 25 paises e tinha sido utilizado com êxito em vá-rios conflitos militares.

A modificação posterior do “Cubo” resultou em lança-mísseis “Buk 9K37” de alta capacidade de manobra (SA-11 Gagfly) com míssel mono estágio a combustivel sólido 3M38, capaz de atingir alvos aéreos distantes (de 3.5 a 30 metros), na faixa de altitudes en-tre 25 e 20000 metros. O lança-mís-seis “Buk 9K37 foi elaborado pelo Instituto de Pesquisas Científicas de Instrumentação V. V. Tikhomirov

Cumpre notar que atualmente a referida empresa é o líder russo na elaboração de radares de aviões. Os mais potentes aviões de caça como SU-27,SU-30,SU-35, T-50, e J-11estão equipados com radares desta empre-sa. O “Cubo” foi posto em serviço do

SISTEMA DE MÍSSEIS ANTIAÉROS “BUK”

O

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

2(69).2013 ● 29

Exército Soviético em 1980 e passou a ser a arma básica das grandes unida-des móveis da defesa antiaérea.

Depois do “Buk” seguiu a sua mo-dificação aperfeiçoada “Buk-M1”, que entrou em serviço do Exército Soviético em 1983. Em comparação com seu antecessor, este caracteriza--se por um maior raio de alcance (dis-tância – de 3.5 a 35 quilómetros, alti-tude – de 15 a 22000 quilómetros) e maior probabilidade de abater alvos. Além disso, todos os blocos e mís-seis do “Buk-M1”, podem ser substi-tuidos pelos análogos do protótipo. Atualmente o “Buk” e o “Buk-M1” es-tão ao serviço de muitos paises, tan-to das repúblicas da ex-URSS, nome-adamente a Bielorússia, Geórgia e Ucrânia, como de outros paises, entre eles Chipre e Sérbia.

Paralelamente com os trabalhos de projeção do “Buk-M1” (conside-rados na altura como uma “peque-na” modernização do “Buk”) a come-çou na União Soviética a moderniza-ção “grande” deste sistema, com vista a fazer frente a ameaças que pudes-sem surgir no futuro mais próximo. O modelo radicalmente modernizado do sistema de mísseis terra-ar rece-beu o nome 9K317 “Buk-M2”. O titular da encomenda, as Tropas Terrestres da União Soviética, exigiu que fosse concebido um sistema antiaéreo, ca-paz de rechaçar ataques aéreos maci-ças, alvejando com mísseis mais de 20 metas simultaneamente. Para o efei-to foi decidido dotar o lança-mísseis de radares com varredura e de regi-me intermitente de iluminação.

Um vasto leque de aeronaves pi-lotados (tanto existentes como em fase de projeção) foram considera-das como os alvos potenciais para o “Buk-M1”, nomeadamente aviões difi-cilmente visíveis por radar, voando a várias altitudes e velocidades, aviões não pilotados de várias classes, mís-seis balísticos táticos e maios de des-tuição aéreos guiados.

Em 1984, a primeira ogiva auto-guiada (OA) do novo míssel do sis-tema tinha sido transportado para o polígono de Emba (Cazaquistão). Em 1988, as provas do sistema de mísseis terra-ar culminaram com êxito: o ob-jetivo de ampliação de distâncias e al-titudes de alcance dos alvos foi atin-gido. Devido ao uso de radares com

varredura, uma instalação tem a ca-pacidade de abater simultaneamen-te quarto alvos, diferentemente do “Buk-M1” capaz de destruir um só al-vo. O novo sistema de mísseis terra-ar proporcionava mais informações aos operadores, era mais resistente a in-terferências e tinha outras vantagens em comparação com seus análogos estrangeiros daquela época.

Além do míssel praticamente no-vo e rampa de lançamento autopro-pulsionada 9A317, dotado do sistema de radares com varredura capazes de atacar simultaneamente quarto al-vos, o engenho foi equipado de um sistema novíssimo de processamento de informação – o radar de ilumina-ção de alvos e guiamento de mísseis.

A antena do radar montada tam-bém na plataforma autopropulsiona-da standard levanta-se à altitude de 21 metros por meio dum mastro te-lescópico, o que permite ampliar sig-nificativamente as potencialidades do sistema no combate contra aero-naves, helicópteros e de mísseis vo-ando à pequena altitude. A distância do alcance de alvos voando a altitude extrememente baixa duplicou. Note-se nehum outro sistema de mísseis terra-ar autopropulsionados possuia características do género.

Em 1990, “Buk- M2” foi pos-to em serviço no Exército Soviético. Esperava-se que a sua produção em série devesse iniciar no mesmo ano. Contudo, na altura o país vivia uma grave crise política e económica o que levou a economia soviética à de-

cadência. Isto teve um impato ne-gativo na indústria militar. O sistema “Buk-M2” não chegou de ser produ-zido em série naquela altura. A tarefa ficou ainda mais complicada após o desmoronamento da União Soviética e quebra da cooperação existente na indústira de guerra.

Com o fim de poupar escassos meios financeiros destacados pa-ra a defesa, o projetista do sistema propôs ao Ministério da Defesa pro-duzir um modelo do “Buk” “tran-sitivo” e mais “barato”. Este mode-lo foi denominado “Buk-M1-2” repre-sentando uma sintese de projetos “Buk-M2” e “Buk-M1” que já estavam ao serviço no Exército. Em particular, o “Buk-M1-2” foi equipado com míssil antiaéreo do “Buk-M2”, projeto na al-tura ainda não finalizado. Em dezem-bro de 1992 foi emitida a Ordem do Presidente da Federação Rússa em re-lação à projeção do “Buk-M1-2”.

Entre 1993 e 1996 o “Buk-M1” foi actualizado e acabado até atingir o nível do “Buk-M1-2”. Em 1998 o en-genho modernizado entrou oficial-mente ao serviço do Exército russo. Este sistema, uma vez projetado e posto em uso, garantiu a capacida-de da defesa nos tempos complica-dos e possibilitou manter as Tropas da Defesa Antiaérea da Rússia a um nível adequado.

Atualmente, conforme aos meios de comunicação social, cerca de 350 instalações “Buk-M1-2” constituem a base do sistema antiaéreo das Tropas Terrestres russas. Além disso,

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

30 ● ARMS Defence Technologies Review

20 engenhos “Buk-M1-2” foram for-necidos à Síria. Em 2005 foi celebra-do um contrato prevendo o forneci-mento do “Buk-M1-2” ao Egipto.

Só passados quinze anos, em me-ados da década finda, com a mudan-ça do sistema de financeamento de Forças Armadas tornou-se possivel retomar a produção do “Buk-M2” em série. Porém, no início do século XXI o sistema “Buk-M2”, projetado nos anos 80 do século XX tornou-se obsoleto em muitos aspeitos, sendo incapaz de satisfazer os requisistos cada vez maiores apresentados pelas tropas.

Por isso surgiu a necessidade de “actualizar o complexo moderniza-do”, substiuindo os seus blocos bási-cos por outros mais modernos.

Além do seu projectista principal – o Instituto de Pesquisas Cientáficas de Instrumentação V. V. Tikhomirov, também o produtor do “Buk-M2”, a usina mecánica de Ulianovsk, deu um contributo de peso no proces-so de modernização destes siste-mas, Em particular, a referida fábri-ca assimilou a produção de radares com varredura. um grande trabalho foi realizado no âmbito de substitui-ção de todos computadores antigos “Argon” produzidos em Chisinau (ho-

je, capital de um país independente) por meios digitais “Baguetes” mais eficazes, baratos, seguros e tecnolo-gicamente mais rentáveis.

Além disso, o sistema moderniza-do “Buk-M2” passou a ser dotado de:■■ Sistema televisivo e termovisi-

vo que permite detetar, trancar e acompanhar os alvos em re-gime automatico passivo não só de dia mas também de noite e nas condições atmosféricas adversas (o sistema novo substituiu o visor televisivo- óptico antigo).

■■ Sistema built in de contrlolo ob-jetivo (fabricado na base de mei-os computorizados de ponta) – no lugar do antigo sistema de regis-to documental dos resultodos de funcionamento do engenho.

■■ Aparelhagem de processamento e apresentação automática da in-formação nos displays de cristais líquidos.

■■ Estações de rádio digitais moder-mas que asseguram a recepção-transmissão tanto da informação verbal como de dados classifica-dos de indicação e distribuição dos alvos.

