- aprese tada coord na- · 2019. 10. 18. · 5 da imprensa pode ser vista a partir d e um movimento...

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O JORNALISMO LITER�RIO por HÉRIS ARNT T�LLES tERREIRA iraa Maior: Sistemas da Comunicaç;o Dissertação de Mestrado em Comu- nicaçãb, aprese�tada � Coord�na- - , - çao da Pos-Graduaçao em Comuni- cação da Universidada rederal do. Rio de Janeiro. O rientadora: Professora. Doutora Nizia Maria da Souza Vilfaça Rio de Janeiro, 1. semestre de 1990

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Page 1: - aprese tada Coord na- · 2019. 10. 18. · 5 da imprensa pode ser vista a partir d e um movimento entre duas vertentes, a d2 opin.i"ão e a iriform~tivn. O jornalismo d13 opi n

O JORNALISMO LITER�RIO

por

HÉRIS ARNT T�LLES tERREIRA

iraa Maior: Sistemas da Comunicaç;o

Dissertação de Mestrado em Comu­

nicaçãb, aprese�tada � Coord�na-- , -

çao da Pos-Graduaçao em Comuni-

cação da Universidada rederal do.

Rio de Janeiro.

Orientadora: Professora. Doutora

Nizia Maria da Souza Vilfaça

Rio de Janeiro, 1. semestre de 1990

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.!

. .

S U MÁRIO ·

1 IN TROOUÇÃO

. 2 - A INFORMAÇÃO E A OPINIÃO NA HISTdRIA DO JORNALISMO

2.1 - A crítica liter�iia

·. 2.2 - A· informação nos Estados Unidos e Brasil

3 UM .JORNALISMO PARA AS MASSAS

4 - JORNALÍSMO LITER�RIO NO BRASIL ,

�-1 - Jose da Alencar

4.2 - Um projeto para o Brasil

4.3 - Machado de Assis .

4.4 Concepções palitices dà Machado de Assis

5 o·JoRNALISMO LITERÁRIO NOS ESTADOS UNIDOS

6 - O FOLHETIM

6.1 Charles Dickens

6.2 BaJ,.zac

6.J - Mam�rias de um Sarg�nto da Mil{cias ·

7 - CONCLUSÃO

' 8 - BIBLIOGRAFIA

9 - NOTAS

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SINOPSE

, No saculo XIX os escritoras participaram

atlvamsnte da vida dos jornais, influen­

ciando na forma a concepção de fazer jor-•

À

. nal, criando o feno.mano do jornalismo li-. ,

terar�o. A literatura foi, em contrapar-

tida, profundamente marcada por e�ta pas­

sagem dos escritores pela imprensa.

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1- lr!TRODUÇ�O·

O objetivo dP.ste trabalho 6 83t,�dor o jornal ismo do 3�culo

XIX, mostrando a influ8ncin -'os escritori:>s no jornalLJmo, e o efei-·

to sobre· D literatura desta passagem de e3critores -pela imp�ensa.

A p�rticipaç�o dos escritoras como editores, articulistas, cro­

ni�tas e autores de folhetim foi· de tal ordem que podemos qua­

lificar �jte per!odo como do jor�oli�mo liter;rio. . . ' ; . , . . . "'

O termo JornQlismo literario, n� acep�ao que damos neste

trabalho, refere-se �o perlodo que comGça em m�ados de 1830 e

vai até o final do s�culo ?- que n.e ca:ràcteriza pe1la prc:nença

mar.i;a de escritores na impronsa; melhorando a qualidade do

texto, lev8ndo os jornais a grandes tiragens e criando um p�­

blico para a literatura. A pcrtlcipaç�o de escritores d�u-se ,ll. ••

na, forma da. crônica, [olheti'.� e publicações de contos e ro-

m2nces em cap{tulos� O jorn�lismo liter;rio possibilitou um ti-

po çle.

..., informaçao mais sutil sobre a sociedade, interfirindo

no pr6prio caminho percorrido pela litératura, e determin�ndo ,

·o tipo d� jornalismo do a8culo XX - informativo e atrannte... • • • t , • ,IV

O Jornalismo literario nno se f ' . . re ere a imprsnsa sspecia-,. . ,

lizada am literatura, quo f�i um fenorncno que apareceu no secu-• .. !,

lo �:'JII 8 que perdura, hoje,·.:.nos jornE.,is e revistas 8'.3pecia.J.i-

·t t l t d 1· "· ... 1·t z a d o s em l i · e r a u r a , no s s u p 8 m e n o s ·· e i v r os e na e r J. •: i e a _ i e-

, . J.' l't , . , f' ! b f . rar2: .• Jor118. 1'3mo i erctrio .o uma · orm-n ( o cones or 8 · êlzer Jor-. ' .

nal r1un e rlr:1.-.envolveu no -;;rrrl o vl'' e ·rl'J"' se caractorizou pe-

1: mil:t:nc::

º

�.e escr�torn:����.mp:o�sa, �:vnndo a literatura pa-

, ;_ .!l - • · 1· • r-ri' ·ti' e·, "'J + 1· 1 'a �';"'r. �- ···t! t. • "'.·. e.o", t, __ ,_r� :":'; 13 p�r-n s f�0-�;5 Jorn ... 1 .. .:1 .(� ·\ . ..,. .,r_, :.L oJ .. _ C ,..t;J � �-

, m 3S n cc"-'.

. . ,

. o j·.:11 l�·-rn10 l:i.ter ·:n.n '."'tpr,rec� como uma

entre o jn:r11:üismo inforr.mtivo e r:!1:J Dpini;o.

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da imprens a pode ser vista a partir d e um movimento e ntr e duas

vertentes, a d2 opin.i"ão e a iriform~tivn. O jornalismo d13 opi­

n ião c ar a e t é ri z a - s e p e l a c r i t i e o , p e l a t o.m o d a d e p o s i ç o o , e o , , ' ,

jornalismo . qu::: r:fefende idei as politi c as e filosoficas. Ternos

exemp lo s de gr8ndes momentos desta imp re nsa na Franç a c orn o

jorn álismo prÓ Saint-Simon, a imp rensa da Independência nos

Est3dos Unido s e a i 111p rensa abolicionista no Brasil. Nas suas

forrnas ;nais exacerbadas, o j ornal.is mo de op inião se torn a um

jorn a lismo de acusação e detr atação.

O jorn ali smo informativo, PDF outro l~do, pro cu r a ter

um a visio imp a rc ial e objetiva dbs fatos e , por isso, Evita

en r3 ajar-se em c ausas poliU. ca s . Ern su8 for ma primitiv a , nas­

ceu c o m os faj._t-divers relat ados nos ~ .. ?j .. _ do século XII, a ­

vançou no s per iodos de guerr a, quando emiss~rios traz iam as

notícias que se riam im pressa s, e a obj et iv id ade dos r elatos

er8 irnp re scindiv el. Na hist~r ia da im pr ensa a defes a da objs­

t ividade encobr e um rigi~o controle do s poderes const ituidos

e das classes dominantes s obEs a informaç~a.

O jorn a lismo liter~rio ~ esta t e rcei~a vertente que

cons ::,gue at r :=iv ~s da ficção e d a crô nic a f aze r a sinte sG e n­

tr e inforrn acão e oi:.iiniÕo. Di cl : ens cobria o Parlam ehto ing lês,

r1a cliado d e Assi s o Senado br asilei ro. l·lark Twain passo u por

tod os os ::,etore s de um jornal, Victnr Hu go , Balzac a Zol a

.passa r am r:8lo j o rna.l i ~1rno . Oo s tri ievsk i ti rou Crirn.,.q . . ê. f..~~tJ go

dos p~gin as crimin ais . , dos jorn ::i is. Ha rna is . f .. ln O f' l l l ,:JÇ C'l!3B n as

" , . d .J cronicas_ pol.it1. cas e 1,·1achad o ue Assis, Dickens e Seb a Smith

(M ajo r Jack Dowing) do que n as p~ginaa exac erbad~s , do s I , , , ..

quins ~oli tico s. Atreves da ficç ao folhetinesca que ..

p r e te n d ia i n fo rma tiva , nem d e el a r ad a III e n ta c r 1 t .i. c a ,

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mos amai~ rica informação sobre o s~culo XIX e a critica ,

profunda aos costumes da epoca.

No s~culo XIX literatura e jornalismo sio indissoci~--

veis. , .

Os maiores escritores do secuo XIX passaram pela im-

prensa e muitos, antes de se tornarem romancistas, foram jor-, .

nalistas, corno Mark Twain, Jose de Alencar, D1ckens, Machado

de Assis eritre outros. ,

No Bra s il o jorna.l.isrno literario foi particularmente

importante porque o movimento editorial de livros era fraco,

não existiam gráficas e os livros tinham que ser impressos

em Portugual e Londres. Pr a ticamente todos os escrit ores pas­

saram pela fmprensa: Alofs i o d.e Azevedo, Raul Pornpéia, Vis-,

conde de Taunayt Joaquim Manoel de Macedo, Jose de Alencart

Manoel AntGnio de Almeida, Machado de Assis, Euclides ja Cu­

nha entre outras. ... ...

Nog Estados Unidos po r outras razoes que serao aqui a-

nalisadas, apesar da ter havi do um movimento editorial de ,

livros bastante desenvolvido, os escritores americanos so ,

tinham pos s ibilidade de pub l icar suas obras atraves da im-

prensa~ Na Europa, o jorna l ismo lit s r~rio forjou uma nova

literatura, mais ligada ao homem e suas reais agruras. Quase

toda a obra de Dickens e Balzac foi originalmente publicada ~

ern jornais. . , , ,

Partimos da h1potese de que o jornalismo !iteraria e

informativo. Analisaremos a situação do jornalismo em alguns

países (poderlamos ter .escolhido um número maior ,de paises ..

e e scritores, uma vez que o fenomeno foi universal) para

mostrar o grau de informaçio qu.e o Ja~nalismo literirio do

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s~culo XIX nos legou, num a ~po ca em que o outro lado da im­

prensa sra o jornalismo politico, a cri ti ca exacer bada , o a­

chincalhe e a detratação.

O trabalho fatá uma an~lise do jorn a lismo literário no ..

Brasil, estabe lecendo um paralelo com o jo r nalismo franc~s,

ingl~s e ar,1ericano, para mo s trar que a qualificação . de jor-, ., , .

n al is1no literario, para o secul o XIX, e pertinente e reflete

u rn rn·omento importante de aspiração ~ cultura das massas as­

cendent es . No Brasil com algumas diferenças substanc i ais, de- ·

vida ao nosso retardamento no desenvolvimento social; tivemos

ur,i jorn alismo literário ativo, que lançou os funda mentos do

romance. brasileiro, com Jas;, de AlencarJ permitiu a p rodução

d e um romance picaresco como l1lem~ rias Q..ê. !:!.!Jl ~_g ent_o_ de mil f­

f.i.ê..[, a porta de entrada do povo na literatura, e po ss ibili­

tou o aparecimento de um dos r11aiores escritores brasileiros,

l'I a eh a d o d e A s si s •

A metodologia do tr abalho foi ij p esquisa em fontes pri­

m~rias e secu nd~rias. A documentaçio hist~rica foi pesquisa­

r.la em fon tes secunf;Járias, sobretudo nas o bras de Georges

Weil.l par::i a História dq, .iorf1.~l . !J..ê. ~r.Q.P.ª' Edwiri Emery _ para ::. ...

a !:li.§J:.9_r i .ê. çl a im Rr-~Q.~_ê., fl..Q..ê. Es_t_ad·o.§. U.í}i,d_Q...§., e N el so n We rn e c k

5 o dr~ par a a !:Ll.§.1,~ ri a fLê. Íflill..:i;:.§.Q..~~ no Brasil • O estudo d as

crônicas, folheUns, artigos e contos foi feito diretarnents

n as obras publicadas dos autóras analisados.

Para os autores americanos, co111 excoção de l'lar.k Tw ain,

a font e ,de pesquisa fói . sec1~ndár ia, porque não enç:ontramos

no Brasil nenh um livro des ses autores.

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~-

2 ~ A iNFORMAçio E A OPINI~O NA HIST6R-IA DO JORNALISMO

Nesie cap{tulo analisaremos a hist6ria da imprensa a

partir da visio destas duas vertentes do jornalismo: o infor­

mativo e o de opinião.

Os ancestrais dos jornais, as not{cias manuscritas que

tiveram grandu repercussão na Inglaterra, ItálJ.a e Alemanha,

eram essencialmente informativas - davam noticias do comér-

e .ia, I fait-divers e noticias de guerra ---

, mas ja vinham com

. .... ( , opin1.ao cr1.tica, tanto que o Papa Pio V, num consistorio de

1569, faz uma menção contra "os ·que redigem notícias manuscri-

tas hostis ao papa, aos carrleais, l aos padres". O Papa Gre-

g6rio XII foi ainda mais rigoroso e, na bula~~ de 1572,

condena os homens curiosos que recolhem e redigem noticias

falsas ou verdadeira~e proibia a todos de lerem, copiarem,

rec~berem ou distribuirsm estas folhas. Os culpados seriam

punidos, enviados para as galeras: Os primeiros jornais im­

pressos convivem longo tempo com essas folhas manuscritas, .

de que são herdeiros diretos, mas sobre eles recai a censura

r!gida da Igreja e do Estado que os torna menos críticos,

repletos de informações oficiais. As folhas manuscritas, que

_fugiam ao controle, continuaram com · grande aceitaç~o e pude­

ram conviver com as folhas impressas por aproximadamente 200

anoso

Existe uma tendência a não considerar essas primeiras

folhas impressas como jornallsticas, porque elas relatam es-, • 1

sencialmente um so fato. Mas o tratamento dado a certas no-

tfcias marcam o princÍpio ~e um estilo jornalístico. Um exem­

plo dessas folhas,foi a notícia impressa, no s~culo XV, fa-

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., ·

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zendo a cornunicaçio da expediçio .do rei fran~;s Charles VIII ' , a Italia. A folha notici.va a entrada do rei em Roma, o tra-

tado _assinado co~ o papa, a entrada em N~poles e a batalha

vitoriosa de Fornoue. O texto se afasta totalmente dos comu­

nicados oficiais, objetivos e secos, e faz um outro tipo de

relato, que se ainda nio ~ uma reportagem, j~ tem um estilo

mais livre, com muitos detalh e s acessórios.

No século XVI aparecem as primeiras folhas impressas,

trazendo informações de acontecimentos fora do comum, como as

inundaç~es, as erupç;es de vulcii~s~ terremotos e fatos huma­

nos como assassinatos. Um fato político aparece com grande  ,

insistencia nessas folhas: as noticias de guerra. Em toda a

trajet~ria do jornalismo, os relatos de guerr~ estio ~ -fren­

te dos movimentos de aperfeiçoamento da imprensa no sentido

da informação. Foi assim com as folhas primitivas dos jor­

nais manuscritos e com a~ primeiras folhas impressas. Foi as-Â

sim nas guerras napoleonicas, na guerra civil americana, na

gusrra de Canudos do Brasil, na Pri~eira Guerra mundial. As

folhas do começo do s~cula XVI dia ;niase ~s geurras, e Via-

na era o loci;ll 111ais ativo desGas publicações justamente

porque se tornou um centro receptor de not!cias sempre fres­

cas da Gu erra Turca, que representava uma ameaça para os eu­

ropeus que nio sabiam at~ onde eles avançariam. Essas folhas

relatavam ums~ fato e nio eram peri~dicas, mas muitas delas

eram numeradas, confirmando uma intençio de continuidade. S~

no final do s~culo XVI Gomeçam a ~~~recer peri~diqos, o pri­

meiro de circulaçio bianual circu1~0a na feira de Frankfurt,

de 1588 at~ 1598. Mas os primeiros jornais com verdadeiras

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características de um jornal, trazendo notícias de todos os

gineros, s~ aparecem em 1609, em Augsbourg e Strasburg. Do

primeiro estio guardados 52 n~meros na biblioteca da Univer­

sidade de Heidlberg e do segundo · existem 50 exemplares do a­

no de · 1609 e 52 de 1610. O primeiro trazia notícias de 17 ci­

dades, de v~rios países entre os quais __ I~glaterra, Hungria, ,

Turquia etc. O segundo cobria noticias çfe . 22 cidades. Este '.'\.,

, .

tipo de periodico vai aparecer por toda~ Euiopa, com carac-

teristicas bem diferentes das antigas folhas manuscritas e

impre~sas: o notici~rio local desaparece, os jornais se dedi­

cam a not!ci~~; de guerra e polltica ext~rna. A opiniio e a

crltica desaparecem destes impressos, os poderes constitui­

dos nunca são criticados. ' , , ,

Podemos dizer que o seculo XVII e o seculo em que os

Jornais implantam suas raizes e se consolidam como institui­

ção, mas os governos i~p~em uma obedi;ncia cómpleta, Um lon­

go periodo de censura atrela os periódicos ao .fai.t-.divers , .

aos relatos de guerra e de comercio. Podemos dizer que esta

imprensa~ essencialmente .informativa, mas a · informaçãa vem

de um ·1ado s~, das autoridades oficiais. Nio havia espaço pa­

ra a crítica ~os sist emas políticos, questionamento a autori­

dades constituidas ou religiosas, não havia cr1tica nem obje­

ção de consciência. A Holanda sob um regime de total liber­

dade de imprensa, tirava partido d~sta situaçio, publicando A

jornais em francas, para atravessarem a fronteira.

Estes pçimeiros jrarnais regulares forem sendo p~blica-' .

dos a partir ·de concess~es dadas pelos reis ou soberanos~

Quanto mais forte ara o poder central, maior era o constran-

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. &

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, gimento para o livre exercicio da imprensa. A fran9a foi o

pafs onde o cdntrole sobre as publicaç~es foi mais severo.

Tanto que os jornais em lÍngu a frantesa publicados na Holan­

da circulavam com sucesso na frança. A Holanda sempre adotou

a liberdade de imprensa, e em consequ;ncia teve a melhor ar­

te impressora do s~culo XVIII. O governo franc;s reclamou di­

versas vezes, junto ao governo da Holanda, para impedir a

circulação de Jornais holandeses na frança. Tanto que o go­

verno holandis em 1679 faz um ato proibindo a publicaçio de

jornais em lingua francesa. A proibição foi renovada em 1680,

81, 83, 86 sem que nunca tivesse sido verdadeiramente cumpri­

da.

O primeiro periódico feito· na frança foi o Marcur~ [ran­

~, em 1611. Os impressores franceses publicaram muito me­

nos do que seus cong;neres da Alemanha e da It~lia. Quando

. Richalieu chegou ao poder, logo compreendeu a utilidade da

imprensa para agir sobre a opinião pÚbli ca. Ele. entrega a pu-

. blicação do ~e~oure ao seu confidente o P. Joseph, mas este

jornal anual não era suficiente para suas intenç~es de criar

um instrumento: de · propaganda, o que ele precisava era de uma

gazeta semanal. O direito de publicação de uma gazeta será

dado a Ren~udot, que recebe em 30 de maio de 1631, o dir~ito­

perp~tuo, para ele e seus filhos de publicarem a Gazette~ Es­

ta gazeta era qüase oficial, o pr~prio Richelieu a~creiia - , artigos de opiniao. Um numero de 1633 teve que ser inteira-

mente refeito para poder entrar um artigo de Richelieu, de

~ltima hora. Existem suspeitas de que alguns artigos eram es-i

critos pelo próprio rei Louis XIII. Pode-se dizer que Riche-

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lieu es~~ na origem da criaçio dos peri~dicos políticos.

Os jornais, desde sua origem, nascem comprometidos com

o poder polltico. Este constrangimento à liberdade de noti­

ciar, fez com que durant~ um longo período os dois tipos da

j~rnais -- manuscritos e impressos -- convivessem. Quando a

autoiidade central era muito forte, e exercia severo contro­

le sobre os impressos, as folhas manuscritas voltavam a cir­

cular. Muitas dessas folhas esti~ guardadas am bibliotecas . , ,

da Europa, e pode-se ver que foram influentes ate o seoulo

XVIII.

A Inglaterra ~dota a liberdada de ~rnprensa a partir de 1

1695, mais formal do que real. A lei do selo e os altos im-

postos tornavam o produto excessivamente caros~ podendo ser .

comprado pela alta burguesia. Com exceção de alguns per!odos ,

am que houve constrangimentos aG exarcicio da imprensa, po-

da-se dizer que a liberdade da imprensa foi uma constante na

Inglaterra. Em consequência disto os jornais ingleses sempre

estiv eram~ frente nas inov aç~es, com uma i~prensa din&mica

e agil. O grande jornal com variedade, notícias, infor~aç~es

de interesse do p~blico como boletins do com~rcio, seçio de

perdas e compra e venda da objetos nasceu na Inglàterrao , .

A imprensa americana e herdeira deste momento de liber-

dade de imprensa na Inglaterra. O primeiro jornal aparece

nos Estados Unidos em 1690. Em p6ucos anos as pequenas im­

p~essoras começam a se multiplicar. Os jornais eram de cir­

culação irregular, a tiragens insignificantes - ~00 exempla­

res como o~ que aparece em 1704 -- mas podiam existir

com bastante liberdade, desde que nio questionassem o domÍ-

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. .. nio 1ngl as.

2.1 - A crítica liter~ria

A crítica litar~ria começa a sér feita na fran~a em

. 1665, trinta anos depois da pri111eira gazeta política. O J.ru!L­

-~ ~ Sava'll§. tinha o objetivo de anunciar os livros novos,

dar uma id~ia de seu conte~do e divulgar e doóumeritar , ,

as novas descobertas cientificas. Esta e a primeira vez que

aparace o termo jornal para designar um periódico. Na origem

jornal quer dizer exclusivamente um periódico especializado

em '. literatura, conforme aparece no dicion~rio da Academia

francesa de 1684. Interessante~ o fato de um journ!l (di~­

rio) ser semanal QU quinzenal.

Este jornai representou um grande avanço no sentido da

· informaçio, do crimpromisso da !~prensa com a divulgaçio d~

fatos importante; · que {intarferiam na vida do homem comum. O ,

Journª1,,, ~!! Savants foi. q prime iro periodico que começou a

divulgar as irivenç3es ~ient1ficas, que at~ entio s6 eram di-, 4 .

vulgadas atraves de cor~espondencia pessoal entre cientistas

de diversós pa!sa~. Este modelo de jornal . foi imitado eco-,

piado irnediatamertte e floreaeu por todos os paises da furopa.

O jornal _ passou a ser o maio mais seguro de divulgaçio de in­

forrnação cientifica, até o aparecimento de publicações espe­

cializadas com circulaçio para p~blico restrito. O Joutnal , ,

w_ SaVé)n~s. acabou abandonando a critica !iteraria devido as , I

p ar·saguiçÕes da .can sura • Outros jornais li tarar ias apare cem,

mas utilizando uma fÓr~ula subserviente sem contrariar a or­

dem oonstituida. O de maior sucesso no final do século XVII

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.,. ', ·

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, foi o No~velles de~ Republique des ~ettres, dirigido por

Bayle, que de tio acomodado recebeu cartas de felicitaçio da

Academia Farncesa e da So6iet~ Royale 1 instituições fiscali­

zadoras dos padrões estéticos.

O Journ~l das Savants passa a ter uma existência passi-,

va, dandas informes cientificas objetivos por mais de cem a-

nos, Bt~ 1792 quando deixé. de circular. Este Jornal teve urna "'oi 1 ,' • ,

outra contribuiçao importante: durante um curto periodo, di-

rigido por Desfontaines, adotou pela primeira vez na hist;r1a

da imprensa uma linha de cr!t1ca liter~ria militante e agras-

, ' ' ' siva. Ele criticava os filosofas do siecle w lumiare,s, so-

bretudo Voltaire, por sua influência na Academia Francesa.

Como editor do Observations ~ las écrits modernas, tundado

em 17J5, atacava fortemente a Academia, e em pouco tempo ,o

jornal foi fechado. Desfontaines teve o grande m~rido de tra­

zer~ discussia liter~ria para o p~blica em geral, tirando a

exclusividade dos círculos literários. Um seguidor mais hábil

foi Fr;ron, que também criticava a literatura institucionali-

zada e patrocinada pela Academia, e Voltaire, pela

sua ~roximidade com os poderosos. Voltaire tinha ~dio de fr;­

ron, a quem fazia injÚrias atrav~s de seu teatro, e contra

ele escreveu o poema ~ Pucelle. , ,

Freron publica o jornal Annee Litteraire, que fazia a ( , . , ' ( ~r1tica !iteraria, mas que se dedicava tambem a pol1tica, uma

vez que ·discutia as reformas propostas pelos filósofos. No en­

tanto a critica politic~ propriamente dita não ap~recia no

jornal. Quem quisesse ler sobre a politica francesa tinha que

continuar comprando as gazetas holandesas. Fora desses jornais

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-'

15

I , • .,..

!iterarias, as unicas opçoes eram as gazetas oficiais,1que

continuavam sob forte censura. ,

Os jornais !iterarias se desenvolveram por toda a Euro-

pa, começando entio ~ aparecer g;neros hibridos, jornais po­

liticos que continham crit i ca literária. Os jornais liter~­

rios que se desenvolveram _ ao longo do século XVIII eram es­

sencialmente cr1ticos 1 literatura o aos homens de letras, e

nio contavam com a participaçio dos pr~prios escritores. Es­

ta participação s~ .ocorreria no século XIX, com inicio na

Alemanha.

O despertar intelectual que se prdduziu na Alemanha no

século XVIII permitiu que aparecessem ao lado dos jornais po­

liticos a imprensa liter~ria. Os primeiros jornalistas dedi-' (' , . cados a critica !iteraria, na Alemanha, foram Lessing, Nico-

lai e Wieland. Nicolai passou para a posteridada como um per­

sonagem ridicularizado por Schiller e Goethe• Na verdade ele

foi um grande critico, que fundou diversas gazetas e revis­

tas e durante 30 anos influ;nciou o p~blico letrado alemio. , . ,

O mais celebre de seus periodicos foi a11gemeine Deutsch~

Bibl,iotheJs., que apareceu até 1806. Foi_ Nico-lai quem teve o

talento de agrupar grandes colaboradores, e quem conseguiu a

idesio de escritores que começaram a escrever artigos para

seus jorna.is.

