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Apresentação A Casa Pia de Lisboa é uma Instituição com equipas empenhadas no desenvolvimento de actividades diversificadas e de muita qualidade mas cuja dimensão torna difícil uma interacção sustentada. O processo de reestruturação, ainda em curso, ao mesmo tempo que confirmou estas características, acentuou a necessidade de criar traços de união para a acção, um pensamento comum que oriente a inter- venção, segundo as diferentes competências e responsabilidades, em reforço da identificação colectiva do público-alvo e da missão, não expressamente definida mas globalmente "sentida". É precisamente esta lacuna que "A CARTA - Um compromisso para a Acção" - construída a partir de um trabalho de grupo sucessivamente analisado, alterado e complementado pelos contributos recebidos de todos os que se propuseram participar neste processo - pretende col- matar. Assim, "A CARTA", ao mesmo tempo que apresenta ao exterior o pensar e agir da Casa Pia de Lisboa, constitui um guia para os profissio- nais que a integram, tornando-se o elemento aglutinador entre todos. O formato de edição escolhido pretende corresponder a estes objectivos. Dimensão manuseável, leitura fácil e espaço para anotações, para que "A CARTA" seja adoptada como um "orientador" sempre presente. O Conselho Directivo

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Apresentação

A Casa Pia de Lisboa é uma Instituição com equipas empenhadas no

desenvolvimento de actividades diversificadas e de muita qualidade mas

cuja dimensão torna difícil uma interacção sustentada.

O processo de reestruturação, ainda em curso, ao mesmo tempo que

confirmou estas características, acentuou a necessidade de criar traços

de união para a acção, um pensamento comum que oriente a inter-

venção, segundo as diferentes competências e responsabilidades, em

reforço da identificação colectiva do público-alvo e da missão, não

expressamente definida mas globalmente "sentida".

É precisamente esta lacuna que "A CARTA - Um compromisso para a

Acção" - construída a partir de um trabalho de grupo sucessivamente

analisado, alterado e complementado pelos contributos recebidos de

todos os que se propuseram participar neste processo - pretende col-

matar.

Assim, "A CARTA", ao mesmo tempo que apresenta ao exterior o pensar

e agir da Casa Pia de Lisboa, constitui um guia para os profissio-

nais que a integram, tornando-se o elemento aglutinador entre todos.

O formato de edição escolhido pretende corresponder a estes objectivos.

Dimensão manuseável, leitura fácil e espaço para anotações, para que "A

CARTA" seja adoptada como um "orientador" sempre presente.

O Conselho Directivo

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ÍNDICE

PREÂMBULO 3

1.INTRODUÇÃO 4

2.ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A INTERVENÇÃO 6

2.1. ENQUADRAMENTO 6

A CRIANÇA E O JOVEM COMO SUJEITOS DE DIREITOS 7

MODELO SOCIOEDUCATIVO 8

2.2. A NÍVEL DA ACÇÃO SOCIAL 11

2.3. A NÍVEL DA EDUCAÇÃO E DA FORMAÇÃO 12

2.4. A NÍVEL DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS 14

2.5. A NÍVEL DA ORGANIZAÇÃO 15

2.6. A NÍVEL DOS PROCESSOS DE TRABALHO E

DOS ESPAÇOS 16

3.ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS PARA A INTERVENÇÃO 17

3.1.RESPOSTAS SOCIAIS 17

3.1.1.ACOLHIMENTO RESIDENCIAL E FAMILIAR 17

3.1.2.AMBIENTE E LAZER 19

3.1.3.INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA 20

3.2.RESPOSTAS EDUCATIVAS E FORMATIVAS 21

3.2.1.RESPOSTAS EDUCATIVAS 21

3.2.2.RESPOSTAS FORMATIVAS 27

3.2.3.EDUCAÇÃO ESPECIAL 29

3.3.CULTURA E CONHECIMENTO 32

4.ESTRUTURA E RECURSOS 33

4.1.A CPL,IP COMO ORGANIZAÇÃO EM REDE 33

4.2.OS RECURSOS HUMANOS E AS EQUIPAS 34

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PREÂMBULO

A CPL,referência para a

inclusão

A criança e o jovem, sujeitos de direitos

MAIS prevenção,

MENOS institucionalização

Modelo socioeducativo

A Casa Pia de Lisboa, IP (CPL,IP) assume-se como uma instituição do

sistema de promoção e protecção das crianças e jovens em risco.

Compreende a exclusão social de forma multidimensional e reconhece

a natureza multifactorial das suas causas, perspectiva que a obriga a

desenvolver tipos de intervenção de natureza integrada que, de modo

global, visem a inclusão social das crianças, jovens e famílias que

constituem a sua população-alvo.

Tem como referências para o modelo de intervenção que adopta a

Convenção sobre os Direitos da Criança, bem como os quatro pilares

fundamentais da Comissão Internacional sobre Educação para o

Século XXI: Aprender a viver juntos; Aprender a conhecer; Aprender a

fazer; Aprender a ser.

Orienta-se por uma visão centrada no superior interesse da criança e

do jovem, como sujeitos de direitos, na valorização das suas redes

pessoais de pertença e de interacção social (família, escola, co-

munidade, sociedade) e no princípio da igualdade de oportunidades.

Reconhece o importante papel da família na construção da identidade e

no desenvolvimento das crianças e dos jovens, o que determina o

carácter preventivo da intervenção e a orientação para o trabalho

com a família - que a CPL,IP assume como componentes fundamen-

tais da intervenção - de modo a evitar o afastamento desta, nomeada-

mente por necessidade de recurso à institucionalização.

Cabe-lhe um papel social, educativo e formativo, de carácter preventivo,

reparador e promotor de autonomia pessoal e de cidadania activa.

Para o efeito, desenvolve um modelo socioeducativo, participado e

integrado, em sistema de rede e facilitador da inserção social e profis-

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Valores para a intervenção

sional, através de respostas sociais e educativas/formativas de quali-

dade.

Visa uma intervenção direccionada para a inovação, em que a organi-

zação deixa de ser reactiva e adaptativa aos estímulos, para passar a

ser prospectiva e adequada às reais necessidades do público-alvo,

qualidade que lhe vale a condição de gerir a mudança.

1.INTRODUÇÃOA Casa Pia de Lisboa, instituição secular que tem por razão de ser o

cuidar de crianças e jovens, desenvolveu e adoptou no decurso da sua

existência diversos modelos que têm proporcionado experiências

educativas e pedagógicas inovadoras.

