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Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos 1 28 de julho de 2020 Cenário Econômico Contração da atividade global deve ser menos intensa neste ano o Os dados de atividade seguem surpreendendo positivamente, sugerindo um recuo menos intenso do PIB neste ano. Além da melhora em diversos indicadores, há sinais de alguma estabilização no ritmo de disseminação da doença, reduzindo os temores de uma segunda onda. o Revisamos nossa estimativa do PIB deste ano de -5,9% para -4,5% e esperamos crescimento de 3,5% em 2021. A produção industrial e as vendas do varejo têm confirmado o movimento mais forte de melhora dos índices de confiança. o O ajuste nas contas externas deve ser mais moderado daqui para frente. A confirmação de um cenário doméstico mais positivo e redução da aversão ao risco abrem espaço para que a taxa de câmbio fique em R$/US$ 5,10 ao final deste e do próximo ano. o O IPCA deve encerrar 2020 em 1,9%, chegando a 3,1% em 2021. Esse processo de aceleração da inflação é esperado após um período atípico de deflação durante a pandemia, ocorrendo, portanto, uma gradual normalização em direção ao centro da meta. o Dessa forma, esperamos que a Selic permaneça em 2,25% até o final deste ano e que encerre 2021 em 3,00%. O balanço de riscos continua sugerindo cautela para este ano. Em 2021, com uma aceleração mais forte do crescimento no Brasil e no mundo, diminuição da incerteza (e com ganho de importância ao longo do ano das projeções de 2022 para o cenário prospectivo do BC) esperamos o início da normalização da política monetária na direção do juro neutro. Cenário vai se desenhando “menos negativo” que o esperado o A flexibilização das restrições à mobilidade ao redor do mundo tem se dado sem grandes retrocessos. Apesar de aumento localizado no número de casos, como no Texas, Hong Kong e Catalunha, a vasta maioria das regiões segue retomando suas atividades gradualmente sem que haja retrocessos ou saturação nos sistemas de saúde. o A despeito das incertezas relacionadas à evolução da pandemia, a reabertura da economia tem resultado em uma forte recuperação da atividade global desde maio. Porém, entendemos que o crescimento da economia global tende a se acomodar em um ritmo mais moderado daqui para frente. o Incorporando as surpresas positivas de curto prazo, elevamos nossa projeção para o PIB mundial deste ano e esperamos expansão acima da média em 2021. Acreditamos que a economia mundial deve contrair 3,6% em 2020 (antes projetávamos uma contração de 4%) e a retomada deverá acontecer em dois estágios. Para 2021, estimamos expansão de 3,5%, ligeiramente acima do padrão de crescimento dos últimos anos. o De toda forma, alguns riscos seguem presentes, fazendo com que, apesar do tom mais positivo do cenário global, a dispersão das probabilidades ao redor do cenário base siga acima do usual.

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Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos1

28 de julho de 2020

Cenário Econômico

Contração da atividade global deve ser menos intensa neste ano

o Os dados de atividade seguem surpreendendo positivamente, sugerindo um recuo menosintenso do PIB neste ano. Além da melhora em diversos indicadores, há sinais de algumaestabilização no ritmo de disseminação da doença, reduzindo os temores de uma segunda onda.

o Revisamos nossa estimativa do PIB deste ano de -5,9% para -4,5% e esperamos crescimentode 3,5% em 2021. A produção industrial e as vendas do varejo têm confirmado o movimento maisforte de melhora dos índices de confiança.

o O ajuste nas contas externas deve ser mais moderado daqui para frente. A confirmação de umcenário doméstico mais positivo e redução da aversão ao risco abrem espaço para que a taxa decâmbio fique em R$/US$ 5,10 ao final deste e do próximo ano.

o O IPCA deve encerrar 2020 em 1,9%, chegando a 3,1% em 2021. Esse processo de aceleração dainflação é esperado após um período atípico de deflação durante a pandemia, ocorrendo, portanto,uma gradual normalização em direção ao centro da meta.

o Dessa forma, esperamos que a Selic permaneça em 2,25% até o final deste ano e que encerre2021 em 3,00%. O balanço de riscos continua sugerindo cautela para este ano. Em 2021, com umaaceleração mais forte do crescimento no Brasil e no mundo, diminuição da incerteza (e com ganhode importância ao longo do ano das projeções de 2022 para o cenário prospectivo do BC)esperamos o início da normalização da política monetária na direção do juro neutro.