Estava pronto o te.rreno na Europa, para o fenômeno ca­

raoteristico da imprensa do s ~culo XIX, que foi a participa­

çio ativa de escritores\ na imprensa, quer como edjtores, ar­

ticulistas, cronistas ou escritores de folhetins.

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,.

16

2.2 - A informaçio nos Estados Unidos e Brasil

. , . . [m 1705 Jª existiam trinta e cinco folhas mais ou me-

, .

nos regulares nos Estados Unidos, que nas Vesperas do con-. "'

flito da independencia puderam ter um papel importante nas

discussões que antecederam, Quando as tropas inglesas ocupa­

ram as oirlades da costa, os jornais dos patriotas se transfe- .

riram para as cidades do interior, que tinham impressoras.

O Bostqn Gazatta foi publicado durante um ano em outra cida­

da, para voltar à Boston depois da saida das ingleses. Neste ,

momento o jornal tinha a enorme ti~agem para a epoca de 2

mil exemplares. A imprensa teve uma atuaçio tímida, mas pre­

sante, na guerra da independência.

Dos 35 jornais que existiam no começo da guerra de In­

dependência nos Estados Unidos, sobrevivem 20 ao conflito.

' Todos os jornais que defendiam os interesses ingleses desa-

-pareceram por pressao popular. Muitos outros jornais apare-

ceram durante os seis anos de guerra, todos fundados por pa­

i · triatas que defendiam as id~ias da independ;ncia e da uniio

das 13 col;nias. Esses jornais eram muito pouco informati­

vo~, as notlcias objetiv~s sobra ·a guerra eram raras~ Um e­

xemplo disto foi a maneira como . o freaman~a Journal da fila­

rl~lfia noticiou a ~ltima e maior vit~ria da guerra:

No dia 17 de outubro de 1781, o tenente-general Charles Earl Cornwallis e cerca de 5000 soldadbs britinicos renderam-se e foram priéióneitos da guerra por s. Excia. o Gsneral George Washington, comàndante-sm-chefe das forças aliadas da frança e da Am~rica.2

O relato era simplesmente a c6pia do despacho enviado

por Washington.

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Depois da· Independ;ncia, no . final do s~culo XVIII e

princÍpio do s~culo XIX, os Estados Unidos enveredaram para 1

um tipo de imprensa partidária - reflexo das lutas internas

entre federalistas e republicanos.....:. radical, com linguagem

grosseira que é considerada como a idade obscurantista do ,

jornalismo.A critica virulenta e o partidarismo deixam pouco

espaço à informação.

Um jornalista americano, renno, escrevia em 1799:

Estes jornais americanos sio as publicaç~es mais baixas, mais falsas, mais servis, mais venais, e mais do que qualquer outra coisa denigrem o seio da sociedade.3

O presidenta Jefferson sofreu muitos ataques pessoa!~,

e verdadeira detrataçio ~os federalistas. E embora pessoal-1A, · ·

. •.-::- . . ... mente fcfsse U'm defensor . da'_ liberdade de imprensa, seu gover-

no toma algumas medidas r~pressivas contra seus opositores.

Em uma carta de 1813 Jeft~rson e~creve a Catrigton:

Os jornais de nosso pa1s1 pelo seu desenfreado espírito de falsidade, tem destruído mais efeti­vamente a util i dade da imprensa do que todas as restriç~ei inv~ntadas por Bonaparte.4

Apesar de sofrerem pela falta de objetividade e pela

exacerbaçio da opiniio, os jornais ameticanos evoluíam, em

n~mero e em circulaçio. Em 1820 sio pVblicados 512 jornais,

dos quais 24 eram diários e 422 semanários. A tiragem rn~dia

dos jornais era de 1500 exemplares, o que era enorme visto o

preço do jorn~l ser bem elevado. Os jornais destinavam-se ex-.,

' -clusivamente a classe dos cidadaos fi .1anceiramente ~rivile-

giados. 'Em 1828, os Estados Unidos já eram o pa!s ,do mundo # •

com o maior numero de jornais e de leitores.

No Brasil, com periodos alternados entre maior ou menor 1

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toler;ncia ao livra exercício da imprensa, a t;nica do esti­

lo do jornalismo da época era a viol~ncia. A primeira fase

da imprensa, que vai do I Reinado à Regência, era panfletá­

ria, com linguagem grosseira. Nels~n Werneck Sodré considera

este · p~riodo do jornalismo brasileiro de grande viol~ncia ver­

bal, refletindo o ardor apaixonado das facções divergentes.

Os - jornais chegavam a ataques pessoais e toda sorte de exces-

SOS•

A in f ormação aparece na impren ,;a com~ um produto resi­

dual. Nossos jornais, bem como os americanos, dão pouco espa­

ço 1 informação. As grandes descobertas, muitas · das quais vão

in f lu enc iar d ire tamente o destino da im pr ansa, 'recebiarl1 pou­

qu !ss imo espaço nos jornais do s~culo passado.

Nos Estados Unidos a invençio do tel~grafo (1844). foi

pouquissimo noticiada, apesar do editor do fíladelfia, Swaim,

ser um dos acionistas da empresa que promoveu a invenção de I

Morse; e de Abel!, editor do Baltimore~, defender nas co­

lunas de seu .jornal que o Congresso auxiliasse o trabalho do

inventor. O a·altimore ~ dedicou apenas 11 linhas para des­

crever a história da nova experiência, ao lado de uma coluna

que descrevia um caso policial ~e mau gosto, enquanto que a . . , .

primeira pagina era quase inteiramente dedicada a uma confe-

r;ncia religio~a. A imprensa desconsiderava a import~ncia

do~ grandes progressos t~cnicos. A ·ceifadeira, m~quina de

costura, o telefone, o automóvel, e mais recentemente o avião

e o rádio foram tamb~m !gnorados pela irnprens.a qu~ndo apare­

ceram pala primeira vez.

No Brasil do século XIX, o 'jornalismo liter~rio ocupa

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1 1

1 1

!

, este vacuo deixado pela imprensa, e vai fornecer~ informaçio.

Os cronistas e escritores, usando o humor e ironia, vão dis­

cutindo de uma forma pessoal os ~ltimos inventos que vão

diretamente interferir na vida das pessas e as medidas oficiais

de alcance sabre os cidadãos. mark Twain, Seba Smith ou Jack

Dowing nos Estados Unidos levam ao leitor a discussão de

medidas que repercutem diretamente na visa dohomem comum.

No Brasil, ser~ atrav,s de Jos~ de Alencar que os leitores

tomar;o conhecimento da introduçio da m~quina de costura, , ...

no Rio de Janeiro,e atraves ·, de ·michado ,de . Assis sobre a

introdução dos bondes elétricos · e ·_ as mudanças no comporta­

mento das pessoas~

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Q

. 3 - UM JORNALISMO PARA AS MASSAS

, O jornalismo europeu viveu no seculo XIX, principalmen-

te a partir da segunda metade, a efervência do aumento do nú­

mero de leitores, devida à ascenção das massas urbanizadas à

alfabetização. Os jornais em poucos anos passaram a grandes

tiragens, suprindo a necessidade de cultura dos novos consu­

midores. O folhetim foi a grande força de apelo aos novos lei­

tores. O livro ainda era muito caro para ser consumido pelos

assal~riados, e o jornal vai ocupar este espaço public~ndo

folhetins, rom .ances e contos. O editor do jornal francês~

pressa, Giradin, foi quem primeiro ·compreendeu a nova neces­

sidade do mercado e quem melhor utilizou toda a potenci~li­

dade do bin;mio: an~ncios, para baratear o custo da ediçio e ! ,

folhetins para garantir ,um grande numero de leitores.

Alguns jornais franceses chegaram a publicar simulta­

neamente seis folhetins. Nenhum jornal pode fugir do esquema

dos folhetins, desde os conservadores, voltados para uma eli­

te burguesa, como foi o caso do tradicional jornal figarg,

até o jornal socialista L'Humanité. Quase todos os escritores

do século XIX vão escrever para os jornais. O fenômeno fran-....

ces vai se repetir em toda a Europa. ,

O Brasil vai viver intensamente este periodo. Todos os

escritores brasileiros de uma forma ou de outra passaram pe~

los jornais. A presença de escritores na imprensa foi talvez

mais importante, aqui, do que na Europa, porque praticamente '·

nio existiam editora~ di · livros no Brasil. Até o f~nal dos~­

culo passado os livros eram .editados em Londres ou Portugal,

e a forma mais r~pida dos escritores verem suas obras publi-

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o

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-'.·1 J.

.,

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1 1

21

. . , cadas, era atreves dos jornais.

Nos Estados Unidos os escritores só publicavam suas

obras através de jornais e revistas liter~rias, apesar de exis­

tirem muitas editoras de livros. As editoras não publicavam

os autores anericanos sempre um risco editorial - prefe-

rindo publicar versões piratas dos clássicos ingleses, que

tinham p~blico assegurado. Os Estados Unidos foram os grandes

infratores dos direitos autorais do século XIX, j~ que os au-. ~

tores ingleses nada recebiam pela publioaçao americana de

suas obras. Sir Walter Scott, criador de lvanho~, foi uma v1-tima deste sistema. Apesar de ter seus livros constantemente

reeditados nos Estados Unidos, morreu na mis~ria, sem nunca

ter recebido direitos de autor.

Quando o desenvolvimento industrial tornou possfvel o

aumento das tiragens dos jornais e o barateamento dos custos,

havia por trás uma . forte pressão popu l ar das gerações recen­

temente alfabetizadas, ávidas por leitura, que permitiu o au­

mento da circulaçio. A publicaçio de obras literárias inte­

grou uma nova camada da popul ação no clrculo de leitores.

Na França; o jornai de 5 beHtavos representava 12,5% do

preço do ·quilo do pão (e~ 1980 o preço do jornal equivalia a

57% do quilo do : pão) • .!.& P eti t J ournal em 186 5 eh eg a ao e­

norme n~mero da 259 mil leitores di,rios e em 1912 chega a

850 mil leitores, O ·livro continuava no entanto um produto

de luxo (custava em m~dia 3,5 francos), mas o jornal satis-,

fatia as necessidades culturais dos léitares atrayes d~ pu-

blicaçio de fdlhatins a obras literárias,

O jornal de um penny nos Estados Unidos; a partir de 1

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1830, ia moldar toda a imprensa americana. SÓ que os jornais

populares americanos nio apelaram p~ra o folhetim para conse­

guir novos leitores, o joinal pa~a o "homem comum" apelou pa­

ra o sensacionalismo.

,O i!!n, de Nova Yorque, com esta linha popular, tinha em

1837, 30 mil leitores, .º que representava mais do que d to­

tal da tiragem de todos os outros jornais reunidos. Por vol­

ta de 1876 sua circulação alcança 130 mil exemplares. Os jor-

1 1 nais americanos seguiram um caminho que se tornou caracterisr

I' tice do jornalismo .maericano at~ os dias de hoje: a chamada ' l

1 1'

mat~tia de interesse hu~ano. Os fat~s aio vistos a partir do 1

ponto de vista dos prptagonistas -- numa forma narrativa qÚe

se aproxima da ficção.

A participação de escritores na vida 1cotidiana dos jor­

nais foi um fen~meno universal, e no Brasil deixou u~ legado

à cultura brasileira, com a publicação de um grande número de

obras literárias. Contudo, o fenômeno no Brasil não cantava

com a participação da massa da população . que, condenada ao - , .

analfabetismo, · nao tinha acesso a cultura letrada. , ,

Ao longo de sua historia, o Brasil tem tomado de empres-

timo id~ias ~urop;ias sem respaldo no seio da sociedade. Os

movimentos literários europeus estão embasados em modifica­

ç;es prcifundas no quadro social~ No Brasil, as duas coisas

necessariamente não precisam vir juntas. Isto ocorreu em re­

lação ao jornalismo literário, que teve uma grande influência

na vida cultural brasileira, lançou as bases do r~mance bra-'

sileiro, permitiu que o romantismo se tornasse um movimento

autenticamente nacional, s6 que este movimento nio represen-

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~

• 1

. 1 . . ·1 '

'

23

tou uma maior participação social nos bens culturais. A B.!!­

vista Ilustrada, em 1876 tem a tiragem da 4 mil exemplares, ,

enquanto nesta epoca na Europa i Estados Unidos as tiragens

chegam aos seis digitas.

nham o !!Wl!!!. da imprehsa d

s jornais brasileiros não acampa-,

America de Norte a da Europa. Sem

o respaldo de uma sociedade que se urbaniza e se alfabetiza

os jornais brasileiros atravessarão o século com tiragens

minguadas. A compra de jornais naqueles países era o simbolo

da adaptação da população a novas formas de consumot fomen­

tadas pela industriali2àção e urbanização, enquanto que no

Brasil o jornal est& v61 ado para uma elite burguesa e para f .

a classe politica. Apesa dos folhetins serem lidos oralman-,

te para o grande numero e agregados e empregados, nunca che-

gou a representar uma atração de fato no seio de uma so-

ciedade ~ais vasta.

Na Europa os movim ntos literários estavam fundados em

modificações sociais pro undas, no Brasil estes movimentos

passam deixando incolume a estrutura social. Escravismo e la­

tif~ndio, como caracter!. ticas pr~-capitalistas atraveJ eam o , .

seculo XIX e chegam aos sem permitir a i formaçio das

basas da industrializaçi. Neste sentido~ interessante com-

1 1 parar os romances de Jos de Ala{lcar com os de Balzac.

' . -·.r

, ~- .

Jose de Ale.ncar ab os temas da ambição, amor áo di-

nheiro, ganância, como o escritor francês. SÓ que em Balzac ..

estes temas são abo·rdado com ·a veemência de quem vivia as

contr~diç;es do sistema • épitalis~a. Alencar não poderia con­

cabar · ~~rsonagehs com a asma força. vivendo no Rio de Janei-

rot onde sequer o era moeda corrente, mas sim ora-

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º ' 1 •

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! '

o

24

vor pessoal, o conhacimanto, o paternalismo, o pistolão a o

ralacionamanto _dÓcil com os poderosos. Os personagens 1 •

Alencar não podem ser consdierados fracos, comparados

da

1 aos da 1

'Balzact elas apenas retratam a realidade social em llJB esta~

vam insaridos. _A debilidade de Alencar não está do lado da

obra mas do lado da sociedada retratada. - Alancar é o ascri­

tpr verdadeiro da uma sociedade de mentira. Machado de Assis,

vai aos poucos. desvendar esta mentira.

Melhor do que a qualificação da sociedada de men~ira, 1 ,

e considerar a sociedade urbana carioca como uma sociedada

de engodo, simulacro, trompa-l'oeil das ·apar;hcias. o trampe­!'oeil sio estas figuras tridimensionais que encobrem facha­

das; esses desenhos que copiamª . realidade, dando uma falsa

idéia do real. Idéias enganadora~ os tromRJ!-1 1oeil são signos

vazios que falam da anti-representação, que voltam-se contra

a realidade parodiando e teatralizando, A mentira pressupõe

uma verdade oculta, o trompe-l'oeil não. Ele é a c~pia da có­

pia, é tão falso quanto o falso objeto que copia. 5

As casas burguesas do Rio da Janeiro aparecem como si­

mulação. Os muros de barro são revestidos com papel de pare-,

de importado, retratando paisagens europeias • . Colunas de pa-

pelão emolduram as portas. O estu•que imita o m;rmore. Obje-

. tos dom~sticos são todos importados, sem relação com o pro­

cesso industrial local. Trgmp§-l'oeik da realidade, as pessoas

circulam nesses ambientes como figurantes. Esses objetos e

figuras não são reais, ~as ao contrário colocam e~ dúvida a

realidade~ .. f por isto que a sociedade carioca foi tão bem

teatralizada por Artur da Ázavado. S~ que; como esta teatro

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"f

1

retrata a sedução das aparências, foi reduzido a pÓ, com o

tempo. O pafs escravagista, baseado na economia agrícola e

monocultura, procura reproduzir no interior de suas residên­

cias as características urbanas européias. As classes que

mais se beneficiav . .am do sistema vão imit ar artificialmente

usos e costumes dasmetrÓpoles européias. A importação de to­

do tipo de objeto e indumentária é apenas uma consequência.

No terreno das idéias passa-se omesmo fenômeno; as idéias

liberais não eram vivenciadas, mas não podendo ,·ser descatta-

· das, são vividas coma arremedo. O que se vê na vida intelec­

tual brasileira~ um acomodamento de consci;ncia, uma manei­

ra de ver e agir opostas. machado de Assis foi o escritor que ,

estando inserido dentro do contexto de uma epoca; .observava

25

, de longe a cena onde so contavam os interesses: pessoâis .e · mes-

quinhos. Sem comprometimento pessoal, vai 1 evando sua vida. de

jornalista, escritor e. funcionário pÚblicos

Já têm me oferecido bons empre9os, largamente re­tribuídos, com a condição de nao frequentar a~ galerias das câmaras. T~nho-os recusado todos; nem por isso ando mais magro.6

A grande diferença entre José de Alencar e machado de

Assis ~ que Alencar se envolve no brilho das aparências da

sociedade de sua ~poca, machado de Assis ietrata os mesmos . .

ambientes e os mesmo tipos, mas levanta o tenue verniz que

encobre sua essência, e analisa a sociedade em profundida­

de e sobre ela joga seu olhar irônico e critico.

1 • •

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4 - JORNALISMO LITE~~RIO NO BRASIL

Procuramos estabelecer duas datas para delimitar o pe­

ríodo que chamamos de jornalismo literário brasileiro. Pode­

mos con~iderar o inlsio da fase literária a publicaçio do fo­

lhetim de Manual Antônio de Almeida, Memórias 9J!. Y.2!. sargento

!!§. millcias, no Correio Merca~i!!., entre 27 de junho de 1852

e 31 de julho da 1853, e o seu fim a morte de Machado de Assis

em 1907. Ap~sar do gênero folhetinesco tar ido mais longe no

século XX, e a crônica de influência literária nunca ter dei­

xado de estar presante nos jornais brasileirosi o jornalismo

começa a partir da! a ter caraclerÍsticas divarsa~11ca~ihhando . - ' . ,

em direçao a gi:.an dé. .imprensa informativ ~·, que· ~s ~ra ·.nQ. ~Htànto

marc~d!1 pelá influência literárJ,a, através da concepção ·· de · jor­

nal co~o espaço de debate intelectual.

Manual Antônio de Almeida era de orig~m modesta, estu­

dou com dificuldade, formou-se em medicina, tendo pago os

seus estudos fazendo traduções e trabalhando para o Correio

Mercantil. Mesmo formado, nunca exerceu a protiss~o, prefe­

riu continuar a trabalhar como jornalista. Ela morreu muito

cedo, no naufr~gio de um navio que o levava para Campos para ,

fazer a cobertura jornalistice da abertura do canal d~ Campos

a Macaé. O seu ~argento 9-!! milícias será estudado mais deta­

lhadamente no cap!tulo específico sobre folhetim -- esta o­

bra, sem· pretenç~es, ~amais original da literatura brasi­

leira do s;culo XIX. Para Marib de Andrade "estas folhetins '• I

iriam cdnstituir um dos romances mais interessantes, uma das

· ·produções màis originais e extraordinárias da ficção ameri­

canan.7 Todo o estudo que se prd~onha ~ compreens;o da ~onfi-

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'I)

()

guração da sociedade brasiie i ra tem que passar pala leitura

desta obra de Manuel Antônio de Almeida.

27

O segundo passo em direção ao jornalismo literário, de­

pois da publicação do Sargento !li!. flilÍcias, foi a entrada da ,

Jose de Alencar para o Correio Merca!J.!:JJ.. como cronista. Suas

cr;nicas retratam a sociedade da Co r te, com sua mediocridade

e preocupações fúteis, onde a vida parece transcorrer entre

as noites no teatro 11rico, os bailes no Cassino, as tardes

no Jockey Club, e as noites calore~tas passadas no Passeio , , ,

Publico, ja em processo civilizatorio · com a recente ilumina-"""' , , ,

çao a gas. Soas epidemias de colara pareciam abalar a tran-

quilidade.

O ~orraig, ~lerq.9.n_i.iJ .. fundado em 1852, sob a di.reção de

Francisco Otaviano de Almeida Rosa, conseguiu reunir os inte-,

lectuais mais representativos de sua epoca. Era um jornal

cheio de variedades, que logo se tornou o mais difundido do

Rio de Janeiro.

Em 1854, Jos~ de Alencar, recém formado em direito, en­

tra para o jornal para fazer a seção forense. Logo depois co­

meça a escrever cr;nicas, de grande sucesso, passando depois , '

para o Oiario f!Q. fL!,Q, ~ Janeiro onde escreveu seus primeiros ' , folhetins. Jose de Alencar teve toda a sua atividade ligada

a6 jornalismo, apesar de ter entrado na pol!tica. Quando dei-,

xou a politica e entrou em conflito p~ssoal com o Imperador,

foi para o jornalismo que voltou, fundando o jornal!.§. Q.ã ..LY.­

.1.b.Q. para se d ef end er e defender seus .an tos no ministério. Em

·1865, as Cartas~ ImRerador, que publica durante três meses,

sob o pseud;nimo de Erasmo, ~ostram o Jos~ de Alencar polÍti-

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. , · co e critico mordaz · da o. Pedro 11.

, , r . , Jose de Alencar e tipico representante do seculo XIX,

- , com suas preocupaçoes progressistas, modernizadoras. A saude

p~blica, a higiene · estio entre as reivindicaç;es de suas ~r;­

nicas. Observador das mudanças econômicas que ocorriam no ,

Rio de Janeiro, reflexo do fim do trafego negreiro, e ore-

torno do capital para atividades comerciais e financeiras,

José de Alencar levanta sua voz contra a especulação, as le­

tras falsas (este tamb~m um assunto de Machado de Assis), a

agiotagem que comprometeriam o tão esperado progresso.

Neste capitulo analizaremos as cr;nicas de Jos~ da A­

lencar publicadas em 1854 e 1855 e algumas das cr~nicas es­

critas durante os quarenta anos de militincia jorna1Istica

da Machado de Assis, sob o ponto de vista da informação ~an­

tida na crônica literária.

, 4.1 - Jose de Alencar

Em 1854 Jos~ de Alencar começa a escrever crônicas pa­

ra o ~arreio IVJarcantil, numa coluna cha111ada /iQ. correr .9.!! .E.,§­

Dj!• Ele passará a limpo os principais acontecimentos da sema­

na, as tardes no J~ckey Club, as apressntaç3es no teatro lí­

rico. Ser~ o cronista !lanaur que caminha pela cidade, ao ar

livre, que desfila pelos lugares mundanos, observando o movi­

mento das pessoas, da natureza.

O que há de mais encantador e da mais apreciá­vel na flanerie é que ela nãg produz uoicamente o movimento material, mas tambem o exercicio moral. Tudo no homem passeia: corpo e alma, os olhos e a im agin ação .B

éabeis o que~ a flanerie? f o passeio ao ar

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.,

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livre, feito lenta e vagarosamente, conversando ou cismado, contemplando a beleza natural ou a be­leza da arte; variando a cada momento da aspecto e de impressões.9

. , Tal qual flaneur, Jose da Alencar vai construir suas

crônicas, por elas desfilarão personagens e eventos da vida

fÚtil da corte. Sem a sutileza irônica da observação de Macha­

do de Assis, Jos~ de Alencar não deixa de ter se~so critico. ,

Nos que macaqueamos dos franceses tudo quanto eles têm de mau, de ridlculo a de grotesco , n~s gastamos todo o nosso dinheiro brasileiro para transformarmo-nos em bonecos e bonecas parisien­ses, ainda nio nos lembramos de imitar uma das melhores coisas que ·eles inventaram, · que lhes~ peculiarJ e que não existe em nenhum outro pais a menos que não seja uma pálida imitação: a !12.­nerie.10

, A escolha do titulo da sua coluna, 8.Q. Correr ~ E...!!ru!,

também dá esta idéia de ·passagem, de rapidez; de pouca refle­

xão. O autor se propõe a escrever ao correr da pena.

Mas onde j~ ando eu? Comecei num salio de ~ai­le, e· parece-me que estou nalgum · corpo de guarda. Eis ·o -risco de escrever ao correr da pena. Se eu tivesse compasso e um tira-linhas, não me havia de suc~der semelhante coisa. Riscaria primeira­mente o meu pap:el, escreveria o meü ar·tigo letra por letra, pensando maduramente sobre cada pala­vra, refletindo profundamente ( ••• )11

outra intençio do cronista~ tentar agradar a tipos he­

terog;neos de leitores, o namorado, as moças, o homem d~ ne­

g6cios, o caixeiro, o literato, e percorrer torlos os acohte-, .

cimentos da semana: 1t ••• Passar do gracejo ao assunto serio,

do riso e do prazer ~s p~ginas douradas do seu ~lbum, com to­. 12

da a finura e graça ••• n < , . . -

A critica sera sempre ~ircunstan~ial, as in~tituiçoes

nunca são questionadas. O observador !laoeur se prende ao gas­

to, ao movimento, nunca se distancia para ter a noç;ó do . todo.

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A cr1tica ser~ sempre limitada, ser~ uma crítica de detalhe.

As referências ao teatro 11rico são bem o exemplo de sua vi-- f • , .,

sao critica. O olhar critico de Jose de Alencar recai sobre

a desafinaçio de um cantor, a falta de conforto do teatro, o

calor das apresentações mas não irá al~m, nunca verá o pro­

cesso de dependência cultural. O. Pedro II circula pelas crÔ-.. , t

nicas sem maiores consequencias: esta presente no teatro li-

rico, na inauguração do Instituto dos Cegos, nas sessões do , ,'

Instituto Histoiico, onde foi um dbs poucos membros a compa-,

recer num dia de temporal em que as arvores foram arrancadas

e o teatro lfrico não pode funcionar.