■■ Postos de trabalho automatizados que são bem ergonómicos (em substituição dos antigos postos de trabalho com indicações de tubos electrónicos).Em 2005, no âmbito da Encomenda

Estatal foi comprada uma série de elementos-chaves do lança-mís-seis (plataforma autorpopulsionada, meios de comando etc.). Isto permi-tiu iniciar a formação da primeira di-visão de mísseis antiaéreos “Buk-M2”. No mesmo tempo foi retomada a

projeção do “Buk-M2E” (modelo do “Buk-M2” destinado para a explora-ção que antigamente era conhecido como sistema de mísseis antiaéreos “Ural”). Foram emitidos uma resolu-ção do Governo da Rússia e o Decreto do Presidente da Federação Russa, autorizando a exportação deste sis-tema. O engenho “Buk-M2E” foi apre-sentado pela primeira vez no salão in-ternacional aero-espacial MAKS-2007 em Zhukovsky (Rússia). No mesmo ano foi celebrado o contrato com a Síria sobre o fornecimento deste sis-tema antiaéreo moderno. Em 2008 o lança-mísseis “Buk-M2” (“Buk-M2E”) começou a ser fabricado em série pe-la usina mecánica de Ulianovsk.

Em 2007 foi celebrado o acordo de fornecimento de 20 ”Buk-M2E” para a Síria. Foi também fechado o acordo com a Venezuela referente ao fornecimento de uma instalação “Buk-M2E”. Conforme à clissificação da OTAN o “Buk-M2” recebeu o nome “SA-17” e a alcunha “Grizzly”.

Os meios de combate do siste-ma antiaéreo 9K317 “Buk-M2” inte-gra mísseis antiaéreos teleguiados 9M317, plataformas autopropulsiona-das (PA) 9A317 com quarto mísseis cada e rampas de lançamento e car-ga (RLC) 9A316 com oito mísseis ca-da. Os meios de comando que fazem parte do sistema são compostos por: posto de comandante 9C510, radar de detecção do alvo 9C18M1-3 e ra-dares de iluminação e direção de mís-seis (RIDM) 9C36. Todos os meios de combate do complexo estão monta-dos no chassis unificado de lagarta e estão parcialmente parcialmente pro-tegidos pela armadura.

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O 9K317 pode usar dois tipos de peças de fogo. O primeiro tipo está representado por quarto seções de fogo autopropulsionados, cada um destas composta de uma PA e uma RLC. A peça de fogo deste tipo po-de atacar simultaneamente até quar-to alvos, sendo a altura de relevo infe-rior a dois metros. O segundo tipo da peça de fogo (no total são duas) in-clui um radar 9C36 e duas RLC. Cada uma das peças de fogo do segundo tipo pode também atacar simultane-amente até quarto alvos, sendo a al-tura do relevo inferior a 20 metros.

Em combate a PA ou o RIDM de-tectam, identificam e acompanham automaticamente os alvos; traçam a tragetória do voo do míssil, formulam a missão do ultimo, controlam o lan-çamento, iluminam o alvo, transmi-tem sinais de correção dos parámen-tos de voo do míssil teleguiado e ana-lisam os resultados do tiro. A PA po-de fazer fogo tanto integrado no sis-tema antiaéreo (neste caso a indica-ção dos alvos está a cargo do posto de comando) como autonomamente, operando na sua própria zona de res-ponsabilidade indicada de antemão, o que aumenta consideravelmente a vitalidade do sistema em geral.

O prazo de assumir o estado de combate em marcha para a peça de fogo do primeiro tipo é cinco minu-tos, o do segundo tipo (que leva mais tempo para o desdobramento) – de 10 a 15 minutos. O engenho pode mudar de posição com a aparelha-gem em regime ativo. Neste caso o processo de nova entrada em com-bate levará 20 segundos.

O míssil mono estágio 9M317 (pe-so de descolagem – 715 kg) foi con-cebido conforme o esquema áero--dinámica standard, possui uma asa (crista) de pequeno comprimento e um motor de dois regimes a com-bustível sólido. A zona de destruição do míssil é 50-60 km de distância e até 25 km de altitude e perímetro. O míssil possui o sistema de guiamen-to por inércia na fase activa da tra-getória e a ogiva semi-activa autodi-rigível doppler 9E420.

A seção de combate do míssil é do tipo central com a massa de 70 kg, o ráio da zona de destruição – 17 metros. A velocidade máxima no vôo – não inferior a 1230 m/s, a

sobrecarga – não superior a 24 g. Cumpre notar que o míssil 9M317 de-vidamente montado e equipado dis-pensa de testes e sintonizações ao longo de todo o período de garan-tia que é de dez anos.

O radar 9A317. parte integrante da PA, diferentemente dos modelos mais antigos do “Buk”, está equipada da antena com a varredura electroni-ca passiva, capaz de detetar alvos na faixa entre ± 45º (pelo azimute) e 70 º pelo ângulo de altitude. O engenho detecta simultaneamente 10 alvos e ataca 4 deles.

Além do radar, a PA está equipada do sistema óptico-eletrónico na base de sensores termovisual e televisual. O período de reação da PA é cinco se-gundos. O seu peso é 35 toneladas, a tripulação – quarto pessoas.

A RLC traz quatro mísseis situados nas rampas (em prontidão perma-nente ao uso, tal como os mísseis da PA) e outros quatro – nas plataformas de transporte (para os usar é preciso trasbordá-los para as rampas). O pe-ríodo de autocarregamento do me-canismo é 15 minutos. O período de carregamento da PA é 13 minutos O peso da RLC é 38 toneladas, a tripula-ção – quarto pessoas.

O posto de comando do comple-xo 9C510 é capaz de controlar simul-taneamente todas as 6 seções de combate que fazem parte do sistema

antiaéro. É capaz de acompanhar até 80 alsos e comunicar dados de indi-cação da meta para 36 deles. O perío-do de reação é 2 segundos, a tripula-ção – 6 pessoas.

O RIDM 9C36 também está equi-pado coma varredura electronica. A sua antena pode ser elevada na al-titude de 22 metros por meio dum mastro especial. É capaz de fazer fo-go contra alvos a altitudes baixas e extremamente baixas, nas zonas co-bertas de mato, com relevo aciden-tado ou numa área urbana não den-sa. O RIDM é capaz de detetar alvos na faoxa de ± 45º (pelo azimute) e 70º pelo ângulo de altitude. A dis-tância da deteção do aeronave com a superfíde eifcaz de dispersão (RCS – abreviatura inglesa) de 1-2 m² (semelhante RCS têm caças da ge-ração “4+” caracterizados pela de-tectividade por radar reduzida, tais como F/A-18E/F, “Rafale”, EF2000 “Typhoon” ou JAS 39 “Vigen”) à al-titude de 3000 metros é 120 quiló-metros. A deteção do mesmo alvo à altitude extremamente baixa (10-15 quilómetros) é 35 quilómetros. A área do acompanhamento do alvo é ± 60º (pelo azimute) e de -5º a +85º – pelo ângulo de altitude. O número de alvos simultaneamente acompa-nhados é 10, o número de alvos si-multaneamente atacados – 4. O pe-so do RIDM é 36 toneladas.

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O radar coerente pulso a pulso de visão panorâmica circular 9C18M1-3 funciona na faixa centimétrica e re-aliza o electroscan no plano vertical. O aparelho é destinado para monito-rar o espaço aéreo e transmitir infor-mações sobre os alvos através duma

linha codificada para o posto de co-mando 9C510 onde são processadas. O scan pelo azimute é mecánico, pe-lo ângulo de altitude – eletrónico. O radar realiza o monitoramento circu-lar no plano horizontal e em 50º pe-lo ângulo de altitude. A distância da

deteção de alvos com RCS de 1-2 m² é 160 quilómetros com a frequência de repetição de 4.5-6.0 segundos.

A sistema contra-interferências do radar 9C18M1-3 é automático, mu-dando instantaneamente a frequên-cia dos impulsos e bloquendo os in-tervalos da distância. O peso total do radar com a plataforma autorpopul-sionada é 30 toneladas, a tirulação – 3 pessoas. O prazo de passagem do estado de marcha para o da combate é inferior a 5 minutos.

O fato que todos os elementos do engenho estão montados nas plata-formas de lagartsa todo terreno me-rece uma atenção especial. A plata-forma está protegido por uma cou-raça e assegura uma alta mobilidade táctica para o “Buk-M2” equivalente à qualquer outro material a lagartas. Estas são as caraterísticas que lhes dão vantagens em comparação com sistemas antiaéreos estrangeiros.