Cenário vai se desenhando “menos negativo” que o esperado

o A flexibilização das restrições à mobilidade ao redor do mundo tem se dado sem grandesretrocessos. Apesar de aumento localizado no número de casos, como no Texas, Hong Kong eCatalunha, a vasta maioria das regiões segue retomando suas atividades gradualmente sem quehaja retrocessos ou saturação nos sistemas de saúde.

o A despeito das incertezas relacionadas à evolução da pandemia, a reabertura da economiatem resultado em uma forte recuperação da atividade global desde maio. Porém, entendemosque o crescimento da economia global tende a se acomodar em um ritmo mais moderado daquipara frente.

o Incorporando as surpresas positivas de curto prazo, elevamos nossa projeção para o PIBmundial deste ano e esperamos expansão acima da média em 2021. Acreditamos que aeconomia mundial deve contrair 3,6% em 2020 (antes projetávamos uma contração de 4%) e aretomada deverá acontecer em dois estágios. Para 2021, estimamos expansão de 3,5%,ligeiramente acima do padrão de crescimento dos últimos anos.

o De toda forma, alguns riscos seguem presentes, fazendo com que, apesar do tom maispositivo do cenário global, a dispersão das probabilidades ao redor do cenário base sigaacima do usual.

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Os dados de atividade seguem surpreendendo positivamente, sugerindo um recuo menos intenso doPIB neste ano. Além da melhora em diversos indicadores, assim como no restante do mundo, há sinais dealguma estabilização no ritmo de disseminação da doença, reduzindo os temores de uma segunda onda. Osavanços nas pesquisas e nas testagens de vacinas também trouxeram sinais mais positivos nas últimassemanas.

Nesse contexto, revisamos nossa estimativa do PIB deste ano de -5,9% para -4,5% e esperamoscrescimento de 3,5% em 2021. A produção industrial e as vendas do varejo têm confirmado o movimentomais forte de melhora dos índices de confiança, apontando para uma retomada da atividade que tem oformato de “V” na dinâmica da variação trimestral. Os indicadores antecedentes de julho sugeremcontinuidade da retomada da atividade neste início do terceiro trimestre, inclusive com aceleração emalguns setores. Destacam-se positivamente o comércio – beneficiado pela reabertura gradual da economiae pelas transferências emergenciais de renda – e a indústria, impulsionada pela redução dos estoques, como bom desempenho do comércio.

Gráfico 1: Indicador Antecedente Depec e variação interanual do PIB100 = média 2010

Fonte: IBGE, Bradesco

Gráfico 2: Indústria, Comércio e ServiçosNível, dessazonalizado

Fonte: IBGE, Bradesco

Cenário vai se desenhando “menos negativo” que o esperado

Cenário Doméstico

Indústria

Varejo

(ampliado)

Serviços

60,0

65,0

70,0

75,0

80,0

85,0

90,0

95,0

100,0

14 15 16 17 18 19 20

50

55

60

65

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75

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-10

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-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Antecedente

PIB YoY (esq)

Antecedente Depec

Média trimestral

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O crédito continua apresentando papel fundamental para amenizar os impactos da pandemia,sobretudo no fluxo de caixa empresarial. Os dados semanais divulgados pelo Banco Central sugeremque as concessões em junho e julho têm sido fortemente influenciadas pelos recursos para as empresas,com destaque para o Pronampe, programa que tem beneficiado as micro e pequenas empresas. Há umimportante dinamismo também no mercado de capitais. Seguimos esperando expansão de 5,0% para acarteira total de crédito do sistema financeiro, influenciada pela redução de juros, compulsórios erenegociações de dívidas, com aceleração para 7,6% em 2021.