A princípio um homem sentava-se comodamente para ver o espet~culo. Entenderam que isto era sibaritismo, o direito de estender as pernas( ••• ) É urgente proceder-se a uma rigora lotação das cadeiras do teatro, e proibir a introdução de ma­chos a travessas. Este expediente, acompanhado da severa inspeção na venda e recepção dos bilhetes, restituirá a ordem tão necessária num espetáculo onde a presença da Suas Majestades e de pessoas gradas exige toda circunspeção · e dignidade.13

, Cumpre-me, porem, notar que, quando falamos em

~ilettante, não compreendemos o homem apaixonado de musica, que prefere ouvir uma 9antora, sem por isso doestar a outra. Dilettante e um sujeito que não tem nenhuma destas condiçoes, que v~ a canto­ra, mas não ouve a mÚsicR que ela canta; que gri­ta bravo justamente quando a prima-dona desafina, e dá palmas quando todos estão atentos para ouvir uma .bela nota.14

Jos~ de Alencar pode, sem d~vida, ser considerado o

nosso primeiro cronista de Carnaval, no senso mais preciso

que possa ter esta qualificação nos dias de hoje. Além de 1

descrever os desfiles, as fantasias, os novos clubes que ade-# ' I

riam ao espetaculo, dava conselhos as autoridades municipais

no sentido de estabelecerem normas, determinarem as ruas por

onde deveria passar o desfile, e pedia maior atuação da pol!-

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1 1

31

eia para impedir o entrudo.

Uma · questão bastante enfocada por Jos~ de Alencar, e

que não tem sido remarcada pelos estudiosos do carnaval, é a . . influencia italiana, nos primeiros desfiles da alta-socieda-

de, do Rio de Janeiro.

Lendo-se as crônicas de José de Alencar pode-se perce­

ber que a influência foi de duas ordens: uma atrav~s da imi­

tação, quando a . alta-sociedade começou a organizar os desfi-

les pelas ruas d·o Rio, imitando intencionalmente os desfiles1

que se realizavam em Roma, com as mesmas fantasias e alego­

riasf a outra foi a forte influência do teatro lirice, Feito

por artistas e companhias italianas, que inflyenciávam o car­

naval, sobretudo na escolha dos temas, como mostra José de

Alencar, nas duas crônicas que escreveu sabre o carnaval de

1855.

A riqueza e luxo dos trajes, uma banda de mú­sica, as flores, o aspecto original desses gru­pos alegres, hão de tornar interessante este P.as-, , seio dos mascaras, o primeiro que se realizara nesta corte com toda a ordem e regularidada.15

"Creio quà . são inteiramente · infundados alguns receios

que h~ de vermos reviver ainda este ano o jogo grosseiro e

indecente do entrudatt.16

Na tarde de segunda-feira, em vez do passeio pel~s ruas da cidade, os m~scaras se reuniria no

. Passeio P~blico, e ai passaria a tarde, corno se passa uma tarde de carnaval na Itália, distri­buindo floresÍ confete, e intrigando os conheci­

. dos e amigos. 7

. A palavr~ confate aparece em grifo, a denotar sua pro-• • 1

cadencia estrangeira, e seu uso ainda restrito no português.

Em outra crônica aparece ainda a grafia italiana cgnfetti.

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Nostradamus -- uma das mais felizes id~ias des­te carnaval -- com o seu longo telescópio exami­nava as estrelas, mas erão estrelas da terra. ( ••• ) Em duas carruagens iam de companhia Tem!s-

. tecles, Soulougue, Ben~venuto Cellini~ Gonial2 Gpnzales, quatro personagens que nunca pensaram se enpontrar neste mundo, e fazerem tão boa ami­zada.18

A questão da escravidão não aparece nas crônicas de Jo­

s~ de Alencar, mas uma pequena referência à lei que proibe o

tr~fego de escravost nio pode deixar de ser citada: "(•••) o

Sr. Conselhoiro Eus~bio de Queir~s travou a Jltima luta con­

tra o tr~fico, e conseguir esmagar esta hidra de Lerna ( ••• ) 19

A questio em que aparecem mais claramente as id~ias con­

servadoras de José de Alencar é em relação à mulher. A mulher

não ocupa nenhuma função social a não ser embelezar a vida.

Os comentários do narrador sobre suas leitoras são sempre de­

preciativos, ou mistificadores da beleza feminina: "Voltail

Voltai depressa esta folha, minha mimosa leitora! são coisas

s~rias que não vos interessam. Não lestes? ••• Ahl fizeste

bemf ~20

A I

Entre as muitas referencias depreciativas, uma e particular-

mente engraçada: !

Entretanto imagine-se a posição desgraçada de um homem que, tendo-se casado, leva para casa u­ma mulher toda falsificada, e que de repente, em vez de um corpinho elegante e mimoso e de um ros­tinho encantador, apresenta-lhe o dasagradáveL

1 aspecto de um cabide de vestido, onde a casta, , da falsificadores pendurou produto de sua indus­tria.21

Um homem qualquer que nos dá a descontar uma letra e u~s miseráveis cem mil !ais, falsificada por ele, e condenado a uma porçao de ?nos de ca­deia. Entretanto aqueles que falsificam uma mu­lher, e que desgraça~ uma exist;noia, enriquecem a riem-se a nossa custa.22

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o 1

, • 1

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i ' '

"

Para francisco de Assis a salda de José de Alencar do

Correio Mercantil está ligada à campanha que fazia contra

33

os aventureiros que operavam no mercado de ações. Jos~ l de A­

lencar nio era contra as sociedades comandit:rias, mas contia

os favo~ecimentos e o controle especulativo de algumas compa­

nhias, e pedia ao governo que controlass~ o funcionamento d9 mercado com base no CÓdigo Comercial. A Última crônica de Jo­

sé de Alencar no Cprreio Mercantil sai com alguns trechos cen­

surados, o que leva · o cronista a se demitir. 1

É interessante o trecho da carta em que pede demissãoJ

e tr~ta da questio da liberdade de imprensa:

Sempx;e, entendi que a "revista semanaltt de uma fo­lha e independente e não tem solidariedade com o pensamento geral da redaçioJ principalmente quando o escritor costuma tomar a responsabilidade de seus artigos, assinando-os.

A redação do Correio Mercantil~ de opinião contrária, . e por isso, não sendo conveniente que eu continuasse"ª hostilizar os seus amiios", re­solvi acabar com o Correr da Pena para nao com­promet;-la gravemente.

Antes de conclui;, peço-lhe que tenha bondade de fazer cessar o titulo com que escrevi as mi­nhas revistas. Não tem merecimento algum, há mui-, tos outros melhores: mas e meu filho, e por isso reclamo-o para mim, mesmo porque talvez me resol­va mais tarde a continu~-lo em qualquer outro jor­nal que me queira dar um pequeno canto.23

Para Nelson \Jerneck Sodré, José de Alencar deve ter sa!­

do brigado do Correio Mercantil, porque anos maia tarde quan­

do publicou ~ucigla, o Correio Mercantil noticiou ó fato de

forma lac;nica: "Saiu~ luz um livro intitulado Luciola•.

Quando deixa o Correio Mercantil, José de Alencar vai

para o ~iár~o gg, B..li2, s:!JL Janeiro, onde escreve maia sete crô­

nicas com o mesmo · t{tulo. Estas cr~nicas sio interessantes

da se analisar sobre o ponto de vista literário. O cronista

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o

,L "

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da cidade, que informa e comenta os acontecimentos do Brasil

e do mundo, co~eça a dar lugar ao romancista. Na crônica da

28 de outubro de 1855 ele põe em questão o papel do cronista.

Começa a crônica dizendo que estava sem inspiração ("o que me

sucede muita vez") e abre um livro para ler. A primeira pala­

vra co~ que se depara~ em latim .B..I.!. ast eagpg tac,,e (calar

· ~ grandioso)~

façam id~ia, gois que impresaio podia produzir uma semelhante m~xima num esp!rito que procurava inspirações.

quando eu desejava um tema para falar-lhe, -­a falar mais do que uma moça que discute modas, ou um ministro que falta a uma promessa, ·-- sal­ta-me pela frenta a sabedoria romana, e manda-ma calar da maneira mais impertinente.( ••• )

Para um folhetinista que não quer absolu~aman­te Jndispor-sa ~Qm os sábiõs, não havia remedio senao obedecer. 4

Mais adiante o cronista pÕe em dúvida a questão entre

a necessidada da calar ou falar: 1

• ' . 1 E tres palavras latinas que aram por si mesmas uma mentira e uma contradi~ãoJ porque, se o tal sábio (Salomão ou Sócrates) estivesse bem conven­cido da utilidade de calar-se, não teria a indis­crição de falar e dizer aquelas palavras:~~ magna tacert• ( ••• )

Tudo is~o por,m nada tem com a questio; o que , é verdade a que me achava na.mais dificil posição do mundo; por um lado a prudencia a a sabedoria mandavam que me calasse, por outro o leitor a o pÚblioo exigiam que falasse e escrevesse.( ••• )

Não me restava pois senão um expediente, e foi o que decidi-ma a adotar.

Era preciso calar-me, visto que os sábios o ordenavam; mas, calando-me, restava-me o direito de dizer ao menos os assuntos diversos sobra que me calava.29

N A

O cronista começa a enumerar as razoes do porque se oa-

la. Esta , A • ,

e uma das poucas cronicas em que Jqse da Alan-

car faz uma referência ao povo, às dificuldades com a cares­

tiaj e faz o elogio do trabalho, apesar de sua visio ser aqui~

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1 1

/.

1 ~ 1

35

vacada em relação a questão social. Vejamos esta frasa que

bem sintetiza seu pensamento:

Esté -pio ~opio do · trabalho, do trabalho ativo, honesto, inteligente a que todo o pobre deve de­dicar-se com ~mor, deixando os hibitos de indo~ lência e os Vicias, que quase sempre são a caµsa Única da mis~ria.

Esta espécie pois exige do governo não só uma - ' d' • d f f proteçao a in ustria o pais, como uma policia

ativa e regular, com as competentes Gasas de de­tenção, n~gessárias para o trabalho dos vadios e mendigos. ·

A • ,

Esta cronica tem um tratamento muito mais literario do

que as da fase anterior, do Correio Mercantil. Aparece o tom

declamat~rio, e · a sonoridade da frase, típicos do romantismo, ,

que caracterizariam o estilo dos romances do esoritoro Alem

dos comentários sobre o teàtro lirice, José de Alencar se

propõe a fazer um poema de amor, um 1ar~ moderno; onde ao , , . ,

contrario da tragedia classica que leva~ a se jogar do

despenhadeiro, as protagoni~tas do amor moderno se precipitam

num casamento de conveniência, para viverem a "triste exis­

ti~cia de um casamento mal sucedido". , ,

Este tema sera uma constante nas obras de Jose de Alen-

car.

Na quinta crônica do Diáti.Q. ili!. fi.i2. !!i Janeiro, do dia ,

11 de novembro de 1855, Jose de Alencar adverta o leitor:

Estou decidido a nio escrever hoje a minha revis­ta, e como os me~s leitores não qu~rer~o di~pan­sar o seu folhetim dos domingos, nao ha remedia; vou fazer um romanca.27

E vai desenvolvendo uma hist~ria da amor e comentários

sobra como fazer um romance: Aqui· vio alguns dessas comant~-'

rios: , ~

Um romance em regra so pode começar de man ~a ao romper do dia, de tarde ao rugido da tempestade,

1 1

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::,

ra.

36

e de noito ag despontar d! lu!; excetuam- s e os romances domesticas que nao tem hora certa, e que regulam-se pelo capricho do autor.28

Ora, o romance que eu pretendo fazer está in­teiramente fora da regrA, porque não tem começo nem fim; e quanto aos personagens limitarri-se a dois unicamente.29

"At~ aqui o romance~ muito simples e nada tem que admi­

ti 30

Aqui termina a primeira parte do romance. Se quereis saber o resto, cohtinuai a ler; se não voltai a folha, e lede os anuncias, que nio dei­xam de ter seu interesse,. sobretudo para quem tem de alugar amas de leite.Jl

, A

"Depois de ter escrito um romance, e duro fazer uma cro-

nica, ainda mesmo de uma semana como esta, em que nada ide bom

hi a dizern. 32

Depois deste comentário José de Alencar volta aos as­

suntos da semana, ao teatro !!rico e comenta a peça de tea­

tro f'lulheres !!.ê, mármore, representada no Ginásio, e defende a

peça contra as injustas acusaç~es de imoralidade.

O cronista . da cidade, o jornalista que defendia a or­

dem p~blica, a vinda de colonos imigrantes, a implantaçio da

ind~stria, que c~iticava a especulaçio e a fraude no mercado

de aç;es desaparece totalmente nestas ~ltimas cr~nicas.

O procedimento desta quinta cr;nica, em que o cronista 1

pretende estar escrevendo um romance, intercalado por comen-, , ,

tarios que questionam o proprio romance e interessante como , . ,

for1t1a litsraria. Se em S9US romances Jose de Alencar tivesse

soguido o mesmo procedimento, t e ria lançado um dos fundamen-,

tos do romance do saculo XX.

Na pen~ltima cr;nicai a sexta, o cronista continua no

mesmo procedimento da cr;nica anteiior:

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Desta vez estou de verve; vou ascrever um li­vro.

,H; de ser um livro co~pleto, precedido de um prologo, dividido em capitulas, e escrito com to­da a gravidade de um homem predestinado a visitar a posteridade envolvido em uma capa de couro e na companhia das traça~, das teias de aranha e da po­eira das estantes. 3

Aos poucos o comentarista das coisas mundanas, o cronis­

ta da cidade desaparece. Ainda nesta cr~nica, a penJltima que

escreve, José da Alencar defende o direito à critica, e diz: ,

"De agora em diante arrogo-me o direito de critico, e começo ,

a fazer censuras por conta dos elogios que ja fiz e dos que

possa vir a fazer". 34

Censuro em primeiro lugar os admiradores das cantoras( ••• ) Censuro depois as prÓprias canto­ras( ••• ) Finalmente censuro-me a mim mesmo, por­que não penso como os outros; e censuro ao meu leitor por nio ter melhor empregado o seu ternpo.35

, A • , •

A ultima cronica fala sobre flores, uma tematica do ro-

mantismo, um exercfcio de sonorizaçio com algumas interrup­

ções do cronista:

Mas, a falar a verdade, nio me agrada este papel de noticiador de coisas velhas, que o meu leitor todos os dias v~ reproduzidas nos quatro jorna!s da corte, em primeira, segunda e terceira ediçao.36

O Último comentário de sua Última crônica vai para o

-teatro, mas nao aparece mais aquele ardoroso defensor do tea-

tro lirico.

Agora, acrescentei a isto as desafinações do Oufrene, a rouquidio do qentile, os coch!los dci contra-regra, e fazei ideia do divertimento de uma noita de teatro.37

, Assim Jose de Alencar encerra a fase do 8.Q.. .E.Q.L~~ Q-2.

... / ... pen.J!• Do observador llim, das primeiras cronicas nao ve-

mos mais os traçoes. Sem abandonar o jornalismo, ele nio vol­

tar~ mais~ cr;nica. No ano de 1856 torna-se redator chefe do

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Oiáriq d~ Bl.9.. de Jan~~;:Q, e no final do ano escreve seu primei­

ro romance-folhetim, Cincq !!!}.~.§., publicado diariamente no

jornal. O grande sucesso viria um ano depois com o !i.!d.§lrani.

4.2 - Um projeto para o Brasil

Sobre Jos~ de Alencar recai a critica de que tenha sido

defensor dos valores tradicionais da sociedade paternalista.

Sam querer entrar nesta discussão, cabe no entanto faznr al-- , f ,

gumas observaçoes a respeito das ideias politicas de Jose de

Alencar, que apesar de pertencer ao Partido Conservador, e

ter ocupado funções pÚblioas, tinha um projeto politico para

o Brasil. Como IVJinistro da Justiça _ proibiu o funcionamento dos

mercados de negros em todo o territ;rio nacional, e festejou , , A , •

a Lei Eusebio de Queiras que pos fim ao trafico negreiro. , (

Nelson Werneck Sodre comete o equivoco de considerar

José de Alencar contra a introdução da máquina de costura no

Brasil, que acabaria com a poesia do trabalho feminino. 38

, , No referido artigo, ll'laquJ.!:l.~ de ~~r, Josa de Alencar

mostra a import;ncia da introduçio da miquina no processo de

produção:

Assim, pois, ~ justamente para os esp!ritos gra-' ... ves, dado s !ºª estudos profundos e as qusstoes de

interessa publico, que resolvi descrever a visi­ta~ F~brica de coser de Mme. Bessa, certo de que não . perderei o meu tempo, e concorrerei quanto em mim estiver para que se favoreça este melhoramen­to da ind~stria, que pode prestar grandes benefl-... , ' -cios, fornecendo nao so a populaçao desta corte~

9 mas tamb~m a alguns estabelecimentos nacionais. I I

Aos Estados Unidos que cabeAa invenção das maqui-nas de coser, que hoje se tem multiplicado naquele pa{s de uma,maneira prodigiosa, principalmente depois dos ultimas aperfeiçoamentos que se lhe têm feito { •• .)

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,..

..

39

Mme. Bessa corta p erfeitamente qualqu e r obra da homem ou de senhora; e, logo que for honrada com a confiança_·das moças el egantes,_~ de crer que se torne a modista do tom, embora nao tenha para is­to a patente de francesa, e não more na Rua do ouvidor. 40

, A •

A analise de suas cronicas mostra claramente seu proj e-

to modernizador para a sociedade brasileira. Jos~ de Alencar

abordou os temas do progresso, em voga na sua ~poca: a indus­

tr i alizaçio, a sa~de e a hig i ene dos lugares p~blicos e da ci­

dade, o desenvolvimento da pesca, a educação. Desejava que o

Brasil se aproximasse do.s Estados Unidos deixando de sofrer

a influ;ncia europ~ia, com quem gast~vamos todo o nosso di­

nheiro compr ando futilidades. Outra id~ia constante de Jos~

de Alencar~ a crença no trabalho e nas profiss~es, princi­

palmente as· modernas: dos luveiros, padeiros etc. , .

A epoca mudou; aos feitos de arma sucederam as cgnquistas da civilização e,da indústria. Oco­mercio se desenvolve; o espirita da empresa, ser­vindo-se dos grandes capitais e das pe~uenas for­tunas, promove o engrandecimento do pais, e pre­para um futuro cheio de ri queza e de prosperida­de.41

, Este espírito da euq:~resa e esta atividade co-

mercial prometem sem d~vida alguma, orandes re-, ,. , 'r . sultados para o pais, porem e necessario que o governo saiba dirigi-lo e aplicá-lo conveniente­mente; do contr~rio, em vez de benef1cios, tere­mos de sofrer males incalculfveis.42

nf prAciso nio conceder autorizaçio para incor~oraçio

de companhi a s que nio revertam em bem ao pa{s.tt 43

Os ministros, os grandes, o s ricos, não sabem disto; mas o pobre o sente, o pobre que, no meia de toda essa agitaçio monet~ria, de todo esse jo­go de capitais avultados, ve as grandes fortunas crescerem, absorvendo os~seus pequeno~ recursos, e elevando o preço dos gen eros da Rrimeira neces­sidade a uma taxa quase fabulosa.44

ttPorque a Europa . ainda nio conseguiu chegar a soluçio

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- ' - . 45 dsste gr ande probl em a social, nao e razao para desanimarmos.tt , , -»o que e verdades que n ao devemos deixar de concorr er

com as nossas forças para essa obra filantr6picia da extinçio , 46

da pobreza prolotaria.»

Nesta mesma noite teve lugar a reuniio da So­ciedade Estatística na sala onde se achavam ex­postos os produtos industriais dos Estados Uni-. dos, que o Sr. Fl e tcher oferecera a Suas l11ajesta­des ••• ( ••• ) Depois de falar sobre a ignor;ncia absoluta e recÍ~roca que existe no nosso pa{s e nos Estados Unidos sobro a organização politica, a_administraçio e o progresso de urna e outra na­çao, mostrou os desejos que tinha, de fazer co­nhecido na sua pátria e de estreitar assim as re­l~çÕes ci~erciai s e _politicas dos dois povos ame­ricanos.

Se o Sr. Fletcher conseguir realizar esta id~ia, pela,qual parece trabalh~r cgm tanto entu­siasmo, fara um grande serviço a Amarica. Talvez dessas relaç~es que via começar nasça um grande pensamento de política americana, que no futuro venh a dirigir os destinos do novo mundo e a por um termo~ intervençio europ~ia.48

, J o s e d e A 1 s n e ar f o i uni c o n s e r v a d o r , no se n t.i d o d e qu e

não questionava o sistema poLitico br asileiro, era um monar­

quista, mas queria una mon arquia moderna, que voltasse as

costas para a Europa e. desenvolv e sse o Pa{s. Ele com e n t ou

. , -todos os temas important e s da epaca, e nao pode ser qualifi-

cado como um cronista das coi s as mundanas: a caloniz aç io, a

industriali zaçio, o desenvolvimento da pesba que baratearia

o custo dos alimentos, a cri açio de uma escola brasil e ira de

teatro, a liberdade de imprensa foram temas que passaram dao

correr da penatl.

4o3 - Machado de Assis

, Se Jose de Alencar foi jornalista mais completo, tendo

ocupado v~rias funç~es dentro da estrutura dos jornais da

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. .,,

41

, epoca, l•Jachado de Assis foi o cronista que levou o gênero à

p erfeiç~o, no Brasil. lr;nico, cínico, Machado de As sis tal­

ve z t enh2 sido o ~nico obs ervador brasileiro que conseguiu

examinar a sociedade sem paix;es. Seu humor aparece nas cr~-

nicas mais ,

do que nos romances, dando um tom ser io aos acon-..

tecimento s l eves, as coisas do dia a dia e rindo, brincando ,

com as coi s~ s serias, com os graves a contecimentos da huma-

nidade. Sobre tudo, ele coloca seu olhar lÚcido e malancÓli-

co • .

A fri e za e distanciamento diante dos fatos, que Macha­

do de Assis se imp;s com disciplina e que norteou toda a sua

vida profissional, foram mal compreendidos por este pais pas­

sional. Nesta crônica d'~ Futuro, de 1862, com apenas 23 anos,

Machado de Assis deixa as linhas de comportamento e discipli­

na que nort eariam toda a sua vida.

Tirei hoje do fundo da gaveta onde jazia, a mi­nha pena de cronista( ••• ) - Vamos l~J que tens aprendido desde que bi enca­fuei entre o s meus esboços de Pro!ª e verso! Necessito mais qua nunc~ de ti; ve se me dispen­sas as tuas melhores ideias e as tuas mais ba ni-, ta s palavras; vais escrever nas paginas do ~-~Q· Olha para que te guardei eul Antes de come­çarmos a nosso trabalho, ouve, amiga minha, alguns conselhos de quem te preza. e não te quer ver en­xovalhada. Nio te envolvas em po~;micas de nenhum genero, nem pol iti cas, nom lit~rarias, nem quais­quer outras; de outro modo vera que passas de honrada a desonesta, de modesta a pretensiosa, e em um abrir e fechar de olhos perdes o qu E tinhas , e o que eu te fiz ganhar. O pugilato das ideias ~ muito pior que o das ruasJ tu ~s franzina, re­trai-te na luta e fecha-te no circulo dos teus .. deveres, quando couber a tua waz de escrever cro-nicas. sê entusiasta para o genio, cordial para o talento, desdenhara para a nulidade, Justicei­ra sempre, tudo isso com aquelas meias-tintas, tio necess~rias aos melhores efeitos da pintura. Comenta os fatos com reserva, louva ou censura, .. c2mo te ditar a conscie~cia! se~ cair na exager~- 49 çao dos extremos. E assim viveras honrada e feliz.

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M~rio de Andrade, apesar de ser um analista que conse­

guiu pensar em profundidade a literatura brasileira, que via

na frente de seu tempo a import~ncia e o papel de Machado de

Assis, não escapa a esta exacerbação verbal, vicio dos pensa­

dores br asileiros. Nesta crítica que faz sabre Machado de

Assis, nas comemoraç~es do centenir i o de seu nascimento, pin­

çamos alguns dos trechos mais criticas; e pouco objetivos:

Talvez eu não devesse escr~ver sabre a obra de Machado de Assis nestas c.elebraçÕes de centen~-.. riO••• Tenho pelo genio dele uma enorme admira-ção, pela obra dele um fervorosa culta, mas. Eu pergunto, leitor, pra que respondas ao segredo da tua consci;ncia; amas Machado de Assis? ••• E esta inquietação me melan~oliza. ( ••• ) Acontece isso da gente ter as vezes por um gran­de homem a maior admiração, .o maior cu! to 1 e não poder amar ••• Ama-se Camões, adora-se Antonio No­bre, mas~ impossível amar Vieira. ( ••• ) E aos artistas a que faltem esses dons de gene­rosidade, a confiança na ~ida e no homem, a es­perança, me p areca impossivel amar. ( ••• ) Machado de Assis nio profetizou nada, nio comba-teu nada, nio ultrapassou nenhum limite infecun­do. Viveu moral e espiritualmente escanchado na burguesice do seu funcionarismo garantido e mui­to honesto, afastando de si os perigos visiveis. Mas as obras valem mais que os homens.50

... , Ao final da cronica Maria de Andrade deixa esta marca

de seu estilo:

Mas estou escrevendo este_final com uma raeidez nervosa •• ~ Meus olhos estao se turvando, nao sei ••• Talvez eu j; nio esteja mais no terreno da contemplaçio. Talvez esteja adivinhando ••• s1

, ' , (

Mario de Andrade abre espaço a duvida. E temos ai dois ,

estilos totalmente opostos, Machado de Assis e Maria de An-A

drade. O primeiro frio, objetivo, preciso, economico na pa-

lavra, o segundo que fez de sua vida e de sua obrâ um exarai-

-cio da paixaa.

