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Universidade de São Paulo
2013-08
Aproveitamento de fibra de coco verde para
aplicabilidade têxtil Redige Rio de Janeiro v. 4, n. 2, p. [1-16], ago. 2013http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/46117
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Aproveitamento de fibra de coco verde para aplicabilidade têxtil
Use of young nut coir fiber for textile applicability
Adriana Pacheco Martins Mestranda em Têxtil e Moda, Universidade de São Paulo Toshiko Watanabe Professora do departamento de Engenharia Têxtil, Centro Universitário da FEI Pedro Luiz Rodrigues da Silva Professor do departamento de Engenharia Têxtil, Centro Universitário da FEI Camilla Borelli Coordenadora e Professora do curso de Engenharia Têxtil do Centro Universitário da FEI João Paulo Pereira Marcicano Professor do Programa de Pós-Graduação em Têxtil e Moda, Universidade de São Paulo Regina Aparecida Sanches Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Têxtil e Moda, Universidade de São Paulo
Resumo A fibra de coco estudada é originária da comercialização da água de coco, uma das bebidas mais apreciadas nos litorais brasileiros e que ao longo dos anos vem conquistando os espaços urbanos. O consumo deste alimento de forma in natura gera problemas na gestão de resíduos e caracteriza um desperdício de biomassa que poderia ser utilizada na fabricação de diversos produtos, insumos ou energia atendendo a princípios de sustentabilidade. O objetivo deste trabalho foi analisar as características e propriedades das fibras de coco-verde e as possibilidades de aproveitamento desse material no âmbito do design. Os experimentos foram realizados em três etapas e, na primeira, foram feitas seleção manual e classificação das fibras, processos adaptados dos estudos de Santos (2006) e Mathai (2005). Em seguida foram realizados testes de físicos nas fibras de coco (ASTM D 3 822-2001 e ISO 1973-1995). Com o objetivo de melhorar a fiabilidade das fibras foram realizados tratamentos químicos de purga, simultâneo ao pré-alvejamento e amaciamento. As fibras foram fiadas em uma roca automática e o tecido foi fabricado em tear manual. Os resultados mostraram que as fibras de coco-verde têm potencial para serem utilizadas em estruturas de tecelagem plana para algumas aplicações na área têxtil. Palavras- chave: Fibra de coco. Design. Têxtil, Resíduo. Sustentabilidade. Abstract The coir fiber studied is originated from the commerce of coconut water, one of the most appreciated drinks in Brazilian beaches which over the years have also gained urban spaces. The consumption of this fruit in its fresh form creates problems in waste management and features a loss of biomass that could be adapted in the manufacture of various products, supplies or power supported by principles of sustainability. The purpose of this work was examined the characteristics and properties of green coconut fiber and the possibilities of using them in design field. Three steps were involved in the experiment. The first, was made a manual selection
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and classification of fibers process adapted from studies of Santos (2006) and Mathai (2005) and dealt with the physical analysis of coir fiber (ASTM D 3 822-2001). In order to improve the reliability of the fibers were performed chemical treatments to purge concurrent pre-targeting and softening the fibers were spun on a spinning wheel and automatic fabric was manufactured on handloom. The results showed that coconut fibers have the potential to be used in the weaving flat structures for some applications in the textile field. Keywords: Coir fibre. Design. Textile. Waste. Sustainability. INTRODUÇÃO
A prática da sustentabilidade pode representar uma atividade complexa que sugere
às empresas a adoção de metodologias que possibilitem a plena execução de suas
atividades sem deteriorar o meio ambiente, contribuindo com o desenvolvimento
humano além de garantir o crescimento econômico. A natureza é a maior fonte de
extração de matérias-primas para a fabricação de artigos industrializados,
entretanto, a alta demanda por produtos faz com que a bioesfera se encontre cada
dia mais ameaçada. A proposta do consumo consciente incentiva os consumidores a
optarem por produtos originários de materiais ecológicos. Para atender às
necessidades da sociedade como um todo, a cada dia surgem novas propostas de
extração e utilização das matérias-primas adequando o design aos princípios de
sustentabilidade.
O objetivo desse estudo foi averiguar a viabilidade de aproveitamento das fibras do
coco-verde para aplicabilidade têxtil. Para tanto, foram estudadas as características
e propriedades das fibras do coco-verde, além dos métodos de obtenção e as
possibilidades de utilização comercial das mesmas. Posteriormente, a partir de uma
amostra doada por uma empresa beneficiadora da casca do coco-verde da cidade
de São Paulo, foram realizados experimentos laboratoriais, envolvendo atividades
de preparação, testes físicos, fiação, tecelagem e acabamento. Na primeira sessão
será apresentada uma breve reflexão entre a matéria-prima em questão e sua
relação com a sustentabilidade.
