aproveitamento de água da chuva: para fins não potáveis

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1 Graduando em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal da Bahia - [email protected] 2 Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal da Bahia - [email protected] APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA: para fins não potáveis Jonathan Carvalho de Andrade 1 ; Vanessa Oliveira dos Santos 2 ; Maria do Socorro Gonçalves; Alzira Mota; Luciano Matos Queiroz; Asher Kiperstok. Resumo As águas pluviais são desprovidas de sais e nutrientes necessários para ser considerada potável. No entanto, o crescimento do aproveitamento da água da chuva para fins não potáveis é contínuo, pois além de realizar a economia de água, ajuda também contra as enchentes, muitas vezes, causadas pelas superfícies impermeáveis em centros urbanos. Além de promover o uso racional da água e combater indiretamente os alagamentos em centros urbanos, o aproveitamento das águas pluviais serve também como alternativa para comunidades onde possuem uma grande escassez de água. Palavras-chave: aproveitamento de água pluvial; chuva; captação de água da chuva. Abstract The rainwater is devoid of salts and nutrients necessary to be considered potable. However, growth in the use of rainwater for not potable purposes is continuous, because besides doing water savings, it also helps against floods often caused by impervious surfaces in urban centers. In addition to promoting the rational use of water and indirectly address the flooding in urban areas, the rainwater is also used as an alternative for communities where they have a severe shortage of water. Keywords: utilization of rainwater; rain; capture of rainwater. Introdução A água é um bem único, necessário e finito. Ainda não foi encontrado nenhum outro elemento que tenha suas propriedades para que então possa substituí-la, portanto, este bem extremamente precioso é essencial para toda vida no planeta. Mesmo 70% da superfície terrestre sendo coberta por água, apenas 2,5% desta água é doce e ainda assim, 69% estão em geleiras eternas, e 30% são água

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Page 1: Aproveitamento de água da chuva: para fins não potáveis

1 Graduando em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal da Bahia - [email protected] 2 Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal da Bahia - [email protected]

APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA: para fins não potáveis

Jonathan Carvalho de Andrade1; Vanessa Oliveira dos Santos2; Maria do Socorro Gonçalves; Alzira

Mota; Luciano Matos Queiroz; Asher Kiperstok.

Resumo As águas pluviais são desprovidas de sais e nutrientes necessários para ser

considerada potável. No entanto, o crescimento do aproveitamento da água da

chuva para fins não potáveis é contínuo, pois além de realizar a economia de água,

ajuda também contra as enchentes, muitas vezes, causadas pelas superfícies

impermeáveis em centros urbanos. Além de promover o uso racional da água e

combater indiretamente os alagamentos em centros urbanos, o aproveitamento das

águas pluviais serve também como alternativa para comunidades onde possuem

uma grande escassez de água.

Palavras-chave: aproveitamento de água pluvial; chuva; captação de água da

chuva.

Abstract

The rainwater is devoid of salts and nutrients necessary to be considered

potable. However, growth in the use of rainwater for not potable purposes is

continuous, because besides doing water savings, it also helps against floods often

caused by impervious surfaces in urban centers. In addition to promoting the rational

use of water and indirectly address the flooding in urban areas, the rainwater is also

used as an alternative for communities where they have a severe shortage of water.

Keywords: utilization of rainwater; rain; capture of rainwater.

Introdução

A água é um bem único, necessário e finito. Ainda não foi encontrado nenhum

outro elemento que tenha suas propriedades para que então possa substituí-la,

portanto, este bem extremamente precioso é essencial para toda vida no planeta.

Mesmo 70% da superfície terrestre sendo coberta por água, apenas 2,5%

desta água é doce e ainda assim, 69% estão em geleiras eternas, e 30% são água

Page 2: Aproveitamento de água da chuva: para fins não potáveis

subterrâneas, restando apenas 0,3% para os lagos, rios e reservatórios que podem

ser utilizadas para o consumo humano (COIMBRA e ROCHA, 1999)

Aproximadamente 1 (um) bilhão de pessoas no mundo sofre com falta de

água tratada, e este importuno vem crescendo a cada dia. Este cenário se agrava

quando levamos em consideração a má distribuição de água doce no planeta. O

Brasil, por exemplo, possui 13,7% do volume de água doce do mundo, mas

distribuída heterogeneamente. Mais de 73% desse volume está na bacia

Amazônica, onde se concentra menos de 5% da população, restando apenas 27%

nas demais regiões para 95% da população do país (LIMA, 1999)

O aproveitamento da água da chuva, de acordo com Fendrich (2002), é um

processo antigo e muito utilizado em regiões áridas e semiáridas, como é o caso do

Nordeste Brasileiro. Em países como o Japão e a Alemanha, a ideia inicial da

captação da água da chuva era de combater as enchentes urbanas, mas no

decorrer do tempo, o aproveitamento ganhou força por causa do risco de escassez

e, também, com o objetivo de causar a recarga dos subsolos, a principal fonte de

abastecimento de água nesses países (RAINDROPS, 2002).