As cr;nicas de Machado de Assls nio envelhecem, nio s6

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porque seu estilo supera a própria fragilidade da crônica co­

tidiana -- partindo de pequenos detalhes da vida de todo 0

.. dia, o cronista consegue chegar as agruras da natureza huma-

na -- mas num outro sentido bem mais prosaico,~ o Brasil i-, ,

mutavel, que torna as criticas de Machado de Assis, mesmo as

factuais, sempre atuais. As an~lises política~ de Machado de

Assis sio eternas, o oportunismo político, o achincalhe que

caracterizam a vida parlamentar, desde a Monarquia Constitu­

cional, nio mudaram atrav~s dos tempos. E Machado de Assis~ , ,

implacavel na ahalise. Como um pintor impressionista vai dan-

do leves pinceladas-.. pequenas frasas inseridas, reflexões

esparsas ao longo de crônicas aparentemente descomprometi­

das -- e o quadro está pronto. Lá aparece nossa vida estampa-"' . , da. Nesta cronica publicada na YJU'J3~ Q.ê. NgtLcia..§>., na coluna

1 a Semana, em 1892 Machado de Assis traça este quadro da vida

polftica no Rio de Janeiro. Nesta cr;nica, com habilidade,

ele critica a Monarquia e a RepÚblica, e a pequene2 da poli-...

tica mun i cipal. Vale lembrar que a Intendencia nova corres-..

ponde a prefeitura: , . ,

Um dos meus velhos habitas e ir, no tempo das ... c!mar,s,..,passar as h~ras ~as galerias. Qufnd~ nao ha camaras, vou a municipal ou intendencia, . , ao JUri 1 onde 9uer que possa fartas o meu amor dos negocios publicas e mais particularmente da eloquência humana. ( ••• ) Nas galerias das c;maras ocupo sempre um lugar na primeira fila dos gancos; leva-se mais tempo a sair, mas como eu so saio no fim, e às vezes depois do fim, importa-me pouco essa dificulda­da. A vantagem~ enorme; tem-se um parapeito de pau, onde um homem pode encostar os braços e fi­car a gosto. ( ••• )

_ No SenadoJ nunca pude fazer a divisio exata, nao porque la falassem malJ ao contrario, fala­vam geralmente melhor que na 6utra c;mara. Mas não havia barulho. Tudo macio. Eu mal chegava ao senado, estava com os anjos. Tumulto, sarai-

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.,

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v~da grossa, caluniador para e~, caluniador para la, ei.s o 9ue podo manter o inter;sse de urn deba­te. E qu~ ª.ª vida senio uma troca de cachaç;es?

A ~epublica trouxe-me quatro desgostos extra­ºEdinario s; um foi logo remediado; os outros tr;s naa. O que ela mesma remediou, foi a desastrada idÓia de mant~r as câmaras no palácio da Boa Vis­ta. Muito politicç e muito bonito para quem anda com di~heiro no bolso; mas obrigar-me a pagar dous niqueis de passagem por dia, ou ir~ p~, era um desproposito. Felizmente, vingou a ideia de .. ... tornar a por as e amaras 0111 contato com o povo, e descemos da Boa Vista • ..., ..

Nao me falem nos outros tre~ desgostos. Supri-mir as interpelaç;es aos ministros, com dia fixa­do e anunciado; acabar com a discussio da respos­ta à fala do troho; eliminar as apresentações de , rninisterios novos ••• - , Ohl as minhas belas apresentaçoes de ministe-riost Era um regalo ver a câmara cheia, agitada, febril, esperando o novo gabinete. Moças nas tri­bunas, algum diplomata, meia duzia de senadores. De repente, levantava-se um sussuro, todos os o­lhos voltavam-se para a p~rta central, apare cia p ministerio,com o chefe a frente, cumprimentos

.a direita e a esquerda. 59ntados todos, erguia~se um dos membros do gabinete anterior e expunha as razões da retirada; o presidente do conselho er­guia-se depois, narrava a historia da subida, e definia o programa. Um de putado da oposi~ão pe­dia a palavra, dizia mal dos dous ministerios, achava contradições e obscuridades nas explica­ç~as, e julgava o programa insuficiente. R~plica, tr~plica, agitaçio, um,dia cheio.

Justiç~. Justiça. Ha usos daquele tempo que ficaram. As vezes, quando os debates eram caloro­sos, - e principalmente na s interpelações, -· au da galeria · ~ntrava na dança, dava palmas. N~o sei .. quando começou este uso de dar palmas ~as galeri-as.( ••• ) ·

Confesso que eu ne111 sempre sabia das razões do clamor, e não raro me aconteceu apoiar dous con­trirlos. Nio importa; liberdade, antes confusa, que nenhuma •

~ -Esse costume prevaleceu, nao acompa~hou os que paçdi, felizmente. Em verdada, s2ria lugubre, se, alem de me tirarem a~ interpelaçoes a o resto, a­cabassem metendo-me uma r;lha na b~ca. Era melhor assassinar-me logo, de uma vez. A liberdade nio ~ surda-muda, nem para1Itica. Ela vive, ela fala, ela bate as mias, ela ri, ala assobia, ela clama, ela vive da vida. Se eu na galeria não posso dar um berro, onde~ que o hei de dar? Na rua, feito maluco?

Assim continuei a intervir nos debates, e a fazer crescer o meu direito pol1ticoJ mas estava

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longe de esperar o reconhecimento imediato, ple­no e absoluto que me deu a intend~ncia nova. Ti­nha ganho~muito na outra galeria; enriqueci na da intendancia, onde o meu direito da gritar, a­pupar~ aplaudir foi bravamente consagrado. ( ••• )

, A

, O melhor que ha no caso da intendencia nova, e que ela mesma deu o exemplo, excitando-se de tal maneira, que me f;z esquecer os mais belos dias da câ111ara. Em minha vida de galeria, que J'á ... , , nao e curta, tenho assistido a grandes disturbios parlamentares; raro se ter~ aproximado dases­tr~ias da nova represent!çio do municÍpio. Nio desmaie a nobre corporaçao. Berre, ainda que se­ja preciso trabalhar.

Pela minha parte, fiz o que pude, e estou pron­to a fazer o que ouder e o que não puder. ( •• ,) Digo por linguagem, qu~ ainda,posso ir adiante; e finalmente qu,, se ha p2r ai alguma frase me­nos incorreta, e reminiscencia da tribuna parla-, -mentar ou judiciaria. Nao se arrasta uma vida in-teira de galeria em ~alaria sem trazer algumas a-mostras de sintaxe. 5 . ,

A informaç~o polÍtica em Machado de Assis, vai al~m da

pintura de quadros da vida parlamentar, e mostra as dicicul­

dades de normalização da vida politicados estados com a ins­

talação da RepÚblica. O estilo irônico do narrador ~f.., lem·­

bra as crlticas que Seba Smith fazia; vida parlamentar ame­

ricana, como veremos em uma de suas cr;nicas no cap!tulo o

produzimos abaixo, publicada em 1892, temos um exemplo desta

ironia de Machado de Assis, que ao mesmo tempo nos desvenda

as dificuldades regionais de adaptação à nova ordem politica,

e a interferência indireta inglesa nos assuntos do Brasil.

Mato Grosso foi o assunto principal da semana. .. .. . Munca ele esteve menos !fato, nem mais Grosso. Tu-dg se espefav! rlaquelas parag1ns, exceto uma re­publica,,se sao exatas as noticias que o afi~mam, porque ha outras que o negam; mas neste caso a minha regra é crer, p·rincipalmante se ,há telegra-, , ma. Ningu!m imagina~ fe que tenho em te}egramas. Demais, folh~s europ~ias de 13 a 14,.do mes passa­do falam da nova republica transatlantica como de cousa feita e acabada. Algumas descrevem a bandei­ra.

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Duas dessas f;lhas (por.sinal que !ondrinas) chegam a aconselhar ao governo da Uniao que aban­done Mato Grosso, por lhe dar muito trabalho e ficar longe, sem real proveito. Se eu f~sse go­v;rno, aceitava o conselho, e pregava uma boa pe-

~ , ~ ' ça a nova republica, abandonando-a, nao a sua sorte, como dizem as duas f~lhas, mas~ Ingla­terra. A Inglaterra ~amb~m perdia no neg~cio, porque o novo territorio ficava-lhe muito mais longe; mas, sendo sua obrigaçio não deixar terra sem amanho, tinha de suar o top;te s; em extrair miner~is, desbastar, colonizar, pregar, fazer em suma de Mato Gross6 um mato fino.

Eu, rigorosamente, nio tenho nada com isto. Não perco urna unha d~ p~ nem da mia, se pe rderrncis Mato Grosso. E nio ~ melhor que me fique antes a unha que Mato Grosso? ~m que ;,qu~ Mato Grosso~ meu? Não nego que a !deía da_patría deve ser aca­tada. Mas a nova republica nao bradou: abaixo a

, A

patrial como um rapaz que fez a mesma cousa em I A • ' • -França, ha tres meses, e foi condenado a pr1sao

por um tribunal.( ••• ) , Vêde bem que a nova republica~ una e indivi­

sível. Aqui h; dente de coelh~; parece gue o fim ~tolhera sobarania a Corumba, a Cuiaba, que po­deriam fazer as suas constituições particulares, como os diversos Estados da União fizeram as suas. Eu s; havia notado, em relação a ;stes, a dife-< ,v

rença dos titulas dos chefes, que uns sao gover-nadores, como nos Estados Unidos da Am~rica, ou­tros presidentes, como presidente da RepÚblica. A princ{pio supus que a fatalidarls do nosso nas­cimento (que~ de chefe para cima) obrigav~ a nio chamar gov e rnador um homem que tem a reger uma parte soberana da União; mas, consultando s;bre isso uma pessoa grave do interior, ouvi que ara-_.._ . , , ZRO era outra e historica, isto e, que a prefe-rencia de presidente a governador provinha de ser À , .

este titulo odioso aos povos, por causa dos anti-gos governadores col~niais. N~o s~ compreendi~ explicação, mas ainda lhe grudei outra, observan­do que, por motivg muito mais antigo, foi acerta­do nio adot~r o titulo de juiz, como usaram alg~m tempo em Israel (fedor judaico)~ justamente!

O tratamento das cr;nicas de Machado de Assis~ objeti­

vo, os ternas são sempre tratados de urna forma totalmente im-, . , -

pessoal. Este e o aspecto que incomoda os criticas, que nao

vêem nele um engajamento nas causas da RepÚblica e Abolição. !

A posiçio pessoal de Machado vem escondida por tr~s das obser-

vações do narrador. Dois tipos de narrador podem ser identi-

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.~

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ficados er.1 su as crônicas: o narrador ~ e o narr a dor ,g_rí~i.­

.9.Q.• o n a rrador machadiano desmonta o raciocinio do interlocu-.

tor - p e rsonagem anônimo ou personalidade polit.ica com quem , , .

o narrador estabelece dialogo. Al8m do interlocutor o narrador

rl i c.loga t amb~m com os leitores. Basicamente as crônicas de

f'1achado observam este movim e nto: o narrador (~ ou critico)

dialoga·, pondera, argumenta com o · interlocutor ou com o lei-.,.. .

tor. Em algumas cronicas aparece os dois tipos de narrador, 1

ora .o.êlf. ora critico explicito.

O narrador ~.f. finge ignorancia, acredita em tudo o

que contam, aceita a norma estabelecida, repete o lugar comum,

e mostra um caráter oportunista. Este !l.!Ll1. aparece e lTl mui­

tas crônicas. Segue uma lista dos com e nt~rios deste "brilhan­

te" narrador:

Desde que \i em um artigo de um ilustre amigo meu distinto medico, a lista das pessoas eminentes que na Europa acredi~am no espiritismo, comecei a du~idar da minha duvid a . Eu em geral, ~reio em tudo !c~ilo que na Europ a ~ acred!tado. Ser~ ob­cecaçao, preconceito, mania, mas e assim ~esmo, , - .

o ja agora nao mudo, nem que me rachem. Portanto, duvidei, e ainda bem que duvidei de mim.54

»confesso qus eü nem sempre sabia das taz~es do clamor, e nio

raro me aconteceu apoiar dous contr~rios. Não import e ; liber­

dade, antes confusa, que nenhuma." 55

Eu, pela minh a p a~te não tinha parecer. Mão era PºE indife; e nç a ; e que me custava achar uma opi­niao. Alguem me disse que isto vinha de que cer-

• A

tas pessoas tinham duas e tres, e que naturalmen-te esta injusta acumulaçeo trazia a mis~ria de muitos; pelo que era preciso fazer uma grande re­volução econÔ1nica, etc. Compreendi ílue era um so­cialista que me falava e mandeio-a ~ ~ava.56

Nio quis saber de mais nada; dasde que os inte­ressados rompiam assim a solidariedade do djrei­to comum,~ que a questio passava a ser de sim­ples luta pela vida, e eu, em todas as lutas,

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estou sempre do l ado do ve ncedor. 57

"~~. mas neste caso a minha r egra~ crer, principalm e nte se

ha, l · ' ' 58 te egrama. N1nguem imagina a fe que tenho em telegrama.tt

Confesso que neo acreditei na noticia, pio; mas o res peito em que fui educado a letra redonda fêz-me acab a r de crer fosse verdade nio seria impresso.59

. ( a pr1.nc1-para co!!!

que se n ao

0 ~li.ê.QOr crítiE.Q. ~ rn a is sér i o, faz apar e c e r a ignorân-,

eia do int e rlocutor. Ao contrario do narrador naif, se consi------- -----dera superior ao interlocutor mas geralmente considera o lei­

tor inteligente e capaz de compreender suas ironias, apesar

de tamb~m aparecer um leitor ignorante que nio compreende o ,

que o n arrador esta querendo dizer.

Pensai antes n~s festas nacionais dos Estados, posto seja dificil, a respe i to de alguns, saber a verdade dos telegramas. Aqui estão dous da For­taleza, Ceará, datados de 16. Um: 'Foi imenso o , - , regozijo pelo aniversario da proclamaçao da Repu-blica•. Outra: 'O dia 1 5 de novembro correu frio, , , no meio da maior indiferença publica.• Va um ho-mem crer em telegramasl A mim custa-me muito; Bismarck n;o cria absolutamente, tanto que con­fessa ag~ra ha ve r alteradg a noticia de um, para obrigar a guer ra de 1870. O

»J; o leitor adivinhou o meu medicamento. Ni o se pode

falar com gente esperta; mal se acaba de dizer uma coisa,

conclui logo a coisa restante.rt61

A razão que me faz amar, sobre todas as coisas ... , deste mundo, a nossa Ilma Camara Municipal 1 e que ali a gente pode dizer o que tem no coração.

C~ fora tudo sio restriç~es e cortesias. Um ... , , homem cre que outro e tratante e da-lhe um abra-ço( ••• ) , , ;

Na llustrissima e o contrario. Tudo ali parece resRirar o estado social de

Rousseau,~ a pura delfcia da natureza em primei-~ - , . ra mao. Nao ha sedas rasgadas, nem outras bugi-

ganga~ e convenc~Õ es. (•••l A ultima sessao (para nao ir mais longe) deu­

nos um desses espetaculns em que a natureza rude e ingênua vinga os seus ' foros.62

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Toda a gente_sebe que eu, sempre que~ pre ciso e­logiar-me, nao reco~ro aos vizinhosJ sirvo-me da p r a t a d a casa , qu e e p r 3 ta v e l h_ a e d e 1 e i • Agora fuesmo, ·podià ,dizer prata ordin~ria ou casquinhas mas não ~igo• Digo prata de lei;63

, O es tilo de dialogo tll1if. com os leitores foi empregado

... . . por tres escritores arnrricanos que forariJ muito populares no

s~culo XIX, na d~cada de 50. Seba Smith, Charles F~rrar Browne

e Charles Henry Smith escreviam artigos em forma de corres­

pond;ncia, em que criticavam asperamente a sociedade e a vi-... , '

da parlamentar americana. O estilo !lill, ironico e humorísti-

co desses escritores influenciou toda uma geração de jorna­

listas e escritores americanos, entre os quais o mais famoso , , (

e Mark Twain, como veremos no proximo capitulo.

4.4 - Concepç;es políticas de Machado de Assis

Muito se tem falado sobre a alienaçio de Machado de As­

sis em relaçio aos grandes temas nacionais, como a Aboliçio

e Rep~blica. Este trabalho seria omisso se não tratasse da

quest;d, e mostrasse a sutileza da informaçio que nos legou

- .. , Ma chado de Assis em relaçao a Historia do Brasil.

( . -A critica ao nao engajamento de Machado de Assis na cau-

sa da aboliçio começou com Hermet~rio dos Santos, que lago a­

p6s a morte do escritor escreve uma crônica acusando Machado

de Assis de ser mulato e nio defender os escravos, e tem si­

do repetida por muitos outros.

Sobre a questão da RapÚblica, urna crônica da s~ris ~

~, publicada em 11 de maio de 1988 (dois dias antes da Ab~­

liçio), mostra as id~ias de Machado de Assis sobre a questio.

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..., .. ,

50

A cr;nica trata do epis;dio da alforria que estava sendo da-.. ,

da, em garnde escala, as vesperas da Aboliçio, e termina em

, -um dialogo entre um interlocutor e o narrador em que nao fi-

ca claro qual o papel de quem no di~logo. O di~logo é o se­

guinte:

- Sim, senhor. Saiba que o Clapp tinha o plano feito de ir a Ouro Preto pegar os tais escravos e restitui-los aos senhores, dando-lhes ainda u­ma pequena indenizaç~o do seu bolsinho, e pagan­do ele mesmo a sua passagem da estrada de ferro. Foi por isso que ••• - f-1 as então qu em ~ qu e e s t ~ a qu i d oi d o? - É o senhor; o senhor é .9ue 12erdeu o pouco juÍ-zo que tinha. Aposto que nao ve que anda alguma cousa no ar. , - VeJ·o; creio que e um papagaio. - , , - N ao, senhor; e uma republica. Querem ver que tamb~m não acredita que esta mudança~ indispen-s~vel? . -- Homem, eu, a resgeito de governo, estou com , , , Aris~otsles, no capitul~ dos chapeus. O melhor chapeu ~ o que vai bem a cabeça. Este, por ora, nio vai mal. . - Vai pessimamente. Está saindo dos eixos ~ pre­ciso que isto,seja, senão com a monarquia, ao me­nos com a republica, aquilo que dizia o Rio-Pest de 21 de junho do ano passado. Voce sabe alemao?

Não. Não sabe alem~o?

E, dizendo-l~e eu outra v~z que não sabia, ele imitando o medico de Moliere, dispara-me n8 cara esta algaravia do diabo: - Es d~rfte leicht zu Erweisen sein, dass Brasi­lien weniger eine konstitutionelle Monarchie als eine absolute Oligarchie ist. - f'las 5,ue quer ,is~o dizer? - Que e deste ultimo tronco que deve brotar a flor. - Que flor? - As 64 Boas noites.

... , (Esta cronica tambem foi analisada por John Gledson, em

jiJachado f!.§. Assis, ficção ~ hist~ria).

A frase em alemão~ a mensagem cifrada~ quer dizer:

Seria fácil provar que o Brasil é mais uma oliga·rquia absolu­

ta do que uma monarquia constitucional. AÍ está a mensagem de

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ê

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- , "' Machado, nao e uma questao de contrapor~ Monarquia, a Rap~-

blica, porque a oligarquia , 1

absoluta, autoritaria e atrasada

que governaria a nova rep~blica seria a mesma. Machado de As­

sis muito escreveu contra o sistema federativo. A Federação

para ele, significava dar o poder ao que de mais retrÓgado

existia no Brasil: as oligarquias escravocratas do interior.

As referências aos caciques politiaos locais são uma

constante nas cr;nicas de Machado de Assis. A revoluçio Far­

roupilha deu margem para que Machado de Assis criticasse as ,

oligarquias gauchas. Em dois romances ele apresenta a questão

do casamento entre jovens da corte do Rio de Janeiro com mo-,

ças gauchas. Felix, em~ velha, acaba casando com uma Si-

nhazinha do Sul, selando simbolicamente o fim dos conflitos

separatistas, atrav~s do casamento do j~vem da Corte com uma

representante da oligarquia do Rio Grande do Sul. Em .!2já Ga~­

ili, a casamenteira propõe a Jorge o casamento com u ma moça

de Pelotas, que "s~ casaria com um j~vem da corte" (o casa­

mento acaba nio se realizando). Para Machado de Assis, as re­

lações de familia podiam refletir realidades sociais muito

mais profundas.

Em outra cr~nica de 4 de maio de 1888, Machada faz re-

A • ' f # feroncia a politicado Ceara, e relaciona o fato com a Lei

Aurea que estava por ser as s inada, sem que se .consiga enten­

der exatam ente aonde ele quer chegar. Seria necess~rio uma

pesquisa em jornais da ~poca da Rio de Janeiro e do Cear~ pa­

ra a compreensão do jogo de poder que se fazia ex,ercer na ~­

poca da Aboliçio. Vejamos o procedimento da cr~nica:

O narrador lamenta-se com os leitores por estar muito

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·ti

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"constip ado", num momento em que nunca como antes precisaria

estar em perfeita sa~de. Cita duas das -razoes~

A primeira ~ a abertura das c~inaras. Real mente de­de ser solene. O discurso da princosa, o anúncio da lei da abolição, as outras reformas, se as há, tudo exci~a curios i dade geral, e naturalmente pe­de uma saude de ferro.

Depois ele d~ a segunda razio, dizendo que se prende~ primei­

ra. E di z :

Já o leitor adivinhou o que é. Não se pode conver­sar nada, assim mais encobertamente, que ele nio perceba logo e não descubra. É isso mesmo; ~ a po­liticado Ceará.

O narrador diz ent~o que e nt r aria no Senado e i ria t er com o

sanador cearense Castro Carreira, para dizer "mais ou menos

isto 11 :

# -Sabera V. Exl que eu nao entendo patavina dos • #

partidos do Ceara ••• -- Com efeito ••• ~ Eles são dous, mas quatro; ou, mais acertada­mente, sio quatro, mas dous. -- Dous em quatro.

Quatro em dous. Dous, quatro. Quatro, dous. Quatro. Dous. Dous. Quatro. Justamente. Não ~? Claríssimo.

Dadas estás explicações, pediria eu ao Sr. Castro , Carreira que me desse al~umas noticias mais indi­viduais dás grupos Aquir8s lbiapaba •••

O diálogo continua, e o narrador vai pressionando o Se­

nador, no sentido de mostrar que não h~ diferenças entre os

dois grupos. ,

De acordoJ mas o que e que os separa? Os princiGJios. Q~e p~incipios? , Nad ha outros; os Rrincipios. , , , - , . , ..

_Mas Aquira~ e,um ti~ulo, nao e um pr1nc1p10J Ibiapaba tambem a um titulo.

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, , 1

Ha entre o ceu s a terra mais acumulaçÕos do que vossa vã filosofia ••• -: Pode ser , mas isto ainda não me explica ara­zao deste mistura ou troca de grupos, parecendo melhor que ,se fundi;ssom de urna vgz, com os anti­gos adversarias. Nao lhe parece? 0

, , 1

Fica claro um dos pontos nevralgicos da critica de Ma-

chado de Assis à politica brasileira: a falta de ideologia

dos partidos políticos, que não passam da meros grupos cujos

objetivos sio simplesmente atingir o poder •

.. . Em outra cronica, de 20 de dezembro de 1868 ele trata

mais diretamente da questão dos partidos politicos, através

do diálogo entre dois deputados da Assembléia Provincial de

Niter6i, em que o conservador Monteiro da Luz e o liberal , . , , ,

Heredia de Sa consideram as ideias politicas do Deputado Ma-..., , " ,

galhaes Castro compatíveis com as ideias partidarias de ca-

da um.

- Sr. 1~1agalhães Castro: agora pergunto: quem tem esses desejds o que~? o,que parle ser?

Sr. Monteiro da Luz: E conservador. Sr. H~r~dia: f liberal. Sr. Montei~o da Luz: Estou satisfeito. , , Sr. Heredia: Estou tambem satisfeito.

E o narrador crítico conclui:

Portanto, basta que eu exponha as teorias para que ambos os partidos votem em mim, uma vez que evite dizer se sou conservador ou liberal. O no­me~ que divide.66

Nesta outra crônica de 22 de agosto de 1889 (três meses

antes da Praclamaçio da Rep~bliaa), Machado de Assis volta~

questão da ausênci~ de diferença entre as id~ias cobservado~

rase liberais. Numa cr;nica hilariante imagi~a o discurso de '

posse de um deputado de Minas que concorria~ eleiçio pelos

três partidos: conservador, liberal e republicano:

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t .

54

E diria entio que ser conservador era ser essen­·cialrnente liberal, e qu e no uso da liberdade, no seu desenvolvim ento, nas suas mais ~mplas refor­mas, estava a melhor conservação.( ••• ) O mais dff{cil parece que era a uniio dos princi­pias monarquicos e dos princlpios republicanas: puro engano ••• Diria que nio vinha ali combat;­los, mas repres e n~~-los, qye era por ambas as for­mas de governo, tao necessarias uma como a outra; , , a qs fm poderiamas ter n a mgnarquia a republica co­roada, enquanto que a republica seria a liberdade no trono. ( ••• ) Em tai 3 condições prosseguia o , novato, e meu intuito seguir este caminho. Redar-guia o liberal: é liberal; e o conservador: ; con­servador.67

... . Em muitas cronicas de Machado de Assis as sutiliezas

ir;nicas nos escapam, por f alta de conhecimento de quest~es

da ~poca. S~o poucos os estudas sobre as cr;nicas de Machado

de As s is. John Gledson coloca esta questão no sou livro~­

.Q.Q. f!.ê. ~si~, fic~'i9. ~ b,.~stq~~~, e sugere que se pesquise nos ,

jornais da epoca para se tentar decodificar as mensagens ci-

fradas deixadas pelo autor.

Com a abaliçio da escravatura n~o via com o que se re­

gozijar, uma aboliçio tardia que abandonava os escr avos~

pr~pria sorte. Vejamos esta cr;nica de 27 de maio de 1988: , ,

••• o que esta na boca de ~o; de reP,Ública ou coisa ideia esta na ar.

muitas pessoas e um ru-qu e o v al h a , que esta

Noir~? Aussi blanche qu'une autre~ Tienst Vous f aite s de calembours? 8

Mais uma mensagem cifrada de Machado de Assis, que quer , , -

dizer e que a republica seria~ !2.,ranca SQ.!!!,Q. !.!!!U!, ~u~~~· Os

escravos tinham sido libertos, mas nio tinham direito~ cida-

-dania, e a sociedade civil continuaria nas maas da classe di-

rigente branca (aussi blanche qu'une autre).

