aprendizagem e autoria versao final[1]

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  • Curso de Ps-Graduao Lato Sensu a Distncia

    Psicopedagogia

    Aprendizagem e Autoria

    Autor: Luciano Ferraz Servantes

    EAD Educao a Distncia Parceria Universidade Catlica Dom Bosco e Portal Educao

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    SUMRIO

    INTRODUO ........................................................................................................ 03 UNIDADE 1 TEORIAS DA APRENDIZAGEM: CONCEPES E REPRESENTANTES .......................................................................................... 05 1.1 Paradigma Comportamental .............................................................................. 07

    1.2 Paradigma Cognitivista...................................................................................... 13

    1.3 Paradigma Humanista ....................................................................................... 18

    UNIDADE 2 O QUE SE APRENDE E COMO SE APRENDE .............................. 23 2.1 Relao entre informao, conhecimento e saber ............................................ 24

    2.2 Aprendizagem e gesto do conhecimento ........................................................ 26

    2.3 Capacidades, habilidades e estilos de aprendizagem ....................................... 29

    UNIDADE 3 CONCEITO DE APRENDER E DE SUJEITO AUTOR .................... 37 3.1 Aprendentes so muitos, autores nem sempre ................................................. 37

    3.2 Modalidade de Aprendizagem e Ensinagem ..................................................... 39

    UNIDADE 4 METACOGNIO: APRENDER E ENSINAR .................................. 53 4.1 A autoria de pensamento e a autonomia da aprendizagem ............................. 53

    4.2 Significado e estratgias metacognitivas .......................................................... 58

    4.3 Dificuldades e/ou problemas de aprendizagem ................................................. 68

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    INTRODUO

    Neste mdulo estaremos dialogando com o desenvolvimento da

    aprendizagem, seus percursos tericos, as concepes e os paradigmas que

    norteiam esse comportamento inerentemente humano, pois todo ser humano

    capaz de aprender e de desenvolver aprendizagens novas. Basta que voc pare um

    momento e dialogue com suas experincias de vida e perceber que est em

    constante aprendizado. Nesse sentido, importante tambm que percebamos como

    aprendemos, qual ou quais so os mecanimos cerebrais que movimentam nossas

    capacidades, habilidades e potencialidades de aprendizagem, ento, o que e como

    se aprende?

    Ao nos colocarmos diante de algo que conhecemos, temos a possibilidade de

    explicar determinadas situaes, condies e at fenmenos e, nesse momento

    que nos tornamos autores, pois somos capazes de ir alm do aprendido; somos

    capazes de gerar novas teorias e novas aprendizagens; somos capazes de

    organizar novos conhecimentos e gerar novos dilogos sobre a aprendizagem

    assim, somos autores.

    Mas, esse processo implica:

    uma identidade: a do aprendiz; um mtodo: individual e nico; uma modalidade: pessoal e autodesenvolvida; uma certa liberdade de aes e de trocas: supranecessrias com o

    ensinante e com o conhecimento.

    Caso no haja essas implicaes, temos um aprendiz, mas no autor. Em

    outras palavras, o aprendiz autor requer um ensinante, requer uma modalidade de

    aprendizagem e uma independncia ensinada e dirigida para o aprender e, um

    desenvolvimento prprio e responsvel para se tornar autor.

    Por isso a aprendizagem tem que ser significativa, no sentido de seu

    desenvolvimento, dentro e fora da sala de aula; no sentido da provocao. Ora,

    preciso lembrar que a curiosidade um movimento no sentido da aprendizagem, do

    conhecimento. Um aluno que provocado no sentido de sua curiosidade, um

    aluno que se dispe a aprender. Alis, voc conhece algum que no seja curioso?

    Algum que quando criana no olhou pelo buraco da fechadura? Ou, ficou atrs da

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    porta para ouvir uma conversa entre adultos? Ou, ainda, que no passou pela fase

    dos porqus?

    Se parar para pensar descobrir que todos ns somos curiosos e, isso, no

    um comportamento anormal ou patolgico, pois nossa curiosidade nos move a

    aprender constantemente, porque o conhecimento infinito e, a aprendizagem

    tambm.

    Talvez, alguns professores tenham se esquecido dessa condio natural de

    todo ser humano, porque ensinam esperando que seus alunos aprendam pelo modo

    como ele o professor entende e esquece que seus alunos j possuem um modo

    de entender as coisas que os rodeiam, s no entendem o processo do

    desenvolvimento das mesmas porque seu modo de entender (interpretar a

    realidade) imediato por isso chamamos esse conhecimento de senso comum.

    Desse modo, o professor um agente de transformao e um mediador da

    aprendizagem do aluno, sendo o responsvel por desenvolver no aluno sua

    metacognio, ou seja, a condio de o aluno compreender-se como aprendiz capaz

    de lidar com seus progressos e dificuldades ante a aprendizagem do senso

    comum ao conhecimento sistematizado (escolar). Mas, esse tema nos

    aprofundaremos mais adiante.

    Provoco, ento, a todos adentrarem as unidades seguintes com bastante

    curiosidade e que nosso dilogo com a aprendizagem e a autoria nos permita

    crescer mais, e que ao final desse mdulo sejamos mais aprendizes autores.

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    UNIDADE 1 TEORIAS DA APRENDIZAGEM: CONCEPES E REPRESENTANTES

    As teorias da aprendizagem so muitas e todas elas possuem, em seu bojo,

    um modo muito peculiar ou, at mesmo, particular de apropriar-se do

    desenvolvimento da aprendizagem como um processo numa via de mo nica.

    Porm, consegui observar nesses meus poucos anos como ensinante que h

    algumas teorias da aprendizagem que refletem prticas, aes e condutas seja na

    escola ou fora dela.

    Para fazer nossas reflexes e dilogos possveis com tais teorias estarei

    adotando como base as anlises de Portilho, pois ao mesmo tempo em que esta

    autora trata, com muita pertinncia, desse estudo, promove a reflexo, tambm

    pertinente, sobre tais teorias de modo leve e atual, crendo-se podermos aliar mais

    estudos e exemplos de modo que nossa incurso por este estudo no seja rido e

    cansativo. Pois, segundo Portilho, (2009, p.15):

    No processo de aprendizagem, encontramos diferentes concepes e teorias que evidenciam os valores e as crenas que norteiam a maneira de ser, pensar, sentir, agir e interagir, muitas vezes, de forma desordenada e confusa.

    Pela observao dessa autora, o processo de aprendizagem marcado por

    diferentes concepes e teorias. Em verdade, que bom que foi assim, pois

    considerando que em cada poca a escola sofreu (e sofre) suas transformaes, o

    professor e o seu processo de ensinagem, bem como, o aluno e o seu processo de

    aprendizagem devem ser entendidos como situaes tambm em transformao; o

    que exigiu diferentes olhares e prticas pedaggicas (re)organizadas.

    Por que a importncia de (re)ver as teorias da aprendizagem? No podemos

    nos esquecer que a prtica pedaggica organizada, mas totalmente intencional no

    sentido de que quem ensina deseja que o outro aprenda e, quem aprende deseja

    que o outro ensine portanto, uma relao intencional recproca; a prtica

    pedaggica um fato dirio no ambiente escolar, mas no uma rotina em que se

    podem depositar as mesmas intenes, pois cada dia o mesmo grupo de alunos no

    se comporta da mesma maneira, ao tempo, que o professor tambm no ensina,

    todos os dias, da mesma maneira. Portanto, no h rotina estabelecida e pr

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    determinada na escola; o ensino planejado, organizado e estruturado, mas isso

    no garantia, nem de qualidade nem de atrao para os alunos, portanto, no h

    uma relao de ensino garantida sem que haja, necessariamente, uma relao

    humana estvel, permeada por ene situaes comuns. Nesse sentido, Sacristn e

    Gmez (2000, p.47) afirmam que:

    Toda teoria sobre a aprendizagem dever explicar tanto as peculiaridades que identificam e distinguem diversas classes, quanto as caractersticas comuns subjacentes a estas e que justificam sua denominao como processo de aprendizagem. esta teoria, que integra sem simplificar, que distingue sem divorciar, que a prtica pedaggica exige. Tanto para compreender como para orientar na escola os fenmenos de ensino-aprendizagem.

    Creio que a partir dessa citao torna-se claro que as teorias da

    aprendizagem no pretendem fixar um modelo, um paradigma, nico e engessado,

    mas, no estudo de cada uma delas poderemos encontrar um pouco de cada aluno,

    de cada situao de ensino e de aprendizagem, um comportamento inexplicado do

    aluno ante o conhecimento e, at mesmo, dificuldades para entender a prtica

    pedaggica que, ora se desvela tranquilamente e ora, parece estar totalmente

    deslocada das necessidades que o aluno possui.

    a que surgem questes de professores e alunos do tipo: por que tenho

    que ensinar isso?, e, por que tenho que aprender isso? Por isso repito: no h

    rotina no ambiente escolar, pois cada dia, aula, encontro nesse ambiente um novo

    encontro, uma nova aula, um novo dia.

    Desse modo, as teorias da aprendizagem refletem, em determinadas

    sociedades, culturas e prticas escolares, o modus operandi do processo de

    desenvolvimento do conhecimento e, com certeza, as exigncias sociais que

    marcam uma poca. Por isso optei pela discusso dos paradigmas comportamental,

    cognitivista e humanista, levando em conta que ainda, nos dias atuais, a prtica

    pedaggica e o desenvolvimento da aprendizagem so processos em transformao

    sob a exigncia de novas demandas, novos fazeres e novos saberes.

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    1.1 Paradigma Comportamental

    Este paradigma destaca o valor do ambiente que marcadamente

    estimulador, no qual o indivduo aprende pelo resultado da quantidade de

    associaes realizadas entre estmulos e respostas. Nessa perspectiva, o aprendiz

    est sujeito apenas ao que o ambiente pode provocar, sendo que todo produto se

    resume em estmulo e resposta.

    Nesse caso, seria interessante refletirmos de quais ambientes se originam

    nossos alunos. Evidentemente, so diversos, com inmeros aspectos que os

    marcam, com grupos familiares distintos. Nos dias atuais, dificilmente,

    encontraremos mes que se dedicam exclusivamente educao de seus filhos,

    pois muitas precisam trabalhar fora de casa: so as que sustentam a famlia.

    No vou citar o pai, porque culturalmente sempre foi talhado para ser o chefe

    que sustenta a casa e, assim, este sempre esteve mais ausente de casa do que as

    mes que, culturalmente tambm, at algumas dcadas atrs, s cuidavam dos

    filhos, da casa e do marido. Bom, isso mudou... Mas, me continua sendo me

    quando retorna para sua casa e tudo continua sua espera.

