argumentação e retórica trb grupo filosofia

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Trabalho Argumentação e Retórica: Procura de adesão do auditório (Camorça): A racionalidade humana não se limita à lógica uma vez que é essencialmente argumentativa. Como é do conhecimento da generalidade, a argumentação consiste em raciocinar e tem por base apresentar um conjunto de ideias encadeadas de forma lógica (em premissas) que permitam suportar a nossa posição (tese) face a um dado tema. A argumentação depende do contexto de receção e do próprio auditório, explicitando: a maior ou menor aceitação da nossa teseque depende da empatia dos ouvintes para connosco e ainda da sua recetividade ou estatuto social. Além de podermos variar o tipo de argumentação em função do auditório, podemos ainda variar o tipo de linguagem ou discurso. Por exemplo para convencermos uma criança a fazer algo, utilizamos um tipo de discurso diferente do que usaríamos para o caso de tentarmos demover um adulto. A argumentação do orador deve partir de um objeto de acordo consensual, isto é, uma premissa admitida pelo auditório que melhor reflita as crenças ou valores dos indivíduos que o compõem. Há diversos discursos que pretendem cativar a atenção do auditório sendo os discursos publicitário e políticos os exemplos mais fortes. Discurso Publicitário (Pia): O discurso publicitário visa essencialmente cativar a atenção de um auditório específico na medida em que se pretende seduzir um determinado público-alvo, recorrendo a detalhes aparentemente desprezáveis como imagens, figuras públicas, músicas ou alegorias para incutir uma visão do mundo muito particular. Procura dar resposta às ânsias da sociedade, podendo criar novas necessidades ao influenciar o público que se adquirir o produto X ou Y e o combinar com o Z, terá resultados mais satisfatórios e eficazes. A divulgação de um produto por parte de uma figura pública além de incutir uma determinada visão no público ainda o seduz e apela à sua sensibilidade. Por exemplo: se um anúncio de um plano de Poupança for protagonizado por alguém rico e bem-sucedido, decerto colherá maior adesão. O discurso publicitário comporta um reduzido número de vocábulos, isto é, transmite uma promessa curta e mobilizadora, que vai de encontro às necessidades do público e que geralmente apresenta uma fundamentação escassa ou inexistentes, sendo, por isso, possível sugerir associações. Assim, este tipo de discurso apresenta uma argumentação (logos) limitado, apela bastante à emotividade (pathos) e aposta na escolha do orador (ethos).

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Trabalho Argumentação e Retórica:

Procura de adesão do auditório (Camorça):

A racionalidade humana não se limita à lógica uma vez que é essencialmente

argumentativa. Como é do conhecimento da generalidade, a argumentação consiste em raciocinar

e tem por base apresentar um conjunto de ideias encadeadas de forma lógica (em premissas) que

permitam suportar a nossa posição (tese) face a um dado tema.

A argumentação depende do contexto de receção e do próprio auditório, explicitando: a

maior ou menor aceitação da nossa teseque depende da empatia dos ouvintes para connosco e

ainda da sua recetividade ou estatuto social.

Além de podermos variar o tipo de argumentação em função do auditório, podemos ainda

variar o tipo de linguagem ou discurso. Por exemplo para convencermos uma criança a fazer algo,

utilizamos um tipo de discurso diferente do que usaríamos para o caso de tentarmos demover um

adulto.

A argumentação do orador deve partir de um objeto de acordo consensual, isto é, uma

premissa admitida pelo auditório que melhor reflita as crenças ou valores dos indivíduos que o

compõem. Há diversos discursos que pretendem cativar a atenção do auditório sendo os discursos

publicitário e políticos os exemplos mais fortes.

Discurso Publicitário (Pia):

O discurso publicitário visa essencialmente cativar a atenção de um auditório específico na

medida em que se pretende seduzir um determinado público-alvo, recorrendo a detalhes

aparentemente desprezáveis como imagens, figuras públicas, músicas ou alegorias para incutir uma

visão do mundo muito particular.

Procura dar resposta às ânsias da sociedade, podendo criar novas necessidades ao

influenciar o público que se adquirir o produto X ou Y e o combinar com o Z, terá resultados mais

satisfatórios e eficazes.

A divulgação de um produto por parte de uma figura pública além de incutir uma

determinada visão no público ainda o seduz e apela à sua sensibilidade. Por exemplo: se um

anúncio de um plano de Poupança for protagonizado por alguém rico e bem-sucedido, decerto

colherá maior adesão.

O discurso publicitário comporta um reduzido número de vocábulos, isto é, transmite uma

promessa curta e mobilizadora, que vai de encontro às necessidades do público e que geralmente

apresenta uma fundamentação escassa ou inexistentes, sendo, por isso, possível sugerir

associações.

