argan. a arte do seculo xx (cap)

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438 no entanto e justamente por volta de 1880 que se realiza prof unda na rna n ei ra de fazer polfti ca , na c ul tur a e nocos tu- o conf l it o fr anc o- prus si ano, de z a nos a nte s, e nc err ara a e poc a indepe nde nc ia na ci ona l, ma s logo depois a Comuna de Pa ri s ur n novo e ir npor ta nt iss imo ca pit ul o da l ut a ent re e classes dirigentes. 0 que determina a mudanca ,e , e g ra ndi o so de se nvol vi ment o da tecn ol ogi a i ndus t ri a l: muda a da soci ed ade, rnud am 0ipo e a modalidade do trabalho, as rela- e de consumo. A politica interna dos paises europeus rFl:aClJC;'" sao --pera-economra:-E:iiXeiga:"se industrial a promessa de uma s ciedade nova, capaz de criar bem-estar, harmonia entre toda as potencias e entre todos os A re alid ad e, porem, e mu it o di fere nt e: 0capitalismo indu strial conflitos entre grandes potencias e entre classes socials: no arco a nos , se rn f al ar dos c onf li tos c olonia i s, sa o de fl agr adas dua s guerras, que en vo lvem mundo inteiro, e uma grande revolu- que tende a se estender da Russia, onde explode em 1917, aos pafses in du stri al izados do mu nd o. movi me nt o s fi losof icos que s e des envolvem naquele per f odo nao a fo rmar gr andes s is te ma s uni t ar ios, ma s a de sc reve r e a analisar a psfqui ca e 0dr a ma exi st enc ia l do home m moder no, e nvol vi do global de producao e de consumo de massa. 0 tema domi- e 0do estranhamento, da "alienacao", da perda de identidade do na so ci e da de e do enr ije ci me nt o da s oc ieda de na i ndi st i nc ao da Aos si stemas fllo so fl cos unit ar ios se subs ti tuem as pesquisas psico- (Be rgs o n); a analise da s mot iva coe s i nc ons ci ent es ( Fre ud, l ung), c ont ra a autorid a de da hi st or ia ( Ni et zs che ), 0anseio por urn matisrno an titetico atoda met affsica (Marx). Se 0gra nde pr ob lema e 0 rte nn cio aoe da exist encia , 0i nt ere sse se conce nt ra s obr e os c ompor- humanos e suas motivacoes conscientes e inconscientes; cada rn ai s s e de ter minam doi s gr ande s c ampos de indaga ca o, a psi c ologia e inconsciente e a existericia oletiva, economica e polftica, out ras cor re nte s de pens ament o c ons tat am e anunc iam 0firn da oci d en t al ( Spe ngl er ) e da propri a hi st or ia c omo modali dade cons- e finalizada da ac ao humana. Na politica, verifica-se, por urn lado, uma remocao sistematica dos ideals e a instauracao de uma dura Realpolitik, para a qual so con- . os i nt eres se s ec onomi cos e, por out ro, a f or mac ao de pa rt idos po f ti - e a configuracao da luta poHtica como conflito entre as ideologias de estes sao portadores. A ideologia e uma imagem da sociedade como .•-.__._ que fosse , 0partid e urn conjunto de pessoas que professam a. I I CYBERCOPY COPIADORA IL AN H O US E E L AH C HO N ET E AARTEDOSECULOXX 1. 188 0-1 940 . Ser ia pos sf vel di ze r que e ss es se ss ent a tuem, para a arte mod er na, 0que se chama periodo historico, ou arco de tempo em que todos os e entos parecem ligados entre si , ~ 5es que podem ser de afinidade, de interferencia e ate de mas que, contudo, formam urn contexto, tal que cada urn deles explicado apenas em relacao aos outros? E s eria possfvel dizer que " mo arco de tempo constitui urn perfodo da historia geral e que, a historia da rte nao pode ser separada da historia politica, ~vV""V1J so ci al ? E a r ela cao se ria de ma o t ini ca, c omo a a rte de pe nde n te dos maiores da epoca, ou reciproca, de maneira que sem levar em nao se poderia compreender a fundo a historia desse perfodo Consideremos, comecando pela historia geral, os termos e as de sse arc o de t empo. Qua nt o a dat a f ina l, 1940, na o pode ha ver a Se gunda G~e rr a Mundi al na o mar ca ape na s 0im de ur n pe rfodo, uma epoca. E a crise d todo 0s is te ma de val ore s, da s propri as ras da civilizacao: mudam a geografia politica, as relacoes de forca ' as potencias e, dentro delas, entre as classes sociais. Mudam gr ande s te ma s da pe squi sa c ie nt ffi ca eda cul tur a, e spe ci al me nt e vidades artfsticas: finda a guerra, muitos se perguntarao se, num que encontrou a maneira de se autodestruir e parece obcecado pela tade de possuir meios de destruicao sempre mais poderosos, ainda possfvel produzir e justificar os impulsos criativos que encontram maior expressao na arte. A razao social da arte, que ja parecia c ompr omet ida pe lo de se n vol vi me nt o das t ec ni cas i ndus tri ai s, no parece quase impossfvel: co eca-se a alar de dificuldade, logo de e, finalmente, de morte da arte. A data inicial do perfodo, 1880, nao corresponde a eventos tao 439 ,i 1 i t

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no entanto e justamente por volta de 1880 que se realiza

profunda na rnaneira de fazer polftica, na cultura e no costu-

o conflito franco-prussiano, dez anos antes, encerrara a epoca

independencia nacional, mas logo depois a Comuna de Paris

urn novo e irnportantissimo capitulo da luta entre

e classes dirigentes. 0 que determina a mudanca ,e

,egrandioso desenvolvimento da tecnologia industrial: muda a

da sociedade, rnudam 0ipo e a modalidade do trabalho, as rela-

e de consumo. A politica interna dos paises europeusrFl:aClJC;'" sao - - p e r a - e c o n o m r a : - E : i i X e i g a : " s e

industrial a promessa de uma sociedade nova, capaz de criar

bem-estar, harmonia entre todas as potencias e entre todos os

A realidade, porem, e muito diferente: 0capitalismo industrial

conflitos entre grandes potencias e entre classes socials: no arco

anos, sern falar dos conflitos coloniais, sao deflagradas duas

guerras, que envolvem 0mundo inteiro, e uma grande revolu-

que tende a se estender da Russia, onde explode em 1917, aos

pafses industrializados do mundo.

movimentos filosoficos que se desenvolvem naquele perfodo nao

a formar grandes sistemas unitarios, mas a descrever e a analisar a

psfquica e 0drama existencial do homem moderno, envolvido

global de producao e de consumo de massa. 0 tema domi-

e 0do estranhamento, da "alienacao", da perda de identidade do

na sociedade e do enrijecimento da sociedade na indistincao da

Aos sistemas fllosoflcos unitarios se substituem as pesquisas psico-

(Bergson); a analise das motivacoes inconscientes (Freud, lung),

contra a autoridade da historia (Nietzsche), 0anseio por urn

matisrno antitetico a toda metaffsica (Marx). Se0grande problema e0rtenncioaoe da existencia, 0interesse se concentra sobre os compor-

humanos e suas motivacoes conscientes e inconscientes; cada

rnais se determinam dois grandes campos de indagacao, a psicologia

e inconsciente e a existericia coletiva, economica e polftica,

outras correntes de pensamento constatam e anunciam 0firn da

ocidental (Spengler) e da propria historia como modalidade cons-e finalizada da acao humana.

Na politica, verifica-se, por urn lado, uma remocao sistematica dos

ideals e a instauracao de uma dura Realpolitik, para a qual so con- .

os interesses economicos e, por outro, a formacao de partidos polfti-

e a configuracao da luta poHtica como conflito entre as ideologias de

estes sao portadores. A ideologia e uma imagem da sociedade como

.•-.__._ que fosse, 0partido e urn conjunto de pessoas que professam a.

I

I

CYBERCOPYC O P I A D O R A IL AN H O US E E L AH C HO N ET E

AARTEDOSECULOXX

1. 1880-1940. Seria possfvel dizer que esses sessenta

tuem, para a arte moderna, 0que se chama periodo historico, ou

arco de tempo em que todos os eventos parecem ligados entre si

,~5es que podem ser de afinidade, de interferencia e ate de

mas que, contudo, formam urn contexto, tal que cada urn deles

explicado apenas em relacao aos outros? Eseria possfvel dizer que "

mo arco de tempo constitui urn perfodo da historia geral e que,

a historia da arte nao pode ser separada da historia politica, ~vV""V1J

social? Ea relacao seria de mao tinica, como a arte dependente dos

maiores da epoca, ou reciproca, de maneira que sem levar em

nao se poderia compreender a fundo a historia desse perfodo?

Consideremos, comecando pela historia geral, os termos e as

desse arco de tempo. Quanto a data final, 1940, nao pode haver

a Segunda G~erra Mundial nao marca apenas 0im de urn perfodo,

uma epoca. E a crise de todo 0sistema de valores, das proprias

ras da civilizacao: mudam a geografia politica, as relacoes de forca '

as potencias e, dentro delas, entre as classes sociais. Mudam

grandes temas da pesquisa cientffica e da cultura, especialmente

vidades artfsticas: finda a guerra, muitos se perguntarao se, num

que encontrou a maneira de se autodestruir e parece obcecado pela

tade de possuir meios de destruicao sempre mais poderosos, ainda

possfvel produzir e justificar os impulsos criativos que encontram

maior expressao na arte. A razao social da arte, que ja parecia

comprometida pelo desenvolvimento das tecnicas industriais, no

parece quase impossfvel: comeca-se a falar de dificuldade, logo de

e, finalmente, de morte da arte.

A data inicial do perfodo, 1880, nao corresponde a eventos tao

439

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mesma ideologia e se associam com a intencao de faze-Ia

quistar 0poder. Nas ult imas decadas do secula X D i : e nas-·"~U.l<11

cada vez mais se configura a antitese entre ideologias

~pelam aos principios da democracia e do socialisrno e tern

final a revolucao, e ideologias conservadoras e mais tard_ ~ eque terao como exito a formacao de regimes totalt tanos.

movimentos "modernos" paralelos, mas de signo oposto,

o contraste entre 0europeismo artfstico de matriz classica

e0europefsmo artfstico de matriz rornantica, alerna. Franca e

permanecerao, por todo esse perfodo, os dois polosdia-

cultura figurativa europefsta.

1918. E a fase das assim chamadas vanguardas hist6ricas. Jaapenas 0progresso, mas a transformacao radical, revoluciona-

emseus process os e em suas finalidades. 0cubismo analiticoe Braque pode ser considerado a nova l inguagem figurat iva,

verdadeira e integralmente "moderna"; e analitico, de fato,

nao tanto a realidade exterior, quanta. a propria arte, em suas

e seus processos. Ja nao tendo um "uso" social natural, a arte

para si mesma seu verdadeiro ser, sua funcao possfvel, 0

sua interven~ao na realidade social , mesmo conservando uma

autonomia.

rnais marcadamente do que 0cubismo, 0grupo alernao do

guiado por Kandinsky e Klee, corta toda relacao entre a ima-

e a imagem da realidade. Entre cubismo e Blaue Reiter se

em termos mais radicals 0contraste que fora proprio dos fauves e

ynreEiSi(::mistas.entre uma arte voltada ao conhecimento do objeto e

voltada a expressao do sujei to - eo ul timo ate da contraposicaode classicismo e romantismo. Com 0Blaue Reiter se inicia a arte

chamada de nao figurativa ou abstrata.

periferia europeia (Ital ia, Russia) a profunda renovacao cubista e

Reiter se manifestam com tendencias extremistas e "futuristas" ,

nao apenas separar a arte de toda tradicao, mas projeta-la para

Como nesses parses 0nfvel cultural era mais baixo eo deseri-

rimento industrial estava apenas comecando, a luta dos "futuristas"

o passado foi mais violenta e a adesao a nascente "civilizacao das

mais entusiasta.

1918:"1930, aproximadameriie-.Eaf::isedOpos-guerra. A aitese·

em tres direcoes diferentes: 1) pela analise das causas do confli ro

e pelo proposito de evitar que se repita nasce 0engajarllento

. " " ' L 1 < : > ' . " ' - < : > na reconstrucao 'da ci:viliza<;ao europeia e ria eliIlliiiac;aode-

contradicoes: sao essas as correntes que sao chamadas globalmente,

de notaveis diferencas internas, de construtivas; 2)·dlstariciainen ....

arte da realidade social e de todo interesse polfticora arte e vista

aventura interior, exploracao das profundezas, busca das fontes da

2.0periodo 1880-1940 na hist6ria da arte. A sucessaornovimentos artist icos se conforma a esse quadro hist6rico

expHcita e sempre mais marcada intencao de cortar as pontes

tradicoes e se apresentar como absolutamente "modernos'" 2)

~ao a ser "europeus", ou seja, expressivos de interesses cultu'rais

nais, 3) pela formacao e a alternancia sempre mais rapida de

correntes, de grupos organizados de artistas, amitide em vivo

si, como se fossem partidos polfticos. Para ahistoria da arte 0

-1940 pode esquematicamente ser articulado da maneiraA) 1880-1908, aproximadamente. E a fase do assim chva'-mt;~aUdJ'oll'C;:

nismo", e se manifesta por uma intensa reativac,;:ao de todas as

arnsticas, inclusive no campo das artes decorativas. Afirma-se a

social da arte com acentos semelhantes aos do socialisme,

Pretende-se que na arte se realize uma renovacao profunda comoindustria realizou no campo da producao. Busca -se a fusao total das

para alern dos limites delas, COrlla ciencia, a poesia, a filosofia:0

eo que Wagner charnara de Gesammtkunstwerk[obra de arte totall.

o ponto de referencia permanece, para a pintura, 0

e, para a arquitetura,· as novas tecnicas construtivas. E preciso

que a pesquisa dos Impressionlstas continua sedeserrvolverido

sua p~onta mais avancada (Cezanne) proceda solitaria e quas~

da ate a morte do mestre (1906). As ultirnas decadas do seculo

.caracterizadas pela vo,made: _de prQPoreioIlarumfunda:m.ento

visao dos impressionistas (neoimpressionismo de Seurat e V.l!';U"'-'-,

assumi-la como instrumento de umainterpretacao mais autentica

dadelra da realidade social (T'9uIQu,se-Lautrec); de obriga-la.a

com extra ordinaria intensidade 0drama interior do hornern

(Van Gogh, Gauguin, Munch, Ensor). A corrente difusa des

encabecada por Redon, opoe ao "naturalismo" impressionista seu

ri tualismo", mas visa, ela tambem, a uma reriovacao profunda da

. gem dos signospara expressar conteudos novos e atuais.

==Nocome~oao · s ec u lo xx~ -- p i i i t i i r a d e - C ; § z a h n e : d a q l l a l sera a avaliar a enorme importancia, e reconhecida como base tanto

movimento frances dos fauves, quanta pelo alernao dos ~_.__~·nn'

, 3) muito mais drastica e a posicao do dadafsmo; corrente que

na Europa enos Estados Unidos (com Duchamp) darecusa total

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3. 0 mercado. No perfodo que estamos tratando 0campo das

des artisticas se apresenta animado, e asvezes conturbado, mais do

qualquer outro perfodo. Embora 0centro da cultura artistica seja e

ca Paris (pelo menos ate a Segunda Guerra Mundial), movirnentossantes se registram na Belgica, na Holanda, na Alemanha, na ~",O~.~

Russia, naItalia, naEspanha, nos Estados Unidos. Manifestarn-se e

-se personalidades de grande destaque, nao apenas na pintura, na

tura, na arquitetura, mas tarnbem nas artes decorativas, que ja nao se

nem se pode chamar de artes menores ou aplicadas. Ajulgar pelo

de grandes artistas e pela qualidade de suas obras, na primeira

a arte parece realmerite atingir urn dos nfveis mais altos de suaa so~iedade e de seus valores e da propria arte como valoracreditado.

A frente das correntes construtivas se situa naturalmente '

ra, tanto na Franca, com LeCorbusier, quanto na Alemanh

e Mies van der Rohe, e na Holanda, com 0grupo a,

Enquanto na Europa se desenvolve a arquitetura dita

dos Unidos se afirma sobre bases completamente diferentes

nico" de Frank Lloyd Wright. A aderencla da forma a funs;:a~

de materiais de producao industrial, 0uso de formas ''-", ·",tares·respenaemaideia

criando modalidades de vida comuns, unificando as formas

das casas, impondo em todo lugar sua logica ferrenha, a

nal deveria ser 0fator principal do advento de uma sociedadee sem fronteiras nacionats.

o engajamento social da arte construtiva foi

Russia, onde a vontade de uma revolucao artfstica se associou a

social e politica em acao. A arte de vanguarda russa entre as

constitui 0inico exemplo de movimento artfstico moderno

te erigajado numa acao revolucionaria, visando tambem,

ficar asmodalidades de organizacao da atividade artfstica as

a sociedade e com 0Estado. '

D) 1930-1940. Na arte aparece 0pressentimento da crisecultural, que explodiria com a Segunda Guerra Mundial. 0 fato

relevancia e a condenacao e a persecucao da arte moderna

as suas correntes, pelos regimes totalitarios: Russia de Stalin,'

de Hider, Italia de Mussolini. A arte de Estado que os ditadores

impor nao produziu nenhum resultado apreciavel, mas as correntes

cas modernas, condenadas ou proibidas, assumem por reflexo urn

acento de oposicao a esses regimes e de defesa a qualquer preco dadade de expressao.