    O que quero dizer que nos dias atuais, muitos dos nossos alunos esto

    sendo criados (formados, educados) por avs, colaboradoras do lar. As famlias, em

    sua maioria, deixaro de ser nucleares, nas quais os pais no so mais os nicos

    responsveis e mais presentes na educao de seus filhos. Ento, pergunto: de qual

    ambiente estamos falando? Quais estmulos e respostas podemos encontrar em

    alunos que, em certa medida, vivem em relaes dispersas, conflituosas e, muitas

    vezes, instveis.1

    Precisamos refletir sobre isso antes de julgarmos algumas situaes que a

    escola nos apresenta. Ento, para essa teoria o que importa o que est fora do

    indivduo e tudo ao que este se pode associar em seu ambiente. Assim, segundo

    Portilho (2009, p.19):

    1 No se trata de uma crtica aos pais que precisam do trabalho como sustento, nem a familiares e outros que tambm possuem muita responsabilidade e zelo no cuidado com as crianas e adolescentes, mas preciso analisar e dialogar com as mudanas sociais que ocorrem, j que estas, inevitavelmente, afetam muitas pessoas, seus modos de agir, pensar e sentir o mundo e, sobretudo, de aprender com ele.

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    Aprender para este enfoque significa que aquele que aprende est condicionado ao meio, e isto significa, por exemplo, que quando uma pessoa realiza uma avaliao escolar, ela expe exatamente aquilo que lhe foi ensinado, incluindo vrgulas e pontos, porque assim e s assim o certo.

    preciso lembrar que esta viso se relaciona ao Condicionamento Clssico,

    no qual encontramos Ivan Pavlov como precursor da Teoria do Reflexo

    Condicionado. Nessa perspectiva, o aluno s aprende aquilo que lhe ensinado

    dentro dos limites convencionais de uma sala de aula , o professor o nico

    responsvel por fixar o saber do aluno,

    predeterminando o que deve saber, como

    transmiti-lo e como avali-lo.

    Desse modo, todos os alunos so

    levados a pensar, agir e proceder da

    mesma forma, tendo-se a mesma viso

    (entendimento e interpretao) da

    realidade.

    Fonte: http://migre.me/3VqY5

    Nesse auge das ideias, vamos parar para pensar um pouco: se o ambiente

    o principal condutor das condies de aprendizagem do aluno e, na escola que

    deve aprender, o que faremos com os conhecimentos adquiridos nos demais

    ambientes que norteiam esse mesmo aluno? O que faremos com o senso comum do

    nosso aluno? Desprezaremos?

    Para Watson (2009, p.20 apud PORTILHO) a aprendizagem considerada

    como o estabelecimento de associaes simples (respostas condicionadas), com

    base no sistema nervoso, isto , toda conduta representa a aprendizagem de

    respostas e estmulos particulares. Por esta acepo, o organismo do aprendiz

    passa a ser um agente da conduta que, s promover a aprendizagem daquilo que

    vir e constatar, desde que as emoes sejam portadoras de condies reflexas que

    podem promover o aprendizado do indivduo. No sendo raiva, ira e amor, para os

    Behavoristas, assim chamados os tericos como Watson, acredita-se que as

    emoes so reflexos condicionados.

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    Por essa assertiva, ento, podemos pensar que as crianas que chegam na

    pr-escola no esto emocionalmente prontas para enfrentar esse ambiente, j que

    no o seu ambiente familiar, e no foram preparadas emocionalmente - para

    enfrent-lo. Isso explica o comportamento choroso, em certa medida revoltado,

    agitado que tais crianas apresentam.

    Nesse caso, como podero aprender se suas emoes no esto objetivadas

    para esse fim? Alis, quantas delas sabem a finalidade para adentrar o ambiente

    escolar? Por isso a necessidade de um processo inicial de conquista e estruturao

    de uma relao mais prxima do professor com o seu aluno, afinal ele precisa se

    sentir seguro para estar, emocionalmente, pronto para aprender.

    Dessa forma, as relaes que a criana ir estabelecer com o ambiente

    escolar esto em funo da relao que ir estabelecer com os outros que esto ao

    seu redor nesse ambiente. Nesse caso, suas emoes, j formadas atravs do

    ambiente familiar, iro se co-relacionar (ampliar) com as novas emoes que sero

    criadas no ambiente escolar, dando significado ao seu desenvolvimento como

    pessoa e como aprendiz. Segundo Camargo, as motivaes, as emoes e

    sentimentos devem grande parte de sua fora e estrutura aos intercmbios

    pessoais. (2004, p.123)

    Mas, para Thorndike (apud PORTILHO, 2009), a repetio de uma ao deve

    ser privilegiada at que se encontre uma soluo, porque sugere este behavorista a

    possibilidade de vnculos determinantes entre as impresses sensoriais e os

    impulsos para a ao (Teoria do Conexionismo ou Condicionamento

    Instrumental)2.

    Por esta acepo, o indivduo aprende quando associa, ou articula, as aes

    repetidas com o que v, sente, pensa, percebe, capta. Nesse caso, o sistema

    sensorial est em funo do feedback que as repetidas aes formam no crebro.

    Contudo, gostaria de fazer a seguinte reflexo: no seria a memria mecnica

    a auxiliar na formao gradual por repeties da informao e, de acordo com o

    nmero de repeties, as informaes fossem gradualmente formando o

    conhecimento?

    2 Esta teoria pressupe que, por causa do condicionamento, respostas especficas podem unir-se a estmulos especficos. Estas unies ou conexes so o produto de uma mudana biolgica no sistema nervoso. (PORTILHO, 2009, p.22).

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    Vamos lembrar-nos da poca em que o professor fazia seus alunos repetirem

    com ele, oralmente (e aos gritos) cada letra do alfabeto, cada operao da tabuada;

    depois, com o uso de uma rgua, o professor s apontava no quadro e fazia os

    alunos repetirem oralmente (e aos gritos) o que ali estava escrito.

    Ao lembrar disso percebo, claramente, Thorndike, pois atravs da fala-voz do

    professor havia uma conduo de som, dirigida aos alunos por seu sistema auditivo

    e, depois ao apontar no quadro o professor propunha a conduo perceptiva,

    dirigida aos alunos atravs do sistema visual.

    A intimidao do aluno, atravs dessa pedagogia tradicional, provocava no

    aluno o medo e a satisfao, dificilmente a aprendizagem. Porque ao repetir as

    aes ora verbalmente, ora visualmente, ora perceptivamente, esquecia o

    professor que os alunos no associavam este conhecimento a outros, mas

    decorava a lio mecanicamente. Ento, por um lado, os alunos temiam no saber

    repetir o processo e, por outro se satisfaziam com a simples memorizao do

    processo.

    Por mais que se tenham crticas quanto a esse processo pedaggico,

    preciso lembrar que a memria mecnica de grande importncia para o processo

    de aprendizagem, que configura a necessidade de repetir algumas aes no

    processo de ensinagem.3 Porm, o grande salto para a aprendizagem real fazer

    com que esse processo (sensorial e mecnico) se articule aos conhecimentos do

    aluno atravs da realidade que vive.

    Por esse estudo do Paradigma Comportamental, encontramos mais um

    terico que compactua com os estudos comportamentais, mas que opositor a esta

    linha terica de Thorndike, discordando deste em alguns aspectos fundamentais,

    sendo Skinner o terico que acreditou que o ensino uma combinao de reforos

    contingentes que facilitam a aprendizagem, com ou sem o professor.

    Para Skinner, o comportamento humano no manipulvel, pois resultante

    do reforo operante, pois uma vez que as pessoas so operavelmente reforadas

    aprendem a andar, a falar, a escrever, a jogar, a utilizar instrumentos manuais, a

    movimentar, etc. e, mediante novos reforos, os repetem, melhorando a eficincia do

    3 A proposta de Thorndike relativa aprendizagem acadmica parece um tanto restrita quando enfatiza a noo de aprendizagem por ensaio e erro, utilizando a repetio e a prtica como metodologia pedaggica. Este autor faz referncia mental como algo sentido e percebido, isto , valoriza os sentidos em detrimento do pensamento. (PORTILHO, 2009, p.24).

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    seu comportamento. Todavia, essa premissa indica que quanto mais reforos so

    dados, mais possibilidades do indivduo alterar suas condutas e mudar seu

    comportamento e, isso independe do professor.

    Nesse sentido, poderemos entender por que algumas instituies escolares,

    ainda nos dias atuais, assumem com rigor tanta disciplina, contedo, recursos e, por

    que os planejamentos das prticas docentes so to extensos e engessados. No

    pode ser diferente porque a lgica dessa realidade se situa na quantidade de

    reforos que devem ser dados aos alunos em detrimento da qualidade da formao

    de conhecimento que pode ser conquistado.

    Dessa forma, preciso contedos que mantenham os alunos presos ao

    roteiro didtico-pedaggico, desprezando qualquer possibilidade de dilogo deste

    com o que a escola ensina e a realidade lhe prope. Assim, por exemplo, no

    preciso de professor na sala de aula, desde que

    algum o prprio aluno passe o contedo do

    livro didtico na lousa, durante cinquenta minutos

    ininterruptos; ao final disso, descreva exerccios

    que tenham um nico exemplo de como faz-los

    (reforo) basta que o exemplo seja seguido

    (operao) e, pronto, a lio foi feita.

    (consequncia) Fonte: http://migre.me/3VrgY

    Segundo Portilho (2009, p.24):

    A teoria da aprendizagem, alm de desconsiderar as informaes que o sujeito j possui, descarta as caractersticas pessoais, as crenas, os desejos, as ideias e os pensamentos, reduzindo a aprendizagem ou a prpria natureza humana a estmulos, respostas e reforos.

    H, sem dvida, nessa citao uma anlise bastante crtica da teoria da

    aprendizagem, onde o aluno reduzido a condicionamentos, os quais, por

    associaes, reflexos e estmulos, podem dar respostas ao aprendizado. Sim,

    vamos chamar o resultado desses condicionamentos de aprendizado.

    Evidentemente, esta aprendizagem deixa muitas lacunas vazias e que, em certa

    medida, podero ou no ser preenchidas de acordo com o interesse do indivduo.

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    Vamos fazer uma incurso num passado, no muito distante, e lembrar como

    foi ser educado pela pedagogia tradicional. A alfabetizao era realizada por meio

    da silabalizao de forma progressiva, ou seja, se partir de uma letra, depois uma

    slaba, depois uma palavra, a frase, o pargrafo, e, finalmente, o texto.