O actual compromisso, consubstanciado no presente documento, não

pretende definir e regular exaustivamente os padrões que configuram o

agir institucional, assumindo-se antes como um instrumento com

funções de orientação (designando as linhas de coerência a consi-

derar na escolha de prioridades, no desenvolvimento de medidas e na

tomada de decisão), de avaliação (assumindo responsabilidades e

competências a traduzir em dispositivos de acompanhamento, de me-

lhoria e de mudança) e de integração (identificando elementos essen-

ciais a partilhar pelas partes interessadas).

A intencionalidade que serve de referencial à presente proposta de

modelo socioeducativo integra, de forma coerente e assumida, as práti-

cas organizacionais e relacionais da CPL,IP, que terão de reflectir os

valores matriciais que inspiram e orientam a sua intervenção, com par-

ticular relevância para os valores da solidariedade social, da autono-

mia, da responsabilidade e da intervenção democrática. São estes

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Missão e população-alvo

Da missão àprática

Centros de Educaçãoe Desenvolvimento

- CED

Papel determinante das famílas

valores que orientam a formação de sujeitos cada vez mais educados,

autónomos, responsáveis, solidários e democraticamente comprometi-

dos na construção de um destino colectivo e de um projecto de

sociedade que potenciem a afirmação das mais nobres e elevadas qua-

lidades de cada ser humano.

É, hoje, missão da CPL,IP a promoção dos direitos e a protecção das

crianças e dos jovens, sobretudo dos que se encontram em perigo ou

em risco de exclusão, de forma a assegurar o seu desenvolvimento inte-

gral, através do acolhimento, educação, formação e inserção social e

profissional.

Para tal, implementa programas de prevenção, intervenção e inserção,

sendo necessário conceptualizar domínios e áreas de actuação, opera-

cionalizar regimes, modalidades e serviços, que se traduzam em

respostas integradas, adequadas às múltiplas necessidades, presentes

e previstas, da população-alvo.

O modelo socioeducativo da CPL,IP, enquanto referencial de pensa-

mento e de acção de uma instituição que se revê em princípios e ob-

jectivos sociais e educacionais, baliza e orienta a intervenção de todos

os agentes e parceiros na vida dos vários Centros de Educação e

Desenvolvimento (CED) e das outras estruturas que constituem a sua

rede de intervenção.

Na operacionalização das respostas promovidas pela CPL,IP, é reco-

nhecida a importância da ligação ou do regresso das crianças e jovens

às suas famílias. É reconhecido, também, o papel decisivo destas na

organização e enquadramento das actividades que concorrem para o

sucesso da acção socioeducativa, cabendo-lhes uma intervenção

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Planos deDesenvolvimento

Pessoal

Reforço dascompetências das

famílias

Identidade pessoal

insubstituível na orientação de cada criança e de cada jovem e no

acompanhamento do seu desenvolvimento.

Às famílias é, assim, conferido o direito/dever de participação nos

planos de desenvolvimento pessoal dos educandos, cuja proposta cabe

a cada CED, com etapas e objectivos pensados e orientados de forma

realista e respeitadora da vontade dos próprios educandos e das suas

motivações pessoais, condições de aprendizagem e necessidades

educativas, por forma a potenciar a criatividade e a realização in-

diviual.

Finalmente, é primordial que a CPL,IP vá ao encontro das famílias,

sobretudo das mais problemáticas, e que com elas desenvolva pro-

cessos de reforço das suas competências parentais, educativas e so-

ciais, para que possam cumprir o papel que lhes cabe na garantia do

bem estar das crianças e dos jovens.

2.ORIENTAÇÕES GERAIS PARA AINTERVENÇÃO

2.1. ENQUADRAMENTOA CPL,IP assume que cada ser humano é único e irrepetível, o que

implica o reconhecimento de que a experiência do trajecto de desen-

volvimento de cada criança e de cada jovem é também único e ir-

repetível. Por isso, deve ser valorizada a construção da sua identidade

pessoal, assente nos valores da iniciativa, da criatividade, da respon-

sabilidade, da solidariedade, do respeito pelo outro e da aceitação

da diferença, numa sociedade multicultural. A atenção individualizada a

cada criança e a cada jovem pressupõe a compreensão da sua com-

plexidade, a busca e valorização constantes da cultura de que é porta-

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Projecto de Vida

Modelo de acolhimento

Educaçãopersonalizada

dor, o apoio à auto descoberta e à construção de um projecto de vida

correspondente às suas expectativas pessoais.

A CPL,IP preconiza, assim, um modelo de acolhimento e de intervenção

sustentado por uma perspectiva integradora e personalizada, que

conduza ao sucesso do crescimento e desenvolvimento da criança e do

jovem. Trata-se de uma intervenção sistémica, em que deverão ser

articuladas redes formais e informais, identificadas necessidades de

acção e potenciada uma real prevenção dos factores de perigo e de

risco, contribuindo, assim, para os objectivos de sociabilização.

- A criança e o jovem - sujeitos de direitos

Para a Casa Pia de Lisboa a criança e o jovem são sujeitos de direitos,

com competências para expressar e defender posições pessoais, que

agem, participam e influenciam os acontecimentos e os espaços onde

se inserem e que lhes dizem respeito.

Esta orientação obriga a que os recursos, as normas, os modelos e os

objectivos institucionais não sejam concebidos como um ponto de parti-

da da intervenção mas que esta resulte do encontro entre a realidade

de cada criança e os dispositivos institucionais, materializado através do

plano de desenvolvimento pessoal.

Por outro lado, este modo de encarar cada criança e cada jovem im-

plica uma viragem na visão da educação, que assume uma perspectiva

de respeito pela sua individualidade e participação activa, na formação

da identidade e carácter e no desenvolvimento integral, evitando senti-

mentos de não pertença, frustração e exclusão.

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Dos direitosdecorrem

deveres

Qualidade domodelo

Respeito pelooutro

Respostas do modelo

Mas, na esfera da cidadania, exige-se que a direitos correspondam

deveres e, nesta medida, ao mesmo tempo que se garante o direito ao

desenvolvimento, acentuam-se os deveres correlativos de cada edu-

cando, designadamente o dever de assegurar, pelo trabalho, a sua

quota-parte de participação efectiva no esforço de permanente reno-

vação e enriquecimento do património de conhecimentos e com-

petências da comunidade.