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1 REVISÃO DA LITERATURA
1.1. A cadeia do coco-verde como uma prática de Sustentabilidade
Segundo Santos (2006) a crise energética, ocorrida nos últimos anos, impulsionou a
revalorização das fibras naturais como alternativa às fibras sintéticas. A dedicação
tanto da indústria quanto a comunidade científica, ocorre devido a fatores como a
abundância na natureza, a origem renovável, o fácil processamento e o baixo custo,
que caracterizam vantagens em relação aos problemas ambientais consequentes do
uso de fibras sintéticas.
Sachs (2007) acredita que o aproveitamento racional dos recursos naturais para
suprimento de todas as operações humanas contribui com o gerenciamento das
atividades antrópicas na bioesfera. Em especial, no caso de países tropicais, que
detém o privilégio de possuir recursos naturais suficientes para transformar
oportunidades em sustentabilidade.
Em muitos países o coqueiro é conhecido como árvore de vida, devido ás múltiplas
possibilidades de utilização de todas as suas partes (MATHAI, 2005). O fruto dessa
árvore além de ser um alimento ricamente nutritivo e amplamente apreciado
comercialmente, o aproveitamento de seu rejeito (a casca fibrosa) para a fabricação
de produtos com propriedades ecológicas pode contemplar uma atividade capaz de
eliminar desperdícios e gerar valor através da gestão de uma cadeia produtiva
orientada para a sustentabilidade. Na sessão a seguir, é mostrada a disponibilidade
da matéria-prima em questão.
1.2. A cadeia do coco-verde
As fibras do fruto do coqueiro são o objeto desse estudo. Entre os períodos de 1990
a 2009 o Brasil passou do décimo ao quarto maior produtor mundial, e as
perspectivas de crescimento tanto na produtividade quanto na abrangência do
mercado aumentam a cada dia (MARTINS; JUNIOR, 2011).
A fibra de coco é obtida a partir de um subproduto da agroindústria ou do rejeito pós-
-consumo da fruta in natura. No caso da fruta verde, após a extração da água, a
casca residual chega a compor cerca de 80 a 85% do peso bruto (ROSA, 2002).
Atualmente o consumo da fruta em perímetro urbano se encontra condicionado a
uma situação de alta geração de rejeitos, os quais ocupam grandes volumes em
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meio ao Resíduo Sólido Urbano (SRU), fato que comprova que o não
aproveitamento desse material pode provocar problemas na gestão sanitária urbana
ou rural gerando mais despesas a serem financiadas pela própria sociedade
(SENHORAS, 2004). Na sequência serão apresentados os possíveis métodos de
extração de fibras de coco.
1.2.1 Obtenção de fibras
A Índia é a maior produtora de fruta coco no mundo, e não coincidentemente possui
cultura milenar na produção de fibras de coco para manufaturação de artefatos. Ao
longo dos anos a tecnologia de extração de fibras, neste local, se aprimorou.
Contudo, a maior parte da produção ainda é realizada pelo método de maceração.
Segundo Crawshaw (2002) a metodologia consiste em depositar as cascas em
grandes tanques de água salobra e mantê-las em descanso por de 6 a 9 meses até
que ocorra uma ação biológica que permita a separação das fibras uma das outras.
No Brasil, durante a década de 1980, verificou-se o desenvolvimento de um
maquinário que combinava etapas aquosas e mecânicas capazes de promover,
inclusive, a classificação de fibras por comprimento (SAVASTANO JUNIOR, 1986).
Atualmente, um conjunto de maquinário desfibrador desenvolvido pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a indústria
Fortalmag oferece um sistema, essencialmente mecânico, cuja estimativa de
produção está em torno de 250 toneladas de fibras ao ano a partir de
aproximadamente 5.500 toneladas de cascas de coco-verde (SILVEIRA, 2008). A
seguir é apresentada a caracterização das fibras de coco-verde segundo a literatura.
1.2.2. As fibras de coco-verde
As fibras de coco são da classe lignocelulósicas, compostas principalmente por
celulose e lignina (MATHAI, 2005). É extraída do mesocarpo fibroso da fruta,
possível de visualizar-se na seção transversal da fruta apresentada na figura 1.