    Esse percurso era marcado por exerccios interminveis e repetitivos;

    gastava-se muita borracha, lpis e caderno, mas, ao final de um ano, a grande

    maioria sabia ler e escrever habilmente. Claro, que sobrava puxes de orelha e

    outras humilhaes que, na verdade, nunca matou

    ningum.

    Se aprendia a ter habilidades, mas no se

    articulava nada se aprendia por exemplo,

    escrever a palavra ovo, mas saber que isso era

    aquilo que a galinha botava, eram outros

    quinhentos, pois uma coisa nada tinha a ver com

    a outra quando o tempo era de aprendizado.

    Fonte: http://migre.me/3VroY

    Havia regras para estudar; havia horrio certo para lies e hora certa para

    brincar. Realmente, o aprender a aprender e o saber-fazer no aconteciam na

    escola, isso um fato. Mas, tambm no havia tantos problemas de aprendizagem

    como nos dias atuais se apresentam, porque os problemas eram discutidos

    (reprimidos) e, cada um, fazia sua parte com afinco, pois estudar era uma grande

    responsabilidade e a escola era o nico ambiente possvel para ensinar tudo.

    Onde quero chegar com toda essa fala? Ora, os condicionamentos propostos

    pelas teorias da aprendizagem demonstram que h sim necessidade de se criar

    rotinas nas quais nosso organismo e nossa cognio trabalhem os conhecimentos

    necessrios praticados pelo ambiente escolar. um erro afirmar que o uso da

    memria mecnica, para repetir, gravar, decorar que seja, um certo ensinamento,

    no aprender. Pois, s guardamos em nossa memria aquilo que nos usual,

    costumeiro, porque repetido muitas vezes. Basta, por exemplo, querer lembrar e

    discar um nmero telefnico que no usual simplesmente no lembramos o

    nmero, ento, por que no decoramos? Porque no nos imediatamente til;

    aquilo que nos til armazenado por nosso crebro. Ento, ser til est em funo

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    de nossa necessidade s posteriormente, fazemos relao dessa funo e dessa

    necessidade com outras coisas.

    Ento, somos condicionados e operantes sim; necessitamos dos estmulos e

    sabemos da necessidade das respostas porque estas provm de necessidades

    diversas que, atendidas, nos remetem a aprender com o entorno, com o ambiente,

    com os fatos e as situaes. E com essa conjuntura que os tericos

    comportamentais e/ou behavoristas4 se preocuparam e, em certa medida, no foram

    totalmente equivocados, pois do contrrio, muitas instituies escolares no

    assumiriam suas indicaes ainda nos dias atuais.

    1.2 Paradigma Cognitivista

    O Paradigma Cognitivista nasce em oposio ao Paradigma

    Comportamentalista, sendo que sua maior ateno foi dada ao processo de

    aprendizagem em que o aprendiz est em construo contnua de seus

    conhecimentos, ampliando-os de forma a gerar novas estruturas articulando-as com

    o que j conhecia.

    Nesse sentido, o aprendiz organiza seu conhecimento, administrando as

    informaes que recebe, processando-as de modo que alcance as relaes

    possveis entre elas, para a tomada de decises.

    Sabendo-se que alguns dos principais precursores desse paradigma, tais

    como: Bandura, Jean Piaget, Jerome Bruner, David Ausubel, Lev Vygotsky e Jorge

    Visca, possuem teorias muito prximas ao que concerne ao comportamento

    cognitivista, minhas anlises se centraram nas teorias de Robert Gagn, tratando-se

    tambm de um precursor importante desse paradigma.

    Para Gagn (1974), a aprendizagem ocorre mediante uma transformao do

    indivduo, a qual ele chamava de aprendizagem ativa, passando pela aprendizagem

    de signos e sinais at atingir o processo de resoluo de problemas. A

    aprendizagem assim requer do indivduo uma leitura do seu entorno e das situaes

    que possam formar o processo de transformao.

    4 Alguns dos principais precursores: Ivan Pavlov; John B. Watson; Edward Lee Thorndike; Burrhus F. Skinner

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    Podemos pensar por esta acepo que todas as situaes que ocorrem numa

    sala de aula podem, de forma diferente para cada aluno, influenciar no seu processo

    de aprendizagem, pois estas situaes geram signos e sinais pelos quais o aluno se

    transforma e, consequentemente, aprende. Supondo que a professora grite com

    seus alunos na sala durante a aula, a ocorrncia do grito (sinal) ir gerar um tipo de

    informao (signo) que provocar no aluno a transformao (processo) para

    aprender que sempre que a professora gritar, a mesma ou uma nova situao estar

    ocorrendo.

    Nesse sentido, segundo Portilho (2009, p.28-29):

    Para que este tipo de aprendizagem acontea, devem ser apresentadas duas formas de estmulos de maneira simultnea: o estmulo que produz a resposta geral e o estmulo que se transforma em sinal. Este tipo de aprendizagem comum na vida cotidiana. Para exemplificar, o caso da criana que aprende que um grito de seus pais pode ser um sinal de dor, ou de medo. Este sinal pode originar-se de sujeitos que, quando crianas, tiveram-no acompanhado de estimulaes doloridas ou assustadoras.

    Segundo a autora, na acepo de Gagn, podemos dizer, por exemplo, que

    ao assistir uma propaganda sobre um produto que nos interessa, automaticamente,

    somos provocados a buscar razes e condies para que obtenhamos o produto.

    Ento, a propaganda um estmulo que se transforma em sinal. Transferindo

    esta mesma situao para a nossa de sala de aula, podemos pensar que se o

    professor tiver em mos meios, recursos, tecnologia ou, simplesmente, a criatividade

    para demonstrar o que ensina, a demonstrao passa a ser o estmulo para que o

    aluno interprete a informao e a transforme em conhecimento. Mas, quais so as

    condies para que a criana aprenda a fazer esse processo em cadeia,

    considerando que sua mente se divide entre muitas aprendizagens, das quais

    muitas esto alm dos muros da escola.

    Isso Gagn chama de aprendizagem por cadeia, que a aprendizagem de

    uma determinada sequncia ou ordem de aes. Porm, o oposto de estmulos

    positivos que provocam a aprender, a criana pode no ser provocada a aprender

    porque h situaes em seu contexto que no permitem esse desenvolvimento para

    a aprendizagem em cadeia.

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    Apenas para exemplificar, gostaria de partilhar o Caso Lincon5, menino de 8

    anos, aluno da terceira srie de uma escola pblica. Lincon, logo no incio do ano

    escolar, se apresentou aptico, desligado e at mesmo

    desinteressado. O oposto do aluno dos anos escolares

    anteriores, sendo alegre, dinmico e expansivo.

    A professora de Lincon, uma profissional atenta e

    comprometida, se perguntava O que ser que est

    acontecendo com Lincon?. Resolveu perguntar a ele mesmo

    e, como resposta, recebeu um simples nada da criana.

    Fonte: http://migre.me/3VuuN

    A Coordenao Pedaggica foi informada e, na primeira reunio dos

    professores, o caso de Lincon foi apresentado ningum sabia dizer o que estava

    acontecendo. Assim, os pais de Lincon foram chamados mas, Lincon no tinha

    pai, no o conhecera e a me estava sempre ausente, precisava trabalhar. Desse

    modo, Lincon residia com tios e quatro primos tambm menores, mas com mais

    idade que ele. Devido s condies, a casa era pequena para tanta gente. Assim, a

    prpria me no sabia explicar o que estava acontecendo com o filho, admitindo que

    a criana, nos ltimos tempos, estava muito calada e retrada, porm prometeu que

    ficaria atenta e comunicaria a escola sobre qualquer problema.

    O ano escolar foi passando, e Lincon no dava conta das tarefas, no atendia

    professora, desligando-se at mesmo do barburilho to comum s crianas; se lhe

    perguntasse alguma coisa, no ouvia de pronto e se assustava com facilidade se

    chamasse seu nome em voz alta. Enfim, Lincon estava no mundo da lua diziam

    seus colegas e, os outros j afirmavam que ele estava com dficit de ateno.

    A professora incomodada com a situao e vendo, notadamente, a perda de

    desenvolvimento da aprendizagem de Lincon, pediu coordenao pedaggica que

    o encaminhasse a um profissional que tivesse condies de investigar o caso e

    ajudasse Lincon a encontrar a soluo para seus problemas.

    Aps, muitos processos nos quais nem sempre a famlia colabora com

    escola constatou-se que Lincon sofria abuso por parte dos primos maiores, pois

    5 O nome fictcio, mas um caso clnico real. Qualquer semelhana mera coincidncia.

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    dormia no quarto com todos e, dividia a mesma cama com um primo maior que o

    ameaava durante toda noite nenhum adulto sabia, mas as crianas sim.

    O fim desse caso envolveu muitos processos, muitas pessoas e muitas

    situaes, as quais nem sempre esto ao alcance da escola resolv-las.

    Tomei esse caso apenas para mostrar que a partir de algumas condies, o

    processo de aprendizagem perpassa problemas que podem ou no provocar a

    transformao de um indivduo, mas, a todo momento ser capaz de retomar sua

    capacidade de aprender.

    Ao falarmos de aprendizagem por cadeia, precisamos saber em que cadeia

    de ideias esto nossos alunos, pois segundo o prprio Gagn a aprendizagem por

    associaes verbais est relacionada aprendizagem em cadeia e implica em

    processos simblicos bastante complexos porque, com certeza, depende da relao

    cognitiva do sujeito, seu meio e as informaes que recebe. (PORTILHO, 2009,

    p.30).

    Gagn aponta ainda outras formas de aprendizagens:

    Aprendizagem por discriminaes mltiplas: implica a ao de separar e discriminar;

    A aprendizagem de conceitos: significa aprender a responder a estmulos em termos de propriedades abstratas, tais como: forma, cor,

    nmero ou posio;

    A aprendizagem de princpios: remete ideia de que um princpio uma relao entre dois ou mais conceitos;

    A aprendizagem por resoluo de problemas: dominando os princpios, pode ser utilizada para finalidades diversas.

    Contudo, estas abordagens de Gagn esto muito prximas de alguns

    estudos de Piaget quando afirma que a inteligncia uma adaptao ao meio

    exterior e, tambm, biolgica. Afirma ainda que:

    Esta adaptao, no entanto, fruto da adaptao do indivduo com seu ambiente, onde os fatores fisiolgicos da maturao, as experincias com os objetos do mundo fsico e com o meio social, coordenadas por um mecanismo autorregulador (equilibrao), so elementos absolutamente necessrios para o desenvolvimento [...] a adaptao apresenta duas invariantes bsicas: a assimilao e a acomodao (PIAGET, 1978).