'H::l.1<1-'~rnostra se interessar pela arte como nunca antes. Surgem

JU,J"~-- para a organizacao de exposicoes nacionais e interna-

exemplo, a Bienal de Veneza, em 1898); formam-se museus

exc1usivamente a arte conternporanea. As antigas estruturas

Saloes, as Academias etc.) vao perdendo rapidamente ere-

as encomendas ptiblicas de obras, que ainda ha pouco eram

pelos artistas oficialmente reconhecidos, se tornam cada:~';"."'riC' laemfinsdo seculo xrxse-difunde.a.Ideia de que osartistas

cttulares de catedras e de dignidades academicas, sao os piores

'menos, .os menos interessantes. Pouco mais tarde, a desconflan-

desprezo, e os artistas que nao participam dos movimentos

sao ridicularizados como pompiers. De fato, a arte de tenden-

se torna cada vez mais mediocre: se, ainda em meados

urn conservador como Ingres estava no mesmo nfvel de urn

, como Delacroix, no fimdo seculo Bouguereau, Cabanel, Meis-

ernbora ainda preferidos pelo grande publico, parecem meros

se comparados aos impressionistas.

evolucao muito semelhante acontece na crftica. De uma critica

apenas informativa e jornalistica, que refletia passivamente os

publico, passa-se a uma critica participativa e amiiide vivamenteAmudanca acontece por volta de meados do seculo com Bau-

mas ja poucas decadas mais tarde aparece uma crftica que toma

jos;arrlerlleposicao a favor das correntes avancadas - em primeiro

dos impressionistas e dos simbolistas. Trata-se, mais uma vez, de

como Zola, Champfleury, Auriol, Feneon, mais tarde, 0grande

das vanguardas artisticas sera de novo um grande poeta, Apolli-

.Isso demonstra que a posicao do artista passou do nfvel de um pro-

nalismo necessario, procurado, integrado ao sistema, ao das ativida-

marginais, criticas e polemicas em relacao ao sistema.

decadencia gradual das organizacoes oficiais para 0apoio e 0

das artes, cuja presenca ja era urn indicio de crise, corresponde

srmacao e ao rapido desenvolvimento do mercado artistico. Trata-se

fenomeno muito complexo, destinado a se desenvolver e m todo

ocidental e a transferir seu epicentro, apos a Segunda Guerra,

para Nova York. 0 surgimento de urn mercado decididamente

nuv-,'V""U coincide com 0impressionismo e com 0simbolismo, ou

com as primeiras correntes artisticas para as quais a obra de arte ja

e algo que se produz sob encomenda, mas 0produto de uma pes-

autonoma nao dessemelhante, por sua Independencia, a da poesia

442 443

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e da Iiteratura, 0 fato de 0mercado se interessar apenas

artfsticas avancadas e concorrer poderosamente a vit6ria

tendencias conservadoras explica como arniude os grandes

tenham se tornado os apoiadores e os financiadores desta

corrente, eventualmente garantindo-se a exclusividade dos

interessantes, participando assim do debate das tendencias

sobre 0andamento da cultura artistica, Quase sempre a

fator de mediacao entre artistas, galerias de mercado

vez, 0mercado se assegura indiretamente 0controle das

nizacoes publicae e especialmente das grandes exposi~5es

enorme sua importancia para a difusao internacional do

arte moderna, que se afirma independentemente de todas as

escolas nacionais, Como e facil entender, 0mercado,da renovacao de valores, estimulou a concepcao da arte como

genuina da personalidade ou individualidade do artista e,

ca de talentos a serem "lancados",

omercado artfstico parisiense foi 0rnaior responsavel da

mada Escola de Paris, termo com que se indicou a confiuencia

na prime ira metade do seculo, de artistas originarios de todos

do mundo e dispostos a suportar anos de miseria na esperanca,

ria dos cas os frustrada, de uma "consagracao" ou de urn

por algum grande marchand. 0 mercado coritribuiu assim a

a sucessao das correntes urn ritmo extremamente rapido e

vivacidade polemica: foi possfvel falar, com certo fundamento

de, de "modas" artfsticas que, ap6s urn exito brilhantfssimo,

sao substituidas por outras "modas". 0 revezamento das

._ de Iastirnado, embora, na realidade, represente apenas uma

parcial da producao artfstica as leis do rnercado industrial)

acompanhado por ardorosas discussoes crfticas e, portanto, por

..movimento de ideias.

o desenvolvimento do mercado artistico, que se aoresenta:

fenomeno marcante inclusive em relacao a multiplicacao das

oficiais e dos museus de arte moderna, demonstra que a funcao

como produto cultural, ainda e mediada e condicionada pela posseto artistico, uma posse que, obviamente, e viavel apenas para as

economicamente privilegiadas. 0 surgimento de museus piiblicos

conternporanea a partir das colecoes particulares, sempre mais

(amitide doadas a coletividade pelos pr6prios colecionadores),

mente nos Estados .Unidos, demonstra que a rica burguesia

sidera seus gostos exemplares e instrutivos para a coletividade: 0

nismo privado, ainda mais quando as colecoes se transforrnam em

, portanto, urn dos meios pelos quais a classe dirigente

poder ecoriornico em hegemonia cultural.

leciOl!llSIll'J,especialmente 0de arte conternporanea, foi pratica-

pelo capitalismo avancado, interessado no progresso

tecnol6gico, inclusive como forma de se distinguir da pequena

conservadora e retr6grada. A burguesia avancada, que

como culturalmente moderna, acolhe com liberalismouaJLUL·-~·

amiude aspera, da arte moderna contra o establishment

fato, por estar ainda ligada de certamaneira a sua origem

esta convencida da necessidade de se mover no sentido de

que irnplica a crftica da situacao presente. Por isso,essa

avans;:ada estimula a acao seletiva do mercado e sua continua

de valoresj e, naturalmente, defende a liberdade da arte e sua

tn(:le1:JeJ[1U'CH\..L'"e todo preceito politico e religioso, bern como

LULJHUa.~~ tradicional que seja obstaculo a seu progressismo.

industria como meio. 0mercado internacional nao e 0unicomedtacao entre a producao e a fruicao da arte moderna. Desde

o impressionismo, a arte se impoe comouma pesquisa dis-

aUILV1.1VIU«, os artistas adquirem consciencia de que ela nao pode

apenas as classes ricas.museus, embora administrados pelo Estado ou por entes

ainda refletem a concepcao da obra de arte como bern patrimo-

os objetos sao fruidos como coisas que se possuem, ainda

nao seja do individuo, mas da coletividade. Quando as tecni-

invadiram todos os setores da producao, pondo em crise 0

tradicional, este tentou um salto qualitative para veneer a con-

do produto industrial: entre os dois seculos, 0art nouveau se

como resgate do lade artisticoou poetico da producao economica,

vulgaridade e a mera economicidade da industria. Ao mesmo

busca-se adequar 0rabalho artesao ao industrial, ou seja,

para fins artisticos 0potencial tecnico e as possibilidades de difu-

Nasce assirn a moda do mobiliario, do utensflio, da deco-

da Iridumeniarla "de arte", quedevern proporcionar ao costume,avida cotidiana urn carater "artistico", isto e: de estro e genialidade

.Como se quisesse se livrar da obtusidade do trabalho industrial,

aspira a urn estetismo difuso, como 0representado pelo "esti-

que, em seu complexo, alude a natureza elaborada, refinada,

da:·c(>n~J;elJ.ialn:lohomel11.e suasmaneiiaseIdeaisde vida:

1880 e a Primeira Guerra Mundial rnultiplicam-se as Exposicoes

'<L'-,LV'L""'::>,ue na realidade sao feiras da producao industrial e visam

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estimular, gras;:asao conhecimento e 'as comparas;:oes, 0

e a animacao dos mercados. Os artistas colaboram para

seja nas secoes dedicadas especificamente as artes, seja na

decoracao dos pavi lhoes e na publicidade dos produtos:

tacoes autocelebrat ivas, mas tambem instrumentais, sao os

e os animadores. E, como as Exposicoes representam urn

moderno, em todos os campos, e tambem mediante essas

nhas internacionais que a arte e suas formas "aplicadas"

uma modernidade de ponta.

um novo tipo de relacao entre arte e sociedade con-

que a obra de arte nao deve ser contemp~ada exteriormen-

aoente que estimula a escolha de deterrrunados cornporta-

o ternas essenciais sao 0do util e do bela ou, em termos

da funs;:ao e da visao. Para 0art nouveau, que parte tam-

de Ruskin, 0bela esta alern do util , se identi fica com:nsaUL'-~~·~mas com um superfluo necessario como evasao do mundo

Ie: , ITC: :WCI da necessidade. A producao "floral" e justamente fei-

uteis a que se sobrepoe0

superfiuo de formas nao funcio-

departamentos", que de certa maneira as reduz a dimerisao

e as torna permanentes: ja no flm do seculo as "Iojas de

constituem 0principal canal entre producao industrial e

esse canal a "producao de arte", cada vez mais industrializada

influericia sobre 0publico, agindo como fator principal do '

estet icidade da vida. As Iojas de departamentos se tornam logo, '

os bancos e os centros diretivos da grande industria, 0micleo

central da cidade moderna.

Considerando que no sistema industrial e preciso urna

sumos muito superior as necessidades objetivas, recorre-se a

artificial da necessidade de consurnir: justamente no fimdo "'-''-'UJlU1

a publicidade como genero artistico, praticado inicialmentee mais tarde por profissionais especializados. Realizaram

tarios artistas como Toulouse-Lautrec, Forain, Bonnard, Matisse

novo genero artfstico tem de ter caracterfsticas especiais: 1)a

poder ser reproduzida infinitas vezes e ser repetida ilimitadamente

muros da cidade sem gerar enfado ou tedio; 2) deve atingir de

atrair com forca 0olhar geralmente distraido dos transeuntes e ser,

to, iconicamente Simples e capaz de produzir uma emocao visual

3) deve, no entanto, comunicar uma mensagem, isto e, uma

capaz de suscitar em quem olha urn interesse improviso pela

consumo de determinados objetos; 4) tem duracao breve no

que 0que comunica e sublirna principalmente e a atualidade momen

do objeto. A necessidade da publicidade como incentivo ao

produtos industriais e evidente, mas por que recorrer a um estimulo

co"? Evidentemente, porque se julga que 0consumo eum ate que

tanto quanto a producao, algo de estetico ou de artfstico: e "belo"

um deterrninadocarro, um deterrninado tecido, um determinado

Essa esteticidade do consumo e um dos grandes componentes da

dade da vida social, que compensa a repet itividade ou nao

trabalho industrial.

do util. A essa fase segue, com as correntes racionalistas e

a ideia do uti l ou funeional que e em si tambern belo, porque

cort lunica uma Informacao e s6 quando esta for essencial e

uU'"'~'''-hayed valor estet ico: por isso, 0construtivismo se opoe

e a confusao da comunicacao pr6prias do kitsch, ou seja,

excessivas do art nouveau. Sobre essas bases se fundam todas

de estabelecer laces operat ives entre ideacao artfstlca e tee-

de produs;:ao: 0art nouveau, que visa dobrar a ind_?stria a ~ma-

o Werkbund alemao que, no.comeco do seculo, afi rma

:SSJ,ua,uc; de adequar a ldeacao artistica as possibilidades do meio

o programa organico da Bauhaus, para 0qual a funcionalidade

a forma. E s6 nessa fase rnais madura que 0artista deixa de sero inventor de formas que serao sucessivamente realizadas

para se torriar um projetista plenamente mtegrado no cielo

da produs;:ao: entre 1920 e 1940 verifica-se uma transforrnacao

tipologias e das morfologias das coisas que a sociedade fabrica

necessidades.

, busca de uma relacao organica, e nao mais apenas de colaboracao,

momento ideativo (ou criativo) e0momento operativo determina

a formacao de um "estilo" caracterizado pela nudez funcional

e dos objetos e pela "raclonalidade" da correspondencia

a seu usa pratico. 0conceito determinante e0de "standard",

forma perfeita realizavel nas condicoes tecnicas e econornicas pre-

o standard de um objeto e0produto da critica aos tipos anteriores

objeto e, ao mesmo tempo, 0projeto de um novo modelo, quevez sera logo superado pela cri tica e pela projetacao de um mode-

mais novo. Naturalmente, a Ident ificacao das diversas funcoes

leva a morfologias extremamente diferenciadas: um exemplo

e a cadeira de tubo metal ico ideada por Breuer em 1926, que el imina

arquitetonico (de pequena arquitetura) das cadeiras tradic~onais,

a relacao do objeto do ambiente arquitetorilco para a pessoa que a

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usa, substitui 0 sistema estatico de peso e suporte por Urn

de jogo de forcas. A identificacao das funcoes

contudo, a formacao de urn estilo homogeneo, ainda que

pela recorrencia de constantes formais, e sim pela ~~~""C;ll~

de, a flexibilidade das formas.

Quanto ao problema rnais especificamente tecnol6gico

design construtivista nem sequer se pode propor; porque '

existencia de tecnicas artisticas e tecnicas nao artisticas, 0 's6 pode faze-lo levando em conta os meios de que pode

tecnicas industriais; e estas, por sua vez, nao pertencem

artistas nem aos empreendedores, mas a sociedade inteira, que

e de seus produtos da maneira que julgar rnelhor, Nao existe

periodo que estamos tratando, uma arte "tecnoI6gica", mas o

projetista para a industria ou designer, e urn fator integrante

social de producao.

Uma vez que os objetos estandardizados sao a repeti~ao

seu projeto, as pessoas, aoutiliza-Ios, revivem a ordem do

como crftica ao passado, seja como projecao para 0 futuro: a

trutiva, portanto, comunica a seus usuarios sua pr6pria

esse e justamente seu aspecto social e politicamente '-UU..i:lL

toda sociedade deve continuamente projetar seu futuro. Para asconstrutivas a integracao da pesquisa estetica no sistema

tece mediante a producao industrial, sempre sob a condicao de

se realize por metodologias corretas e no interesse final, nao

capitalista, mas da sociedade inteira. 0tandard da producao

portanto, 0 agente da transformacao necessaria de urna sociedad=

quica e classista para uma sociedade funcional, sem classes.

de se formam os artistas educadores. A partir da segun-

s~~ulO .XIX, assiste-se ao progressivo declfnio das a~tigas

educa~ao artfstica, as Academias de Belas-Artes. no fundo

rtistas autenticos nao apenas nao conseguem se formar

~e ensina a copiar 0 antigo e a compor quadros de historia

.mas tambem se formam rebelando-se contra a escola. Com

polemicas de Ruskin e de Morris, com 0dinterlesse crescer:_te

com 0 maior conhecimento e cu turas que naoartes :'maiores" e "menores"(como ojapao), comecama

DrC)grarrlaSde impostacao humanitaria e as vezes abertamente

de arte aplicada, que habilitam para atividades de cara-

industrial. A pr6pria agrerniacao artistica de arts and crafts,e por Morris, tern uma manifesta postura didatica; mais

Influencia das ideias do Werkbund, surgem na Europa cen-

Kunstgewerbeschulen[escolas de arte aplicadal. De 1919 a

fundada e dirigida por Walter Gropius em Weimar e mais

para Dessau, foi a urn s6 tempo un:a escola m~d~rnfssima

e de artes visuals, 0 centro de movunentos arnsticos entre

(ali ensinaram por muito tempo Kandinsky, Klee, Fei-

ichlernrrler"Albers, Moholy-Nagy, Breuer etc.) e a primeira escola

e conduzida com caracteres de democracia avancada. Funda-didatica e tambem a organizacao da atividade artistica nos

sovieticos de vanguarda.

rucou.urua entre mercado e escola corresponde, no plano das

duas diferentes concepcoes da arte: para os defensores da fun-

a arte nao poderia deixar de participar como forca motriz

social, que se. pretende assegurado, Irrefreavel e irreversi-

os defensores da flnalidade mercantil, a arte nao tern progresso,

por mudancas improvisas e inesperadas, que cor:sistem na

dos casos no "golpe de genio" de uma grande personahdade: Urn

caminho e aquele aberto, durante a Primeira Guerra Mundial, pelo

:trata-se de uma visao negativa que contesta 0 inteiro sistema de

sociedade, portanto a propria arte como parte desse sistema,e

se realizar em atos gratuitos e aparentemente insensatos, masda vontade de conservar uma razao de serpara 0 artista na

de seu tempo, justamente na medida em que esta e contestada

por toda forma direta ou indireta de colabora~ao com ela,

conci1ito de moderno. 'f e c la a arte e r I l e d e rn a r i a e p o c a e m q u e eno entanto e possfvel dizer que por volta de 1880 nasce a a~e ~oder-

e, uma arte da qual a "modernidade" e a qualidade mtnnseca,.

5. A escola. Sinteticamente, os dois grandes sistemas de

entre arte e sociedade sao 0 mercado e a escola. 0mercado se

concepcao tradicional da obra de arte COmO bern produzido por

dores individuais, os artistas, para consumidores individuais, os

nadores, que subordinam 0 usa a posse material do objeto

concepcao, pela qual a arte e urn bern reservado a uma elite

no caso melhor, torna a comunidade 'parcialmente participe

museus, tern seu epicentro em Paris, e visaprincipalmente a

de e anovidade da obra de arte. No polo oposto da arte para 0

que constitui acumulacao de riqueza e e, portanto, sistemaucamerue

..,=~alizacla, ha a arte para aedueaeae-que ja naoquer se identificar

obra-pnma, e sim servir como instrumento para a educacao,

arte como funcao educativa, adquire destaque especial a escola

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permanente, explicitamente buscada e declarada. Chama-se

na Franca, Modern Style na Inglaterra, fugendstil na .n..l';:;UJ.GlUna;

que artistas, criticos, literatos valorizam sao "novidade",

"juventude", "primavera" etc. Alern .disso, insiste-se sobre 0

"estilo", que vale tanto para a arte quanto para as maneiras de

concebida, mais que como algo raro e precioso, como modelo

cia, e as obras de arte sao apenas urn meio para comunicar a

da realidade vivida exemplarmente pelos artistas, os quais,

posicao decriadores, sao considerados modelos de .l.l\..<.l.lla.1JlJ.U:ctQ«

dos movimentos artisticos que vao de cerca de 1880 a

o e chamado globalmente modernismo. Nele, a arte e conce-

urn estimulador da consciencia do tempo, ainda que as vezes 0

manifeste como uma critica dura ou ate uma recusa dos ideais

contemporanea, como em Van Gogh, Munch, Ensor. Apenas

indiferente a realidade social que 0cerca, e nao porque

eternidade sobre-historica da arte, mas porque esta intima-

~n'iTellCi'OOe que a arte nao e urn reflexo da historia social, mas

autonolnia disciplinar e sua historia, A pintura de Cezanne nao

hprcolJo. vrvacidade os aspectos e os caracteres, mas definir com

o valor e a funcao da experiencia visual na construcao da

moderna da realidade.

efeito, e de sua pintura que descende 0 cubisrno, ou seja, 0pri-

lUJ,C..lJLL'-'uja modernidade radical e absoluta se concretiza na

drastica de todas as convencoes da representacao artistica e na

das estruturas, das modalidades e das finalidades da arte.

nsl'OrJma.s;aoadical da arte se justifica porque uma mudanca raclical

lertl1c:allG<0ao apenas em todos os campos do saber, mas tambem

'.l.l~'''''-' na politica e nos costumes. 0cubismo nao e propriamen-

m()Vlmt:nLUde vanguarda: possui uma linha teorica, apresenta-se

rigorosa da realidade visfvel, como definicao de novas coor-

espaciotemporais da imagem e de urn novo valor do quadro, queser urn plano de projecao para a representacao da realidade, e se

plastico autonomo, Os criadores do cubismo (Picasso, Bra-

seus teoricos (Metzinger, Lhote etc.) constatam que uma mudanca

se produziu na concepcao do mundo e que a arte tambem ha de

LiL.:>lV.l.l.l.l<Um suas proprias estruturas para se tornar parte do novo

do saber. Ha, de fato, artistas (Duchamp, Delaunay) que, mesmo

!,.lC;JL<l.lJ.UVssencial e irreversivel a reforma artistica do cubismo, a jul-

.,.<C;lUa.,,.a.'uveorica, analitica, racionalista, "cartesiana".

cubismo se conectam, ao contrario, os movimentos que se decla-

vanguarda: em primeiro lugar 0futurismo, que explode na Italia

com propositos violentamente revolucionarios. A Italia e a

eram paises onde 0processo de industrializacao estava apenas no

a cultura era retrograda e tradicionalista, a orientacao polftica,

Por isso, a arte nao quer apenas transformar a si mesma,

como fator de transformacao da cultura, da polftica, dos cos-

Adquire assim urn forte carater ideologico, que se acentuaria na

depois da Revolucao de Outubro; ja nao a satisfaz pertencer a seu

quer antecipar e prefigurar 0futuro.

a Prime ira Guerra Mundial, aexigencia de nao historicidade

principio, moderna e a ruptura de todo laco com a tradis;ao,

contesta a autoridade. Isso nao significa ignorancia da arte do

.. ao contrario, justamente no flm do seculo formam-se uma

historiografia da arte com carater cientffico, e0usa de otimas

mecanicas de reproducao divulga 0conhecimento da arte de

remotas. Amiude os artistas se inspiram livremente na arte de

regioes distances: no perfodo bizantino, romanico, gotico, na

ou na dos povos primitivos; mas nao se sentem obrigados a

desenvolver urn processo de retorno (revival), que e multo

processo de desenvolvimento de uma tradicao, Para os rustoriac

arte do passado e urn documento; para os artistas e a expressao

criatividade ou espiritualidade que, nao sendo submetida as leise perenemente presente, atual emoderna.

