arcadismo / neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/file/arcadismo.pdf · 2008-06-25 ·...

13
Arcadismo / Arcadismo / Neoclassicismo Neoclassicismo Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d' expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; -me vinho, legume, fruta, azeite; -me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Graças à minha Estrela!

Upload: others

Post on 13-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Arcadismo / Arcadismo /

NeoclassicismoNeoclassicismo

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d' expressões grosseiro, De tosco trato, d' expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado.Tenho próprio casal, e nele assisto;Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;Das brancas ovelhinhas tiro o leite,E mais as finas lãs, de que me visto.E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!Graças à minha Estrela!

Page 2: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores
Page 3: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores
Page 4: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores
Page 5: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Arcadismo em portugalArcadismo em portugal

Bocage – fase árcadeBocage – fase árcade

O ledo passarinho, que gorjeiaD'alma exprimindo a cândida ternura,

O ledo passarinho, que gorjeiaD'alma exprimindo a cândida ternura, O rio transparente, que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia:E por entre pedrinhas serpenteia:

O Sol, que o céu diáfano passeia,A Lua, que lhe deve a formosura,O sorriso da aurora alegre e pura, O sorriso da aurora alegre e pura, A rosa, que entre os zéfiros ondeia;

A serena, amorosa Primavera,O doce autor das glorias que consigo,O doce autor das glorias que consigo,A deusa das paixões, e de Citera:

Quanto digo, meu bem, quanto não digo,Quanto digo, meu bem, quanto não digo,Tudo em tua presença degenera, Nada se pode comparar contigo.

Page 6: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Bocage – Pré-românticoBocage – Pré-romântico

Oh retrato da Morte, oh Noite amiga,Por cuja escuridão suspiro há tanto!Por cuja escuridão suspiro há tanto!Calada testemunha de meu pranto,De meus desgostos secretária antiga!De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor que a ti somente os diga,Dá-lhes pio agasalho no teu manto;Dá-lhes pio agasalho no teu manto;Ouve-os, como costumas, ouve, enquantoDorme a cruel, que a delirar me obriga.

E vós, oh cortesãos da escuridade,Fantasmas vagos, mochos piadores,Inimigos, como eu, da claridade!Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;Quero a vossa medonha sociedade,Quero a vossa medonha sociedade,Quero fartar meu coração de horrores.

Page 7: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Bocage - SatíricoBocage - Satírico

"Aqui dorme Bocage, o putanheiro; "Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".

“Eis Bocage, em quem luz algum talento: Saíram dele mesmo estas verdades Saíram dele mesmo estas verdades Num dia, em que se achou cagando ao vento.”

Page 8: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Soneto da dama cagandoSoneto da dama cagando

Cagando estava a dama mais formosa, E nunca se viu c* de tanta alvura; E nunca se viu c* de tanta alvura; Porém o ver cagar a formosura Mete nojo à vontade mais gulosa! Mete nojo à vontade mais gulosa!

Ela a massa expulsou fedentinosa Com algum custo, porque estava dura; Com algum custo, porque estava dura; Uma carta d'amores de alimpadura Serviu àquela parte malcheirosa:

Ora mandem à moça mais bonita Um escrito d'amor que lisonjeiro Afetos move, corações incita: Afetos move, corações incita:

Para o ir ver servir de reposteiro À porta, onde o fedor, e a trampa habita, À porta, onde o fedor, e a trampa habita, Do sombrio palácio do alcatreiro!

Page 9: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Arcadismo no brasilTomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores. Tomás Antônio Gonzaga-Marília de Dirceu

Minha bela Marília, tudo passa;

Ornemos nossas testas com as flores. E façamos de feno um brando leito, Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de sãos Amores. Minha bela Marília, tudo passa;

A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça.

Gozemos do prazer de sãos Amores. Sobre as nossas cabeças,

Sem que o possam deter, o tempo corre; E para nós o tempo, que se passa, Vem depois dos prazeres a desgraça.

A devorante mão da negra Morte Acaba de roubar o bem, que temos;

E para nós o tempo, que se passa, Também, Marília, morre.

A mesma formosuraAcaba de roubar o bem, que temos; Até na triste campa não podemos Zombar do braço da inconstante sorte.

A mesma formosuraÉ dote, que só goza a mocidade: Rugam-se as faces, o cabelo alveja,

Mal chega a longa idade. Ah! enquanto os Destinos impiedosos Não voltam contra nós a face irada, Façamos, sim façamos, doce amada,

Mal chega a longa idade.

Que havemos de esperar, Marília bela? Que vão passando os florescentes dias?