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    Sendo assim, o aprendiz entendido por este paradigma cognitivista, deve ser

    capaz de associar, relacionar, interpretar o meio e seus sinais; equilibra-se diante da

    causalidade integrando ambiente, objeto e propriedade; contemplar suas emoes

    no sentido de coloc-lo disposio da aprendizagem e, ainda transformar

    informao em conhecimento em consonncia com a realidade em que se insere.

    Parece simples, mas tais condies se assemelham exigncia para a

    aprendizagem.

    importante lembrar que no somos mquinas guiadas nem construdas em

    srie, pois cada pessoa carrega consigo uma identidade gentica nica, sendo que

    para alguns, determinados processos de aprendizagem so semelhantes em

    percurso, mas diferem em intensidade e construo e, para outros tudo se difere em

    razo dos mecanismos de associao e interpretao da realidade, considerando

    suas vivncias e experincias pessoais, bem como, fatores biolgicos e sociais.

    Antes de seguirmos adiante, sugiro que faa os exerccios de passagem, para

    auxiliar nas nossas discusses futuras. Boa sorte!

    Exerccio 1 1. Na Teoria do Reflexo Condicionado: a) O aluno s aprende se lhe der uma compensao, sendo que o professor o nico que pode faz-la. b) O aluno s aprende aquilo que lhe ensinado, dentro dos limites convencionais de uma sala de aula. c) O aluno tanto poder aprender na sala de aula como fora dela, pois nessa teoria o que importa a sua interao com o meio. d) O aluno aprende em interao com seus colegas, o professor o menos importante no processo.

    2. Para Skinner, o comportamento humano no manipulvel, pois resultante: a) Do reforo operante, pois as pessoas so operavelmente reforadas a aprender todo seu comportamento. b) Do reforo condicionante, pois as pessoas so condicionadas a aprender todo seu comportamento. c) Do reforo compensante, pois as pessoas so compensadas se aprender todo seu comportamento.

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    d) Do reforo operatrio, pois as pessoas so lgicas no aprendizado de todo seu comportamento.

    3. Para Gagn, a aprendizagem ocorre mediante uma transformao do indivduo, o qual passa, respectivamente: a) A aprendizagem por discriminaes mltiplas, de conceitos, por cadeia, de princpios e de resoluo de problemas. b) A aprendizagem de princpios, por discriminaes mltiplas, por cadeia, de conceitos, e de resoluo de problemas. c) A aprendizagem de conceitos, de princpios e de resoluo de problemas, por cadeia, e por discriminaes mltiplas. d) A aprendizagem por cadeia, discriminaes mltiplas, de conceitos, de princpios e de resoluo de problemas.

    1.3 Paradigma Humanista Nesse paradigma, concentrei meus estudos no seu principal precursor: Carl

    Rogers, para que no ficasse redundante a nossa proposta de estudo e,

    considerando outros mdulos deste curso que abordam muitas outras teorias. A

    opo por esse terico a afinidade com suas ideias, pois segundo Goulart (2003,

    p.94):

    Para ele o ponto de partida de que somente pessoas podem desenvolver pessoas. Logo, necessrio que administradores, professores, supervisores, etc., sejam, primeiramente, pessoas por sua prpria conta. Para ele, uma pessoa expressa abertamente onde est e quem , sem esconder-se atrs da aparncia de ser o profissional x.

    Por essa assertiva, se percebe que no so as teorias da aprendizagem que

    podem afirmar quem o aprendiz, ou mesmo quem o ensinante, mas como cada

    pessoa se comporta ante seu aprendizado, respeitando-se assim a sua identidade, o

    que requer de cada sujeito um envolvimento pessoal explcito no processo de

    aprendizagem e, tambm, do ensino. Nesse sentido, vou me reportar a Perrenoud

    (2001), que diz que o professor , antes de tudo, uma pessoa e, esta pessoa no

    est desvencilhada de si mesmo por ser um profissional.

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    Assim, os significados de aprender e ensinar esto em funo dos valores

    que cada pessoa tem; lembrando que valores so um estado de ser, um modo de

    estar agora em construo no percurso da vida, e ainda, um modo de viver conforme

    o jeito de ser de cada um.

    Todavia, o que cada pessoa e como ela aprende, deve possuir um

    significado, o qual reside na essncia da aprendizagem. Mas, para Rogers esse

    processo de significao torna a aprendizagem um percurso que deve ser auto-

    iniciado tendo, sobretudo, o envolvimento pessoal do aluno.6 E, para que esse

    processo de significao acontea, Rogers pontua que:

    a aprendizagem facilitada quando o aluno participa responsavelmente do seu processo; opta por suas direes; ajuda a descobrir recursos prprios ao

    seu aprendizado; formula problemas que lhe interessam; escolhe a linha de

    ao a seguir; e, avalia as consequncias de suas escolhas;

    o facilitador da aprendizagem aquela pessoa que, consciente de suas limitaes e de suas possibilidades, estabelece um clima de receptividade, no

    qual ele se torna, progressivamente, um aprendiz participante, um membro do

    grupo, uma pessoa que oferece uma participao que os alunos podem

    acolher ou recusar. A preocupao no , pois, o que ensinar, mas como

    facilitar o aprender (GOULART, 2003, p. 95).

    Quanto ao primeiro item, preciso refletir sobre a seguinte questo: Nos dias

    atuais, tendo as pessoas mais liberdade de expresso e linguagem, alm das

    culturas de incluso e excluso e de vivncia numa sociedade mais consumista e,

    portanto, capitalista, como tornar o aluno responsvel por seu processo de

    aprendizagem que seja significativa?

    Numa brincadeira, creio eu, encontrei na Internet uma srie de questes, em

    forma de slides, que se chama dvidas que nos perseguem7. Nos slides so

    apresentadas perguntas que, com certeza, os alunos fazem e ns, professores, no

    sabemos responder. Como exemplo tomo as seguintes questes:

    - Por que a laranja chama-se laranja e, o limo no chama-se de verde?

    6 Esta a segunda razo por ter optado por Rogers na representatividade desse paradigma, pois suas concepes so as que mais se assemelham ao processo de autoria da aprendizagem. 7 Este material no tem uma referncia, autoria, mas atravs do site de busca Google h vrios endereos que o contm.

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    - Se quem trabalha no mar marujo, ento quem trabalha no ar deveria ser

    arajo?

    - Quando inventaram o relgio, como sabiam as horas para poder acert-lo?

    Brincadeiras parte, esse material nos leva a refletir o grande embate que

    vivemos hoje, quanto educao que queremos e educao que os alunos

    encontram no seu dia a dia. Pois, ao que parece o ensino est numa via de mo

    nica e, algumas vezes, contraditria s informaes que os alunos trazem para

    escola.

    Ento, como torn-los partcipes responsveis pelo processo de

    aprendizagem? Como fazer com que no sejam aprendizes fracassados? Sugiro

    que a prtica pedaggica seja dialgica, ou seja, contemple como parte do processo

    o dilogo necessrio que a relao escolar, entre alunos, professor e contedos,

    implica.

    A autoria nasce da oportunidade de dialogar o conhecimento e isso, por

    exemplo, o mesmo que uma me ou pai permitir que seu filho conte o que

    aprendeu na escola naquele dia. A criana revela o que sabe nesse momento,

    expressa e revela seu entendimento e as suas dificuldades. Isso o comeo da

    autoria.

    Todavia, no basta que alunos sejam partcipes responsveis, precisam

    tambm ajudar a descobrir recursos prprios ao seu aprendizado, fazendo uma

    articulao entre um recurso concreto e o aprendizado. Alm disso, segundo a

    premissa de Rogers, o aluno deve ser capaz de formular problemas que lhe

    interessam, porque assim que a aprendizagem passa a ser significativa, no sentido

    de passar para o plano da intimidade do aluno, ou seja, no plano do interesse.

    Nesse processo, ainda dever escolher a linha de ao a seguir e avaliar as

    consequncias de suas escolhas. Particularmente, a legitimao da

    responsabilidade do aluno sobre seu aprendizado confirmada com esse passo

    final que Rogers indica. Pois, ao estar consciente do que, para que, com que e o que

    fazer com a aprendizagem, o aluno est integralmente envolvido como aprendiz.

    No segundo aspecto da significao da aprendizagem, Rogers afirma que o

    facilitador da aprendizagem, que o professor, deve ser aquela pessoa que, alm

    de dominar o que ensina, se expe consciente de suas limitaes e de suas

    possibilidades, permitindo assim um dilogo com sua classe, estabelecendo um

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    clima de receptividade no qual ele, professor, se torna um aprendiz participante, um

    membro do grupo, uma pessoa que oferece uma participao que os alunos podem

    acolher ou recusar. A preocupao no , pois, o que ensinar, mas como facilitar

    o aprender.8

    Nesse caso, a ensinagem to relevante quanto a aprendizagem, pois toda

    relao de conhecimento s existe quando algum ensina e o outro aprende. Desse

    modo, o professor um facilitador no sentido de fazer com que os alunos dialoguem

    com seus conhecimentos, tornando-os possveis de aplicao numa dada realidade.

    Alis, que outro fim teriam os conhecimentos que os indivduos adquirem em

    toda sua caminhada de aprendizagens j que aprendemos a todo o momento,

    contnua e infinitamente?

    Portanto, o professor o responsvel por despertar e promover as

    articulaes possveis. No vamos adentrar aqui em questes sanitrias9,

    acreditando que todos os professores so mais jogadores do que torcedores nesse

    processo.

    Em outras palavras, o professor torcedor do tipo presente, amigo e fiel,

    mas s comparece para assistir partida, nada sabe de sua escola e da

    comunidade em que est inserida; j, o professor jogador aquele que est em

    campo administrando suas aes, acompanhando seus alunos, discutindo com sua

    equipe, atraindo a famlia para escola. Enfim, o professor torcedor s balana a

    bandeira da escola, enquanto que o professor jogador sua a camisa por ela.

    Ento, o professor a pessoa que facilita, ou melhor, media a aprendizagem

    tendo o processo de ensinagem como arma de transformao de pessoas e,

    consequentemente, de realidades. Nesse sentido, Cunha (2008, p.63), afirma que:

    O modelo de educao que funciona verdadeiramente aquele que comea pela necessidade de quem aprende e no pelos conceitos de quem ensina. Ademais, a prtica pedaggica para afetar o aprendente deve ser acompanhada por uma atitude vicria do professor.