O engenho 9K317 pode ser explo-rado em diversas condições climáti-cas (inclusive as tropicais) – para is-to todas as máquinas estão equipa-das de aparelhos de ár condicionado. Falando da mobilidade estratégica do “Buk-M2”, este pode ser transpor-tado facilmente via ferrea, aérea (avi-ões Ил-76) e aqáutica.

Cumpre assinalar é que as mu-nições usadas pelo “Buk-M2” foram inicialmente concebidas como mís-seis polivalentes. No sistema antiaé-reo naval “Shtil” (projetado pela em-presa “Altair”) podem ser usados os mísseis antiaéreos teleguidos 9M38M1 e 9M317. Estes são capazes de abater diversos alvos áero-dinâ-micos (inclusive mísseis de cruzei-ro antinavio voando na última fase do seu trajeto a uma altitude extre-mamente baixa a flor de água), bem como (se necessário) alvejar navios, lanchas e objetos costeiros do ini-mígo, visíveis para o radar.

O sistema antiaéreo “Buk-M2” po-de ser montado não só na plata-forma de lagarta. Em 1990 termina-ram os testes conjuntas do comple-xo modernizado “Buk-M2” na pla-taforma de rodas (o veículo ucra-niano todo-terreno “KRAZ” e rebo-ques produzidos em Cheliabinsk). O modelo rodoviário (o mais barato) distinguído por maior mobilidade nas áreas com uma rede de estradas

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desenvolvida, foi destinado para a Defesa Antiaérea e não para as Tropas Terrestres. Conforme o plano do en-tão Comandante-Chefe da Defesa Antiaérea I. M. Tretiak, o “Buk-M2” re-bocado devia ser integrado no con-junto antiaéreo C-300IPM a fim de organizar um sistema unificado efi-caz da defesa de regiões de grande importância (Moscou, Leninegrado e outras sedes políticas e económicas do país). Com o desmoronamento da União Soviética não estes planos não se concretizaram.

Os trabalhos de projeção do “Buk-M2” sobre rodas foram conti-tuados no século XXI. A modificação autopropulsionada sobre rodas do “Buk-M2” foi concebida em interes-ses de clients potenciais e fabrica-da usando a plataforma russa (pro-duzida pela usina de Briansk). Esta modificação com rodas podem equi-pada também com tratores do tipo “Ural”. Pela primeira vez, o engenho 9K317E “Buk-M2E” na plataforma de rodas MZKT-6922 do fabrco bielorus-so foi apresentado no salão áero-es-pacial MAKS-2011.

Actualmente, está na fase de prospeção o “Buk-M3” modelo mo-dernizado do “Buk-M2”.

Vladimir Iline

CARATERÍSTICAS TÉCNICAS E TÁTICAS DO “BUK-M2”

Àrea batida:

Caças: Míssil balístico tático:

distância 3-50 quilómetros distância 15-20 quilómetros

altitude 10-25000 metros altitude 2-16 quilómetros

Míssil de cruzeiro do tipo ALCM: Míssil antiradar do tipo HARM:

distância na altitude de 30 metros – 20 quilómetros distância 3-25 quilómetros

distância na altitude de 6000 metros – 26 quilómetros altitude 10-15000 metros

Probabilidade de destruição do alvo por um míssil:

caça em voo reto 0.90-0.95

míssil balístico tático 0.60-0.70

míssil de cruzeiro do tipo ALCM 0.70-0.80

míssil antiradar do tipo HARM 0.50-0.70

helicóptero 0.70-0.80

Ritmo do fogo 4 segundos

Prazo da reação 10 segundos

Prazo de entrada/saída da posição de combate 10 minutos

Longevidade 20 anos

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34 ● ARMS Defence Technologies Review

s peritos da Izmash podem falar longa-mente sobre as mo-dernizações da ar-

ma automática Kalashnikov: ale-gando materiais modernos, tec-nologias de ponta, bem como o facto de que a recusa da produ-ção em cadéia abre novas e am-plas pespectivas para a actualiza-ção da arma. No entanto, a tare-fa mais premente do Ministério da Defesa consiste em garantir que o arsenar deste fuzil que se man-

tem nos armazens corresponda ás exigências actuais. Por conseguin-te, a fábrica desenvolveu em 2012 métodos de modernização do AK-74 e apresentou ao Grupo de Trabalho Interdepartamental junto do Governo da FR quatro opções da modernização deste engenho.

Na opção mais simples capaz de ser concretizada directamente nas tropas, o AK-74 será dotado de uma painel lateral e um pivô com trilhos Picatinni o que possibilita-rá instalar alças colimadores, ópti-

cas e óptico-electrónicas que pos-suem uma base amla do tipo “cau-da de andorinha” . A troca do pivô possibilitará ainda instalar o ilumi-nador a infra-vermelhos com o in-dicador de alvos laser, o telémetro e uma manivela dianteira.

A opção mais complexa, capaz de ser realizada nas fábricas, prevê que o AK-74 será dotado de um fus-te com trilhos Picatinni, manivela dobrável, coronha telescôpica, ma-nivela ergonométrica tipo pistola, carregador com controlo visual da

IZHMASHHOJE E AMANHÃO

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TECNOLOGIAS DE PONTA RUSSAS

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reserva de cartuchos.A comissão decidiu realizar os

testes do modelo com modifica-ções radicais, pois este correspon-de a todos os requisitos modernos e garante a alta qualidade da arma.

Precisamente este modelo foi testado no Instituto Central de Pesquisa Científica da Maquinaria de Alta Precisão que devia prepa-rar o seu relatório sobre as caracte-rísticas do engenho.

Paralelamente à modernização do AK-74, a Izhmash está levando a cabo trabalhos de desenvolvimen-to do Kalashnikov da quinta gera-ção – AK-12.

Os construtores conseguiram melhorar consideravelmente parâ-metros do fuzil, adaptá-lo aos re-quisitos modernos, tendo conser-vado as características ímpar do Kalashnikov: simplicidade do dese-nho, altíssima segurança, resistên-cia e baixo valor de produção.

Uma das peculiaridades do no-vo fuzil é o princípio modular da sua construção: AK-12 representará um modelo padrão que servirá de base para mais de 20 modificações desta arma de uso tanto militar co-mo paramilitar, adaptadas aos ca-libres 5,45x39 mm e 7,62x51 mm.

Todos os trabalhos estão leva-dos a cabo em cooperação com re-presentantes dos departamentos de força, nomeadamente MINDEF, Ministério da Fazenda e tropas es-peciais.

Ainda na fase do desenvolvi-mento o AK-12 suscitou grande interesse de compradores poten-ciais. Portanto, dentro em breve a Izhmash protifica-se apresenter novos modelos do uso paramilitar desenvolvidos com base no AK-12.

O século XXI foi marcado pe-lo aparecimento da nova, quin-ta geração de armas da família “Kalashnikov". Trata-se dos AK da “série cem”. Foi desenvolvido um vasto gama de fuzis da série AK-100 para as munições mais larga-mente usadas no mundo de cali-bres 7,62x39 mm, 5,45x39 mm e 5,56x45 mm. Inicialmente, foram desenvolvidas as versões AK-101 e AK-102 para a munição padroniza-da da OTAN de 5,56 mm. Em segui-da, foram criados modelos melho-

IZHMASHHOJE E AMANHÃ

Bizon 2-03

Bizon 2-01

Vityaz SN

AK-102

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36 ● ARMS Defence Technologies Review

rados para as munições de 7,62x39 mm, com des-ignação de AK-103 e AK-104 respectivamente. Os mo-delos AK-102 e AK-104 são versões encurtadas dos fuzis AK-101 e AK-103, respectivamente. Além disso, foi desenvolvida uma outra versão encurtada da AK-74M que obteve a designação de AK-105.

Muitos dos potenciais com-pradores do armamento, de-pois de terem analisado os resul-tados da operação "Tempestade no Deserto", operações antiterro-ristas no Afeganistão e operação "Liberdade Iraquiana", deram pre-ferência ao fuzil AK, adaptada pa-ra o cartucho da OTAN 5,5x45 mm, apesar de antes terem tradicional-mente usado o M16A1. Entretanto, alguns outros clientes, ao contrá-rio, mostraram-se conservadores e preferiram usar o antigo cartucho 7,62x39 mm.