Modelo socioeducativo

Através de uma intervenção institucional com qualidade, com diver-

sificação e adaptação das respostas socioeducativas, será consequente

uma maior integração pessoal e social na sociedade em geral e na vida

activa em particular.

Às crianças e aos jovens, antes de mais, deve ser proporcionada a pos-

sibilidade de crescer em segurança, a possibilidade de aprender, a pos-

sibilidade de descobrir/construir uma identidade pessoal, em resumo: a

possibilidade de edificar um projecto de vida com sentido. O pleno

cumprimento deste processo implica a familiarização das crianças e dos

jovens com os aspectos da acção colectiva quotidiana que constituem a

base indispensável para uma relação não conflitual e respeitadora do

espaço próprio dos outros, nas mais diversas situações sociais, desde

as relações interpessoais à organização do trabalho colectivo, às regras

de segurança a respeitar na circulação viária, ao reconhecimento e ao

respeito pelas convicções mais íntimas de cada um.

Decorrente de todas as concepções atrás expostas, o modelo socio-

educativo da CPL,IP integra respostas sociais, educativas e for-

mativas.

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Orientações globais

Pretende-se uma intervenção socioeducativa que privilegie todos, nos

vários níveis, e se adeqúe e flexibilize ao ser, não coagindo nem

excluindo, mas que impulsione a construção individual de cidadania, de

forma participada e democrática, através de respostas especificamente

dirigidas às reais necessidades das crianças, dos jovens e das suas

famílias.

Esta perspectiva assume linhas orientadoras que podem facilitar a ac-

tuação dos agentes educativos, nos seguintes termos:

A predominância do modelo de intervenção psicossocial é o

caminho a seguir para que as soluções tenham uma dimensão holística

no processo de resolução de problemas;

A flexibilidade de intervenção e a criação de respostas

específicas e diferenciadas são directrizes base quando se procura

responder às problemáticas emergentes entre crianças e jovens, sejam

elas a desorganização emocional, a violência juvenil ou os compor-

tamentos disruptivos;

A metodologia de intervenção é focalizada no desenvolvimen-

to do Eu da criança, no sentido de lhe atribuir as capacidades fun-

damentais para a gestão pessoal da complexa teia relacional onde se

movimenta;

A co-responsabilização e participação das famílias e da cri-

ança ou do jovem no seu projecto de vida, a fim de evitar a institucio-

nalização ou possibilitar a desinstitucionalização o mais rapidamente

possível;

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Perspectivaconstrutivista

A co-responsabilização da comunidade de origem da criança

ou jovem, na medida em que o acolhimento institucional deverá ser dis-

cutido e assumido pelas entidades que operacionalizam a política social

do meio circundante, explicitando-o em protocolos de parceria;

A procura de famílias alternativas, por via de adopção ou de

outras intervenções, quando a família de origem é inexistente ou não

oferece condições ao adequado desenvolvimento da criança;

A inserção de unidades de acolhimento residencial em zonas

urbanas e em tipologias habitacionais apropriadas, em apartamentos ou

em moradias uni-familiares, sem qualquer identificação institucional;

A diminuição do número de educandos por unidade de

acolhimento residencial para possibilitar e facilitar uma intervenção

personalizada e humanizada, criando o ambiente propício ao cres-

cimento e desenvolvimento das crianças e dos jovens.

No âmbito das respostas educativas e formativas, a CPL,IP adopta um

modelo pedagógico orientado segundo uma perspectiva cons-

trutivista dos currículos, pois considera que todo o conhecimento

verdadeiramente significativo é auto-conhecimento, construído pelo

próprio educando, a partir da sua própria experiência. Só assim a

CPL,IP poderá contribuir para que cada criança ou jovem aprenda a

estar, a ser, a conhecer e a agir. Estas dimensões serão sempre

garantidas pela sua integração na comunidade educativa que conhece

e onde é conhecido. A especificidade e diversidade dos percursos de

desenvolvimento e aprendizagem dos educandos exigem a mobilização

e consequente disponibilização de materiais de trabalho e de recursos

educativos capazes de lhes oferecer respostas adequadas e efectiva-

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Combater a exclusão:desafio que exige

flexibilidade

Para flexibilizar:

Trabalho directo

mente especializadas.

O modelo socioeducativo da CPL,IP concretiza-se, também, no respeito

por outras orientações globais a seguir reproduzidas.

2.2. A NÍVEL DA ACÇÃO SOCIALA acção social da CPL,IP está investida na promoção dos direitos e na

protecção das crianças e dos jovens em perigo e em risco e com neces-

sidades educativas especiais, apoiando o seu desenvolvimento e o das

respectivas famílias e fomentando a autonomia e inserção social e

profissional.

Esta missão é concretizada através de medidas directas e indirectas,

com a participação de todos os sistemas envolvidos e tendo como

suporte recursos físicos, financeiros e humanos, em articulação intra e

interinstitucional.

A luta contra a exclusão é um dos grandes desafios aos quais a

CPL,IP tem procurado dar respostas de natureza diversa e que, natural-

mente, implica a necessidade de diferenciar as práticas e de

construir respostas mais flexíveis que ultrapassem a rigidez de um

formato único, de uma linguagem única, de um ritmo único, e que pos-

sam corresponder de forma positiva à diversidade das crianças e dos

jovens abrangidos.

Tais respostas devem orientar-se pelos seguintes parâmetros:

Desenvolver trabalho directo com as crianças e os jovens,

apoiando a construção e o acompanhamento do seu projecto de vida e

considerando, entre outros, objectivos associados à orientação da sua

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Equipas pluriprofis-sionais

Respostas diversificadas

Promoção da autonomia

Cooperaçãointer serviços

Percursos deaprendizagemsem rupturas

conduta, valorização e desenvolvimento das suas competências de

autonomia, sobretudo em contextos mais desfavoráveis de risco e de

perigo;

Desenvolver trabalho com as famílias, segundo uma perspecti-

va transdiciplinar, através de equipas pluriprofissionais, que possam

realizar uma intervenção adequada às necessidades de cada educando

e de cada família;

Garantir o acolhimento residencial das crianças e jovens em

perigo, desenvolvendo respostas diversificadas, em função das neces-

sidades diagnosticadas e criando condições para um rápido retorno à

família, quando possível;

Implementar modelos residenciais que respondam à

preparação de uma vida independente, de modo a proporcionar opor-

tunidades de formação e a reforçar competências no âmbito da autono-

mia pessoal;

Garantir a coordenação e cooperação com os serviços da rede

social, concretizando compromissos entre as famílias e os serviços da

comunidade onde residem.