Baudelaire ja criticara a imitacao dos antigos e afirmara

para ser tal, deve ser a expressao de seu tempo; e Stendhal ja

eternidade canonica do belo classico a mutabilidade e falta de

bela romantico, Se no passado a arte deu forma sensfvel aos

sobre os quais 0poder polftico ou religioso se fundava e visava

trar sua certeza e estabilidade, a arte que se de clara moderna

todo principlo de autoridade quer expressar os sentimentos,

as aspiracoes, as nostalgias das pessoas de seu tempo.

.mentos, opera escolhas e, naturalmente, separa 0que e

convencoes, obsequio as tradicoes, respeito da ordem I...Vll<:>L.LLLl1L1.",

representa por isso 0aspecto negativo da sociedade do tempo,

ao contrario, earrojo,. espfrito de aventura, sensibilidade, CUnC)l:ilCJ,

conhecimento, e representa 0aspecto positivo. A burguesia e

social que quer 0progresso e sabe que ele nao existe sem au.LV'..l.l'

espelho da arte e urn meio de autocritica, distingue aquilo que na

lidade burguesa e mesquinharia, conforrnismo, respeito das

[ideias recebidasl, daquilo que e entusiasmo, ousadia, anseio

experiencias e de mais extraordinarias conquistas.

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operam segundo novas tecnicas construtivas (ferro, con-

__I~~n'P homens de esquerda: e 0caso de William Morris,

volta a arte util, ou de Victor Horta, autor da Casa do Povo em

Para esses artistas a hist6ria e progresso, a arte tambern

a linha do progresso, atualizando suas tipologias e suas tee-

.qa produ~ao industrial. As tendencias para as quais a arte

do mundo interior e fantastico do artista, sem finalidades de

de analise e de intervencao na realidade de fato, ou seja,

sirnbolistas, afirmam ao contrario 0carater aristocratico, a

e poeticidade da arte. Recusam .todo engajamento

progressivo, negam ate que a arte tenha uma razao hist6rica:

nao e uma experiencia sobre a qual se constr6i 0presente e se

mas uma mem6ria que pode apenas ser evocada (revi-

OVllIIll:::lll.Uosa-Cruz, formacao ultraespiritualista do simbolismo

do seculo passado foi encabecada pelo literato Peladan, e

contrario a toda forma de naturalismo e de realismo e, no

JV.~--' fundamentalmente reacionarlo. Uma convergencia entre

. se propoe de uma forma ou outra uma finalidade cognitiva e,

deriva mais QU menos diretamente do impressionismo, e a arte

como expressao de uma realidade interior ja se esboca na

do seculo passado, com Gauguin e Van Gogh, se precisatprpc:.';PC: sociais de Munch e de Ensor, e desemboca quase contem-

na expressao da Brucke (1903) na Alemanha e no movi-

(1905) na Franca.

o movimento avancado alernao como 0frances nao tern um

politico definido, mas se fundam igualmente no pensamento de

e liberdade absoluta, superacao de todosos preconceitos e de

convencoes, comecando pelomoralismo, 0nacionalismo, a idea-

da realidade e, portanto, tambem peladistincao artificiosa entre

o."UJ"-'''''-''- ,exterior e uma realidade interior; a realidade na() terrl()l,lt1:::t

',-''':LJ"," que 0sujeito the proporciona, ao vive-la intensamente. No

SiCIni:3mOlernao, no entanto, e mais forte 0senso do escandalo,e

a deformacao da realidade na visao profundamente cogtllr:

artista, e rnais traumatica a liberacao de todo complexo repressi-

da realidade ja e um julgamento drastico, ou pelo menos

.'-u....~uvno limite entre uma exasperacao extrema do sentido da

desespero oprimente, uma angustia mortal. Pela prirneira vez

e anuncia, em termos extremamente dramaticos, aitninenci:::l

<i'~'nr"";';n';ca tas tr6fe h lstOdca : .precisamente sobre 0a1cance, as razoes logicas eos moventes irra-

daPrimeira Guerra Mundial que os artistas de tendencias avancadas

e de plena modernidade da arte se configura como Crltica e

.diretas na situacao de fato. Em todas as correntes, ainda

em suas teses te6ricas e polernicas, prevalece a Vontade de

erro e preencher uma lacuna da cultura contemporanea

qualquer colaboracao (dadaismo), seja reivindicando para

te reprirnido a exclusividade da criatividade humana'~-""~<11

condicionando a participacao dos artistas a reforma do ::;l~;relm:l

industrial, no sentido de uma plena funcionalidade eU~-"lUlln

7. Arte epolitica. A atualidade da arte se manifesta

como interesse e vontade de intervencao na situacao politica.

a carre gar a obra de arte de significados politicos ja se m:3.nife~

o firn do seculo XVIII e 0 comeco de XIX, com Goya e David·.

do seculo XIX, Daurnier fizera da arte um verdadeiro '

polftica, servindo-se inclusive da imprensa para difundir sua

Verdadeiras intervencoes polfticas apareceram, em fins do

desenhistas como Steinlen e Forain e com a crescente difusao da

ilustrada. Ap6s a Primeira Guerra Mundial, a pintura da Neue

keit [Nova Objetividade] e a caricatura agressivamente polftica

e, nos Estados Unidos, a obra pict6rica e grafica de Ben Shahn

duramente a involucao e 0egofsmo impiedoso da burguesiaja encarninhada a transformar sua hegemonia econ6rnica em

polftico. Ate artistas que costumavam permanecer estranhos a lut

foram induzidos as vezes a intervencoes engajadas, especi~l.lnlellte

dos horrores da guerra: Kokoschka, Beckmann e, de forma

riamente decidida, Picasso interpretaram a Indignacao das

civis contra a vergonhosa criminalidade da guerra.E a revolta

da civilizacao contra a violencla.

A parte a satira politica, que de meados do seculo XIX em

especialrnente apos a invericao da litografia, quee seu meio

eficaz} e u r n verdadeiro"genero" artfstico, perto d o i i . n : i do seculode maneira bastante clara a distincao, ligada inclusive ao tipo

ca empregado, entre tendencias progressistas, poltticamente

e tenciencias que, sem por isso ser programaticamenteexcluem qualquer relacao entre arte e situacao social epolftica.

dencias que partemda concepcao da arte como conhecimento ou

de consciencia da realidade externa, natural e social, assumem

racao politica progressista, radical, socialista. A associacao entre

'::::'::'artfstica c6gnitiva cnde616gia p61f t ica. de esqueida.e-evidente, por

plo, em Pellizza da Volpedo, pintor divisionista autor, em 1901,

grande quadro marcadamente polftico, 0 'quarto Estado. Na

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cornecam a refletir,enquanto 0conflito ainda esta em curso,

devanguarda veem na guerra uma ocasiao exaltante: os

a saudarn como "higiene do mundo", defendem com forca a

contra os Imperios Centrais, participam com entusiasmo da

esperam a renovacao cultural do pais. Masja em 1915,com

acoes do dadafsmo de Zurique, os artistas rnais avanfados

crirninosa "estupidez" da guerra; e, se0julgamento

vo envolve e compromete todos os valores, a arte tambem

algo vale, torna-se apenasum gesto, uma atitude; urn

coma Bauhaus, e na Holanda, com 0grupo De Stijl,se decla-

mas enunciam programas de acao social cujo carater e

de~end~nciasocialdemocrata. Comefeito, visam transformar

projetafao de produtos industriais estandardizados, que deve-

o nfvel devida na base deuma funcionalidade racional e

formaa evolucao para uma sociedade naomais hierarquica,

semdisttncoes de classes.0programa construtivo, visan-L . . .. ~ ' ·· - ·- ,

ilimitada de produtos industriais esteticamente qualificados,

vefculos essenciais de cultura, se traduz .na reducao ao

politica e atea remincia a toda polftica tambem sao polftica, Ja0.

russol..~ncabefadopor Maiakovski, se ligaarevolucao

primeiro momenta considera osmovimeritos artfsticos

cionarios, portanto fortes incentivadores do processo de IT\1-rn"~r;~

sociedade socialista.Lunatcharski, comissario do povo para a

unico homem polfticoque acreditou na forca revoluclonana da

na e tentou utiliza-la,seja como superacao da cultura burguesa,

componente estrutural do sistema de Informacao e de l-"''''l-'a.garu

tica, especialmente nos anos diffceisda luta para a defesa da

Entre aproximadamente 1920e 1930, a Russia foi sem duvida0

cultura artistica estava realmente na vanguarda, embora asuu .....cuu,

inforrnacao e apropria Iigacao comaRevolucao limitassema plenaeuropeia de seus fermentos de renovacao.

opas-guerra foidiferente nos diversos paises europeus, cenencda experiencia vivida. NaFranca, gracas a assim chamada Escolase iniciauma epoca brilhante, emque uma multidao de artistas,

de todos os cantos domundo, se reune emvolta dos mestres ja

mente reconhecidos. Picasso, Matisse, Braque e mais outros. As

de mercado se multiplicam, os americanos sao naturalmente os

mais procurados: com efeito, nesses anos se formam nos Estados

as grandes colecoes de arte contemporanea, Nenhum problema

desponta nesse pitoresco e urn tanto picaresco emporio de

busca de sucesso: tudo 0que se exige e se afirma e a liberdade

logo, a plena originalidade daarte, pois0respeito de uma tradicao,

recente, seria uma limitacaoda liberdade expressiva.0credo llU<;;!L<1U

Escola.de' Paris adquiriu indiretamente certo significado politico s6

1930, quando toda a arte modema comecou a ser proibida e oersezu

rnais ou menos duramente, na Uniao Sovietica, na Alemanha, na

de novo, anacronicamente, a protecao oficial foi concedida aos

pior qualidade, aospompiers.

Ascorrentes construtivas europeias, cujos centros maiores'

e das cores, para que a mensagem visual seja iguaImente

a todos; afirrna-se assim nao apenas a finalidade educativa,

."'......._.. a priori dade da educacao estetica, dirigida a preservar e

dotes naturais de criatividade que a educacao habltualmente

pelo sistema classista tende a sufocar ou desviar.

relVlJ.u,,_a ...a~ da liberdade da arte, no sentido seja de independen-

IJVU~~~ seja de engajamento numa politica libertaria, levou todos

autoritarios a combater a arte moderna como politicamente

o carater intrinsecamente politico da arte moderna, portanto,

COlnhleClGO por seus adversaries antes mesmo doque por seus defen-

.'Aaversao dos regimes autoritarios pela arte moderna, em todasas

'VJ'U~~ foi deterrninada justamente peIo fato de ela nao ter conteu-)ol[ticos,ou ate apenas inoralistas e narrativos, e por seu formalismo

falta de flguracao, que parecia carregar urn potencial subversivo

Aoposicao a arte moderna se manifestou na Russia apos a mortee a ascensao de Stalin, naAlemanha apos0advento ao poder de

na Italiacom0fascismo. Nesses tres paises, ainda que politicamen-

diferentes, a onda de conforrnismo artistico encontra, entre suas

determinantes, a pronta e oportunista adesao dos artistaspornpiers

patroes, cuja grosseria e ignorancia certamente contribuiram

uUU<;;U<1"_ ,"V da arte moderna como incompreensfvel. 0proposito de'

uma arte acessfvel a todos, independentemente do grau de cul-

era apenas urn pretexto vulgar: nem na Russia, nem na Alernanha,

na Italia0povo jamais deu sinal de apreciar a arte que era fomentada

~UJV''.o pelos governos. Pode-se, entao, afirmar tranquilamente quernaarte, sustentada e apoiada pelos governos como instrumento de

".1:""5'11<'''''0., nao surtiu0efeito esperado: conseguiu apenas bloquear ou

a pesquisa artistica seria e isolar aqueIes paises dos movimentos

mundial.Osmotivos e as modalidades da luta contra a arte moderna foram

Na URSS, a vanguarda foi considerada expressao de uma elite inte-

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ao que parece, se considerava umgrande arquiteto e sonhava

mesmo asgrandes cidades alemas uma disposicao que as tor-

dasmanifestacoes demassa, Encontrou arquitetos dispostos

comoTroost e Speer, destiruidos de toda qualidade artistica,

competentes, de maneira que muitas sisternatizacoes

constru<;;:5esmonumentais, se a guerra nao as tivesse destrufdo,

como imagens teatrais significativas da megalomania do

lectual burguesa e se favoreceu 0retorno a uma arte que

era naturalista ou realista, mas apenas ilustrativa e, como t 1

celebracao retorica dos faustos da Revolu<;;:ao.NaAlemanh: '

argumentos mais elaborados. a arte moderna au de pesquis

realidade "deformada" porque era fundamentalmente a

chevique (ernbora na Russia bolchevique a mesma arte fosse'.

comoburguesa), inirnigada pureza e dasaude daraca. NaURss '

contra a arte moderna teve como efeito uma condi<;;:aoe

nalizacao dos melhores artistas e a assuncao por parte do

de manter uma quantidade de pessimos artistas, cujas obras

propagandistas nao podiam certamente ter um mercado, nem

nern no exterior. NaAlernanha, as obras de arte moderna

dos museus e, em muitos casos, amontoadas na rua e

nazistas, providenclas de lei e medidas de polfcia puseram a arte

em estado de ilegalidade. Na Italia, a situacao foi mals ' .

.mente 0problema nao se apresentou, ao contrario,Marinetti e os

sobreviventes conseguiram convencer Mussolini de que a

cistadeveria estimular formas de artenovas, ousadas,

primeira corrente antivanguarda, ainda que nao propriamente

semanifestou em 1925 sob0nome deNovecento, COmainten<;;:ao

tar os artistas a uma vaga "tradicao italiana", mas mantendo certaem relacao a arte estrangeira europeia. Com a alianca da ItaliaAlemanha nazista, a polemica contra a arte moderna, acusada de

cionalismo, bolchevismo, hebrafsmo, se tornou mais cerrada e

, inclusive pelo apoio de artistas comoArdengo Sofficie de um

Ugo Ojetti; no entanto, apesar da pressao d()s chefes fascistasmais

mos aos alemaes, nunca se chegou a uma condenacao formale

da arte moderna, nem a persecucao dos artistas. Ao contrario,proprio partido e do governo fascista havia correntes "de fronda"

veis a artemoderna, quechegaram aterC:C!.rtoesgp()lltico nacion~l

a Giuseppe Bottai, por rnuitos anos ministro da Educacao Nacional.

A tendencia antimoderna e reacionaria teve efeitos mais

arquitetura,ou seja, flaativida_deartisticamaisdiretarne;;nteligadaao

politico. Na URSS, 0 fim do sucesso polftico da vanguarda '-V''''_''''''-.

o incrfvel desfecho do concurso para 0 plano regulador de LVll:JS(:Ol.

1929, de que participaram com entusiasmo alguns grandes

dentais, entre os quais LeCorbusier, e que, no entanto, foi ganho

. mediocre praticante russo, lofan. 0movimento arquitetonico

que entre 1920 e 1930 levaa.uRSspa.:r:aavanguardada arqllfteiiira

foi empouco tempo destro<;;:adopela onda reacionaria de um

talismo que nem sequer tinha a justificativa da tradicao nacionaL

infelizmente, uma megalomania analoga, que pretendia

cidades modernas a nova mentalidade de Roma imperial, se

com banais interesses de especulacao Imobiliaria, causando.

a muitas cidades antigas (por exemplo, Bergamo .~~

e especialmente aRoma, onde 0arquiteto do regime, Marcello

nao se contentou em comprometer de maneira irreversfvel0

TolvilnE!nt:orbano com 0 projeto do EUR," mas destruiu inteiros e

, bairros historicos, como 0dos BurgosVaticanos.

, contra a arte moderna nos pafses de regime totalitario teve

diferentes.nos varies pafses, mas, no conjunto, demonstra cla-

1) que a arte moderna, sendo arte de pesquisa e como tal ciosa

autonomia e especificidade, era inconciliavel com qualquer forma

(m:i;l.U;>llJ.V politico e irredutivel a instrumento de propaganda; 2) que~".~".__, qualquer que fosse sua orientacao Ideologlca, percebe-

a arte moderna era intrinsecamente crftica do establishment e

tanto mais alergica a pressao do poder ou do Estado, quanto maisaosinteresses da sociedade.

o urbanismo. 0que mudou radicalmente a condicao da arte foi

U""Us'~ da extensao, da estrutura e da funcao das cidades, devido ao

:nV01\T1IYlerlrOa industria. Amigracao para a cidade demultidoes de

b'yu~,,,-.~ atraidos pela demanda de mao de obra por parte da indus-

a forma~~~ deurn proletariado que nao conseguese {ntegrarnas

'~'"~'''''~'_'''rbanas e vive em condicao de exploracao nos casebres de

ja e grave na primeira rnetade do seculo XIX (quafldo ~.dE!sC:Jjt1il.,

~"~n_uu e quando Owen e Fourier prop5em as primeiras solucoesmas ocrescimento industrial ~rnais rapido do que asPfo-

CO)0 projeto do EUR foi iniciado em 1935e, nas intencoes Iniciais, deveria ser cornple-

em1942, quando deveria hospedar a Exposicao Universal de Roma, para celebrar os

leil"Qs·viElte·artQs·do-regirne·.faEiciEita.CSe:na.:ulnt)aUrroplanificado,coIUgrandesav:e~cl:aI5=':c ••.:::

varies ediffcios rnonumentais, fora do perfrnetro da cidade. A construcao foi

rromplda pela guerra, -mas os ediflcios projetados por Piacentini foram finalizadosern

Nas decadas de 1950 e 19600EUR se tomou urn bairro residencial e de services.

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nascimento e de tradicao. Como0grande impulso progressi-

,~.,"'r'"Unidos corneca com0fim do regime colonial, as grandes

nascemsegundo projetos que levam em conta 0crescimento

e urna funcionalidade relativamente homogenea. 0 progresso

industrial e impetuoso, nao precisa veneer, como na Europa, a

(inclusive psico16gica) de urnvelho artesanato, enraizado pro-

no costume local;0espirito pratico da burguesia americana

a arte senao uma posicao marginal. E apenas nos ultimos anosXIX enos primeiros do xxque comeca a se sentir a exigencia de

videncias urbanfsticas relativas, eapenas no fim do seculo

dedores comecam a perceber que a melhoria da qualidade

condicao social dos trabalhadores se traduz numa melhoriaquantitativa da producao. .