Em fevereiro último a dele-gação da Izhmash tomou par-te da Feira internacional dos Armamentos e Material de Guerra “IDEX-2013” em Abu-Dhabi. Nesta exposição foi marcada pela es-treia no estrangeiro de vários engenhos modernizados. Trata-se dos modelos mais modernos da chamada “série cem” – AK-101, AK-102, AK-103, AK-104 e AK-107 com energonomia melhorada, trilhos Picatinni que possibilitam a insta-

lação de diversos acessórios mo-dernos, por exemplo, alças ópti-cas e óptico-electrónicas ou indi-cador de alvos laser.

A par disto, na Feira foram ex-postos a espingarda de franco-ati-rador SV-99, pistolas-metlralhadoras “Vitiaz-SN”, “Bizon” e AN-94, GP-98, bem como projécteis de artilharia te-leguiados “Kotilov-2M” e “Krasnopol”. Entre as armas de caça a Izmash apre-sentou a espingarda “Saiga-12”, as ar-mas da polícia contaram com o fuzil de pequeno calibra “Bi-7-2-KO”.

Graças ao emprego de novos materiais e soluções técnicas, a alta confiabilidade do modelo básico fica conservada e mes-mo aumentada nas armas da no-va geração. Portanto, nos mo-mentos críticos as armas produ-zidas pela Izhmash nunca vão fa-lhar. Assim sendo, no século XXI, as armas da marca “AK" continu-arão a ser procuradas ainda por muito tempo.

Olguerd Truhan

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38 ● ARMS Defence Technologies Review

COMBATE PELO CÉU BRASILEIRO

Brasil, sendo o quinto maior Estado do nosso planeta quanto ao seu território e número de

habitantes (mais de 201 milhões, conforme estimativas para 2010), tradicionalmente segue uma polí-tica exterior de paz e desempenha um papel importante (ou mesmo papel-chave) no sistema de segu-rança coletiva e cooperação eco-nômica da América do Sul. As des-pesas com a defesa representam cerca de 1,1% do PIB do Brasil.

Numa retrospectiva histórica, a Força Aérea Brasileira (FAB) tradi-cionalmente tem sido voltada para combate às ameaças, tanto exter-nas como internas. Partindo disso, foi constituído o parque de aero-

naves da FAB, a maior parte do qual está representada por aviões des-tinados para o controle dos enor-mes espaços fracamente povoados deste país, assim como para a par-ticipação nas operações de guerra de intensidade limitada, caracterís-ticas para ações das forças policiais e antiterroristas.

Além disso, para fazer frente a um inimigo externo, equipado com material aeronáutico e antia-éreo moderno, a FAB dispõe de 46 caças-bombardeiros Northrop F-5E/F-5F Tiger II produzidos na década de 1970, bem como de uma dezena de caças de inter-ceptação mais modernos Dassault Mirage 2000, produzidos durante a década de 1980.

Sem dúvida, para o Estado com território de 8513877 km² e que dese-ja se posicionar como líder regional (e, por conseguinte, como um dos líderes mundiais) a fraqueza destas forças é francamente assustadora.

Cabe notar que, pelos vistos, os altos dirigentes brasileiros es-tão cientes da desproporção entre o status econômico, cultural e político do seu país e a capacidade real das Forças Armadas Nacionais (antes de tudo, do seu ramo mais dinâmico – a FAB), cujo potencial bélico é in-ferior não somente ao das grandes potências mundiais, como também de uma série de Estados regionais. Deve-se lembrar que com a eleva-ção do status do Estado os seus inte-resses se tornam mais globais, sen-

FUTURO DA FAB: «RAFALE» OU «GRIPEN»?O

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COMBATE PELO CÉU BRASILEIRO

do por sua vez alterada a natureza das ameaças externas que adquirem um caráter mais diversificado e me-nos previsível.

A modernização do parque da aviação de caça, atualmente em cur-so no Brasil, evidentemente é uma medida temporária, capaz de dimi-nuir a gravidade do problema ape-nas parcialmente e por um curto pe-ríodo histórico. Por isso, o Ministério da Defesa do Brasil pretende reali-zar uma modernização mais radical da sua aviação de caça, reequipan-do-a com sistemas aeronáuticos da última geração. O Projeto ganhou o nome de F-X2. Nos termos deste Programa está prevista a compra de 36 caças multifuncionais de geração 4+, sendo prevista a entrega da pri-meira aeronave à FAB por volta do ano de 2015. Assim sendo, não se exclui um aumento ulterior do nú-mero de aviões encomendados até 120 aeronaves.

O modelo concreto da aerona-ve deverá ser apurado no processo da licitação internacional, estando entre os finalistas os caças Dassault Rafale (França), Boeing F/A-18E/F Super Hornet (EUA) e Saab JAS 39 Gripen NG (Suécia).

Em 2009, o então presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva anun-ciou a vitória do caça Rafale. Porém, logo a seguir esta decisão foi cance-lada (como sendo tomada sem ob-servação dos procedimentos neces-sários), e, em janeiro de 2011, a no-va presidente do país, Dilma Vana Rousseff, comunicou que os resul-tados da licitação serão anunciados mais tarde (por motivos de ordem financeira). Entretanto, os finalistas da licitação ficaram os mesmos.

Cabe salientar que, se inicial-mente a maioria dos peritos inter-nacionais consideravam que o lí-der da licitação brasileira era o ca-ça Dassault Rafale, na nova reali-dade econômica, as perspectivas do Gripen NG sueco se apresentam mais prometedoras.

Ambos os caças concorrentes são altamente manobráveis, de veloci-dade supersônica moderada (Mach =1.8-2.0). Os caças foram desenvol-vidos praticamente na mesma épo-ca (o primeiro vôo do Rafale teve lu-gar em 1986 e, em 2004, a aeronave

entrou em serviço nas unidades da FA. O desenvolvimento do Gripen levou menos tempo, nomeadamen-te, de 1988 a 1997). O nível tecnoló-gico da fabricação de ambas as ae-ronaves não apresenta muita dife-rença (convencionalmente corres-ponde à geração 4+), tendo estas o desenho aerodinâmico parecido – «tailless» com canards.

SAAB JAS 39 GRIPEN E/FO JAS 39 Gripen monomotor mo-

noplace é da classe de caças le-ves. Os seus análogos estrangeiros são o caça multifuncional leve chi-nês Chengdu FC-1 Xiaolong, o in-diano HAL Tejas (LCA) e o sul-corea-no KAI A-50.

Costuma-se considerar que o custo das aeronaves da mesma ge-ração é diretamente proporcional ao seu peso. Por isso, a vantagem deveras importante do compac-

to caça sueco é seu custo relativa-mente baixo. O peso vazio do caça Gripen С produzido em série é de 6800 kg e o peso de decolagem má-ximo é de 14000 kg.

A aquisição pelo Brasil de 36 ae-ronaves JAS 39 é avaliado em 6,0 bi-lhões de dólares. Segundo estimati-vas, a compra do mesmo número de aviões F/A-18E/F Super Hornet, irá custar ao orçamento brasileiro 7,7 bilhões de dólares, e de caças Rafale

– um montante ainda maior. Uma aeronave pequena tem menor cus-to de operação. Em 2012, a empresa Saab anunciou que o custo por ho-ra voada (CPFH) do Gripen é apenas de 4700 dólares. A título de compa-ração, este índice para o mais nume-roso caça da FA dos EUA F-16 é de 7000 dólares. O custo por hora vo-ada dos outros caças ocidentais de geração 4 e 4+ (inclusive do Rafale) é ainda mais alto.

Entretanto, cabe notar que o Gripen de nova geração (conhecido como Gripen NG – Next Generation) que efetivamente interessa os bra-sileiros, atualmente ainda não exis-te. Na realidade, é uma aeronave a ser desenvolvida. O Gripen NG, atu-almente disponível e reiteradamen-te exibido nas feiras de aviação in-ternacionais, pode ser considerado (apesar do otimismo dos suecos) apenas um demonstrador de tecno-

logia, um "conceito" que tem pela frente um longo e bastante dispen-dioso caminho a percorrer até vir a ser um caça produzido em série.

Segundo a ministra da Defesa do Reino da Suécia, Karin Enstroem, o MD deste país planeja adquirir um lote de 60 caças Saab JAS 39 Gripen de nova geração (Gripen NG). Os suecos esperam que, se o desen-volvimento do Projeto técnico des-te caça na configuração de série for

Rafale manobrando no ar

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iniciado em 2013, as primeiras ae-ronaves desta modificação (depois de ensaios integrais) vão equipar a Força Aérea Real Sueca apenas no segundo trimestre de 2018, e a dis-ponibilidade operacional total será obtida em 2023. O fornecimento de todas as 60 aeronaves prevê-se con-cluir no ano distante de 2027.