2.3. A NÍVEL DA EDUCAÇÃO E DA FORMAÇÃOPara a construção de percursos inclusivos de aprendizagem, a

CPL,IP considera indispensável a garantia de transição entre os graus

escolares e entre a escola e a vida activa, nos vários momentos em que

essa transição ocorra, numa perspectiva de educação e de formação ao

longo da vida.

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Desenvolvimentocurricular e de

práticas pedagógicas

Flexibilizaçãocurricular

Aprendizagens a estimular

Enriquecimentocurricular

Inserção sociale profissional

Hábitos de vidasaudáveis

Considera, também, que a promoção da qualidade educativa e forma-

tiva e a garantia de melhores aprendizagens para todos exigem um

decidido investimento no âmbito do desenvolvimento curricular e das

práticas pedagógicas, com reforço das metodologias activas de ensino

e de formação dos docentes e dos técnicos, bem como a implemen-

tação de metodologias de avaliação, ao nível científico e pedagógico.

São outras orientações a ter presentes neste domínio:

Apostar em processos de flexibilização curricular, promovendo

a continuidade pedagógica, no sentido da adequação do trabalho à

diversidade dos contextos e, simultaneamente, da promoção de uma

aprendizagem de melhor qualidade para todos;

Valorizar o ensino experimental das ciências, a aprendizagem

das línguas modernas, a educação artística, cultural, física e desportiva,

a educação para a cidadania e a aprendizagem de novas linguagens

tecnológicas, e reforçar o núcleo central do currículo nos domínios da

língua materna, da matemática e das humanidades;

Desenvolver processos diversificados de enriquecimento do

currículo, de acordo com os interesses dos educandos, em estreita ar-

ticulação com a intervenção das famílias e como resposta às res-

pectivas necessidades, no sentido de assegurar percursos educativos e

formativos susceptíveis de favorecer o pleno desenvolvimento das

capacidades dos educandos e contribuir para a sua inserção social e

profissional;

Privilegiar a educação para a saúde, com vista à promoção de

hábitos de vida saudáveis;

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Empreendedorismo

Associativismo

Famílias

Contratualização

Implementar metodologias e instrumentos de aferição das

aprendizagens;

Promover uma cultura de iniciativa, de solidariedade, de

empreendedorismo, de participação e de responsabilização dos edu-

candos, enquanto exercício de construção de uma cidadania plena e de

preparação para a integração na vida activa;

Favorecer processos de associativismo dos educandos;

Garantir a plena inclusão de todos os educandos com necessi-

dades educativas especiais;

Reforçar estratégias de inserção profissional.

2.4. A NÍVEL DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIASNa linha do que tem vindo a ser referido neste documento, o envolvi-

mento responsável das famílias na definição do projecto de vida e na

construção do plano de desenvolvimento pessoal das crianças e dos

jovens, sendo factor decisivo para o seu equilíbrio físico e emocional, é

factor de sucesso da acção socioeducativa.

Assim, é primordial na interacção com as famílias:

Reconhecer o direito/dever das famílias de desenvolverem

competências parentais que garantam o crescimento equilibrado dos

seus filhos e de lhes assegurarem projectos educativos de qualidade;

Contratualizar processos e procedimentos de co-responsabi-

lização da CPL,IP e das famílias na elaboração dos planos de desen-

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Inovação

Associativismo

A CPLconstrói futuros

Intervençãoem Rede:

volvimento pessoal nos projectos de vida das crianças e jovens e nos

seus processos educativos e formativos;

Desenvolver novas respostas de intervenção junto das

famílias, de forma a prevenir situações de exclusão, diminuir os índices

de acolhimento residencial e concretizar a inserção familiar e social o

mais precocemente possível;

Promover estratégias e desencadear processos facilitadores da

participação das famílias na vida da CPL,IP;

Apoiar e favorecer processos de associativismo das famílias.

2.5. A NÍVEL DA ORGANIZAÇÃONo âmbito do processo de reestruturação em curso, procurando dar

expressão ao objectivo de ver reconhecido o papel insubstituível dos

CED na organização da CPL,IP, assumem-se os seguintes princípios e

orientações:

Autonomia - progressivo reforço da autonomia dos CED, indis-

sociável da promoção da sua responsabilização, implicando a redução

da ambiguidade na delimitação de competências e um efectivo acrésci-

mo da capacidade para executar e fazer executar os planos e projectos

concebidos no exercício dessas competências;

Diversificação da oferta de serviços - consagração de uma

oferta diversificada de modelos de acolhimento e de natureza socio-

educativa - dirigida a crianças desde os 0 anos e que compreenda per-

cursos de habilitação escolar e de qualificação profissional em todos os

níveis de ensino não superior - dinamizados em diversas modalidades

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Intervençãoem Rede:

Participação

Solidariedade

Responsabilidade

Colaboração

Segurança

Boas Práticas

de ensino, no âmbito da autonomia pedagógica da CPL,IP -, bem como

respostas na área do ambiente e lazer. Esta diversificação implica uma

crescente especialização dos diversos CED, privilegiando uma inter-

venção em rede de complementaridade e evitando sobreposições

desnecessárias e prejudiciais para o reforço da eficácia e da eficiência

da intervenção global da CPL,IP;

Cultura organizacional - criação de uma comunidade socio-

educativa assente nos valores da responsabilidade, da colaboração, da

segurança e da solidariedade, em que todas as pessoas são valoriza-

das e incentivadas a melhorar as aprendizagens e a reforçar a partici-

pação dos educandos e das famílias;

Abertura institucional - aprofundamento do relacionamento

dos CED com outras instituições, com abertura à participação dos dife-

rentes agentes sociais, culturais e económicos e à promoção de formas

de mobilidade e de parcerias que contribuam para o reforço de dinâmi-

cas de inovação.