Pouco ap6s ametade doseculo, encarregado por

mann inicia a ampla reforma estrutural de Paris. Poi a.....·~··-Ut

operacao urbanistica que visou transformar uma cidade

organismo moderno de transitos. 0 objetivo principal era

c;;:aorterias longas, retas, perifericas. 0 n6 do sistema dos5«<"\.U::

..-···res·e,aomesmotempo; osfmbolo da cidade da

era0eatro da Opera, projetado em 1860 por Tony Garnier:

tipico do assimchamado ecletismo.estilfstico, ou seja, da

se estudava nas ecoles des beaux-arts.

Menos de trinta anos depois, por ocasiao da Exposic;;:ao

aquela mesma burguesia, que sesente cada vez mais moderna

Paris urn sfrnbolo urbano totalmente diferente, numa regiao '

Sena, onde se propoe construir em estilo "modernista" seus

denciais, antes situados na regiao de Saint-Germain: e a '-'''''l5dcua

vigas de ferro, com trezentos metros de altura, idealizada por

-Gustave Eiffel, urn engenheiro que foi tambem pioneiro de

aeronauticas. Nao se trata apenas de uma escolha estilfsticarnals

a torre e 0simbolo da cidade moderna porque e urn milagre deconstrutiva e,ao mesmo tempo, a dernonstracao deque, gracas

sistemas de construcao ja industriais, os engenheiros podem

apenas pontes e galpoes, mas verdadeiras obras de arte. A

que as estruturas metalicas entrelacam no ceu urn desenho linear

uma concepcao do espaco tao livre e isenta de preconceitos '-juau,.v

conternporaneos pintores impressionistas.

Ainda que com projetos menos definidos, todas as grandes

europeias sofrem, nas ultimas decadas do seculo, grandes

dimensionais, estruturais e funcionais. A populacao em rapido

determina a extensao das periferias, 0crescimento dos bairros

a transformacao das funcoes do centro, onde sao alocados os

diretivos: os escrit6rios das grandes empresas industriais, os

bancos etc. 0 cornercio se concentra cada vez mais nas lojas dementos, onde a producao industrial escoa no consumo.

Nosmesmos anos, 0rapido desenvolvimento industrial

que determina comercios sempre mais intensos com a Europa, gera •.

tipologias urbanas e edificativas. As cidades americanas nao .

grande heranca hist6rica das antigas cidades europeias, sua

heterogenea, semantern unida mais por interesses de trabalho do

tn~!cesSlaaaede economizar espaco nos centros das cidades sugere '

Unidos a construcao de casas muito altas, como e permitido

tecnicas construtivas. 0 "arranha-ceu", que logo se torna-

iral..LO:;"CW'-.~do skyline americano, parece inicialmente, na Europa,edilfcio, que transgride todas as leis da proporcao. De fato,

momento, e apenas uma acumulacao de andares, apenas

de 1890, comSullivan,0arranha-ceu adquiriria uma autonomia

propria, que 0tornaria urn elemento do urbanismo modemo.

fatores concorrem para tornar as cidades hist6ricas europeias

menos adequadas as funcoes de grandes centros industriais: 1) a

doautom6vel comomeio de transporte urbane, 2)a insuficiencia

unico centro da cidade; 3) a pressao da especulacao imobiliariaexploracao indiscriminada e irracional do solo urbano. Desde

do seculo, mas especialmente ap6s a Primeira Guerra Mundial,

dominante, para os arquitetos, e a relacao entre oficinas e habita-

operarias, 0 problema, como e l6gico, e posto emtermos de tecnica

econornia, fora de toda estetica prejudicial; alem disso, por se tratar

em serie, recorre-se amplamente a pre-fabricacao, seja de

, seja de inteiras unidades edilfcias.

Desdea segunda metade do seculo passado, com aacirrada polernica

os "arquitetos" cultores dos "estilos hist6ricos" e os "engenheiros"

pn~nlCP"das novas tecnicas, a arquitetura iase separando gradualmente

assimchamadas "belas-artes"e articulando-se coma tecnologia indus-

Devido a necessidade crescente de casas, determinada pelo cresci-

da populacao urbana, parece mais do que legitime preterir todaartfstica:entre os primeiros e mais rigorosos defensores da

funcional, AdolfLoosproclama em 1908 (e logo se tomaria urn slo-

que a ornamentacao e crime. Na realidade, porem, a pr6pria neces-

de retirar da arte toda funcao ornamental e decorativa semanifesta

.<L-UHJVau,,-a.<U".>U- em outros campos: a pintura expressionista nao

aparecer desagradavel e aflitiva;0cubismo se apresenta como uma

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pesquisa cientffica, mais do que estetica, pouco mais tarde

subordinariama artisticidade a renovacao cultural e os as

riam nao fazer arte ou ate fazer antiarte. Fica bern claro

rejeitarntudo0que e considerado artistico por uma sociedade

tam, negam que a arte possa ser urn privilegio das classes

nao fazer arte a trabalhar apenas para algumas camadas

mesmo tempo, julgam que da transformacao que esta se

.cerauma sociedade semdistincoes de classes, inteiramente

processo criativo coletivo, cumprindo, portanto, suas -'~.F.~."~."no pr6prio ato emque cumprira a praxis de sua funcao, A

casas e das fabricas, a forma dos objetos produzidos pela

as necessidades da vida serao tanto mais esteticas quanto mats

a funcao e quanto mais reduzidas a urn tinico tipo (standard).

sera "racional", porque ligada a funcao como0efeito a causa

da para todos a maneira de urn enunciado matematico e '

econornicidade sera 0reflexo de uma sociedade que ,'~-VUUCCI

fundamentais as leis da economia. A imagem da cidade dos

racionalistas, comecando por Walter Gropius, e a de uma

homogenea, em que 0unico elemento distintivo entre os

e a estratificacao hierarquica, mas as funcoes no sistema

como, perdidos os lacos tradicionais, e necessario realizar de

a coesao da comunidade, na economia urbana 0espaco para

individual e reduzido ao rninimo (ExistenzMinimum), enquanto e

ao maximo aquele dedicado aos services sociais e as fun~oes

e recreativas coletivas: a escola, 0teatro, 0estadio,

Objetos cuja forma seja racional e que sejam produto de

racionais sao obviamente iguais para todos: acima dos usos e dos

que mudam de lugar em lugar, a imagem da cidade sera, portanto,

rna para todos os pafses, a arquitetura racional e a producao

serao internacionais e contribuirao para formar uma uniforrnidade

tura e de costumes, alern de elliriinar0nacionalismo,

A tese de uma racionalidade absoluta se contrapoe, porem, ade que, para compensar a alienacao produzida pelo trabalho

mecanico, nao gratificante da industria, seja necessarioalguma maneira a relacao perdida do individuo com 0ambiente

sempre mais distante da cidade e comprometido ele mesmo pela

sao das fabricas, a polulcao das aguas e da atmosfera, a

. territ6rio. A hist6ria da polftica urbana e territorial, nesse ultimo

·c.c:cecaracterizada pela luta entre 6$ a:fcI.uitetosde teridencia

defendem 0usa racional do territ6rio, e a especulacao fundiaria, que ..

a exploracao maxima do solo urbano, destruindo as areas verdes

e transformando 0campo ao redor em subtirbios apinhados.

modernos afirmam que nao se pode fazer boa arquitetura

de urna planificacao urbana que ofereca solucoes racio-

'()C)le:LUGl'" da cidade social, e se declaram dispostos a nao fazer

tradicional do termo) para se dedicar a criar novas condi-

X~LC;.U-.~ para a comunidade. Para BrunoTaut, "osproblemas de

saoproblemas sociais"j para LeCorbusier, a arte e "asolucao de

bern formulado", cada vez mais ganha forca 0conceito de

moderna nao apenas necessita de uma premissa urba-tambem que e ela propria urbanfstica. a verdadeira tarefa do

nao e construir edificios, mas projetar bairros, cidades, amplas

territ6rio. 0 arquiteto modemo nao quer mais ser urn profls-

ordens de urn c1iente: traz sua pr6pria ideia da estrutura e das

de desenvolvimento da sociedade, a que corresponde uma

do espaco. Ja nao se trata de uma concepcao te6rica, geome-

:!rspe:CDlva'espaco e concebido como 0lugar onde 0individuo

vivem, agem, se deslocam, comunicam. Os pr6prios mate-

que a industria produz perrnitem delinear uma figura

infinitamente mais livre e aberta, dinamica: delgados pilares de

estrutura em tensao, amplas superficies vidradas que elimi-

cisao entre exterior e interior, deixando livre a passagem do arApossibilidade de construir ediffcios muito altos nao deve servir

:LU.H,"UL;LL adensidade da populacao, mas para abrir grandes espacos

os blocos, aumentando a possibilidade de aeracao e insola-

meios rapldos de comunicacao influem sobre a nocao do espaco

e do territ6rio: 0tracado das cidades deve favorecer a circulacao

,0territ6rio e construido pelas ferrovias e pelas rodovias,

revela uma realidade vista do alto, telefones e radios instauram

medidas mentais do espaco.

luta por urn urbanismo modemo e clentffico s~ c()11fi!Sti[a.,<il1a..metade do seculo, como duro embate entre a cultura e0poder,

UCLLU"GLL.U"_H.~ tern seus pr6prios arquitetos, ainda que geralmente se

meros praticantes que sacrificam a etica profissional ao.interesse.

as tendencias modemas, cultural e tecnicamente mais qualificadas,as que ofereciam solucoes mais adequadas aos problemas con-

da.existencia, de alguma forma acabaram se impondo: houve ate

"moda" da arquitetura modema,severamente condenada, porern,

representantes do movimento, que nao adrnitiam que uma questao

c:i"iHza~ao;fossefeduzidaa foririallsriio exterior. SeaarquFc=:c=::

modema se apresenta como correspondencia da forma a funcao, .

racional do espaco, maxima abertura a atmosfera e a luz, mas

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courbet entende que a fotografia pode oferecer materiais

urn pintor "realista", mas engaja toda sua tecnica de "ope-

" para conferir as imagens pintadas uma consistencia de

densidade de cor, urn peso ate fisico, que a imagem fotogra-

. parece querer afirmar assim, antecipando os tempos, que

e urna Imagem da realidade; a pintura, uma realidade concreta.

tarnbern se serviram amplamente da fotografia como

mas com a absoluta certeza de que a pintura deles,

int:eU:::ii:llll,:;a,"...crornatica, recriava a sensacao visual de maneira

, fortemente ...

arte figurativa, especialmente da pintura, tornando pratica-

a atividade do retratista ou paisagista profissional; concorreu,

'ao processo seletivo tipico da arte moderna, gra~as ao qual 0

da arte e elirninado e ao artista nao mais se pede a fidelidade

a lndagacao e a invencao.

lti.lralm~~nt:e, relacao com a arte muda em razao dos divers os graus

:'!mrol'vinJ.elltoda tecnica fotografica. No comeco do perfodo que

tratando, a "cornpeticao" entre fot6grafos e pintores ja se encerra-

IrO:gfE!SS.lvaeducao dos tempos de pose, a possibilidade de instan-

sernpre mais rapidos poem em evidencia os limites das faculdades

do olho: grac;;:asa fotografia, e possivel colher aspectos da

especialmente nos corpos em movimento, que 0olho nao per-ampliacao fotograflca, a macrofotografia, a radiografia permitem

aspectos totalmente Ineditos e as vezes profundos, estruturais,

anciaue; torna-se sempre mais forte a certeza de que 0olho humane

apenas alguns aspectos da realidade e que, portanto, a experiencia

nao pode ser considerada a base do conhecimento.

ter revelado alguns aspectos estranhos e surpreendentes dos

a fotografia comeca a registra-los diretamente em movimento: 0

!m~ltogr<ltoreduz ainda mais 0campo da narracao figurada, mas, ao

tempo, concorre poderosamente para cancelar a tradicional con-

do espac;;:ohomogeneo, cubico e perspectivo, tornando familiar a

uma nova concepcao do espaco descontinuo, fragmentario, inse-

das coisas. 0 quadro hist6rico 'e 0aned6tico seguem 0destino

e do paisagismo: que sentido poderia ter uma arte narrativaquando os fatos e os acontecimentos da vida e da hist6ria

ser narrados visualmente, e com intensidade bern maior, pelo cine-

E 0 fim do que Berenson, justamente no final do seculo XIX,

de valores ilustrativos; pouco antes Fiedler enunciara a sua teoria

'V"JH',,-,,,,U." " pura", Iimitando os significados da arte a pura visao ou

valores que Berenson chamaria de decorativos. (Lembre-se: se todo

principalmente como arte ao servico da sociedade, a

e a edilfcia corrente, obedientes a pressao do poder

urbano de forma macica, tendem a conservar e refor~ar os

propriedade fundiaria e a permitir a maxima explora~ao

solo, reduzindo ao minimo as areas verdes e os ediffcios

services sociais. A mega16pole capitalista se revela assim

camente errada, gravemente "alienante", socialmente '

mente mediocre. A batalha em que os arquitetos modernos

corajosamente entre as duas guerras contra a expansao

. das-eidades-nao-foj apenas uma batalhapor

tecnicamente melhor, mas uma luta por uma diferente""<LL;;U:i

zacao da sociedade e de urn diferente nfvel de vida da

o grande arquiteto americano Frank Lloyd Wright LCUUUC:U

sua concepcao urbanfstica (Broadacre City), que em alguns

rna as teses de Owen e de Fourier para 0esgate de uma

duo com a natureza e a posse pessoal do quantum de terreno

para urn myel decente de existencia.

As perspectivas urbanfsticas propostas pelos arquitetos

missas de uma boa arquitetura nao tiveram ampla aplicacao.

Corbusier e Gropius tenham conseguido, antes da Segunda

dial, realizar fragmentariamente suas ideias urbanfsticas em

de habitacao economica, nenhuma cidade manifesta, em suas

estruturas, uma concepcao plenamente atual do organismo

todo lugar os arquitetos modernos, mesmo quando foram

de projetos urbanos importantes, permanecerarn consultores ou

subordinados as decisoes finals do poder economico.

9..Afotografia. Toda a arte moderna e influenciada, positiva

tivamente, pelo desenvolvimento conternporaneo das tecnicas

no entanto, a relacao e infinitamente mais tensa e complexa

flgurativa se depara com a tecnica da producao industrial de

fotografia. Com efeito, essa tecnica naoapenas reproduzn necanicai

os aspectos da realidade com uma objetividade que, pelo menos

meiro momento, e considerada cientfflca, mas tambern introduz

do uma extraordinaria quantidade de imagens cuja producao naoespecialista, 0artista.

Desde que, em meados do seculo XIX, a fotografla demonsti

era possivel produzir mecanicamente imagens objetivas da

entre fotografia e arte figurativa se determinou uma especie de

c;;:ao.Baudelaire despreza a fotografia porque e urn produto J . .L " . . . .u,,,w..

fornece imagens da realidade totalmente alheias a faculdade

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o valor da arte esta na forma visfvel, e facil enterider por que

raneamente, 0art nouveau abole toda distincao entre arte '

"decorativa"; uma casa, uma cadeira, uma taca tambem sao

Afotografla alimenta, na arte figurativa, 0aspero conflito

ralistas" e "slmbolistas", que dominam a literatura na passagem

se a fotografia livra a arte da obrigacao de imitar ou representar

acabou definitivamente a concepcao classica da arte como

arte deve ser algo "espiritual", sem relacao com a natureza "....n"""~

grafia representa urn impulso vigoroso, por contraste, para assimbolistas que se contrapoern a visualidade do ;-n-'~"C'G."uH!~)ln(

Com efeito, entre 1880 e 1890 ja se perfllam novos

neoimpressionistas, guiados por Seurat, reconhecem a r-rt r-o-,...."

coberta dos impressionistas, mas consideram a visao deles muito

pela restituicao do dado sensorial. Dizia-se que a fotografia,

duto de urn meio mecanico e fornecendo uma representas;:ao

objetiva, seria "cieritffica", em relacao a visao ernpfrica do olhoseria verdade 0contrario? Nao seria possfvel uma visao '''''rrl"rI=:_

cientffica, em comparacao com a qual a fotografia seria apenas

mecanica? A divisao da cor em seus componentes crornaticos

uma fase de analise cientffica que precede a sintese que se rp.,~r,,~~

olho do observador, cuja percepcao perde assim qualquer carater

tividade: diante dessa percepcao cientffica, a fotografia e mero

Fauvismo e expressionismo, nos primeiros anosdo seculo xx,

de maneira diferente, e retomando tambern a experiencia de Van

e de Munch, uma visao que, ainda que nao se coloque como

alias, se apresente como exclusivamente artfstica, se propoe como

turalmente diferente do ernpirismo fotografico. Em1911, Kandinsky

a grande fase hist6rica da arte nao figurativa (ou "abstrata"),

que 0sistema de signos da arte nao tern nenhuma relacao com a

e, poucos anos depois, Duchamp proporia uma arte totalmente

dbpassadb,plitamehte 'coriceitual'e n i i c : > retiniana, distante de

as tecnicasda representacao. Os dadafstas, comecando por Man

utilizarao a fotografia, mas nao como tecnica de representacao:

simplesrnente lima tecnica para produzir e manipiilar as imagens.efeito, muito menos do que a tbmadafotografica, interessara ao

elaboracao hi camara escura, a impressao dos negativos, os pr'DC<=SSO:

solarizacao etc. Apr6pria fotografia, portanto, deixara de ser \..UH"!-"!~urnmeio de representacao.

LUU."ll.lU 0uturisrno e, emgeral, ascorrerrtes rtao flgurativas

que a arte seja representacao. Nao sendo representacao da realidade,

mesma uma realidade autorrornar Moridriari recusara chamar a arte

abstrata e a chamara, ao contrario, de concreta. Mas, como

que a arte seja imagern, e nao se pode contestar que a fotogra-

o seja.a fotografia tambem nao sera representacao: sera sim-

urn instrumento da imaginacao. A concepcao do dadafsta Man

assirn com a do construtivista Moholy-Nagy; e a fotografia

como uma nova tecnica artfstica, absolutamente aut6noma e

.Edado que, como e 6bvio, nao pode haver diferenca entre

e cinema, 0filme e e1evado ao myel de arte e cooptado para a

avancada: houve artistas, como Richter, que desde antesGuerra, entre 1920 e 1940, tentaram produzir filmes nao figu-

LlIJU""~~-- exclusivamenteno ritmo de sucessao das imagens.

do meio fotografico, que permite a todos produzir Ima-

cotidiana, exerceu, junto com 0cinematografo, uma enorme

sobre a concepcao comum do espaco e do tempo. A fotografia,

e praticada pela maior parte das pessoas, constitui uma espe-

L...criica" automatica que registra os movirnentos e as inclinacoes

;cit=nteS;nclusive por isso a fotografia foi cultivada pelos surrealis-

meio de registro tanto mais sincero e revelador, quanta mais os

tentavam dissimular seus impulsos Intimos, Tambem para 0

, entao, a fotografia se apresenta como meio expressivo que

a pintura e substitui suas tecnicas tradicionais.