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Figura 1 – Corte longitudinal do coco e suas partes
Fonte: Adaptada de Ferraz (2011)
A lignina é responsável pela sustentação, força e resistência mecânica das fibras
vegetais (FENGEL; WEGENER, 1989) e está presente nas fibras de coco em maior
porcentagem em relação aos outros componentes. Em uma pesquisa da Embrapa,
as fibras do coco-verde apresentaram propriedades físico-químicas conforme
valores mostrados na tabela 1 (ARAGÃO et al., 2005).
Tabela 1: Propriedades físico-químicas de fibras de coco-verde, variedade anã.
Propriedade e Composição Unidade Valor
pH 5,4
densidade g/L 70
porosidade % 95,60
retenção de água mL/L 538
Lignina % 35 a 45
Celulose % 23 a 43
Hemicelulose % 3 a 12 Fonte: Aragão et al.(2005)
Entre as propriedades da fibra de coco-verde, observam-se também a baixa
densidade, maleabilidade, porosidade e retenção de água que caracterizam
qualidades excelentes para utilização no setor de agricultura (ARAGÃO et. al.,
2005).
1.2.3. Tecnologia de aproveitamento da biomassa
Na Índia é possível encontrar uma imensa variedade de produtos manufaturados a
partir de fibra de coco. Os fios de fibra de coco são grossos, de espessura variada e
irregular, devido à maior parte da fiação ser realizada manualmente em maquinário
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simples e de tecnologia diferente do convencional. Diversas técnicas artesanais e
industriais de tecelagem são empregadas na fabricação de tapetes, carpetes e
geotêxteis. No geral, utiliza-se maquinário pesado, de acionamento manual em
função da grossura e da rusticidade dos fios de coco, que mais se assemelham a
cordas (MATHAI, 2005, CRAWSHAW, 2002).
No Brasil, a fibra de coco era utilizada na fabricação de estofados de automóveis
desde a década de 1970, mas perdeu espaço para o poliuretano nos anos de 1990
(SANTOS, 2006). Atualmente, o setor de maior representatividade é o de
paisagismos e jardinagem devido a excepcional adaptação em substituição ao xaxim
de samambaiaçu. Outras possíveis aplicabilidades da fibra de coco-verde encontram
nos setores moveleiro, calçadista, design de objetos para o lar, compósitos,
combustíveis, papeleira, embalagens, fabricação de enzimas, construção civil, filtros
industriais e geotêxteis. A figura 2 apresenta exemplos de design a partir de fibra do
coco.
Figura 2 – artigo de paisagismo (1), colchão (2), solado de calçado (3), compósito termo-rígido (4), geotêxtil (5)
Fonte: FAVOVERDE, 2013 (1), DORMIENTE, 2013 (2), COQUIM,2013 (3), STUDIO CASSELLS, 2013 (4), NATFIBRE, 2011 (5)
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2 MATERIAIS E MÉTODOS
Nesta sessão são apresentados os materiais utilizados no ensaio experimental para
obtenção de um material têxtil a partir das fibras de coco-verde e os métodos
empregados para tal.
2.1. Materiais
Para construção de um artigo de tecelagem plana foi utilizado fio 100% de algodão
cru retorcido a 3 cabos de título 12 para o urdume. Os fios de trama foram
confeccionados a partir de fibras de coco-verde, configurando, assim, as
características de um artigo totalmente de origem vegetal.
2.2. Métodos
2.2.1. Método de Seleção
Santos (2006) realizou medições de comprimento e diâmetro médio em fibras de
coco com o uso do estereoscópio. Os resultados do cálculo do desvio padrão
apresentaram grupos com características bastante heterogêneas em termos de
dispersão dimensional, o que pode comprometer a produção industrial. Para
amenizar a característica observada por este autor, preliminarmente as fibras foram
selecionadas e classificadas mediante critério dimensional como sendo finas,
médias e grossas. Em seguida, apenas as finas foram usadas no experimento, de
forma a promover maior homogeneidade entre a amostra estudada.