Naturalmente, ainda há incertezas acerca do ritmo de recuperação da economia, e a dispersão deprobabilidades ao redor do cenário base está maior do que a habitual. Além das preocupações compossíveis novas ondas de contágio, o desempenho do mercado de trabalho e o efeito do fim dos estímulosemergenciais serão decisivos para o ritmo de consumo ao final do ano. Estimamos que o desempregoencerre o ano próximo a 15,0% (taxa em dezembro), refletindo tanto a queda da ocupação – que foi de8,0% desde fevereiro – como a esperada redução do desalento à medida que as pessoas se sentiremconfortáveis para retomar a busca por emprego.

Por outro lado, a poupança formada durante a pandemia – uma vez que o consumo caiu mais do quea renda do período (somando-se as transferências, antecipações de benefícios e saques do FGTS) –pode contribuir para suavizar o ciclo do consumo ao final do ano. Assim, assumindo que não haverágrande “ressaca” no crescimento do último trimestre, que a agenda de reformas será retomada e haveráexpansão do PIB trimestral próxima à média histórica em 2021, esperamos aceleração do crescimento nopróximo ano.

O ajuste nas contas externas deve ser mais moderado daqui para frente, com a expectativa de umarecuperação mais intensa da atividade doméstica na segunda metade de 2020. Incorporando assurpresas positivas com nossas exportações no primeiro semestre, deveremos ter um déficit externo deapenas US$ 7,7 bilhões neste ano (0,5% do PIB). Diante de um cenário de recessão menos intensa, o déficitna conta de serviços e rendas deve ficar em US$ 58 bilhões. Para o ano que vem, acreditamos que déficitem conta corrente se mantenha em US$ 7,7 bilhões (0,5% do PIB), com a expansão do saldo comercial paraUS$ 66 bilhões, refletindo a recuperação da economia mundial, compensando os déficits mais intensos dascontas de serviços e de rendas.

Apesar disso, o fluxo cambial para o Brasil segue negativo, refletindo o baixo apetite dosestrangeiros por ativos locais. Entretanto, avaliamos que a eventual confirmação de um cenário maispositivo para o crescimento doméstico, somado à redução da aversão ao risco externo, deixará espaço paraque a taxa de câmbio fique em R$/US$ 5,10 ao final deste e do próximo ano.

Por sua vez, o IPCA deve encerrar 2020 em 1,9%, chegando a 3,1% em 2021. Os dados recentesconfirmam um cenário de inflação bem comportada, com núcleos ao redor de 1% nos últimos meses.Ainda que a depreciação cambial tenha sido elevada, a ociosidade da economia com a queda do PIB temlimitado repasses muito elevados aos bens finais. De fato, os índices IGP têm registrado altas importantes,refletindo o aumento dos preços das commodities em reais, e deverão encerrar o ano com alta de 8,2%.Apesar dessa pressão, os bens industriais para o consumidor final seguem em deflação, mas tendem aapresentar alguma aceleração até o final do ano. Em termos do núcleo da inflação, também estimamosaceleração nos próximos meses, atingindo 1,5% neste ano e 2,5% em 2021.

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Esse processo de aceleração da inflação é esperado após um período atípico de deflação durante apandemia, ocorrendo, portanto, uma gradual normalização em direção ao centro da meta. Com umaquantidade atípica de estímulos durante a pandemia, aceleração do PIB trimestral e necessidade de algumarecomposição de margem por parte das empresas, é natural que haja alguma aceleração. Além disso, para oano seguinte, estamos atribuindo uma pequena probabilidade de elevação dos itens da cesta básica, noâmbito das discussões do aprimoramento dos programas sociais. Contudo, essa aceleração da inflação –que nos coloca ligeiramente acima do consenso de mercado – ainda deixará o IPCA abaixo do centro dameta e amplamente ancorado pela ociosidade, expectativas e credibilidade do Banco Central.

