argumentaÇÃo jurÍdica =material didÁtico 2013= (1)

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Faculdade de Direito Campus Fernandópolis - SP ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA (Material Didático) Segundo semestre noturno Fernandópolis 2013 Argumentações jurídicas do Ministro

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Page 1: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

Faculdade de Direito

Campus Fernandópolis - SP

ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA(Material Didático)

Segundo semestre noturno

Fernandópolis

2013

SUMÁRIO

Argumentações jurídicas do Ministro Joaquim Barbosa -STF

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PALAVRAS INICIAIS...................................................................................................... 04

1 O QUE É PRECISO SABER ANTES DE UM ARGUMENTO JURÍDICO........... 07

2 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA................................................................. 112.1 O emprego da coerência na argumentação.............................................. 11

3 QUANDO O PESQUISADOR ADOTA A LINHA DA NEGATIVIDADE. . . 15

4 TIPOS DE ARGUMENTOS..................................................................... 184.1 O argumento da reciprocidade................................................................. 184.2 O argumento da transitividade................................................................. 184.3 O argumento da comparação.................................................................. 194.4 O argumento da inclusão da parte no todo.............................................. 204.5 O argumento da divisão do todo em partes............................................. 214.6 O argumento ad ignorantium................................................................... 214.7 O argumento da analogia......................................................................... 21

5 A IMPORTÂNCIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA............................ 235.1 Figuras de linguagem como mecanismos de argumentação................... 255.1.1 Metáfora................................................................................................... 255.1.2 Ironia........................................................................................................ 255.1.3 Antítese.................................................................................................... 265.2 O uso da gramática para argumentar...................................................... 26

6 FALÁCIAS DE ARGUMENTAÇÃO......................................................... 276.1 Falácias de argumentação nas peças jurídicas....................................... 27

7 A NARRAÇÃO E A ARGUMENTAÇÃO - CRITÉRIOS........................... 30

8 REGRAS QUE APERFEIÇOAM A ARGUMENTAÇÃO.......................... 328.1 Os argumentos devem seguir uma ordem de narração........................... 33

9 O PARÁGRAFO E A REDAÇÃO JURÍDICA.......................................... 35

10 O PARÁGRAFO – CONSIDERAÇÕES ESTRUTURAIS........................ 3610.1 Considerações sobre a forma de apresentação dos parágrafos............. 37

11 ESTILOS REBUSCADOS E CONFUSOS.............................................. 4011.1 Frases fragmentadas............................................................................... 4011.2 Frases intercaladas.................................................................................. 4011.3 Frases muito longas................................................................................. 4011.4 Frases confusas....................................................................................... 41

12 O PARÁGRAFO DESCRITIVO, NARRATIVO E DISSERTATIVO......... 4212.1 O parágrafo descritivo na redação jurídica.............................................. 4212.2 O parágrafo narrativo na redação jurídica .............................................. 44

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12.3 O parágrafo dissertativo na redação jurídica........................................... 4612.3.1 Dissertação expositiva............................................................................. 4712.3.2 Dissertação argumentativa ..................................................................... 4712.3.3 A Dissertação – sua estrutura.................................................................. 4812.4 O parágrafo dissertativo – considerações finais...................................... 48

13 COMO FAZER UMA PROCURAÇÃO..................................................... 5013.1 A concordância nominal e verbal............................................................. 5113.2 Cuidado com as expressões Vossa Excelência e Sua Excelência.......... 5113.3 As abreviaturas das formas de tratamento.............................................. 52 14 MODELOS DE DOCUMENTOS DE EXPEDIENTE................................ 57

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO.......................................................................... 64

REFERÊNCIAS................................................................................................... 65

PALAVRAS INICIAIS

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O operador do direito precisa dominar a argumentação jurídica nos dias atuais, não somente porque os seus pares são pessoas acostumadas ao questionamento. Atualmente as pessoas têm mais acesso à mídia e, em razão disso, as informações são mais dinamizadas, além da exigência contínua de do debate, numa realidade em que se exige atendimento às exigências do interesse comum.

Nunca o homem exigiu tanto o conhecimento e a aplicação das técnicas da argumentação jurídica. Quem argumenta melhor sempre tem uma ascendência sobre os demais: na própria família é o que mais recebe atenção de numerários. Nas atividades sentimentais é sempre querido e disputado, pelo fascínio do convencimento, pela ação simpática com que atua nos relacionamentos inter pessoais, nos quais se torna imprescindível: é chamado para tudo, para representar, para fazer, para liderar.

Quem consegue argumentar melhor passa a ser uma pessoa indispensável em qualquer núcleo de atividade humana, pela impressão que se tem de que é mais capaz, sabe mais e tem mais potencialidades.

É possível encontrar espaço para a argumentação em vários segmentos sociais, como o jurídico-dogmático, na estrutura legislativa, quando atinge níveis elevados e nas atividades jurídicas, nas quais é ferramenta da mais alta importância.

No mundo legislativo os parlamentares precisam sempre argumentar com muita competência a fim de que consigam encaminhar os seus projetos ao plenário: eles precisam convencer os seus pares e, na discussão da norma jurídica posicionar-se com profunda variação de argumentos.

Grande polarização foi registrada, no mundo jurídico, as argumentações jurídicas no Supremo Tribunal Federal, por ocasião das discussões sobre as células-tronco, o aborto anencefálico, além de tantos temas interessantes a vida em sociedade.

No contexto político administrativo as discussões sobre os atos presidenciais, governamentais e municipais, são profundas nas argumentações entre a mídia, os senadores, os deputados, os vereadores.

A sociedade é convidada a participar do debate e o faz, com judiciosas argumentações, muitas vezes sem conhecimento jurídico, mas embasadas na vivência e na sabedoria, o que resultou o termo muito conhecido e respeitado: vox populi vox Dei (a voz do povo é a voz de Deus). Diante desse fato os destinatários das atividades públicas precisam produzir respostas bem fundamentadas, opiniões com alto teor de convencimento, a fim de conquistarem a mídia, o povo e os segmentos mais informados e exigentes.

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Há várias discussões sobre não utilização da justiça contenciosa, ou seja, a justiça sobre os interesses em conflito que busca de uma solução sempre tardia, onerosa e ineficiente. Há uma tendência, nos grandes centros, para a composição, através das Câmaras Arbitrais, portanto, a solução de conflitos não mais pelos caminhos jurídicos, mas extrajudiciais.

Há uma grande discussão pedagógica atual sobre o modelo das faculdades de direito. Muitas estão ainda assentadas no ensino jurídico com fortes bases positivistas, pelo estudo contínuo dos códigos, das leis e o aluno é preparado, exaustivamente, para aplicar a lei.

A discussão toma vulto quando surgem novos argumentos, tais como: não é concebível que o profissional do direito seja um simples aplicador do Direito, como se fosse um robô, utilizando-se da venda da Deusa Iustitia, colocando sobre os seus olhos e satisfazendo-se com a sua produção, sem qualquer atenção às necessidades sociais, principalmente num Brasil com tantos contrastes.

O que se destaca observar é que o mundo moderno reclama por um profissional do direito que tenha os olhos voltados para as questões sociais, complicadíssimas, num país que é considerado emergente pelas demais nações, mas que precisa ainda crescer em várias áreas, principalmente, na da educação.

Os queridos alunos não podem desconsiderar que a argumentação jurídica caminha, de braços dados com o direito, mas a sua meta maior é obter uma solução que contribua pelo estabelecimento da justiça.

Cada vez mais é preciso considerar que há uma relação muito estreita entre a atividade argumentativa e as decisões que venham solucionar os conflitos sociais, geradores dos conflitos jurídicos.

Não se enganem os nossos discentes. A prática diuturna do mundo jurídico tem uma estreita ligação com as ações pessoais, as condutas comportamentais dos operadores do direito. A melhor argumentação é, primeiramente, a forma como vive o profissional, pois ele será convincente pela grandeza de sua atuação jurídica: convence pelo que pratica e não pelo que somente argumenta. O que se conclui que a argumentação é forte e insofismável quando é acompanhada de credibilidade comportamental.

Daí a importância do Magistrado fixar residência na sede do exercício judicante, assim como o Promotor de Justiça viver no ambiente no qual produzirá as suas decisões em razão do cargo, como o Delegado de Polícia conhecer as tradições e vivências sociais. Os argumentos desses profissionais, nos conflitos transformados em processos, passam a ter uma fundamentação ímpar, aos quais se inclinam os tribunais superiores, quando da utilização do duplo grau de jurisdição.

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Respeitados alunos, a argumentação jurídica passa a ser discutida pelo Professor e tem uma forte aplicação que é fortalecer a linguagem, que pode ser escrita ou falada, a fim de que seja possível justificar uma tese dentro do direito, com as suas razões doutrinárias ou jurisprudenciais.

Há de haver um problema e, em razão disso, a busca de uma solução, através de algumas hipóteses, todo esse esforço com argumentação e, por se tratar do mundo do direito, de natureza jurídica. Sempre há duas posições que se tornam antagônicas, porque divergem sobre a forma de solução do conflito ou litígio.

Dessa forma o operador vai desenvolver um processo chamado de argumentação, com um rol de elementos interessantes, que no caso são chamados de argumentos. Eles determinam os enunciados que serão estudos em Lógica, no segundo semestre: a premissa maior (embasada na lei), a premissa menor (o fato comportamental de natureza jurídica) e a conclusão (solução final do conflito ou litígio). O operador deve estudar o conflito e encontrar, na doutrina ou na jurisprudência, os seus argumentos, quando mais sólidos melhor para a vitória judicial.

Conclui-se que você, estudioso discente, precisa estudar muito, buscar sempre argumentos sólidos, bem meditados, a fim de que eles possam contribuir para decisões jurídicas justas, que realmente reequilibrem o meio social e ensejam a paz aos relacionamentos da sociedade.

Para tanto você deve estar, de forma sempre ascendente, ligado com os valores sociais que emergem dos relacionamentos entre as pessoas. Estar atento à realidade social, suas culturas, suas tradições, seus costumes jurídicos, suas necessidades e projetos. Com bons conteúdos argumentativos você participará do processo de decisões com mais agilidade, com enorme criatividade e com invulgar competência na busca dos fundamentos jurídicos a fim de que se faça JUSTIÇA.

Professor Luiz Carlos Barros Costa2013

1 O QUE É PRECISO SABER ANTES DE UM ARGUMENTO JURÍDICO

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Existem alguns conselhos ao argumentador quando for documentar suas ideias, raciocínios e contribuições, embora muito surrados no mundo jurídico. Muitos deles, porém, devem ser revistos.

Hoje, já não se fazem distinções teóricas entre discurso e linguagem, frase e enunciado, entendendo-se a atividade linguística em sentido mais abrangente, sempre significando, no entanto, uma produção linguística (texto) realizada em determinada situação (contexto), sujeito a relações intertextuais (intertexto), resultando, por isso, em diversos tipos de textos que exigem, para sua coerência e inteligibilidade, coesão (unidade globalizante da mensagem). (DAMIÃO; HENRIQUES, Atlas, 2007).

Para que o texto tenha eficácia é preciso que a sua leitura proporcione ao leitor compreensão e retenção sobre o seu conteúdo. O que muitos autores dizem a respeito de uma boa argumentação jurídica é que ela tenha legibilidade, ou seja, o receptor a absorve com rapidez, facilmente a compreende e, a partir daí, inicia-se o caminho extraordinário da memorização.

É que a finalidade de convencer – objetivada numa peça jurídica – não se obtém nem procurando impressionar o leitor com um grande número de páginas consecutivas, repletas de argumentos idênticos de conteúdo ou simplesmente análogos; nem com largas transcrições doutrinárias e jurisprudenciais repetitivas (que uma mera remissão substituiria, no máximo transformando-as em anexos do texto, se necessário); nem com o exagero de adjetivos qualificadores ou de circunstâncias adverbiais inexpressivas; nem com a exibição de sinônimos ou de pleonasmos sem vigor. (SARAIVA, Consulex, 2006).

Muitos conselhos são enfáticos: as frases curtas levam a uma boa compreensão, assim como os adjetivos e os advérbios são dispensáveis. Continuam os conselhos, corte as palavras sem sentido, tais como fato, aspecto, elemento, além de outras.

Qualquer usuário do Microsoft Word tem acesso a um teste de legibilidade de Rudolf Flesch, com uma tabela que é tida como muito importante.

Nas revistas científicas e profissionais o nível de dificuldade é considerado muito difícil, por reunir acima de 30 vocábulos por frase.

Nos trabalhos acadêmicos o nível de dificuldade é considerado difícil, por reunir entre 25 a 29 vocábulos por frase.

Nas revistas semanais o nível de dificuldade é considerado padrão, por reunir entre 17 a 24 vocábulos por frase.

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Nos jornais o nível de dificuldade é considerado fácil, por reunir entre 13 a 16 vocábulos por frase.

Nas revistas de quadrinhos o nível de dificuldade é considerado muito fácil, por reunir 12 ou menos vocábulos por frase.

[...] os textos simples, bem elaborados e de tamanho adequado ao conteúdo, por contraste, passaram a brilhar intensamente, mostrando-se muito mais eficazes para convencer ou rebater os argumentos do adversário. O bom advogado logo percebeu que, mais uma vez, é a qualidade do texto que importa, não a quantidade de páginas escritas. O próprio juiz, ao julgar, também aumenta sua eficiência e é entendido com mais facilidade se utilizar o caminho da simplicidade e da boa redação jurídica. (MORENO; MARTINS, Ática, 2002).

Na argumentação jurídica a utilização de poucos vocábulos pode não ser uma estratégia positiva. O texto jurídico precisa ter forte conteúdo persuasivo, além de uma fraseologia envolvente e criativa no afã de convencer, quer com a absolvição do cliente, quer com a condenação do réu, quer para não onerar-se com as penalidades financeiras em razão do não cumprimento das cláusulas de um contrato.

Com poucos vocábulos é possível escrever um bom texto ao jornal da cidade, uma cartilha sobre os direitos do consumidor ou um elenco sobre as qualidades de um conferencista no convite de sua palestra jurídica.

Um operador do direito não poderá lançar mão desses conselhos. A peça judicial ou administrativa é muito complexa e precisa envolver o leitor, que na maioria das vezes é um profissional: advogado, procurador, juiz, promotor, delegado, exator, diretor, síndico, prefeito, vereador, empresário etc.

Num crime de homicídio, no qual fosse narrar a conduta do agente numa situação de legítima defesa, com a utilização dos conselhos mais comuns, observados amiúde, sobre a necessidade de não se produzir frases longas, teríamos esta peça:

O acusado estava sem proteção e exposto à luz, pelo que reagiu. Não houve excesso ou dolo, mas apenas legítima defesa. A arma utilizada foi a única de que dispunha, qual seja, uma faca. Ocorreu a hipótese permissiva no art. 23, II do Código Penal. O réu deve ser absolvido. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 83).

Porém, quando um advogado se inclina a escrever uma peça judicial, principalmente sobre a narrativa de um crime de homicídio, no qual o seu cliente

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agiu escudado pela legítima defesa, ele se preocupa em convencer os técnicos jurídicos que lerão a sua produção. Há de ser uma obra de arte.