Assim, este tipo de discurso apresenta uma argumentação (logos) limitado, apela bastante

à emotividade (pathos) e aposta na escolha do orador (ethos).

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Discurso de Propaganda Política (Bastos):

Também procura captar a atenção do auditório, recorrendo na maioria dos casos aos

objetos de estudo que não são mais do que as crenças ou factos que constituem a opinião coletiva

do auditório) ou indo de encontro às carências ou preocupações manifestadas pela opinião pública

que é a voz da sociedade civil ou a posição dos cidadãos relativamente a questões de interesse

coletivo, que tem o poder de influenciar a política.

Atualmente a opinião pública assume-se como uma opinião de massas, na medida em que

é moldado pelos meios de comunicação social através da transmissão dos discursos proferidos

pelos públicos e da sua análise por parte dos comentadores.

Carateriza-se por: se dirigir a vários auditórios particulares, o que significa que se destina a

uma sociedade abrangendo todos os indivíduos que dela fazem parte; por ser fortemente sedutor e

ser quase sempre demagógico e manipular já que tem como objetivo convencer o auditório de que

o candidato em questão partilha dos dilemas e das suas ideologias ou perspetivas da população

sendo assim a escolha mais sensata; por adotar técnicas discursivas como perguntas retóricas,

expressões ambíguos que não sendo devidamente descodificadas são interpretadas consoante as

expetativas de cada um dos auditórios e procura reforçar opiniões prévias, isto é, ideias defendido

pelo partido que o candidato representa ou opiniões das pessoas em relação a um dado tema.

Objetivos específicos da argumentação e da retórica (Bastos)

Argumentação e retórica propõem-se a :

- persuadir e convencer, conceitos aparentemente sinónimos mas que na realidade podem ser

distinguidos como veremos mais adiante, procurando incessantemente fazer com que a visão do

auditório corresponda àquela que o orador lhe pretende incutir.

- agradar, seduzir, manipular e fundamentar a tese enunciada com a finalidade de mostrar ao

auditório que tudo aquilo que defende corresponde à verdade, independentemente de se verificar

ou não na realidade. A maioria das vezes os argumentos são considerados verdadeiros porque o

sujeito que os enuncia é tido como alguém dotado de conhecimento suficiente para se poder

pronunciar acerca da temática e demonstrar que a visão que detém é a mais correta, aceitável e

racional.

- fazer com que a subjetividade do orador possa ser vista como verosímil ou muito provável, sendo

que para tal é condição sine quoi non que o orador seja como que um jogador experiente que

recorrendo à estratégia e astúcia vence o jogo.

- procurar retirar inferências lógicas a partir de uma ou mais premissas, ou seja, através da

interpretação de algo explicito como um juízo ou um silogismo conseguirmos determinar as

conclusões ou intencionalidades por detrás deles (implícito).

- visam através da recorrência a figuras de estilo ou à partilha de histórias a título meramente

exemplificativo, dar uma roupagem mais harmoniosa ao discurso tornando-o mais claro.

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- tendo por base um discurso constituído por termos eruditos ou mais elaborados fazer com o

auditório acredite que a posição do orador está correta pelo simples facto de se saber exprimir

corretamente.

Persuadir e Convencer (Pia):

Os discursospersuasivo e convincente, próprios da argumentação, embora sejam

relativamente similares, podem se distinguidos, desde que não se estabeleça uma barreira

demasiado rígida entre eles porque a capacidade argumentativa resulta da sua junção.

O primeiro destina-se a um auditório particular, tendo em conta as suas idiossincrasias em

termos afetivos e procurando despertar sentimentos e potenciar a imaginação. Assim, a persuasão

socorrendo-se do objeto de acordo tenta despoletar uma obediência inconsciente ou pelo menos

desprovida de reflexão por parte dos sujeitos a que se destina.

Já o segundo pretende apelar sobretudo a que escutemos a voz da razão, realçando que há

mais do que uma via pela qual possamos enveredar e, portanto, o orador tenta fazer com que a sua

visão seja aceite sem assumi-la como sendo a única possível e desse modo o auditório não fica

convicto de que os argumentos que lhe querem tentar transmitir são verdadeiros a menos que

sejam passados de forma coerente enunciando premissas que possam ser assumidas como

aceitáveis pela generalidade.

Ethos, logos e pathos:

Camorça:Aristóteles distinguiu três tipos de provas ou de formas de persuadir ou convencer

um auditório a seguir as nossas ideologias e que correspondem aos três elementos indispensáveis à

argumentação: o ethos, o logos e o pathos.