Havia notícias que, em 11 de de-zembro de 2012, o Parlamento sue-co aprovou por maioria de votos o Plano de aquisição de "40-60 ca-ças Gripen de nova geração". Assim sendo, o orçamento total do pro-grama deve cifrar-se em 90 bilhões de coroas suecas (cerca de 14 bi-lhões de dólares). O referido mon-tante integra os custos de operação e manutenção técnica das aerona-ves Gripen NG até 2042.

Entretanto, os parlamentares suecos formularam uma condição importante, conforme a qual, até 2014, o governo devia assinar con-tratos de exportação de, pelo me-nos, 20 novos caças JAS 39. Caso contrário, o Programa Gripen NG pode ser congelado.

O único país capaz de celebrar um Contrato de aquisição de caças JAS 39 no prazo indicado é a Suíça. Desta feita, a própria existência da aeronave Gripen NG (inclusive na FA sueca) e, talvez, a futura estrutu-ra da FAB vão depender da decisão definitiva da Suíça.

O contrato com a Suíça que es-tá sendo preparado prevê o forneci-mento a este país de 22 caças Gripen de nova geração. Este lote de caças pode custar 1,82 bilhões de euros, ou seja, 44% menos do valor total inicialmente apresentado pela Saab. Em 20 de janeiro de 2013, o Conselho Federal da Suíça dirigiu ao governo do país a Proposta oficial de com-pra ao abrigo do «Programa de ar-mamento-2012» de 22 caças JAS 39. Pelos vistos, as novas aeronaves vão substituir na Força Aérea suíça os caças norte-americanos de segun-da geração F-5E Tiger II. Junto com 33 aeronaves de quarta geração F/A-18С/D Hornet, os caças Gripen de-

vem garantir a defesa antiaérea da república alpina.

Segundo o Ministério da Defesa suíço, o caça Gripen E (aeronave produzida em série com base em avião experimental Gripen NG), atende mais plenamente aos requi-sitos da FA deste país, sendo igual-mente preferível a outras variantes (Rafale, EF2000) por motivos de or-dem financeira.

Além disso, tendo em conta o iní-cio do fornecimento dos caças JAS 39E, a Suíça está considerando a possibilidade de leasing, a partir de 2016, de oito caças JAS 39C e três aviões de treinamento JAS 39D da FA sueca. É mais um indício de que a produção em série do JAS 39E, toda-via, não deve ser esperada num fu-turo mais ou menos próximo.

No início de 2012, a FA sueca te-ve em serviço ativo 134 caças JAS 39 Gripen A/B (50 JAS 39A, 13 JAS 39B, 60 JAS 39C e 11 JAS 39D). Ao todo foram produzidos 264 aviões des-te tipo. No que se refere à distribui-ção de encomendas entre as ver-sões monoplace e biplace (Gripen F) do futuro caça, em novembro de 2012, os representantes da FA sueca afirmavam que o desenvolvimento e a fabricação de aeronaves bipla-ce Gripen F serão economicamente

Gripen em pleno voo

Embaixo e nas outras fotos – várias modificações

do Rafale

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viáveis, caso a encomenda mínima de caças monoplace Gripen E fos-se de 60 aeronaves. Ao discursar na conferência em Londres, o tenen-te-coronel da FA da Suécia Rickard Jester Nystrom declarou que o de-senvolvimento da modificação do Gripen F era dificultada pela neces-sidade de alocação de meios finan-ceiros adicionais para o projeto da cabine traseira, bem como por des-pesas adicionais com a formação do pessoal que seriam necessárias, ca-so a FA fosse equipada de avião de combate biplace.

Apesar de todos os problemas, a Saab encara o futuro com otimis-mo. Em setembro de 2012, a empre-sa declarou que havia razões bas-tantes para esperar que nos próxi-mos dez anos fosse possível vender cerca de 300 caças JAS 39 Gripen de nova geração. Segundo o repre-sentante desta companhia Eddy de la Motte, se for celebrado o volu-me planejado de contratos de ex-portação, a quota da Saab no mer-cado internacional de caças é capaz de chegar a 10%. Portanto, a em-presa sueca planeja fazer com que o Gripen NG se torne líder mun-dial entre os caças monomotor mul-tifuncionais leves. Segundo de la Motte, numa perspectiva de lon-go prazo, não se pode excluir o de-senvolvimento da versão embarca-da do caça Gripen, voltada exclusi-vamente para exportação (a peque-na Suécia não tem, nem planeja ter seus próprios porta-aviões).

No que se refere a particularida-des técnicas dos caças Gripen C/D e Gripen E/F, cabe dar um desta-que especial ao caça experimental (de demonstração) Gripen Demo. Este «demonstrador», segundo afir-ma Eddy de la Motte, durante os úl-timos 18 meses (até o final de 2012), completou um total de 150 horas de vôo, (inclusive na Índia e na Grã-Bretanha).

Cabe notar que a Saab iniciou as pesquisas na área de configuração técnica das futuras versões do caça Gripen ainda no princípio do século XXI. Em junho 2005, a empresa deci-diu reequipar o caça biplace de trei-namento e combate JAS 39B produ-zido em série, visando obter uma aeronave de vôos de demonstração

Gripen Demo, destinada para a pro-cura de soluções técnicas de pon-ta que possam ser aproveitadas nas versões de aeronave disponíveis e no futuro caça Gripen NG.

Ao tomar esta decisão, os espe-cialistas da Saab audazmente (e, segundo constou, de modo bem justificado) achavam que o Gripen de nova geração iria aproximar--se, quanto à sua capacidade ope-racional, do caça norte-america-no de quinta geração Lockheed Martin F-35A "Lightning II", tendo,

no entanto, os custos de compra e de operação substancialmente mais baixos.

Em 27 de maio de 2008, no ae-ródromo da fábrica da Saab na ci-dade de Linköping a aeronave de demonstração levantou seu primei-ro vôo. Em comparação com o caça produzido em série, a sua constru-ção integrava cerca de 3500 novas peças, conjuntos e sistemas. O tur-bofan com pós-combustão (TRDDF) Volvo Aero RM12 (versão do motor General Electric F404 com empuxo de 8220 kgf) foi substituído por tur-bina General Electric F414G de em-puxo aumentado em 20% (os TRDDF semelhantes equipam os caças nor-te-americanos de geração 4+ F/A-18E/F). Esteve previsto que, sendo equipada do novo motor, aeronave seria capaz de realizar vôo de cruzei-ro (sem pós-combustão) à velocida-de supersônica (Mach = 1,1). A capa-cidade dos tanques de combustível internos do Gripen Demo aumen-

tou quase 40% graças ao aprovei-tamento dos espaços nas seções de raíz de asa. Isto permitiu elevar o al-cance máximo (sem REVO) até 2200 km. Todos estes aperfeiçoamentos resultaram no crescimento do pe-so de decolagem máximo do Gripen Demo quase até 16000 kg (contra 14000 kg do JAS 39C/D).

Para a instalação do radar embar-cado avançado (BRLS) com antena do tipo matriz faseada foi necessário aumentar um tanto as dimensões da parte de nariz da fuselagem. A se-

ção central igualmente foi alargada para a instalação do motor F414G. Devido a um maior consumo de ar do novo motor, ficou aumentada a seção dos dutos de ar. Além disso, foram reforçadas as pernas do trem de aterragem, sendo proporciona-da a capacidade de decolagem com duas bombas guiadas GBU-10 de 907 kg transportadas externamente nos pontos duros sob a fuselagem.

No salão aeronáutico de Farnborough (Grã-Bretanha, ju-lho de 2012) foi demonstrado pe-la primeira vez o caça experimen-tal Gripen com radar Selex Galileo ES-05 Raven, dotado da antena AESA (Active Electronically Scanned Array). A antena de varredura ele-trônica ativa é provida do siste-ma mecânico de "acionamento" que proporciona a cobertura em azimu-te até +/-100 graus. Para compara-ção, os ângulos de varredura de ou-tros radares embarcados com ante-na do tipo matriz faseada são de +/-

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60-70 graus, com exceção do siste-ma radar de varredura eletrônica russo N035 «Irbis» (Su-35) com ân-gulos de varredura de +/-120 graus igualmente provido do «aciona-mento» mecânico da antena fixa do tipo matriz faseada.

Em 16 de junho de 2012, o novo radar sueco foi instalado no labora-tório voador JAS 39 «39-7» na fábri-ca da Saab em Linköping. É este ra-dar que servirá de base para o siste-ma de controle de armas do Gripen E/F. Os ensaios em vôo do JAS 39 «39-7» com AESA deviam ser inicia-dos em setembro de 2012. O evento devia contar com a participação de pilotos suíços.