2.6. A NÍVEL DOS PROCESSOS DE TRABALHO E DOSESPAÇOS

São orientações a ter presentes:

Incentivar o desenvolvimento de metodologias diversificadas,

nomeadamente as de gestão por processos e de projecto, bem como

a aprendizagem cooperativa;

Assegurar o acesso generalizado à informação científica e

tecnológica;

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Indicadores deeficiência, de eficácia

e de impacto

Igualdade

Apoiar a inovação e a investigação, procurando valorizar e

divulgar as boas práticas e estabelecer redes de permuta que poten-

ciem a inovação e a capacidade de resposta aos novos desafios socio-

educativos;

Promover um sistema global de avaliação interna e externa

constituído por indicadores que afiram a eficiência, a eficácia e o

impacto;

Racionalizar e rentabilizar infra-estruturas e equipamentos;

Adaptar os espaços físicos às respostas sociais e educativas da

CPL,IP, dedicando especial atenção à questão das acessibilidades, que

devem ser garantidas em situação de igualdade para todos.

3.ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS PARA A

INTERVENÇÃO

3.1.RESPOSTAS SOCIAIS

3.1.1.ACOLHIMENTO RESIDENCIAL E FAMILIAR

No que se reporta às estruturas de acolhimento para crianças e jovens

em risco e em perigo, será considerada a definição dos diversos tipos

de resposta, nos termos definidos na Rede de Inserção Social (RIS)

para a CPL,IP:

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Crianças e jovensem perigo

Crianças e jovensem situação de

urgência

Crianças e jovenscom dificuldades

de socialização

Transição paraa vida adulta

Integraçãoem meio familiar

Residência de Acolhimento

Estrutura que visa oferecer uma resposta social, desenvolvida em

equipamentos que podem ter valências diversificadas, destinados ao

acolhimento residencial de crianças e jovens em situação de perigo, de

duração superior a seis meses, com base na aplicação da medida de

promoção e protecção.

Unidade de Emergência

Resposta social integrada, ou não, noutras estruturas de acolhimento

residencial de crianças e jovens, constituída por vagas permanente-

mente disponíveis e que tem por finalidade o acolhimento urgente e

transitório de crianças e jovens em situação de perigo, para os quais

não existe resposta imediata.

Unidade Terapêutica e de Socialização

Resposta residencial direccionada para uma intervenção de cariz te-

rapêutico, com vista a uma mudança de comportamento sustentada e à

melhoria das competências pessoais e sociais de crianças e jovens,

com perturbações emocionais e dificuldade de interacção social.

Apartamento de Autonomização

Resposta social, desenvolvida em equipamento - apartamento inserido

na comunidade local -, destinada a apoiar a transição para a vida adul-

ta de jovens que possuem competências pessoais específicas, através

da dinamização de serviços que articulem e potenciem recursos exis-

tentes nos espaços territoriais.

Acolhimento Familiar

Resposta social desenvolvida através de um serviço e que consiste na

atribuição da confiança da criança ou do jovem a uma família ou a uma

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Orientaçõesespecíficas

pessoa singular, habilitadas para o efeito, tecnicamente enquadradas,

decorrente da aplicação da medida de promoção e protecção, visando,

assim, a sua integração em meio familiar.

3.1.2.AMBIENTE E LAZER

Na CPL,IP, a educação ambiental, com as suas componentes de obser-

vação e experimentação como base pedagógica, é considerada in-

dispensável para uma educação integral. A capacidade demonstrada

pela educação ambiental para surpreender e motivar os educandos

aponta-a como uma via privilegiada para apoiar crianças e jovens com

necessidades educativas específicas.

Na visão da CPL,IP, a educação ambiental assume as seguintes ver-

tentes:

Animação ambiental

Com actividades realizadas em períodos extra-lectivos, sem formali-

dade nas aprendizagens, associando o lúdico e o pedagógico de forma

harmoniosa.

Educação agro-ambiental

As actividades agro-ambientais aplicam-se em contextos de ensino,

integrando projectos educativos e colaborando no desenvolvimento de

metodologias de ensino práticas e inovadoras.

Formação agro-ambiental

As actividades visam dotar o educando de competências específicas

nos domínios agro-ambientais, contribuindo para a sua qualificação e

integração profissionais.

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Orientaçõesespecíficas

É, ainda, neste contexto que se enquadra o Centro de Férias e de

Lazer, resposta social, desenvolvida em equipamento, destinada à

satisfação de necessidades de lazer e de quebra da rotina, essencial ao

equilíbrio físico, psicológico e social dos seus utilizadores.

3.1.3. INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA

A intervenção comunitária desenvolvida pela CPL,IP constitui uma

resposta dirigida às famílias residentes num Bairro Social (situado no

Monte da Caparica), que razões históricas colocaram na esfera de

actuação da Instituição.

A CPL,IP aposta na Intervenção Comunitária como um meio de

diminuição das situações de institucionalização, através do desenvolvi-

mento das competências das famílias e da criação de condições para

o desenvolvimento das crianças.

Como em qualquer intervenção deste tipo, a acção da CPL,IP neste

domínio caracteriza-se pelo carácter global e integrado da abor-

dagem que faz da comunidade, das famílias, com especial enfoque nas

crianças e nos jovens.

Com uma natureza eminentemente preventiva, a intervenção

comunitária enquadra-se, com as suas especificidades, na precoci-

dade da actuação que se pretende para toda a Rede CPL,IP, evitando

que surjam ou minorando a incidência de problemas sociais. O reforço

desta intervenção e, sobretudo, das vias de a colocar ao serviço da

acção global da CPL,IP são desafios presentes.

A intervenção comunitária da CPL,IP concretiza-se a partir de:

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Orientaçõesespecíficas

Centro Comunitário - Resposta social, desenvolvida em

equipamento, onde se prestam serviços e desenvolvem actividades

que, de uma forma articulada, tendem a constituir um pólo de animação

com vista à prevenção de problemas sociais, nomeadamente na área da

infância e juventude, e à definição de um projecto de desenvolvimento

local, colectivamente assumido.

Atendimento / Acompanhamento social de famílias - respos-

ta social desenvolvida através de um serviço de primeira linha, que visa

apoiar as pessoas e famílias na prevenção e/ou reparação de proble-

mas geradores ou gerados por situações de exclusão social e, em cer-

tos casos, actuar em situações de emergência.

3.2. RESPOSTAS EDUCATIVAS E FORMATIVAS

3.2.1. RESPOSTAS EDUCATIVAS

A CPL,IP propõe-se desenvolver um conjunto diversificado de respostas

educativas, acompanhando o percurso da criança desde o seu nasci-

mento, de forma a prevenir o aparecimento de situações de risco ou a

minorar o grau de incidência destas.