O ethos é o tipo de prova alicerçada pelo caráter do orador, sendo que para poder exercer

influência é determinante que este seja tido como alguém credível, responsável e íntegro de modo

a conquistar mais facilmente o público. Enquanto orador, deve possuir certas competências para

ter sucesso como a capacidade de dialogar (tanto de comunicar como de ouvir), de optar, de

pensar e de se comprometer, por isso, ser-se uma pessoa cuja opinião é detentora de algum valor.

Desta forma o orador é capaz de seduzir e, assim, convencer ou persuadir o auditório recorrendo a

um discurso belo suportado por argumentos racionais.

Miguel:O logos é referente ao discurso proferido pelo orador e é imprescindível para que a

sua mensagem passe, isto é, que seja aceite pelo auditório. Para tal necessita de apresentar

claramente a tese que vai defender, fazendo uma seleção adequada dos argumentos que apresenta

de formaa fundamentar a tese (desta forma, reduz o espaço de manobra dos opositoresao refutar

ou contra-argumentar), apresentando os mais fortes no início e reiterando-os no fim, antecipar

objeções à tese (para desvalorizar os contra-argumentos) e procurar recursos estilísticos (como a

retórica ou figuras de estilo). Assim o logos pode ser entendido como se tratando de uma forma de

discursos devidamente organizada e provida de nexo lógico.

O pathos centra-se no auditório. O orador tem de saber como seduzi-lo e intuitivamente

selecionar um conjunto de estratégias que lhe parecem mais adequadas paradespertar no auditório

as emoções e levá-lo a mudar de atitude e de comportamento. O orador deve desta maneira o gelo

inicial.

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Tipos de Argumentos (Bekas):

São vários os tipos de argumentos que podemos usar quando queremos convencer alguém

da coerência lógica de uma tese. Os diferentes tipos de argumentos podem agrupar-se em dois

grandes grupos: de um lado os argumentos dedutivos e do outro lado os indutivos.

Entimemas (Argumento dedutivo):

São argumentos em que uma ou mais premissas estão ocultas ou subentendidas. Sendo

assim, os entimemas são argumentos inválidos se tomados à letra, mas que se tornam válidos se

acrescentarmos as premissas em falta. Trata-se, portanto, de um argumento incompleto. Por isso, a

validade do entimema está dependente da sua forma lógica.

Exemplo:“A Rita é advogada, logo a Rita tem formação universitária” a premissa implícita é “os

advogados têm formação universitária”

“ O Homem é um mamífero, logo o Homem é um animal” a premissa implícita é “ Os mamíferos são

animais”

Os entimemas podem ser úteis, quando, em muitos contextos, caso seja desnecessário

explicitar todas as premissas, por serem óbvias. No entanto, podem ser enganadores quando as

premissas subentendidas são controversas.

Argumentos por Analogia:

Baseiam-se numa comparação. Afirma-se nas premissas que duas coisas diferentes se

assemelham significativamente e que uma delas tem uma certa propriedade. Por analogia, conclui-

se, então, que a outra também tem essa propriedade.

Exemplo: Tal como a Terra, Marte é um astro. A Terra é habituada logo Marte também o é.

Os portugueses tal como os espanhóis são povos latinos, logo se os espanhóis valorizam as

touradas também os portugueses também as valorizam.

Como podemos apurar se um argumento por analogia é um bom argumento? Para se poder

estabelecer uma analogia é necessário que os objeto em estudo sejam semelhantes nos aspetos

mais importantes e quanto maiores forem estas semelhanças mais fácil será confirmar a conclusão.

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Argumentos Indutivos:

Existem dois tipos de induções:

-Generalização: A indução como generalização são argumentos com uma conclusão geral

extraída de casos particulares, ou seja, podemos dizer que na generalização a conclusão é mais

geral que nas suas respetivas premissas. Uma generalização é válida se partir de casos particulares

representativos, desde que não haja exemplos que contradizem esses casos.

Exemplo: “As joaninhas observadas até hoje têm pintas pretas e vermelhas, logo todas as

joaninhas são pintadas de preto e vermelho.”

- Previsão: A indução como previsão parte de casos particulares, mas a conclusão inferida

é a de que algo ocorrerá no futuro. A previsão baseia-se em casos passados, antevendo casos não

observados futuros. Este é o tipo de argumento usado pelas ciências.

Exemplo: “Cada um dos peixes observados até agora tem barbatanas. Logo, o próximo

peixe que avistarmosterá barbatanas.”

Como saber se uma generalização ou uma previsão é um bom argumento? Quanto maior

for a amostra melhor será a indução.Ter uma amostra suficientemente variada ou

representativa sendo que esta deve ser a mais diversificada possível de modo a facilitar o processo

indutivo.