Gráfico 3: Média dos núcleos de inflaçãoDessazonalizado e anualizado

Fonte: BCB, Bradesco

Dessa forma, esperamos que a Selic permaneça em 2,25% até o final deste ano e que encerre 2021em 3,00%. Os modelos do Banco Central e nossas projeções de IPCA seguem apontando para inflaçãoabaixo do centro da meta neste e no próximo ano. Entretanto, o balanço de riscos continua sugerindocautela: (i) a economia está se recuperando mais rapidamente nesses últimos meses, em vista de estímulossem precedentes; (ii) a taxa de juros pode estar se aproximando do limite em que uma nova redução sejacontraproducente, ou seja, leve a uma piora das condições financeiras e (iii) a estabilização e convergênciada dívida pública para patamares mais baixos continuam como importante fonte de incerteza. Nessecenário, acreditamos que o Banco Central mantenha a Selic no patamar atual até o final deste ano. Em 2021,com uma aceleração mais forte do crescimento no Brasil e no mundo (e consequente redução daociosidade), diminuição da incerteza (pelo menos da parcela relacionada ao Covid-19) e com ganho deimportância ao longo do ano das projeções de 2022 para o cenário prospectivo do BC, esperamos o inícioda normalização da política monetária na direção do juro neutro, levando a Selic a 3,00% no final dopróximo ano.

A sustentabilidade fiscal à frente segue desafiadora e condicionada a reformas no pós-pandemia. Adívida bruta deverá atingir 96% do PIB neste ano, afetada pela queda da arrecadação e pelo aumento degastos com medidas emergenciais, que têm mitigado os efeitos da pandemia. Assim, após esse período, oajuste das contas públicas será fundamental para a dinâmica da dívida, principalmente na ótica do gasto, etambém para as perspectivas de crescimento econômico e para os juros de equilíbrio. Nossas estimativasindicam necessidade de reduções adicionais em torno de R$ 15 bilhões das despesas para que o teto dosgastos seja cumprido em 2021. Esse cenário evidencia a necessidade da continuidade de reformas nospróximos anos. A reforma tributária, importante para a agenda de produtividade do país, voltou a serdiscutida e deve acontecer em várias etapas, a primeira delas com unificação de tributos (PIS/Cofins).

1,07%1,11%

2,12%

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

7%

8%

9%

10%

06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

3ma

6ma

12m

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Por fim, reforçamos a melhora recente do cenário, mas reiteramos que as incertezas não devem sedissipar totalmente. No curto prazo, a continuidade da recuperação da atividade em um ritmo maisacelerado segue dependente da contenção da doença no Brasil e no exterior e da vigência dos estímulos,principalmente fiscais. Pensando em um horizonte mais longo, novas reformas serão cruciais para que atrajetória da dívida pública seja convergente, diminuindo incertezas, e para que haja elevação daprodutividade e da capacidade de crescimento do país em um ambiente com inflação e taxa de jurosestruturalmente baixas.

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A flexibilização das restrições à mobilidade ao redor do mundo tem se dado sem grandesretrocessos. Apesar de aumento localizado no número de casos, como no Texas, Hong Kong e Catalunha, avasta maioria das regiões segue retomando suas atividades, gradualmente, sem que haja retrocessos ousaturação nos sistemas de saúde.