É preciso conquistar o pensamento, as ideias e as convicções dos destinatários do petitório. O ideal é que os profissionais do direito sejam testemunhas de um fato que o advogado vai narrar, ou seja, os induza a compreender os acontecimentos como estão expostos no documento. Eis o que resultou no convincente pedido, com mais palavras em relação ao acima escrito, mas, por certo, com perspectiva de pleno êxito:

Ao sentir-se atacado e, ao mesmo tempo, desprotegido por estar exposto à luz de um poste de iluminação pública, a vítima esboçou uma reação. Valendo-se de uma simples e pequena faca, praticamente sem fio e usada no trabalho do campo, defendeu-se como pôde, acabando por ferir o agressor. A morte do infeliz marginal (também uma vítima dos problemas sociais) não foi desejada pelo agora acusado, que em momento algum deixou de ser exatamente isto: uma vítima. Assim, não houve excesso culposo ou doloso, mas apenas uma fatalidade que em momento algum foi desejada; por força de tais motivos, peço a absolvição. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 82).

Portanto, não se utilizam frases curtas, apenas e tão somente para que o texto tenha legibilidade. Temas complexos merecem frases complexas, embora com vocábulos de fácil compreensão.

Frases curtas podem ser utilizadas para transmitir ideias singelas e situações claras. Contudo, temas complexos e fatos confusos exigirão mais sutileza e uma maior elaboração do texto, para tornar simples e compreensível o que é difícil e obscuro. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 84).

Outra preocupação do operador do direito é com a persuasão, ela será a grande estrela do texto! Eis outro exemplo, ou seja, uma divisão de uma idéia em unidades menores compromete a conquista da simpatia do envolvimento, o que se poderia dizer: há um pouco de sedução em convencer.

Muitos afirmam que a proibição da venda de armas diminuirá os crimes violentos. Contudo, o cidadão de bem pode possuir uma arma sem cometer um homicídio. Estão equivocados os defensores do desarmamento. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 85).

O argumentador hábil não escreveria assim as suas ideias, por uma razão simples: deseja convencer. Ele aplicaria a sua técnica: seduzir o leitor e conquistá-lo sem o confronto, a pugna ou a disputa que enrijecem os músculos e envilecem os sentimentos.

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Para tanto é preciso destacar a concisão de um texto.

Habilmente, dispõe-se a trazer uma contribuição: não é correto afirmar que a proibição da venda de armas possa diminuir a violência. Para reforçar este raciocínio, apresentou outro muito forte: todo homem de bem pode ter uma arma e este fato não aumentaria o índice de criminalidade. O raciocínio sobre a negação foi colocado em primeira plana mental, mas logo enfraquecida, atenuando-o, ressalvando-o com muita habilidade. Eis o texto convincente:

Embora muitos afirmem que há uma estreita relação entre a proibição da venda e da posse de armas com a diminuição estatística dos crimes violentos, todos sabem que um cidadão de bem pode possuir uma arma por toda a sua vida sem que, com isso, aumente a possibilidade de vir a cometer um homicídio, como querem os defensores do desarmamento. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 84).

2 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

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Quando houver a necessidade de argumentar, principalmente na área do direito, é necessário que seja bem realizado o raciocínio jurídico de forma linear, facilitando a compreensão do destinatário da intervenção judicial.

A argumentação jurídica é uma forma típica de raciocínio.

[...] argumentar é fornecer motivos e razões dentro de uma forma específica. O pensamento jurídico baseia-se na discussão de problemas que aparentemente permitem mais de uma resposta e que pressupõe necessariamente uma compreensão preliminar e provisória. Argumentar é tecer argumentos, aduzir os raciocínios que constituem uma argumentação, um modo específico de raciocinar que procede por questionamentos sucessivos. (FETZNER, 2004, p. 125).

O raciocínio utilizado na argumentação jurídica não será o indutivo (processo desenvolvido a partir de fatos particulares para uma conclusão de ordem geral, com conteúdos muito amplos).

Também não será o dedutivo que se desenvolve de uma verdade sabida ou admitida a uma nova verdade. É um conhecimento que se obtém de forma inevitável e sem contraposição.

Mas será o raciocínio dialético uma vez que parte da análise dos opostos e da interposição de elementos diferentes. É profundamente crítico, analisando os pontos de análise contrários na busca de uma síntese a mais próxima da realidade ideal.

A técnica argumentativa é utilizada a partir de uma realidade social ou jurídica que necessita de esclarecimentos doutrinários visando uma solução de conflitos gerados pela complexidade da norma ou de sua ausência, pela inadiável interpretação de um texto legal ou pela adequação da norma já existente a um fato social novo ainda não legislado.

A argumentação jurídica desenvolve técnicas e para ofertar a sua contribuição, produz relações lógicas da temática com as circunstâncias que as produziram, constrói uma ponte de reflexão com as demais áreas de conhecimento, com exercícios inter e multidisciplinares que ensejam soluções viáveis, objetiva resolução da problemática dentro da mais aproximada realidade social com respaldo nas regras jurídicas contidas no Direito.

Desconstrói-se, pois, a ideia de que, na argumentação, o enunciante tem a sua tarefa comprometida apenas com a formulação e a organização de argumentos que sirvam à acusação ou à defesa: ele precisa submeter-se a um acordo que garante aos interlocutores a alternância das atividades de ambos, sem o que não adiantam os

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argumentos mais brilhantes e o raciocínio mais bem estruturado. É preciso, enfim, que o acordo gerencie o confronto argumentativo porque, na verdade, são sistemas de referência diferenciados que se batem pela construção de um sentido possível de justiça. E esse embate é de ordem ideológica. (VOESE, 2007, p. 108, grifo nosso).

O que se conclui é que o operador do Direito deve se ater às técnicas argumentativas que sejam bem recepcionadas pelos estudiosos do mundo jurídico pela suposição de que são soluções possíveis, não utópicas. Essas soluções são úteis na direta proporção que oferecem contribuições à paz social, à solução dos conflitos, à melhor interpretação de um texto legal, à adequação da norma existente a um fato social novo ainda não legislado.

Dessa forma, quando um operador do direito constrói uma versão sobre um fato jurídico, apenas apoiada em provas e indícios sem base argumentativa, com superficial apoio em um doutrinador, sem comparação com os demais, sem atenção a uma súmula (apenas a uma ou outra jurisprudência), sem qualquer análise sobre qual é o entendimento dos tribunais, faz apenas uma pesquisa e interpretação do fato, mas jamais uma argumentação jurídica.

O operador do direito argumenta juridicamente quando busca a coerência histórica, doutrinária e jurisprudencial (não se contrapõe aos pressupostos científicos). Torna-se indispensável utilizar-se a coesão, ou seja, os conteúdos inter e multidisciplinares (o primeiro dentro do ordenamento jurídico e o segundo na busca de conhecimentos fora do direito) com as ferramentas do discernimento, a fim de que a contribuição tenha compatibilidade com os princípios gerais do direito.

Uma argumentação jurídica verdadeira demonstra e descobre verdades, como pode ainda testar hipóteses. Deve ter consistência e credibilidade com as seguintes etapas:

a) para realizar interpretações aceitáveis e defensáveis é preciso que o operador de direito faça referência a obras competentes, específicas e abrangentes;

b) atenção especial aos termos jurídicos que apresentem definições específicas entre os seus sentidos em relação à temática desenvolvida.

2.1 O emprego da coerência na argumentação

Quando um pesquisador se debruça sobre um tema, para demonstrar e descobrir verdades, além de testar hipóteses, não pode dispensar a coerência. Um trabalho sem coerência produz contradições, sutis ou veementes.

Uma ideia que seja desenvolvida no início do trabalho pesquisado deve seguir o seu curso de forma cristalina até a conclusão, como um bloco único e definido.

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Assim, o pesquisador assume um compromisso sério e retilíneo com uma referência social que seja aceita pela maioria respeitável de doutrinadores e segue com ela, como se fosse bússola do seu trabalho.

As contradições são efeitos evidentes de que o pesquisador não se empregou no esforço interpretativo talvez porque não se encontrava claramente convicto. Ao pesquisar as obras doutrinárias descuidou-se da observação sobre as necessárias convergências ou pertinências com o objetivo central da problemática escolhida.

As contradições também são originadas porque não facilitam a compreensão dos objetivos da argumentação talvez por não possuírem uma lógica correta (nada mais infeliz que um trabalho ilógico), ou seja, não há relação visível e compreensiva entre as obras pesquisadas e os sentidos que foram escritos.

Trabalho sem coerência, condenação certa e fracasso à vista! As obras consultadas são fracas, não possuem consistência e, em razão disso, levam o pesquisador a cometer contradições e ambiguidades. Com as contradições o trabalho jurídico não terá credibilidade, ou seja, todo o esforço foi em vão.

Para o advogado, que necessita ser preciso em tudo aquilo que escreve, não existe perigo maior do que a ambiguidade. Uma frase (ou parte dela) é ambígua quando pode dar lugar a duas interpretações legítimas, como é o caso do exemplo a seguir: O réu negou que tivesse confessado a autoria do furto durante o depoimento. O responsável pela ambiguidade é o adjunto adverbial durante o depoimento; ali onde se encontra, no final da frase, deixa-a passível de duas interpretações, pois pode se referir tanto ao verbo negar (significado A), quanto ao verbo confessar (significado B). Isso pode ser facilmente verificável se o trocarmos de lugar: Durante o depoimento, o réu negou que tivesse confessado a autoria do furto. O réu negou que tivesse, durante o depoimento, confessado a autoria do furto . (Moreno; Martins, 2006, p. 203, grifo nosso).

Um trabalho coerente escolhe com precisão os conceitos que produzirão raciocínios corretos e abalizados. Referências abalizadas e com prestígios nas obras pertinentes, específicas e que tenham abrangência, a norma jurídica referida editada, em vigor e com eficácia, uma jurisprudência que seja convincente, com uma presunção jurídica que tenha solidez no mundo do direito.

Três são as fases pelas quais se estabelece a coerência do pensamento consigo mesmo: primeiramente, apreende-se uma ideia; em segundo lugar, afirma-se ou nega-se uma relação entre duas ou mais ideias, formando um julgamento ou juízo; e por último, perfaz-se o raciocínio, ou seja, relacionando-se esses juízos, a fim de culminarem necessariamente numa conclusão. Ora, todas essas

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fases se processam ampliadas no ato de redigir. Todavia, uma peça jurídica, por sua natureza, tem uma peculiaridade: ser a própria arte do diálogo – de um duplo diálogo, aliás: em primeiro lugar, de um diálogo consigo mesmo, pois é diante de si que se acha proposta a questão, cuja solução se impõe, obrigando a pensar por si e para si mesmo, mesmo quando é preciso investigar elementos para a própria convicção, onde quer que se encontrem; somente depois de solucionada a situação problemática é que o relator se encontrará à altura de convencer seu receptor à distância, quando e onde a mensagem se transformará num autêntico campo de discussão entre ambos, caso seja bem elaborada, como se estivessem presentes, face a face. Inútil, porém, se a peça não tiver sido forjada com lógica, isto é, num travamento tão coeso das ideias (nomeadamente na argumentação) e tão coerente entre seus períodos e parágrafos, que a tornem idealmente irrespondível. (SARAIVA, 2006, p. 89).

A coerência textual não é apenas uma soma de enunciados.

Os falantes de uma língua têm capacidade de distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de enunciados. E esta competência é linguística. Todo falante é ainda capaz de parafrasear um texto, de resumi-lo, de atribuir-lhe um título, de produzir um texto com base em um título dado e de distinguir um texto segundo os vários tipos de texto (distinguir um texto científico de um de comentário esportivo, por exemplo). (MEDEIROS; TOMASI, 2010, p. 109).

3 QUANDO O PESQUISADOR ADOTA A LINHA DA NEGATIVIDADE

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É extraordinária a contribuição do livro Português para convencer, dos autores Cláudio Moreno e Túlio Martins.

Nos debates jurídicos os fatos, ideias ou argumentos precisam ser negados a fim de que o operador convença o julgador ou os leitores de que os fatos, ideias ou argumentos agora apresentados, são mais importantes, porque próximos da verdade.

Para que você, nobre acadêmico (a) tenha sucesso num debate, é preciso que apresente uma argumentação contundente e sem reparos. Caso sejam bem usadas, as três estratégias são as mais eficazes.

Quanto à negativa dos fatos, há de se provar que algo pode não ter acontecido ou se aconteceu, pode ter sido de forma muito diferente da que foi narrada, os acontecimentos reais não vieram ao conhecimento, até então.

Quanto à negativa do direito a argumentação correta será sobre a regra cominada ao caso, que não pode ser aplicada como foi sugerida pelo advogado adversário, mas sim uma outra mais próxima da verdade real.

Quanto às consequências do fato jurídico a relação de causa e efeito será bem diversa daquela sugerida pela outra parte. Reconhece os fatos como realmente foram narrados, não oferta outra regra jurídica. Em síntese, não se contesta os fatos, afinal são irretorquíveis, a regra cominada é aceita, mas na sua aplicação o resultado objetivado deve ser outro, completamente diferente.

Há uma estratégia de argumentação que não se pode aplicar qualquer esforço, porque não há nada a fazer:

Quando à negativa geral - não tem necessidade de plena argumentação porque os fatos devem ser negados totalmente, como também o direito mencionado, sem tanta preocupação com a fundamentação. Esta posição é quando não se tem nada a produzir, os fatos, os argumentos e as consequências são muito fortes e não existe outro recurso: partir para a negativa geral.

Na arte da argumentação, faz-se necessário o conhecimento de recursos retóricos que podem ser utilizados na comunicação de ideia e emoções através da palavra. Cremos que a utilização desses recursos aliada ao uso de bons argumentos pode ser uma ferramenta muito útil para o advogado que tenta, através da força de sua palavra, vencer as batalhas verbais que enfrenta no dia-a-dia de seu ofício. (FETZNER, 2004, p.11).

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Os advérbios utilizados nas negativas são os advérbios: não, nunca e jamais. Também utilizáveis a conjunção nem, como os pronomes nada, ninguém e nenhum.

Não foi vislumbrada nenhuma nulidade possível no procedimento. Os serventuários não entregaram nada a ninguém. As testemunhas não entenderam nada.

Diferentemente da matemática (‘–’ menos com menos ‘–’ dá mais ‘+’), na linguagem jurídica os termos negativos são ainda mais reforçados. O ideal seria espalhar na frase os vocábulos negativos, ao invés de reuni-los num só lugar.

Podemos encontrar construções como “Não devo nada a ninguém”, “Não quero saber de nada”, “Nunca vi nada parecido”, e assim por diante, em todos os bons escritores, inclusive no maior de todos eles, o incomparável Machado de Assis. Nos mais antigos, deparamos com formas mais radicais ainda: por volta de 1500, Gil Vicente escrevia “Nem tu não hás de vir cá”; “A ninguém não me descubro”; “Nem de pão não nos fartamos”. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 167).