2.2.2. Tratamento da matéria-prima (1ª etapa: Purga simultânea ao
pré-alvejamento e 2ª etapa: Amaciamento)
Segundo Maluf e Kolbe (2003), a operação de purga é um beneficiamento primário,
utilizado em fibras vegetais com finalidade de promover uma limpeza prévia
degradando e/ou solubilizando as sujidades naturais contidas no material. Pode ser
realizado em meio alcalino ou em solução enzimática. O alvejamento é um processo
aplicado para melhorar as ações da etapa anterior promovendo maior clareamento
do material. Utilizam-se agentes alvejantes como o clorito de sódio, hipoclorito de
sódio ou peróxido de hidrogênio, sendo esse último um agente que atua com
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eficiência técnica e é menos nocivo ao meio ambiente. O tratamento realizado
constituiu-se de duas etapas:
Na primeira etapa desenvolveu-se a purga e alvejamento simultaneamente em meio
alcalino. Utilizou-se o peróxido de hidrogênio, o qual além de proporcionar maior
grau de brancura e uniformidade às fibras vegetais também atua, como do descarte,
como oxidante do banho residual do processo, auxiliando a eliminação de
contaminantes do efluente têxtil. O material foi colocado em embalagem protetora
constituído por fios de filamentos de poliéster, com construção do tipo 60 fios/cm e
direcionado para um tratamento a úmido que permitisse menores prejuízos à
celulose presente nas fibras de coco. Ao término da fervura, uma amostra banho
residual foi colhida para análise futura. O material foi enxaguado a 60ºC por 2
minutos e posteriormente a 45ºC.
A segunda etapa do tratamento consistiu na aplicação de amaciamento, prévio à
fiação. Segundo Van Dam (2002) aplicações de óleo de mamona em fios de fibra de
coco apresentaram resultados satisfatórios em relação à tenacidade, coesão,
cisalhamento e inclusive na produtividade da fiação. Após o amaciamento, o material
foi centrifugado à velocidade de 1200 rpm, e em seguida, para uma secagem final,
foi colocado em um equipamento laboratorial da área têxtil denominado rama à
temperatura de 120º C por 15 minutos. Ao término do tempo, a embalagem protetora
foi aberta para análise do material.
2.2.3. Caracterização física
Após o tratamento as amostras foram condicionadas por 48 horas em climatizadora
Mesdan (1722) a 20oC e umidade relativa de 65%, de acordo com a norma ABNT
NBR ISO 139:2005 (antiga ABNT NBR 8428 de 1984). Na sequência, em pelo
menos 50 amostras foram determinados os comprimentos, as massas e as
densidades lineares (tex) a partir de uma adaptação do método sugerido pela norma
ISO 1973-1995, método gravimétrico. Para determinação da tenacidade e
alongamento foi utilizada a norma ASTM D 3 822-2001 (e subsidiariamente com a
norma ASTM D 1445-05 em dinamômetro Instron (5940) nas seguintes condições:
velocidade de deslocamento das garras 6 mm/min e célula de carga de 10 N. O
método foi repetido em 50 amostras de fibras sem tratamento.
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2.2.4. Construção da amostra têxtil
Com as fibras beneficiadas, foi realizada a fiação, utilizando uma roca a motor. A
literatura de Macedo (2003) auxiliou na descrição do método. A fiandeira (operadora
da roca) retira uma determinada quantidade de fibras do maço, em seguida aplica
torções contínuas ao mesmo tempo em que puxa suavemente para baixo
(estiragem) até formar um fio que possa conectar a uma extremidade do fuso da
roca. Em seguida, ela aciona um pedal a motor que faz o fuso girar rapidamente.
Esse impulso giratório coordenado com a alimentação da máquina produz o fio.
Segundo Ribeiro (1984), teares manuais podem ser utilizados para o
desenvolvimento de uma amostra têxtil antes de um produto entrar em linha de
produção. No presente estudo, o material foi levado a um tear manual,
primeiramente alimentando-se o equipamento com os fios de urdume (100% CO)
para garantir que cada fio mantivesse a mesma tensão e comprimento, de acordo
com a técnica citada por Duarte (2009). Em seguida, o fio de trama (100% CK) foi
passado em sentido transversal aos fios de urdume com evolução alternada. Foram
tecidas duas amostras em ligamento tela (ou tafetá).
Para obter dados referentes à ação do tratamento, sobre o material tecido, uma das
amostras recebeu o mesmo tratamento realizado na matéria-prima e a outra amostra
foi mantida como amostra controle.
3 RESULTADOS E ANÁLISES
3.1. Seleção e testes físicos
Através do processo de seleção, foi possível obter uma matéria-prima mais
homogênea para a execução dos processos subsequentes, assegurando também a
regularização das dosagens empregada nos métodos aquosos. Os testes físicos
para a determinação de título, alongamento e tenacidade apresentaram alterações
pouco significativas conforme apresentado no gráfico 1.