Tabela 1: Mapa de mobilidade - dados de georreferenciamento dos celulares% das pessoas “em casa” comparado com período pré pandemia* (03/jan - 06/fev/20)

(*) Tons de vermelho sugerem mais pessoas em casa do que o período base e tons em azul, menos

Fonte: Google/mobility, Bradesco

Gráfico 4: Casos acumulados de contaminação por Covid-19Por 100 mil habitantes

Fonte: Bloomberg, HDX, Bradesco

Contração da atividade global deve ser menos intensa neste ano

Cenário Internacional

15-fev 19-jul

EUA

Canadá

Japão

Coreia do Sul

Nova Zelândia

Austrália

Noruega

Suécia

Suíça

Reino Unido

Alemanha

Espanha

França

Itália

Hungria

Polônia

Turquia

Indonésia

Índia

Tailândia

África do Sul

Argentina

Brasil

Chile

Colômbia

México

Peru

Paraguai

Uruguai

491.4

377.6

929.6

1,282.52,106.4

-200

300

800

1300

1800

2300

1.0

201.0

401.0

601.0

801.0

1,001.0

1,201.0

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

Título do Gráfico

Lombardia Madri Catalunha Texas Nova Iorque (eixo da direita)

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A despeito das incertezas relacionadas à evolução da pandemia, a reabertura da economia temresultado em uma forte recuperação da atividade global desde maio. Acreditamos que enquanto oaumento no número de casos não resultar em risco de saturação do sistema de saúde, como ocorreu emmarço e abril em alguns países, a normalização da atividade deve continuar em curso resultando em fortecrescimento da economia global, com uma recuperação no formato em “V”, como sugerido pelassondagens de serviços e indústria, já conhecidas para julho, e pelos indicadores de atividade disponíveis.

Gráfico 5: Índice PMI composto preliminarPaíses selecionados, em pontos

Fonte: Bloomberg, Bradesco

Apesar das evidências de forte recuperação da atividade no curto prazo, entendemos que ocrescimento da economia global tende a se acomodar em um ritmo mais moderado daqui parafrente. Parte dessa surpresa positiva com o ritmo da retomada se deve à fraca base de comparação, aosestímulos monetários e fiscais injetados na economia – que chegaram de fato às empresas e às famílias,com preservação de renda e emprego acima do esperado inicialmente – e à evolução da pandemia, que tempermitido algum grau de reabertura. Daqui para frente, partindo de um patamar mais elevado e assumindoque os estímulos econômicos devem ser menores no restante de 2020, projetamos uma aceleração maissuave nos trimestres adiante.

Nos EUA, os indicadores de atividade mantiveram tendência positiva, com forte desempenho emjunho, sugerindo uma queda menos intensa no segundo trimestre. As políticas monetária e fiscaldevem continuar estimulativas ao longo de 2020 e 2021. O Fed, por sua vez, não só deve manter as taxasde juros nas mínimas históricas como seu plano de compras de ativos. Do lado fiscal, tornou-se majoritáriaa possibilidade de que o congresso aprove mais um pacote de estímulo à economia nas próximas semanas,com postergação do auxílio aos indivíduos, mesmo que em menor magnitude do que aquele implementadoaté agora. Esses estímulos têm produzido uma relevante recuperação dos preços de ativos, que tende areforçar o quadro de retomada econômica. Por ora, as principais fontes de volatilidade do cenário seguirãosendo os dados de disseminação da doença e o processo eleitoral previsto para novembro deste ano.

50.0

57.1

43.9

54.8

10

20

30

40

50

60

70

15 16 17 18 19 20 21

Título do Gráfico

EUAReino UnidoJapãoÁrea do Euro

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A Europa tem surpreendido de forma positiva, tanto em função do controle da pandemia quantoem relação à retomada da atividade e a resposta orquestrada de política econômica. Sondagens eindicadores de alta frequência seguem surpreendendo positivamente, inclusive no segmento deserviços. Em caráter excepcional, a União Europeia aprovou a criação de um fundo de recuperação paraos países do bloco, no montante de €750 bilhões, com €390 bilhões em forma de concessão aos paísesmais afetados pela crise atual. Além de afastar o risco de uma recessão mais profunda na região, asinalização da UE foi muito positiva na direção de endereçar os problemas estruturais de dívida de formaconjunta – o que tem sustentado a significativa apreciação do euro nos últimos meses.