Assim, quando for utilizado um termo nenhum é indispensável que se utilize antes a palavra não: “Este escritor não é nenhum Miguel Reale” – “Não encontrei na peça nenhuma prova”.

Ainda há o reforço do termo não quando a argumentação é feita verbalmente, no final da frase: “O professor não sabe nada, não”. Lógico que, ao se escrever um termo jurídico, não se utiliza esse reforço negativo. Quando o abuso das negativas é utilizado há uma dificuldade de interpretação do texto, como pelos exemplos dos autores citados:

Não se pode negar que nenhuma ação involuntária não é incomum no crime de dano. – Foi negado o recurso contra a decisão que proibia o indeferimento de fornecimento de certidão tributária negativa com efeitos de positiva. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 168).

Somente uma forma possível é empregada para entender essas complicações. É quando o pesquisador faz um desmonte semântico, com exame de cada termo, individualmente, juntando-os a seguir às demais. Negativas tão abusivas não devem ser utilizadas porque o leitor terá imensa dificuldade para compreender uma frase assim construída.

Com o desmonte semântico esta frase, “Não se pode negar que nenhuma ação involuntária não é incomum no crime de dano”, pode ser compreendida assim:

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Toda a ação voluntária é comum no crime de dano (não se pune o crime de perigo no crime de dano). Portanto, não se pode negar que toda a ação voluntária é comum no crime de dano.

Com o desmonte semântico esta segunda frase, “Foi negado o recurso contra a decisão que proibia o indeferimento de fornecimento de certidão tributária negativa com efeitos de positiva”, pode ser compreendida assim:

a) Era expedida certidão tributária negativa com efeitos de positiva.b) Houve decisão que proibia indeferir a sua expedição.c) Pois bem, foi interposto recurso contra esta decisão.d) Finalmente, foi negado o recurso interposto.

Interessante a observação lapidar de que a negatividade deve se apoiar em fundamentos jurídicos consistentes.

Numa decisão jurisprudencial a linha de negatividade do douto magistrado baseou-se no princípio fundamento do direito penal de garantias, pela intangibilidade da consciência moral da pessoa. Nega-se provimento ao apelo com essa lição memorável:

O mestre argentino, citado por Lenio, na esteira de Ferrajoli, advoga a abolição da reincidência no Direito Penal: ‘quando o discurso jurídico-penal pretende legitimar a sanção ao homem pelo que é e não pelo que fez, quebra um princípio fundamental do direito penal de garantias, que é a intangibilidade da consciência moral da pessoa, sustentada com a mesma ênfase através de argumentos racionais e religiosos: trata-se de uma regra laica fundamental do Estado de Direito e, ao mesmo tempo, da proibição ética de julgar evangélica (Mateus, VII, 1; Paulo, Epístola XIV, 4) (http://andreischmidt.análisesjurisprudenciais.uol.com.br).

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4 TIPOS DE ARGUMENTOS

4.1 Argumento da reciprocidade

É a aplicação de uma aproximação entre dois fatos ou ideias, como podem ser dois valores, podendo se obter o mesmo tratamento ou julgamentos a ambos. Quando se invertem as posições, a simetria entre os dois não é diminuída.

No argumento da reciprocidade exige-se um sistema de referência produtivo e competente, assim como a linguagem deve ser lógica, como a expressão: Se a é igual a b, então b é igual a a.

Um exemplo de argumento da reciprocidade é o seguinte: pela fragilidade, os pais devem oferecer proteção aos seus filhos. Na velhice, os painéis se invertem, os filhos devem oferecer proteção aos seus pais, pela mesma argumentação: fragilidade.

São estudados dois termos em particular: o que significa dependência e fragilidade. A partir do momento em que os dois são recíprocos tanto aos pais como aos filhos, o argumento da reciprocidade se impõe.

Resumindo, no argumento de reciprocidade se aplica o mesmo tratamento a duas realidades jurídicas correspondentes. De forma recíproca são assimiladas situações aparentemente correspondentes.

Por esse argumento se aplica o mesmo tratamento a duas realidades jurídicas correspondentes. De forma recíproca são assimiladas situações aparentemente diferentes, dando-se o mesmo tratamento jurídico a elas. Assimilam-se as situações diferentes, tidas como simétricas, com o mesmo aplicativo jurídico. Por relação afetiva simétrica se entende que uma mesma relação pode ser afirmada tanto entre b e a como entre a e b. As ordens podem ser invertidas que são distribuídos os mesmos fundamentos jurídicos às partes envolvidas. . 4.2 O argumento da transitividade

Acompanhando o raciocínio a respeito das posições de reciprocidade, pode gerar um argumento de transitividade, ou seja, as relações entre a e b podem existir em relação a b e c, através das relações de igualdade, de superioridade, de inclusão e de ascendência que são relações transitivas.

[...] embora seja discutível sustentar que “Os amigos de nossos amigos são nossos amigos”, a ideia pode ser trabalhada, insistindo que a verdadeira amizade deveria ser assim. O enunciado pode servir de referência a um raciocínio, o que quer dizer que este tem fundamento no modelo que sustenta a transitividade, pois a implicação é uma das mais importantes relações transitivas e pode

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ser avaliada socialmente em diferentes áreas ou práticas sociais. (VOESE, 2007, p. 55).

O apoio ao argumento da transitividade está na prática do silogismo jurídico:

Não deve ser condenado (= a) aquele que mata em legítima defesa (= b); ora, João (= c) matou em legítima defesa (= b), logo, João (=c) não deve ser condenado (=a). A dificuldade de ordem linguística reside, em primeiro lugar, na delimitação do sentido da expressão legítima defesa e, segundo, adotar a referência para interpretar o ato de João. (VOESE, 2007, p. 56).

Portanto, a transitividade é uma propriedade que reconhece que entre os termos A – B e B – C, há a mesma relação, ou seja, entre os termos A e C existem as relações de igualdade, de superioridade, de inclusão, de ascendência, portanto, há RELAÇÕES TRANSITIVAS.

4.3 O argumento da comparação

Aqui a comparação é sobre uma imagem, ou seja, a vítima, a testemunha, o julgador, o réu. Também pode ocorrer a comparação sobre um fato ocorrido, como um delito hierarquizando a correlação, com outras versões ou imagens.

Em cada comparação há uma produção de argumentos, a favor ou contra o que está sendo julgado. Caso o interesse é obter uma condenação buscam-se imagens ou referências que tem apoio e correspondência social.

Quando se procura realçar a condenação do réu no crime de homicídio, lança-se mão de sua conduta violenta em relação à conduta da esposa, proba e sem qualquer provocação.

Quando o interesse é obter a absolvição, a conduta da vítima será estimulada como sendo se tivesse desencadeado o crime, tentando-se a prova de causa central do crime: logo após a injusta provocação da vítima.

A comparação é considerada uma estratégia de persuasão porque possibilita ao sujeito do discurso apresentar os objetos comparados de acordo com sua preferência e suas intenções persuasivas. Através desse recurso, o enunciador induz o ouvinte à aceitação de sua opinião. Consiste em confrontar duas verdades e concluir sobre a relação que existe entre elas. (FETZNER, 2004, p. 16).

Ao efetuar o raciocínio da comparação o esforço será a produção de uma imagem (réu, vítima), assim como uma versão de um fato (um delito, uma legítima defesa), com correspondências com outras imagens ou versões, a fim de que seja realizada uma conclusão.

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Cabe ao argumentador a tarefa de fazer as escolhas das imagens ou versões com as quais organizará a sequencia escalar que servirá de parâmetro de avaliação, o que, de certa forma, corresponde à escolha das referências com as quais ele estruturará o raciocínio. A comparação passa, portanto, a produzir argumentos, quer seja a favor, quer seja contra o que está sendo julgado: se se quiser condenar, a escolha, para fazer o cotejo, deverá privilegiar aquelas imagens (referências) que têm um conceito elogiável no instituído social. E o inverso ocorrerá quando o objetivo for o de defender: o cotejo do que está sendo julgado será feito com o que houver de condenável no imaginário do auditório. (VOESE, 2007, p. 56).

4.4 O argumento da inclusão da parte no todo

O argumento é tentar provar o seguinte: a presunção de que o que vale para o todo vale igualmente para as partes.

Utilizar-se-ão os termos “se ... então”. Além desses termos haverá uma imensidão de sentidos para a sustentação do “se”, ao tentar buscar todas as partes que tenham determinado tipo de relações com o todo.

A primeira questão é estabelecer o que é todo e quais as suas partes. A seguir determinar se estas partes têm relações entre si e se estão vinculadas ao todo.

Uma lei que tem validade para o todo, valerá, pelo argumento da inclusão da parte no todo, que poderá ter validade para as suas partes integrantes. Ora, o todo se compõe de partes. Caso as partes possuírem relação de igualdade, haverá uma relação lógica de que elas estão incluídas no todo.

A produção ou o controle de sentidos refere-se, pois, a definir o que é o todo, quais são as suas partes e quais são as relações que elas mantém entre si de modo a que se submetam ao todo. Por exemplo, na argumentação jurídica, é frequente encontrar a tese de que, se a lei vale (ou não) para o todo, também vale (ou não) para cada parte. (VOESE, 2007, p. 57).

Uma indústria contratou os empregados há anos. O todo é a indústria, os empregados fazem parte dela. Ora, quando ela é alienada por outros empresários, pressupõe que os empregados não perderão o vínculo empregatício, porque são parte do todo. Em sã consciência não haverá demissão coletiva. Os novos diretores assumirão a responsabilidade a partir de então, mas as partes não perderão os direitos reclamados ao tempo dos antigos proprietários.

Parte-se do pressuposto de que o todo se compõe de partes que têm entre si uma relação de igualdade, o que, especialmente no Direito,

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necessita de uma série de procedimentos interpretativos dos fatos, de modo a que se convença o auditório de que essa relação lógica é sustentável. Qualquer deslize ou impropriedade interpretativa fragilizará a argumentação. (VOESE, 2007, p. 57).

4.5 O argumento da divisão do todo em partes

O trabalho neste argumento é inverso do anterior, uma vez que o raciocínio correto passa a ser o todo sendo a soma das partes. A soma é a relação que sustenta o todo. O que não faz parte de nenhuma espécie não faz parte do gênero.

Essa técnica pode, por isso, produzir argumentos positivos, valendo-se de todos os efeitos que se pode tirar, primeiro, das interpretações realizadas, e, depois, das operações de soma e subtração e de suas combinações como, por exemplo, tentar sustentar que uma comunidade está à mercê das drogas (ou de bandidos etc.), alistando e quantificando exaustivamente os bairros que acusam o fato, ou que alguém apresenta uma boa (ou má) conduta social produzindo versões boas (ou más) de atos isolados seus. (VOESE, 2007, p. 57).

Utilizam-se estatísticas e formulações de tabelas e com as atividades argumentativas fixam-se sentidos convincentes sobre uma certeza, por exemplo, que esses recursos (estatísticas etc.) possuem prestígio demonstrativo e dão contornos de verdade às argumentações.

4.6 O argumento ad ignorantium

Muitas vezes faltam condições para uma grande e ampla discussão e, em razão disso, o argumentador pode formular argumentos convincentes à tese, mas desafia o público para que apresente o que se pode contrapor a eles.

O argumento é eficaz, por uma precisa razão, há um impasse registrado nos momentos de análise e intervenção dos conflitos, quando não ocorrem situações de impasse ou dificuldades que determinam um retardamento do avanço do julgamento, embora sejam ações que elas precisam de soluções que devem ser tomadas com urgência.

4.7 O argumento da analogia

O argumento da analogia apoia-se numa das relações de igualdade: a = b, como c = d. Há resistências por alguns doutrinadores, mas é certo que o argumento pode ser aceito como elemento de prova na direta proporção que aponta para uma igualdade de relações entre os indivíduos. Quando a argumentação se utiliza da analogia objetiva as semelhanças, nunca as diferenças. Escolhido um enunciado,

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passa o argumentador a produzir uma relação de semelhança. Eis o exemplo retirado da doutrina:

Assim, se o argumentador escolher um enunciado como, por exemplo, “Agredir a mulher é como agredir o membro central da família e, por isso, a célula da sociedade”, estará construindo uma relação de semelhança que, ao fazer a valorização do instituído social, cria condições de valorizar a família e a mulher, ao mesmo tempo, que reforça a acusação contra um eventual agressor. (VOESE, 2007, p. 59).

O argumentador ainda poderá se utilizar da analogia para desqualificar a conduta de alguém, ao compará-lo com uma conduta desprezível ao público-alvo. Quando é criado o forte campo analógico, a associação se estabelece de forma imediata e o efeito da relação de igualdade de natureza inferior produz efeitos devastadores. Por muito tempo associou-se o ato de tatuar o corpo como uma conduta comum entre os encarcerados. Nos dias atuais, em que pese a mudança de conceitos, pela influência da mídia internacional e o efeito globalizante, há muitas pessoas que ainda fazem associação de ideias entre o tatuar e o mundo carcerário.

A argumentação pela analogia pode ainda produzir eficácia muito mais evidente, mesmo que sobre números, tudo dependerá da forma como o argumentador fizer o processo. Eis um exemplo: ao fazer um argumento por analogia sobre o tamanho de um país, é menos expressivo dizer que ele tem a metade do território brasileiro, do que em asseverar que ele tem nove vezes o tamanho da França. Ora, o argumentador poderá fazer um argumento pela analogia e obter repercussões impressionantes sem alterar a natureza das coisas. O exemplo acima é significativo. Um país com a metade do tamanho do Brasil tem um efeito. Com o argumento analógico que ele tem nove vezes o tamanho da França, a menção produz um enorme efeito de grandeza.

Conforme a alteração do argumento pela analogia o convencimento é maior ou menor e até consegue uma imagem de altíssima credibilidade, nos temas escritos e, com maior ênfase, nos debates com auditório. Quando essas técnicas são aplicadas ouvem-se até os comentários e a agitação das pessoas, incomodadas com o argumento. O ponto frágil do argumento pela analogia é que se não for aceita a semelhança apresentada, rui, imediatamente, todo o objetivo de convencimento.

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5 A IMPORTÂNCIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA NOS DIAS ATUAIS

As formas verbais de comunicação são determinantes para a vida em sociedade. Aristóteles cuidou desse tema, quando devolveu as suas ideias denominadas A arte retórica. Ele dividiu as modalidades discursivas em textos poéticos (que retratam uma narração), textos da ciência ou científicos (argumentativos) e textos enumerativos (que denotam uma descrição).

A divisão de Aristóteles apresentou modificações no tempo. No mundo jurídico um texto é dissertativo quando nele se destaca uma argumentação, uma exposição de ideias, embora possam aparecer, aqui ou ali, situações narradas ou fatos descritos.

Qual a estrutura de um texto que contém argumentos? A importância de se destacar como se apresenta um texto argumentativo é sua aplicação constante no mundo relacional, em todas as áreas do conhecimento, dos negócios, das questões políticas, do mundo literário, do acervo jornalístico, no espaço teatral, além de tantas outras manifestações sociais. Tudo visa um só objetivo, persuadir, convencer, vender, ou seja, vencer ou vencer em todas as áreas possíveis.