Apublicidade. Urn"genero" artfstico inventado pela artemoderna

rreSP(Dn':lelnreuma especffica demanda do mercado e a publicida-

"tipo" dominante e0cartaz figurado e colorido que e afixado em

exemplares sobre osmuros da cidade, de maneira a tornar familiar

transeuntes distrafdos a informacao que se comunica. Como fen6-

demercado e rnediacao incentivadora entre producao e consumo,

JULJU.lUCLU'" foi estudada do ponto de vista psicol6gico e sociol6gico.

de vista artistico, a publicidade e importante: 1) porque obriga

a o exame de l l Il l te m a , a r o : v e r i c ; a o de ummotivo.Y busca

"""CHla.i:l de cornunicacao visual extremamente rapidos e impressivos;

alern de visualizar a informacao, a poe em relacao com uma

escrita, que por sua vez ~'conformada ao estilo da imagem;nlrnlPa imagem, mesmo sendo repetida imimeras vezes, deve per- .

agradavel, aceitavel, possivelmente interessante; 4) porque as

publicitarias, invadindo as paredes dos ediffcios, constituem 0

mas mais imediatamente perceptf",el e significativo, ' , : : ', ': : : , = : ' = : C C : : = = : : = = = = = =

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Wagner ja indicara 0teatro como lugar onde, superadas as dis-

entre as artes, se.realizaria "a obra de arte total", resultante

'~,'''Tndinamico de poesia, rmisica, arqui tetura, pintura e dan-

do seculo, inclusive por influencia de uma arte figurat iva que

conteudos intelectuais e quer se real izar inteiramente nos

acentua-se 0nteresse pelo puro espetaculo, isto e, pelo bale,

revista, 0circo. No polo oposto, mas em certo sentidocomple-

simbolistas veem 0teatro como lugar da revelacao moderna

Appia e Graig, e Meyerhold na Russia rejeitam decididamente

467

-Lautrec, desenhou mais ou men os trinta cartazes para

cabare, nos quais conseguiu selecionar e ident ificar de---.-".~u,

dente os "apelos" visuais e psicol6gicos. Outros artistas

tazes publicitarios, contribuindo a primeira formacao de

comunicacao visual: entre outros, Bonnard, Steinlen e, rnais

eo pr6prio aulicoMatisse. Logo, com a crescente emergencia'

importancia do genera publicitario e tornando-se necessaria

deira ciencia da publicidade, nasceria uma profissao eSlpe,clfica

res de cartazes ese formariam importantes "atelies" es·peci~lli:;'.::l

Na prirneira metade do seculo xx alguns pintores (por

piello, Dudovich) se especializaram no genero publicttarjo,

amplamente as experiencias amadurecidas no campo da

que descendia da "visibilidade pura" dos impressionistas.

momento, a publicidade utilizou abundantemente as tecnicas

fia e da fotomontagem, tambem nesse caso aproveitando as

visuais das vanguardas e do construtrvismo.Ta durante a f-'rl!TY1,,,lr'

Mundial, 0cartaz publtcitarto foi utilizado para a propaganda

por essa via tarnbem, alem do que pela pratica frequente da

sobre motivos caricaturais, se estabe1eceu certa afinidade

satira politico-social. A publicidade estendeu seu campo a

exposicoes e nas feiras de produtos industriais os estandes tern

explicitamente publicitario, que se manifesta seja na acentuacao

res de apelo visual, se]a no usa de expedientes exposit ivos, seja

te na evidencia das escritas e das figuras, A arquitetura pYnn,ci~;i".,

como urn 6timo campo de experimentacao para varias

arquitetura moderna. Tambem em ediffcios comerciais

escritas publicitartas ou, em geral, informativas se integram as

consti tuindo urn elemento de novidade tematica e morfoI6gica.·

prias arquiteturas industrials assumiram amiude urn carater

pelo menos demonstrat ivo, na medida em que bus cam nrnn,nr,rlr,,,,,,

ideia visual da ordem e da eficiericia do trabalho que se realiza no

e, portanto, a inspirar confianca nos produtos. No plano

ser considerado indiretamente publicitario onorme oesenvo

dimensional, sobretudo em altura, e a marcada ostentacao dosonde estao sediadas as direcoes das grandes firmas industriais

co, os grandes buildingsamericanos e0pr6prio Ediffcio Seagram

van der Rohe).

11. Arte e teatro. Na concepcao laica do modernismo 0eatro

lugar da igreja como ponto de encontro e de celebracao de urn ri tual

L1U~W~- aut6nomo e nao apenas de comentario, reduzem o espaco

conjunto de formas simplificadas e simb6licas cuja imagem se

sob0ogo sapiente dos refletores, E0nfcio de uma concepcaoda realidade cenica, que e tanto mais necessaria na medida em

cada vez mais perigosa a concorrencia do cinema: esse fato

torna necessaria uma distincao de papeis e a busca de urn teatro

apenas, e em absoluto, espetaculo.

necessiClaClede uma transformacao da funcao teatral , que se faz

vigOlrosa:m(~nl[einclusive em campo Iiterario (especialmente por

leva a busca de uma nova funcionalidade, portanto de uma nova

do ediftcio teatral , onde nao mais haveria as dist incoes de clas-

que determinaram a forma tradicional e onde, alern disso, seria

urn animadissimo jogo cenotecnico, capaz de reduzir 0desnivel

fixidez do espetaculo teatral e a extrema mobilidade do espetaculo

natogranco. Uma nova morfologia teatral foi estudada por Grapius

projeto de "teatro total" (1927).

novidade da maior irnportancia foi 0aparecimento em Paris,

dos Bales Russos de Diaghilev, com as cenografias e os figurinos

isamenre coloridos de Bakst e Benua: como se pretende que 0teatro

represente a vida real , mas const itua uma experiencia totalmente

infinitamente mais intensa, capaz de compensar a monotonia do

industrial, 0Bale russo nao apenasse apresenta como urn "espe-

perfei to, mas tambem lanca uma ponte important issima para uma

que, por sua vez, valoriza apenas os fatos visuais.

verdadeira revolucao, que envolve no fato teatral alguns dosartistas contemporaneos, se verifica com as vanguardas: 0tea-

torna 0lugar das experirnentacoes mais interessantes e temera-

no campo da visao e se oferece como lugar nao mais do somat6rio,

da sfntese de todas as artes. Tema comum das vanguardas, tanto do

Italiano como do cubofuturismo e do construtivismo russo, e

~inamLisrno,ou se]a, a recusa radical de uma concepcao da arte como

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imagem.unica e escolhida, identificada com urn objeto Co

tua) que tern urn valor venal, pode ser possuido e Constitu'

Indice de distincao social. No teatro, entendido como puro 1

imagens se sucedem, nao contam por si, mas pelo ritmo de

preenchem por inteiro a sensibilidade e a imaginas;ao dos

envolvem-nos, transportam-nos a urn espaco e a urn tempo

e uma extraordinaria aventura da imaginacao ou, se

imaginacao se atualizando,

Uma teorizacao extremamente precisa do espaco cenicoritmico do movimento coreografico, foi elaborada na Bauhaus

tor, Oskar Schlemmer, autor de dois bales Cum, Triadiscbe

sentado em 1924) sobre 0 tema da civilizacao mecanlca, onde

flguras, com seus costumes mecanizados, estavam no limite entre

e0mecanico.

Na decada 1919-29, em Paris, os bales e em geral 0 teatro de

da tiveram sua estacao mais rica; quase todos os maiores pintores

tiveram parte nisso: Picasso, Braque, Leger, Derain, De Chirico

o objeto especffico da pesquisa foi a determinacao de efeitos '

e de mudancas improvisas de dimensoes e proporcoes, ~u.L-a.1U<:1

mudanca de relacao de cor dos costumes e do fundo.

Quase todos os maiores pintores europeus, no periodo entre

guerras, trabalhararn para 0 teatro: foi sem diivida uma tentativa de

o espetaculo de arte do invasivo espetaculo industrial 0cinema

tambem uma experiencia extremamente vital para a arte . '

que assim se Iivrou definitivamente do preconceito do objeto

cioso, prenhe de conteudos intelectuais ou de significados "lll.lUIJll(;US

disso, houve a verificacao ciavalidade dos sistemas figurativos ou

ticos criados pe10 cubismo e pelas vanguardas: eles eram capazes

urn espaco novo, nao naturalista nem perspectivo, mas imaginario,

a imagem era estritamenteligada a urn fator ritmico de tempo.

o pr6prio ciriema, de resto, utilizou largamente a experiencia

moderna e por sua vez permitiu que varios artistas modernos

experiencias novas e definitivas no campo da cinetica da imagem.

ve, na Europa, correntes impresslorilstas, expressionistas,surrealistas que Ievararn a considerar 0 cinema, ainda que Cll.dLldl.l1<

urn derivativo das artes figurativas. Houve, por outro lado, artistas

serviram do cinema como de urn meio expressivo novo e original.

Giulio Bragaglia, na Italia, criou urn originalissimo cinema

.cHans Richter,' Moholy..:Nagy, Man Rayesfi.idarammea.iarife 0

possibilidades de uma arte visual baseada na multiplicidade e na

e nao na unicidade da imagem. .

abstrato ou, de qualquer forma, nao rnais fundado no

vLLJL~L"~ de uma vicissitude .narrativa, permaneceu urn fato de

a nova construcao do espaco que, a partir das vanguardas,

pelas artes visuais teve efeitos muito importantes sobre 0

e a montagem do fllme. Acomposicao cubista, por exern-

prescinde da relacao naturalista entre coisas e espaco, consi-

o espas;o uma estrutura unitaria e dinamica e permite isolar as

fragmentos das coisas com uma intensidade que deriva do

:.c()nt:eJ!:tom que se inserem -, influenciou sem duvida a mon-

imagens cinematograficas de Eisenstein, conferindo-Ihe uma

__~.~~·i"'"heia de urn realismo nao usual,mas dilacerante.

e antikitscb. Urn fenomeno que nao pode deixar de ser

quadro da cultura artistica modema, ainda que ligado a uma

UatlU<l.UC artfstica e a uma ausencia total de valor estetico, e 0 que

dekitscb, termo de etimologia incerta, mas de significado

arnente depreciativo. 0enomeno foi profundamente estudado do

vista sociologico; com efeito, e evidentemente relacionado com

-olvimento industrial, com a vaga pretensao de produzir indus-

uma arte que possa ser consumida pelo vastissimo publico que

produtos industriais. 0kitsch nao e uma cIasse de objetos, qual-r-,,=.~.~""'r1= ser kitsch; e mais uma categoria do gosto ou do costume.

todos os campos: decoracao, indumentaria, utensilios, artes graft-

naturalmente, tambem as artes rnaiores. Conotacoes constantes do

sao 0 mau gosto, 0 preco baixo, a nao funcionalidade, a banalidade,

Il)lLca<,;aIJ Alern disso, as ternaticasdo kitsch saO na rnaioria ternaticas

num myel artfstico superior, que sao reutilizadas de segunda

carregando seus caracteres para irao encontro de urn publico menos

refinado. E possfvel encontrar relas;oes. com a obra de. artistasna .

exemplo,Cabarie1,Bouguereau, ate Rodin ou Bocklin),

relacao e possfvel com a arte que, do impressionismo em diante,

iresenta COJ:ilO pesquisa. o kitsch, enfim, se. configura sempre como

contrafas;ao, banalizas;§'o;nao autenticidade~ ..amplissima mas Inorganica produs;ao kitsch se dirige expressa-

a burguesia media e pequena, sempre mais distanciada, inclusive

, da alta burguesia financeira, empresarial, tecnica, Esta, de

se orienta progressivamente para 0 modernismo, em que ve urn espf-

e ·u m gostodaexperiffientas;:aoseme1harifesaoespInto

micratrva dos novos .cavaleiros da industria; a pequena burguesia, ao

ja condenada ao destino mediocre da burocracia e das funcoes

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470 471

executivas, permanece inclusive na arte ligada ao rnn"",~~!

,idees recues, ao sentimentalismo, ao mau gosto.

Outra constante do kitsch e a substituicao de materiais

e do artesanato de classe por sucedaneos de producao .u.L\...LU:~lrJla

rina no lugar do ouro, 0ferro-gusa no lugar do bronze, 0

falsa madeira. Ha uma razao economics, porque 0kitsch e

arte barata, ao alcance de todos, mas ha tarnbem 0orgulho

trar que a tecnica industrial produz a preco menor os mesmos

antes podiam ser obtidos apenas com materiais e

nOs Estados Unidos teve urn carater pr6prio, mais organico do

em graride parte devido as ideias de Wright, mas principal-

original do finlandes Eero Saarinen. e a vasta atividade

Eames, que esi:abeleceu relacoes de plena colaboracao com as

de decoras;:ao.

rambern sofreu sua degeneracao e ate, poderiamos dizer,

o Styling. Este consiste em considerar os objetos funcionais em

consumo e, portanto, aomercado, e nao as exigencias objeti-

ostentosamente os caracteres os tornam desejaveis .

revestimento, a reproducao fotograflca etc. A breve duras;:ao

preocupacoes excessivas: parece se ter consciericia do carater '

gastronornico desse horrfvel art du bonheur[arte da felicidadel

A parabola do. kitsch coincide aproximadamente com a

veau, e pode ser considerada como 0efeito monstruoso de

mento inatural entre artesanato moribundo e industrialismo

essencialidade formal, a novidade da linguagem do cubismo e

guardas, a desilusao com as perspectivas progressistas, a

o fim do kitsch. Sucede a ele, como estilo de epoca, 0assim

deco que, pelo menos aparentemente, inverte suas

retas, verticais e horizontals, escolhas cromaticas s6brias,

dissimulado de materiais produzidos industrialmente, dos quaisca a reconhecer as qualidades intrfnsecas e nao apenas de "L1\...C;Ui:lJlIC:::~

materiais naturais preciosos. A destinacao social tarnbem e

deco atende ao gosto de uma burguesia tecnica, culturalmente

a hip6tese progressista, ainda que paternalista, de uma arte ao

todos os bolsos ja nao interessa a quem se considera uma a.U.:>L'-'\...L,o.LL,

nica. Por outro lado, 0artdeco ainda e urn kitsch, embora destinado '

classe mais culta e abastada, e em grande parte, com efeito, a

do design que esta comecando a se afirmar como exigencia de

aos produtos industriais, desde a fase de projeto, urn coeficiente

lidade estetica integrada a funcionalidade dos objetos. A slntese

de forma e de funcao e 0standard: todo processo de design LH'~L'-/U.'-

.camente correto leva ao standard, isto e, a uma forma que, teoncarru

une 0maximo de qualidade do prot6tipo ao maximo de qualidadeducao em serie. A relacao design-standard foi teorizada de maneira

rente, mas igualmente rigorosa, por Le Corbusier e por Gropius. Os

res centros de design foram na Alemanha (Bauhaus, especialmente

1925), na Escandinavia (Noruega, Finlandia, com a manufatura

a obra do arquiteto Alvar Aalto) enos Estados Unidos, ap6s a

de Moholy-Nagy, Breuer, Gropius, Albers,fugindo a perseguicao

node potencia dos autom6veis) e estimulam impulsos inconscien-

:0I1"lULJ''-'; em favorecer de maneira exagerada as modas, 0consumo

a obsolescericia rapida e a troca frequente. Afuncionalidade

ao mercado, no lugar da funcionalidade em relacao as exigen-

objetivas, e urn dos fatores mais pesadamente destrutivos, ja

imediatamente anteriores, mas especialmente ap6s a Segunda

Mundial, da experiencia estetica na affluent society do capitalismo

As tecnicas. Do ponto de vista tecnico, a pintura dos impressio-

nao era substancialmente diferente da tradicional: era simplesmen-

registro rapido contraposto ao registro lento, elaborado mediantedesenhados e coloridos, a aplicacao de certas convencoes da

, _: ;<OULa. . .. ' - (como a perspectiva e as regras de composicao), a disposi-

de certas condicoes (como os modelos em pose, a Iluminacao

do ate lie) e certas normas operativas (como a passagem do

ao claro-escuro e a cor). Ja em Courbet, todavia, a tecnica pict6-

se configurara como tecnica construtiva ou produtora de objetos, em

tecnica de reproducao de imagens: afastava-se assim da fotogra-

tambem, em geral, de toda tecnologia industrial. Por outro lado,

ocampo da pintura se ressente da repercussao da industria: as

produzidas pela industria quimica permitem uma grande extensao

"u<ou""u<o de gamas, poupam aos artistas a etapa artesanal da trituracao e

" P , , , , , , , , . . .a.udas tintas, reduzem significativamente 0 artesanato ja mais refi-

da mistura na paleta, Amitide os impressionistas pintararn depondo.suoerncie toques de cor pura, evitando assim as transicoes graduais de

Aprimeira grande inovacao tecriica, a partir de 1884, e a de Seurat e

neoimpressionistas: partindo do estudo rigorosamente cientffico da

composicao crornatica da luz, pintam justapondo pontinhos ou peque-

toques de cor pura que, visto de certa distancia, recompoem na reti-

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rtrlfT lUa 6 pensamento de que os artistas possuem cada urn sua

diferente da tecnica industrial e nao dirigida a produzir

para a vida; uma tecnica, portanto, que nao tern nenhuma

~aIllll,Ua.U.~om as tecnicas industriais, mas que pode se apro-

alguns casos, da pesquisa cientffica (neoimpressionistas) e da

literaria (simbolistas).

substancial entre as tecnicas artisticas, que poderiam ser

tecnicas do estetico, e as tecnicas industriais, e que as primeiras

e as segundas coletivas: com efeito, a tecnica tende sem-

se identificar com 0estilo, ou seja, com a ideia de uma tecnica

conu,al-JU"L<Ltecnica impessoal da industria. No momenta em

aUSLllal,l,nuvse encaminha para a hegemonia, pode parecer con-

afirma~ao paralela da arte como anti-industrialismo.e.e ainda

'''~'''''''''~Interesse e 0favor da burguesia industrial, capitalista,

que a contradiz, amhide com tons violentamente polemicos.

na fase inicial de sua ascensao, a burguesia industrial tern

ueresse em alimentar essa contradicao, seja porque a arte produz

cujo consumo e necessariamente reservado a uma elite economi-

porque esse consumo de elite a distingue da pequena burguesia

uua~~~ com que ja aspira a nao ser confundida. Em outros termos,

da industria se interessam pela arte porque ela compensa a

estetica pr6pria da industria, mas ao mesmo tempo querem

que essa compensacao permaneca marginal e nao seja consu-

pela coletividade senao nos lirnites e nas modalidades que a c1asse

determina.

problema das tecnicas, ou seja, das modalidades de producao da

estende logicamente ao produto: 0que vern a ser a obra de arte,

que deixou de ter uma utilidade e uma finalidade imediatas e ja nao .

na realidade social? 0 que vern a ser urn quadro ou uma

agora que ja riao servempara fe:;presE!Iltarpetisoas;fatos,<?pi(:!-::,

existencia, mas as pessoas, os fatos e os objetos se tornaram aperias

ou pretextos, nem sequer necessaries, do quadro ou da estatual' E

que, se a obra de arte ja naovalecomo representacao de UIIlobjet(),

como objeto em si, mas a questao e saber que tipo de objeto, ja quee intrinseca e estruturalmente diferente dos objetos produzidos pelas:

norma is para as necessidades normais da vida.

