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Substâncias húmicas e disponibilidade de nutrientes para as plantas
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Matéria Orgânica do Solo
1. INTRODUÇÃO
As substâncias húmicas (SH), as quais são naturalmente encontradas no solo,
têm um papel fundamental na produção das culturas. Estas representam uma fonte de
lenta liberação de nutrientes para a nutrição das plantas (principalmente N, P e S),
contribuem com a maior parte da CTC dos solos, possuem a habilidade de formar
complexos com vários íons metálicos e, devido ao seu caráter anfótero, agem como
tamponantes da reação do solo em uma ampla faixa de pH. Essas características as
tornam um dos principais fatores que governam a dinâmica e disponibilidade dos
nutrientes no solo.
Contudo, as SH têm um comportamento complexo no solo e de difícil
compreensão, haja vista que, além de todos os fatores citados, que ocorrem
concomitantemente, as SH influenciam a quantidade e atividade dos microrganismos
dos solos, os quais são mediadores das reações de decomposição e síntese das SH,
mineralização de nutrientes e ainda responsáveis pela imobilização de grande parte dos
nutrientes aplicados ao solo via fertilizantes. Aliado a isso, o desconhecimento da
composição molecular de cada fração das SH e a grande variação das destas em função
de sua origem (compostos, solos, liteira, etc), contribuem ainda mais para dificultar o
entendimento da contribuição de suas frações nas reações e mecanismos que envolvem
a disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Além de influenciarem indiretamente o crescimento das plantas, aumentando ou
reduzindo a disponibilidade de nutrientes e a agregação e retenção de água do solo, as
SH podem agir diretamente nas plantas, facilitando a absorção de nutrientes,
aumentando a produção de ATP e clorofila e aumentando ou inibindo a atividade de
várias enzimas. Esses efeitos têm despertado o interesse de diversos pesquisadores, os
quais intentam melhor entendê-los, porém, devido às dificuldades já mencionadas,oriundas das características das SH, resultados contrastantes em sido encontrados.
Apesar disso o emprego agrícola de produtos à base de SH como fertilizantes
orgânicos, condicionadores de solo e estimuladores fisiológicos tem crescido bastante
nas últimas décadas em todo o mundo e mais recentemente no Brasil. A aplicação foliar
destes produtos, tem se tornado uma prática bastante difundida entre produtores de
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hortaliças e fruteiras e, mais recentemente vem sendo realizada em cultivos de cereais e
também algodão.
Assim, objetiva-se com esse texto, apresentar como as SH interagem com o solo,
influenciando a disponibilidade de nutrientes para as plantas e como estas podem alterar
o crescimento e/ou desenvolvimento das plantas por meio de sua ação direta, além de
compilar e trazer para discussão alguns resultados de pesquisas nesse sentido.
2. AS SUBSTÂNCIAS HÚMICAS (SH)
Segundo (Stevenson, 1994), a matéria orgânica do solo consiste de uma mistura
de compostos em vários estágios de decomposição, que resultam da degradação
biológica de resíduos de plantas e animais, e da atividade sintética de microrganismos.
Pode ser agrupada em substâncias húmicas e não húmicas. As substâncias não húmicas
são compostas por substâncias com características químicas definidas, tais como,
polissacarídeos, aminoácidos, açúcares, proteínas e ácidos orgânicos de baixa massa
molar. As substâncias húmicas não apresentam características químicas e físicas bem
definidas, e se dividem em ácido húmico, ácido fúlvico e humina, com base nas suas
características de solubilidade.
As substâncias húmicas compreendem uma mistura de espécies com variações
em suas propriedades moleculares. Por esta razão, tem sido feito o fracionamento das
SH de acordo com suas propriedades para obter frações distintas com características
similares. Geralmente as SH são fracionadas em função de sua solubilidade em 3
principais frações, como mostra a Figura 1. Os ácidos húmicos (AH) definidos
operacionalmente como a fração das SH solúvel em meio alcalino diluído a qual
precipita pela acidificação do extrato alcalino. Os ácidos fúlvicos (AF) permanecem em
solução quando o extrato alcalino é acidificado e a humina é a fração não extraída por
ácido ou álcali diluído (Stevenson, 1994; Rosa, et al. 2000a).