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Gráfico 1 – Propriedades físicas de fibras de coco finas com e sem tratamento
Fonte: Autores.
3.2. Construção da amostra têxtil
Preliminarmente, realizou-se um teste da primeira etapa do tratamento sem adição
de H2O2 e recolheu-se uma amostra. Esta foi comparada com a amostra do banho
residual da primeira etapa original do estudo, conforme é mostrado na figura 3.
Segundo Lucido (2010) durante tratamento de purga e de alvejamento de fibras
vegetais é comum a liberação de substâncias residuais das soluções junto ao
efluente, entretanto, no caso da utilização de peróxido de hidrogênio, esse
percentual é considerado mínimo se comparado ao volume total de efluentes
produzidos em uma planta industrial. Efluentes da purga e alvejamento de
tratamento em malha de algodão foram analisados mediante parâmetros ambientais
e apresentaram coloração amarelada opaca, valores de Demanda Química De
Oxigênio (DQO) significativos e os valores de turbidez e sólidos em suspensão
(SST) foram considerados coerentes em meio aos resíduos sólidos insolúveis,
naturais das fibras vegetais.
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Figura 3 – Efluente da 1ª etapa do tratamento sem H2O2 e com H2O2 respectivamente Fonte: Autores.
A caracterização das amostras mostrou que a utilização do peróxido de hidrogênio
atuou na oxidação de determinados componentes do banho residual. O clareamento
das fibras também apresentou resultados satisfatórios visualmente.
Com relação à segunda etapa do tratamento, os resultados apresentaram-se
significativos em termos práticos, uma vez que o mesmo proporcionou maior grau de
maciez e flexibilidade permitindo uma fiação mais coesa, maleável e produtiva,
assim como a observação de Van Dam (2002). O tratamento aplicado diretamente
no produto acabado, também apresentou resultados práticos relevantes em termos
de maciez e clareamento, conforme é possível ser visualizado na figura 4, assim
como a aparência final das duas amostras.
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Figura 4 – Tecido de fibra de coco (CKCO) pós tratamento e amostra controle respectivamente.
Fonte: Autores.
CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi verificar a possibilidade de desenvolvimento de uma
estrutura têxtil a partir de fonte que seja natural, renovável, cujo cultivo não seja nem
predatório ao solo e nem exclusivo para a finalidade têxtil. A matéria-prima escolhida
foi a fibra de coco-verde.
A pesquisa bibliográfica contribuiu para apresentar dois cenários completamente
distintos. De um lado, a experiência milenar da Índia apresentou bons exemplos que
carecem de desenvolvimento tecnológico, de outro, um panorama do mercado Brasil
mostrou as inúmeras possibilidades oriundas da cadeia do coco-verde que devem
ser mais bem-exploradas no âmbito do design, inclusive.
As fibras de coco-verde podem ser classificadas em finas, médias e grossas. Neste
estudo apenas as fibras finas foram usadas na fabricação do tecido.
As fibras de coco in natura são difíceis de fiar e, para melhorar a fiabilidade dessas
fibras e obter vantagem na qualidade do produto final, foi realizado um tratamento
químico constituído de duas etapas, sendo a primeira a purga com pré-alvejamento
simultâneo e a segunda o amaciamento.
Foi feita uma análise estatística: comparação de duas médias, para verificar se a
variação dos valores médios obtidos nos ensaios de densidade linear, alongamento
e tração das fibras antes e depois do tratamento são estatisticamente significantes.
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Os resultados dos testes estatísticos mostraram, para um intervalo de confiança de
95%, que o tratamento químico não alterou as propriedades físicas das fibras.
As fibras beneficiadas foram transformadas em fios e depois em tecido. Para
melhorar as características do produto final foi realizada uma nova purga e um novo
amaciamento. Apesar das limitações do estudo prático, devido ao tamanho da
amostra, foi possível observar que os fios fabricados a partir das fibras tratadas
quimicamente possuem melhor aparência e maior fiabilidade.