Não somente os sistemas democráticos, mas também os totalitários se utilizam da linguagem que persuade, através de argumentações de todos os modos possíveis.

Ao produzir uma publicidade, publicar um livro, escrever um artigo, a pessoa humana que os produz objetiva o convencimento dos destinatários. A linguagem utilizada realiza uma intenção e persegue alguns objetivos. A linguagem e o pensamento formam um bloco único. Quando uma pessoa pensa ela se utilizar da linguagem, que não se expressa sem o pensamento. Para objetivos formais, gramática deve ser adequada e precisa. Quando a comunicação se fizer para o cumprimento de objetivos informais, a gramática é variada e natural, sem qualquer compromisso com a formalidade.

São variados os estilos jornalísticos do jornal O Estado de S. Paulo, com mais formalidade e seriedade, em relação ao jornal Agora, com uma linha mais descompromissada com a seriedade, portanto popular. Na Folha de S. Paulo há um estilo entre ambos, ou seja, solene ou popular.

Os objetivos são traçados previamente, conquistar o público-alvo, oferecendo-lhe um estilo que produz uma sintonia imediata, portanto, projetando o interesse para classes sociais determinadas.

Os argumentos e as provas utilizadas correspondem às ideias que se queira defender. O escritor parte de um ponto de vista, de uma conclusão sobre

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determinadas questões e, a seguir, pelas experiências acumuladas, vivenciadas, experimentadas, tenta convencer o destinatário do texto que escreve.

Há um ponto comum, ou seja, todos os argumentos e provas que o argumentador oferece são retirados de um mundo comum de influências que também envolve o público-alvo: são idênticas as pressões sociais, culturais e econômicas, quer para o emissor como para o receptor.

O que vale observar que se o Presidente Lula tem um grande índice de admiração por parte da população, veiculado na imprensa com destaque, qualquer conceito ao contrário recebe pronta e imediata resistência. O discurso dominante, de grande repercussão na mídia, tem altíssimo poder de convicção à maioria das pessoas.

O nosso ponto de vista é produzido com várias formações discursivas cruzadas, ou seja, fala-se exatamente como a aldeia global ofereceu a opinião. O nosso discurso pode ser o resultado consciente ou inconsciente das ideias gerais, das leituras diversas, das informações veiculadas ou da convivência com grupos humanos específicos.

A argumentação se dá num texto argumentativo através da linguagem e no diálogo silencioso com outras conquistas que são as vivências, as leituras, as observações da realidade ou na sabedoria de compreender os fatos cotidianos.

Quando se argumenta é comum a utilização do pressuposto ou do subentendido.

O pressuposto é encontrado quando a linguagem se dirige para uma situação sem clareza, enquanto o posto é de uma exposição plena, ou seja, não se discute. Tudo o que se esconder atrás do posto é pressuposto. Quando se lê:

“Medo de infarto muda estilo de vida dos adultos jovens” observam-se vários pressupostos: jovens se preocupam com a enfermidade, quando no passado somente os velhos dela temiam.

O pressuposto falso é quando não há rigor na observação dos fatos, como se vê, diuturnamente, nos programas jornalísticos que envolvem a temática sobre a política e as administrações públicas ou nas resenhas esportivas. Muitos fatos tidos como reais ou projetados como acontecimentos certos, são irreais ou não se realizam.

O que o operador do direito precisa entender que não há sentido em muitos dos seus textos, pela fraqueza de suas argumentações ou pela pobreza de seus conteúdos e, diante disso, eles são subentendidos com realidades as mais

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diversas possíveis. Eis o perigo de se escrever sem argumentos sólidos e irrefutáveis. O leitor desenvolve uma competência interessante: a intertextualidade que é a percepção de observar as insinuações escondidas nas frases ou nas famosas “entrelinhas”.

Um texto com forte argumentação produz inferência que é a dedução lógica através dos símbolos linguísticos a permitir a progressão das ideias. Os exemplos são expressivos:

“Não se apequene”. Um político enviando um aviso ao Presidente Fernando Henrique Cardoso para tomar providências e não se sentir ameaçado pelos representantes de interesse pessoal. Infere-se que havia risco de submissão do Presidente diante das pressões.

“...se se diz que há pegadas no chão, infere-se que alguém passou por ali.”

“Polícia: hora de balanço”, subentende-se que algumas ações da polícia merecem reflexão cuidadosa, atenta, porque a polícia não está agindo bem.

5.1 Figuras de linguagem como mecanismos de argumentação

5.1.1 A metáfora

É a comparação de um ser ou objeto com outro, mas permanece uma igualdade ou similaridade em algum aspecto. O texto argumentativo possui, dessa forma, uma metáfora com a produção de um fortíssimo efeito:

Certa época, a imprensa ao criticar o Presidente Fernando Henrique Cardoso, sugeria que o verdadeiro FHC estaria preso numa masmorra e, ao mesmo tempo, no poder, ficara um clone, que era manipulado pela direita.Primeira metáfora: a imprensa dizia que o FHC estava preso em uma masmorra. Segunda metáfora: um clone estava no Planalto, manipulado pela direta.

5.1.2 A ironia

O escritor pode se encaminhar para ironia e produzir textos argumentativos com esta ferramenta persuasiva, mas que tem a figura de uma navalha. A ironia destrói valiosas produções ou introduz novos fatos através dessa figura de linguagem que não deve ser muito utilizada.

Escreveu um articulista da Folha de São Paulo, em 26 de abril de 1998:

A situação surge como caótica, mas, de acordo com o sistema – após a reeleição -, terá solução rápida e indolor. Após tanto legislar

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por MPs, de forma absolutamente inconstitucional, o governo imaginou nova garantia para si e contra o cidadão: as súmulas vinculantes, ditadas pelo STF, que colocarão todos os juízes do país sob o jugo da convicção de seus 11 ministros, efetivando-se não só um controle externo, mas a derrocada da independência do Judiciário.

5.1.3 A antítese

Esta figura de linguagem ressalta uma oposição entre duas idéias, palavras, fatos ou objetos:

Eu comia uma deliciosa pizza quatro queijos com casca crocante e pensava nessas coisas quando cheguei à conclusão de que um dos maiores prazeres da vida é ter um inimigo. O inimigo nos dá estabilidade emocional, segurança psicológica e um senso de coerência. O que seria de Deus sem o diabo? O que seria de Brizola sem Roberto Marinho? Do Batman sem o Coringa? Do Tio Patinhas sem a Maga Patalógica? Como sem fim são os duelos entre os grandes inimigos, aqueles que nós amamos odiar. (Folha de S. Paulo, 26 set. 1998, p. 3-12).

5.2 O uso da gramática para argumentar

Uma mudança inteligente dos termos numa frase pode aumentar o seu conteúdo persuasivo. Os termos que produzem destaque na frase, quando mudados de posição, podem chamar a atenção ou podem passar desapercebidos.

Grande efeito irônico! Quando o Professor João Ignácio Pimenta Junior autorizar a compra de papel-toalha, porque um dia ele vai precisar lavar e enxugar as mãos, será tarde.

Pouco efeito irônico! Será tarde, quando o Professor João Ignácio Pimenta Junior autorizar a compra de papel-toalha, porque um dia vai precisar lavar e enxugar as mãos.

Não há efeito irônico! Porque um dia ele vai precisar lavar e enxugar as mãos, será tarde quando o Professor João Ignácio Pimenta Junior autorizar a compra de papel-toalha.

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6 AS FALÁCIAS DE ARGUMENTAÇÃO

O termo falácia reporta-se ao verbo latino fallere (enganar). Em sentido amplo, pode-se dizer que falácia é um argumento que, por um motivo ou outro, tem sua irrefutabilidade afetada. (HENRIQUES; MEDEIROS, 2003, p. 198).

Em outras palavras, falácias da argumentação é a técnica de argumentar falsamente. Trata-se de uma atividade comum no mundo jurídico, utilizada pelo advogado diante de provas muito robustas e que tem a incumbência de produzir um acervo de fundamentações contrárias a elas.

Desqualificação: dessa forma o autor faz menção ao argumento ad personam, o chamado desqualificatório, uma vez que não leva o leitor a nenhuma conclusão pois não existe uma coerência entre causa e efeito, não há uma sequência lógica entre as premissas e a conclusão.

Petição de princípio: também o operador pode lançar mão do petitio principii, que é a petição de princípio, cuja falácia se apoia em dar como provado o que se deve provar. Os exemplos do autor acima citado: “O testemunho de João é verdadeiro porque ele testemunhou”. “O réu suicidou-se porque se enforcou”.

Ambiguidade: o profissional do direito se utiliza na sua contestação a ambiguidade (uma falácia da argumentação), na busca de uma falsa causa: ele toma como causa uma aparência, um pequeno indício, ao fazer uma correlação entre o uso de uma tatuagem e o mau profissional.

Falsa analogia: também é possível lançar mãos de uma falsa analogia na tentativa de buscar uma semelhança significativa ou total quando se dá apenas parcialmente. Não se conclui que a favela Miragem (São José do Rio Preto) tem uma qualidade de vida muito ruim, na qual os policiais têm dificuldade de entrar, porque é habitada por bandidos, justamente porque a favela da Rocinha, no Estado do Rio de Janeiro, possui estas características.

Falsa analogia: consiste em se estabelecer semelhança total onde a semelhança é apenas parcial. Não se pode concluir que Marte é habitado porque a Terra o é, embora se trate de dois planetas. (HENRIQUES; MEDEIROS, 2003, p.198).

Generalização: é feita uma ampliação dos fatos ou dados que leva a uma

conclusão de ser maior que as premissas. Todos os políticos são corruptos. Todos os administradores são venais.

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Contradição: afirmar um fato e ao mesmo tempo o negar, quando a primeira e a segunda posição de ideias é sobre o mesmo aspecto ou coisa. Exemplo: Existem os honestos, no mundo político, mas na verdade eles não existem na classe política.

Tergiversar: o tema a ser enfocado é quando a sanção aplicada no crime dos autos, quando na verdade o operador faz suas argumentações sobre a aplicação penal de outro processo, com várias provas doutrinárias.

6.1 As falácias da argumentação nas peças judiciais

Ad hominem: há um ataque ao profissional que produziu uma afirmação, mas não se aborda as argumentações por ele produzidas.

Ad ignorantiam: é quando o advogado, por exemplo, diz que um argumento é verdadeiro porque não foi possível comprovar de que ele é falso. Quando o autor da ação tem a seu favor o ônus da prova, o advogado da parte contrária sai com esta pérola: “Ele não provou que não deve”.

Ad misericordiam: é comum apelar-se para a concessão de misericórdia e, com isso, obter uma diferença de tratamento por parte dos jurados ou do magistrado: “O autor da ação é pessoa pobre, na acepção jurídica do termo. Ora, toda a pessoa pobre é, na conceituação do CPC, um hipossuficiente, devendo, em razão disso, ser invertido o ônus da prova”.

O boneco de palha: o operador do direito produz um argumento quase igual ao da parte adversária, porém, com vários pontos fracos e o que é importante, pleno de falhas. Mas, habilmente, é atribuída a ela a sua criação. A seguir, esse boneco é destruído com argumentos sólidos, e, dessa forma, se evita confrontação com um argumento contrário que seja forte e inquebrantável.

A falácia dedutiva: com habilidade o operador transforma a premissa maior do seu adversário em menor ou ao contrário, para descaracterizar a verdade exposta. Exemplo: é comum o devedor não poder pagar quando lhe são cobrados juros sobre juros e, em consequência, ele se torna inadimplente. Assim, o devedor tornou-se inadimplente. Como ele está inadimplente, estão sendo cobrados juros sobre juros. O argumento de prova: é quando o argumento tem correspondência sobre os elementos do fato e destaca algum aspecto da prova produzida no processo. O argumento de prova pode corresponder às testemunhas, às provas periciais ou técnicas ou às provas documentais.

O argumento de prova testemunhal: é importante obedecer a sequência:

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a) mencionar a testemunha e o depoimento que será argumentado;b) indicar, a seguir, as folhas nos autos que se encontra o depoimento;c) cuidado: não alterar os termos utilizados pela testemunha;d) o trecho exige aspas e, caso interessante, destacá-lo;e) quando destacar, quer com itálico, negrito ou sublinhado, escrever – grifo

nosso;f) mencionar apenas o que é importante, evitar citações longas.

O argumento de prova pericial: as observações a seguir são importantes:

a) o que se expõe é um raciocínio jurídico sobre a peça pericial;b) ser objetivo e não atingir o profissional que produziu a prova, mas o que

produziu, descaracterizando as suas fundamentações;c) sempre que possível fazer apoio em livros específicos, para conclusões

abalizadas.

Ab autoritatem: argumento de autoridade: destaca-se a produção de um grande doutrinador que dão apoio às alegações do profissional do direito. Busca-se, assim, dar a presunção de tem a conclusão certa. Destacar o notório conhecimento do autor citado, com a seguinte ordem:

a) colocar o trecho entre aspas;b) o trecho citado tem um destaque na peça;c) quando colocar partes da citação doutrinária utilizar os cortes dessa

forma [...], ou, como é mais utilizado pelos advogados: (...);d) quando perceber que o autor, principalmente da parte contrária, produziu

erro claro, acrescentar (sic), é uma forma de destacar que o erro está no original.

Quando for atacar o argumento de autoridade, principalmente citado pela parte contrária, verificar se a transcrição é exata, se o autor não produziu uma contradição, destacar a prova da incoerência, evidenciar trecho no qual ele concorda com a sua tese.

Pode haver outros autores, de renome, que possuem argumentação jurídica contrária à posição do adversário, quando, todos os destaques serão evidenciados.

Lembrar sempre que os argumentos não são verdadeiros ou falsos, mas sim, fortes ou fracos, conforme o seu poder de convencimento. No Direito não prevalece a lógica formal, mas sim a lógica argumentativa, ou seja, aquela que não traz uma verdade universal, porque não existe regra geral, sempre as exceções estão presentes.

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7 A NARRAÇÃO E A ARGUMENTAÇÃO - CRITÉRIOS

O bom-senso responde que embora não haja regra específica, após os fatos narrados passa-se à abordagem jurídica, pois se alia as situações de fato às situações de direito.

Porém, não foram impostas regras porque há estilos diversos, exatamente porque não há uma separação definida: texto exclusivamente narrativo com outro exclusivamente argumentativo.

Pode-se obter persuasão, com objetividade e concisão, misturando-se os textos narrativos e argumentativos, porém, a compreensão é facilitada quando é obedecida uma ordem dos fatos para a abordagem jurídica.

Não se pode esquecer que há peças judiciais nas quais é importante obedecer a seguinte ordem:

a) fatos juridicamente relevantes – sem eles não se estabelecem bases à aplicação da norma jurídica, ou seja, a ação física de um crime de estelionato;

b) circunstâncias que ajudam na compreensão dos fatos juridicamente relevantes – são fatos secundários que se narrados, tornam os fatos relevantes mais completos e compreensíveis. Exemplo: num crime culposo no trânsito, importante saber se o condutor envolvido guardava distância do veículo que seguia à frente;

c) fatos que dão ênfase aos outros, mais importantes;

d) fatos que alimentam a curiosidade ou o interesse do leitor.