A despeito disso, mantivemos nossa expectativa de contração do PIB da Área do Euro de 7,5%neste ano, e de crescimento de 5,5% em 2021. A cautela em relação à economia europeia nos meses àfrente deve-se principalmente ao desempenho da indústria – que terá que contar com a recuperaçãoexterna, lembrando que a região é exportadora principalmente de bens de capital – e à evolução póspandemia do segmento de serviços, principalmente turismo, lembrando que, mesmo com forteparticipação dos europeus, americanos e chineses respondem por cerca de metade das receitas dosegmento na Europa. Por fim, semelhante ao que observamos em outros países, existe umapreocupação ligada ao fim, ou à redução, dos programas de suporte ao emprego, determinantes para aregião nesse período da pandemia.

A China continua sendo o país mais adiantado no ciclo de recuperação da atividade econômicapós pandemia. O resultado do PIB do segundo trimestre – com crescimento de 11,5% na margem, quemais do que compensou a queda de 10% registrada nos primeiros três meses do ano – mostrou umaforte recuperação da atividade industrial e dos investimentos (em infraestrutura e setor imobiliário). Arecuperação da demanda tem sido mais gradual, em função das medidas de distanciamento social aindapresentes. A sinalização de política econômica é de suporte à recuperação, que deve se manter nestesemestre, com impulso especial dos investimentos. A tensão com os EUA, somada às incertezas com aretomada externa e à evolução da pandemia, permanecem importantes desafios para o país.

Gráfico 6: Indicadores de atividade econômica da ChinaVariação interanual

Fonte: CEIC, Bradesco

5.78.0

5.4

-13.5

-21.1

-24.5

-1.1

-16.6

-10.8

3.9

-7.8

-2.2

4.4

-2.8

0.9

4.8

-1.8

1.1

-30.0

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

Produção industrial Vendas do varejo Investimentos em ativos fixos

China: indústria, comércio varejista e investimentos (variação interanual). Fonte: CEIC

2019 jan-fev março abril maio junho

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Incorporando essas surpresas de curto prazo, elevamos nossa projeção para o PIB mundial desteano e esperamos expansão acima da média em 2021. Acreditamos que a economia mundial devecontrair 3,6% em 2020 (antes projetávamos uma contração de 4%) e a retomada deverá acontecer emdois estágios: o primeiro deles, que estamos vivendo, imediatamente mais forte após a reabertura daeconomia e o segundo, que tende a ser marcado por uma acomodação, com retorno mais lento aopatamar pré-crise. De fato, nossas estimativas apontam para fechamento do hiato do PIB global entre2021 e 2022, dada a perda que tivemos nesse período mais crítico. Para 2021, estimamos expansão de3,5%, ligeiramente acima do padrão de crescimento dos últimos anos.

De toda forma, quatro riscos seguem presentes. O primeiro, e mais importante, ainda se refere àevolução da pandemia. Apenas com uma vacina devemos ter o retorno pleno de todas as atividadeseconômicas. As medidas de distanciamento social permitem grande flexibilização dos setores, mas essesseguirão crescendo abaixo do potencial sem uma solução definitiva para a doença. O segundo riscoconcentra-se nos possíveis efeitos permanentes da pandemia sobre as empresas, famíliascomportamentos de consumo e modelos de negócios. O terceiro diz respeito à condução da políticaeconômica. Após expansão fiscal e monetária sem precedentes, a economia mundial deverá se depararcom alguma acomodação, necessidade de ajustes futuros e potenciais efeitos sobre preços de ativos.Por fim, não podemos desprezar os riscos vindos das tensões geopolíticas entre EUA e China, quevoltaram a escalar recentemente. Mantemos nossa avaliação de que os dois países, por ora, têmincentivos políticos e econômicos para manter o acordo comercial assinado no início do ano, mas, aomesmo tempo, também têm motivações para manter as tensões elevadas, especialmente quandolevamos em conta o contexto de período eleitoral dos EUA. Assim, apesar do tom mais positivo docenário global, a dispersão das probabilidades ao redor do cenário base segue acima do usual.