São respostas da CPL,IP nesta área:

Creche

Os serviços de creche da CPL,IP têm como principal função responder

às necessidades específicas de cada criança e da sua família, incen-

tivando a participação desta no processo educativo, fomentando a for-

mação parental e estabelecendo relações de efectiva parceria com a

comunidade.

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Orientaçõesespecíficas

Afirmam-se não só como um espaço que recebe e guarda crianças mas,

sobretudo, como uma resposta socioeducativa que procura satisfazer

as necessidades de desenvolvimento da criança, em permanente inter-

acção com as famílias.

Estes serviços são vistos em função de duas dimensões interdepen-

dentes: uma dimensão social e uma dimensão educativa, operaciona-

lizadas numa perspectiva de intervenção precoce, incluindo:

Um conjunto de acções de educação precoce, com intervenção

ao nível educativo, no sentido de estabelecer medidas que ajudem a cri-

ança a adquirir competências, tendo em vista o seu desenvolvimento e

a sua autonomia;

Um conjunto de acções de estimulação precoce, no sentido de

estimular processos de aprendizagem no âmbito sensorial, motor,

cognitivo, da linguagem, emocional e social.

Educação Pré - escolar

A CPL,IP assume a educação pré-escolar como a primeira etapa da

educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo

complementar da acção educativa da família, com a qual deve esta-

belecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvol-

vimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na

sociedade como ser autónomo, livre e solidário.

Neste quadro, a intervenção da CPL,IP ao nível da educação pré-esco-

lar visa alcançar os seguintes objectivos:

Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com

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Orientaçõesespecíficas

base em experiências de vida democrática, numa perspectiva de edu-

cação para a cidadania;

Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no

respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva

consciência do seu papel como membro da sociedade;

Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à esco-

la e para o sucesso da aprendizagem;

Estimular o desenvolvimento global de cada criança, no

respeito pelas suas características individuais, incutindo comporta-

mentos que favorecem aprendizagens significativas e diversificadas;

Desenvolver a expressão e a comunicação através da utilização

de linguagens múltiplas como meios de relação, de informação, de sen-

sibilização estética e de compreensão do mundo;

Despertar a curiosidade e o pensamento crítico;

Proporcionar a cada criança condições de bem-estar e de segurança,

designadamente no âmbito da saúde individual e colectiva;

Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências e pre-coci-

dades, promovendo a melhor orientação e encaminhamento da criança.

Ensino Básico

A educação básica constitui um desafio a que todos os países desen-

volvidos dão hoje maior atenção. Por um lado, porque os estudos de li-

teracia mostram que só uma formação inicial prolongada, sólida e con-

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sistente garante que não haja regressão nos saberes essenciais, quais-

quer que sejam os modos de vida; por outro lado, porque a escolaridade

básica constitui o começo de um processo de educação e formação ao

longo da vida, imprescindível para responder aos novos desafios pes-

soais e sociais.

Assegurar a educação básica para todos os educandos significa prestar

uma particular atenção aos saberes essenciais, evitando a dispersão

provocada por programas muito extensos e, paradoxalmente, com

importantes lacunas entre si. Assegurar a educação básica para todos

os educandos significa também explicitar as dimensões cívicas, para

que a instituição não se limite a reproduzir exemplos e contradições da

vida social.

Principais orientações para o ensino básico:

Contribuir para que seja assegurada uma educação de base

para todos, entendendo-a como início de um processo de educação e

formação ao longo da vida, o que implica conceder uma particular

atenção às situações de exclusão ou de risco de exclusão e desen-

volver um trabalho de clarificação de exigências quanto às aprendiza-

gens cruciais e aos modos como se processam;

Assumir a importância do 1.º ciclo enquanto ciclo estruturante

do processo de aprendizagem ao longo da vida, o que implica uma

particular atenção aos equipamentos, ao enriquecimento da oferta

pedagógica e à formação dos docentes;

Reforçar a continuidade entre os três ciclos de ensino, quer

no plano curricular, quer na organização de processos de acom-

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Orientaçõesespecíficas

panhamento e indução que assegurem, sem perda das respectivas

identidades e objectivos, uma maior qualidade das aprendizagens;

Aplicar o Currículo Nacional, promovendo e apoiando a gestão

curricular flexível e assegurando, em todos os ciclos, que as activi-

dades de instrução e de educação para a cidadania se combinem de

modo consistente e permanente;

Avaliar e desenvolver experiências de adaptação curricular,

quer as que visam primordialmente prevenir a exclusão e o abandono,

quer as que, para além deste objectivo, pretendem estabelecer um inter-

face eficaz com o mundo do trabalho;

Dar uma especial atenção à orientação escolar e vocacional;

Promover a organização dos apoios educativos às crianças e

aos jovens com necessidades educativas especiais, no sentido de

assegurar a sua plena integração na vida escolar.

Ensino Secundário Artístico

O ensino secundário polariza muitas esperanças, enquanto etapa de

preparação dos jovens para o ensino superior e para a entrada no

mundo do trabalho.

No quadro das recomendações da Comissão Europeia, que enfatiza a

necessidade de alargamento da escolaridade obrigatória para além dos

9 anos, e assumindo a sua responsabilidade de assegurar ofertas

educativas e formativas, designadamente ao nível do Ensino

Secundário, que correspondam a reais carências do sistema e a alter-

nativas não oferecidas pelas escolas públicas secundárias, a CPL,IP

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adopta como principais orientações:

Assumir o ensino secundário na sua dupla natureza de ciclo

intermédio de prosseguimento de estudos e de ciclo de formação termi-

nal, o que pressupõe, nomeadamente, o reforço dos mecanismos e

estruturas de orientação e informação que favoreçam a transição

entre a escolaridade básica e os diferentes percursos de educação e de

formação dos níveis secundário e superior, cuja especificidade deverá

ser reconhecida e valorizada;

Dar uma especial atenção a formações secundárias alter-

nativas às oferecidas pela rede pública de escolas secundárias, as-

segurando uma maior abertura ao mundo profissional e a possibilidade

de orientar e reorientar percursos educativos e formativos;

Assegurar a articulação, a harmonização e a permeabilidade

entre as várias ofertas de formação de nível secundário, com aplicação

de princípios gerais de equivalência e de certificação;

Inscrever o ensino secundário num programa global e coerente

de educação permanente, adoptando medidas que visem estimular a

aquisição e a actualização, ao longo de toda a vida, do saber, do saber-

-fazer e das competências relacionais requeridas para uma eficaz

inserção na vida colectiva, dirigidas, em especial, aos indivíduos e aos

grupos marcados por processos de exclusão social;

Favorecer nos jovens as capacidades de iniciativa, de realiza-

ção e de empreendedorismo e a disponibilidade para assumir o risco,

num quadro de vida marcado por valores de cooperação e de soli-

dariedade social.