A água da chuva não é recomendada para beber e preparar alimentos porque

a sua qualidade não é tão confiável como fontes de alimentação, que foram tratadas

e seguras para o consumo humano.

Tendo em vista esse contexto, o presente estudo tem como objetivo discutir

teoricamente o processo de aproveitamento de água da chuva para fins não

potáveis, assim ajudando na racionalização da água potável.

Sistema de captação de água da chuva A portaria Nº 518/04 do Ministério da Saúde diz: “Água potável é água para

consumo humano, cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos

atendam ao padrão de portabilidade e que não ofereça riscos à saúde”. Tendo em

vista este entendimento, a água da chuva possui impurezas, como gases

desenvolvidos, bactérias, micro-organismos, e é desprovida de alguns sais, portanto

não obedece as normas da portaria, consequentemente, não é considerada potável.

A água pluvial possui diversos tipos de utilização, como a irrigação de jardins

e pomares, limpeza de pavimentos, paredes, pátios, peças e equipamentos

industriais, reservas de incêndio, sistemas de resfriamento e descarga de bacias

Page 3: Aproveitamento de água da chuva: para fins não potáveis

sanitárias e mictórios. Diante de sua diversa aplicabilidade podemos praticar a

racionalização trocando a água potável pela água da chuva.

O processo de reaproveitamento da água da chuva ocorre inicialmente com a

passagem de água pelas calhas, local de coleta da água que caem sobre o telhado.

Posteriormente esta água segue para os condutores verticais e é conduzida até os

condutores horizontais, onde seguem até os locais propícios, ou seja, até as caixas

coletoras, que possuem a função de limpeza dessa água para que, então, siga para

sua utilização. Neste processo, alguns cuidados devem ser tomados para que não

haja contaminação da água. Além de descartar as primeiras chuvas (devido ao

excesso de poeira no telhado) e as calhas e condutores seguirem as normas da

NBR 10844, é aconselhável que a água seja captada antes do contato com o solo,

pois assim será de uma qualidade melhor quando comparada com a água em

contato com o meio urbano (CARVALHO JÚNIOR, 2009).

Depois de captada, a água pode ser distribuída através de uma bomba

elétrica, manualmente (baldes), ou pelo efeito da gravidade, caso o reservatório

onde a água captada se encontra, esteja acima do nível onde será feita sua

utilização.

Ciclo Hidrológico Com a ação dos raios solares e dos ventos, as águas dos rios, lagos e

oceanos evaporam, ocorrendo, então, mais um ciclo hidrológico (Figura 1). Logo

depois, o vapor d’água sobe para regiões mais frias, onde se condensam e formam

as nuvens. Em seguida, a água presente nas nuvens, precipita sobre a superfície,

onde naturalmente cai no solo, onde uma parte escoa pela superfície até os rios,

lagos e mares, e outra se infiltra no solo, indo para os lençóis subterrâneos e

posteriormente, chegam aos rios, lagos e oceanos.

Page 4: Aproveitamento de água da chuva: para fins não potáveis

.Figura 1: Ciclo Hidrológico (BRASIL, 2011)

Porém, na grande maioria dos centros urbanos, o ciclo não funciona tão

perfeitamente. Devido à impermeabilização do solo, com as construções de ruas e

estradas pavimentadas, a água da chuva não consegue penetrar no solo e seguir

seu destino natural, podendo então ficar acumulada na superfície, causando

enchentes e outros importunos. Sendo assim, o aproveitamento dessa água ajuda a

combater as inundações em muitas comunidades, em que é precária a situação de

escoamento.

Crescimento urbano Segundo Tucci (1994), a urbanização das cidades provoca um aumento da

vazão de águas pluviais em função da impermeabilização dos solos e da redução do

tempo de escoamento.

Devido ao aumento da demanda nos grandes centros urbanos, como

crescimento populacional, industrialização, os mananciais próximos a esses centros

estão sendo insuficientes e degradados, tornando necessária a busca por maiores

volumes de água em locais distantes. E, com o crescimento das cidades, também

cresce a área com superfície impermeabilizada, tornando impossível a infiltração da

chuva no solo, aumentando o volume de água que é lançado na rede de coleta

pluvial, também conhecido como esgoto. Consequentemente, o escoamento

superficial aumenta e, relacionado à ocupação de áreas irregulares e de inundação

dos rios urbanos, aumenta o números de enchentes e alagamentos quando há

chuva prolongada.

Page 5: Aproveitamento de água da chuva: para fins não potáveis

Outro problema causado pelo asfalto é o impedimento da infiltração da água

até o subsolo, não reabastecendo as águas subterrâneas que podem chegar à

exaustão.

Conclusão

É notável a vantagem em utilizar a água da chuva para economia de água

potável, além de também reduzir os gastos, preservar o meio, prevenir a escassez e

reduzir as enchentes. Portanto, o aproveitamento de água da chuva é uma

alternativa para obtenção da água reduzindo o custo de abastecimento para o

sistema público, diminuir a pressão nos mananciais, permitindo o uso desse bem

para razões nobres e para uma maior parcela da população.

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Page 7: Aproveitamento de água da chuva: para fins não potáveis

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