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Projeções Macroeconômicas (2016 – 2020)

2016 2017 2018 2019 2020* 2021*

ATIVIDADE, INFLAÇÃO E JUROS

PIB (%) -3.3 1.3 1.3 1.1 -4.5 3.5

Agropecuária (%) -5.2 14.2 1.4 1.3 3.0 3.5

Indústria (%) -4.6 -0.5 0.5 0.5 -4.5 3.0

Serviços (%) -2.3 0.8 1.5 1.3 -5.0 3.5

Consumo Privado (%) -3.9 2.1 2.1 1.8 -5.7 3.4

Consumo da Adm. Pública (%) 0.2 -0.7 0.4 -0.4 0.6 2.0

Investimento (FBKF) (%) -12.1 -2.6 3.9 2.2 -7.1 6.0

Exportações Bens e Serviços Não Fatores (%) 0.9 4.9 4.0 -2.5 -4.0 5.0

Importações Bens e Serviços Não Fatores (%) -10.3 6.7 8.3 1.1 -4.5 6.0

PIB (R$) - bilhões (Preços Correntes) 6,267 6,554 6,828 7,285 7,173 7,744

PIB (US$) - bilhões 1,796 2,053 1,868 1,847 1,432 1,518

População - milhões 206.1 207.7 209.2 210.7 212.1 213.4

PIB per capita - US$ 8,714 9,888 8,930 8,766 6,754 7,114

Produção Industrial - IBGE (%) -6.4 2.5 1.1 -1.1 -4.5 3.0

Taxa Média de Desemprego - IBGE 11.5 12.7 12.3 12.1 13.5 13.5

Vendas do Comércio Varejista - Restrita (%) -6.2 2.0 2.3 1.8 -5.5 3.5

IPCA - IBGE (%) 6.29 2.95 3.75 4.31 1.90 3.10

IGP-M - FGV (%) 7.17 -0.50 7.54 7.32 8.53 4.04

Taxa Selic (final de período) % 13.75 7.00 6.50 4.50 2.25 3.00

Taxa Selic nominal (acumulado 12 meses) % 14.0 10.0 6.42 5.9 2.9 2.3

Taxa Selic real / IPCA (acumulado 12 meses) % 7.3 6.8 2.6 1.6 0.9 -0.8

EXTERNO E CÂMBIO

Balança Comercial - BCB (US$ bilhões) 44.6 64.0 53.0 39.4 58.0 66.9

Exportações (US$ bilhões) 184 218 240 224 214 230

Importações (US$ bilhões) 140 154 186 185 156 163

Corrente de Comércio (% PIB) 18.0 18.1 22.8 22.2 25.8 25.9

Saldo em conta-corrente (US$ bilhões) -24 -15 -42 -51 -8 -8

Saldo em conta-corrente (% PIB) -1.3 -0.7 -2.2 -2.7 -0.5 -0.5

Investimento Direto no País (US$ bilhões) 74 69 78 79 63 86

Taxa de câmbio (final de período) R$ / US$ 3.26 3.31 3.87 4.03 5.10 5.10

Taxa de câmbio (média anual) R$ / US$ 3.49 3.19 3.65 3.95 5.01 5.10

Rating Soberano Moody's Ba2 Ba2 Ba2 Ba2 - -

Rating Soberano S&P BB BB BB- BB- - -

FISCAL

Resultado primário do setor público (R$ bilhões) -156 -111 -108 -62 -864 -225

Resultado primário do setor público (% PIB) -2.5 -1.7 -1.6 -0.8 -12.0 -2.9

Dívida Bruta do Setor Público (% PIB) 69.9 74.1 76.7 75.8 96.0 96.7

Dívida Líquida do Setor Público (% PIB) 46.2 51.6 54.1 55.5 71.4 72.1

CRÉDITO

Crédito Geral (Cresc. em % aa.) -3.5 -0.4 5.1 6.5 5.0 7.6

Crédito Livres total (Cresc. em % aa.) -4.9 1.9 10.9 14.1 7.0 10.4

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Indicadores internacionais (2016 – 2020)