    8 O foco da aprendizagem dirigido a quem aprende, e no a quem ensina; o professor no fica, contudo, marginalizado; ele tem a exata medida do interesse dos alunos pelo seu trabalho, na medida em que eles so livres para participar ou estar ausentes das atividades. (GOULART, 2003, p.96). 9 Questes relativas defasagem na formao docente, ao desinteresse pelo trabalho por descobrir seu baixo lucro, por ter baixos salrios, pela fraca ateno das polticas pblicas e desvalorizao social da profisso docentes... para no citar outras.

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    Assim, fica claro que a proposta de Rogers, no paradigma humanista, fazer

    com que as relaes estabelecidas na educao sejam permeadas por trocas

    recprocas e, nas quais seus atores so aprendentes e ensinantes conscientes de

    seus processos, tanto de desenvolvimento da aprendizagem, quanto da aplicao

    das mesmas como meio de transformao.

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    UNIDADE 2 O QUE SE APRENDE E COMO SE APRENDE

    Nesta unidade vamos analisar e fazer algumas reflexes sobre o que e como

    se aprende, iniciando a nossa anlise pelos processos que margeiam a

    aprendizagem tanto do professor, quanto do aluno, pois no podemos discutir

    autoria por uma via de mo nica, na qual transita apenas o aluno.

    A razo para no entendermos a autoria apenas pelo foco do aluno que,

    primeiramente e como j dito, toda relao de conhecimento s existe quando

    algum ensina e o outro aprende, do contrrio, como aprender?

    Nossa reflexo sobre o que e como aprender tambm deve ser vista pelo

    entendimento das diferenas estabelecidas entre a aquisio da informao e a

    construo do conhecimento, consequentemente, do saber que se aplica no fazer

    humano.

    Nesse sentido, temos que reconhecer que nossa

    aprendizagem, em incio de vida, fruto da sociedade

    que nos rodeia, porque a nossa famlia a primeira a

    praticar o processo de ensinagem e nos leva a aprender,

    primeiramente, sobre nossas prprias necessidades

    bsicas, por isso aceitvel a premissa de Morin, (2002,

    p.15), quando afirma que: Fonte: http://migre.me/3Vw8h

    Ns somos indivduos que estamos dentro da sociedade, mas a sociedade como um todo est presente em ns desde o nosso nascimento. Ns recebemos as proibies, as normas, a linguagem e, finalmente, a presena da sociedade entre ns.

    Assim, somos parte de um todo que reconhecemos como nosso desde que

    nascemos, porm, nosso processo de aprender nesse estado de conscincia no

    autnomo, mas essencialmente condicionado aos que nos ensinam de acordo com

    suas crenas e valores. Na verdade, os que ensinam, assim aprenderam com seus

    ancestrais; comum a transferncia da cultura, bem como, daquilo que acreditaram

    ser o melhor para cada um.

    Nesse sentido, para exemplificar, vale a pena lembrar de uma situao

    envolvendo um casal de jovens, recm-casados. Num dado dia, a esposa est

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    preparando o almoo e resolve fritar um peixe, cortando-lhe o rabo antes de coloc-

    lo no frigideira. O marido, que assistia cena, pergunta: - Por que voc cortou o

    rabo do peixe? Ela responde: - Porque foi assim que minha me me ensinou, e foi

    minha av que ensinou a ela!

    Passada essa cena para outra, o jovem casal vai almoar na casa da sogra

    me da esposa. A mesma resolve fazer um peixe frito e a cena se repete. O genro

    intrigado pergunta sogra:

    Sogra, por que a senhora corta o rabo do peixe para frit-lo, tradio de

    famlia? E a sogra, calmamente responde:

    No tradio, para o peixe caber na frigideira!.

    Podemos no carregar a bagagem de tudo que, no princpio de nossa vida,

    nos ensinaram, mas ficam resqucios dos valores que acreditamos ser os mais

    corretos e, consequentemente, transferimos para nossos filhos. Porm, nesse

    segmento de ideia tanto poderemos acertar quanto errar, na medida em que

    esquecemos o que valor e crena para cada um.

    Por exemplo, pense na me ou outro familiar serve os pratos para os filhos,

    todos os dias no horrio das refeies os quais j possuem idade para faz-los

    acreditar que isso um ato de amor. Tal ato exime a criana de sua autonomia, a

    mesma autonomia que precisar na escola para aprender.10 Como diz Fernndez,

    para chegar a eu aprendi, preciso partir de ele me ensinou, o que diferente de

    dizer quando eu aprendi. (2001, p.29).

    Assim, com o tempo e maturidade, os indivduos comeam a perceber que

    necessrio separar a informao, do ensinado pela lgica da escola, do que

    aprendido culturalmente no contexto que se insere.

    2.1 Relao entre informao, conhecimento e saber Morin (2006, p. 23) afirma que a racionalidade a melhor proteo contra o

    erro e a iluso, porm, essa racionalidade se aplica ao que dado como

    conhecimento, porque somente a informao no requer nenhuma racionalidade.

    Pois, todo conhecimento requer aprofundamento, uma lgica e uma organizao,

    10 No h nenhuma inteno em generalizar, e essa questo familiar envolve muitos fatores respeitveis, mas implica no comportamento da criana que sempre estar esperando que algum a sirva. No caso da escola, o(a) professor(a).

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    condies essas que promovem a racionalidade. Ento, j encontramos uma

    diferena clara sobre informao e conhecimento.

    Todos os dias os jornais, bancas de revistas, rdios, televiso e a Internet

    trazem um arsenal de notcias que bombardeiam o nosso dia, estando as

    informaes acessveis a todas as pessoas, estejam onde estiverem.

    As informaes so imprescindveis, pois informam as pessoas sobre o que

    est acontecendo em todos os lugares do mundo. H um objetivo para que existam,

    pois so atravs delas que as pessoas desenvolvem e formam o senso crtico, a

    opinio e se projetam dentro de um cenrio real e objetivo.

    As informaes tratadas por notcias so produtos histricos e culturais, pois

    existem desde que as civilizaes descobriram que no eram as nicas no planeta.

    Na Roma Antiga (44 a 52 a.C), por exemplo, as informaes eram

    discursadas em praa pblica por um mensageiro eleito para isso, j que no

    existiam jornais; assim, os cidados romanos ficavam informados sobre quais eram

    as ltimas conquistas hericas de Jlio Csar, aps as guerras para a ampliao do

    Imprio. As pessoas se aglomeravam em torno do plenrio pblico para ouvir e,

    depois, disseminavam as informaes para os ausentes e, destes toda a sociedade

    romana acabava sendo informada. Evidentemente, um processo moroso e primitivo,

    mas j existente naquele perodo.11 Nos dias atuais, as informaes alcanam todas

    as pessoas, portanto, esto informadas o tempo todo. Porm, que conhecimento

    detm sobre estas informaes? O que elas sabem? Bem, se for a ttulo de

    conscincia do fato, estarei afirmando que possuem conhecimento do fato, mas

    no conhecimento sobre o fato, o que requer um tratamento mais apurado e, at

    cientfico, sobre a informao. Eu posso dizer, por exemplo, que gosto de nadar, o

    que no significa que eu saiba efetivamente nadar. Portanto, informao no

    conhecimento, mas, sem ela no h conhecimento, porque ela a base para a

    construo do conhecimento. J, a informao, em relao ao saber12, marcada

    pelo processo de aplicao do fazer. Enquanto a informao se distingue do

    11 O seriado intitulado Roma (HBO, 2005), tendo como base as pesquisas que o originou, traz esta cena. 12 A questo da relao com o saber no nova. Permeia as obras de Plato, Descartes, Kant, Hegel, Marx, Nietzsche, entre outros, e na poca contempornea se faz perceber na reflexo de Piaget, Barchelard, Foucault e de Certeau, bem como em Lacan (1966) e Bourdieu e Passeron (1970).

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    conhecimento porque este requer uma sistematizao, o saber requer a

    operacionalizao, pois o saber implica no desenvolver a ao pelo fazer.

    Um professor que domina o contedo que ensina, sabe operacionaliz-lo, ou

    seja, sabe transitar com o contedo no plano discursivo para faz-lo concretamente.

    Mas, se o aluno no fizer o processo de aprofundamento e fixar o contedo de forma

    esttica, estar no plano da aprendizagem superficial e mecnica, na qual a

    informao a sua maior limitao. Nesse caso, no h avanos e, com certeza,

    muitos retrocessos, pois ao ser avaliado o aluno j nem se lembrar do que lhe foi

    apresentado, ficando a informao no arquivo morto.

    Fundamentando essa ideia, Charlot (2008, p.180)13, faz a seguinte reflexo -

    na escola ensinam-se poucas coisas teis e muitas coisas importantes. O que pode

    ser considerado importante? E, acrescento: para quem importante: para o

    professor ou para o aluno? Creio que ainda h muito professor ensinando por seu

    modo de ver e perceber o conhecimento, esquecendo-se que o aluno ainda no tem

    esse conhecimento, mas s poder t-lo se descobrir seu prprio modo de aprender.

    Assim, preciso ressaltar que todo processo operacional do saber leva todo

    aprendiz, inevitavelmente, ao princpio do processo, ou seja, ao operacionalizar um

    conhecimento, encontraremos uma ou vrias outras informaes que, por sua vez,

    iro requerer o reincio dos aprofundamentos. Por isso, podemos chamar esse

    estgio de processual ou cclico, onde o conhecimento humano no estvel, nem

    definitivo e parcialmente conclusivo, mas dinmico e infinito.

    2.2 Aprendizagem e gesto do conhecimento

    No item anterior desta unidade, foi dito que todo conhecimento requer

    aprofundamento, uma lgica e uma organizao, condies essas que promovem a

    racionalidade. Ento, j encontramos uma diferena clara entre informao e

    conhecimento. Mas, o conhecimento tambm se distingue da mera informao

    porque est associado a uma intencionalidade. Tanto o conhecimento como a

    informao consistem de declaraes verdadeiras, mas o conhecimento pode ser

    considerado informao com um propsito ou uma utilidade. Veja a figura abaixo:

    13 Cit Charlot, Fundamentos e usos do conceito de relao com o saber, p.173 a 181, in Dieb, 2008.

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    Figura 1 Das crenas ao conhecimento Fonte: elaborao prpria

    Observa-se que as crenas so um conjunto de informaes que, so

    tomadas como verdadeiras e que se antecedem ao conhecimento formado, mesmo

    sobre elas. Como j dito, a sociedade se incumbe de ensinar as crenas e valores

    que toma como verdadeiras, quando a criana nela se insere. Mas, no decurso de

    nossa maturidade, somos provocados a aprender e formar um conhecimento.

    A definio clssica de conhecimento, originada em Plato, diz que ele

    consiste de crena verdadeira e justificada. Sem dvida, entre as crenas que temos

    para aquilo que somos h necessidades de crescimento, significao e aprendizado.