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Orientaçõesespecíficas

3.2.2. RESPOSTAS FORMATIVAS

Numa perspectiva de preparação dos jovens para a vida activa e de

reforço da sua empregabilidade, a formação da CPL,IP, rege-se, em

termos globais, pelos seguintes parâmetros: Procura do equilíbrio

entre a vontade e vocação dos jovens e as necessidades do merca-

do de emprego; perspectiva de educação e formação ao longo da

vida; estímulo ao empreendedorismo, pela capacitação para a criação

do próprio emprego e desenvolvimento de actividade independente.

Formação inicial qualificante

O modelo pedagógico da CPL,IP assume como prioridade a adopção de

medidas que visam, de forma sistemática, a promoção do sucesso

educativo, bem como a prevenção dos diferentes tipos de abandono

escolar, designadamente o desqualificado. A CPL,IP assume, assim, o

seu papel estratégico de contribuir para a promoção das condições de

favorecimento da empregabilidade e de transição para a vida activa dos

educandos, tomando em consideração os seus interesses e expectati-

vas, bem como as necessidades do mercado.

No âmbito da formação inicial qualificante, a acção da CPL,IP consi-

derará as seguintes orientações:

Organizar cursos de educação e formação para jovens que

não tenham concluído a escolaridade obrigatória, associando uma cer-

tificação escolar (6.º ou 9.º ano de escolaridade) a uma qualificação

profissional (nível I e nível II), tomando como referência a legislação em

vigor para este tipo de cursos;

Organizar cursos profissionais de nível secundário, cuja

conclusão, com aproveitamento, conferirá um diploma de ensino

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Orientaçõesespecíficas

secundário e uma qualificação profissional de nível III, tomando como

referência a legislação em vigor para este tipo de cursos;

Promover oferta formativa com construção de novos referenci-

ais curriculares, através de legislação própria;

Promover a formação em contexto de trabalho, integrada nos

referenciais curriculares, e a realização de estágios pós formação,

em empresas, serviços, instituições de cariz social ou centros de inves-

tigação, entre outros, procurando, assim, incentivar a aproximação ao

mundo do trabalho e facilitar a inserção profissional dos educandos.

Especialização tecnológica

A CPL,IP propõe-se avançar com a oferta de Cursos de

Especialização Tecnológica (CET), possibilitando a realização de for-

mações pós-secundárias não superiores que visam conferir uma quali-

ficação profissional de nível IV, obtida através da conjugação de uma

formação secundária, geral ou profissional, com uma formação técnica

pós-secundária.

A formação a oferecer pela CPL,IP, no desenvolvimento das diversas

formações de nível secundário disponíveis na instituição, caracteriza-se

por:

Corresponder a uma formação técnica de alto nível;

Incluir conhecimentos e capacidades que pertencem ao nível

superior;

Permitir assumir, de forma geralmente autónoma ou de forma

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independente, responsabilidades de concepção, de direcção ou de

gestão.

Esta formação desenvolve-se em regime de parceria, esta-

belecida entre a CPL,IP e empresas, outras entidades empregadoras,

associações empresariais ou sócio-profissionais, entre outras, e poderá

adoptar diferentes modalidades, designadamente estágios.

3.2.3. EDUCAÇÃO ESPECIAL

A CPL,IP promove a reabilitação, o ensino, a formação profissional e a

inserção social e profissional de crianças e jovens com necessi-

dades educativas especiais, inspirando-se em princípios que colhem,

hoje, o consenso generalizado dos agentes educativos e formativos,

nomeadamente:

O direito à educação das crianças e dos jovens com necessi-

dades educativas especiais, designadamente em idade de escolaridade

obrigatória, no âmbito do ensino regular, sem prejuízo do desenvolvi-

mento de respostas educativas especializadas;

O direito de todas as crianças e de todos os jovens à igualdade

de oportunidades para o acesso e o sucesso educativos, sem qualquer

tipo de discriminação, com a disponibilização de recursos e apoios

educativos adequados às necessidades individuais;

A perspectiva de escola para todos, procurando dar respostas

diferenciadas às necessidades de cada um, devendo ser esgotados

todos os meios para manter o educando no ambiente escolar normal;

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Educação especialtransversal

a todas as respostas

Orientaçõesespecíficas

O reconhecimento de que a educação especial deve atravessar

toda a oferta sócio-educativa da CPL,IP, integrando-se nela de forma

coerente e harmoniosa até aos limites impostos pela sua especificidade.

Deve estruturar-se e posicionar-se como recurso da instituição e não

como serviço destinatário para onde são enviados os alunos com pro-

blemas.

De acordo com estes princípios, considera-se que a intervenção junto

das crianças com necessidades educativas especiais deve começar

logo que sejam detectados os factores de risco ao seu desenvolvimen-

to, independentemente da idade.

A escolarização dos educandos com necessidades educativas es-

peciais faz-se de forma apoiada e continuada, sendo periodicamente

revistas as decisões sobre as medidas do regime educativo especial

adoptadas.

Este tipo de educação requer, porém, o recurso a metodologias e

estratégias específicas que passam pelo cumprimento das orientações

a seguir enunciadas:

Dar uma especial atenção aos factores susceptíveis de favore-

cer a qualidade do ensino das crianças e jovens com necessidades

educativas especiais, designadamente através da formação de recur-

sos humanos, do reforço da dotação de meios humanos devidamente

especializados, de meios materiais, da promoção da inovação e

investigação e da adaptação dos espaços físicos;

Promover adaptações curriculares, incluindo no domínio da

avaliação, que tomem em consideração as necessidades específicas

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das crianças e dos jovens, as quais servirão de base às decisões sobre

os apoios educativos complementares a prestar aos educandos;

Adoptar modelos inclusivos que tenham como foco a sala de

aula, que implementem uma avaliação interdisciplinar e que potenciem

ambientes colaborativos e flexíveis;