Machada de Assis faz a condenação da escravidão no !:1§.-,

~óri!!.! de Aires, registrado no diario do Conselheiro no dia

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4-·

13 de maio:

55

Ainda ~e 111 que acabamos com isto. Era tempo. Embo­r2 queimemos todas as leis, decretos e avisos, nao poderemos acabar corn os atos particulares · i t . , , e~cr ur~s 9 ~nventar!os, nem apagar a institui-çao da historia ou ate da poesia.69

Haveria nisto uma critica implicita ao ato de Rui Bar­

bosa que mandava destruir todos os registros da escravidão? - ,

As posiçoes politicas de Machado de Assis aparecem bem

claras, na leitura de suas crônicas. Ele não era contra a mo­

narquia, desde que fosse parlamentar, era claramente contra

as oligarquias escravagistas e atrasadas. Em decorrência dis­

to sra contra a República Federativa que,considerava, forta­

leceria as oligarquias regionais. Nio via diferença na Monar­

quia que se encerrava e na RepÚblica que nascia: ambas dorni­

nad as por uma oligarquia absoluta.

, ' ...., < ' A critica as instituiçoes palitices e a postura dos po-

1Iticos ~ uma constante nas cr;nicas de Machado de Assis.

~as suas obras de ficção todos os politicos, sem exceção, são

oportunitas, aventureiros e mediocres.

Apesar de serem citados nomes de politicos, ~lachado es­

t~ muito mais preocupado em retratar tipos universais, nas

suas pequenas dimens;es hist~ricas, do que se referir a per­

sonalidad e s politicas . deter minadas. As personalidades verda­

deiras citadas nas crônicas nunca são detratados. A ironia re­

cai sobre os atos e nio sobre os individuas.

Algumas reflex;es devem ser feitas a respeito da Macha-!

do de Assis e este conturbado pariodo palitice br~sileiro,

- , marcado pela Aboliçao e Republica. Esta foi a fase menos pro-

dutiva da vida de Machado de Assis. A atividade liter~~ia fi-

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' A • ,

cou praticame nte reduzida as cronicas. O unice romance escri-

t to neste periodo, ll!LJ.ncas QQ..t.9.s., teve uma vida bem acidenta-

da, sofrendo três versões. A primeira versão começa em 1886,

em forma de folhetim, ~ublicado em a Estação. Interrompido t ' ,

durante o periodo que antecede a Republica, volta a ser publi-

cado no m::, smo jornal, mas com algum as modificaçÕos s ubstanci­

ais. O pr~prio nome do personagem foi modificado, passando de

ílubião Jos~ de Castro para Pedro Rubiãa de Alvarenga. Conhe­

cendo-se a simbologia que os nomes t;m na obra de Machado de

Assis, servindo de elemento p ar? se identificar conte~d~~ mais

amplos, pode-se concluir qua a modificaçio não foi gratuita. 1

Para John Gledson, o personagem Rubião está relacionado com

o Brasil. Rubião seria uma alegoria de rubiaceae, o nome la-,

tino do cafe:

Desta maneira aleg~rica, estabelecida j~ no inÍ7 cio do romance, Machado realmente associa o per­sonagem com o paÍs: como o Brasil, Rubião enrique­ceu subitamente e desperdiçará essa fortuna, dei­xando-se esbulhar por capitalistas cud·os verda­deiros interesses estão no exterior.7

Apesar do aspectro pessimista das obras de Machado, s~u

estilo tem um senso de humor fino, uma ironia engraçada, que

A • se faz sentir, principalmente, em suas cronicas.

No período que vai de 5 de abril de 1888 a 29 de agos­

to de 1889, Machado de Assis publicou um a s~rie de cr~nicas,

com o tltulo de~ dias, que significativamente são assina­

das com pseud~nimo. Nestas cr~nicas, mais do que em todas as

outras, o tom~ de ironia amarga. Seu senso ds humor nio con-I

segue encobrir o pessimismo. Bons ~, em contraste com o r ,

titulo, reflete a penumbra sem esperança do . quadro politico

brasileiro. A visio de Machado da Assis sobre o Brasil nio

·~·

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' A " ( se limita a cronica. Ele foi o escritor sens1vel que sentiu

~ue o destino brasileiro estava sendo selado em principias da

d~cada de 1870, quando o Brasil poderia ter sido outro e não , ,

foi, e no final da decada de 1880, quando os politicos diziam

que finalmente seria outro, mas nio foi. A obra ficcional de

Machado de Assis, insistentemente se reporta a estes dois pe­

r.iodas.

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,

5 - O JORNALISl''IO LITERARIO NOS ESTADOS UNIDOS

,

O jornalismo norte-americano do seculo XIX, aposar de

ter sofrido uma forte influ;ncia da literatura, atrav�s da

colaboraçio de muitos escritores, teve algumas caracterfsti­

cas diferentes do jornalismo liter�rio europeu e brasileiro:

a maior delas foi a n�o publicaçio do folhetins na grande im­

prensa. Os editores dos Estados Unidos não fizeram apelo aos

folhetins cotidianos, para atrair p�blico, tendo prefeFido

partir para o jornalismo de crimes e dramas familiares que

recebiam um tratamento prÓxirno do ficcional. Esta imprensa

foi severamente criticada pelos europeus.

quando em 1842, Albany Fonblanque declarou que a im­

prensa inglesa era pouco superior a norte-americana, Charles , Dickens, se levantou para dizer que era impossível comparar

o jornalismo britinico, com a "canalhice do outro lado do a­

tlintico�. (Transtlantic blackguardism).71

..

Os grandes jornais se especializaram num genero ti.pica-,

mente americano, que e dar aos fatos reais, como dramas fami-,

liares, tragedias cotidianas e crimes, uma forma narrativa

proxima da ficção.

Gordon Bennett, um e sco ces que chegou muito jovem aos

Estados Unidos, foi um mestre nesta arte. No jornal que fun­

dou, o .!i§.!:..ê.ld tJ.Q!ning (1835), ganhou muitos inimigos em fun-- ,

çao das historias de interesse humano, que cri��a. Os fatos

sobre sua prÓpria vida eram romanceados e publicados: seu ca-, I

sarnento, em que descrevia os muitos rneritos de sua noiva e

um atentado que sofreu, em plena rua.

Os americanos de todas as classes liam com voracidade

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, .

essas aventuras. E verdade que muitas reclamavam da indiscre-

ção e dos escândalos publicados pelo Herald.

Os jornais populares norte-ame r içanos do s~culo XIX vão

apelar p ara a noticia sensacion alista, romanceada, recheada

de detalhes, para atrai~ o s leitoras das massas populares.

Este apelo ao esc~ndalo de f a tos polici a is ou de pessoas fa­

mosas, tamb~m foi um filio explorado pelo folhetim. O jornal

francês 1:.§. l1latin inaugurou um a fÓrmul..a que foi muito imitada:

a publicação romanceada das memórias de personalidades envol­

vidas com esc~ndalos ou fat o s criminais, onde nio faltavam

nenhum do s ingredientes da ficçio, como o amor, o mist~rio, , ,

a perseguiçao dos adversarias ate a perda ou derrota do per-

sonagem.

-Apesar da grande imprensa norte-americana nao apelar pa-

ra o folhe t im, os escritores participavam ativamente da im­

prensa atr av~s da cr~nica, contos e muitas hist~rias, princi­

palmente de humor, como as cr i adas por Mark Twain e que fora m

um aprend i zado valioso para sua futura vida de ficcionista.

Os romanci s tas gozavam de espaço em um gr~nde n~mero de publi­

caç~es (jornais e revistas) liter;r i as especializadas que pu­

blicavam as obras dos autores norte-am e ricanos que eram dis-

(

criminados pelas editoras do pais.

O jornalismo am ericano produziu em meados do s~culo pas-A A I , '

sacio um genero de cronicas de critica aos pol i ticos e as ins-

. titüiç;e s p~blicas do pais que obtiveram grande sucesso. O

primeiro escritor a se dedicar a este genero, foi , Seba Smith, ,

que fazia comentarias semelhantes ao do narrador ~ de l'la-

chado de Assis.

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Nascido em 1792, Smith começou a escre11er para O ~­

tland Cgur..i.ê..:r;: em 1830 • Com o pseudônimo de Viajar Jack Dowing,

ele publicava cartas endereçadas a amigos e parentes, onde

ia relatando fatos da vida política e parlamentar americana.

O missivista era um interiorano ing~nuo que tomava tud ~ ao p~

da letra, e fazia coment~rios sobre os debates e atividades

parlamentares. O estilo era propositadamente com erros, do lin­

guajar populer da regiio do Maine. Esta cr;nica mostra o tipo

de critica que fazia à atuação dos políticos, no Congresso, 1

no s~culo passado, nos Estados Unidos:

Eles ficaram discutindo quase todo o primeiro dos dois dias sobre o pobre Sr. Robsrts, de Waterbo­rough. Alguns disseram que ele não eoderi~ ocupar uma cadeira porque retardou a reuniao e nao tinha sido eleito justamente. Outros disseram que não era nada disto, e que ele tinha sido eleito tio justamente como qualquer um deles. E o proprio Sr. Roberts disse que ele tinha sido eleito justamen­te e ele poderia trazer homens que comprovariam, isto e que ele poderia trazer homens bons, tambem. f•las apesar de tudo i .sso, q~ando votar,:im, eles con­seguiram. uma maioria de tres ou quatro que decidi­ram que ~le não pod~ria ocupar uma cadeira.

Aqui entra o comentário do narrador !1êlf. que rompe o

ritmo da narrativa e hão deixa dúvidas sobre as intenções crí­

ticas do cronista.

E,eu pen~ei que aquilo ~ra uma crue~dade desneces­saria, ja que o lugar nao estava lotado, e havia um n~msro grande de cadeiras vazias. Mas eles de­cidiram assim, e o pobre homem teve que sa.ir e fi-, car de pe no lobby.

E a cronica continua:

Entio eles passaram a discutir o direito do Sr. fowler de ocupar ou não uma cadeiru. Alguns dis­seram que ele não por:leria porque tinha sido elei­to com votos que tinham sido dados, na realidade, a s eu p a i • fYI as e l e s for a m m a is g e n t is

I

e o m ele d o que foram com o Sr. Roberts, porque eles votaram a favor dele ocupar uma cadeira; e eu suponho que era pprque ele tinha direito legal àe herdar qual­quer coisa que fosse de seu pai. E todos declara­ram que nio havia nenhum interesse partidário

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..

61

naquela decisão, e eu não acho que havia, pois vi que todos os que votaram que o Sr. Roberts nio deveria ocup~r uma 5adeira, votaram que o Sr. Fowler deveriai Ent~o, como todos que votaram i­guais as duas Vezes, eles devem ter sido consci­entes a eu não vejo corno poderia h aver qualquer festa a respeito.72

O autor faz um trocadilho com~~~ tomado aqui como

festa, mas que pode tamb~m ser entendido como partido: fica

· subtendido uma festa como esta ou um _partido como este. As

cr~nicas de humor de Seba Smith tornaram-se extrsmam~nte po­

pulares e muito imitadas.

Outro cronista, Charles Farrar Browne (1834-1867) co­

meçou a c arreira organizando em forma de livro as cr;nicas

de Seba Smith - l.b.!i Life filll!. Writing ~ l1'1ajor ~ Downing. , .

Trabalhou em varias jornais da Nova Inglaterra do Meio Oeste.

Em lBSé publicou sua primeira cr~nica, no mesmo estilo de Se­

ba Smith, em form~ de carta. Foi ele que criou o personagem

do showman Artemus ward, que escrevia cartas irônicas sobre , ( , .

a vida política do pais. Browns e considerado na historiogra-

fia liter~ria norte-americana, como o segundo melhor escritor

de humor dos Estados Unidos, vindo logo depois de Nark 1 Twain, . A , , •

de quem foi contemporaneo. Sua satira mais famosa e Interv1e~

with Presidente Lincoln, em que o personagem Artemus Ward a­

conselha o presidente a se cercar exclusivamente de showman;

pois eles ~ que ,

sabem o que o publico quer, do Norte e do Sul. Os ~~owmeu, senhor, são hom~ns honestos. Se você du­vida da habilidade !iteraria deles, olhe para os cartazes e pequenos anúncios deles.73

Aqui também é feito um trocadilho • .êlll. pode ser anún­

cio ou notas de dinheiro. Pode-se portanto ler: olhe para os

pequenos anúncios deles, ou veja o pouco dinheiro que têm.

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.., r

CharlEs Henry Smith foi o terceiro grande critico da 1

vida po!Itica americana, no s~culo XIX. Nascido em 1826 e ten-

do morrido em 1903, teve uma longa vida de jornalista, escre-.. .

veu cronicas para o Constitution por 30 anos. Era sulista da

Georgia, e apesar de ser humorista, depois da guerra mostrou

em seus artigos os sentimentos de derrota e humilhaçio do Sul. ,

Tambem escreveu cartas, assinadas pelo personagem Bill Arpe

Uma carta endereçada ao personagem Artemus Ward, mostra em

tom ir;nico o ressentimento dos sulistas: ,

Eu digo meu amigo, nos somos o povo mais Qobre da face da terra, - mas somos 'orgulhosos. N~s luta­mos bravamente, e toda a naçio americana deveria e s t ar o r g u l h o s a d is to • Tu d o is to mo s t r a o qu e os americanos podem fazor quando acham que estio sen­do forçados a alguma coisa - ou algo assim. Não foram nossos quatro pais que lutaram~ ,angraram e morreram por causa de uma taxa de cha, 9ue nem uma pessoa em mil bebia? Eles venceram, nao foi uma gl~ria? Mas se eles nio tivessem vencido, eu estou certo que teriam sido consideradcis traido­res, e eles estariam se curvando e se arrastando junt~ ao rei Jorge pedindo perdio.74

, , t A s~tira politica e a critica aos costumes chegaria ao

apogeu, nos Estados Unidos, com Samuel Clemens, que começou I . A

escrevendo hisorinhas humor is tic.é3S em jornais, com o pseudo-

nimo de Mark Twain. Seguindo o caminho aberto por Seba Smith,

imitando, a princ{pio, o estilo de Charles Browne, Clemen~ se ,

tornou o melhor jornalista de sua epoca e um dos maiores es-

critores americanos do s~culo XIX. Sua trajet~ria nio difere

da dos grandes escritores do s~culo ~ como Oickans, Balzac,

Machado de Assis, toda a sua vida ssti ligada~ atividada

jornalistica. Aos 12 anos começou a trabalhar, sua escola foi

a da vida e da experi;ncia, tendo adquirido diversos conheci-

mentas relacionados com os muito trabalhos que teve, , .

em var .tas

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r partes do pais. Ele aprendeu a obsGrvar - uma habilidade ne-

, cessaria na .fronteira - e tinha sede de inf,ormação, qualida-

, das necessarias a um bom jornalista.

Em 1847 tornou-se aprendiz de tip~grafo, e mais tarde

impressor 110 Hannibê.l Jou.r.~J:., onde começou a ler as histó­

rias de humor caracterfsticas do jornalismo norte-americano

do s~culo XIX. Aos 17 anos trabalhou como tipÓgrafo em várias

cidades, e começa sua atividade de jornalista enviando cartas

de viagem para o HanniJ?...sl :2.9JD.'~· Depois disto trabalhou co­

mo aprendiz de piloto nas barcas do f'lississipi. Life On the

f:1.i...ê.~lt.~~ mostra o importante papel que exerciam as barcas,

na vida americana:

Agora uma t;nue fumaça negra aparece sobre um da­queles pontos remotas: imediatamente um condutor de carroças negro, famoso por ~~u olho ripido e voz prodigiosa, ergue um grito, 8-a-rca venvin-

, A

dai e o cenario mudai o bebado da cidade se agi-, ta, os funcionarias acordam, o barulho furioso das carretas continua, cada casa e loja libera u­m~ contribuiçio humana, em um piscar ~e olhos a , cidade morta esta viva e em movimento. Carretas, carroças, homens, meninos, tddos correm de virio~ . lugares para um centro comum, o cais. Reunidos la, as pessoas fixam os olhos no barco que se aproxi­ma, como se este fosse uma maravilha que eles es­tavam vendo pela primeira vez.75

,, Em 1861 a guerra fechou o trafego do rio, depois de ter

servido em breve per1odo como soldado confederado, simuel Cle­

~ens foi tentar a sorte no Oeste como minerador. foi entio ,

convidado para trabalhar como reporter para o Tarritorial ~-

tsrg,i:i§.!!, de Virginia City, quando adotou o nome Mark Twain.

Em 64 trabalhou como reporter e correspondente em Sio Fran-I

cisco. Em 67 viajou para a França, Italia, Espanha e Palesti-

na, enviando histórias para jornais, que foram revisadas e

publicadas como The Innocent1 Abroads (1869). Seu primeiro

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livro importante, cujos rendimentos possibilitariam a compra

de um jornal em Buffalo que durou de 1870 a 71. Quando vendeu

o f;xpr.Ji~ê,, sua associação com jornais teró1inou, mas ele conti­

nuou escrevendo para revistas, e at~ os Últimos anos de sua

vida, escrevsu livros jornalísticos corno Rouqhing 1.1 (1872),

8. Tram,P._ Abroad (1880), LifE1 Q.Q. .lli.ê. t!..-i~t:~)}~.s~rel (1883), e Fol­

lowin.9. the E~u~9.9.t (1897) -· todos criados a partir do que

ele escrevera como jornalista, por v~rios anos. ,

. Uma serie de fatos contribuíram para tornar Mark Twain

um ~timo escritor: -a principal delas era a sua percepçao agu-

da dos detalhes, herança do jornalismo. Quando descrevia o

casebre de um mineiro, registrava os elementos e objetos de

tal maneira, que o casebre aparecia claramente diante dos o-

, -lhos do leitor. Alem disto, consegui3 sentir as reaçoss e i-, ,

deais individuais. lt!..ê. Innocents ~ad e ate hoje muito p.o-

pular, pe la precisão das obsrvaçÕes sobre os costumes e hábi­

tos europeus. Todas estas qualidades serviram para sua vida

de romancista. Ele levou para a literatura a marca de sua

passagem pelo jornalismo. f·las o mais importante, Gle conse­

guia ver o humor am quase todas as situaç~es humanas.

Du r ante sua inf;ncia pobre e no tempo que trabalhou no , ,

Mississipi, Samuel Clemens ouvia muitas historias. Como tipo-

grafo, imprimiu muita~ hist~rias narradas, pr~ximas do esti­

lo oral. Sua primeira obra impressa foi a hist6ria de um sa­

po saltador e uma cornpetiçHO• Foi escrita a pedido do grande ,

humorista da epoca, Artemus ward.

lb.ê. ~~~ra~e~ .llll!J.fl.i_rm, f'J:_0..9. Q.f. Calavera~ County_ foi um

sucesso litor~rio do dia pata a noite. Da{ por diante Mark

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Twain se1npre escreveu hist;rias contando experiências pesso­

ais, no estilo pr~ximo da linguagem oral.

1~1uitos de seus livros relatam sua vida e suas viagens,

entremeados de humor. Em .I!::Ll1 Innce~~-~ 8_~.9., Roughi.!J..9. ,Li, a Tr_ê.P.. ~ad, !:.if.e. Q..12 ib.§. Nissi_l?.ê.-ll!P..i.. e Following .ili§. ~dai;_

e l e u sou e s te p a d r ão d e a u to b i o g r a f i a e o m b i n a d o e o 111 hum o r •

Contudo n~o foi com as hist~rias jornalísticas e nem com his­

t6rias qu e seguiam o estilo do relato oral que conquistou fa­

ma e posição na literatura norte-americana, mas por suas duas

novelas:~ Ave~tu:r;_a~ de ..I.Q.!]_ S~w~~r (1876) e 8..§. Aventuras de

Huckleberr_y_ Il.D..u (1884). Corno os relatos jornalisticos, estas

novelas eram cheias de detalhes concretos por ele observados.

Histo~iadores procuram nos seus livros a realidade da yida

norte- americana no século XIX • .1Q!!1 Sa_w.yer,, por exemplo, faz

uni quadro da cidade de Hannibal (St. Petersburg no livro) no A

tempo de sua infancia - as casas, a igreja, a escola, o cam-

po e o rio. tl.!d.skleber~ re tratou o rio e as cid ades ao longo

dele, de f·li ssouri ao Arkansas. Ao escre11er .1Qm. Sawt_~, /"lark

Twain, tinha a intenção de retratar com fidelidade sua ~poca.

Os diferentes dialetos e linguajares regionais que utilizou ,

ao _longo da obra são uma fonte de pesquisa inesgotavel sobre

as raízes a,nericanas. No pref~cio da edição, o autor exprime

suas intenções de historiador:

-A maioria das aventuras que aprecem aqui sao re-flexo da realidade: uma ou duas foram criadas por mim, o resto sio casos de outros meninos compa­nheiros meus de escola( ••• ) As supertiçÕes aqui mencionadas exist,iarn realmen­te, entre as crianças e os escravos do oeste, ao tempo deste relatoo76

Twain, colocou em suas novelas uma variedade de classes

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' 1

..

1 1

66

sociais, de pessoas, costumes e cenas.

O resultado foi um panorama da vida no vale do Mississi-

pi ,

no seculo dezenove. Tal como nos contos e hist~rias jorna-

1Isticas que imitavam o estilo dos relatos orais, sua ficçio , , e cheia do falar regional c aracterí s tico dos Estados Unidos.

, Em Huckleberry .E..!D..u ele usou varias dialetos: o do negro do

Mississipi, a forma mais extrema utilizada na zona afastada

do Sudoeste, o dialeto 11 Pike County", e quatro variedades mo-,

dificadas deste ultimo.

Ainda que suas novelas se assemelhem as suas hist~rias

jornallsticas, e las diferem em alguns aspectos: as novelas ti­

nham estilo mais cuidadoso, os epis~dios e o livro inteiro t;m

um a e s t r u t u r a m a is o r g a n i z a d a e e n r e d o c o e r e n te • Em 1º!!J. S a w_y e r

virias fios da narrativa contam como Tom passou da infincia

para a maturidade. Atravessando a narrativa de !:i!:!.Q.kleberry:,

Iin.lJ., aparece a afeição e respeito do menino pelo seu compa­

nheiro negro, Jim.

Retiramos urn trecho da crÔnicalt:Lê. Dange_t, Q.[ Lyin.9. l!:!. Bed

como exemplo do estilo de Flark Twain, que combina a informa-,

ção objetiva, hGrança de su a vida jornalistica, e o senso de

humor fino, 4ue pode tirar partido de uma fria estatlstica o-

f ici al •

Eu pesquisei estatísticas e fiquei surpreso ao descobrir que depois de todas as brilhantes man­chetes de jornal referentes aos desastres de trem, menos de trezentas pessoas realmente perderam a vida nestes desastres nos ~ltimos 12 meses. A ferrovia Erie era a mais homicida da lista( ••• ) e levava uma rn~dia diária de 6 mil pcissageiros. Isto é cerca de um milhão em seis meses - a po­pulaçio da cidade de Nova Iorque. Bem, o E~ie ma­ta de 13 a 23 pessoas do seu milhão em sais me­ses; a no mesmo tempo 13 mil do milhão de habitan­tes do Nova Iorque morre na carnal l'linha pele ar-

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repiou-se, meu cabelo ficou em p~. 'Isto~ cho­cante!' eu disse, 'O perigo n~o ~ vi e jar de trem, mas confiar na quelas camas mortais. Eu nunca dor ­rnireu numa nov a;;1e nt e ' .77

Apes a r da influ~ncia de escritores na grande imprensa

do s Es tados Unido s , vai ser nas rev is tas especializ ad as em

literatura que contos, livro em capitulas, e obras d e auto­

res norte- Rrn ericanos serão publicados. Estas revist as eram

extremame nte populares, e o espaço que ocu param na sociedade ,

norte americana e o mesmo do folhetim em jornais dn Europa, , ,

oferec endo ao publico a cultura !iteraria. A revista HargeL'~ . 1

l'ionthl..Y_, no final da década de 50 conseguiu a extraordin~ria

tiragem de 200 mil exemplares, record rnundial na ~poca. Estas

revistas eralil pratica1nente a Única opção para o es cr i tores a­

mericanos publicarem suas obras.

Co mo as leis internacionais de direito autoral nio exis-

tiarn, editores pirateavam novelas e poemas de e scritores ingle­

sEs, e imprimiam nos Estado s Unido s sem o pagamento de f.QW.­

lli§.• Forçados a competir com esta vasta fonte de nwterial

''gra tuito'', os e scritores americanos s6 tinham um a tênue chan­

CE:l de ver seu trabalho em forma de livro. Por isso, eles vol-

tavam-so para as revistas.

Geor ge s Weill, na s u a fil s t q_:çj.§, d o j o r n a l_ , a t r i b u i a -n s o

e xi stência de folhetins na grande ilflprensa aniericana, ao bai­

xo niv el cultural do povo a1nericano que a ind a não havia des­

per ta do para a liter atura. Este ponto de vista me p orece er­

r;neo porque as revistas liter~rias ocuparam· este espaço na

vida do leitor americano. Na segunda rnetade do s:culo XIX · os

Estados Unidos v~o conhecer u m grande movimento cultural, com

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a criação de cursos pÚblicos, aulas ao ar livre, alfabetiza­

ção de adultos, e a instalação de bibliotecas pÚblicas por

todo o pais (a partir de 1880).

As revistas liter~rias tiveram u~ grande papel neste

período de efervec~ncia cultural, principalmente a partir de

1870 • A .tJ.a~.r.' .§. í'lon th).~ introduziu g·randes ilustraçõ es em

xilogravura e publicava as obras de autores americanos e in­

gleses. Em 1881 aparece a Cent,\Jr_l'. com alta qualidade art.isti­

ca e liter~ria. Scribner'A apareceu em 1886, e a Atlantic

Honsthly em 1857, sern ilustração mas de 6tima qualid ade, es­

peciali z ada em publicar autores americanos. A Literary Digest

(1890) se ocuparia, al~m de literatura, do ambiente polltico

e soci al.