    Em outras palavras, para desenvolver conhecimentos no h como desprezar as

    crenas, mas temos que valid-las e justific-las para que sejam parte de

    conhecimentos que so verdadeiros e justificveis. Contudo, para este processo se

    concretizar num plano que chamo de scio-cognitivo-intelectual se faz

    necessrio tambm organiz-lo dentro de seu contexto.

    O professor ou ensinante, que se reconhece aprendiz, deve ser um

    estrategista, porque no se podem ensinar contedos, seja quais forem, acreditando

    que seus alunos so apenas criaturas passveis de se desfazer de suas crenas e

    valores. Ou seja, no h como desconstruir o aluno para criar um ser pensante.

    Ento, devem-se somar condies, situaes, experincias e vivncias num dilogo

    com a aprendizagem, porque no h como desenvolver conhecimentos sem fazer

    sua gesto. Nesse sentido, segundo Sacristn e Gmez (2000, p.363), a educao

    numa perspectiva prtica pressupe:

    CRENAS VERDADE CONHECIMENTO

    verdadeira

    justificada

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    (...) que o ensino uma atividade complexa, que se desenvolve em cenrios singulares, claramente determinados pelo contexto, com resultados em grande parte imprevisveis e carregados de conflitos de valor que requerem opes ticas e polticas. Por isso, o professor deve ser visto como arteso, artista ou profissional clnico que tem de desenvolver experencial e sua criatividade para enfrentar as situaes nicas, ambguas, incertas e conflitantes que configuram a vida da aula.

    Nessa assertiva, no h como se furtar da importncia do professor como

    modelo na gesto do conhecimento, pois o processo de ensinagem requer que o

    olhar pouse sobre o aluno na busca de reconhecer suas habilidades para

    aprender. Isso implica na conduo do aluno para faz-lo pensar sobre o que

    aprende, para que assim encontre um sentido, primeiramente, singular em que

    atrai a subjetividade do aluno e, ao mesmo tempo, encontre um sentido plural em

    que o aluno descobre que o aprender parte de uma realidade que conhece. Assim,

    interage com sua aprendizagem e organiza os conhecimentos.

    Mas, nessa perspectiva o processo de ensinagem dever incluir propostas de

    formao conceitual, atitudinal e de valores e, procedimental, pois para que esse

    aluno tenha condies de transformar-se e transformar sua realidade, o professor

    no poder eximi-lo de sua responsabilidade na formao de uma postura crtica e

    poltica, considerando os enfrentamentos sociais.

    Teoricamente parece fcil esse processo, mas sei que na prtica no (e no

    ser); porque o professor no pode fazer tudo sozinho, mas faz! Ento, preciso

    estar bem articulado escola, aos alunos e famlia, levando em conta que o aluno

    no est sozinho, mas contextualizado, no sendo apenas um ator solitrio na sala

    de aula.

    Por outro lado, se importante fazer com que o aluno seja autor de sua

    aprendizagem, como fazer com que ele seja integral nesse processo?

    A melhor resposta para esta questo pode ser encontrada num livro muito

    encantador chamado El Caf de los Filsofos Muertos, de Nora K. e Vittorio Hsle,

    no qual afirmam:

    Pensar aprender a ser livre, responsvel e honrado. Pensar esforo e inconformismo, para com o mundo e tambm para consigo mesmo. Pensar duvidar e criticar, no de forma altiva ou presunosamente, mas pelo desejo do bem comum. Pensar ter o

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    tempo de poder faz-lo. Pensar no repetir ou reproduzir. Pensar ativar o que de nobre h no ser humano, porque pensar tambm sentir e intuir. A frase de Descartes no de todo certa: no se trata de penso, logo existo, seno penso, logo vivo. Viver encontrar seu prprio caminho e evitar permanentemente a tentao do fcil. O fcil no pensar.

    Em outras palavras, preciso que o professor faa seu aluno pensar, ou

    melhor, o eduque a pensar. Quando se pensa, a ideia se concretiza, a informao se

    objetiva, o crebro faz suas articulaes, o senso comum se soma ao que se pensa,

    e o que antes era um simples dado, passa agora a ser conhecimento.

    preciso fazer com que o aluno pense sobre o ensinado, fazendo um dilogo

    com o contexto, como consequncia, ser inevitvel passar pela subjetividade, ou

    seja, o aluno no ter, inicialmente, condies de fazer relaes do ensinado com o

    aprendizado porque o desconhecido um ser complexo. O que o professor pode

    fazer nesse caso?

    A exercitao do ensinado, sem objetivo de mecanizao, pode ser uma boa

    estratgia, desde que se tenha um limite entre o fazer-fazer e o aprender-fazer.

    Em outras palavras, h limites para exercitar - do contrrio, nosso crebro

    semelhante aos nossos msculos, fica fadigado, cansado e, nessas condies,

    tende a se afastar do ensinado, ou seja, compreende que melhor no aprender.

    Por isso, o professor deve ter uma tima conduo das tarefas que pede aos

    alunos, privilegiando uma quantidade, uma progressividade e uma estrutura

    organizada. Fazer o aluno pensar, portanto, promover uma aprendizagem que

    organiza o conhecimento, mas, se este pensar for restritivo no haver o que

    pensar, assim, no h o que aprender.

    Para exemplificar essa teoria, me lembrei de um professor que tinha como

    metodologia apresentar/ensinar contedos fazendo perguntas, mas antes que

    pudesse pensar sobre o assunto, j tinha respondido, dando sequncia aula. O

    que aprendi? A ficar calado!

    2.3 Capacidades, habilidades e estilos de aprendizagem Para prosseguirmos vamos conceituar capacidade e habilidade de modo que

    fiquem esclarecidos ante nossas anlises e reflexes nessa parte de nosso estudo.

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    Considerando que estamos estudando a construo do sujeito autor,

    definimos capacidade entendida, para este estudo, como a disposio inata de todo

    ser humano para a aprendizagem. Pois, aprender um comportamento

    inerentemente humano, e que o capacita a estar em contnuo aprendizado,

    comungando de conhecimentos que so sempre aplicveis dentro sua realidade.

    Porm, ao afirmarmos que todo conhecimento antes um processo, ao qual o

    indivduo deve se sujeitar para aprender, vemos que habilidade o saber fazer que

    est mais prximo da competncia, j que nesse estudo estamos fazendo relaes

    precisas entre as teorias, os processos e a formao da autoria como a autonomia

    da aprendizagem. Segundo Monereo Font (2000, apud PORTILHO, 2009, p.81):

    As habilidades so as capacidades que podem expressar-se mediante comportamento em qualquer momento, j que so desenvolvidas por meio da prtica, isto , por via procedimental, de maneira que, detrs de todo procedimento humano, existe uma habilidade que possibilita que tal procedimento seja realizado.

    As pessoas se sentem habilitadas para fazer algo quando j dominam, em

    certa medida, o conhecimento para tal. Assim, so muitas as habilidades que as

    pessoas possuem, pois para se movimentar, para ler, escrever, falar, pintar, recortar,

    costurar, construir, etc., so elas necessrias.

    Sendo assim, as habilidades vo sendo construdas no decurso da vida,

    sendo prticas comuns, nas quais no precisam mais do pensamento para que

    sejam realizadas. Assim como, por exemplo, andar, vestir, abotoar, correr e pular,

    cortar e colar, etc. uma vez registrada, a habilidade uma ao voluntria sem

    necessidade da percepo do pensamento.

    Esse natural condicionamento o que torna mais difcil a adaptao de uma

    pessoa que passa a ter algum tipo de deficincia fsica, por exemplo, pois ter que

    reaprender o movimento e reeducar-se.

    Por outro lado, cada pessoa possui um estilo prprio para aprender, sendo

    uma preferncia pessoal, e que mesmo sendo semelhante nunca se manifesta de

    maneira igual em pessoas diferentes, pois o estilo uma singularidade. Segundo,

    Rubinstein, (2003, p.129):

    possvel pensar que o sujeito da aprendizagem guarde um estilo, como os antigos guardavam seus documentos onde estavam

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    registradas as suas leis. No sero os estilos de aprendizagem as leis que regem o aprendiz?

    Concordando com a autora e respondendo a sua questo, os estilos so

    identidades inatas, j que aprender inerentemente humano, sendo que cada

    pessoa o possui como um cdigo que regula como se processar a aprendizagem.

    Por um lado, confortante saber que temos um estilo prprio de

    aprendizagem como um processo natural; por outro, preocupante saber que cada

    pessoa possui o seu estilo, sobretudo, quando nos reportamos sala de aula, frente

    a um grupo de alunos e, apenas um professor para identificar cada estilo em cada

    um de seus alunos. Ento, quantos estilos esto manifestos numa sala de aula? E,

    quais so esses estilos e como podero ser reconhecidos pelo professor ante o

    processo de ensinagem?

    A autora Portilho, em suas pesquisas sobre o assunto, trouxe muitas

    elucidaes que seriam interessantes para esse estudo e, que agora vou expor

    como fundamento. Assim, esta autora retrata as experincias de Kolb (1984) quanto

    s quatro habilidades que tm lugar em um ciclo de quatro estdios, que formaram

    os estilos:

    experimentao concreta: o aprendiz, dispondo das habilidades necessrias deve colocar-se por inteiro na situao proposta, de forma

    aberta, e fazendo experincia nova. Em outras palavras, importante que ele

    queira aprender;

    observao reflexiva: importante que o aprendiz seja hbil para refletir sobre as experincias e para observ-las a partir de diferentes perspectivas.

    Alm de querer aprender, o sujeito deve considerar todas as possibilidades

    que uma nica situao oferece;

    conceituao abstrata: este momento da aprendizagem supe uma habilidade para criar conceitos e integr-los a teorias slidas. Exige que o

    sujeito v alm de seu processo habitual de aprendizagem, seja criativo e

    construa seus prprios conceitos.

    experimentao ativa: o sujeito deve desenvolver a habilidade de utilizar as teorias para tomar decises e solucionar problemas que podem levar a

    novas experincias concretas. Depois de querer, refletir e conceituar, o sujeito

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    que aprende deve ser hbil para resolver situaes problemticas.

    (PORTILHO, 2009, p. 96).

    Por essa perspectiva, podemos perceber que o processo de aprendizagem , sobretudo, uma construo que perpassa a subjetividade do aprendiz querer,

    desejar, interessar-se a aprender e, a objetividade quando este passa a aplicar

    seus conceitos e experincias para solucionar problemas, implicando numa

    interferncia prpria e intencional na realidade.