Conclusão: há peças judiciais, como as denúncias penais, que se concentram apenas nos fatos juridicamente relevantes, sem qualquer necessidade das demais ordens acima expostas.

Entre os fatos relevantes e os secundários as perguntas a seguir facilitam obediência à ordem.

a) O quê – o fato, o crime, o comportamento: o homicídio do Viaduto Central;

b) Quem – os personagens: o autor, as vítimas.

c) Como – a ação física do autor (es) do crime. Onde estavam as vítimas. A utilização da arma e os disparos. Quais as regiões ofendidas.

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d) Quando – qual o dia, o momento do fato criminoso ou o horário presumido.

e) Onde – o local registrado como o palco dos acontecimentos. Apartamento, casa, terreno baldio ou defronte ao número 123, da rua Um, do Bairro Capão Redondo, da cidade de São Paulo.

f) Por quê – quais os motivos que determinaram o fato: logo após à injusta provocação da (s) vítima (as)?

g) Por isso – o que resultou do fato, ou seja, a morte de João José Joaquim e lesões corporais de natureza grave nas pessoas: Maria Marta Alves e Antonia Marta Alves.

A narrativa do argumentador deve merecer atenção especial porque a partir dela é que o ponto de vista doutrinário e jurisprudencial encaminhará às conclusões, num estilo convincente e seguro.

O operador do direito se prenderá à narrativa dos fatos na peça inicial, na contestação e na defesa. Porém, quando esses fatos forem narrados pela parte contrária, atenção maior: se for conveniente, pode ser apresentada uma controvérsia. Na controvérsia tirar a importância dos fatos mal narrados, reparando-os, o que vai dar mais força aos argumentos a ser apresentados.

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8 AS REGRAS QUE APERFEIÇOAM A ARGUMENTAÇÃO

a) Para saber mapear a argumentação lembrar que há as premissas e as conclusões. Quando o operador do direito for argumentar é importante considerar as premissas e, após produzi-las, apresentar as conclusões, ponto final do trabalho argumentativo;

b) As ideias que fomentam uma argumentação devem atender a uma ordem natural. É comum observar as premissas antes e as conclusões na final. Porém, há argumentações que são desenvolvidas em trabalhos jurídicos muito complexos e, em razão disso, as conclusões são logo antecipadas já na introdução. O leitor terá mais segurança de procurar, a seguir, as premissas;

c) O argumentador deve ser concreto, ou seja, é real a estrutura das ideias, mas, acima de tudo, deve ser conciso;

d) O bom argumentador não se utiliza de linguagem agressiva. Os seus argumentos são tão bons que falam por si. Também são dispensáveis posturas antiéticas como distorcer, menosprezar ou ridicularizar os argumentos refutados na peça judicial;

e) Fugir, com convicção plena, dos termos equívocos, assim, para cada termo empregar um significado específico;

f) Para cada ideia deve ser utilizado um conjunto de consistentes palavras que tenham claras conexões entre as premissas e a conclusão. Observar, a seguir, como deve ser escrito o conjunto de ideias de um argumento:

Quando o pesquisador estudar outras culturas, perceberá a variedade dos costumes humanos.

Quando ele entender a diversidade das práticas sociais, passará a questionar os seus próprios costumes.

Quando ele duvidar acerca do modo como fará as coisas, tornar-se-á mais tolerante.

Por isso, se o pesquisador aumentar os seus conhecimentos em Antropologia, ele certamente aceitará os hábitos de outras pessoas com mais tolerância.

Quando o pesquisador estudar outras culturas, perceberá a variedade dos costumes humanos.

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Quando ele perceber a variedade dos costumes humanos, passará a questionar os seus próprios costumes.

Quando ele questionar os seus próprios costumes, tornar-se-á mais tolerante.

Por isso, quando o pesquisador estudar outras culturas, será mais tolerante.

8.1 Os argumentos devem seguir uma ordem de narração

O pesquisador selecionou os fatos que deverá narrar. Cumprida esta tarefa, deve programar a linha temporal. Projetando no tempo as argumentações sobre os fatos, eles devem atender a linearidade, ou seja, os eventos mais afastados ou antigos são observados, e gradativamente seguir até os fatos recentes.

Ler por várias vezes o texto para concluir, com segurança, que a ordem foi obedecida. Quando o texto não é examinado com profundidade é comum alguns erros. Exemplos:

a) certa feita um magistrado manifestou-se pela inépcia da petição inicial: o advogado, após escrever oito folhas com ricas argumentações, esqueceu-se da causa de pedir!

b) o esmero não pode se sobrepor aos elementos processuais indispensáveis: os litisconsortes são ou não casados? O autor é proprietário do bem danificado, objeto central da peça judicial?

c) as partes não se encontram identificadas de conformidade com a lei processual;

d) não houve menção à data do fato, ao horário em que ele foi registrado e a peça perde entendimento completo;

e) a narração linear, como os fatos ocorreram e se possível na cronologia crescente facilita a formação do quadro na órbita mental do leitor;

f) os verbos empregados erroneamente, assim como no que se refere aos advérbios ou expressões adverbiais;

g) erros comuns de concordância verbal ou nominal.

In terminis, vencerá um embate jurídico aquele operador do direito que melhor apresentar suas ideias, expor com segurança os seus argumentos, com um estilo seguro e convincente, com domínio da língua portuguesa e argúcia na utilização dos termos doutrinários ou jurisprudenciais.

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Eis uma pérola encontrada entre os doutrinadores da disciplina de Linguagem Jurídica, com um conselho que é o caminho seguro à vitória argumentativa.

A manobra mais importante de quase todas essas batalhas é a de oposição – ou vamos nos opor aos argumentos do adversário, tentando desqualificá-los, ou vamos nos opor aos argumentos que nosso oponente, que também está armado, usará para tentar nos desqualificar. Por isso, seja na petição inicial, seja na contestação, precisamos saber defender nosso ponto de vista e atacar o da parte contrária, usando uma argumentação organizada, convincente, além de aproveitar todos os recursos retóricos possíveis para convencer o julgador de que nós é que estamos com a razão. Quanto mais enfraquecermos os argumentos da parte contrária, mas fortaleceremos nossa própria posição – e vice-versa: quanto mais convencermos o juiz da justeza de nossas alegações, mais a posição do oponente sairá enfraquecida. É como na tradicional figura da balança que a alegoria da Justiça carrega na mão esquerda: vence aquele que conseguir reunir, em seu prato, fatos e argumentos de maior peso. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 182).

Meu desejo maior é que os preclaros operadores do direito dos terceiros semestres vençam os vários obstáculos à informação qualificada. Após, dominem os conhecimentos jurídicos a fim de que o sucesso no mundo jurídico seja uma realidade factível.

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9 O PARÁGRAFO E A REDAÇÃO JURÍDICA.

O esforço produzido nesta compilação é destinado ao oferecimento de um conteúdo que contenha os fundamentos básicos à arte de escrever um discurso jurídico para convencer o seu destinatário.

A aplicabilidade do parágrafo e a redação jurídica na vida diária do operador do direito é uma realidade inconteste. Num processo, em vários momentos, o discurso jurídico é meio processual que consolida posições jurídicas. Além disso, as decisões são levadas em consideração pelos demais atores processuais.

O operador do direito planeja o seu propósito argumentador e, a seguir, traça os objetivos que deseja alcançar. O roteiro que o levará não se afastar da linha argumentativa é estabelecido em cada parágrafo, contendo nele o tópico frasal que consiste a ideia-central da tese que pretende defender.

Deverá seguir uma linha de raciocínio que apresenta algumas palavras indispensáveis ao sucesso da empreitada. Eis o estratagema que um bom argumentador deverá seguir antes de iniciar a redação final do discurso jurídico:

1. O tema focado.

2. O rol de ideias sobre o tema focado.

3. O que pretende transmitir (proposta temática).

4. Como se dará o desenvolvimento do pensamento:

a) Enumerar aspectos a abordar;b) Possíveis comparações;c) Enumerar fatos positivos ou negativos;d) Posicionar-se a favor ou contra;e) Estabelecer a forma de desenvolvimento do tema.

5. Escolher as ideias em três ou quatro frases sucintas. Pode haver subdivisões, mas não devem ser muitas.

6. Estabelecer o tópico frasal com um texto genérico contendo as ideias a ser apresentadas, sem demonstração de como será a conclusão.

7. Conclusão – frase concisa que represente o término do discurso jurídico.

Após esse roteiro que alicerça a linha de raciocínio, o operador do direito iniciará o discurso jurídico conforme as orientações que a seguir são ofertadas.

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10 O PARÁGRAFO – CONSIDERAÇÕES ESTRUTURAIS

Num parágrafo o operador do direito apresenta uma ideia central ou principal, acompanhada de várias ideias secundárias, através de um conjunto de um ou mais períodos.

O parágrafo é conhecido pelo afastamento da margem esquerda da folha, portanto, o leitor tem uma facilidade maior para procurar as ideias principais, por saber, que a seguir, serão dispostas as ideias secundárias, dando a primeira maior compreensão.

É possível moldar o tamanho de um parágrafo como se faz com a argila, ou seja, podem ser aumentados ou diminuídos conforme a peça judicial, levando-se em consideração a sua maior ou menor complexidade.

O argumentador desenvolve uma tese através de vários parágrafos. Cada parágrafo é uma sequência da argumentação que tem uma finalidade que é o convencimento da tese apresentada.

... o texto resulta do entrelaçamento de parágrafos, importa haja coesão entre eles para se lhe assegurar (ao texto) a tessitura lógica. O engastamento (encaixamento) das ideias principais de cada parágrafo é que estabelece a articulação do texto. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, p. 140).

A ideia central do parágrafo é enunciada por um período que se intitula tópico frasal. Alguns autores preferem chamá-lo de frase-síntese, outros ainda o denominam de período tópico. Este tópico frasal geralmente é o preferido dos estudiosos, para destacá-lo na leitura, por se constituir a viga-mestra do raciocínio.

Ele é importante porque sustenta, governa ou orienta todas as idéias secundárias, numa só frase ou em frases numerosas dentro do parágrafo. É o período mestre que contém a frase chave. O leitor prende a sua atenção no texto por compreender o tópico frasal ou período mestre. É como se acompanhasse a tese pelo fio da meada encontrado em cada parágrafo.

O destinatário da peça acompanha os argumentos, as narrativas, as exemplificações por uma só razão: não perde o fio da meada (os tópicos frasais). Em outras palavras, segue atento o desencadear sucessivo dos períodos mestres.

No texto abaixo é possível observar que o autor destaca, logo de início, a ideia-núcleo o que permite ao parágrafo unidade e coerência, além facilitar a leitura do texto com a exposição o tópico frasal.

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Não há cidadania sem efetivo acesso à Justiça. Não há acesso à Justiça se esta apenas atende à parcela da população que consegue desfrutar os recursos mal distribuídos da sociedade de consumo. Não há acesso à justiça se grande parte da população não detém os meios concretos para exercê-lo, e socorre-se de mecanismos primitivos de justiça privada, em que a violência converte-se no cenário do cotidiano. Não há acesso à Justiça quando o Estado se revela impotente para responder às demandas reais da sociedade, inclusive através de seu poder competente: o Judiciário. (José Roberto Batochio, Folha de S. Paulo, 20-5-93). (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, p. 144).

10.1 Considerações sobre a forma de apresentação dos parágrafos Observe um exemplo de parágrafo, retirado da doutrina, contendo uma frase.

Parece não haver a mínima dúvida de que o mesmo ato ilícito que configurou infração grave dos deveres conjugais posto como fundamento para a separação judicial contenciosa com causa culposa, presta-se igualmente para legitimar uma ação de indenização de direito comum por eventuais prejuízos que tenham resultado diretamente do ato ilícito para o cônjuge afrontado. (CAHALI, 2007, p. 669).

Exemplo de um parágrafo retirado da doutrina (um dos doutrinadores mais respeitados escreve sobre norma jurídica), com várias frases:

Uma interpretação restritiva ocorre toda vez que se limita o sentido da norma, não obstante a amplitude de sua expressão literal. Em geral, o intérprete vale-se de considerações teleológicas e axiológicas para fundar o raciocínio. Supõe, assim, que a mera interpretação especificadora não atinge os objetivos da norma, pois lhe confere uma amplitude que prejudica os interesses, ao invés de protegê-los. Assim, por exemplo, recomenda-se que toda norma que restrinja os direitos e garantias fundamentais reconhecidos e estabelecidos constitucionalmente deva ser interpretada restritivamente. O mesmo se diga para as normas excepcionais: uma exceção deve sofrer interpretação restritiva. No primeiro caso, o telos protegido é postulado como de tal importância para a ordem jurídica em sua totalidade que, se limitado por lei, esta deve conter, em seu espírito (mens legis), antes o objetivo de assegurar o bem-estar geral sem nunca ferir o direito fundamental que a constituição agasalha. No segundo, argumenta-se que uma exceção é, por si, uma restrição que só deve valer para os casos excepcionais. Ir além é contrariar sua natureza. (FERRAZ JÚNIOR, 2003, p. 296).

Exemplo de um parágrafo retirado da jurisprudência, contendo uma frase:

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“O art. 401 do CPC não veda a prova exclusivamente testemunhal de contrato verbal para a venda de imóveis, ainda que a remuneração tenha valor superior ao limite ali estipulado.” – (STJ – REsp 13.508-0 – SP – 3ª T. – Rel. Min. Cláudio Santos – DJU 08.03.93) – Corretagem – Prova testemunhal – Conselho Federal de Corretores de Imóveis – Inscrição.

Exemplo de um parágrafo retirado da jurisprudência, com várias frases:

Mesmo tendo deixado de pagar alimentos, anteriormente pactuados e sido o responsável pela separação judicialmente decretada, o cônjuge dispõe da ação de divórcio direto prevista no referido dispositivo da Carta Magna. Para a procedência do pedido dessa ação, basta ao autor demonstrar a ocorrência da separação de fato voluntária por mais de dois anos. Diante de sua propositura, não é admissível ao réu intentar demanda, inclusive mediante reconvenção, com o objetivo de converter a separação judicial em divórcio. Contudo, é lícito ao demandado reconvir, postulando a perda do pátrio poder relativamente ao outro cônjuge, e a postulação merece acolhida quando se comprova que este abandona moral e materialmente os filhos menores.” (TJPR - AC 33.587-3 - 3ª C. Cív. - Rel. Des. Trotta Telles - DJPR 02.04.96).

Em determinados textos o argumentador não produz os parágrafos de forma tradicional, mas os apresenta com clareza gráfica expositiva, com a finalidade de facilitar o trabalho do leitor. O texto poderia ser escrito em parágrafos, como o exemplo:

Com esta técnica, com vários parágrafos, relataria todos os fundamentos a que concluiu, após o estudo dos autos de processo.