Paul Cezanne e 0primeiro a propor com clareza.inao no plano teo-

direta da 9 problema do quadro, tentando

na de quem olha a unidade dos tons. E claro. 1) que essa

condicionar a percepcao a nocoes cientfficas e, portanto a

apenas consciente, mas tambern analitica; 2) que ela visa ' ,

numa producao difererite da industrial, mas igualmente

premissas cientificas; 3) que exige a disponibilidade de

rnaticas, ou seja, de tintas em bisnagas produzidas pela U.lu;[r"

Van Gogh, nos mesmos anos, pintou com cores muitas vezes

cando-as na tela encorpadas, amhide formando espessuras

raramente se serviu no lugar dos pinceis da esparula, quebastante salientes de cor. Para Van Gogh e fundamental a

a furia da inspiracao e, consequentemente, 0"gesto" da

coloridos janao acompanham os contornos ou planos da figura

representados, mas ritmos e cadencias de urn dinamismo

do artista. Seu modo pict6rico nao apenas e0oposto do U"_ '-<U 11

trabalho industrial, mas 0e tambern da operacao projetada e

do artesao: uma arte que exprime a tragedia existencial do uU'U«:lJ

no nao pode ser senao antitetica a pratica da vida cotidiana em

causa da tragedia, Nao apenas em sua frenetica exaltacao de

de que se pode arnar ou odiar, mas com a qual nao e facil

feitura de sua pintura, Van Gogh esta em marcado contraste com

chamada civilizacao industrial. Gauguin, por sua vez, percebe

nao pode nascer e se ambientar na cidade moderna, cada vez mafs

rizada pelos produtos industriais, e busca lugares apartados e

Bretanha ou ate nas ilhas do Pacifico. 0 simbolismo nao tern

prias: 0interesse do artista ja nao esta no quadro como objeto,

representacao, mas como vefculo de significados. Busca-se

arte, por sua espiritualidade, do mecanismoe dapraticidade

da industria. No campo tecnico, portanto, os simbolistas tendem

materializar e simplificar a obra de arte, evitando pastas muito

efeitos visuais muito violentos~ Se, p()rem, se consideraque tudo elico e possui urn significado espiritual af~mcia pe~~~p~ao pura e

operacao artistica, que por simesma e uma as;:aoespiritualizante,

realizada mediante todasas tecnicas, inclusive as lastimadas, lUC;;\..,,111,L\..

vulgares tecnicas da industria. E justarneIlteb filao simbolista da artedo seculo XIX que tende a apagar asfronteiras tr~dicionais entre as

tes artes, e especialmente entre as artes "maiores" e "menores"; e emente 0desprezo pelas tecnicas da producao industrial que leva a

-las, aindaque apenas como rneios instrumentais. Quando os

c :: :mamque um ' q u ad f6 'e 'a p e n as uma .' su p e rf lC I eI el .t aa e ~ r ea s \..UIUJLIUa",mam ao mesmo tempo sua inutilidade pratica e sua identidade

com qualquer outro objeto. Entre 0 fim do seculo XIX e 0 cornecodo

,~V'_ULw...au Apintura e uma superficie sobre a qual sao depositadas

que devem ser consideradas nao apenas em relacao a tonalidade,

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and crajtsde Morris e0Werkbund na Alemanha, buscou-

reabilitar 0artesanato, mas the atribuir uma funcao de guia

a produs;:ao industrial; as proprias artes "maiores" se aproxi-

Int;o:>a.u",.~ e tipico 0caso do renascimento da antiga tecnica da

proposto e defendido pelos expressionistas da Brucke.

novidade artistica da primeira metade do seculo xx e a cola-

ela consiste em aplicar sobre os quadros fragmentos

papelao, pedacos de [ornal, f6sforos etc. No pensamento dos

e urn objeto real que, portanto, pode facilmente serf"..·,..'1c·=o'm·······a·.s··c··o··i'·s·.as····reai.s·que existem ao seu'redor:' alem dissO,

percebido como qualquer outra cois~, logo,. a,parte pintada n~o

como algo diferente de toda a reahdade visfvel. 0 quadro nao

urn objeto real que ocupa urn espaco real, tambem possui uma

poderia se chamar de magnetica, e que the perrnite cap tar a rea-

o cerca ou, rnelhor, de tomar como refens alguns fragmentos

. isso, a tecnica da colagern, que tende a transformar a obra do

especie de montagern, se desenvolve rapidamente e se torna

maiores fundamentos lingulsticos da arte moderna.

futurismo e as outras vanguardas europeias se anunciamcom

acento tecnicista (0 proprio manifesto dos pintores futuristas, de

intitula "manifesto tecnico"): rejeitarn, pelo menos por princfpio,

artfsticas tradicionais, tentam experimentacoes em varias dire-quase todas mais ou menos baseadas sobre 0principio poli-

da cola gem. As pr6prias correntes de origem dadaista, mesmo

uma tecnica comum, acabam por utilizar largamente tecnicas

.V"'j",'-' ••e outras aflns. A prova de que a colagem constitui, a partir de

quase uma constante linguistica, se encontra no fato de que essa

e suas derivacoes nao permanecem exclusivas do cubismo e dos

,",,-np1nTr,,;: construtivos que remetern a ela mais ou menos diretamente:

rwitters, cuja formacao e essencialmente dadaista, generalizou a tecni-

colagem ate construir composicoes inteiras (Merzbau) com objetos

ragmentos de objetos encontrados por acaso e justapostos. Trata-se,

caso, de urn processo de colheita casual (bricolage) e de justapo-

e acumulacao (assemblage), que tende singularmente a reunir dois

'u..~u,.v"antiteticos da concepcao artfstica moderna: a racionalidade e

por urn lado, 0acaso de outro.

o dadaismo nao possui tecnicas proprias, ao contrario, busca elimi-

o aspecto tecnico da pesquisa artfstica, justamente por iss0, no entan-

e aberto ao usa ocasional de todas as tecnicas, Com efeito, e gracas

dadafsmo e ao seu desprezo pela tecnica "privilegiada" da arte que

os ultimos preconceitos, e todo meio tecnico passa a ser considera-

475

a densidade e a transparencia, mas tambem no que diz

das pinceladas, as tensoes que determinam suas relas;:oes.

algumas partes da tela permanecem descobertas, e0branc. ., . 0

texto pictonco, mas esses brancos servern principalmente

toda representacao ilus6ria de profundidade e a explicar que

uma casca de cor, com sua consistencia ftsica, aderindo

Sabe-se que Cezanne nao pintava senao ao vivo, sempre nF"r".,~

ou 0modele, contudo, Cezanne nao imita nem interpreta: nao

real como modelo, mas como termo de confronto. 0

mas concretovital- sobretudo, porern, igualmente "autentico", De fato, e'a

dade" da imagem que constitui a grande aspiracao dos artistas

a fotografia passou a cumprir todas as funs;:oes medinicas da '

Outra novidade tecnica arrebatadora foi introduzida por

do, justamente por volta de 1880, fez esculturas dedans;:arinas

era feito de verdadeiro tule. Aquele pedaco de tecido tinha uma

ser nao muito 'diferente das pequenas areas de tela branca nos

Cezanne: entrava no contexto plastico da escultura e, ao m,eslno

media a distancia, alias, a diferente natureza, entre realidade e

artfstica. Nao resta dtivida de que aquele pedaco de tule vprrl.."rl=

com pleno direito, escultura, mas isso prova justamente que a

artfstica nao depende da realidade, ao contrario, pode recolhe-lave-la em sua propria realidade e concretude de imagern.

Nos mesmos anos, urn escultor aclamado como 0maior de

tentava uma operacao totalmente diferente. conseguir na escultura

tos luminosos da pintura Irnpressionista, sem renunciar a sua

talidade e a sua tradicional funcao civil. Tanto Rodin como, '-''''1-''-''0:>.

o Italiano Medardo Rosso mudaram sem diivida a maneira de

deixando amiude traces evidentes da vareta ou dos dedos, assim

os impressionistas deixavam a vista as pinceladas: todavia, seu

voltado a modernizar a tecnica tradicional, enquanto Degas, talvez

pretender, marcou a virada clara da escultura tradicional para a

moderna.

Tambem para os fauves e, paralelamente, para os

rnaes, a tecnica deve construir 0manufato artistico como umaautonorna, e afinal mais autentica, da realidade da experiericia

fato, aflrrna-se que 0Industrialismo teria destrufdo 0sentimento da

ticidade natural, que se conservaria apenas na arte. Justamente

arte nao fabrica representacoes, mas coisas, dirninui seu u.L<>La.U-.Lo. .... ,

do artesanato, que certamente deixou de existir como atividade

normal, mas se pretende ressuscitar como arte para contrapo-lo a

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do aproveitavel para osfins da arte: com efeito, e com os

Ray, Richter) que a fotografia e 0cinema cornecam a

como tecnicas de pesquisa, e nao rnais apenas como

Remonta tambern a esse momento 0declfnio e 0Q.Ud.!lUonnmaterials "nobres": na escultura especialmente, cada vez

o uso do ferro, da ceramica, ate do vidro e de outros Ul,uenai",

pela industria. A escola de arte criada por Gropius em

visa estabelecer uma relacao funcional-operativa entre

exige-se, portanto, que todos os produtos artfsticos possam

industrialmente e que, portanto, desaparecarn as tecnicas

individuals, e os artistas aprendam a se servir do aparato

sociedade elaborou conforme sua cultura e suas exigencias:

termos, do aparatotecnico da industria. Por esse caminho ..

gou, no primeiro pos-guerra, a eliminacao quase total tanto

sistemas de representacaoIperspectiva, simetria, composi~ao,

tonal etc.), como das tecnicas artisticas tradicionais, esse

minacao seria retomado de maneira radical e definitiva ap6s

Guerra Mundial.

Na arquitetura, que obviamente nao depende apenas da

dos artistas, assiste-se a uma rapida adequacao aos materiais e

da producao industrial: apenas em Barcelona, com Gaudi, houvetativa grandiosa, mas isolada, de fazer arquitetura moderna com

dos de projetacao e de execucao de urn passado distante e

A polemica que ja se desenvolvera no decorrer do seculo

"arquitetos-artistas" e "engenheiros-construtores'' se torna mais

nas ultimas duas decadas do seculo a respeito do concreto, 0

construcao que a industria produz em grandes quantidades a

e cuja eficiericia tecnico-construtiva e muito superior a de todos

riais tradicionais; 0mesmo discurso vale para 0ferro, que de resto

ciado inclusive tecnicamente ao concreto (concretoarmado). 0

nao eumamaterta riatural.ftaotemfoima nemq1..lali&ide pr6prias

pasta que, passando do estado Ifquido ao s6lido, assume em

.forma do recipiente em que foi despejada. A discussao verte sobre

pontosise o concretopode ser utilizado apenas como materialou de preenchirnento, sendo depois revestido por materials mais

se pode gerar uma nova morfologia arquitetonica, diferente da

logia tradicional das construcoes em pedra ou tijolos, se permite

decorativos, se pode ser utilizado tambern em edificios representat

··ou apenas -ern -obras deengenharia.A discussaOse 'pro16iigoll porde vinte anos na Europa enos Estados Unidos: Acabararn por

algumas consideracoes fundamentals. I)-com 0erro e ocoIlcreto

:UHc.u"~ a proporfao entre cheios e vazios: e possivel lancar

obter.espafos mais amplos e luminosos; 2) a construcao

necessariamente baseada sobre a relacao estatica de pesos

. e horizontais: as arnculacoes arquitetonicas podem

IICH-U.~0espaco em muitas direcoes e desenvolver tensoes e

segundo sua amplidao e sua forma; 3) podendo a deco-

nas formas, cai a distincao tradicional entre partes

partes omamentais; 4) caem definitivamente, por seremja

de significado, as antigas regras proporcionais de altura, Iar-

nn.U1I.ld.\.J,"-:ssirn como as leis de equillbrio estatico e de sirnetria.

de elementos estruturais e decorativos ja se encontra,au'''u' ......'~

passado, na arquitetura de Gaudl ou, com outro espfrito,

cULa_JU~ da tecnica arquttetonica, do funcional e do ornamental,

belo, esta na raiz da transformacao radical da concepcao do

da profissao dos arqultetos. Parece haver uma contradicao

entre 0pensamento de Ruskin - para 0qual nao e arte tudo

finalidadesecohomicas ou utilitarias, e apenas a decoracao

ser chamada de arquitetura - eo pensamento de Loos, pou-

niais tarde, para 0qual 0ornamento e crime e apenas 0 que

funcional e perrnitido ao arquiteto. Essas divergencias cer-

'tmharn urn significado enquanto construtivo e decorativo eram

como, no discurso, 0substantivo e0adjetivo: nao tern mais razao

JU:lU'-'V os elementos construtivos e decorativos podem ser produ-

mesma materia, com 0mesmo procedirnento tecnico, e serem

'ialJnente fundidos ho mesmo molde.

a arquitefura deixou de ser lima caixa fechada, se::os elementos

se movirnentarn agil e livremente no espaco, se os espacos

e as paredes de vidro estabelecem uma continuidade luminosa

.........",;,,'"e I:!xt<::!Ii()re§,e f1n~lJnem<= 1 r n si9tE!rn~_construtiv:().~]:)e:rt:S?~_substituiuo tradicional sistema estatico e fechado, pode se

a concepcao do espaco arquitetonico e muito semelhante ada

ap6s a rev91uci()I1~ria e:x:periellcia e:xpressi()I11st.a. --: ..· . · · .

. .contribuicao extremamente irnportante para a renovacao dasarquitetonlcas e. da espacialidade urbana foi traz;ida, aos Esta-

Jll1UJ", pela assim chamada Escola de Chicago, e especialmente por

Sullivan. 0 arranha-ceu.e, para a cldade americana da epoca Indus-

necessidade a: ate 1$79, quando . . pe1a.

vez esse. 0arra-

fora urn ediffcio tipologicamente tradicional desenvolvido em

fora de toda relacao proporcional, mediante uma acurntrlacao de

476

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a qual a arte e uma operacao puramente mental, nao tee-

realiza par meios absolutamente ocasionais. Nao se exclui,

que a artista precise se servir dos materials e dos procedi-

mas se exclui que a praxis operativa dependa de uma.L."'~---'aLl~""~~ organizada, deurnprojeto.0embate esta entao entre uma

projetivo e uma arte fundada na ocasiao, no acaso.

-'-_''11PS artfsticas que privilegiarr:ta casualidade partem do pres-

que ela responda a uma ordem (fa loi de la cbance [a lei do

IHJ1U~"""~ e reprimida pela ordem racional que a homem se deu

r~entepatapc.dE!r dirigirsuasacoes para urnfima-seralcancado:e a espfrito essencialmente economico de uma sociedade de

e de comerciantes. Como se pretende que 0artistanao produ-

e seve uma antitese entre a racionalidade da producao e a

da criacao, a criacao acontecera par procedimentos inteira-

1.m~re:ntE~sos das tecnicas projetuais da producao.

lC::;<U"U"J que afirma querer liberar as energias criativasreprimi-

:)irlcc.nS:Cl(~nt:e,ao atribui muita importancia ao problema tecnico,

que a procedimento artfstico seja totalmente espontaneo e

par urn automatismo tecnico, impedindo assim que a pesquisa,

grande forca do seculo, se constitua como problema. Ha proce-

totalmente casuais, como a do cadavre exquis." que pode ser

tanto a escrita como aHguracao e que substancialmente consiste

prosseguir par outros uma frase au urn desenho de quem nao se

a parte ja feita. E legftimo tarnbem a usa das tecnicas normais de(incluindo a fotografia), se forem empregadas na maneira mais

e corrente, como urn meio que se possui ao ponto de utiliza-lo sem

ne1e,de forma automatica. E, por exemplo, 0casa de Dalf e deoutros pintores surrealistas cuja figuracao e fantastica e irreal, mas

I..IllLLU.a., tecnicamente, e convencional.Ernst inventou algumas tecnicas autornaticas, baseadas em ges-

U,"UHUa..'" e mecanicos como esfregar au deixar gotejar substancias

. a frottage consiste em esfregar urn lapis num papel posto sobre

, superffcie aspera (por exemplo, madeira), de maneira a transcrever

asperezas, obtendo urn desenho que excita a fantasia do artista, que

a partir dele; a grattage, procedimento que consiste em rasparUC::;;jLl:1j~aluma superffcie; 0dripping, au gotejo casual de cores liqui-

.' urn suporte estendido no chao. Essaultima tecnica automatica,

Ernst se llmitou a experimentar, foi retomada em ampla escala pelo

lL<:"'-d.HU Pollock ap6s a Segunda Guerra Mundial; pode ser considera-

479

andares, Par volta de 1890,Sullivan realizou asprimeiras

de qualquer remissao a esquemas construtivos

diretamente a partir da situacao e da funcao urbana do

a principio da nova concepcao "organica" do espaco

mais tarde seria amplamente desenvolvida, de maneira

par seu grande discipulo Frank LloydWright.

Outra inovacao radical, inclusivenoplano tecnico, eo

nico", defendido par Wright, dosmateriais naturals do lugar

a ediffcio; a novidade consiste principalmente no fato de qu.--amiude-no-estado bruto . ....... . . e

arquitetonica e com a objetivo de estabelecer uma conexao

uma especie de afinidade eletiva entre 0ediffcio e seu GL"UIC::;U

cepcao espacial de Wright e sua teoria da relacao organica

tetura e a espaco ambiente exercerarn uma influencia riotavo]

a partir de 1910(data da publicacao Wasmuth das obras de

Holanda, na obra de Dudok e dos arquitetos do movimento

De Stijl,e na Bscandinavia, especialmente na obra de Aalto.

Ap6s a Primeira Guerra Mundial, quando a tendencia

a da pura funcionalidade (aderencia da forma as estruturas) e

nalidade (aderencia da forma a economia e ao escopo da

problema tecnico dominante e0daproducao emserie e da

parcial au total. A industria ja tern condicoes de fabricar emmais ou menos importantes do edificio: coberturas, caixilhos,

reduzindo assim consideravelmente a tempo e os custos de

a complexidade do canteiro. Aconstrucao se torna assim, pelo

parte, uma obra de montagem; e a pr6prio projeto deve levar em

disponibilidade de elementos pre-fabricados. Logo se chegara

nas a construcao estandardizada de muitas unidades edilfcias

(Siedlungen), como tambem a imissao no mercado edilfcio de

unidades inteiramente pre-fabricadas. Como e Iogico, a ri"",,,,~,,,...h,;~

da pre-fabricacao progride ao mesmo ritrno do da U"...lU"Ui:111GaLo.;au

afastamento sempre maior da arquitetura do campo tradicional da

interesse, que ja nao se concentra sabre ediffcios singulares vistas'

obras de arte, transfere-se aos conjuntos de edificios, au seja, ao

a cidade, aoterrit6rio. A pre-fabricacao arquitetonica esta, nr,rt<lT\tnrelacao com a identificacao sempre mais clara da arquitetura

com a urbanismo.