    Retomando as pesquisas de Portilho, quanto formao dos estilos de

    aprendizagem, Kolb apresenta o seguinte:

    Estilo Convergente: so pessoas que se destacam por sua destreza no uso do raciocnio hipottico-dedutivo para chegar a uma nica soluo sobre

    uma determinada questo. A conceitualizao

    abstrata e a experimentao ativa so dois aspectos

    importantes encontrados nos aprendizes que utilizam

    este estilo, uma vez que definam bem os problemas e

    a tomada de decises. Podemos dizer que

    tecnlogos, economistas, engenheiros, mdicos,

    fsicos, informticos, entre outros, so os que utilizam

    preferencialmente este estilo. Fonte: http://migre.me/3VxD9

    Estilo Divergente: so pessoas que apresentam como ponto forte em sua aprendizagem a habilidade imaginativa e a ateno aos significados e aos

    valores. A habilidade para contemplar as situaes a partir de muitos pontos

    de vista e para estabelecer relaes dentro de um todo significativo, obtendo

    assim, novas ideias, algo marcante na

    aprendizagem dos que tm predomnio neste estilo.

    As pessoas que podemos incluir nesse estilo de

    aprendizagem geralmente so planejadoras,

    orientadoras, terapeutas, assistentes sociais,

    enfermeiras, msicos, atores e artistas em geral. Fonte: http://migre.me/3VxH2

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    Estilo Assimilativo: so pessoas que utilizam preferencialmente o raciocnio indutivo, apresentam habilidade para criar modelos tericos e

    assimilam observaes diferentes, embasando-as em uma explicao

    racional integrada. justamente por estas caractersticas que os que tm

    predomnio por este estilo na hora de aprender

    se preocupam menos com o uso prtico das

    teorias que aqueles que se servem do estilo

    convergente. Em determinadas situaes,

    parece que eles se interessam mais pelas ideias

    do que pelas pessoas. Geralmente, professores,

    escritores, matemticos, financistas, bilogos,

    advogados, bibliotecrios e outros. Fonte: http://migre.me/3VxJh

    Estilo Criativo: diferentemente do estilo assimilador, as pessoas que apresentam preferncia neste estilo de aprendizagem tendem a adaptar-se

    muito bem a situaes novas. Utilizam a experimentao ativa e a experincia

    concreta, aprendendo principalmente fazendo coisas, aceitando os riscos e

    atuando pelo que sentem mais do que pela lgica. So pessoas intuitivas,

    resolvem os problemas por ensaio e erro,

    apoiam-se nos outros para buscar informao.

    As que mais utilizam este estilo so

    geralmente banqueiros, polticos,

    administradores, vendedores, especialistas em

    relaes pblicas e outros (PORTILHO, 2009,

    p. 98-99). Fonte: http://migre.me/3VxNY

    Ento, j sabe agora qual o seu estilo de aprendizagem? Notou como so

    comportamentos que cada um expressa em funo do como aprender e expor as

    habilidades no saber-fazer.

    Mas, importante que se saiba que estes estilos no so aparentes em

    crianas em incio de escolarizao, pois se estruturam de acordo com formato da

    ensinagem qual so expostas. Entende-se assim, que se buscar um estilo em

    funo do como se ensina, porque o professor tambm tem um estilo de aprender

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    e de ensinar que reflete na sua prtica pedaggica e interfere no modo como seus

    alunos reagem frente aprendizagem.

    Portanto, o estilo passa a ficar mais evidente quando o aluno j estabeleceu

    uma forma de aprender em funo de como foi ensinado. Acredita-se, ento, que o

    estilo manifesto no aluno de forma determinante quanto j possui a conscincia de

    seu interesse no aprender, quando j identifica suas dificuldades e limitaes sobre

    determinado contedo e quando se identifica mais com alguns contedos do que

    com outros.

    Mas, alm de Kolb, Peter Honey (1986)14 tambm sugere uma proposta de

    quatro estilos de aprendizagem:

    Estilo Ativo: so as pessoas que se destacam por sua vivacidade, mente aberta e gosto por novas experincias; quase impossvel no percebermos

    sua presena; quando esto em grupo, sempre esto fazendo alguma coisa;

    e, em geral, so bem intempestivas;

    Estilo Reflexivo: so as pessoas que utilizam a observao e a anlise antes de chegarem a alguma concluso; gostam de valorizar todas as

    possibilidades da situao antes de tomar decises; preferem escutar mais,

    para depois agir; e so mais ponderadas que os ativos;

    Estilo Terico: so aqueles que integram as observaes dentro das teorias lgicas e complexas; buscam a racionalidade, a objetividade e a

    lgica, assim como a anlise e a sntese; tendem a ser perfeccionistas;

    Estilo Pragmtico: so os que tendem a colocar em prtica as ideias, mostram-se impacientes at poderem aplicar o que aprenderam; tm como

    objetivo a funcionalidade. (PORTILHO, 2009, p. 100-101).

    E agora... Encontrou-se em algum grupo?

    Contudo, os estilos de aprendizagem tambm podem ser adicionados quanto

    s suas caractersticas, pois uma pessoa pode ter mais ou menos alguns dos

    comportamentos apresentados em cada um dos estilos sendo que, s vezes, numa

    pessoa dois estilos se complementam, como por exemplo: uma pessoa pode ter o

    estilo ativo, porque mais aberta e vivaz, mas no gosta de correr riscos, sendo

    14 Nascido na Inglaterra, tornou-se administrador e em 1986 pressupe a aprendizagem em quatro passos. Mas, como sua experincia est mais voltada ao campo empresarial lana um instrumento denominado Learning Stilles Questionnaire para avaliar os estilos de aprendizagem empresarial.

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    mais observadora e racional, do estilo reflexivo. Ento, podemos dizer que ela

    possui dois estilos que se complementam, tendo um ou outro com mais ou menos

    intensidade.

    Em todo caso, sempre haver um estilo predominante. Mas, Rubinstein

    (2003), traz a seguinte observao:

    Considerar o estilo do sujeito da aprendizagem poder contribuir para questionar as causas da quantidade significativa de crianas com insucesso escolar, as quais, apesar de no serem reprovadas, sofrem pela condio de alunos tidos como medocres ou desinteressados (RUBINSTEIN, 2003, p. 183).

    Todo professor deve ter um olhar clnico sobre seus alunos, para poder

    contemplar como cada um no seu envolvimento com a aprendizagem, fazendo

    assim um diagnstico do desenvolvimento do aluno, como sendo capaz de aprender

    e aprimorar-se em seus conhecimentos.

    Mas, este olhar, no tem o poder de definir padres de comportamento e,

    no pode ser o meio pelo qual o professor se sente capaz de diagnosticar

    dificuldades dos alunos dando-lhes atributos que desconhece desde sua raiz. E,

    nesse caso, se o professor no pode se decidir por uma identificao de um estilo,

    que no pratique a excluso por sua ignorncia.

    Exerccio 2 1. Para Rogers, a aprendizagem significativa quando: a) O professor facilita para o aluno aprender, escolhendo as melhores formas de ensinar. b) O aluno levado a pensar por que aprender e para que serve a aprendizagem. c) O professor regula os processos de aprendizagem e ensinagem em funo das dificuldades do aluno. d) O aluno se torna responsvel por sua aprendizagem, por suas escolhas e recursos. 2. A razo para no entendermos a autoria apenas pelo foco do aluno que: a) Toda relao de conhecimento s existe quando algum ensina. b) Toda relao de conhecimento s existe quando algum aprende e o outro informa o contedo. c) Toda relao de conhecimento s existe quando algum aprende. d) Toda relao de conhecimento s existe quando algum ensina e o outro aprende. 3. A definio clssica de conhecimento, originada em Plato, diz que ele consiste:

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    a) Em conhecimentos verdadeiros e justificados. b) Em crenas verdadeiras e justificadas. c) Em crenas e valores verdadeiros e justificados. d) Em valores justificveis e crenas verdadeiras.

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    UNIDADE 3 CONCEITO DE APRENDER E DE SUJEITO AUTOR

    3.1 Aprendentes so muitos, autores nem sempre

    J vimos que aprender um processo em constante construo, e inerente

    ao sujeito, pois se aprende como parte da natureza humana, considerando desde

    suas necessidades bsicas de alimentao, de movimento, de proteo e de

    sentimentos, at as necessidades sociais, de comunicao, de linguagem e de

    estruturao do meio em que est inserido.

    Aprende-se com o meio, com as

    pessoas, com a maturao biolgica, com as

    situaes provveis e improvveis; aprende-

    se pela vontade, pelo desejo e pela curiosidade

    sendo esta a primeira, mais simples e ingnua

    das manifestaes de aprendizagem alis,

    voc conhece alguma criana que no seja

    curiosa? Voc foi, ou ainda curioso? Fonte: http://migre.me/3VyTZ

    Pois , a curiosidade o primeiro passo para a aprendizagem, quanto mais

    curioso, mais aprendiz. Porm, os aprendentes so todos os que perpassam o

    processo de aprendizagem, mas autores so poucos, porque autoria sugere

    autonomia.

    Segundo Fernndez (2001, p.105), a autoria de pensamento supe

    diferenciao, agressividade saudvel, re-volta ntima a partir da qual h a

    possibilidade de reencontro com o outro. Acesso a ns mesmos.

    Em outras palavras: nos tornamos autores quando permitimos concretizar o

    nosso desejo de conhecer, sem que queiramos aprender de maneira fcil, mas sim

    de maneira provocativa, misteriosa e excitante. Nesse sentido, somos atrados para

    a aprendizagem porque tudo que nos salta aos olhos tem um significado imposto e

    um significante que o explica. Isso no ser difcil de entender, por exemplo, se

    antes de querer ensinar a uma criana como se escreve a palavra gato, remeter a

    imagem de um felino, descrever como esse animal e qual som emite.

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    Assim, a criana ter um significado (descrio) e a

    imagem (um significante), que auxiliaro para que ela, j

    reconhecendo cada uma das letras, tenha condio de

    escrever a palavra gato. Portanto, aprender , tambm,

    sempre uma necessidade intencional, pois a inteno do

    aprender atingir seu significado e, a partir do conhecimento

    estabelecido, formar novas aprendizagens, recomeando o

    crculo inicial da aprendizagem. Fonte: http://migre.me/3VyZ8

    Mas, para que alm de aprendente, o sujeito seja autor, faz-se importante

    permitir que ele tenha conscincia de seu aprender, bem como, lev-lo a interpretar

    seu processo de conhecimento articulando-o a todos os que j possua e, faz-lo

    reconhecer que seus conhecimentos so aplicveis em uma realidade conhecida.