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Figura 1. Esquema de fracionamento do material orgânico e das substâncias húmicaspresentes no solo (Rosa, 1998a).
Embora existam vários estudos, a bioquímica da formação das SH constitui
ainda hoje um dos aspectos pouco compreendidos da química do húmus (Rocha &
Rosa, 2003).
Pelo menos quatro principais vias possíveis para a formação das SH durante a
decomposição de resíduos no solo são consideradas (Figura 2). O principal processo é a
oxidação de substratos hidrolisados monoméricos, formando polímeros
macromoleculares de coloração mais ou menos escura e elevada massa molar. As quatro
vias podem ocorrem simultaneamente no solo, porém não com a mesma extensão e
importância (Rocha & Rosa, 2003).
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Figura 2. Principais vias propostas para a formação das substâncias húmicas (Rocha &Rosa, 2003 – adaptação de Stevenson, 1994).
O mecanismo 1 propõe a formação do húmus a partir da polimerização não
enzimática por condensação entre aminoácidos e açúcares formados como subprodutos
da atividade microbiana. Os mecanismos 2 e 3 envolvem a participação de quinonas e,representando a teoria clássica, no mecanismo 4 as SH seriam derivadas de ligninas
modificadas (Rocha & Rosa, 2003).
A via da degradação da lignina pode processar predominantemente em solos mal
drenados e em áreas hidromórficas, enquanto a síntese a partir de polifenóis, pode ser
importante em certos solos sob florestas. Em razão da rápida assimilação biológica dos
açúcares, a teoria de condensação de aminoaçúcares é válida principalmente para meios
de baixa atividade biológica (Cardoso, et al. 1992).
Malcolm (1990) afirma que a lignina não é o principal precursor de substâncias
húmicas do solo. Além disso, mostra que há grandes diferenças estruturais entre
substâncias húmicas de diferentes origens, como de solo, rios e mar.
Os mecanismos baseados na condensação polimérica de polifenóis e quinonas
têm sido os mais aceitos por pesquisadores e pela Sociedade Internacional de
Substâncias Húmicas (Stevenson, 1994).
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Na literatura existem várias propostas estruturais para as SH. Entretanto, de
acordo com Stevenson (1985) nenhuma parece ser inteiramente satisfatória.
Provavelmente, isto ocorre não apenas por causa da complexidade e heterogeneidade
estrutural das SH, mas principalmente devido à falta de uma identidade estrutural
genérica a qual é fortemente influenciada pelo grau e mecanismo de decomposição. A
Figura 3 mostra o mais recente modelo estrutural para o ácido húmico, o qual foi
proposto por Schulten (1995) a partir de estudos espectroscópicos, pirólise, degradação
oxidativa e microscopia eletrônica.
Figura 3. Estrutura proposta para o ácido húmico (Schulten, 1995).
Essas afirmações e citações são baseadas na proposta que substâncias húmicasseriam macromoléculas orgânicas, com características similares às macromoléculas
biológicas como, proteínas, polissacarídeos, ácidos nucléicos e lignina (Swift, 1989).
Recentes estudos (Piccolo, et al. 2000), baseados em cromatografia e utilizando
eletroforese capilar têm sugerido um novo conceito a respeito das características
estruturais das SH. Neste caso, as SH não possuiriam estrutura extremamente complexa
e seriam formadas pela agregação de pequenas moléculas. O paradigma da estrutura das
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SH tem permanecido, enquanto novos procedimentos analíticos e desenvolvimentos
especialmente na área de espectroscopia têm sido desenvolvidos visando a obtenção de
resultados mais contundentes os quais suportem as hipóteses propostas (Piccolo, 2000;
Stevenson, 1994).