Ligadaa pesquisa de novas procedimentos tecnicos esta a

inversa, de elirninar a tecnica na arte. Aprimeira negacao da Iegitimid

de tecnicas especificamente artfsticas e, ao mesmo tempo, da

do trabalho artfstico se encontra, durante e ap6s a Primeira \T"" ">I., C o) jogo coletivo lnventado pelos surrealistas em 1925.

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poHticas dos grupos e a sua vontade de influir nao apenas no

da arte, mas tambern na cultura em geral e ate nos costumes.

ultima dos manifestos e desacreditar e substituir na opiniao do

mas tambem do mercado, os valores artisticos mais prestigiados,

os manifestos sao instrumento da variacao das modas.

como comentario aos fatos artisticos do dia, e especialmen-

F'XIUV:)L".,-,~.voficiais, remonta ao seculo XVIII, ou seja, aos infcios do

: exemplo tipico e prestigioso sao os Salons de. Diderot. Uma

engajada, visando defender certas tendencias contra outras (eas modernas contra as tradicionalistas), aparece em mea-

seculo XIX na Inglaterra com os Modern painters (0 titulo tam-

significativo), em defesa de Turner, Constable e, mais tarde, dos

:aC::l1l,C1C1, na critica francesa, mais ou menos no mesmo perfodo, 0

qualidade e marcado pela intervencao no debate sobre as artes

de urn grande poeta e literato, Baudelaire. Entre os muitos aspectos

da critica de Baudelaire (que abre a serie das "colaboracoes" entre

e literatos) estao a condenacao explfcita da imparcialidade e0ou-

passionalidade e ate ao carater "politico" da critica, Contra 0 credito

florescente da tradicao classica, prestigiosamente representada por

Baudelaire afirma energicamente a necessaria e intrinseca "moder-

da arte; paralelamente, pode-se dizer que a dele e a primeira

de arte intnnseca e estruturalmente "moderna", ou seja, a primeira

nao mais julgadora externa dos fatos artisticos, mas engajada e par-

no acontecer e no devir destes. .

1874 e 1886 osimpressionistas organizaram oito exposicoes de

que a crftica militante acompanhou, COmo de costume, com facil

por parte dos representantes do "born-senso", preocupados ape-

em secundar os gostos convencionais do grande publico; contudo,

constatar que, com 0passar do tempo, comeca-se a reconhecer a

de uma "escola" impressionista e a seriedade, as vezes a genia-

de seus artistas(com excecaode Cezanne, que perrnaneceu igriO" "

e se isolou de seus pr6prios companheiros de corrente). Em 1880,

no Salao ainda prevalece 0espirito reacionario da academia, e

J·CAL>UJI..l'-'i:) artistas como Manet e Renoir (mas no ana seguinte Manet

o segundo premio): tomam suas defesas, respectivamente em

TT"IT,n';~" e LaReforrne, dois literatos, Emile Zola e loris Karl Huysmans.

,a posicao dos dois escritores ainda era mais ou menos a mesrna,

anos mais tarde divergiriam, inclusive em campo literario, e Zola

amaneceria (5 defensor ihcansavel do'natiiralfsmo; enquanto Huysmaris ' .-

urn dos maiores representantes do simbolismo e do espiritua-

E claro, entao, que 0 impressionismo, como arte fundada sobre a

da, portanto, uma antecipacao da actionpaintingamericafoi se acentuando orozi . na0i se acentuan 0 progressivamente a tendencia a .

consequentemente procedimentos diferentes dos tradiciona' .

rencia marcada por materiais pobres como aterracota a IS,

(Gonzalez) ou, em outros casos, materiais totalmente ~ovos

e as materias plasticas sinteticas (Gabo), E frequente, seja nos

seja nos dadafstas e surrealistas, 0 emprego de materias e

numa mesma obra de arte (poHrnaterismo).

14. A critica. Na segunda metade do seculo XIX os f>!';('rir",

arte, ate entao predominantemente cronicas ou comentarios

autoria de artistas ou literatos, se intensificam, se organizam, s~

como uma disciplina autonoma, com seus fundamentos

metodologias. Essa maior consistencia disciplinar depende seja

tacao geralmente critica da cultura do Iluminismo em diante

de que a arte se qualifica como disciplina e como pesquisa '

divers as categorias: 1) escritos de artistas relatando suas expe:rie:nc

ideias sobre arte, suas intencoes e programas individuais ou de

escritos de jornalistas e literatos sobre os acontecimentos

seu tempo; 3) textos filos6ficos ou te6ricos; 4) hist6ria da arte. A

e complexidade dessa literatura sobre a arte demonstram que a

artfstica esta se juntando uma reflexao sobre a arte, OUseja, a

fornecer uma explicacao aos fenomenos artisticos de que se sente

nheza ou, pelo menos, a excepcionalidade em relacao ao quadro

uma cultura cadi vez mais cientffica e tecnol6gica.

Entre os escritos de artistas muitos sao privados: anotacoes,

cartas com referencias as pesquisas artfsticas em curso e as TFI<rnp

o mundo cultural contemporarieo: as cartas de Cezanne e de Van

os diaries de Gauguin revelam a problematica daqueles artistas e

cionalidade de sua pesquisa. Outros escritos, porern, sao

destiriados a pllbIica<;;ao e possuem urn car~1:erpol@mico e

como, por exemplo, os manifestos, pelos quais os movimentos

surgindo sucessivamente (futurismo, .surrealismo etc) anunciam

macae, sua composicao, suas finalidades, Os'marlifestos contem

enunciacoes te6ricas que, porem, sao claramerite llnilaterais e

consideradas simples declaracoes de "poetica' por parte dos

os promulgam e os subscrevern, todavia, por sell carater

por refletir a orientacao de grupos rnais ou men()snumerosos, sao

"'==sintoma das afinidades exlstentes entre a pra)cl~aos'm6vimeiitose ados partidos polfticos. E frequente, de fato, que os enunciados

a arte sejam acompanhados, nos manifestos, por declaracoes

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482

< .. ~ •. •• ~. _ _ elevado como, na Franca, a Revue Blanche. Gauguin

e defendido por urn dos literatos de ponta do simbolis-

e foi ainda urn literato simbolista, George-Albert Aurier, 0

o"rr~VE>T urn ensaio sobre Van Gogh. Vale salientar que Aurier

admirador de Rimbaud e que 0estilo de seu ensaio e clara-

no do poeta: evidentemente, Aurier foi levado a entender

indubitavel afinidade de situacaoexistericial entre 0pintor

483

experiencia visual, e0simbolismo, enquanto arte toda

nao sao absolutamente polos opostos: sao duas UU'e<;::oc:!S

igualmente legftimas da arte "moderna", em contraste

mas em igual e deeidida oposicao ao estilo convencional .

Por outro lado, justamente quando, em 1886, os

xam de formar urn gropo homogeneo e de fazer sua

aflrrna-se urn novo grupo de jovens pintores, liderado por

que adota 0nome de neoimpressionismo e se propoe

de uma pesquisa cientffica, na linha da 6ptica de

. Rood-a-visao-eromatlca impressionista. Entre r\( ........".,,"''''''', ..,c

sobre eles esta urn poeta, Jean Moreas, que se tornarla

poesia simbolista outra prova de que entre 0cH~nl,iticisim(

impressionistas e 0espiritualismo dos simbolistas nao ha

mas relacao dialetica. Os criticos que falam do neoilCIlj:>re:ssi.on

Roger Marx e Felix Feneon, empregam uma linguagem

nao pretendem julgar as obras de que falam (por outro lado

dem 0apoio a essa teridencia), mas querem explicar, enunciar

a "poetica" dos artistas. Agora 0critico ja nao e0omalista

fazer a resenha de uma exposicao tentando acompanhar 0

conservador, dos jornais em que escreve: e urn pesquisador,

literato, que frequenta os atelies dos artistas, participa de suas

e busca demonstrar que aquela pesquisa, nao diferentemente

sa cientffica, e parte ativa do quadro geral da cultura do

Baudelaire, Stephane Mallarme se interessou por pintura, foi

pintores - de Manet a Gauguin, a Whistler, a Redon - e sua

raria e cheia de intuicoes importantes para com a pintura QU

uma experiencia pict6rica. Nao contrapoe uma arte fantastica

visual em "retorica", rnuito pelo contrario, define a si mesmo

impressionista e simbolista; com efeito, quando a autenticidade

ta do dado for alcancada, quer se trate de urn dado visual ou

quando esse dado for disjunto de todo significado corrvericionar

inevitavelmente a necessidade de urn novo significado, que

nao pode ser a nocao banal, mas e necessariamente simb6lico.

sfvel apreender apenas fragmentos da realidade, e preciso que

signiflcativos do infinito ou da totalidade; nesse sentido, 0mpressto

e 0simbolismo sao duas poeticas diferentes do fragmentario e do

do, que nao se contrapoern, mas se integram.

Nas duas ultimas decadas do seculo XIX, os literatos mais

tomam abertamente as defesas dos artistas inovadores, ignorados

tratados pelos criticos dos jornais. Inicia-se assim 0sodalicio entre

literatura de teridencias modernas que encontrara seus centrosem

praticamente ignorou Cezanne ate a exposicao organiza-

_,··"..r.rf"p;mesmo depois, por muito tempe=eontinuou a pesarde sua obra 0equfvoco devido a Zola, que no romance

obral descrevera 0amigo de infancia como urn artista dotado

eternamente insatisfeito por seu trabalho, fracassa por urn

amor a sua arte. Antes da critica francesa, inieialmente incli-

a obra de Cezanne a uma vaga tentativa de conferir forca

impressionismo, a critica alema (e mais uma vez urn poeta,

a quantidade de problemas abordados por Cezan-

pesquisa. Ainda antes, porem, 0compreenderam os pintores,

'CUJIJ....J J..... os fauves: 0pr6prio Matisse e, de maneira mais Weida e

Braque. 0 cubismo analitico, com a pesquisa coordenada de

Picasso, parte de urn exame aprofundado da problernatica for-

;......,co<.auJJ ....; pela primeira vez urn movimento artistico parte de uma

;critica, assim como, pela primeira vez, uma analise critica e condu-artistas mediante sua obra pict6rica. Nao surpreende, portanto,

te6ricos do cubismo fossem artistas que, propondo-se 'reconduzir

urn ambito racional, sentiram a necessidade de se expressar em

de teoria: Gleizes, Metzinger, Lothe.

uJJJG"JJ" . .. . Apollinaire, urn dos maiores poetas franceses do inicio

xx, foi critico assiduo, pontual, engajado antes no movimento

depois no cubismo e no futurismo. Sua acao foi principalmente de

e de suporte, inclusive polernico; certamente, 'porem, existia certa

estrutural, que foi se preeisando pela relacao continua entre sua

e a pintura cubista. Ja nas duas ultimas decadas do seculo forarn se

'''JJU\..,''-U'uv as correspondances entre artes visuais e literatura, mas pela

vez, com 0expressionismo, urn movimento artistico se desenvol-

,JUJUJ LGUCO,"-H1COJJLCO em campo figurativo e em campo literario, com claras

UCOH-.Jd." reciprocas, que pressupoem uma poetica comum e, portanto,

atividade reflexiva e critica entrelacada a operacao artistica. Quando,

,porvolta de 1910, aparecem os primeiros movimentos de vanguar-

,a figura do literato corifeu, que enuncia as razoes e as finalidades do

, torna-se essencial. 0 futurismo Italiano se irradia em todas as dire-

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coes: pintura, escultura, arquitetura, teatro musica po ., ,eSla'

savel e a guia do movimento e urn poeta, Filippo Toi:nmas~

urn manifesto de base, de 1909, a que seguem os """''7~u.'___"

varias artes. Analogamente, a vanguarda russa e liderad

Maiak6vski, que dirige e coordena os diferentes ramos do a

a mesma finalidade revolucionaria,

Como 0dadaismo nega a relacao da arte com 0conceit

o pr6prio conceito de valor -, nao pode adrnitir uma 0

ficacao do valor, e como0

ate dadaista e gratuito e~L-UC:LJUC:

admitir 0momenta crftico nem como preparas;:ao nem como

cia do ate artistico. Da mesma maneira, 0surrealismo e urn

artistas figurativos, de literatos (Breton, Aragon, Cocteau), de

gera numerosas declaracoes de poetica, mas nao admite uma

critica, metodol6gica, em seus procedimentos expressivos.

o momenta crftico, ao contrario, e fundamental para as

construtivas, que defend em a plena racionalidade da

ca. Frequentemente sao os pr6prios artistas a deftnir em r"" .~ __ .

suas intencoes. A maior parte dos escritos e de arquitetos:

importantes, no corneco do seculo, sao as declaracoes

cisas e as intervencoes polemicas vivas de Henry van de Velde e .

do, de Adolf Loos. Na Holanda, 0movimento construtivo De Stiji

a partir de 1917, uma revista dirigida por Theo van Doesburg, aboram todos os integrantes do grupo (os arquitetos Oud, 1-("t"",,,1<

Eesteren; os pintores Mondrian e Vantongerloo), como para

a necessidade de uma critica nao mais a posteriori, mas integrada

cesso criativo da arte.

Os escritos filos6ficos e teoricos tiveram grande importancia

macao de uma critica, nao judicativa, mas participativa ou ate .

a arte. A grande novidade, no estudo dos fatos artisticos e a

mada da visibilidade pura, encabecada por Konrad Fiedler e

Hildebrand. Fiedler separa 0estudo das artes cia estetica geral,

"ciencia da arte" a partir daquilo que cada urna tern de especffico:

importa, nas artes visuais, e justamente 0que se oferece imediata e

sivamente a vista. A arte nao e a revelacao e ainterpretacao da

das leis da criacao, mas a expressao "construtiva" da atividade de

seja, da experiencia que se realiza pela percepcao. As obras teorica:

Fiedler apareceram entre 1876 e 1887 e certamente nao

conhecimento aprofundado da pintura impressionista, no entanto,

'constituem sern duvida 0iristrurnerito crfticomaisa.propriado para

car uma arte como a pintura dos impressionistas, que nao tern

significados alern da restituicao do dado visual, Naturalmente, seo

no que se ve, e qualquer objeto tern uma forma visfvel, a

concorre para eliminar toda diferenca de grau entre as cha-

e menores. 0estudo dos produtos do artesanato, das

da arte popular, por outro lado, ia progressivamente se

desde que os rornanticos alemaes valorizararn a literatura

."-u,.~~"celebrara 0trabalho artesanal, por ter urn fundamento

flnalidade religiosa, implfcitano humilde e serio esforco da

anos do seculo xx, urn historiador da arte austria-publicara urn livro fundamental sobre a arte "industrial"

reavaliando a importancia predominante do artesanato

romanas em relacao a arte aulica, escolastica, desprovida

expressiva, da corte imperial. Foi a primeira contestacao

classica, que por seculos foi considerada exemplo de per-

a ser imitado, unico ponto de encontro entre a hist6ria da

i:l-1J"'-'L~"~ estetico, 0belo, e nao apenas 0classico nao e 0ideal

sim uma realidade hist6rica, como tambem e possfvel opor, e

urn anticlassicismo ao c1assicismo. Num outro livro, Stil-

rooiemas de estilo], Riegl propunha pela primeira vez 0problema

mentacao na arte antiga e alto-medieval; e era 0problema de uma

nao tern conteudo hist6rico ou religioso e nao "representa", nao

urna modalidade de conhecimento. Contudo, a ornamentacao eralinhas, planos, volumes, cores que 0olho percebia: qual seria seu

Intrinseco, nao inerente a uma eventual representacao, mas a

de linhas, planos, volumes e cores e asua disposicao segun-

:ennillaciOSesquemas de simetria, proporcao e ritrno? Que concep-

e de tempocomunicava? Aideia de urn significado inerente

erentes categorias da forma (essas categorias seriam identificadas

anos mais tarde por W6llflin) e, consequentemerite,a ideia de que

e urn meio para cornunicar, mas tern urn significado.intrfriseco

proprio ser (hoje dtnamosra sua estrutura) eta fundamental para

uma arte que nao queria mais comunicar ideias e sentimentos,

Ju",uU.'-<lJ sua presenca no mundo pelo simples fato de ser arte.

1908, em Munique, poucos anos antes que Kandisky provocas-

'5~LU~'-''' ' decisiva no sentido da abstracao formal, Wilhelm Worrin.,.

~""""'-'-'U Abstraktion uridEinfilhlung [Abstras;:aoe ernpatial, em que

com clareza os dois campos contrapostos darepresentacao e cia

representacao como correspondentes, respectivamente, ao mundo

(e seueternocla.ssicismo)eaomundo n6rdico (e seu~etel''''=:-;:-~==:_:,,_:c~~:=:

~...L~LLLLC>LU-). Worringer nao abordava a questao da arte moderna,

'.apresentava as premissas te6ricas da tendencia nao figurativa, nao

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representativa, "abstrata", que iria se afirrnar cada vez

se 0ciclo hist6rico da representatividade, da ~"~uC'"_!U:iUE

em gl6ria, entre as duas guerras, com Matisse, Picasso e

minancia da nao representatividade na Alemanha e na

interpretada como ultima consequencia da estetica

verifica,com Mondrian, uma repentina e apenas

xal inversao de termos: abstracao deve ser considerada a

sentacao, que substitui as coisas a imagem delas, concreta.

e a arte nao representativa, que cria uma realidade a parte:

inclusive por isso de Manet que, no entanto, julgavam 0

urna nova pintura: Manet recusava 0ensino academico, mas

espanh6is e aos holandeses do seculo XVII. Em 1876, um

."n1aIl{.;!."La. de talento, Eugene Fromentin, publicara sob 0titulo

d'autrefois[Os mestres de antanhol seus apontamentos de

Pafses Baixos: nao era urn livro de hist6ria da arte nem uma

de pensamentos sobre a arte, mas 0primeiro e brilhantissi-

de urna "Ieitura" da arte do pass ado por um artista moderno.

Franz Hals nao sao model os a serem imitados: a, . .

nao figuratrvo, os escritos com que os artistas ilustram

suas "poeticas", e que devem ser considerados

sao tais, de fato,os escritos te6ricos, os diaries, as

os ensaios sobre arte de Kandinsky, Klee, Van Doesburg,

Os arquitetos defendem, no plano formal, teses UU.U"La.1..

analogas as dos artistas, com os quais de resto mantem

balho, mas as justificam, como e 16gico, no plano da

numerosos escritos te6ricos de LeCorbusier exerceram !JP:ITrl<>

sobre 0publico culto, inclusive pelo estilo brilhante e a.uuucu<::

mais aderentes a problematica edilicia sao os escritos dos

maes, como Bruno Taut e Walter Gropius, os muitos p<;,rrllrr.c

biograficos, de Frank Lloyd Wright sao documentos de uma

nalissima experiencia construtiva, mas, sobretudo, de uma

plexa com 0mundo americano.

suasque esses artistas enfrentaram a cada vez e resolveram

cavalete, fazendo pintura. Apostura de Fromentin e semelhante

o antigo nao e modele, mas estimulo da operacao artistica.

outro lado, se a arte ja nao encontra sua origem e seu modele na

s6 pode nascer da pr6pria arte. Os impressionistas frequentam

e poem seus cavaletes diante do "motivo". ~ezanne di:ia que

de pintor dependia do sucesso de suas seances [sessoes] no

De Cezanne, justamente, temos algumas pinturas d'apres os anti-retomando 0 metodo iniciado por Rubens no seculo XVII, nao

recria, transpoe a imagem para urna linguagem visual moderna.