Além do radar embarcado com AESA, na aeronave Gripen E/F em sé-rie devem ser implementadas todas as inovações em célula, demonstra-das no Gripen Demo. Além disso, no novo caça prevê-se implementar:■■ Novo ambiente de informação e

controle da cabine da tripulação baseado no uso de monitores LCD full color;

■■ Sistema de rastreamento e pontaria infravermelho Selex Skyward-G;

■■ Sistema de alerta de laser (LWR);■■ Sistema de Alerta de Aproximação

de Mísseis aperfeiçoado (MAWS), desenvolvido pela empresa mis-ta da África do Sul e da Suécia "Saab Astronix", sediada na RAS. O novo sistema baseia-se no MAW-300, instalado, em partic-ular, nos caças russos Su-30MKM fornecidos à Malásia;

■■ Sistema de meios de comunica-ção aperfeiçoado;

■■ Sistema modernizado de meios de ataque aéreo.Entre novas capacidades dos

aviônicos embarcados do Gripen E/F voltadas para garantia da se-gurança de vôo cabe dar desta-que à implementação dos regimes de vôo à baixa altura. Para tal, o caça deve ser dotado do Sistema de Alerta de Proximidade do Solo (GPWS), Sistema de prevenção de colisão com o solo (GCAS) e Sistema de Terrain Avoidance (TA), sendo a informação indispensá-vel fornecida por radar embarcado (BRLS). No futuro, prevê-se equipar o Gripen de novo Sistema de Alerta de Aproximação de Mísseis (MAWS) de banda dupla, operando nas fai-xas infravermelha e ultravioleta.

Todas estas inovações estão (ou serão) testadas no laboratório vo-ador (LV) JAS 39 «39-7». Em 2013, a Saab planeja iniciar a integração do radar Selex Galileo ES-05 dotado da antena AESA com o futuro míssil de alcance aumentado (110 km) MBDA Meteor. No início de 2014, planeja--se integrar este míssil no sistema de armamento do caça Gripen E/F. Ademais, o Gripen E/F será equipa-do com mísseis de médio alcance “ar – ar” AIM-120C e MICA, míssil de curto alcance “ar – ar” IRIS-T, bom-bas inteligentes com autoguiamen-to por laser semi-ativo, mísseis an-ti-navio RBS-15, além de outras ar-mas guiadas.

Entretanto, as características de decolagem e pouso únicas são a maior vantagem do JAS 39 sobre outros caças de geração 4 e 4+. Desde início, a aeronave era de-senvolvida para operar fora da se-de, de pistas de comprimento não superior a 800 metros e de largura de 15 metros apenas (por exemplo, a partir de trechos não destruídos das estradas).

Hoje, só se pode conjeturar as ca-racterísticas do caça Gripen E/F pro-duzido em série, porém, é evidente que estas não serão muito diferen-tes das performances da aeronave de demonstração Gripen Demo.

Cabe notar que, ao contrário do caça francês Rafale, hoje, o Gripen tem um "histórico de exportação" excelente, sendo promovido ener-gicamente e com êxito no merca-do aeronáutico mundial. Em 1999, a República da África do Sul celebrou o contrato de fornecimento de 26 aeronaves Gripen C/D. Atualmente, a Força Aérea deste país está ope-rando dez caças Gripen C e oito Gripen D e já foram encomendados mais nove caças Gripen D.

A Tailândia planeja adquirir 12 ca-ças Gripen (seis aeronaves a serem fornecidos em 2012 e outras seis – em 2013). Segundo estimativas, este país precisa de um total de 40 aero-naves deste tipo.

Eddy de la Motte diz que, confor-me se espera na Suécia, os outros compradores potenciais do Gripem na região asiática do Pacífico são Malásia, Filipinas e Indonésia e, den-tro de "um par de anos", é possível que o Vietnam também fique inte-ressado na compra do caça sueco.

Atualmente, a Hungria tem 12 ca-ças JAS 39C e dois aviões de treina-mento JAS 39D (adquiridos em lea-sing à Suécia). Estão sendo realiza-das negociações com a República Checa que, em 2012, tomou uma decisão de princípio sobre a pror-rogação do contrato de leasing dos seus «Gripen» no período posterior a 2015 (hoje, este país opera 12 ca-ças JAS 39С e dois aviões de trei-namento JAS 39D). Está sendo es-tudada a questão de venda des-tas aeronaves à Bulgária, Romênia, Eslováquia e Croácia. Além disso, es-tá sendo considerada a possibilida-de de promoção do Gripen E/F na Dinamarca e nos Países Baixos (em-bora os dois países sejam partici-pantes do Programa F-35).

No salão aeronáutico de Farnborough foi oficialmente anun-ciada a decisão da empresa Saab e do governo da República da África do Sul sobre a inauguração na Base Aérea da FA da RAS (Overberg) do Centro internacional de formação e

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treinamento do emprego operacio-nal dos caças do tipo JAS 39 – GEWS (Gripen Fighter Weapons School). A preparação dos pilotos será vol-tada para operação da futura ver-são multifuncional do Gripen E/F. O programa de vôos de instrução se-rá combinado com um curso teórico aprofundado. Os primeiros alunos (seis ou sete pessoas) devem che-gar ao Centro em outubro de 2013. Segundo Magnus Levis-Ollson, che-fe da filial da Saab na RAS e ex-pi-loto de ensaio desta companhia, "o curso de formação de dois meses será alterado anualmente. Porém, este curso não será uma réplica dos exercícios de treinamento norte--americanos do tipo Red Flag quan-do simultaneamente estão sendo treinados até 20 cenários diferen-tes; o Programa será focado em um dos elementos chave do emprego operacional, reconhecimento à bai-xa altura, emprego do canhão ou ataques aéreos à grande distância". Anualmente, no Centro GEWS serão formadas duas equipes integrando de 6 a 20 pilotos cada.

A RAS (a FA da qual, conforme foi dio anteriormente, dispõe do par-que de aeronaves Gripen), foi esco-lhida para a instalação do Centro de instrução graças às particularidades do clima deste país que oferecem

excelentes condições para a forma-ção de pilotos durante o ano intei-ro. Ademais, na África do Sul é pos-sível um emprego mais largo que na Europa dos equipamentos de guerra eletrônica (EW), bem como há pos-sibilidade de envolvimento no pro-cesso de formação de pilotos das unidades do Exército sul-africano equipadas com mísseis antiaéreos.

O Centro terá salas de aula, de simuladores, edifícios residenciais, além de outras instalações necessá-rias. Ademais, o GEWS deve estar si-tuado ao lado de uma Base Aérea da FA sul-africana operando em re-

gime normal. Na criação do Centro participam a companhia Saab e vá-rias empresas da indústria aeronáu-tica da África do Sul.

Atualmente, a reciclagem profis-sional dos pilotos do JAS 39 é efe-tuada na Base Aérea de Ronneby, Suécia onde estão sendo treina-dos os pilotos da Suécia, República Checa, Hungria e RAS. Os represen-tantes da Tailândia participam na qualidade de observadores.

Desde 1999, a versão biplace do Gripen é operada na Escola de pi-lotos de ensaio da Grã-Bretanha (British Empire Test Pilot School) para

Performances dos caças Rafale e Gripen NG

Tipo de aeronave Rafale Gripen NG

Envergadura de asa, m 10.80 8.40

Comprimento da aeronave, m 15.27 14.10 (sem tubo pitot)

Altura da aeronave, m 5.34 4.50

Superfície da asa, m2 45.70 25.50

Peso da aeronave vazia, kg 10460 7100

Peso de decolagem normal, kg 16500 11200

Peso de decolagem máximo, kg 24500 16000

Peso do combustível nos tanques internos, kg 4700 3300

Peso do combustível em tanques externos, kg 7500 6000

Carga de armas, kg 6000 -

Mach máx. 2.0 1.8

Velocidade máxima junto ao solo, km/h 1390 1320

Velocidade ascensional máxima, m/s 305 -

Teto prático, m 17000 17000

Alcance operacional sem tanques externos, km 2100 2200

Alcance máximo com tanques externos (6600 l), km 3700 4070

Fator de carga máximo 9 9

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treinamento de alunos – pilotos e en-genheiros de ensaio. Todos os vôos são efetuados na base de ensaios em vôo da Saab em Linköping sob a su-pervisão da Força Aérea sueca.