    Quando digo que algum deve permitir, me refiro famlia, aos pais, escola e aos

    professores todos os adultos tm uma grande parcela de responsabilidade nessa

    permisso.

    Dolto (apud Fernndez, 2001, p.115), afirma que ...se os adultos fazem pela

    criana o que ela quis fazer e no pode, grave, porque, ao proporcionar o

    resultado imediato da experincia, esto suprimindo o desejo... Isso no quer dizer

    que se deva permitir que a criana faa tudo o que queira, com a desculpa de que

    ela est aprendendo.

    Esta premissa me fez lembrar uma situao que presenciei numa instituio

    escolar na qual fui orientador educacional, alguns anos atrs. Estava quase

    terminando o recreio das crianas quando a supervisora adentrou na minha sala,

    trazendo pelas mos um jovenzinho de uns seis anos. A supervisora esclareceu-me

    que a criana em questo estava batendo em outra criana, e pediu minha

    orientao quanto ao caso. Sugeri que a profissional voltasse a suas tarefas,

    deixando a criana comigo; assim, expliquei para o jovenzinho que aquilo no era

    certo e... No final do expediente escolar, encontrei com a me do mesmo aluno no

    porto de sada quando veio busc-lo. Na oportunidade, a convidei para irmos

    minha sala e lhe relatei o ocorrido, inclusive falei de minha conversa com o mesmo.

    A me, radiante de alegria, no teve papas na lngua ao me falar Que bom saber

    que ele est ficando independente!

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    Permitir que a criana faa o que quiser, no faz-la autnoma, mas torn-

    la incoerente frente sua aprendizagem, pois de nada adianta os dentes se no

    sabe mastigar, saber apenas morder assim, morrer de fome. Claro que falo em

    tom de analogia, mas sem algum que ensine, no haver aprendizado.

    E, todos tm condies de aprender, independente de quaisquer condies e,

    ansiosamente, aprendemos porque nos descobrimos como parte de um todo e que

    esse todo faz parte de ns. Isso significa que prezamos pela nossa autonomia,

    portanto, a autoria do pensar que leva a aprender, que leva ao conhecer e que,

    finalmente, provoca o sujeito a ensinar... faz nascer, assim, o Autor!

    3.2 Modalidade de Aprendizagem e Ensinagem

    Uma das melhores maneiras de o professor intervir nas dificuldades que seus

    alunos possam apresentar na aprendizagem, estar atento modalidade de

    aprendizagem de cada aluno. No se trata de uma tcnica, nem de um recurso, mas

    de uma forma de manifestao do aluno ante o seu exerccio de aprender.

    Essa manifestao revelada no modus operacional do aluno, ou seja, ele

    age dessa ou daquela forma frente ao que espera aprender. Fernndez (2001, p.79)

    chama isso de molde relacional, explicando-o:

    Quando digo que a modalidade de aprendizagem supe um molde relacional que cada sujeito utiliza para aprender, estou referindo-me a uma organizao do conjunto de aspectos (conscientes, inconscientes e pr-conscientes) da ordem da significao, da lgica, da simblica, da corporeidade e da esttica.

    Situando a premissa da autora, pode-se perceber que o conceito de

    modalidade aplica-se a um conjunto de comportamentos, espontneos e no

    espontneos, manifestado pelo aluno no processo de seu aprender. Para ilustrar,

    esse conceito tome como exemplo uma sala de aula; quando a professora comea a

    apresentar o contedo no quadro, os alunos copiam; antes de terminar essa

    passagem de contedo, j tem alunos perguntando se aquilo difcil, se ela

    (professora) vai explicar, se vai precisar copiar tudo, etc. Percebe? H muita

    ansiedade no ar, uma inquietude, uma movimentao dos alunos. Essas

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    manifestaes contemplam o medo do desconhecido, o anseio pelo real e o prazer

    pelo conhecimento.

    A reflexo que emerge disto : como aprendo, para que aprendo e o que farei

    com isso. Isto a modalidade de aprendizagem supe uma tentativa de organizar

    em etapas (conscientes, inconscientes e pr-conscientes) e, por ferramentas

    simblicas e cognitivas, o ato de aprender - este fato que faz emergir o sujeito-

    aprendente.

    Para aprofundarmos ainda mais esse conceito de modalidade, sugiro que se

    retomem algumas das premissas de Piaget quanto aos processos de assimilao e

    acomodao, como forma de integrar as relaes do organismo com o meio e, o

    desenvolvimento do pensamento humano, considerando a dinmica da modalidade.

    Podemos interpretar a dinmica da modalidade de aprendizagem pelo

    seguinte esquema:

    Figura 2 Dinmica da modalidade de aprendizagem Fonte: Elaborao prpria

    Vamos entender este esquema, certo!?

    Contedo: objetos de aprendizagem

    identifica

    interroga exercita

    reconhece

    associa Sujeito-aprendente

    Etapa consciente Etapa inconsciente Etapa pr-consciente

    ALUNO

    Medos, ansiedade, interesses no identificados

    Re(cria)

    Sujeito-autor

    (Re)produz novas aprendizagens

    dialoga

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    Ao se deparar com o contedo, o aluno, numa etapa consciente identifica

    este contedo como o ensinado pelo professor, o qual passa a ser interrogado

    quanto ao processo e, intimamente dialoga com o contedo como uma forma de

    promover a percepo de suas aplicaes. Ao mesmo tempo, numa etapa

    inconsciente, o aluno est vivenciando seus medos, suas ansiedades e no

    identifica seus interesses de imediato, pois o senso comum ainda no foi articulado

    ao processo sistematizado (cognitivo).

    Assim totalmente normal que o aluno no faa apreciaes anlises e

    interpretaes imediatas. Contudo, ao se apoderar da operacionalizao do

    contedo sua lgica, a sntese tenta, por exercitao (mecnica ou de

    memorizao), alcanar seus conhecimentos prvios para associar aos contedos,

    sendo esta etapa considerada de pr-consciente.

    Esse processo na sua totalidade est permeado pelo sujeito-aprendente, que

    em certa medida re(cria) seus conhecimentos e, como sujeito-autor, sente-se

    autnomo para apreciar o contedo e integr-lo ao seu contexto.

    Todas estas vias, apresentadas e explicadas atravs do esquema acima,

    indicam a modalidade de aprendizagem, sendo que pode haver alunos que no

    alcancem esse processo, considerando as dificuldades de aprendizagem que podem

    apresentar. Nesse caso, Pan (1992) aponta 4 diferentes modalidades de

    aprendizagem que so indcios de problemas implicados no processo de

    aprendizagem.

    Assim, farei uso das palavras de Pan (1992, p. 47), para explicar essas

    diferentes modalidades, sendo assim conceituadas:

    Hipoassimilao: os esquemas de objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de coorden-los. Isto resulta

    num dficit ldico, e na disfuno do papel antecipatrio da imaginao

    criadora.

    Nessa modalidade, por exemplo, a criana no coordena a pintura a

    dedo num grande espao de papel; sua dificuldade est em organizar o

    processo, ou seja, colocar os dedos na tinta e aplic-la no papel no

    reconhece o espao, as margens, os limites.

    Hiperassimilao: pode dar-se uma internalizao prematura dos esquemas, com o predomnio ldico, que ao invs de permitir a

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    antecipao de transformaes possveis, desrealiza negativamente o

    pensamento da criana.

    Nesse caso, por exemplo, a criana deduz antes de formar uma lgica,

    agindo sobre um objeto ao seu modo no independente, no criativo

    mas, ansioso e inquieto; observa o que os outros sua volta fazem,

    mas no interpreta o seu agir.

    Hipoacomodao: que aparece quando o ritmo da criana no foi respeitado, nem a sua necessidade de repetir muitas vezes a mesma

    experincia. Sabemos que a modalidade da atividade do beb a

    circularidade, mas esta no pode ser exercitada no caso de perder-se

    o objeto sobre o qual se aplica; isto por sua vez atrasa a imitao

    adiada e, portanto, a internalizao das imagens. Assim, podem

    aparecer problemas na aquisio da linguagem, quando os estmulos

    so confusos e fugazes.

    Essa modalidade indicadora de crianas que possuem muitos

    potenciais, mas so inseguras para agir, porque algum a substituiu

    nas aes espontneas por algum momento; ento, por exemplo, a

    criana tem sede, mas no precisa pedir gua, porque com um simples

    apontar de dedo, o adulto j interpretou como pedido, dando-lhe a

    gua. Na escola, no tem iniciativa, se lhe der a mo no que preciso,

    pode atender a um comando, do contrrio, fica passiva esperando que

    algum faa por ela.

    Hiperacomodao: acontece quando houve superestimulao da imitao. A criana pode cumprir as instrues atuais, mas no dispe

    de suas expectativas nem de sua experincia prvia com facilidade.

    Esta criana descrita como no um mau aluno, mas no tem

    iniciativa, no criativo; falha em redao.

    Nessa modalidade, a criana alm de ter tudo mo, no levada a

    pensar sobre nada, o adulto pensa e age por ela, no lhe dando

    permisso para optar, escolher, definir, concluir, enfim... pensar. Desse

    modo, a criana robotizada e passa a ser um clone do adulto, pois

    veste, cala, se alimenta, fala, etc., conforme o adulto.

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    Frente a estas anlises sobre tais modalidades, devemos refletir que tipo de

    filhos queremos, considerando que alunos sero e, como adultos, como se

    realizaro? Pois, as modalidades de aprendizagem que apontam as dificuldades de

    aprendizagem tm sempre no bojo questes que no envolvem s a escola, mas

    todo um contexto, que deve ser visto como a realidade sistmica da criana.

    3.2.1 Sujeito ensinante e aprendente Haja vista as nossas leituras e estudos at o presente momento, creio que

    no ser difcil entender a identidade do sujeito ensinante e aprendente, sendo que

    importante ressaltar que no so apenas representativos no que diz respeito aos

    papis pedaggicos, sendo que o ensinante o professor e, o aprendente o aluno.

    Na verdade, as duas condies so proposies aos dois sujeitos professor

    e aluno. Pois, inconcebvel ao professor assumir-se apenas como detentor dos

    conhecimentos didticos, pedaggicos e tecnolgicos e aplic-los, como mero

    reprodutor dos tericos e, simples e solitrio ator do contexto escolar. Essa realidade

    to simplria e pequena, que d a impresso de que o professor no algum

    pensante, criativo e, sobretudo, compromissado com a prxis pedaggica, mas um

    ficante da educao. Essa condio se explica se tomarmos, como exemplo, a

    rotina que o professor assume, tendo dois ou mais perodos de aulas, muitas vezes,

    at em escolas diferentes a luta pela s