Argumentos de Autoridade:

Este tipo de argumento apoia-se na opinião de um especialista para fazer valer a sua

conclusão, ou seja, conclui-se que uma afirmação é verdadeira invocando uma autoridade, que

pode afirmar que essa afirmação é verdadeira. Porém, estes argumentos podem ser falaciosos.

Para este tipo de argumento ser considerado válido é necessário que a autoridade invocada

seja uma especialista no assunto em causa; que não haja controvérsia entre autoridades em

relação ao assunto; que seja imparcial e que o argumento seja mais fraco que outro argumento

contrário.

Exemplo:“Platão e Descartes acreditavam na imortalidade da alma humana. Logo, a alma é

imortal.”

Falácias informais (Miguel):

As falácias informais são argumentos inválidos cuja invalidade resulta do conteúdo do

argumento, da matéria, ou seja, da linguagem natural comum.Podemos enumerar sete deste tipo

de falácias:

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Post hoc ou falsa causa: É uma falácia cometida quando o autor assume que, por uma coisa se

seguir a outra, a primeira provocou a outra, confundindo uma mera circunstância com a causa.

Ex:Dois dias depois de eu ter comido um pedaço de casca de laranja a constipação passou. O que

evidencia que a casca de laranja cura mesmo a constipação.

Petição de princípio: argumentos nos quais assumimos como verdadeiro aquilo que pretendemos

provar e em que a conclusão é usada como premissa.

Ex:O chá provoca sono porque tem propriedades calmantes.

Ad hominem ou de ataque ao homem: É o tipo de argumento que pretende mostrar que uma

afirmação é falsa, atacando e desacreditando a pessoa que a emite e não a tese que defende.

Ex:Não discuto com pessoas como tu.

Apelo à força: evoca-se as consequências negativas que podem resultar da não admissão de

determinada tese.

Ex:Se não te esforçares mais, dou-te negativa

Apelo à ignorância: Ocorre quando confundimos as coisas e pensamos que a inexistência da prova

é prova de inexistência ou se defende que determinada afirmação é verdadeira porque n~so há

provas em contrário.

Ex: Nunca ninguém conseguiu provar que Deus não existe, portanto, ele existe.

Apelo à misericórdia: Quando se apela ao sentimento de piedade ou compaixão para que a

conclusão seja aceite.

Ex:Eu não assassinei os meus pais com um machado! Por favor, não me acusem, não vê que já

estou a sofrer bastante por ter-me tornado órfão.

Falso dilema: Reduzir as opções a apenas duas quando de facto há mais.

Ex:Reduz-te ao silêncio ou aceita o país que temos. (Porque uma pessoa tem o direito de denunciar

aquilo que na sua perspetiva é errado).

ENSAIO ARGUMENTATIVO (PG 82):

Camorça:Com a situação atual que o nosso munda enfrenta, com uma cada vez maior escassez de

recursos, tudo o que possamos fazer para minimizar a nossa pegada ecológica ou para minimizar o

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consumo desenfreado de recursos é bem-vindo e vivamente recomendável, em prol da saúde do

nosso planeta.

A separação do lixo como forma de reciclagem tem como objetivo fulcral a redução do consumo de

determinadas matérias-primas como é o caso do papel e do alumínio que sendo reaproveitados

poupam decerto a vida a inúmeras árvores e o consumo de combustíveis fósseis.

Bekas:Sendo um tema passível de ser apoiado ou contestado, a prática da reciclagem pode ser

objeto de uma argumentação que permita chegar a uma tese devidamente sustentada.

Encaramos a separação dos resíduos como algo francamente positivo e como uma mais-valia para o

nosso planeta.

Miguel:Assumimos esta posição uma vez que a separação do lixonos permitepoupar matéria-prima

e energia, evitam a destinação imprópria de resíduos como a sua deposição a céu aberto já que os

resíduos são levados para estações de tratamento, reduzira contaminação ambiental, reduzir os

custos de produção não sendo necessária a aquisição de tanta matéria-prima e contribuem para

potenciar a economia criando novos postos de trabalho nos aterros ou estações de tratamento.

Pia:É certo que algumas pessoas possam manter-se relutantes invocando que a separação do lixo é

uma perda de tempo, que exige que gastem tempo e energia atransportaros resíduos até aos

ecopontos ou que não beneficiam em nada em fazê-lo.

Bastos: Mas sejamos racionais ponhamos argumentos e contra-argumentos numa balança. Aí

veremos que são mais os benefícios a pesar do que as desvantagens e que o mundo agradecerá se

optarmos pela separação.