Porém, com a finalidade específica de facilitar a leitura do relatório, o advogado poderia assim apresentá-lo:

I – Relatório

O agravo de instrumento, tempestivo, interposto em razão do r. despacho denegatório de seguimento a REsp, este vazado contra o V. Acórdão da eg. 2ª CCTJPR, na parte referente à prefacial de nulidade da sentença por falta de fundamentação.

Para tanto, o r. despacho baseou-se em que não teria ocorrido negativa de vigência aos aludidos dispositivos legais e em que não seria o caso de “improcedência do dissídio jurisprudencial”, fazendo remissão ao art. 255 do RISTJ.

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2. Os defeitos mais comuns na redação do parágrafo.

I – Relatório

1. O agravo de instrumento

O agravo de instrumento, tempestivo, interposto em razão do r. despacho denegatório de seguimento a REsp, este vazado contra o V. Acórdão da eg. 2ª CCTJPR, na parte referente à prefacial de nulidade da sentença por falta de fundamentação.

2. A motivação do r. interlocutório

Para tanto, o r. despacho baseou-se em que não teria ocorrido negativa de vigência aos aludidos dispositivos legais e em que não seria o caso de “improcedência do dissídio jurisprudencial”, fazendo remissão ao art. 255 do RISTJ. (SARAIVA, 2006, p. 39).

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11 ESTILOS REBUSCADOS E CONFUSOS

11.1 Frases fragmentadas Há profissionais que enfraquecem o pensamento jurídico ao produzirem frases como se escrevessem com a intenção resumida, ou seja, as idéias são dificilmente compreendidas em razão de um texto entrecortado ou fragmentado.

MM. Juiz: O autor celebrou um contrato de locação com o réu, a instâncias dele. Este assegurou muitas vezes o cumprimento exato das mensalidades: foram só promessas; era tudo para enganar. Mas agora se esgotou a paciência do autor. O réu foi procurado várias vezes em casa. Nunca estava. Vigarice pura. Esforços inúteis. Ao autor só restou apelar ao Judiciário, para a decretação do despejo. (SARAIVA, 2006, p. 40).

11.2 Frases intercaladas

Os operadores que possuem um estilo rebuscado, com vários apostos, tornam a leitura difícil, as suas ideias jurídicas possuem explicações contínuas, que truncam o entendimento. No texto abaixo, os termos entre vírgulas, com destaque em itálico, utilizados em complementação, dificultam o acompanhamento da linha de pensamento ou o fio da meada por parte do leitor.

“O Tribunal, por votação majoritária, deferiu, em parte, o pedido de medida cautelar, para suspender, com eficácia ex nunc e com efeito vinculante, até final julgamento da ação, a prolação de qualquer decisão sobre pedido de tutela antecipada, contra a Fazenda Pública.”

O texto escrito de forma objetiva e concisa, sem tantas intercalações, assegura a sua fácil compreensão.

É interessante destacar que os profissionais do direito estão com o tempo de trabalho cada vez mais curto em relação às complexas etapas processuais e, em razão disso, a leitura das peças não deve exigir esforço acima do normal.

11.3 Frases muito longas

As frases muito longas ocultam o período frasal. Dessa forma, não é fácil ao leitor vislumbrar as palavras-chaves, o que demonstra dificuldade na apreensão das idéias de uma maneira geral. Uma frase longa exige atenção redobrada e leituras repetitivas. Eis o seguinte exemplo:

Para efeitos de limite de remuneração, que é a de membro do Supremo Tribunal Federal, no Poder Judiciário (art. 37, item XI, da Constituição), essas vantagens individuais não deveriam se destacar,

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porque, repita-se, a ressalva foi admitida apenas como exclusão à isonomia, e não ao teto de remuneração, cuja sede normativa era o item XI do art. 37, que não aludia a qualquer exceção, até porque, no Poder Judiciário, nenhum magistrado ou servidor exerce função mais relevante que a de Ministro do Supremo Tribunal Federal, como nenhum servidor, no Poder Legislativo, é mais proeminente que o parlamentar, e, no Poder Executivo, que o Ministro de Estado, para ter direito a remuneração superior à desses agentes políticos.” (SARAIVA, 2006, p. 41).

11.4 Frases confusas O pensamento de alguns operadores do direito é tão confuso que os magistrados solicitam que os textos sejam refeitos a fim de que a clareza e a concisão os tornem compreensíveis. Eis um exemplo, infelizmente, comum no mundo jurídico:

E mesmo que se considere que o protesto cambiário fora ineficaz porque coincidente em data (21.9.91) com a liminar concedida no writ, nada obstava que a dita liminar viesse a ser revogada (CPC, art. 807), e efetivamente o foi pelo V. Acórdão de fls. 191-192, com base nas informações da autoridade dita coatora, na consumação dos protestos cambiais e no silêncio da impetrante sobre seu interesse de prosseguimento do mandamus – ratificando, aliás, o r. despacho de fl. 166, “que julgou prejudicada a impetração”, cujo agravo regimental finalmente veio a ser improvido”. (SARAIVA, 006, p. 41).

12 O PARÁGRAFO DESCRITIVO, NARRATIVO E DISSERTATIVO NA REDAÇÃO JURÍDICA

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12.1 O parágrafo descritivo na redação jurídica

Na descrição é possível obter a reprodução de uma realidade. Um aspecto é retratado verbalmente, assim como uma sequência de fatos. É como se o argumentador fizesse na mente do leitor uma imagem, como se esculpisse uma impressão ou como se projetasse uma cena com o processo do ocorrido.

Assim, em outras palavras, seria como uma fotografia de uma ideia que se modelasse na mente do leitor. Um texto que pudesse reproduzir uma imagem na tela mental do leitor. Uma pessoa lá projetada, um ambiente material ou emocional numa sequência teatral representado na visão do leitor.

O texto descritivo vez outra é empregado no acervo das peças jurídicas, mas quando é utilizado realiza juízos personalíssimos, dando brilho à reprodução dos fatos. Quando é necessário descrever um fato ou um ato, com uma linguagem mais criativa e animada, são utilizados os termos técnicos da descrição, quer na denúncia, nas alegações finais, no Tribunal do Júri e nas sentenças.

Em síntese: no parágrafo descritivo da redação jurídica o argumentador faz uma projeção da realidade dos fatos na mente do leitor, conforme as suas concepções ou teses apresentadas no processo. Projeta uma pessoa, um ambiente ou estado emocional com juízos personalíssimos, dando brilhos especiais e destaques conforme o interesse que representa no processo.

O exemplo de descrição é encontrado nos dicionários, conforme os autores já citados assim discorrem:

...de processo penal – discurso. s.m. “Conjunto ordenado de frases proferidas em público ou escrita como se tivessem de o ser”. A linguagem dos verbetes acima é descrição técnica ou informativa; procura captar os elementos essenciais do objeto a ser descrito, a fim de permitir ao leitor representá-los em sua mente. A diferença entre esse tipo descritivo e o literário é que neste o emissor pode dar ao objeto as suas impressões subjetivas (ou, então, retratá-lo objetivamente), enquanto o tipo técnico utiliza a linguagem denotativa, dando ao objeto ou ideia uma representação coletiva e impessoal. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, p. 152).

Num Tribunal do Júri, por exemplo, a defesa como a acusação ao narrarem os fatos produzem uma tela mental na mente dos julgadores, com os elementos e os pormenores dos acontecimentos, porém, segundo as suas concepções pessoais. Após as fases processuais o crime é descrito de uma forma indutora, a fim de que os julgadores possam julgar segundo essas impressões produzidas quer pela defesa, quer pela acusação. Conforme diz Fagundes (1987, p. 43-45), reproduzindo expressões verbais do Promotor de Justiça:

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Este é o acusado. Um acusado que vem aqui e mente, se Vossas Excelências observarem, hoje ele diz que é casado, consta no outro interrogatório que ele estava separado, procura modificar aquilo que já declarou para o próprio juiz, procurando confundi-lo, procurando inverter pequenos detalhes para se amoldar a uma possível e imaginária tese de defesa. É um elemento perigoso, mesquinho, mesquinho porque quando de uma discussão com um funcionário da SAMAE, por uma questão de água, sacou de um revólver e também atirou. (HENRIQUES; MEDEIROS, 2007, p. 156).

No texto acima os dados descritivos do réu são expressivamente pormenorizados: mesquinho, perigoso, etc. O objetivo central da atividade dissertativa está evidente: criação de uma imagem do acusado negativa à sociedade, e, assim, o ideal é que se mantivesse afastado do meio social, portanto, preso após condenação.

A descrição do advogado de defesa é diametralmente oposta à do Promotor de Justiça, conforme descreve Fagundes (1987, p. 81-83), reproduzindo o texto a partir das manifestações verbais:

Às vezes escapou que, ao invés de justificar, passa a castigar. É o caso, senhores, típico do acusado. Hoje pintaram um quadro aqui, que se não houvesse alguém para rebater, o acusado apodreceria na cadeia. Excelências, nós vamos nos referir ao acusado, o cidadão. Honesto, trabalhador, não é vadio, não é malandro. O acusado foi vítima das circunstâncias. Aconteceu um fato na vida do acusado. O acusado tem uma vida anterior ao crime, e tem uma vida posterior como vou mostrar a Vossas Excelências. Não é como disse a nobre promotoria que o acusado só praticou crimes. É o primeiro. Ele é primário. É o primeiro delito do acusado. O outro, ele já pagou, Excelências. (HENRIQUES; MEDEIROS, 2007, p. 156).

No cotejo com os dois textos descritivos é possível observar o contraste, pois cada versão descreve o autor do crime conforme suas concepções, de acordo com as suas teses esposadas no Tribunal do Júri, apoiando-se no acervo de suas missões antagônicas que é acusação e defesa.

Embora a defesa não tenha conseguido convencer sobre a condição de primário em conduta criminal, pois aplicou aqui uma falácia da argumentação, o fato é que se esforçou no texto descritivo na tentativa de projetar uma imagem de um cidadão que estivesse envolvido num crime que não cometeu.

O ataque à linguagem do adversário é um recurso lícito e tem fundamento técnico, pois sua eficácia está em desviar a atenção para um defeito (de preferência grosseiro) nos aspectos formais do discurso do contendor. É como se alguém dissesse: “Veja, ele nem

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sequer sabe se expressar e pretende que suas razões sejam encaradas com seriedade”; ou “Ele não sabe o que diz e alega ter direito”; ou ainda “Mas o que será mesmo que ele quis dizer”. Todas essas reações são indesejáveis, pois vão ficar na memória do leitor e podem impressioná-lo negativamente. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 26).

12.2 O parágrafo narrativo na redação jurídica

A narração é uma exposição de fatos que se materializaram em determinado local, em certo horário, numa duração específica e com circunstâncias especiais. Os fatos podem ser irreais, importantes, secundários.

Os elementos estruturais da narrativa já foram estudados nas aulas de Argumentação Jurídica. A fim de que possa rememorá-los, sinteticamente, eis os tópicos mais importantes:

1. os fatos reportam-se às situações de fato e às de direito;

2. é possível buscar maior persuasão, com objetividade e concisão, por não haver uma separação específica entre texto exclusivamente narrativo com outro exclusivamente argumentativo;

3. na maioria dos textos judiciais, porém, o ideal é que seja obedecida uma ordem dos fatos para a abordagem jurídica, ou seja, narram-se os fatos e a seguir processa-se a argumentação;

4. em primeiro lugar os fatos juridicamente relevantes a fim de se fundamentar as bases da aplicação da norma jurídica;

5. em segundo lugar as circunstâncias (fatos secundários) que ajudam a compreensão dos fatos relevantes – ex: qual a distância do veículo de trás em relação ao da frente num acidente entre ambos;

6. entre os fatos relevantes e os secundários as perguntas a seguir facilitam a compreensão dos fatos: O quê - Quem - Como - Quando - Onde - Porquê - Por isso.

No parágrafo narrativo é sempre importante observar que o leitor precisa ter conhecimento do registro da cena, mesmo que faltem alguns elementos que o integrem. O argumentador poderá deixar de narrar alguns fatos, que considerem não relevantes e se prender a outros, é uma seleção que passa pela sua escolha pessoal.

Também é imprescindível na narrativa o clímax, o momento de ápice da exposição do fato, que ira desembocar no desfecho ou solução (benigna ou não). Lembre-se, ainda, que não há uma narrativa eficaz sem uma trama (o incidente, a complicação, o

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interesse temático), que justificativa do próprio ato narrativo o e seu objetivo redacional. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, p. 158).

O que o argumentador não pode deixar de aplicar no texto narrativo é a unidade dos fatos, com a indispensável conexão entre eles através do seu inter-relacionamento.

Nas peças judiciais vestibulares, como a Petição Inicial, a Denúncia, a Reclamação Trabalhista, os verbos são dispostos no pretérito perfeito do indicativo em razão das ações já terem acontecidas. Como os fatos são objetivos, realizados e acontecidos, a narrativa deve ser como um espelho, refletindo a verdade real. Os adjetivos não se coadunam com o texto narrativo. Caso sejam utilizados os fatos perderiam a objetividade, descaracterizaria a realidade nua e crua de sua ocorrência. O exemplo a seguir espelha bem esta realidade:

1. No dia 15 de maio do corrente, o Autor, tendo vendido ao Réu o imóvel constituído do apartamento n. 603, confiou a este o telefone de número 8134672, que ali se encontrava instalado, e do qual o autor é assinante, conforme recibo da TELESP (doc. 2).2. Tal fato se deveu à única e exclusiva circunstância de que, tendo de proceder à entrega do imóvel vendido, nos termos da escritura de compra e venda, lavrada em notas do Tabelião do 26º Ofício, Livro nº 2, fls. 56, não conseguia o Autor a retirada do referido aparelho telefônico, embora tenha pedido, por escrito, tal retirada, desde o dia 16 de maio (doc. 3). (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, p. 160).

Observe com atenção: o argumentador se utilizou de períodos curtos, os verbos no pretérito perfeito do indicativo com menção ao período em que os fatos ocorreram e, após o enunciado, objetivou um resultado ou uma consequência.

Numa sentença o magistrado produz o relatório consistente numa narrativa dos fatos processuais. Essa narrativa é realizada com precisão e objetividade sem quaisquer expressões rebuscadas ou adjetivações dispensáveis, por uma razão simples: não deve antecipar a decisão.

Quando o advogado produz as alegações finais no processo penal, como também no Tribunal do Júri, a narrativa ganha novas realidades. Nessas peças judiciais o texto narrativo pode se apoiar em atributos, em circunstâncias que geram propósitos dissertativos.

Configura-se a qualificadora de surpresa quando a morte da vítima se verificou, estando ela a barbear-se deitada, na cadeira do barbeiro, sem ter visto o réu que a apunhalou por trás; aí existe a surpresa. Porque ele pegou a vítima inopinadamente e realmente de surpresa. E não é o primeiro caso, que aqui eles haviam se desentendido, estavam há quinze dias em franco desentendimento;

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então ele poderia, como ele mesmo admite, como a família mesmo admite, que eles tinham medo do próprio acusado (g.n.).” (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, p. 160).