Dinamizar a constituição de equipas pluridisciplinares com-

postas por técnicos com formação diversificada que apoiem directa-

mente os educandos, preferencialmente em contexto natural (sala de

aula, família e comunidade), e os agentes educativos, nas suas práticas

do dia a dia, e que se envolvam na construção dos documentos estru-

turantes da actividade dos CED (Projecto Educativo, Projecto Curricular,

Projectos Curriculares de Turma e Planos Educativos Individuais);

Desenvolver práticas de inclusão, com diversificação de

respostas com vista à maximização das competências do educando

com necessidades educativas específicas, em conformidade com o seu

Projecto de Vida;

Promover o desenvolvimento da língua gestual, bem como a

sua utilização nos CED com intervenção especializada para alunos por-

tadores de surdez de graus severo e profundo, bem como a formação

dos docentes que trabalham com esta população, quer no que se re-

fere à língua gestual portuguesa quer no que diz respeito ao ensino

da língua portuguesa como segunda língua das crianças surdas;

Garantir o apoio educativo e a reabilitação de crianças,

jovens e adultos surdocegos;

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A “memória”da CPL

Desenvolver estratégias que facilitem a aprendizagem da

comunicação alternativa em crianças, jovens e adultos surdocegos;

Implementar estratégias de apoio à inserção social e profis-

sional, adequando estas às competências adquiridas.

3.3.CULTURA E CONHECIMENTOTal como foi dito para o ambiente, a formação integral das crianças e

dos jovens exige a exploração das áreas da cultura e do conhecimento.

Sendo a CPL,IP uma instituição com um passado tão rico, importa

garantir a sua memória através de um repositório histórico acessível a

todos e, sobretudo, rentabilizando-o em prol da missão que a Instituição

assume junto das crianças e dos jovens.

Em associação à cultura, as artes têm na CPL,IP um lugar de destaque

e traduzem-se em muitas e diversificadas intervenções, de que, entre

outros, o teatro, a música, a pintura e a escultura são exemplos.

Tendo em vista constituir um património cultural e artístico comum,

importa, primeiro, reunir as muitas intervenções da CPL,IP nestes

domínios para, depois, as divulgar e colocar ao serviço de todos.

O Centro Cultural Casapiano constitui o repositório da memória e da

história da CPL,IP, onde se materializa a importância de associar a ino-

vação à tradição.

Enquanto veículo de transmissão de informação e cultura, o Centro

Cultural Casapiano constitui uma ponte entre a CPL,IP os seus educan-

dos e a sociedade em geral. Deve ser o espelho da Instituição e um

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Descentralizaçãoem rede

Inovaçãopara a

qualidade

complemento inequívoco do processo de educação e formação das cri-

anças e dos jovens, promovendo o conhecimento e salvaguarda da

memória e da identidade casapianas, através do património, símbolos

e manifestações sócio-culturais e artísticas.

4. ESTRUTURA E RECURSOS

4.1. A CPL,IP COMO ORGANIZAÇÃO EM REDEO reforço de uma cultura de administração responsável configura um

funcionamento em rede, em que cada Centro de Educação e

Desenvolvimento (CED) concorre para a missão da CPL,IP, na base da

complementaridade, da subsidiariedade e da solidariedade.

Por outro lado, também a multidimensionalidade dos problemas e a

sua crescente complexidade conduzem à necessidade de se trabalhar

em rede, aprofundando a cultura da cooperação e da partilha, num con-

texto de descentralização real.

Reconhecendo esta realidade, a CPL,IP apresenta-se como uma estru-

tura em rede, prosseguindo uma missão e objectivos estratégicos

assumidos colectivamente e concretizados por cada elemento da rede,

segundo as suas competências e responsabilidades, estabelecidas em

função da organização como um todo. Nesta perspectiva, o todo CPL,IP

é diferente e mais vasto do que a simples soma das partes que o com-

põem.

O funcionamento em rede tem também associada a ideia de movi-

mento e o sentido dinâmico das inter relações e da aprendizagem

mútua, na procura da inovação e da qualidade crescente.

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A CPL,uma comunidade

aprendente

Agentes educativos

Trabalhocompetente

e emequipa

4.2.Os Recursos Humanos e as EquipasOs colaboradores da CPL,IP devem assumir-se cada vez mais como

profissionais reflexivos e agentes construtores da aprendizagem numa

organização que, ela própria, se assume como aprendente. Para que

estes objectivos sejam alcançados, é indispensável a intervenção

empenhada e criativa de todos os profissionais que trabalham na

CPL,IP, quer em termos individuais, quer em termos de equipas. No

caso particular dos docentes, considera-se indispensável que, a par da

identificação de necessidades de aprendizagem nos alunos, todos os

educadores e professores reconheçam e procurem ultrapassar as suas

dificuldades no âmbito do ensino e/ou da relação pedagógica.

No quadro do modelo socioeducativo agora afirmado, todos os agentes

educativos - educadores, docentes, formadores e técnicos - são, es-

sencialmente, promotores de desenvolvimento pessoal e social, de

educação e de formação, na medida em que são chamados a partici-

par na concretização do projecto socioeducativo da CPL,IP, a co-orien-

tar o percurso pessoal, familiar e educativo de cada criança e jovem e a

apoiar os seus processos de desenvolvimento, de inserção e de apren-

dizagem, sendo solidariamente responsáveis por todas as decisões

tomadas.

É essencial que os agentes socioeducativos evidenciem competências

profissionais, sejam capazes de trabalhar em equipa e de desempenhar

as suas funções de forma dinâmica. Trata-se de dar respostas ade-

quadas e eficazes, promovendo um relacionamento em rede e estabele-

cendo parcerias com as entidades (empresas e outras organizações e

instituições) das zonas onde os jovens e as suas famílias residem.

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"Há pelo menos três leituras possíveis da

Declaração dos Direitos da Criança: uma que a

interpreta como uma lista inspiradora de reivindicações

a exigir de uma entidade que tenha a seu cargo o bem-

estar das crianças; outra, a que se sente como um apelo à

consciência universal; uma terceira que a pode explicar como

um guia para exigir dos outros e de nós próprios um debate e

uma reflexão sobre a situação da criança no mundo de hoje e

uma actuação colectiva para defesa das necessidades bási-

cas das crianças."

João dos Santos

In "Ensaios sobre Educação - II"

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Ficha Técnica

Textos:Colaboradores da Casa Pia de Lisboa

Paginação e Layout:Filipa Moura e Filipa Neves

Impressão:STM SA.

Tiragem:1000 exemplares

ISNB 978-972-99248-8-0

Depósito Legal 261408/07

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