, atormentado Van Gogh nao pode deixar de se remeter

artistas do passado (Daumier, Delacroix, Millet), nao tanto para

quanta para entreter com eles, diante do cavalete, uma conversa

Em todo caso, as obras a que os artistas se referem, por anti-

sejam, sao sentidas como absolutamente presentes, fora de toda

hist6rica .

..'-A.lUO"-"~La.UUV':''- soltos de qualquer laco com a tradicao, livres para

no exterminado universo da arte, os artistas modernos podem

no mesmo plano de valorobras de culturas muito diferentes, dis-

no tempo e no espaco. Todo 0"modernisrno" europeu e permeado

experiericia da arte do Extremo Oriente: mas os artistas olham para

com urn espirito muito diferente dos artistas romanticos em bus-

exotisrno. A arte japonesa nao tern perspectiva, nem claro-escuro,

iomposicao nao e simetrica, mas ritmica; as cores sao estendidas em

planas e nao sao calibradas segundo a incidencia da luz, ousegundo os prindpios do tom: e a confirrnacao de que a p~tura de

impressionista esta longe de ser bizarra e paradoxal, mas simples-

se liberou de certas convencoes e preconceitos, que sao pr6prios

VUL,11,-,,"V figurativa ocidental e constituem seu limite. 0 "japone-

, que se difunde em todo lugar na segunda metade do seculoxrx

sua ponta maxima nas duas ultirnas decadas, constitui 0trait

15. Historicismo e anti-bistoricismo. Uma arte intencional

maticamente moderna exclui, como e Iogico, toda oepencencia

tradicao, recusa 0passado como modelo, afirrna '-":ill.lV

originalidade ou criatividade. Pode-se ate chegar a defender

sempre foi, em todas as epocas e em todas as.culturas,

e que suas ligacoes evidentes com a cultura artistica do passauo

tuem urn aspecto secundario e amiude negativo. Mas, se a arte

expressou no maximo grau a faculdade criativa do espfrito

te entao uma especie de universo da arte em que 0tempo nao

nao ha diferenca, na ordem da qualidade, entre antigo e !HUU<::!.W

os produtos da historia e' das outras civilizacoes; em que 0

chega a ter a vantagem de se expressar com imediatismo, sem

obstaculo das convencoes, da tradicao, da cultura.

Os impressionistas acreditavam poder captar a imagem

da realidade e elaborar uma linguagem pictorica capaz de

tela a percepcao visual da maneira rnais direta e livre de orecoru

486 487

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:hnnc:relta0revival da arte bizant ina na pintura da Secessao Vie-

em Klimt: com efeito, 0que se busca evocar simbo-

e o terna ideal do poder teocratico ou carismatico, da comunica-

entre ceu e terra e, ao mesmo tempo, a decadencia desse ideal.

consciencia da afinidade simb6lica com a condicao hist6rica

dos Habsburgo (mas lembre-se a prosa conternporanea

Schiele exprirne 0sentido da fatalidade tragica da decadencia

"beleza" humana. Aqui tambem, todavia, como ja fora no mais

representante do espfrito "secessionista", 0sufco Hodler, 0

.da hist6ria e vagamente poetico: Hodler insiste no tema da

(0 vernovum), da adolescericia, da esperanca no futuro, e nao

.surpreender a influencia que exerceu sobre 0mais jovem Schiele

toda a.arte europeia dos primeirissimos anos do seculo xx), se

no sentimento comum da historia como transicao, metamor-

sazonal, demonstracao da afinidade entre 0destino humano e

nascer-morrer-renascer da natureza.

concepc;;:ao da hist6ria, na arte moderna, parece de fato se reduzir

. dos termos de progresso e decadencia. No fim do seculoxrx

um mito e nasce uma Iiteratura do progresso, que se movem

direcao do progresso industrial (entendido inclusive como

social e gloriflcacao da criat ividade humana), mas tambem se

urn mito e nasce uma literatura da decadencia, que se movem na

oposta, denunciando 0acionalismo e0materialismo do progres-

a causa do fim da espiritualidade e criatividade humanas. Tal

}{,.'.Il_,"-U de progresso e decadencia corresponde a contraposicaoe arte ou, em outros termos, a relacao entre producaoe cria-

tendencias (do impressionismo ao cubismo e ao construtivismo)

as quais a arte deve estar no vertice da produc;;:aoeconomica, ter

posicao de vanguarda, ult rapassar a hist6ria acelerando seu curso;

cumprir essa funcao hist6rica, antepoem as final idades pratic:as

:::;Lt~Llt;<l;:',eclaram-se prontas a deixar de fazer arte se isso significar

anhamento.xernincia a participar do.esforco coletivo da humanidade;

tendencias (do simbolismo ao surreal ismo) para as quais a arte

irna direcao oposta a do progresso tecnol6gico e social , fugir de

contato com a realidade e assumir 0simb6lico como seu domi ...

pr6prio. De fato, porern, a tendencia progress iva se revelara ut6pica,

sera justamente a producao industrial a se apropriar do espaco da

e a tendencia oposta tambem se revelara ut6pica, ainda:~,.•~~.ICsJlUeLLhLltUidUo'-<ln'eg:it:1Vo,otquealdela. de· ciia~ao 1i:J:iplica·aeaiviD:o;::C~--:-_===cc======

seja, justarnente aquilo que 0racionalismo cientffico e tecnol6gico

d'urzion entre a pesquisa especiflcamente pict6rica dos

a esfera muito maisampla das artes decorativas e apl icadas

momento, portanto, em que a experiericia japonesa l ibera a

do historicismo classicista e acadernico, a introduz nurna

rnui to mais ampla, em que astradicoes ou escolas nacionais

significado.

Nas correntes simbolistas, 0senso da hist6ria pode

to mais forte que nas correntes essencialmente visuals. Com

gravitam em volta da identiflcacao de criatividade esua vez, a Imaginacao e memoria do passado e prefigurac;;:ao

percepcao da real idade presente nao passa de urn instante

deravel entre essas duas dimens5es exterrninadas, por isso, a

dada na percepcao, no presente, parece l irnitada se comparada

imaginacao. A arte da percepcao propoe 0passado como

a arte de Imaginacao, 0empo e ilimitado,' nao ha diferenc;;:a

entre passado, presente e futuro. A ideia de hist6ria dos

concretiza no revival, ou seja, no renascirnento imaginarlo do

presente e no futuro, numa circularidade do tempo. Epensamento do eterno retorno, como foi formulado por l"li ,et2:sch

Rilke, que se inspira a concepcao do revival dos simbolistas.

te,o revival, como evocacaoque chega a ser.onirica, nao <-V.U;:',L;: 'LI

imitacao de formas antigas tomadas como model os, mas na

"espfrito" de outros tempos ou de outras civilizacoes. Assim, a

moderna, especialmente quando aprovei ta materiais novos

ro e 0concreto, evoca vagamente os ritrnos do romanico ou do

opondo essa livre evocacao a imitacao macante e mesmo assim

"estilos". Assim, e propositadamente fantastlca, de maneira UC:!llJU.U

tativa dos "estilos", a evocacao que Gaudf faz na Sagrada Familia da

mais do que da real idade historica, das catedrais g6ticas; ou

num plano totalmente diferente, Berlage, na Holanda, faz da

romanica, proposta de rriarieira muit:ovaga,como expressao do

comunitario das cidades medlevais. Analogamente, mais tarde,

rneiro p6s-guerra, seria puramente. evocat iva e sem nenhum

res gate hlstorico arernissao de Le C6rbusier

aarquitetura classica

como exemplo de relacao perfei ta entre civil izacao e natureza, de

formal, de ordem proporcional, de correspondencia da aparencia

essencia estatica do ediffcio. Esse historicismogerierico e sem

forrnais precisas marca 0verdadeiro fun de toda postura escolastica

-ctativa, corriotambem a liquida:s;:ao-dos-assiffi-cliamad6s-estil6sde que se reconhece flnalmente a substancial falsidade e 1111_V.l"1L-.LL

Igualrnente, voltando a pintura fin de siecle, e desprovido de

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490

Para alern da ideia de hist6ria como proje~ao no

~ao oposta, como retorno fatal, ha a nega~ao drastica

Como anti-hist6ria. Gauguin nao se contenta em se ,a

precisa deixar Paris e a Europa, viver no Taiti. Nao

guin tentara a sintese entre 0realismo de fundo dos

antirrealismo dos simbolistas. Entao, admitia que 0

contato com 0mundo real, nao podia renunciar ao dado

cepcao (esse era seu ponto de encontro com Van Gogh

com Cezanne, por outro), mas 0mundo moderno '

nais, tanto que para fazer arte seria necessario encontrar

te mais estimulante, um arnbiente incorrupto, virgem,

nao possuem 0conhecimento racional, mas a intui~ao

realidade. No fim do seculo XIX , em suma, Gauguin ~U.C'-J"U.'<::l

exprime um conhecimento mftico-simb6lico do universo e

nao pode ser feita na Europa, onde 0racionalismo exclui todamftica.

Nos mesmos anos do exilio voltmtario de Gauguin de

excessivamente cientffica e tecnol6gica, outra nega~ao da

mente radical, mas diferentemente motivada, e a do aouanos-»

que inaugura como grande mestre a sequela intermlnavs-j

naifs. Rousseau elirnina todas as convencoes representativas,

compositivos e as sofistica~oes tecnicas dos artistas profissionaissenta aos contemporaneos (obtendo os aplausos, ainda que

Ironicos, dos jovens artistas mats avancados da epoca, co'mle~~lll!

Picasso) Como 0artista ingenuo, que nao sabe nada de <Carte",

a necessidade de se exprimir por figuras, trazendo assim de

sua funcao originaria e elementar. Com Rousseau, enfirn, ganha

o problema da arte popular, ate eritao menosprezado. A propria

da arte ate esse momento se ocupara apenas da arte cuIta, das

por encomenda dos soberanos, dos principes, dos prelados, das

religiosas, dos senhores - mas temos realmente certeza de que

produzida pela elite social era qualitativamente superior? Sem

Renascimento italiano, as grandes personalidades artlsticas Ud.HJ~

livremente com as grandes personalidades do mundo religioso e

mas como negar 0carater coletivo e, aflnal, culto e popular ao

tempo da arte romanica e g6tica? Em fins do seculo X IX os estudos

ficos e os de urn grande historiador da arte, Alois Riegl, poem em

novos e amplos setores do pensarriento expresso, no passado,

as artes visuals: 0da arte popular se torna um problema que nao

ignorado, ainda mais porque amea~a·de perto a profissao artfstica,

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tambem nega qualquer sentido hist6rico ao presente como

precisarnente a Prime ira Guerra Mundial, que destr6i omundourna Imensa estupidez. Mais sutil, porern, e0pensamento

UlCl.l<:Ll.l1}" que nao apenas cortou todo laco com a hist6ria da

a pintar, mas no Grande vidro, realizado entre 1915 e

uma complexa tematica de imagens cujas raizes afundam

evocando inclusive motivos alqufrnicos, explicaveis pelo

a alquimia e uma ciencia morta, ou seja, pass ada para oincons-

surrc!al.LblJllUambern, de resto, mesmo nao rejeitando a evocacaoexclui toda forma de historicismo como busca de uma ordem

urn finalismo no pensamento e na acao, enxergando na arte a

humana nao apenas nao historicista, mas irracional e nao

-se livremente de documentos figurativos do pass ado. if' d hi ;. , serr,

. com seu sign ica 0 istorico e assumindo-os como puros

que conservam sua vitalidade ao ponto de poderem- . d ) P' sernao interpreta os. rcasso, mais do que qualquer outro

captou 0senso de absoluto presente, indelevel e nao

obra de arte conserva no tempo: em suas obi-as se~~"""""'llLI'an

em estado puro de epocas e culturas diferentes,

sumeria, Grecia arcaica, Idade Media, Renascimento

tos, arte asteca e rnaia etc. Evidentemente, quer de~onstrarvel um contato direto evital com 0passado, sem a "~-'.la.'~>t(

gracas a criatividade intrinseca da arte, e .afirma assim a nao

ou, pelo menos, a diferente historicidade da arte. 0 trabalho d

campo do "d'apres" foi extremamente importante para uma e

mais clara do fato artfstico, ou criativo, emrela~aoaos fatores

e agregados, como a ocasiao e a finalidade representativa, 0

ca etc. Semelhante a concepcao da historia de Picasso e a decom a diferenca que 0apelo ao passado, no caso dele,

da nao temporalidade, e nao do Indeclinavel carater de nr.PC!.~,.",=

da arte. Nesse sentido, a escultura de Moore difere da'-",-UULla

primeira metade do seculo xx, desenvolve de varias maneiras a

posta por Rodin, de urn classicismo modernizado - isto e , do

partindo de Rodin, passa por Maillol, Despiau,Ha.ller, De Fiori.

Marini, Manzu, Define-se, enfim, 0carater fundamentalmente '

co da arte moderna; recusa-se 0historidsmo, porque conduz

ao classicismo, reconhece-se que 0classicismo nao e a arteapenas uma sua Interpretacao-em sentido escolar e preceptlvo,

disso que 0historicismo nao e a hist6ria.,ma.s apenas lima

de1a em sentido normativo e dogrnatico, ambictona-se um "-l (1"COL,-\

classicista e uma "historicidade" .nao historicista. Pode-se entencier

como osentimento classico (masnao classictsta) tab autentico na

Marini Qude Manzu seja0oposto do classicismo normativo

acritico dos escultores oficiais dos regimes totalitariQs.· '

A "metaffsica" italiana de De Chirico e Carra foi uma LC;J1UOOl 'Lld

cionada a afirmar, em marcada oposicao com 0porvir dos

nao ternporalidade daarte, seu ser eterno e seu pass ado Imovel

dencia que teve seu deserrvolvimento na pintura de De Chirico e

gio Morandi, visando demonstrar (embora diferentemente, e com

maior engajamento por parte de-Morandi) que a obra.dearte,

.cna.SCim ent5;- ja 'e 16falm enfea: is j l inta 'do : i : i t e s : e h t e ~ l i ; : { e f . § a 1 1 . 0 ' I-'d.""<:LUU

Negacao radical da hist6ria, enquanto tentativa va de enxergar

ordem no caos dos acontecimentos passados, presentes e futures

movimentos do primeiro pos-guerra que se podem chamar de

.H",~a~~~se propoem a aderencia plena a situacao em curso (que na

a vanguarda sovietica, e a Revolucao), visando, porem, uma'or,ojeta<;aoda futura ordem do mundo. 0 pass ado e considerado,

urn status a ser superado, segundo uma concepcao da histo-

enci:Jlirrlelltesocio16gica, ainda que nao propriamente marxista, Essa

crftica dahistoria se..orna tanto maisdefinida, quanta mais se

de autondade-na. Italiae na Alemanha, um historicismo artifi-

dogmatico, nactonalista.eretorico, isto e , urn historicismo que pre-

irnpor como modelos pragmaticos realidadeshist6ricas superadas

o imperio romano, ou abstracoes inconsistentes como a raca ariana

gCIHJ d1JC1"111U A nova historicidade, afirmada e defendida pela neo-

construtiva, se declara europeista, internacionalista e socialis-

zanoo-se assim a hist6ria do pensamento socialista, dos movimentos

da tecnologia industrial, dos grandes movimentos de mercado.

"",·rp·nnja nao e0da historia da arte, mas da hist6ria do urbanismo ou,

1J1;:;\.1"a.J1JC.UL-, c l ( ) que Mumford chama de ctlltllfa urbana.

Y_Ud.llLU mais emergem as tensoes sociais e politicas que levariam

Guerra Mundial, tanto mais. emerge na arte 0pressentimento

r<lr",,,rrr.1TP cio fim cia,civiliza~ao, do ocas()ciahist6ria, do apocalipse

Como sempre, Picasso e 0artista que colhe e exprime esse

ltiDlellto da hist6ria que ja nao e catarse, mas tragedia, terror, morte.

dizer que Guernica, em 1937, retoma e amplia em escala mun-

o rriotivo de Lesdemoiselles de Avignon: e de novo um quadro de

classica, mas ciesped::l~adoporllma,l:!:xplos?o que revela de lim

uma

LG.1~U"UC;;nazista, 'mas 0amincio tragico da crise final da crvilizacao

e crista, que fixou, na hist6ria, 0princfpio da racionalidade e da

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finalidade da vida humana e, na arte, 0produto perfeito

que demonstra a coerencia da obra humana com a di .~ . - ~ id ~ 1 . rvina e. a cnacao, a VI a, a sa vacao. Com Guernica talvez se e

O· bl d hi icid d ncerrepro .ema a istorici a e da arte, ou seja, de seu .

que seja por contradicao dialetica, ao sistema global da

A ESTETICA DO EXPRESSIONISMO

possivel provar historicamente que 0expressionismo nao inventou

1l1l:~U''''15':''u figurativa, mas uma nova modalidade de cornunicacao,

tipo da linguagem, entre a arte e seu ambience social. A nao Inven-

uma linguagem implica a adocao, com carater instrumental, de

estruturas Iinguisticas: isso explica facilmente como um movimen-

, senao ate revolucionario como 0expressionismo aceita sem

uma condicao subordinada, pelo menos no campo da lnvencao da

em relacao a outras correntes artfsticas contemporaneas ..

Essa aceitacao, com a ressalva da instrumentalidade, pressupoe uma

:evidentemente, a comunicacao nao e um fim em si mesmo (ou

na linguagern), mas esta ligada a uma acao que se pretende

Tampouco vale como incentivo para a acao (nesse caso haveria

enfase na linguagem para fins de persuasao, enquanto a arte dos

e polemica e as vezes intencionalmente desagradavel),

como acao que comunica seu pr6prio impulso, que atraves da obra

LJ.<1JU,,..lll.'" do artista para os outros, para a sociedade. E 6bvio que esse

seja mais forte onde mais forte for a reslstencia, e que a arte, por-

busque atingir e sacudir, inclusive pelo escandalo, as areas mais

No caso especffico, trata-se da grande e pequena burguesia da Ale-

guilhermina, narcotizada pelo paternalismo pesado do chanceler

,, •__1_ mas a arte "progressiva" dos expressionistas nao e, no conjunto,arte antiburguesa, ao contrario, tem ate dernasiada consciericia de sua

intelectual: e justamente a arte dos intelectuais burgueses, e impii-uma critica, mais doque uma tentativa desubuersdo, da burguesia.

Mais precisamente, essa arte tende a penetrar no dia a dia da situacao

".U;'Sl'''_''';l, para separar 0que e vivo do que e morto e, afinal, para refor-

a cultura burguesa, tendo em vista as novas tarefas tecnicas e politicas

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