O texto apresenta alguns erros gramaticais. Observe que o autor dessa peça indica circunstâncias narrativas e o faz com um objetivo bem definido: argumentar. Produz uma entonação especial à sequência dos fatos, destacando-os. A realidade da peça judicial é sobre um fato ocorrido que se refletiu na narrativa, no exemplo acima disposto, com todas as informações necessárias. Evidencia-se, contudo, um leve esforço argumentativo.

12.3 O parágrafo dissertativo na redação jurídica

O parágrafo dissertativo é mais complexo ao argumentador, pois exige uma posição jurídica diante de um fato, quer através de uma opinião ou uma tese.

No parágrafo dissertativo exige-se que o argumentador tenha conhecimento do assunto. É preciso desenvolver um raciocínio lógico, portanto, crítico e reflexivo. O elenco das razões jurídicas deve ser bem estruturado, com exemplos robustecidos, definições claras e bem fundamentadas.

Quando se estuda o parágrafo narrativo é possível observar que os termos devem ser concretos e reais, pois narram os fatos. No estudo do parágrafo descritivo são realizadas as projeções mentais na mente do leitor, conforme as posições jurídicas empregadas no processo.

Ao redigir o parágrafo dissertativo o redator pode se utilizar de palavras abstratas. Ao lançar mão dos verbos é preciso se conscientizar da importância destacada que eles representam no parágrafo dissertativo.

Os verbos assumem papel destacado na dissertação, devendo o redator evitar formas do tipo podemos dizer; pode ser; penso, entre outras. Ao contrário, deve dar preferência a verbos de valor semântico preciso, representando de maneira clara a ideia. Veja o leitor o exemplo: a) O descaso com o bem público resulta graves prejuízos à comunidade. Diferente seria, tivesse o redator assim escrito: b) Penso que o descaso com o bem público é prejudicial à comunidade. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, p. 160).

O operador do direito quando for documentar as suas opiniões sobre um assunto, após muitas terem sido expostas, deve explicitar o seu ponto de vista com as tradicionais expressões: a meu parecer, a meu entender, a meu ver.

12.3.1 Dissertação expositiva

É quando se discute uma ideia, um assunto de relevância ou um tema doutrinário, com exposição de alguns argumentos, comentando-os com

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47

profundidade. Ora, para se comentar com profundidade é preciso pleno domínio da temática enfocada, com um rol de ideias inter-relacionadas a um assunto central.

Dessa forma, cada parágrafo deve ser escrito objetiva e concisamente, compondo uma ideia clara com relativo teor de profundidade. As ideias estão alicerçadas a um tópico frasal que retrata a ideia central.

12.3.2 Dissertação argumentativa

São aplicadas as técnicas de persuasão a fim de convencer o leitor sobre a opinião jurídica esposada, com a imediata mudança de seu ponto de vista. É possível ao argumentador utilizar-se da dissertação expositiva e, a seguir, produzir a argumentativa, com a exposição de suas ideias a fim de influenciar o pensar do leitor e, ato contínuo, impor-lhe o novo fundamento.

O texto deve conter os fundamentos da lógica, um rol de argumentos tão convincentes que persuade a quem dele tem acesso, por se constituir de provas seguras e insofismáveis. As ideias do argumentador terão força persuasiva se estiverem apoiadas em provas abalizadas que as fundamentam solidamente.

Com apoio nessa realidade, o advogado não pode desenvolver a tese de legítima defesa no processo crime de seu cliente por homicídio se houver prova subjetiva de três testemunhas que viram a provocação do homicida à vítima, a qual trabalhava concentradamente nos seus afazeres profissionais. Faltar-lhe-ia a prova testemunhal que reforçaria os argumentos de uma tese de legítima defesa.

O advogado não iria desenvolver a tese de legítima defesa se houver nos autos prova de que os policiais que prenderam o seu cliente, após a prática do crime, afirmaram que a vítima estava desarmada. O argumento estaria em desacordo com a ausência de qualquer instrumento que poderia ser lesivo ao cliente do causídico.

Diante dessas provas objetivas o advogado deverá mudar o plano de sua defesa porque não teria sustentação o roteiro probatório que o levaria a tese de legítima defesa.

A estrutura da dissertação tem um plano que o argumentador deverá obedecer a fim de que se comporte conforme o ideal produzido por Aristóteles, na sua Arte retórica: exórdio, desenvolvimento e peroração.

12.3.3 A Dissertação – sua estrutura

Exórdio – é a introdução ao enunciar a ideia-chave, ou seja, a tese na qual o argumentador vai estruturar a argumentação. No exórdio o redator faz o anúncio do

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tema com elegância, com arte, uma vez que captará a atenção do leitor e o induzirá com maestria ao desenvolvimento e à peroração.

O exórdio é assim esquematizado: a) estabelece-se a ideia geral; b) situa-se o assunto no contexto; c) motiva-se o leitor e d) apresenta-se a proposta preparada.

Desenvolvimento – nesta fase são realizadas: a explanação das ideias e as provas que a sustentam.

São realizadas as reflexões do argumentador, assim como as fundamentações de todo o esforço de argumentação.

Quando se prepara um discurso jurídico o ponto de maior destaque é a matéria de prova, uma vez que encima dela se apoia o rol de argumentos que se tornam irretorquíveis.

Não basta ser próximo à realidade, por ser parecido com a verdade, há de ser verdadeiro com todas as provas que dão sustentação irretorquível aos argumentos.

Peroração – nesta fase o argumentador faz o fechamento do discurso jurídico. Renova o tópico frasal e faz uma brevíssima alusão às fases, como a demonstrar que ele se encontra eficazmente exposto.

Toda a atenção do redator deve estar concentrada para o fim maior: convencimento do leitor. Nesta fase é importante destacar os pontos mais evidentes, os mais importantes de todo o discurso.

Caso fosse um magistrado, é na conclusão da sentença (dispositivo, correspondente ao estudo, peroração) que ele vai decidir o processo, embora já tenha sido observada quando produziu a fundamentação.

12.4 O parágrafo dissertativo – considerações finais.

Todo o discurso jurídico exige o parágrafo dissertativo, não somente os advogados, mas os promotores de justiça e os magistrados igualmente produzem as fases acima estudadas. Sempre existirá o conflito entre opiniões divergentes, quando as versões de cada qual não são iguais, pelos interesses que defendem: acusação, defesa e julgamento.

Quando um doutrinador produz o discurso jurídico também se apoiará na dissertação, com a produção dos parágrafos dissertativos, formando um conjunto persuasivo.

Ora, ao produzir a sua fundamentação, o operador do direito deverá desenvolver o raciocínio aristotélico contido na Arte retórica e a técnica é a

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dissertativa, com os elementos descritivos e narrativos para ao final produzir o seu ponto de vista. No discurso jurídico os termos ou as expressões devem ser aplicados com esmero. O objetivo central do redator é o acervo persuasivo que envolva o destinatário, quer para aceitar a sua posição (advogado) ou fundamentar a decisão jurídica tomada (promotor ou juiz).

Portanto, todo o discurso jurídico exigirá os elementos dissertativos ora enfocados. O operador do direito não age no processo de forma neutra e sim efetiva, pois sempre materializará o seu interesse (acusação, defesa e julgamento) a fim de que a conclusão do processo seja de acordo com os seus propósitos argumentados na linha do raciocínio aristotélico.

É norma processual o livre convencimento, ou persuasão racional, que se encontra, dentro outros, no artigo 131 do Código de Processo Civil. Nenhuma razão ou prova obriga o juiz, mas, por outro lado, a este cabe fundamentar sua decisão, analisando os fatos e dizendo por que motivo escolheu esta ou aquela regra para julgar o processo e por que considerou estes ou aqueles fatos, e não outros, para decidir a causa. (MORENO; MARTINS, 2006, p. 20).

13 COMO FAZER UMA PROCURAÇÃO

As noções sobre formas de redação poderão ajudá-los na produção de documentos burocráticos, desde que tenham objetividade, sendo dispensáveis quaisquer contribuições que visem dificultar a aplicação prática das orientações dessa natureza.

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50

Foram sintetizadas algumas noções sobre os documentos oficiais, principalmente quanto às formas de endereçamento.

     O ato de redigir é muito complexo, principalmente nos primeiros contatos dos (as) alunos (as) com os documentos no Núcleo de Prática Jurídica da Universidade Camilo Castelo Branco, campus Fernandópolis, os quais exigem alguns encaminhamentos de natureza técnica-administrativa.

O estilo próprio é registrado em cada profissional, embora respeite as regras gerais na confecção desses documentos administrativos. A marca pessoal de cada um é fator inconteste em toda produção jurídica ou administrativa.

Estas noções são uma contribuição com o objetivo específico de auxiliar a produção de peças administrativas com esmero e correção. Após os estudos sobre os vários argumentos que o profissional do direito pode realizar, é igualmente importante qualificar o respectivo documento.

Ao ser confeccionado um documento administrativo ou judicial o seu produtor não pode esquecer a coesão e a coerência, aspectos amplamente discutidos em classe quanto aos diversos argumentos estudados. Em cada parágrafo é Interessante a lembrança do tópico frasal, que representa o todo harmonioso.

O documento deverá reunir um tratamento respeitoso ao destinatário, além de conter as formalidades preconizadas pela praxe administrativa ou forense. A clareza é parte imprescindível para quem o escreve e para quem o lê, sem exageros linguísticos, adjetivações ou prolixidades.

Mesmo que a contrariedade seja um sentimento que governe a necessidade de requerer algo, o documento confeccionado deve reunir um texto escrito com polidez, no qual são evidenciadas as virtudes da educação e da cortesia. Não se documentam as expressões que representam aspereza e contundência, muito menos a zanga e a agressividade.

As formas de tratamento e endereçamento devem ser respeitadas e cumpridas com profunda atenção. Nada mais infeliz que tratar inadequadamente a autoridade destinatária do documento: expressão irreversível de ignorância.

13.1 A concordância nominal e verbal

No que se refere às formas de tratamento, cuidado com o destinatário do documento, que poderá ser masculino ou feminino. O destinatário masculino será solicitado ou informado a fazer algo. No caso inverso, a autoridade feminina será solicitada ou informada a fazer algo.

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51

Nas referências a Vossa (Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Magnificência, Vossa Santidade, Vossa Eminência ou Vossa Reverendíssima), as formas de tratamento exigem verbos e pronomes na terceira pessoa do singular: Vossa Magnificência encaminhou..., Vossa Senhoria produziu..., Vossa Reverendíssimo apoiou....

“Temos a subida honra de recepcionar Vossa Excelência no Hotel...”.

Ao fazer referência ao subscritor do documento, tanto é correto fazê-lo na primeira pessoa do singular como na primeira pessoa do plural. Na segunda hipótese faz mais sentido pela demonstração de modéstia.

“Sentimo-nos honrados pelo convite que ora formulamos a Vossa Senhoria para o evento cívico do dia 10 de junho do corrente ano, no Teatro Municipal...”. “Outrossim, teremos a honra de assistir à preleção a ser proferida por Vossa Excelência...”.

“Comovidos expressamos a Vossa Eminência...”.

13. 2 Cuidado com as expressões Vossa Excelência e Sua Excelência...

Erro comum é a inversão da disposição de Vossa e Sua. É importante considerar que Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Reverendíssima são tratamentos diretos e utilizados para dirigirem-se a pessoa com quem se fala (ou seja, o destinatário do documento).

“Na oportunidade, apresentamos a Vossa Senhoria votos de estima e alto apreço.”

Quando se utiliza a expressão Sua Senhoria, por exemplo, é em relação à pessoa de quem se fala, a terceira pessoa fala.

“No Ciclo de Palestras, no Teatro Municipal, no mês de maio, as Suas Excelências Desembargadores do Tribunal de Justiça abordaram o tema Responsabilidade Civil por Erro Médico.”

13. 3 As abreviaturas das formas de tratamento

Quando a forma de tratamento for escrita por extenso, considera-se que o emissor da correspondência o reverencia, além de ter por ele deferência, respeito e consideração. Tanto para Vossa Senhoria, como para Vossa Excelência, como para

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Vossa Eminência, etc. Uma correspondência ao Presidente da República é aconselhável que não seja abreviada a forma de tratamento correspondente.

Após ser grafada a forma de tratamento por extenso, no primeiro parágrafo, há uma praxe em documentos administrativos que nos parágrafos seguintes ela (forma de tratamento) seja abreviada a fim de que não se torne repetitiva ou cansativa a leitura da correspondência.

Exemplo:

“Através do presente solicitamos de Vossa Senhoria o finesse de...”.

“Outrossim, informamos a V. Sa. que o documento...”. Atenção aos quadros abaixo oferecidos para um endereçamento seguro.

Cargo ou Função

Nome por

Extenso

Abreviatura no

Singular

Abreviatura no Plural

Vocativo Endereçamento

Auditores

Curadores

Defensores Públicos

Desembargadores

Membros de Tribunais

Presidentes de Tribunais

Procuradores

Promotores

VossaExcelência

V. Exa.

ou

V. Ex. a

V. Exas.

ou

V. Ex. as

ExcelentíssimoSenhor + Cargo

Ao ExcelentíssimoSenhorNomeCargoEndereço

Juízes de

Direito

MeritíssimoJuiz

ou

M. Juiz ou V. Exa. ou V. Ex. a

V. Exas. ou V. Ex. as

MeritíssimoSenhor Juiz

ou

Excelentíssim

Ao MeritíssimoSenhor Juiz

ou

Ao

Autoridades Judiciárias

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53

VossaExcelência

oSenhor Juiz

ExcelentíssimoSenhor JuizNomeCargoEndereço

Cargo ou Função

Nome por Extenso

Abreviatura no Singular

Abreviatura no Plural

Vocativo Endereçamento

Oficiais Generais(até Coronéis)

VossaExcelência

V. Exa.

ou

V. Ex. a

V. Exas.

ou

V. Ex. as

ExcelentíssimoSenhor

Ao ExcelentíssimoSenhorNomeCargoEndereço

OutrasPatentes

VossaSenhoria

V. Sa.

ou

V. S.a

V. Sas.

ou

V. S.as

Senhor +patente

Ao SenhorNomeCargoEndereço

Cargo ou Função

Nome por Extenso

Abreviatura no Singular

Abreviatura no Plural

Vocativo Endereçamento

Reitores Vossa Magnificência

ou

Vossa Excelência

V. Mag.a

ou V. Maga.

V. Exa. ou V. Ex. a

V. Mag.as ou V. Magas.

V. Exas. ou V. Ex. as

Magnífico Reitor

ou

ExcelentíssimoSenhor Reitor

Ao Magnífico Reitor

ou

Ao ExcelentíssimoSenhor ReitorNomeCargoEndereço

Vice-Reitores Vossa Excelência

V. Exa.

ou

V. Ex. a

V. Exas.

ou

V. Ex. as

ExcelentíssimoSenhor Vice-Reitor

Ao ExcelentíssimoSenhor Vice-ReitorNomeCargoEndereço

Autoridades Universitárias

Autoridades Militares

Page 54: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

54

Assessores

Pró-Reitores

Diretores

Coord. deDepartamento

VossaSenhoria

V. Sa.

ou

V. S.a

V. Sas.

ou

V. S.as

Senhor +cargo

Ao SenhorNomeCargoEndereço

Cargo ou Função

Nome por Extenso

Abreviatura no

Singular

Abreviatura no Plural

Vocativo Endereçamento

Arcebispos VossaExcelênciaReverendíssima

V. Ex. a Rev.ma

ou V. Exa.Revma.