Se os Esta·dos Unidos não conheceran1 o grande impacto

sobre a massa que os jornais com base nos folhetins propici­

aram, a import~ncia dos escritores na imprensa nio foi peque­

na. Atr avés de artigos de critica politica e social e das his­

t~rias de humor ou baseadas em relatos da vid a real, os es-~ ,

cr i tores colaboravam nos jo ~nais. A grande influencia !itera-

ria na imprensa dos Estados Unidos fo.i sobre' a forma da cri­

tica, ~e humor e s~tira política.

Seba Smith, Ch~rles Farrar Browne, Charles Smith e Sa-A

mu e l Cl emens fizeram escola e inauguraram um genero de crÔni-

( ' -ca critica as instituiço es que,praticamente, nunca deixaram . ,

de ser publicadas nos jornais americanos. Art Buchuald e um

exemplo moderno de escritor herdeiro deste esti~o que foi de­

terminante no se6ulo XIX.

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..

6 - O FOLHETIM

Neste capítulo analisaremos a influ;ncia do folhetim no

jornalismo, ,

atraves da obra de Balzac e Dickens, esses dois

grandes pintores da sociedade francesa e inglesa do s~culo

XIX, que tiveram a obra intr i nsicamente ligada~ atividade

jornalistica. Grande parte da obra desses escritores foi pres­

sionada pelos editores, modificada conforme exig;ncias edito-, 1

riais, sem que a qualidade !iterar i a fosse comprometida. Quan-

to ao folhe tirn brasil e iro analisaremos nem~r ias Q&_ ll!!l sarg en.a.

1Q. de milÍcias romance que traça o quadro da sociedade que

estava se formando no princÍpio rlo s~culo XX no Rio d~ Janei-! - , ro, composta por artesaos, pequenos funcionarias, ciganos,

portugueses e brasileiros pobres. Manoel Ant~nio de Almeida

al~m de escrever u~ romance perfeito quanto 1 t~cnica narra­

tiva, escapa dos padrões folhetinescos importados.

Cabe uma explicação sobre a escolha não ter recaido so­

bre nenhum a obra de Jos; de Alencar ou Machado de Assis. f

que este trabalho nio pretende ser um estudo sobre esses dois ,

escritor e s brasileiros e se voltassemos a estudar suas obras

o trabalho fecharia muito sobre os d~is autores. Nossa inten­

ção; o estudo da influ~ncia literiria na imprensa do século A

XIX, e vice-versa. Esta influencia no Brasil foi bem maior do

que poderi~ parecer, caso este trabalho se voltasse apenas pa­

ra os dois autores. A escolha recaiu sobre Manoel Ant~nio de

Almeida pela ~poca em que ele escreveu o Sargento de milicias

(1852), per!odo pr~ximo da pro~~çio de Balzac e dickens, quan­

do o folhetim estava começando a moldar a forma de jornalismo ,

!iteraria na Europa, o que mais valoriza a obra do autor bra-

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·1 . O S t d 'J.' . ' s1 eiro.arg~n o 9Ji m1 1c1a.§_ aparece ass1rn como um a obra

em estado bruto, menos influ enciada pelo g~nero folhetinesco

europeu. ,

Estudaremos tambem a forma narrativa do folhetim, que ...

nos parece ser o ponto determinante da influencia do jorna-

lismo sobre a literatura do s~culo XIX.

A prim eira con s tBtaçio que se faz ao com eçar o estudo ,

do folhetim e que existe um grande preconceito quanto ao fa-

to dos escritores terem publicado suas obras em jornais. A

primeira dificuldade que encontramos foi na escolha dos auto­

r~s de literatura int ernacional, que escreveram para jornais,

porque a historiografia literária consegue omitir esta infor­

maçio quando se trata de escritores consagrado~.A escolha re­

caiu sobre Balzac e Dickens, por ter sido a obra desses dois

escritores quase totalmente publicada em peri~dicos, e porque

encontramos dados suficientes para comprovar isto.

Sabe-se que Dostoievski e Tolstoi publicaram em jornais.

Crime a castigo foi publicado em partes no Mensageiro Russo.

Este livro foi inspirado num crime publicado pela imprensa , ,

russa. Annª- Kaq~nina de Tol s toi tambem foi publicado e m capi-

tulos pelo l'lensageirg Russo, mas quanto as outras obr a s dos . 1

dois escritores ficaram d~v i das quanto~ proced~ncia. 1

... nao

Quanto aos escritores norte-americanos do s~culo XIX,

encontramos nenhuma referência sobre as obras que foram

origin almente publicadas nas revistas e jornais literários.

Na historiografia liter~ria brasileira encontramos a mesma . , ,

dificuldade, mas Nelson Werneck Sodre na sua Historia Q.Q. ~-

nalismo, cita todos os folhetins publicados pela imprensa, o

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1 !

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que elimina o problema.

No Brasil analfabeto, os folhetins via ter urna impor­

tancia maior do que a pequena penetraçio dos jornais p~rmiti-

. ' ria, graças a leitura oral em grupo. Os filhos letrado f das

boas-familia~ liam os folhetins, para os empregados e agrega­

dos. Na Inglaterra, as obras de Dickens eram lid~s oralmente

para os oper~rios analfabetos. Na Europa, principalmente na

frança, onde o folhetim foi realmente massificado, a publicJ -

- f ' -çao destas obras serviu como um estimulo a alfabetizaçao.

A publicação do Guarani provocou uma explosão, nunca

antes ocorrida no Brasil, j; com larga experiência na publica­

ção de folhetins de proced~ncia estrangeira. A cor local do

Guarani trouxe uma revoluçio no gênero, apesar de ter sido an­

tecedido por l'lemÓrias g§_ ~ sargento g§_ mil.icias, que passou , ,

d~sapercebido e duas outras obras do proprio Jose de Alencar,

Luciola e Cinco minut9s.

O de poimento que Visconde de Taunay deixa em Reminiscên­

cias mostra o impacto que Q. Guarani provocou, e a influência

da l ei tura oral.

Em 1857, tal v e z 56, publicou o Guarani em fo­lhetim no Di~rio do Rio de Janeiro, e ainda viva­mente me recordo ;T; ;ntusTa;'°;;-quê" despertou, ver­dadeira novidade emocional, desconhecida nesta ci-- ' -dade tao entregue 8 exclusivas preocupaçoes do co-m~rcio e da bols a , entusiasmo particularmente a­centuado nos circulas femininos da sociedade fi­na e no seio da mocidade, entio muito mais sujei­ta ao simples influxo da literatura, com exclusão , , ( das exaltaç~es de carater palitice •••• ) o Rio de Janeiro em p eso, para assim dizer, lia g Gua­rani e seguia comovido enleado os amoras tao pu­ros e discretos de Ceei e Pari e com estremecida ~impatia acompanhava, no meio dgs perigos e ardis dos bugres selvagens, a sorte varia e periclitan­te dos principais personagens do cativante roman­ce, v~zadci .nos . moldes do indianismo de Chatea~­briand e fenimore Coóper, mas cujo estiló e tao

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caloroso, opulento, sempre terso, sem desfaleci­mento e como perfumado pelas flores exóticas das ngssas virgens e luxuriantes florestas. Quanto a Sao Paulo chegava o .correio, com muitos dias de intervalos sntão,,reuniam- s e muitos s muitos es­tudantes numa republi90, em que houvesse qualquer feliz assinant e do diario do Rio, para ouvirem absortosAe sacudidos, de vez em quando, por el~­trico frernito, a leitura f e ita em voz alta por al­guns deles, que tivesse Órgão mais forte. E o jor­nal era depois disputado com impaci;ncia e pelas · ruas se via agrupamentos em torno dos fumegantes lampiões da iluminação pÚblica de outrora - ain­da ouvintes a ·cercara~ 6uidos qualquer improvisa­do leitor.78

Uma das características do folhetim~ que ele vai so­

frer modificações no decorrer da hist~ria, devido a exigênci­

as do p~blico ou a conting;ncias objetivas que interferem na ,

obra. O leitor moderno, a quem e omitido que o livro foi es-

crito em forma .de folhetim, atribui a um defeito de estilo,

( - , caracter1sticas que sao proprias do folhetim.

Martin Chuzzlewit, p Br sonagern de Dickens, teve que ser

enviado aos Estados Unidos, pelo autor, numa tentativa de ga-,

nhar mais Le itores para o jornal, uma vez que na epoca era 1

, . sucesso garantido ridicularizar os habites e costumes da po-

pulação da antiga colônia.

A defici;ncia de estilo, caracterizada pel a repetição

~ uma necessidade do bom folhetinista, uma vez que entre um

epis~dio e outro passam-se muitos dias e~ preciso lembrar o

leitor, para a história não pe rder a querência. A dist~ncia

entre dez linhas, para o leitor do romance, pode ter signifi­

cado a interrupçio de muitos meses para o leitor do folhetim.

A interrupçio de um folhetim, e a volta alguns meses depois, I

era uma pr~tica bastante comum. guin_ç_'i§. Bgrba de fVlacliado de

Assis, como vimos, foi interrompido por quatro meses, voltando

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mais 1 tarde com algumas modificações. As obras de Alexandre

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Dumas, Foram interrompidas, por sobrecarga de trabalho does­

critor, que quando começou o Cond~ ili! l"lont~ Cris t;,,.Q,, estava

ainda escrevendo três outros folhetins, em diferentes anda­

mentos (L~ ~ Q..§. !.:l.9.D.t§..0..!'.§..f!b!., .b..El .9LULl.f..tl...í_g_:i;_ de l·laison Rouge,

Les Q.u.~t_J;_§_-cing).

Outra caracteristica do folhetim; a prolixidade. Como

os escritores mantinham contrato por tempo de publicaçio, e-,

ram obrigados a esticar o s episodios. Balzac Fugia ura pouco

a este esquema: suas novelas eram curtas, apesar dos persona­

gens voltarem em outras nov elas, tanto que a obra de Balzac

forma um todo homogêneo dividido em grandes temas, como Cenêji

da ~.:ul~ ~~.si?., Cenas~:!_~ garisiense, compondo a Co~fui_~

HuqaJlê,• Muitos escritores ganhavam por linha escrita - o que

era comum nos contratos n a França - o que significava que,

quanto maior fosse o capitul o mais rendimentos. A maioria dcis

escritores que escreviam para jornais, sofriam de uma certa

prolixidad e : Victor Hugo, Dickens, Tolstoi, Alexandre Dumas.

Esta necessidade de fazer render uma obr~, talvez esteja na

causa dos defeitos de estilo de [ Co~cL~ d~ t!.Q.D_t_§. f;..r_L~tr?.· Para

Umbe rto Eco est~ ~~, sem d~vida, um dos mais apaixonantes ro­

mances j~ escritos, e por outro lado, ~ um dos romances mais

mal escritos de todos os te rn pos e de todas as literaturas .n79

Este aspecto de repetiç~o e prolixidad e foi uma carac­

teristica que o folhetim brasileiro soube evitar. O folhetim

brasil e iro, para usar um termo técnico do jornal,isrno, é en-, ,

xuto. [ co;r;:.tlç__Q tem 23 episodios e [emq:i;_~as 9.§. !d.!.lJ. ~arg~~t..Q. 9.§.

milÍcias 48. Nada que possa ser comparado com as 1.600 p~gi-

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nas do fl'lontE!. Crist2,, com os três volumes dos r1is_!:,érios 9-ê. el­ris de Sue, ·e com os fjiserables de Victor Hugo. Oickens sem

pecar pelas ·repetiç;es in~teis, tem um grande estilo narrati­

vo, mas parece prolixo para o leitor contemporâneo. ,

O aparente caos do excesso de personagens, histórias pa-...

ralelas quase cruzam nao diminuem a força do texto. A narra-

tiva do Folhetim tem três ingredientes que dão força ao tex­

to: história central que determina e domina toda a ação, ten-... , .

sao emocional e unidade da construção da carater do persona~

gamou personagens.

A inverossimilhança, as contradições dos relatos, os de­

feitos de estilo (excesso de palavras, repetições etc.) não

comprometem o todo, quando a narrativa central s~ rnantam ho­

mogênea e coerente, mesmo Qentro da incoerência aparente da

ação, e mantem a tensão emocional. Q. Condq 512.·-Mgnte, CristQ de

Dumas, talvez, seja a obra que chegou~ perfeição quanto a

força da narrativa central. Toda a his~~ria se encaminha ine­

xoravelmente para a vingança. A vingança de Edmond Dantãs (o

conde de Monte Cristo) destrói ultima e algoz. A narrativa

folhetinesca leva a um desfecho inexorivel, mantendo a cada

capitulo a tensão emocional que obriga o leitor a continuar

a leitura. ...

Os personagens do folhetim sao .~ersonagens bem cons-

truidos do começo ao fim, e nio aparecem com contradiç;es de ,

construção -- o que eu chamo de unidade de caratar. Eu che-

garia ao ponto de afirmar -- assumindo os riscos da audácia

- qu~ os personagens do folhetim são comparáveis aos perso-1

, 1

nagens das tragedias gregas, na sua Força de representarem

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as forças do mal e do bem, da vingança, no se jogar cego pa­

ra o abismo das paix~es que os dominam. Rastignac, Eugenie

Grandet, sio tio fortes corno Ant!gona, como Creonte.

O folhetim foi um g;nero liter~rio que envolvi a e se en-

volvia com o p~blico, como o autor grego, que concorria ao

prêmio das festas de Dionisio, fazia um teatro de total en-

volvimento com o p~blico, tanto que nos prim~rdios do teatro

nio havia separaç~o entre atores e p~blico.

Nesta sentido da construção de personagens~ interessan­

te fazer uma relaç~o com as novelas de televis;o, um g;nero

que se diz he rdeiro do folhetim. Não existe ~ma narrativa cen­

tral nítida, todas as histórias sa entrelaçam e seguem de ma­

neira p aralela. Nas narrativas do folhetim liter;rio as hist~­

iias paral elas servem ou para reafirmar a narrativa central,

dando-lhe mais força ou como uma duplicaçio da narrativa cen­

tral, que se encaminha para um final coerente. Coerente como

forma narrativa, não como verossimilh ança com a realidade. Os

personagens da novela de televiião não t;m unidade de car6ter,

são mal con ::=;truidos. Tanto quE numa nov ela que se com eça a vc,r

no principio e volta-se a e la no final, tê,n-se duas impres­

sõ es: uma que a hist~ria não mudou, outra que os personagens

s;o outros. Em alguns momentos a novsla de televisão tem per­

sonagens bem construidos, mas uma boa construção narrativa,

homog~nea, que encaminhe toda a açio para um colapso final,

ainda não tivemos na televisão brasileira. Neste sentido po-- , A

da-se dizer que a novela nau e u m gsnsro herdeiro do folhetim 1

do s~culo XIX que possibilitou o aparecimento de escritores

como Machado de Assis, Dickens e Balzac.

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6~1 - Charles Dickens

Charles Dickens foi o intelectual tipico do século XIX.

~asceu pobre, começou a vida como jornalista, se tornou um

dos maiores escritores ingleses de todos os tempos. Suas prin­

cipais obras foram escritas na f orma de folhetim e sua tem~-, -

tica e principalmente a vida dos miseráveis prolatérios que

se aglo~eravam em casebres nos arredores das cidades. Seu li­

vro ~ cid..,êQ.§.§. ~ talvez o melhor quadro já feito sobre os

deserdados do sistema, no começo do desenvolvimento capita­

lista, em Ldndres e Paris.

Charl r,s Dickens conheceu a pobreza_ de perto. Sua educa­

çao foi fragmentada, e teve que começar a trabalhar ced o e , (

duro, num armazem, no periodo em que seu pai esteve preso por

dividas. Ainda estudante, g anhava un shjj.1.1.llil para escr ever

parH o .§Lá.l:.A.§..b. e.Lê..§.§., sobre pequenos assuntos locais. Traba­

lhou por algum tempo numa fir111a de advogacia, onde conheceu

a burocrccia e o sistema jur{dico e penitenci~rio ingl;s, que

tão bem relata em seus livros, e a vida do submundo dos opor-,

tunistas, salafrarios e vigaristas que povoam seus romances.

Aos vint e anos recebeu urna oferta para trabalhar em fhs l'iirror

QL Parli..§E.],.,§.!J.1 e outra para o LUJ.,g_ ~· Começa então sua vida

de cronista do Parlamento, em que mostra seu talento de obser­

vador, al~m de ser super r~pido para redigir suas reportagens.

Noite ap~s noite eu registro predições que nun­ca se realizarão, promessas que nunc 2 serÊÍIJ cum­pridas, explicações cuja Única intenção ~ mistifi­car. Eu nado em palavras. Bretanha, i~felizmente uma mulher, aparece sempre perante mim corno uma galinha amarrada, atravessada por canet as, mias e p~s atados, pela burocracia.BD

Em 1834, ele começou a cobrir o Parlamento para o !:J.Q.rriing

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Chroni_çil, e escrevia tarnb6 rn ... . cronicas para o mesmo jornal e

para o i'lonthly HagaziJl.là• Corno f·lachado de Assis, critica com

ironia a atividade dos parl amentares . Lo go depois pass a a es­

crever par8 o EVef1.i.!l9. QJ..r..p..[!Jcl..,ê. e finalmente para o Bell' .§.

Life in h9.L1do..!1• Uma coletânea desses artig os foi publicada

em l i v r Ó , a u ando D i e k e n s ti n h o 2 4 anos , e o m o t i tu lo d e lli-

t c h s s Q1. .ê_g.z.. O sucesso foi enrorne, a critica reconheceu ne­

le o talento, a qualidade de observador da realidacie e do ca­

riter e modos dos individua s. Com um grande senso de ridículo,

o jovem auto r descrevia com indignaç;o o s vfcios e vileza das

pessoas, ma s com senso de humor s ironia.

Melhor do que todas as criticas foi o convite par a es­

crever um livro cômico e111 episÓrlios - nasce o picls._wick. O

quarto epis Ódio encantou os lEitores. As vendas mensais subi­

ram de 400 para 4 mil exemp lares . Os criticas falavam de

Dickens corno um outro Cervantes. Os pobres cornpravani os exem­

pl ures em grupos, e liam em voz alta. A Inglaterra do começo

do s~culo, com o tod a a Euro pa e os Est ados Unidos tinham um

gr ande nÚ111ero de analfabeto s, corno no Brasil esses folhetins

têm uma forte influ~ncia d8 linguagem oral, porque eram fei­

tos, também, para serem lida s.

Ch arle s Dickens receb eu uma oferta para editar e e scre­

ver para um a nava revista mensal, .ê..fill~' 1!. l'liscella.D,Y. , ten­

do, p are:~ isso que deixar o seu empreg o de repórter do l'lornin9.

ChroniclJl. No segundo num ero da revista aparecia o epis~dio

de abertura de QliV..§.!. Twds~. Apenas uns poucos traços da ale­

gre sitir a p e rmaneceram: em vez disso, a indign açio ~ expressa

em melodrama, no pat~tico e no sarcasmo. Uma indign açio cul-

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,,

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tiv ada elll horas incont~veis no parlamento, ou 1Jindo hom e ns bem

alimentados debatendo os probl e mas dos pobres.

T8n~o terminado Pic~ ... WJ~h, e estando OliveL Tw~:i! p e lo

me tade, Di c kens começou a tr nb a .lhar no livro Nich_gJ§.2. Nic~le~y.

Para isso, e le e o ilustrGdor 11Phiz" p e rcorreram div e rsos in.:..

terna t os e m Yorkshire, ch13io s de larvas, pragas, e spanca111en-

tos e ignor~ncia. Mais tarde visitou fibricas de algod~a onde

a mi s ~ri a roinava. Charles e ntão decidiu lançar uma revi s ta

sem anal, u ma esp~cie de mi s c e lânia de ensaios, contos, sáti-

ras sobr e a lei, artigos de comportamento e notas de viagem. ,

O nom e er a l'Jaster. Humpb..F...ê.Y.'§. Cloc.!s,, e seu primeiro numero ven-

deu 7.000 exemplares. l\las para uma revista se111anal era neces-,

sa;rio mu i to material, e Dickens resolveu criar mais uma nove-

la em s~rie, chamada The Old Cu_i;:).Q.§_j...1J'._ fill.9...Q• As vendas subi­

ram para 10.000. A obra consolidou a ligaçio pessoal entre o ,

autor e o l e itor. Uuando o fim da pequena Nell estava proximo,

chov e ram c a rtas pedindo par s qu e el a nio morresse.

O se gundo folheti111 da r13vists foi Ba~.t!.l. Eü/_q_g_g. Esta

obr8 relé:ita os tumultos que ocorr e r a 111 meio século antes, e que ,

for am o s t en sivam e nte anti-c c1t o l icos. Ofereceram a Di c kens urn2

e el ~ recusou, por , .

var ias ve z es,

d iz endo que s eus livros seri am instru r.i entos muit o ma i s efica-

., d ( 7.es rla r e f ? rma, Jª que eré11 11 l i dos po r pesr;oas de to o s os n1-

v e is soc ia i s .

qu ::i ndo t e rm i nou .§.ªE!.1 .ê9..Y- fü!Q.9.§l_, Dickens tamb~ m p a rou com

a sua revista a fim de poder descansar. Entio viajou para os

E s t a d o s U n i d o s , o n d e f o i t r é~ t a d o corno u rn r e i , o . qu e f o i d i v e r­

t ido a princlpio, mas muit~ cansativo depois, obrigando Charles

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a recusar convites. Num ban quete onde seria homenageado como

her~i dos desamparados, ele falou sobre os direitos autorais,

o que foi considerad~ um in sulto pelos jornais do dia seguin­

te.

Nos Estados Unidos, Dickens viu a pobreza, as favelas,

falta de higiene, esta Última tanto por parte dos pobres, co­

mo dos ricos - o desconforto o incomodava. Depois de uma cur­

ta estadia no Canad~, voltou para a Inglaterra. Ele dizia que

em sua vaidade, os americanos n;o aguentavam que suas falhas

fossem mencionadas. Ele mostrou algumas dessas falhas em 8.!!!.!!­

rican Notes mas com muita cortesia e tato. Ele atacou a es­

cravidio, o homem de neg~cios, a imprensa marrom que, segundo

ele, era responsivel pelo baixo nlvel de infor~açio geral en­

te os americanos. ,

A novela que Oickens iria escrever apos um ano era ~-, ...

.tl!!, Chuzzlewit, cujos primeiros episodios nao tiveram grande

sucesso. Dickens, entio decidiu que enviaria o jovem Martin , .

ªºs Estados Unidos no sexto episodio - um recurso comum em

s~ries de televisão, que tenta satisfazer a audi;ncia. Esta, 1

no entanto, continuou bem menor que a das obras anteriores. ,

Enquanto escrevia Martin Chu~ilewit, escreveu tambem

l Christmas Carol, cujas vendas foram prejudicadas por falta

de divulgação e pirataria. Decidiu então fazer uma visita a 1

, Italia, e foram os sinos de Genova a pista para a sua histo~

ria !:!Bguinte,. !.bJi Chimes. Esta obra foi um golpe contra o

tlsistema", contra a classe dominante que seguia as leis do

capitalismo primitivo impost6s pelos . economistas po!Iticos

do começo do século XIX. Mas a Itália, com sua gente limpa,

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educada e r e speitosa ele amava.

Dickens recidiu então criar um jornal que servisse Rs

reais necessidades do hom ern comum, o Daily News, cujas1vendas,

mais tarde, . ficaram em4moo ,

exemplares, so ultrapassadas pelo

lb.!! Times, com 25000. Depois da 17 números, ele deixou sua

posiç~o de editor, mas continuou contribuindo com v~rios ar­

tigos. Em 1846 ele começa a escrever uma novela mensal em 20

partes. Depois de ter vivido algum tempo em Lausanne e Paris,

Dickens volta a Londres e começa a escrever David Copperfield

( 18 49) ... -cujos personagens tem relaçao com as pessoas que conhe-

ceu na infincia. Os epis~dios foram um sucesso. A atividade

jornalística para Dickens era vista como uma milit~ncia em

prol da Educação. Já escritor consagrado, em plena maturida­

de literária, ele funda uma nova revista, Household Words

(1850), onde misturava educação popular, informação, campa­

nhas contra abusos locais, ficção, sentimento e humor. ·o pri-,

meiro numero parece ter vendido 100.000 exemplares. Dickens

era famoso e fazia escola influenciando jovens escritores co­

mo Willie Collins, G.A. Sala e outros.

D a vi d C o p per f i e J.d. é o 1 i v r o qu e rn ar c a a m a tu r i d a d e d e

Dickens. O escritor, com perfeito domínio da linguagem chega

aonde queria chegar -- denunciar as disparidades da socieda­

de inglesa, mas envolver. o leitor nas malhas do romance. Pa­

ra isto ele desenvolve com perfeição a t~cnica narrativa do r - , folhetim. Cada capitulo cria uma complicaçao dramatica que o-

briga o leitor a passar para o capítulo seguinte. , ,

O leitor do folhetim se sente envolvidó com a historia,

nao s~ porque os personagens representam o ser humano na sua

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real : dimensão - de bondade, vileza, nobreza em certas situa-...

çoes, interesses mesquinhos em outras - mas porque o ambi-

ente onde se p~ssa a açio ~ inteiramente do conhecimento dos

leitores, as ruelas, os becos sujos, as f;bricas e orfanatos

sio retratados como realmente sio. O autor do folhetim pro-

duz conntantemente pressionado · pelo pÚblico que ,r e sponde ime­

diatamente aprovando a hist~ria, ou deixando de comprar o

jornal quando esta o desagrada. A técnica utilizada por Dickens ,

para· prender o leitor e sutil. Uma frase, uma pequena suges-

tão deixam antever uma tragédia. Um exemplo desta técnica, é

n~sta passagem de Davi~ Copperfield, em que o autor descreve , .

. as alegrias do pequeno David ao sair de ferias, mas antecipa

a tragédia que se aproxima, e induz o leitor para o capltulo

seguinte, para saber porque ele não vaoltaria mais para sua

casa.