De forma geral considera-se o estudo de grande relevância para o incentivo à
utilização de fibras naturais, em especial, no caso da fibra de coco-verde, que é
originária de um gargalo entre a comercialização do alimento e a gestão sanitária
urbana. O aproveitamento adequado desse material, consequentemente, atende aos
princípios do desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS:
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SILVEIRA, M. S. Aproveitamento das cascas de coco-verde para produção de briquetes em Salvador-BA. 2008. 164 f. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, ênfase em Produção Limpa, Escola Politécnica Federal da Bahia, Salvador, 2008. STUDIO CASSELLS. Coir fibre chair. Disponível em: <http://www.studiocassells.com/portfolio/the-coir-fiber-chair/. Acesso em: 07 maio 2013. VAN DAM, J. E. G. Coir processing textiles: improvement of drying, softening, bleaching and dyeing coir fibre/yarn and printing coir floor coverings. Wageningen: FAO: CFC, 2002. 61 p. Technical Paper No.6. Disponivel em: <ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/004/y3612e /y3612e00.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2013.
NORMAS TÉCNICAS: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12331/91: Fibras têxteis — taxa convencional de condicionamento — padronização. Rio de Janeiro, 1991. 2 p. ______. ABNT ISO 139:2005: Têxteis – atmosferas normais de condicionamento de ensaios. Rio de Janeiro, 2005. 6 p. American Society for Testing and Materials, ASTM D 3776-96: standard test method for mass per unit area (weight) of fabric. West Conshohocken, 2006. 5 p. ______. ASTM D 3822-2001: standard test method for tensile properties of single textile fibers. West Conshohocken, 2006. 10 p. ______. ASTM D 1445-05: standard test methods for breaking strength and elongation of cotton fibers (flat bundle method). West Conshohocken, 2006. 8 p. International Organization for Standardization. ISO 1973-1995: textile fibres — determination of linear density — gravimetric method and vibroscope method. Genèva, 1995. 8 p. Japan Industrial Standards. JIS L 1907-02: testing methods for water absorbency of textiles. Tokyo, 2006. 5 p.
Currículo Resumido do(s) Autor(es)
Adriana Pacheco Martins Bacharel em Design habilitação para Moda, SENAI CETIQT (2008). Mestrado em Têxtil e Moda - Materiais e Processos Têxteis, Universidade de São Paulo (2011 a 2013). Experiência em design de moda, foi proprietária da marca ADPAC, atuou na área de Gestão de Sustentabilidade em Indústria de Moda, sendo finalista do 3º Prêmio de Sustentabilidade Fecomercio em abril 2013. Em 3011 ganhou o Prêmio de 2º lugar na categoria Fiação Concurso de Trabalhos Técnicos do XVI CNTT (ABTT). Email: [email protected] Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7775790313333822
Adriana Martins; Toshiko Watanabe; Pedro Silva; Camilla Borelli; João Marcicano; Regina Sanches. __________________________________________________________________________________________
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Toshiko Watanabe Especialização em Engenharia Mecânica, 2000, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Possui graduação em Engenharia Industrial Mecânica Têxtil pela Faculdade de Engenharia Industrial (1968). Atualmente professora do Centro Universitário da FEI. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7427226787078243 Pedro Luiz Rodrigues da Silva Mestre em Físico-química, 1989 pela Universidade de São Paulo. Possui graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1979). Atualmente é Professor do Centro Universitário da FEI e Professor do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Tem experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Tecnologia Química. Email: [email protected] Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7103362922763216
Camilla Borelli Doutoranda em Engenharia Química pelo Departamento de Tecnologia dos Polímeros da UNICAMP. Possui graduação em Engenharia Têxtil pelo Centro Universitário da FEI (2001) e mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (2005). Atualmente é coordenadora do curso de Engenharia Têxtil do Centro Universitário da FEI e professora nos cursos de Graduação em Engenharia Têxtil e Especialização em Processos e Produtos Têxteis. Email: [email protected] Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3439800498519096 João Paulo Pereira Marcicano Engenheiro Mecânico pela Universidade de São Paulo, mestrado e doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor doutor no curso de Têxtil e Moda e do Programa de Pós-Graduação em Têxtil e Moda, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo onde ministra cursos na área de tecnologia têxtil e gestão. Tem como tema de pesquisa a tribologia aplicada aos têxteis. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5855243848367851
Regina Aparecida Sanches Livre docente desde 2011 pela Universidade de São Paulo. Possui graduação em Engenharia Mecânica ênfase em Têxtil pelo Centro Universitário da FEI (1987), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (2001), doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (2006) e Atualmente é Coordenadora do Programa de Mestrado em Têxtil e Moda da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Engenharia Têxtil, Mecânica e de Produção. Email: [email protected] Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5363947733511902