V. Ex. as Rev.mas

ou V. Exas.Revmas.

ExcelentíssimoReverendíssimo

A Sua ExcelênciaReverendíssimaNomeCargoEndereço

Bispos VossaExcelênciaReverendíssima

V. Ex. a Rev.ma

ou V. Exa.Revma.

V. Ex. as Rev.mas

ou V. Exas.Revmas.

ExcelentíssimoReverendíssimo

A Sua ExcelênciaReverendíssimaNomeCargoEndereço

Cardeais

VossaEminência ou VossaEminênciaReverendíssima

V. Em. a ouV. Ema.

ouV. Em. a

Rev.ma

ouV. Ema.Revma.

V. Em. as ouV. Emas.

ouV. Em. as

Rev.mas

ouV. Emas.Revmas.

ExcelentíssimoReverendíssimo

ou

EminentíssimoSenhorCardeal

A Sua ExcelênciaReverendíssimaNomeCargoEndereço

CônegosVossaReverendíssima

V. Rev.ma

ou V. Revma.

V. Rev.mas

ou V. Revmas.

ReverendíssimoCônego

Ao ReverendíssimoCônegoNomeCargo Endereço

FradesVossaReverendíssima

V. Rev.ma

ou V. Revma.

V. Rev.mas

ou V. Revmas.

ReverendíssimoFrade

Ao ReverendíssimoFradeNomeCargo Endereço

FreirasVossaReverendíssima

V. Rev.ma

ou V. Revma.

V. Rev.mas

ou V. Revmas.

ReverendíssimaIrmã

A ReverendíssimaIrmãNomeCargo Endereço

Autoridades Eclesiásticas

Page 55: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

55

Monsenhores

VossaReverendíssima

V. Rev.ma

ou V. Revma.

V. Rev.mas

ou V. Revmas.

ReverendíssimoMonsenhor

Ao ReverendíssimoMonsenhorNomeCargo Endereço

Papa VossaSantidade

V. S. É único SantíssimoPadre

A Sua Santidade o Papa

Sacerdotes em geral

VossaReverendíssima

V. Rev.ma

ou V. Revma.

V. Rev.ma

ou V. Revma.

ReverendoPadre

Ao ReverendíssimoPadreouAoReverendoPadreNomeCargo Endereço

Cargo ou Função

Nome por Extenso

Abreviatura no Singular

Abreviatura no Plural

Vocativo Endereçamento

Chefe da Casa Civil e da Casa Militar

Cônsules

Deputados

Embaixadores

Ministros de Estado

Prefeitos e Vices,Presidentes de Câmaras Municipais

Presidentes da República

Secretários de Estado

Senadores

Vice-Presidentes da República

Vossa Excelência

V. Exa.

ou

V. Ex. a

V. Exas.

ou

V. Ex. as

ExcelentíssimoSenhor +Cargo

AoExcelentíssimoSenhorNomeCargoEndereço

Autoridades Civis

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56

As demais autoridades acima não destacadas

VossaSenhoria

V. Sa.

ou

V. S.a

V. Sas.

ou

V. S.as

Senhor +Cargo

Ao Senhor

ou

Ao IlustríssimoSenhor

ou

A Sua SenhoriaNomeCargoEndereço

No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência (em caso de Vossa Senhoria basta proceder à substituição) terá a seguinte forma:

A Sua Excelência o SenhorFulano de TalMinistro de Estado da Justiça70.064-900 – Brasília. DF

A Sua Excelência o SenhorSenador Fulano de TalSenado Federal70.165-900 – Brasília. DF

A Sua Excelência o SenhorFulano de TalJuiz de Direito da 10a Vara CívelRua ABC, no 12301.010-000 – São Paulo. SP

Modelo de Requerimento:

Instauração de Inquérito Policial

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57

Ilustríssimo Senhor Doutor Delegado de Polícia Titular do Segundo Distrito Policial

_____(nome completo)_____, brasileiro (a), ___(estado civil)___, ___(profissão)___, residente e domiciliado à Rua _________________, n.___, nesta cidade, vem à presença de Vossa Senhoria para expor e requerer o quanto se segue:

(exposição dos fatos que, eventualmente, possam caracterizar um crime e que, por isso, seja necessária a realização de investigações para comprová-lo) - (podem ser numerados os itens dos fatos para melhor visualização e consequente compreensão).

Diante do exposto, para desestimular práticas nocivas à sociedade, bem como evitar impunidades, requer a V. Sa. a instauração de Inquérito Policial, a fim de que sejam apurados os fatos acima narrados, contra o Senhor ______(nome completo)___, residente à rua ______________ n. ______, bairro _______, área pertencente a esse Distrito Policial.

Nestes TermosP. Deferimento

Fernandópolis, ____ de maio de 2011.

__________________________________Assinatura

Modelo de Abaixo Assinado:

Para o Prefeito Municipal

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58

Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal de Fernandópolis - SP

Os abaixo assinados, a seguir identificados, vêm à presença de Vossa Excelência expor e solicitar o que segue:

As praças públicas (nomes e local) encontram-se praticamente destruídas e abandonadas, além de terem sido transformadas em ponto de encontro de marginais, fatos esses que impedem a sua utilização pelos cidadãos que residem nas suas imediações ou pelos munícipes de forma geral. Foram registrados os seguintes acontecimentos:

1.

2.

3.

4.

5.

Certos de que Vossa Excelência saberá respeitar os direitos dos cidadãos de nossa cidade, na administração para qual foi escolhido pelos votos do povo riopretense, os abaixo assinados solicitam imediatas providências destinadas à reconstrução e devida preservação dos bens públicos acima nomeados.

Fernandópolis, ____ de maio de 2011.

Nome – qualificação – endereço e assinatura.Nome – qualificação – endereço e assinatura.Nome – qualificação – endereço e assinatura.Nome – qualificação – endereço e assinatura.Nome – qualificação – endereço e assinatura.

Modelo de Requerimento Justificativa de Ausência

de Testemunha em Audiência

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59

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 2ª. Vara da Comarca de Fernandópolis

Proc. nº. _____

________(nome completo)______, brasileiro (a), ____(estado civil)___, ____(profissão)___, residente e domiciliado à rua ____________________, nº_____, nesta cidade, nos autos da ação de ______________, proposta por ________(nome completo)______, em face da testemunha ________(nome completo)______, intimada regularmente para depor, arrolada pelo Autor (ou réu), vem requerer a Vossa Excelência que seja dispensada de prestar depoimento, uma vez que se encontrará impossibilitada de comparecer à audiência marcada para o próximo dia ____ do corrente mês, às _______horas, nesse E. Juízo, em razão de cirurgia marcada para o dia ____, da qual somente terá alta após sete dias, como faz prova o incluso atestado médico.

Nestes TermosP. Deferimento

Fernandópolis, 21 de maio de 2011

___________________________________________Antonio José Maria

AdvogadoOAB n. 94.009

Modelo de Ofício

(iniciais do funcionário que o digitou ou próprio emissor e da Seção específica) - (no caso, Secretaria Geral).

Page 60: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

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Ofício. nº 294/2011/LBS/SG Fernandópolis, 02 de junho de 2011.

Assunto: Falta de segurança no Recinto da Expo – 2011.

Senhor Magistrado

Com o presente informamos a Vossa Excelência, na qualidade de representante do Conselho Tutelar, ter sido muito difícil o trabalho exercido no Recinto da Expô 2010, dificultando sobremaneira as atividades de proteção aos menores de idade, conforme os fatos abaixo documentados:

1. Faltou policiamento...2. Os responsáveis pelo evento não contribuíram...3. As barracas foram montadas sem as exigências legais...

Outrossim, solicitamos de Vossa Excelência as providências legais cominadas às irregularidades acima mencionadas.

Aproveitamos o ensejo para reiterarmos a Vossa Excelência protestos de estima e alto apreço.

Lauro Baptistela de Sá

Presidente do Conselho Tutelar de Fernandópolis

A Sua Excelência Doutor José Alcântara MachadoM. Juiz de Direito da 2ª Vara do Fórum 15600-000 - Fernandópolis – SP

Modelo de Ofício

(iniciais do funcionário que o digitou ou próprio emissor e da Seção específica) - (no caso, Secretaria Geral).

Page 61: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

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Ofício. nº 294/2011/LBS/SG Fernandópolis, 26 de maio de 2011.

A Sua Excelência Doutor José Alcântara MachadoM. Juiz de Direito da 2ª Vara do Fórum 15600-000 - Fernandópolis – SP

Assunto: Falta de segurança no Recinto da Expo – 2011.

Senhor Magistrado

Com o presente informamos a Vossa Excelência, na qualidade de representante do Conselho Tutelar, ter sido muito difícil o trabalho exercido no Recinto da Expô 2010, dificultando sobremaneira as atividades de proteção aos menores de idade, conforme os fatos abaixo documentados:

1. Faltou policiamento...2. Os responsáveis pelo evento não contribuíram...3. As barracas foram montadas sem as exigências legais...

Outrossim, solicitamos de Vossa Excelência as providências legais cominadas às irregularidades acima mencionadas.

Aproveitamos o ensejo para reiterarmos a Vossa Excelência protestos de estima e alto apreço.

Lauro Baptistela de Sá

Presidente do Conselho Tutelar de Fernandópolis

Modelo de Carta

Page 62: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

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Fernandópolis, 21 de maio de 2011.

A IlustríssimaSenhora Lídia Tavares de FreitasAvenida Pavão nº. 1235 – Apto. 12304516.090 – São Paulo – SP

Prezada Senhora Proprietária

Ref.: Comprovação de reforma em apartamento de vossa propriedade, faz.

Vimos através da presente inicialmente agradecer a Vossa Senhoria a distinção em alugar o apto. 24 do Edifício Gabriele Gandur, situado à Rua Tamandaré, 1271, São Paulo, para a disposição de nossa família.

Outrossim, informamos a Vossa Senhoria que após autorização, as reformas foram realizadas no que foi considerado o estritamente necessário, a fim de que houvesse condições dignas de moradia, sendo que elas orçaram, conforme provas documentais em anexo, a quantia de R$ 2.111,14 (dois mil, cento e onze reais e catorze centavos).

Finalmente, solicitamos de Vossa Senhoria que a quantia acima referida seja descontada dos futuros alugueres, como também nos conceda uma carência de um mês, sem pagamento do respectivo aluguel, que foi exatamente o período utilizado para que fossem procedidas as reformas.

Nada mais havendo a tratar, resta-nos agradecer, antecipadamente, a vossa obsequiosa atenção, subscrevendo-nos,

Respeitosamente,

José Luiz de Machado Júnior.

CPF 917.934.948-10

Fernandópolis, 23 de maio de 2011.

Referência ao assunto: Ref. ou Assunto:

Modelo de Carta

Page 63: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

63

Aos Ilustríssimos discentesAri Aparecido Silva, Rosemeire Talles, Danitielle Alcântara e Mateus Souza.DD. Pesquisadores do Curso de Direito da UnicasteloCampus Fernandópolis.

Senhores discentes

Com enorme apreço e reconhecimento, cumprimento Vossas Senhorias pelo brilhante resultado do que vos propuseram fazer, pesquisadores da Faculdade de Direito, da Universidade Camilo Castelo Branco, Campus Fernandópolis.

Outrossim, encaminho-vos o incentivo e o aplauso, como também a lembrança de que no próximo mês expira o prazo para primeira apresentação do relatório dos trabalhos de pesquisa científica, que retratará o vosso desenvolvimento nas pesquisas jurídicas iniciadas.

Como forma de contribuição, encaminho a V. Sas. uma importante contribuição do escritor Eduardo de Oliveira Leite, extraído do livro Monografia Jurídica, edição de 2006, que versa sobre a argumentação.

Finalmente, informo a V. Sas. que o texto em referência também será encaminhado aos vossos professores orientadores, como demonstração do vivo interesse desse Departamento num bom desempenho dos estimados pesquisadores e subsequente divulgação das Monografias Jurídicas que estão sendo confeccionadas.

Nada mais havendo a tratar, resta-me agradecer, antecipadamente, vossas obsequiosas atenções, subscrevendo-me, mui

RESPEITOSAMENTE,

Luiz Carlos Barros Costa.Chefe do Departamento de Extensão Universitária

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

UNIDADE 1. PORTUGUÊS JURÍDICO. 1.1 Linguagem Jurídica e Língua Portuguesa. 1.2 O “juridiquês” e outras falas.

Page 64: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

64

UNIDADE 2. VOCABULÁRIO JURÍDICO. 2.1 O sentido das palavras na linguagem jurídica 2.2 Usos da linguagem jurídica e suas dificuldades 2.3 O verbo jurídico: conjugação de verbos 2.4 Arcaísmos, neologismos, estrangeirismos e latinismos na linguagem

jurídica

UNIDADE 3. O TEXTO JURÍDICO. 3.1 Leitura, análise e interpretação de textos, discussão e debate sobre

temas ligados à área jurídica. 3.2 Coerência e coesão textual no texto jurídico

UNIDADE 4. ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA. 4.1 Linguagem e persuasão 4.2 Tipos de argumento 4.3 Falácias na argumentação

UNIDADE 5. O PARÁGRAFO E A REDAÇÃO JURÍDICA 5.1 O parágrafo descritivo na redação jurídica 5.2 O parágrafo narrativo na redação jurídica 5.3 O parágrafo dissertativo na redação jurídica 5.4 Produção de textos dissertativos argumentativos

UNIDADE 6. A ESTRUTURA E A LINGUAGEM NAS PEÇAS JURÍDICAS .6.1 Procuração ad negotia e procuração ad judicia: aspectos estruturais

e linguísticos 6.2 Requerimento simples e complexo: aspectos estruturais e linguísticos

UNIDADE 7.APÊNDICE: Lembretes gramaticais; brocardos jurídicos e locuções latinas.

REFERÊNCIAS

Análises jurisprudenciais. Disponível em: <http://andreischmidt.sites.uol.com.br/Salo_reincidencia.htm.> Acesso em 14.set.2012.

Page 65: ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA =MATERIAL DIDÁTICO 2013= (1)

65

FETZNER, Neli Luiza Cavalieri (coord.). Argumentação jurídica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004.

HENRIQUES, Antonio; MEDEIROS, João Bosco. Monografia no curso de direito: trabalho de conclusão de curso. 3. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003.

___________. Curso de português jurídico. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007.

MEDEIROS, João Bosco; TOMASI, Carolina. Português forense: língua portuguesa para curso de direito. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MORENO, Cláudio; MARTINS, Túlio. Português para convencer: comunicação e persuasão em direito. São Paulo: Editora Ática, 2006.

SARAIVA, Vicente de Paulo. A técnica da redação jurídica ou a arte de convencer. 4. ed. rev. e atual. Brasília: Editora Consulex, 2006.

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