- , -Nao e sem profunda emoçao que penso na alegria que exeerimentei deixando a casa onge fora tão fe­liz; nao podia suspeiar que ia deixa-la para sem­pre.Bl

Oickans utiliza com habilidade a t~cnica dos contras-,

tas de personalidade. A mais insuportavel das criaturas, o

caráter mais genioso e dificil se revela o mais justo, cor­

reto e bondoso. Estes qualificativos não caem tão bem como 1

sobra a personagem Betsey Totwood: uma senhora furiosa, de­

saforada, autoritária a quem todos temiam, a que na realicia-,

da tinha grande bondade a sabedoria, e salva David da mise-

ria.

Por outro lado, o .mais dÓcil dos personagens, torna-se

o vilão hediondo, como Uriah (no mesmo David CopP.arfield), ,

ate se revalar andava constantemente de cabeça baixa, dizendo:

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82

"_Oh! mui to obrigado, ~Ir. Copperfield, sou mui to humild ja para - ( poder aceitar" ou "Agradeço-lhe muit1ssimo, e se nio fosse ·

eu tio himilde, se~ia isso grande prazer para mim~tt82

Dickens fez de sua obra a defesa dos pobres e oprimi­

dos, mas sem cair em esquemas maniqueista - os pobres são 1

sempre bons e os ricos maus. Ele analisou profundamente o la­

do odioso da miséria, a vileza e a degradação do homem pobre. • , • t

Ele mostrou a m1ser1a em toda sua sordidez.

David Copperfield~ a primeira obra da -maturidade do

autor, quando ele começa a fazer um trabalho mais complexo,

em que pretendia representar o todo da saciedade como uma es­

trutura integrada, onde os atos das mais altas aos mais bai­

xos, t;m repercussio um sobre o outro. Esta proposta se rea­

liza inteiramente com Blaak House, que Dickens começa a pu-,

blicar em 1851~ em episodio s men~ais, e onde faz uma pintura

perfeita dos diversos segmehtos da sociedade inglesa da pri­

meira metade do s~culo XIX.

Toda a átividade liter~ria de Dic~ens esteve ligada ao

jornalismo. Quando a circulação do Hausehold Words estava em

decl!nio, ele remediou a situaçio escrevendo uma novela em

~~meros semanais, o que tinha feito 13 ahos . antesi O nome da

novela era Hard Times. Em seguida, escreveu outra mensal, 8.

pequena Dorrit onde sintetiza o seu amargo ponto de vista so­

bre as condições da Inglaterra. Em 1859, tendo brigado com

seus antigos editores, Dickens fundou uma nova revista sema­

nal, 8.l!, the Year Around, que vendia 3 vezes mais c~pias que

Household Words, e no final d~ vida de Dickens, sua circula-

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1 • 1

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ção estava em 300.000. A história serializada nos primeiros

seis meses foi~ Cidades, que relatava a vida proletária nos ,

suburbios de Londres e Paris, resultado da pesquisa que fez em

Paris nos bairros operá~ios e da vivência em Londres.

Em 1860, Dickens começou Great Expect.ations. Em 186.4 foi

a vez de Q!!! mutual friend, que foi seu Último ataque à presun-...

çao burguesa.

As informações contidas na obra de Charles Dickens têm ... ,

valor de documentaçao historica. Como um cientista social ele

percorria bairros populares, visitava orfanatos, asilos, inter­

natos, prisões para situar suas histórias dentro da realidade.

As cidades, os portos e estações são reais. O cuidado minucioso

com que descreve as pequenas profissões e a vida dos artesãos,

pescadores ou comercian~es, permite que sua vasta obra seja

1 , ~

fonte inesgotavel de informaçao.

6. 2 - Sal zac

Balzac como Dickens, teve grande envolvimento com o

jornal ismo. Sua produ c;ão foi frenética, para sal dar .as dÍv i.;

das que contraía - ~le recebia dinheiro adiantado pelos con­

tratos que assinava e não sonseguia cumpri-los. Durante seus

anos mais criativos, de 1833 a 1843 aproximadamente, Balzac

trabalhava 18 horas por dia e escrevia üm livro em 5 dias.

Seu r!tmo de trabalho ia de meia-noite, hora qâe acordava, ,

ate as 6 horas da tarde, quando dormia por mais seis horas.

Para . ficar acordado Balzac bebia litros de café. mantendo

esse t!tmo durante anos, trabalhando constantemente sob pres­

são dos editores e dos credores, Balzac arruinou a saúde, e

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morreu aos 51 anos, obeso, hipertenso e cego. Ela tinha duas . 1

casas - com · dois gabinetes de trabalho, ricaman te decorados,

exatamente como os desc'ritos em alguns de seus livros - uma

delas secreta, para não ser encontrado pelos credores. Ape­

sar desses cuidados foi preso duas vezes por divida. ,

Os personagens da Comsd,!.ã humana o imenso conjunta de

sua obra, eram tirados da vida real, a mistura de dois ou

tr;s indivíduos, formava um personagem, muitos deles volta-, ,

vam em varias romances. Andre Maurois, na sua biografia de

Balzac, afirma que o grande escritor nunca chegou a distin­

guir perfeitamente a vida real e a dos personagens que cria­

va. Ele nio distinguia ficçio da realidade, e tinha consci­

;ncia disto: "A natureza criou em mim um ser de amor e mei­

guice, o acaso me obrigou a escrever meus desejos em vez de

os satisfazer"i 83 escreveu para Eva Hanska, em 1836. Quando

estava morrendo; antes d e perder a con sci~ncia diz "s~ Bia­

chon poderia me salvar~.84 Biachon era o m~dico da Com~dia

humana. Biachon foi em grande parte inspirado no Dr. Nacquart,

que o acompanhou durante toda a vida, e foi um dos fiéis a­

migos que emprestavam dinheiro nas horas de aperto.

A monumental obra de Balzac foi quase toda escrita pa­

ra jornais, no estilo de folhetim. A força de Balzac estava

em criar personagens totalmente reais, dominados por vicias ,

e obsessões humanas. Analista profundo dos costumes da epo-

ca, Balzac se tornou o maior historiador da sociedade burgue-,

. sa e aristocratica francesa de seu tempo. Os finar,icistas, a-

giotas, aproveitadores, arrivistas, interesseiros são retra­

tados no mais prõfundo de seus defeitos. O povo só apa~ece 1

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como coadjuvante, mas a genealidade de Balzac fez com que a

real situaçio dos deserdados fosse . r~trada. Nesta sentido a

mais importante de suas obras é w Paysans - romance em q.Je

ele pretendia fazer a condenação da nova ordem econômica ca­

pitalista e a defesa dos antigos valores da propriedade ru­

~al aristocr~tica. Sd que ele faz o retrato da espoliaçio dos

camponeses. Nesta obra, Balzac pretendia mostrar a degradação

da cultura aristocrática francesa e acabou escrevendo sobre

a trag~dia do campesinato~ na passagem para o sistema capita­

lista~ Lukacs considera esta a mais importante obra sobra a

tragédia dos camponeses • 1

Desde a juventude Balzac tomou posição, num escrito, contra a divisão da grande propriedade 1

rural e pela manutenção do direito de primogehia. E bem antes de terminar ~ P a{sans (1844) ele tento·u dois romances u~Ópicos.!:r..q médicin de ™- . pagne em 1833 e .!:r..q cur~ de village em l839y-"par~ materializar a sua concepção econômico-social sd­bre a função da grande propriedade e dos dévereã dos grandes proprietários. 'As duas utopias sues~ aaram a desagregação da utop;a dian~e da realida­de social e a derrota das ideias utopicas ao con­tato com a realidade econômica.

A grarideza de Balzac reside precisamente nes-r A . -ta autocritica sem indulgencia de suas conceEçoesi de seus desejos mais caros e de suas convicxoes mais profundas; levando-o a fazer ~5descriçao i~ nexoravelments exata da realidade. ·

~ Paysans foi uma obra que muito mobilizou Balzac;

sofreu várias interrupções. A obra foi várias vezes vendida

e recuperada pelo autor é Desanimado Balzac interrompia o · tra­

balho por longo tempo e recomeçava novamente. Todo este imen­

so esforço lhe custou 6 anos, e ficou inacabado. Tendo come­

çado a , ser publicado no Ja.!! Pressa, foi interrompido pela mor­

te do autor. O romance nio foi bem aceito pelos leitores, que

escreviam pedindo que se acabasse com aquela publicação chata.

1 ' 1

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As ideias políticas de Balzac~ legitimista, · a favor

da realeza - não impediram que descravasse a sociedade fran-,

cesa com realismo. Suas ideias o faziam sonhar com um passa-,

do aristocratico, com a grande propriedade, com a harmonia

entre as classes, um mundo sem a usura capitalista, mas a vi-...

da o jogava na realidade e seus personagens tem tanta força

qua a linha que separa ficção e realidade se confunde. ,

A trajetoria de Balzac começa em 1830 quando entra para

o jornal 1:..§!. Silhouette e logo depois para~ l~ode, ambos do

editor Girardin, que renovou o estilo do folhetim na frança.

Aos poucos começa a ser aceito na alta-sociedade e nos sal~es

frequentados por escritores e artistas, que tanto o fascina­

va. No~ Caricature ele faz crônicas politicas, debocha de ,

Louis Philippe, critica La Fayette, herois fraco e vaidoso, e

tritura o ministro Thiers, arrivista sem escr~pulos.

Em 1833 assina seu prirneiro contrato para uma novela em ,

capitulas com a ~.§. i!..§. Paris. , o dinheiro recebido antecipa-

do foi logo gasto, sem que Balzac se ponha a escrever. Pres­

sionado ele escreve em poucos dias os primeiros spis~dios da

~.Q.Ífi2. .Q.ê..ê. Irei.z,!à, uma narr a tiva rica em aventuras, socie­

dades secretas, bem ao gosto da imaginaç~o de Balzac. O folhe-,

tim foi um sucesso. Um novo e segundo episodio chamou-se L.ê. ,

Ouchesse g,g, Langeais, um t anto autobiografico, para se vin-

gar dos amores mal correspondidos de Henriette de Castries.

As hist~rias de Balzac, desde esta primeira novela, es­

tio fortemente estruturadas no mundo real, numa cidade espe-,

cifica, onde os nomes das ruas são verdadeiros, os pontos de ,

encontro existem. A narrativa esta presa ao mundo real e a

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ambientes conhecidos dos leitores. Neste primeiro Folhetim,

Balzac tinha a intenção de recriar uma l11il g !:!.!!!..ê. noites pari­

sienses, o enquadramento da hist;ria dentro das ruas e locais

' parisienses deram a obra um tom de realidade e de verossimi~

lhança que o aventuresco não conseguiu desmentir.

Uma nova revista ~'Europa Litt~raire, abre as portas

para Balzac, que escreve o primeiro dos seus grandes roman-

' ces: Scen~ .i;!§. lã vie .Q.2. PrQvirp~; &ugeni~ Grandet. Esta obra

mostra toda a Força dos personagens balsaquianos: o pai · Grandet,

exemplo de avarento, cuja id~ia fixa de guardar dinheiro do­

mina todos os seus atos. Esta livro ·tem todas as ·qualidades

da obra liter~ria, simplicidade de construçio, u~idade

de tema e um belo exemplo de amor, Eugenia, e de Fidelidade,

Nanon. Balzac não tem constii;ncia de ter Feito uma grande o-,

bra. Ele considerava Eugeni.§_ Grandet uma boa no-v elinha F2cil

de vender.

O valot desta obra supera em muito o seu tema, mais do

que a força dominadora de um avarento, o livro retrata com

Fidelidade os mecanismos de enriquecimento da nova burguesia. ,

Balzac consegue mostrar o podar destrutivo de uma ideia fixa,

que leva; ruina toda uma FamÍlia. Mas mostra tamb~m a Forma-

- , çao das Fortunas na frança; atraves de conhecimentos no go-

verno, de uma po1Itica que Favorece o iucro imobili~rio para , . ,

os amigos, atraves de venda de material para o exercito, etc. , ,

Em Machado de Assis, tambem, Procopio Dias se beneficia de

negociatas durante a Guerra do Paraguai.

A critica recebeu mal Eugeni~ Grandet. A obra de Balzac

nio foi reconheriida durante sua vida. S~ Victor Hugo reconhe-

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eia em Balzac um grande escritor, um dos maiores da lingua

. fr8ncesa. A crítica foi hostil~ obra de Balzac praticamente

durante todo o século XIX. Hoje; vindo depois de Shakspeare, ,

Balzac e o segundo escritor sobre o qual mais se escreveu em

todo o mundo.

-Balzac no entanto nao se deixava abater, e criticava

duramente seus advers~rios: o s jornalistas atrav~s de s~us

personagens, os escritores através da critica que escrevia pa­

ra os jornais. Balzac foi o Úhico critico a reconhecer ova­

lor da Chartreuse .Q.!! Parme, hoje considerado um dos melhores

romances franceses.

Balzac não se intimidava com os criticas, contra-ataca­

va.o golpe mortal desfechou contra Sainte-Beuve. Ele toma co­

mo modelo o romance que Sainte-Beuve acabava de publicar, com

grande elogio da critica, Volup~fl e reescreve a hist~ria com

muito mais brilho . e força narrativa, compondo uma de suas o-,

bras primas,~~~ l.ê, Vallee. Balzac atingia assim seu , ,

inimigo em ~eu proprio terreno. Sobre Volupte ele escrevia: , e fraco, difuso mas tem belas coisas.

, Em 1835, na tentativa de enfrentar suas dividas e seus

i n i m i g o s , c o rn p r a u 111 a r e v i s t a , C h r o n i g u e ~ P ar is • Com o c o 1 à­

b oradores Balzac convoca Thoph.ile Gautier, com quem teria

profundos laços de amizade a partir dai, e Victor Hugo entre ' ,

outros menos renomados. Em re alidade Balzac fara o jornal so-

zinhoJ o s artigos, os folhetins, o jornal todo. Para levar

adiante a tarefa sobre-hum ana, nio havia mais hor;rios para . I

dormir. As dividas foram se acumulando, até que o jornal fa­

lisse. A produçio para este jornal foi gigantesca. Algumas de

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suas melhores obras foram escritas para o Chronigue f!s!. Paris.

Bal;ac nio escreve sobre nenhum assunto sem aprofundar.

O que deveria ser um simples drama conjugal, como !&.s. Femme

Sup~rieure, . torna-se um estudo hist~rico do Governo Constit~-

cional e seus impasses em face de uma burocracia super , .

complexa. A Femme Superieure inundou~ pressa, durante 14

dias. O personagem luta contra o burocratismo. As id~ias po­

liticas de Balzac são com veem~ncia defendidas: redução dos

minist~rios, menor emprego de pessoas, impostos proporcio­

nais ~s propriedades, impostos indiretos abolidos, impostos

sobre o luxa. f interessante notar que estas id~ias eram no­

vas e opostas às pregações conservadoras as quais ele se fi­

liava.

Além da objetividade na descrição de ambientes, da lo­

calização geográfica dos locais onde se desenrolava a histó­

ria o realismo de Balzac ia mais longe, fazendo a pintura de

personalidad~ absolutamente bem construid~. o·s personagens de

Balzac maia dp que representantes de tipos de uma época, re~ ·

velam a verdadeira natureza do homem. Os caracteres pintados ' . ~ .

por Balzac pertencem a galeria de tipos universais. O arrivis-

mo de Rastignac, a avareza de Grandet, a renúncia de Eugenia ,

entre muitos outras. Rastignaa volta em varias obras, como ( ' A - I simbolo desta vontade de potencia, projeçao do proprio autor.

Estas mesmas características aparecem em outros personagens,

como duplos, como Vautrin por exemplo.

Balzac se considerava um profundo conheced~r da alma

humana e ele tinha a intençio de fazer uma obra que revelasse

as paixões humanas, e as levasse ao limite, até a destruição

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do individuo e de todos os que o rodeiam. E isto ale cansa-' ,

gue. Com o pera ~oriot Balzac eleva ao maximo o poder destru-

tivo de uma paixão: o arÍlor obsessivo de um pai pelas filhas,

que leva ao total aniquilamento. Como afirmava Balzac em sua

correspondência, ••a paixão não transige, e admite qualquer ... 86

tr ansg res s ao tt. ,.

Balzac tinha consciencia de estar produzindo uma obra

para a posteridade, e tal como um histpriador, ele vai re-,

tratando a sociedade francesa do seculo XIX. Balzac retorna

constantemente aos mesmos temas, mas a cada retorno ale apro­

funda a questão, leva as paixões ao seu parodoxismo, lá onde """ , ~ . ,

nao ha retorno. Segundo Andre Maurois esta e a grande desco-

berta de Balzac, este voltar constante aos temas, sempre a-i

profundando-os. Suas obras adquirem assim uma força narrati-, ,

va, talvez so comparava! ao teatro grego.

O g;~~ro folhetinesco muito deve ao editor Girardin e

Balzac. Girardin porque sentiu todo o potencial do gênero a 1 1

ser explorado. Ele sabia perfeitamente o que ele queria de ,

um folhetim - uma historia que levasse o leitor impreteri-r belments a ler o capitulo seguinte, e a comprar o jornal.

Balzac foi o g;nio que conseguiu perfeitamente juntar asses

dois ingredientes, a força narrativa do folhetim com o esti-,

lo literario. ,

A imprensa francesa publicava romances em capitulas e

folhetins em fasc!culos muito antes de Balzac, mas quem reno­

vou o gênero, criando a espectativa para prender o leitor de 1

um número para outro, foi Gerardin. E ele precisava ,de Balzac, A

autor fecundo, que dominava o genero. Uma pergunta que fica

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, e esta: teria Balzac construido sua monumental obra, não

tivesse. ele sido pressionado pelas necessidades do mercado ,

jornalistico, sempre ,com exigências de novos folhetins?

Apesar da negativa de Balzac em admitir, o romance so-. ,

fre as contingencias do foletim. O publico exerce uma verda-

deira censura. A menor das pressões~ a conting~ncia da tem­

po. Enquanto fazia a femme Syperieure para J...ã Pressa, bJ! E!­

~ esperava pelo folhetim Cesar Birotteau, j~ pago. E Bal­

zac ainda tinha que escrever contos e novelas para acabar

seus Etudes Philosophiguas.

Depois da descoberta de Dumas e Sue, e o imenso suces­

so dos rgmans-fleuves (com mais de mil p~ginas), o prestígio

de Balzac começà a cair junto aos editores de jornais. Ele

nio era mais necess~rio~ O p~bllco começa a recusar Balzac,

seu estilo chocava os leitores • .la.! Vieille Fille foi inter-

1

, rompido antes do fim, no~ Pressa. O publico se escandaliza-

va com esse romance, que tão bem analisa a psicologia da mo­

ça solteirona, que se atormenta por nio se deixar dominar

por seus sentidos. Os enormes seios de Mlla Cormon~ escanda-,

lizavam. A critica era hostil. Balzac começa a . sofrer pes-

soalmente um can~aço que o impede de produzir no mesmo ritmo

fren~tico de antigamente. No plano objetivo sofre a concor­

rência de Dumas, que começa a publicar o Conde 9.§. Monte·-~-,

ig_ no Jgu~'l.ê!.!. ~ Oebêt§.• Nesta mesma epoca Balzac estava pu-

blicando nomesmo jornal, o folhetim Modeste Mignon, um desas-

tre • .

Balzac não foi entendido em sua época. O mercado ! satu­

rado de Sue .e Dumas nio lhe conferia o valor que merecia. Em

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... vao Balzac acumulava obras-primas, a critica continuava i n-

justa, recusando-lhe um lugar junto a Victor Hugo, Lamartine

e Chateaubriand. Duas vezes Balzac t e ntou entrar para a Aca­

den,ia Francesa, tendo sido preterido, as duas vezes, por au- .

tores sem nenhum valor. Na segunda tentativa teve sÓ dois vo­

tos, de Vigny e Victor Hugo.

6. 3 - l'lem~da de um Sargento de l'lilicias

O folhetim de Manuel Ant;nio de Almeida~ um a d Essa s o-,

bras de grande valor para a an alise de costumes do popula cho

da soci edade carioca do co11wço do século passado, estes de­

serdados da literatura bra s il eira, que no ;s~culo XIX sÓ apare­

cem com o personagens secund~rios. A obra de Manuel Ant~nio de

Almeida ; caricata, irônica, 111as em nada diminui a veracidade

do quadro social pintado. Talvs~ o autor tenha escolhido esta

forma porque a sociedade e 111 que vivia, e sobretudo o pÚb.lico

de jornal para quem escrevia, s~ aceitass e o povo, se retra­

tado atr2v~s do humor. Alguns person~gens sio totalmente ca­

ricatos; como a madrinha, que percorre o livro alinhavando

as situações, tornando as coincid~ncias passiveis e coerentes,

Os personagens não têrn caracter.isticas humanas, são s.iinbolos

de situações gen~ricas da populaç:20 pobro, formada pelos por-,

tugueses recem chegados ao Brasil, os brasileiros dos peque-

nos ~ÜILJ., os ciganos, o clero desabusado, os despachantes,

enfim esses cidadãos de"segunda classe~ O f1lajor Vidigal e seus , 1

soldados passam ao longo da obra como simbolos do poder, da

força e da truculência, se111pre pondo fim a alegre vida de dan-

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, ça, musica e canto do povo. O que a caricatura do Vidigal

deixa transparecer, como um retrato triste daquela ~peca, nao

era o seu ~oder , mas a aus~ncia total de direitos dos indiv1-

duos. Nenhuma instincia poderia proteger uma pessoa que es­

tivesse so b a rni ra do f'lajor Vidigal;

O major Vidigal era o rei absoluto, o ~rbitro su­premo de tudo quo dizia r osp o ito a esse ramo de administração; era juiz que julgava e distribúia a pena, e ao mesmo tempo o guarda qu e dava caça aos criminosos; nas causas da sua imensa al2ada nio haviam testemunhas, nem provas, nem razoes, nem processo; i;le res~mia tudo em si.! a sua jus­tiça era infalivel; nao havia apelaçao das sen­tenças que dava, fazia o que querig, e ningu~m lhe_tom ava contas. Exercia urna especie de inqui­siçao policial.87

S~ o bom relacionamento com os poderosos, que a soci edade

paternalista ofer e cia, podia salvar u s injustiçados das m~ os

do Vidigal.

Um dos indicias da intençio do autor de fazer a repre­

sentação de tipos sociai s e não p 2rsonagens reais, está no

fato da maio ria dos person agens não ter nome, ou o nomes~

s e r lembrado depois do perso nag em Ji ter desenvolvido toda a

sua hist~ria. O pr~prio p e rsonagem principal, o Leonardo, ~

chamado de o menino, at~ a metade do livro, quando muit a tra-. , , ,

vessura J a havia mostrado a natureza e o cara ter do heroi -

do her~i sem car;ter. No capitulo 18 o narrador esclarece :

Daqui por diant e tr utaremos o nosso me mor ando pe­lo nome de batismo. não nos ocorre se jÓ dissemos que e.le tinha o nom e do pa i; mas se o não disse­mos, fique agor a dito. E para que se po ss a saber quando falamos do pai e quand o do filho, daremos a este o nome d e Leonardo, e acrescentar emos o , apelido de Pataca , ja muito vulgariz~do nesse tempo, quando quisermos tratar daquale.88

Inúmeros personagens não a parecem nunca com seus nomes,

só com caracteristicas que o identificam: o padrinho, a Ilia-

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drinha, e mestre-de-cerimônias, as duas vi~vas, os

lhos, as tr~s filhas - das quais urn a tem nome, a Vidinha -

o tenen t s-coronel. Outros são primeiro conhecidos por suas , , , .-

caracter i s ti ca s, e so mui to tempo depois .e que sao identifi-

cados por seu nome, como o amigo de Leonardo, que depois fi-,

ca-se s a t: end o se chamar Tornas, e a sobrinha da Dona l'laria que , ,

so alguns capitulas depois de ssr ap resentada aos leitores,

ganha o nome de Luisinha.

l·lanuel Antônio de Alm eid a foi um memorialista dos usos

e c o s tu rn e s d a é p o e a m a s, rn a i s d o i s to, ,J s i n ter v e n ç Õ ,:i s d o a u-­

t o r, n a n arrativa, mo st ram que a intenç~o era pre se rvar usos

, , ' e costum a s de sua epoca e da epoca anterior a sua (final do

período colonial e Reino Unido), um a herança que ele tinha

, -recebido atraves de relatos orais. e que ele nao quer ia que

SG perd8 SS8lile

f' la 11 u e l A n t Ô n i o d e A l m e i d a tem o eu i d a d o d o h i 3 to r i a d o r

e do estudioso de folclore ao n ar r ar as f es tas popul a res, as

danças, os desfiles das baianas que antecediam as proc iss~ es,

as pastoras, o canto dos barb Giros. s;o muitas as interfer~n­

cias do narrador comparando o tempo pr e sente com o p a ssado,

para deixar o registro obj Gtivo dos costumss, como nesta pas­

sagem da cerirn;nia do 11 fogoll ( fogos de artificio), n a festa

do Divino:

Assim ch ega ra lll ao Campo, ::.1~ 1::: es tav3 chBio de gen­te. Nesse te mpo a inda se n ao usavam as barracas de bonecos, de sorte, rle r a ridade e de t ea tros, como hoje: usav alíl-se apenas algumas que serviam de casas de pasto - ( ••• )

Nas ~scadas do I n1p~rio fazia-se leilão c om o ain­da hoje, div e rtindo-se muito o povo ••• 89

l;las ma is do que isto, algum as observações do narrador

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, mostram que ele esta e screv endo para o futuró, deixando um

duplo registro: dos tempos antigos do Q fi.ei e do ts mp o con­

te !i;por;neo. Um 2 passagem deixa clara esta intenção, quando ele

explica o s istema dos agreg ados. O sistema de agregados , em

1852 quando o livro foi escrito, e ra dominante da sociedade

brasil 2ira. Temos a este re speito toda a obra de l·l2chàdo r::!e ,

Assis, que da um p e rfeito panorama da vida da aristocracia e

b u r g u e s a e a r i o e a , e o i 111 p o r t a n te p a p e l qu e d e n t r o d e l a d e sem­

penha vamos diversos niveis de agre ~~ados. r1anuel Ant;nio de

, -Alm e ida quando da explicaço ss sobre o sistema de agregados,

- , A

n ;:1 0 gsta falando para os seus conte1npor. Dn e os estava, segura-

mente, deixando para o~ futuros leitores uma explicaç;o de

u m co s tume que estaria fad a do ao desaparecimento.