O chefe da representação re-gional da Saab na América do Sul Frederik Gustafson, acha que a vi-tória do Gripen E/F na licitação bra-sileira vai abrir novas perspectivas de promoção deste caça em outros países latino-americanos. Segundo

ele, pode-se esperar que nos próxi-mos cinco anos haja certo progres-so neste sentido.

DASSAULT RAFALEO principal concorrente do

Gripen E/F no mercado brasileiro, o caça Dassault Rafale, é uma das ae-ronaves de combate mais frequen-temente discutidas na mídia inter-nacional nos últimos decênios. Á se-melhança do Gripen, o caça foi de-senvolvido contrariamente à opi-nião generalizada de que um país europeu, mesmo que ostente o títu-lo de "grande", é incapaz de desen-volver e produzir sozinho um avião de combate moderno.

O protótipo de avião levantou seu primeiro vôo em 4 de julho de 1986. Os caças deste tipo fo-ram incorporados pela Marinha de Guerra (Rafale M) e pela Força Aérea

(Rafale C/D) francesa, em 2004 e 2006, respectivamente. Em setem-bro de 2012, as Forças Armadas fran-cesas tiveram em serviço ativo 111 caças Rafale (inclusive 31 caças em-barcados Rafale M). Lembremos que o parque de caças Gripen da FA sue-ca integra 134 aeronaves.

Porém, apesar das grandes espe-ranças dos franceses, durante um longo período de tempo a promo-ção deste caça no mercado aero-

náutico internacional, não foi mar-cada por um êxito algo significati-vo. Neste contexto, em dezembro de 2011, o então ministro da Defesa francês Gérard Longuet declarou que a produção das aeronaves se-ria totalmente congelada, depois do cumprimento integral pela Dassault da encomenda de 180 caças paga pelo MD francês, caso não houvesse contratos de exportação do Rafale. Entretanto, em 31 de janeiro de 2012, o Rafale foi declarado vencedor da li-citação MMRCA (Medium Multirole Combat Aircraft) que previa forneci-mento de 126 caças multifuncionais para a Força Aérea da Índia.

Portanto, a Índia veio a ser o primeiro país (além da própria França) que decidiu adquirir ca-ças Rafale. Porém, embora a França fosse declarada vencedora da lici-tação MMRCA (outro finalista da

qual era mais um caça europeu – Eurofighter EF2000 Typhoon), até hoje, por razões de vária ordem, a Dassault não tem contrato de for-necimento assinado (por isso, as perspectivas reais de compra pe-la Índia dos caças Rafale são postas em dúvida). Os Emirados Árabes Unidos são um outro comprador potencial do caça Rafale (podendo ser adquiridas 60 aeronaves).

Em 5 de Setembro de 2012, no aeródromo da fábrica da Dassault na cidade de Mérignac, levantou seu primeiro vôo o caça Rafale produzido em série (versão bási-ca), equipado do radar embarcado com AESA Thales RBE2. A aeronave, construída para a FA francesa, é da nova série “F3”.

Em fevereiro de 2012, a compa-nhia Thales forneceu primeiro ra-dar embarcado RBE2 AESA produ-zido em série, que equipa o caça Rafale, para a fábrica da Dassault em Mérignac. Anteriormente, a Thales fabricou três protótipos do radar RBE2 AESA, ensaiados em labora-tórios voadores desenvolvidos com base em aeronaves Dassault Mystere XX e Dassault Mirage 2000B, assim como no caça Rafale M, especial-mente equipado para os ensaios do novo radar. A vantagem do novo ra-dar, entre outras, é seu alcance de detecção e aquisição de alvos aére-os aumentado em 50% que permite o emprego sem restrições por Rafale F3 do novo míssil de alcance aumen-tado MBDA Meteor, dotado do mo-tor ramjet (alcance máximo do mís-sil é de 110 km).

Todavia, o diâmetro máximo da seção do cone de nariz radiotrans-parente do Rafale (550 mm), se-gundo os peritos, é insuficiente pa-ra obter, mesmo com o emprego da AESA, o alcance de detecção de alvo, correspondente aos alcances obtidos nos caças F-15, F/A-18E/F ou EF2000 dotados de radares com AESA (i.e., de 160–190 km contra um alvo com RCS de 3 m2). Aliás, o compartimento de radar da aero-nave JAS 39 tem quase as mesmas dimensões. Portanto, pode-se su-por que o alcance de detecção mú-tua dos caças comparados (RCS mí-nima dos quais no plano direcional, segundo os dados abertos, é de 2-3

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COMBATE PELO CÉU BRASILEIRO

m2) seja, mais ou menos, igual, ci-frando-se em 120-140 km.

Ademais, os aviônicos embar-cados do caça Rafale da série F3 integram o Sistema de Alerta de Aproximação de Mísseis por infra-vermelho MBDA DDM-NG de varre-dura onidirecional (ensaios em vôo do DDM-NG a bordo do LV foram ini-ciados em 2010) e o Sistema optrô-nico de varredura frontal modifica-do Thales/Sagem OSF-IT. A escassez de informação não permite compa-rar o desempenho do sistema optrô-nico francês com o do Sistema Selex Skyward-G, previsto a ser instalado no JAS 39 modernizado.

Continua sendo aperfeiçoado o pod de localização de alvos e pon-taria Damocles do caça Rafale. A versão modernizada deste sistema, o Damocles XF, é, segundo afirmam os representantes da Thales, "o me-lhor entre os sistemas do mesmo ti-po no mundo". Tendo as mesmas di-mensões e peso que o seu anteces-sor (280 kg), o Damocles XF é mais eficiente em curtas e médias distân-cias e tem o mesmo desempenho a grandes distâncias. Ademais, o sis-tema adquiriu nova qualidade, i.e., a capacidade de transmissão das ima-gens dos alvos para outras platafor-mas aéreas ou terrestres.

O Sistema informativo instala-do no caça Rafale Block F3 de-ve proporcionar ao piloto a infor-mação onidirecional. O uso do ra-dar embarcado com antena do ti-po AESA para o vôo automático em regime de Terrain Avoidance (TA), segundo afirmam os france-ses, possibilita o vôo do caça mo-dernizado sobre o terreno relativa-mente plano à velocidade de até 1000 km/h à altura da ordem de 20 metros. Convém notar que ini-cialmente (em 1999) a altura míni-ma de vôo do Rafale neste regime era de 150 m. À medida do aprimo-ramento do sistema embarcado, a altura mínima ficou diminuída até 90 metros sobre a terra e até 30 m sobre o mar (2002). Atualmente, estão sendo realizados trabalhos com vista a diminuir estes valores até 30 e 15 m, respectivamente.

Ao mesmo tempo, o Rafale conti-nua sendo aperfeiçoado como pla-taforma. Em 2009, foi tomada a de-

cisão sobre o desenvolvimento do novo motor M88-Eco (M88-3) com empuxo de 9000 kgf que deve ga-rantir à aeronave uma maior razão potência/peso (com peso de deco-lagem normal, equivalente a 1,09-1,10 contra a atual de 0,97) e, conse-quentemente, alta performance do caça, "capaz de atender a todos os requisitos de potenciais comprado-res", segundo afirmam os represen-tantes da Dassault. O uso dos moto-res de maior empuxo no futuro per-mitirá aumentar o peso de decola-gem máximo do caça até 27000 kg (sendo respectivamente aumenta-dos a carga de armas embarcada e o alcance, graças à instalação dos tan-ques de combustível externos).

A comparação de performance dos caças Rafale e Gripen NG per-mite chegar à conclusão de que a aeronave francesa (na atual confi-guração) um tanto supera o caça em razão potência/peso (0.97 con-tra 0.89 com peso de decolagem normal), mas tem a carga sobre a asa um pouco maior (390 e 360 kgf/m2, respectivamente). Porém, estas diferenças não são tão significati-vas para poderem garantir uma no-tável superioridade de um ou ou-tro caça em combate aéreo moder-no. Porém, o caça francês, pelos vis-tos, tem melhores características de aceleração e maior razão de subida inicial que o Gripen NG. Ademais, o caça bimotor Rafale é dotado de um «arsenal» de mísseis mais po-tente e o seu peso de decolagem é 1,5 vezes maior. Todos estes fatores são capazes de garantir a superiori-dade da aeronave francesa em mis-sões da DAA.