Indicadores internacionais – América Latina (2016 – 2020)

(*): (projeção)Fonte: FMI, Bradesco

2016 2017 2018 2019 2020* 2021*

PIB Global

Mundo 3.4 3.8 3.6 2.9 -3.6 3.5

Países Desenvolvidos 1.7 2.3 2.2 1.6 -6.4 4.3

Estados Unidos 1.6 2.2 2.9 2.3 -6.0 5.5

Área do Euro 1.8 2.3 1.8 1.1 -7.5 5.5

Reino Unido 1.8 1.8 1.4 1.0 -7.0 4.0

Japão 0.6 1.9 0.8 0.9 -6.2 2.0

Países Emergentes 4.6 4.8 4.5 3.9 -1.8 3.0

China 6.7 6.8 6.5 6.1 1.5 7.5

América Latina -0.6 1.2 1.0 0.3 -6.2 3.0

2016 2017 2018 2019 2020* 2021*

Argentina

PIB (%) -2.1 2.7 -2.5 -2.2 -10.5 1.2

Inflação ao consumidor (%) 41.0 24.8 47.7 54.5 50.0 45.0

Taxa básica de juros (%) 24.75 28.75 59.25 55.00 40.00 37.00

Taxa de câmbio (final do ano) 15.85 18.59 37.65 59.87 87.00 110.00

Brasil

PIB (%) -3.3 1.3 1.3 1.1 -4.5 3.5

Inflação ao consumidor (%) 6.3 2.9 3.7 4.3 1.9 3.1

Taxa básica de juros (%) 13.75 7.00 6.50 4.50 2.25 3.00

Taxa de câmbio (final do ano) 3.26 3.31 3.87 4.03 5.10 5.10

Chile

PIB (%) 1.7 1.2 3.9 1.1 -4.0 3.9

Inflação ao consumidor (%) 2,7 2.3 2.9 3.0 2.5 2.5

Taxa básica de juros (%) 3,50 2.50 2.75 1.75 0.50 0.75

Taxa de câmbio (final do ano) 671.00 615.00 694.00 752.87 800.00 770.00

Colômbia

PIB (%) 2.1 1.4 2.5 3.3 -4.3 4.2

Inflação ao consumidor (%) 5,8 4.1 3.1 3.8 2.8 2.8

Taxa básica de juros (%) 7,50 4.75 4.25 4.25 2.00 2.50

Taxa de câmbio (final do ano) 3,001.00 2,984.00 3,248.00 3,287.00 3,750.00 3,475.00

México

PIB (%) 2.9 2.1 2.1 -0.1 -7.3 2.4

Inflação ao consumidor (%) 3,2 6.8 4.3 2.8 2.9 3.0

Taxa básica de juros (%) 5,75 7.25 8.25 7.25 3.75 4.50

Taxa de câmbio (final do ano) 20,7 19.70 19.65 18.93 22.20 21.60

Peru

PIB (%) 4.1 2.5 4.0 2.2 -5.5 4.8

Inflação ao consumidor (%) 3,2 1.4 2.4 1.9 2.8 2.1

Taxa básica de juros (%) 4,25 3.25 2.75 2.00 0.25 0.50

Taxa de câmbio (final do ano) 3,36 3.26 3.27 3.31 3.48 3.40

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Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Fernando Honorato Barbosa

Economistas Ariana Stephanie Zerbinatti / Constantin Jancsó / Fabiana D’Atri / Myriã Tatiany Neves Bast/ Priscila Pacheco Trigo/ Robson Rodrigues Pereira / Thiago Coraucci de Angelis / ThomasHenrique Schreurs Pires

Estagiários Gustavo Rostelato de Miranda / Henrique Monteiro de Souza Rangel / Lucas Daniel Duarte /Lucas Oliveira Costa da Silva / Marcelo Henrique Leite Alonso