Vejamos a longa explic ação:

Passaram-se as sim alguma3 semanas: Leon a rdo, de-... Pois da acabadas todas as cerimonias, foi da cla-' , , rado agregado a casa de Tomas da Se, e ai conti-nuou convenient e me nte arranjado, Ningu~m se admi­re da facilidad '::! c om que se fazia, semelh antes cousas; no te1npo Glil que se passava1n o s ratos que vamos n a rr ando n ad a havia mais comum do ciue tar

' ' cada um, dous, e as vezes ma is agregados. Em c e r tas c a sas o s ag regados era r:1 mui to Út e is,

porque a famfli a tirava gr a nde proveito de seus , -serviços, e ja tivemo i5 ocasigo de dar exe1nr lo disso quando cont amos a historia do fin a do pa­drinho de Leon ardo ; outr8s vezes e estas · eram em maior nÚm r? ro, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia 1 ~rvore,fa1d­liar, que lhe participava,da seiva s em ajuda-la a dar os frutos, e o que e ma is, ainda, ch egava me smo a dar cabo del a . ~ ocas o e que apesar de tudo, se na priu1eira hip~tese o esmag a vam com o peso de mil exig;ncias, se lhe batiam a cada pas­so com o s f avores n a cara, se o filho mais velho da casa, ~ar exemplo, o tomava por seu diverti­mento, e a menor e 111ais justa queixa ;rnltavam­lhe os pais em cima tomando o p a rtido do filho, no segundo atur a vam quanto desconforto h avi a com

4 ,

paciencia de martir; o ag regado tornava-se quase rei em cas a , pun ha, dispunh am, castigava os es-

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c r c:i vo s , ralh a v a co rn o s fi lho s , int e r vi n h a e n f im nos mais particul a r e s n eg ~cios.90

Re forçando a tese de que ele es cr e via p ara o futuro,

po dem os nos a ter ao fa to de qu e depois d e sair em folh e ti r11 no

Cor r..ê.ig_ tlfil:'~~l., l'lanu e l /\ n t~ n io d e A lm eid a o publica em li­

vro com o s ug 1;:stivo pseud;nirno de Ll.l!!. Brasileiro. Ao publicar ..

em livro ele estava dando a obra a pere nidade qu e o jornal

nã o p er mite , e ao assinar Ll..!!.!. !ll:.asilr~i,Lg,, estava conf e rindo à

obra o p apel de um de poim e nto - um depoimento que qua lquer

brasil Ei ro poderia ter dado, porque se tratava do Brasil. So- .

bre este aspecto o autor tem um procedimento p;o x imo do rea­

lismo, que pretende relatar com fidelidade a vida, o s usos e

costumes, pois a obra literiria ~ vista, pelos autores, co-,

mo o testemunho de urna epoca. ,

A historiografia !iteraria brasileira muito tem discu-

tido sobre o estilo da obr o de l·ianuel Antônio de Al me ida,

ora qualificando-a como rom ânt ica, or a corno realista ~...1

g J-ªill ~-. No s p ar e c e impo r ta n te e s ta d is cu s sã o p ar a e ste

trabalho, pois o e n quadr amen to no mov.i.mento romântico, pode­

ri a l e v a r a uma . interpre taç~o er r;n ea , e tirar deln a vali­

dade como fonte fid edigna de e s tudo s oci al.

O roman t ismo de í''lanu e l Ant;nio de Almeida não impede a

observeç~o profunda da soci edade, c aracterlstica do movimen­

to re alis t a , que pretendi a fazer a hist~ri a da sociedade e

do s mov i111e ntos soci c:i is. Manu el Antônio de Almeida escapa das

armadilhas românticas, e n2.o t~ern um a visão lirica, mistifica­

dora dó povo, como os escritor e s rorn;nticos.

Em l·lsn_!.9rias. de lliil sarg_ll..[l~.Q. 2...§. milicias, al~111 da vida da

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1 1

i

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população pobre do Rio de Janeiro, temos informação sobre mú­

sicas, danças, instrumentos que mostram os caminhos percorri­

dos pela música brasileira e as diversas influ;ncias que so­

freu nos prim~rdios de sua formaçioi s6 para comprovar o quan­

to a obra pode servir como fonte prim~ria de informação, que­

ro lembrar a questão do~, que alguns estudiosos (entre os

quais Maria de Andrade) atribuem ser originirio do Brasil, ,

nascido nos becos do Rio de Janeiro, e que so depois emigrou ....

para Portugal, desaparecendo do Brasil. Lendo Manuel Antonio

de Almeida, encontramos muitas refsr~ncias que confirmam es-,

ta hipotese.

••• os convidados do dono da casa, que eram todos dal~m-mar, cantavam ao desafio, segundo seus cos­tumes; os convidados da comadre, que · eram todos da terra, dançavam o fado.91 ·

A melhor qualifioaçio sobre a obra de Manuel Antônio de

Almeida, foi dada por Maria de Andrade, que considera o roman­

ce l'lem~rias 2..ê.. !d.!!!. §rgento de milícias, uma obra dentrr da

tradiçio do romance pitoresco, na linha do Satiricon, de Pe­

trÔnio, de Quevedo, Alemán ou de -~-ª.z.a__:r~}i~.11 fl.~ JQ..rJ.JlE,l~• Oro.:.

manca picar~sco relafa as aventuras de um her6i ora c;mico, ...

ora pandego, sempre desastrado e muitas ~eze~ covarde. Este ! , .

tipo de obra sa caracteriza pelos dialogas cur_tos que relatam , . . . . '

as muitas aventuras da vida de um anti-heroi, -pertencente as

classes populares, sempre vistas sobre sau aspecto grotesco.

Marie da Andrade considera a visio de autor de Mem~rias

s!f! !:!.!!!; sargento gJ! milÍcias, sobr e ci povo, maldosa e incorre­

ta.

"i'i sé diverte caçciàndo~ .sem a m~nor intençio mofa!, sem a

menor lembrança de ~alorizar as _classes Ínfimas.n92

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1 1 ,.

!

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, ' -Esta critica a obra nao nos parece correta. Provavelmen- ' 1 •

te a forma humoristica fosse a Única aceitável aos olhos dos

leitores da época. Manuel Ant;nio de Almeida faz uma pintur!

da sociedade marginalizada do Rio de Janeiro, com realismo.

A pintura da personalidade dos personagens é caricata, mas

sobre eles recai o olhar simp~tico do autor. O pr~prio Vidi­

gal recupera sua imagem no decorrer do livrdj quando se mos-, . ,

tra vulneraval a uma mulher. No final o personagem e humani-

zado, e desce do poder, para transitar pela c~sa com pijamas

e tamancos.

O herói leonarda apesar de pertencer a esta tradição ,

picaresca, tem traços marcantes do romantismo. Porem a narra-

tiva de Manuel Antanio de Almeida tem uma clara intençio de

desmontar o discurso rom;ntico, atrav~s das muitas observa­

ções do narrador, que ironiza o espirita das poetas e român­

ticas. Vejamos algumas dessas observações:

Dizem todos, e os gostas juram e tresjuram, que o verdadeiro amor e o primeira: temas estudada a matéria e acreditamos hoje que não há sue fiar em poetas. Chegamos por nossas investigaxoes a con­clu~ão de,que o verdadeiro_am9r, ou sao tod9s, ou e um so, e neste caso naa a o primeiro, e o Ú l timo·.9 3

•• • desta vez ,se torl)OU mui .to mais desembaraçado, quer porque j a o negocio com Luisinha tivesse de­sasnado, quer porque agora fosse a paixia mais farta, embora esta ~ltima hip6tese v, de encontro ' - . ~ -a opiniao dos ultra-romanticas, que paem todos os bafas pela boca, ,pela tal pri1naira amar - no e­xemplo q~e nas da o Leonardo aprendam o quanto ela tem de duradoura.94 ·

A caracter!stica mais marcantemente rom;ntica do livro,

esti na concepção do personagem Leonardo, . como t:he'rói mitice.

Leonardo ap~rece, muito sutilmenta, como um personagem de du­

pla paternidada, · filho talvez, dos amores clandestinos de

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99.

Maria com o filho do ~enente-coronel. Para reparar o erro do

filho, o tenente-coronel será um eterno protetor não d e l"la­

ria, mas do seu desastrado marido e de seu filho, pois Maria

desaparece no segundo capitulo, abandonando marido e filho• ,

para nunca mais voltar. Esta duvida sobre a paternidade de

Leonardo aparece nos cuidados do tenente-coronel, na indife­

rença sem ressentimentos do pai em relaçio a~ filho e vice-, -versa. Como : reforço deste carater de confusao de paternidade,

o menino ter,, na verdade, um terceiro pai, o padrinho que o

adotou~

Abandonado por Maria, Leonardo Pataca abandona também

o filho, que acabará nas mãos do padrinho, que vai amá-lo de ,

maneira obsessiva. O tenente-coronel sabendo do infortunio

vai se oferecer para tomar conta do menino, o que não j erá a­

ceito pelo pa~rinho. Vejamos as reflex;es que levavam ove­

lho militar a propor o oferecimento:

"••• decidiu tomar o menino sob sua proteção, e acreditou que, , 1

se conseguisse felicita-lo, lavaria seu filho do pecado de ter

desonrado Maria.tt9 ~

Esta aspecto da dÚbia paternidade do harÓi é urna carao-, , A .

teristica do heroi romantica, que aparece assim, como filho ,

de ninguem, sua origem ficando envolta numa nebulosa, como s~

o herói romântico fosse mais do que filho do homem.

Pode-se fazer uma aproximaçio entre o procedimento nar­

rativo da Chartreuse ~ Parma de Stendhal, e de~ sargentp ~

milícias• Como no Sargento !!!! milícias, a obrà de .. S.teindhal I

traz nela a desmistificação do sentimento romântico. As inter~

i· ' venç~es do narrador, tratam com ironia a questio da criaçio

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1 1

100

romântica, mas o har~i, no entanto não escapa ao seu papel ,

mitice. Ambos, Leonard~ como Fabrica, estio sempre protegi-,

dos ~or uma serie de mulheres, estio envolvidos em quiproc~s

que não os levam nunca a tirar lições ou fazer qualquer ela­

boração critica. Ambos têm o nascimento envolto numa dÚbia

paternidade ; Am.bos se sentem bem at~ na prisão. fabrica hio

queria sair da prisão, a Leonardo se engaja como soldado do

seu algoz.

Memória ,Wl YJ!!. saàgento .QJ! milícias~ uma obra inserida

no movimento rom;ntico, mas que faz a crítica ao romantismo, ..

e representa uma ruptura dos procedimentos narrativos roman-

ticas. Daí a dificuldade em ser q~alificada dentro do roman­

tismo . O sargento~ milícias está dentro desta l inha de o­

bras dificilmente enquadráveis dentro de qualquer movimento

literário, como Jacguep !Ji Fataliste, de Diderot, Chartreuse

s;!.§. Parma entre outras. Essas obras, sem· serem realistas, fa~ . ·

zem uma pintura dos costumes da ~poca e trazem informaç;es

históricas tipioas do realfsmo.

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. 11

1 .

7 - CONCLUSÃO

A in.flu;ncia dos escr i tores no jornalismo determinou o

estilo de jronal do século XIX. Esta forma de conceber e de

fazer o jornal representa uma perfeita síntese entre opinião

e informação. O jornalismo literário~ informativo: Machado

de Assis deixou profundos conh ecimentos sobre a : sociedade

brasileiras Dickens, fez uma pintura sem retoques, da socie-

_dade inglesa na passagem para o sistema capitalistas Balzac

foi o historiador da sociedade francesa. No século XIX jorna­

lismo e literatura estão intimamenta ligados. Conforme foi

demonstrado ~o longo deste trabalho a denominaçio de j t rna­

lismo liter~rio, para o s~culo XIX, é pertinente, e este jor-

nalismo representa uma terceira vertente entre a opinião e a 1 •

informação. As crônicas; os folhetins são fontes de informa-

çio inestimiveis sobre as sociedades que retratam. Cr!ticos ! da sociedade da sua época, o s escritores/jornalistas, atrav~s

1

A

da todos os generosa que se dedicaram nos jornais ; deixaram

uma anilise sutil sobre usos e costumes, que servem da mate~

rial de estudo para historiadores e pesquisadores ~ E mais do

que isto, a obsarvaçió minuciosa da sociedada que os cercava,

levaram essas escritores a fazer profunda anilise da natureza

humana.

Este trabalho comprova que a !~fluência dos escr~tores

no jornaliámo nio fdi unilateral: nio s~ os escritores deter­

minaram o tipo de jornalismo liter~rio, como a literatura so-,

frau influência do jornalismo. Através -das crônicas e folhe-

tins t os escritores criticavam os costumes• a polltioa ; a~

instituiç;es da ~poca, comb i nando crítica com informaçio. Mas,

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1 1'

1 1

1

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preso à matéria de jornal, o produto literário vai sofrer às .... ' 1

pressoes que o atrelam a uma forma narrativa de total envol~

vimento co~ o leitor. A literatura do s~culo ·XIX publicada ,

nos jornais estara profundamente enraizada na realidade~ no

cotidiano, nas reais agruras dos seres humanos. Os escritores

do s~culo XIX moidaram um tipo de jornalismo, mas a literatu­

ra será determinantemente influenciada pelo jornal.

Os jornais do século XIX ainda não t;m o compromisso

com a informação objetiva e imparcial, que seria o sonho per­

seguido no século XX pelos homens de imprensa• mas começam a

se af~star do pasquim de ópiniio tendenciosa de grupos e fac­

ções. O jornal do século XIX será um jornal de debates, todos

os temas po!Iticos e filos6ficos serio debatidos .e discuti­

dos, mas a discussão será de outro nível. Os escritores ele-, I - .

varam os debates para o nivel das ideias - as instituiçoes

serão questionadas e apalisadas em profundidade. Enquanto Ma­

chado de Assis em tom irônico analisava as entranhas da nos-,

sa vida politica, fazendo a cobertura do Senado, Dickens fa-.. .

zia o mesmo no Parlamento ingles, Seba Smith criticava o Con-

gresso norte-americano, Balzac ironizavao governo da Restau-...

raçao. Dostoievski sofria constrangimentos de toda a sorte

(prisio, pagamento de multa) em consequ~ncia dos artigos qua . ,

escrevia. Jose de Alencar sem analisar a sociedade brasilei-

ra com a mesma perspic~aia de Machado de Assis, foi um inte­

lectual que ·refletiu sobre a sociedade, e as suas cr;nicas,

expostas neste trabalho, comprovam a importância da !a l tura I .

, ... de Jose de Alencar para a compreensao do Biasilem meados do

, seculo passado.

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"

I,

103

O cronista/escritor fazia crônica da opinião~ foram

alas que melhor criticaram a sociedada de seu tempo - mas .. , ,

as cronicas eram tambem informativas. O escritor do seculo

XIX fazia do seu ofÍcio uma profissio de f~ na verdada. Cons­

cientes do papal de historiador do momento fugaz, elas infor­

mavam o que se passava a seu redor com a intançio de deixar

um testemunho para a postari~ada. 1

Se o jornalismo literário determinou a moldou a evolu-

- , ç,o do jornalismo, mudou tambem os rumós da literarura, que

nunca .mais pode privilegiar a reflexão em detrimento da ação.

Em todos os escritorei que passaram pela imprensa h~ algo em 1

comum estes escritores nio deixam de observar a vida~

A partir da anaÍise da influência do jornalísmo na li-,

teratura; conclui-se que o movimento realista esta inteira-

ment~ ligado ao jornalismo. Toda a mat~ria de Jornal, do a­

n~ncio ao folhetim, tem compromisso com a informaçio. No jor­

nal, tudo informa.~~ buscar a objetividade, ao tentar retra­

tar em seus personagens as características universais do ser

humano, ao se arvorar o papel de historiador dos movimentos

sociais de que são testemunhas, não estão os escritores levan-

:.1' 1 , do para a ficção os fundamentos do jornalismo?

A nível de texto,~ influ;ncia do jornal sobre a lite­

ratura determinou uma forma narrativa própria. O grande méri-, .

to do folheti~ esta na sua força narrativa, como demonstramos

ao longo do trabalho~ Pressionado pelo p~blico, que responde

imediatamente -- deixando de comprar o jornal; ou âumentando

consideravelmente sua venda -- o autor de folhetim teve que

desenvolver uma técnica narrativa qúe prendesse o leitor. O

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folhetim teve um alto poder de envolvimento com o p~blico, um

envolvimentos~ compar~val na hist~ria da literatura, ao do ,

teatro grego, em que havia envolvimento total entre publico

1 e obra. ,

No seculo XIX a literatura, pela primeira vez chega a

um número maior de pessoas, e na Europa, pode-se dizer, atin­

ge a massa. Todo o movimento literário do século está intima­

mente ligado a a~ividade jornalfstica. Pela primeira vez na

hist~ria cria-s~ um mercado de trabalho par~ o escritor. Es-! . , -cravar passa a ser um oficio remunerado, enquanto, ate entao

os escritores viviam do favorecimento dos nobres e poderosos.

O melhor exemplo desta depend;ncia dos escritores• foi o de ,

Voltaire que contestador do Estado, vivia na corte dos despo-

tas esclarecidos. , ~

O seculo XIX cria o oficia de escritor, ao que possibi-

litou esta evolução foi o jornalismo. O editor dos folhetins

pagava regiamente os escritores que lhes davam lucro. A im­

.Prensa atrelou a literatura ao cotidiano, às reais agruras do

ser humano, afastou as utopias. Jornalismo e literatura rea- .. , ,

lista se confundem. O seculo XIX deu forma definitiva ao ro-

mance, e pela pri~eira vez a prosa suplanta a poesia e os en­

saios filos6ficos na produção liter~ria. O folhetim, neste ,

aspecto, teve uma importanté .participaçio.

Além da missão de denúncia, a que todos mais ou menos 1

. se propunham - Dickans de maneira obsessiva, Balzac de for.:.

ma atormentada e ~achado de Assis de maneira mais velada~ I

. ' , . ,V ,

alas àssumiam,tambem, a funçao de educar. O folhetim do secu-

lo XIX tinha um compromisso com a massa recentemente alfabe- 1 •

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tizada, e pretendia levar a cultura letrada para um grahde

número de pessoas. O movimento de massificação da cultura co~

meça com o folhetim oferecido pelos editores de jornais, a . , f

preços baixos, para o grande-public o. Ai começa o foss j entre

o Brasil e os outros pai ses. O jornalismo 1 i ter ár io no ; Brasil ' 1

não tinha por tr~s um movime nto de alfabetizaçio do povo. O

nosso folhetim n~o representava o acesso dos prol etários ' à

I j cultura letrada. O folhetim brasileiro estava voltado para é 1

pr~pria burguesia, que em termos culturais vivia em autarcia

- produzindo e consumindo para ela · mesmo . O jornalismo li­

ter~rio no Brasil foi ri~u!asimo t produziu em termos relati~

vos uma literatura tio rica quanto em outras ,partes do mundo,

mas sem respaldo na evolução do movimento social 1 não repre­

sentou a ascensão da massa; cultura letrada~

i ' 1

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8 - BIBLIOGRAfIA

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9 - NOTAS

1WEILL, Georges (1934) p. 12

2Ef'1ERY t Ed uu in (1965) P• 135

3wEILL, op. cit. p. 210

4EMERY, op •. cit. P• 183

'? 1 5BAUDRILLARD, J. (1979) p. 8 4

i 6MACHAD0 DE ASSIS~ ( 19 57) p. 112

7ANDRADE, ,

(1974) 125 l"'lario. P•

8ALENCAR, ,

de. ( 19 55) 63 Jose P•

9 !bidem, P• 63

lOibidem, P• 63

11 · Ibidem, p. 39

12 Ib'd . i em.

13Ibidem, P• 43

14 Ibidem, P• 83

15 Ibidem, p • 141

.o 16Ibidem, P• 140

·~ 17 Ibidem, 141 p.

18 Ib'd J. em, P• 157

19 1bidem, p • 149

2ºIbidem, P• 150

21 Ibidem, p. 90

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22Jbidem, P• 91

23 Ibidem, p. 19

24 Ibidem, P• 286

25 Ibidem, p. 287

26 Ibidem, p • 288

27 Ibidem, P• 298

28 Ibid.em.

29 Ibidem, P• 299

30 Ibidem.

31 rbidem, P• 301

32Ibidem.

33Ibidem, P• 303

34Ibidem, P• 308

35 Ibidem.

36 Ib'd ·. 1 em, P• 312

37 Ibidem,

:o 38 soDRÉ, N. Werneck (1966) p • 219

39 A L ENCAR; ,

de. cit. p. 70 = Jose op. 1

40 Ibidem; P• 72

41 Ibidem, P• 146

42 Ibidem.

43 Ibidem.

44Ibidem; P• 163

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45 Ibidem, P• 164

46 Ibidem, p • 165

47 Ibidem, P• 225

48 Ibidem;. 1 1

49 1•1A CHADO ,., DE ASSIS, (1957) p. 10

5o A NO R A O E , Mário• · (1974) P• 89

51 Ibidem, P• 108

52111A CHADO DE ASSIS, (1957) P• 172

53 Ibidem, P• 23

54 Ibidem, (1986) P• 473

55 Ibidem, ( 19 57) P• 177

56Ib"d . 1 em, (1986) p. 488

57 Ibidem.

58 Ibidem, ( 19 57) P• 23

59 Ibidem, p. 85

6º1bidem, p. 169

61 Ibidem, (l986) P• 444

~ 62 Ibidem, P• 462

63 Ibidem, p • 444

64 Ibidem, p. 489

f;iSibidem, P• 486

661'1AGA LHA ES JUNIOR ( 1981) p. 143 v.3

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67Ibidem, P• 145

·68GLEDSON• Johni (1986) p. 144

69 MACHADO ~E ASSI~,(1986), P• 1112 v. I

70GLE0SON, John; ( 198 6) P• 72 ,.,.,

71 WEILL, George op. cit. p. 211

72HUBBELL, Jay B. ( 19 49) P• 439

73 Ibidem, P• 465

74 Ibidem, P• 467

7 5 TWA IN; ~lark, (s.d.), p. 33

76 Ibidem, { 1981) p • 12

77 fYIEIDER, Charles { 1961) P• 18 3 1 '

1 78 TAUNAY i

(1923) p. 85

79 tCO, Umberto (1989) p. 140 ' • 1

BD l'IA NKO WI TZ·, Wolf (1977) p. 32

! 81DICKENS t Charles (s.d.), 27 P• 1 •

82 rbidem, ' . p. 145 ,

lt 83MAUR01Sf Andr~, (s.d.), p • 312 1 - . 84 Ibidem,

~ 595 1 P•

85 LUKACS, (1967) P• 19

861•1AUROIS i ,

ci t. 267 Andre, op. P•

87 A Ll'IEIDA, Amanual A ' An ton J.O, {s.d.), p • 20

88 1bidem, P• 52

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115

89 Jbidem, p • 56

90 Jbidem, p. 85

91 Jbide m, p • 11

92AMDRADE, ,

l'I ar io, ( 197 4) p. 138 7'

93AUIEIDA, l·Janu e.l An t~n io, (s.d.), p • 86 ,.. «.· 9 4 I b i rl em, p. 86

95 Ibidem, p. 35

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R ESU f'lO

FERREIRAi H~ris Arnt Telles. ~ jornalismo literurio. Dissertação de l·lestrado ern ComÚnicâção. Rio de Janeiro, UFRJ, Es­cola do Comunicaçio, 1990. 117 fl. mi­m eo.

No s~culo XIX uma c aracterlstica parti-

cular va i dominar o jornalismo, ,

em varias

partes do mundo: a participaçio ativa de

nscritor e s nas redaç~es dos jornai s , quer

como editores, cronistas, editorialistas

ou autores de folhetins. Esta par t icipa­

çio foi de tal ordem que este periodo po-,

de ser qualificado de jornalismo litera-l

rio. Atrav~s da cr~nica os escritores/jor-•w

nalistas vao deixar sua marca na informa-

ç~o precisa sobre usos, costumes e a vida

pol{tica e parlamHntar de seus palsas. A­

través do folhetim, os escritores farão a

critica sutil e pP. o funda sobre a socieda-

de de seu tempo. ,

Nos se c ulo XIX jornalismo e literatura

se confundem. Os oscritores moldaram o jor­

nalismo, mas o jornàlis1no literário inter­

feriu deter minantemente na lit s ratura do

século XIX.

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ABSTRACr

FERREIRAi H~ris Arnt Tel!es. Q. jorr:i_alisrno_ 1.i1_e_t,.§J'.J...Q.~ D:i.s,sertaçao de i'lestrndo err1 Co111unic açao . ílio de Janeiro, UFRJ, Es­cola dr:? Comuni cacão, 1990. 11 7 fl. mi­meo.

ln the 19th century, one particular

e 11 a r 3 e t 8 r i s ti e d o 111 i n a t G d j ou r n ,31 i s 111 i n

se \t era 1 p ar t s .i n t h e , ... ,o r 1 d : Um a e tive

particiration of writers in newsp ape rs,

either as publishers, dhroniclers a nd

aditorialists ar as feuillatonist e . Th e

result of their infl.uence is what may be

called Literary Journalism. Precise in­

forrnation éJbout habits and customs as

well as political and parlamentary life

can be found in chr.on iclEis o f th a t tin,e.

Feuilletons made social and economicil

criticism subtly and deeply. However,

not only tJr:i ters shaprJd journalism. Li ta­

rature also b e nefitud from the close

connectlon 1.úth journ::.1lis111, deter111ininq

a narrntive forrn that favoreci action ra­

ther than rcflexion.