As características de alcance de ambos os caças são, mais ou me-nos, iguais. Isto se deve à eficiên-cia de combustível quase idênti-ca dos dois caças (0.45-0.46), sen-do parecidos os seus níveis de per-feição aerodinâmica e muito pró-ximas as características dos moto-res (embora seja possível que o tur-bofan com pós-combustão General Electric F414G, mais moderno e eco-nômico, proporcione certa vanta-gem à aeronave sueca).

O aspecto econômico da lici-tação é um tema a parte. As in-formações disponíveis são escas-

sas. Todavia, sabe-se que as pro-postas de offset da França (caso o Brasil decida comprar os seus ca-ças Rafale) incluem a aquisição pa-ra a FA francesa de 10 aviões de transporte militares médios/aviões--tanque Embraer KC-390. Como res-posta norte-americana a este de-safio francês pode vir a ser a com-pra para a Marinha de Guerra dos EUA de 100 aviões de treinamento Embraer Super Tukano, se o Brasil, por sua vez, der preferência aos ca-ças Boeing F/A-18E/F Super Hornet.

De um modo geral, as aerona-ves propostas ao Brasil pela Suécia e França, são, mais ou menos, equi-valentes. O caça francês supera um tanto o seu concorrente quanto a performance e tem o armamento embarcado mais potente (tanto de ataque ao solo como da classe “ar – ar”), enquanto o caça sueco tem me-lhores características de operação, é capaz de operar das pistas curtas e seu custo é notavelmente mais bai-xo. Portanto, a decisão final cabe ao governo brasileiro.

Vladimir Iline

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46 ● ARMS Defence Technologies Review

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

GLONASS REINFORÇA POSIÇÕES NO HEMISFÉRIO OCIDENTAL

O Brasil passou a ser o primeiro país ocidental com qual as negociações sobre a aber-tura duma estação do sistema de correção diferencial e monitoramento GLONASS levaram a um resultado específico. A abertura da estação de correção em Brasilia é um evento muito sério, porque o sistema de correção diferencial e monitoramento (SCDM), que reune tais estações, constitui uma parte de GLONASS, que não é menos importante do que 24 veículos espaciais. Devido à natureza dos sistemas de navega-ção por satélite, nenhum, o mais perfeito receptor GPS não pode independemente identificar sua localização com uma precisão de ± 5-15 metros em planta, e esta pre-cisão vai mudar sempre de acordo com a geométria de localização dos satélites no espaço, condições atmosféricas e com muitos outros fatores. Na maioria dos casos, tão precisão do posicionamento será insuficiente mesmo para a navegação.

ma das soluções que aumenta a precisão de posicionamen-to dos sistemas GPS e

GLONASS na superfície ou espaço terrestrial, é o sistema de correção diferencial de satélite que propor-ciona dados de monitoramento de uma área determinada, trans-mitidos a partir dum satélite geo-estacionário. Até agora há três sis-temas de satélites do género, que transmitem um sinal diferencial de acesso livre, denominados SBAS – Space Based Augmentation System. Trata-se do sistema WAAS (Wide Area Augmentation System) para o território da América de Norte, sistema EGNOS (European

Geostationary Navigation Overlay Services) para o território da Europa, e sistema MSAS para o território de Japão e alguns países da Ásia Sudeste.

O funcionamento do sistema do serviço diferencial de ampla área pode ser representada no modo seguinte. Estções básicas de moni-toramento de sistema (RIMS) iden-tificam coordenas de cada satéli-te da correção diferencial, e tam-bém realizam rastreamento contí-nuo de todos os satélites NAVSTAR e GLONASS. Seguidamente, as es-tações RIMS transmitem a infor-mação acumulada nas estações de controlo do sistema (MCC). Nas es-tações MCC formam-se correções

Estação do sistema de correção dife-

rencial e monitora-mento GLONASS em

Brasília

U

Gennadiy RaikunovDiretor Geral dos

Sistemas Espaciais Russos

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ENTREVISTA DO DIA

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GLONASS REINFORÇA POSIÇÕES NO HEMISFÉRIO OCIDENTAL

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48 ● ARMS Defence Technologies Review

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

diferenciais e ocorre o cálculo da precisão de sinais dos sistemas de navegação, recebidos por todas as estações de monitoramento e er-ros de posicionamento devido à influência da atmosfera. Depois as correções calculadas são transmi-tidas para as estações de navega-ção da transferência de dados, uni-formemente distribuidas na área de cobertura. As estações são usa-das para formular a informação de navegação e controlar satélites geoestacionários. Em seguida as correções transmitem-se aos saté-lites geoestacionários e passam a ser disponível para utentes de re-ceptores GPS-GLONASS na frequ-ência L1 GPS com a modulação e codificação segundo o padrão do GPS-sinal. Os sinais são gratu-ítos e recebem-se quase por cada GPS receptores, inclusive recep-tores codificados (de navegação).

Estes sistemas aumentam a pre-cisão de posicionamento até ±1-5 metros em plano, que é suficien-te para os objetivos de navegação.

As estações russas SCDM en-quanto nos pontos certos, rece-bem sinais de satélites e, compa-rando-os com seus próprios da-dos, descobrem divergências. Em seguida, a informação é transmi-tida para o centro de SCDM em Moscow, e dali aos dispositivos de utentes, completando desta ma-neira sinais de satélites. Como re-sultado utentes dos navegadores, celulares e outros dispositivos re-cebem sinais de navegação mais precisos. É planejado, que o erro depois de uso de SCDM não ex-cederá um metro. Porém, para o efeito o sistema SCDM deverá in-cluir cerca de 40 estações, e ago-ra há apenas 19, inclusive a recém--aberta estação brasileira. O siste-ma GPS tem mais de centena de tais estações.

Foi ainda na etapa inicial que projetistas da GLONASS traçaram a localização aproximada das es-tações de correção. Todavia, até recentemente as estações foram instaladas apenas no território da Rússia, CEI e na Antártida – em ter-ritório neutro. Desta maneira, fo-ram cobertas hemisférios norte e leste, enquanto o cobrimento de SCDM no hemisfério austral foi in-suficiente, e o hemisfério ociden-tal não tive nenhuma estação do sistema. por fim, em 19 de feve-reiro a primeira estação no hemis-fério ocidental, localizada na uni-versidade da capital brasileira, foi posta em funcionamento.

A estação representa uma an-tena e dois servidores. Os servido-res estão num quarto pequeno – os Sistemas Espaciais Russos (SER) alugam este local da Universidade de Brasília. A estação é automáti-ca, não precisa dum pessoal, e o seu apoio téctico está a cargo de peritos da universidade.

As negociações sobre a insta-lação das estações SCDM em di-ferentes países estão realizandas durante vários anos. Embora acor-dos de princípios fossem concluí-dos com Índia, Espanha, Indonésia e Cuba, até agora uma estação

abriu-se apenas em Brasilia.As restantes estações SCDM de-

verão abrir-se em 2014-2015. Alem disso, mais uma estação vai abrir no sul do Brasil – há um acordo de princípio sobre isto com a par-te brasileira. As negociações com os norte-americanos sobre a ins-talação duma estação na Alasca estão próximas da conclusão, co-mo também com a Indonesia e outros países. No entanto, há ris-co que a concretização demora-rá: o rápido lançamento da esta-ção em Brasilia é em grande par-te o mérito do escritório brasi-leiro da Agência Federal Espacial (Roskosmos) que envidou gran-des esforços a este respeito. Devido ao trabalho do escritó-rio, desde o momento de assina-tura do programa de cooperação na área de uso e desenvolvimen-to de GLONASS entre Roskosmos e Agência Espacial Brasileira até o lançamento da estação apenas passaram apenas seis meses. Além do Brasil, Roskosmos tem escritó-rio similar só na República Popular de China, mas a China desenvolve o seu próprio sistema da navega-ção por satélite BeiDou e é pou-co provável que tem grande de-sejo de ajudar GLONASS a aumen-tar a precisão do seu sinal. Em ou-tros países as negociações podem levar anos.

Não é nenhum segreado que GLONASS, alem de uso civil, tem também a aplicação exclu-sivamente militar. Assim, quanto maior for a precisão, tanto mais segura será a capacidade defensi-va do país. É possivel que também por isso os países do hemisfério ocidental não estão com pressa para autorizar a instalação das es-tações russas. Na verdade, em ter-mos de sinais civis, GLONASS e GPS já cooperam, em vez de com-petir: as estações de correção re-cebem sinais de todos os satélites, tanto de GLONASS como de GPS; alem disso, nos navegadores dos utentes (por exemplo, em iPho-ne) ambos os sistemas são usados com maior frequência, aumentan-do a precisão da leitura.

Olguerd Truhan

A estação na Antártida