Os nossos breves dias mais ditosos. Um coração, que frouxo

A grata posse de seu bem difere, A si, Marília, a si próprio rouba,

As glórias, que vêm tarde, já vêm frias; E pode enfim mudar-se a nossa estrela.

Ah! Não, minha Marília,Aproveite-se o tempo, antes que faça A si, Marília, a si próprio rouba,

E a si próprio fere. Aproveite-se o tempo, antes que faça O estrago de roubar ao corpo as forças

E ao semblante a graça.

Page 10: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Cartas Chilenas

Não cuides, Doroteu, que vou contar-te Não cuides, Doroteu, que vou contar-te por verdadeira história uma novela da classe das patranhas, que nos contam verbosos navegantes, que já deram verbosos navegantes, que já deram ao globo deste mundo volta inteira.Uma velha madrasta me persiga, uma mulher zelosa me atormente

Tem pesado semblante, a cor é baça,o corpo de estatura um tanto esbelta, feições compridas e olhadura feia; uma mulher zelosa me atormente

e tenha um bando de gatunos filhos, que um chavo não me deixem, se este chefe não fez ainda mais do que eu refiro.

feições compridas e olhadura feia; tem grossas sobrancelhas, testa curta,nariz direito e grande, fala pouco em rouco, baixo som de mau falsete; não fez ainda mais do que eu refiro. em rouco, baixo som de mau falsete; sem ser velho, já tem cabelo ruço, e cobre este defeito e fria calva à força de polvilho que lhe deita. Ainda me parece que o estou vendo no gordo rocinante escarranchado, no gordo rocinante escarranchado, as longas calças pelo embigo atadas,amarelo colete, e sobre tudo vestida uma vermelha e justa farda.vestida uma vermelha e justa farda.

Page 11: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Princípios românticos – idealização da mulher

Os teus olhos espalham luz divina,A quem a luz do Sol em vão se atreve:A quem a luz do Sol em vão se atreve:Papoula, ou rosa delicada, e fina,Te cobre as faces, que são cor de neve.Os teus cabelos são uns fios d'ouro;

Os seus compridos cabelos,Que sobre as costas ondeiam,São que os de Apolo mais belos;Os teus cabelos são uns fios d'ouro;

Teu lindo corpo bálsamos vapora.Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,Para glória de Amor igual tesouro.

São que os de Apolo mais belos;Mas de loura cor não são.Têm a cor da negra noite;

Para glória de Amor igual tesouro.Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!

Têm a cor da negra noite;E com o branco do rostoFazem, Marília, um compostoDa mais formosa união.Graças à minha Estrela! Da mais formosa união.

Page 12: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Cláudio Manuel da Costa

Já rompe, Nise, a matutina auroraO negro manto, com que a noite escura,O negro manto, com que a noite escura,Sufocando do Sol a face pura,Tinha escondido a chama brilhadora.

Que alegre, que suave, que sonora,Aquela fontezinha aqui murmura!E nestes campos cheios de verduraQue avultado o prazer tanto melhora!

Só minha alma em fatal melancolia,Por te não poder ver, Nise adorada,Não sabe inda, que coisa é alegria;Não sabe inda, que coisa é alegria;

E a suavidade do prazer trocada,E a suavidade do prazer trocada,Tanto mais aborrece a luz do dia,Quanto a sombra da noite lhe agrada.

Page 13: Arcadismo / Neoclassicismomaringa.nobel.com.br/upload/noticias/File/Arcadismo.pdf · 2008-06-25 · Arcadismo no brasil Tomás Antônio Gonzaga Ornemos nossas testas com as flores

Princípios do IndianismoPrincípios do Indianismo

Frei Santa Rita Durão – Caramuru

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,Pálida a cor, o aspecto moribundo;Com mão já sem vigor, soltando o leme,

Basílio da Gama – O Uraguai

Com mão já sem vigor, soltando o leme,Entre as salsas escumas desce ao fundo.Mas na onda do mar, que, irado, freme,Tornando a aparecer desde o profundo,

Fumam ainda nas desertas praiasLagos de sangue tépidos e impurosEm que ondeiam cadáveres despidos,Tornando a aparecer desde o profundo,

- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa, -E sem mais vista ser, sorveu-se na água.

Em que ondeiam cadáveres despidos,Pasto de corvos. Dura inda nos valesO rouco som da irada artilheria.MUSA, honremos o Herói que o povo rudeMUSA, honremos o Herói que o povo rudeSubjugou do Uraguai, e no seu sangueDos decretos reais lavou a afronta.Ai tanto custas, ambição de império!Ai tanto custas, ambição de império!E Vós, por quem o Maranhão pendura