Atualmente dois modelos tentam explicar as características observadas para as
substâncias húmicas, sendo eles:
Macromolecular: neste modelo as variações conformacionais das substâncias
húmicas são similares àquelas observadas nas macromoléculas biológicas como,
proteínas, polissacarídeos, ácidos nucléicos e ligninas (Figura 4a) (Swift, 1989).
Schulten & Schnitzer (1997) propõem a existência de “vazios” hidrofóbicos dentro das
moléculas (Figura 4b).
(a) (b)
Figura 4. Modelos conceituais propostos pela teoria macromolecular: (a) moléculas dassubstâncias húmicas aleatoriamente enoveladas (Swift, 1989) e (b) ácido húmicoproposto por Schulten & Schnitzer (1997), carbono=azul; oxigênio=vermelho;nitrogênio=preto e hidrogênio=branco. As letras A, B e C indicam os espaços “vazios”presentes na molécula das substâncias húmicas capazes de interagir com outros
compostos.
Supramolecular: neste modelo é proposto que as substâncias húmicas em
solução formem grandes agregados húmicos que são estabilizados por ligações fracas,
tais como, ligações de hidrogênio e/ou interações hidrofóbicas. Além disso, é proposto
que as substâncias húmicas são provenientes de produtos de degradação enzimática de
plantas e complexos de ligninas. Esse modelo foi embasado por (Conte & Piccolo,
1999) para ilustrar como as principais estruturas identificadas nas substâncias húmicas
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poderiam formar um agregado na presença de cátions metálicos de ocorrência natural
nos ecossistemas terrestres (Figura 5).
Figura 5. Esquema de estrutura das substâncias húmicas proposto por Simpsonet al. (2002). As unidades vermelhas representam os cátions metálicos, as unidadespretas os polissacarídeos, as unidades azuis os polipeptídios, as unidades verdes ascadeias alifáticas e as unidades marrons os fragmentos aromáticos provenientes dalignina.
Mesmo com as contradições existentes quanto ao modelo estrutural, algumascaracterísticas das SH já estão bem definidas:
1) as frações de ácido húmico e ácido fúlvico, são misturas heterogêneas de
moléculas polidifusas, com intervalos de massa molar variando de algumas centenas até
milhares (Stevenson, 1994);
2) há variação da razão entre ácido húmico e ácido fúlvico em função do tipo de
solo. Essa razão está associada ao grau de humificação do mesmo (Rocha, et al. 1998).
3) as substâncias húmicas extraídas de solos têm composição elementar médiade acordo com a Tabela 1.
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Tabela 1. Composição elementar média de ácidos húmico e fúlvico extraídos de solos(Calderoni, et al. 1984).
SHComposição elementar média (%)
C H O N SÁc. Húmicos 53,8-58,7 3,2-6,2 32,8-38,3 0,8-4,3 0,1-1,5Ác. Fúlvicos 40,7-50,6 3,8-7,0 39,7-49,8 0,9-3,3 0,1-3,6
4) os ácidos húmico e fúlvico apresentam alto teor de grupos funcionais
contendo oxigênio (Tabela 1.2) tais como, carboxilas, hidroxilas fenólicas e carbonilas
de vários tipos (Stevenson, 1985).
A Tabela 2 mostra a variação do conteúdo de grupos oxigenados presentes nos
ácidos húmico e fúlvico extraídos de diferentes tipos de solo. As variações observadaspodem ser explicadas pelas diferentes condições ambientais as quais influenciam no
processo de decomposição da matéria orgânica e formação do material húmico.
Tabela 2. Conteúdo de grupos oxigenados (meq/100 g) de ácidos húmicos e fúlvicosextraídos de diferentes tipos de solos de diferentes regiões (adaptada de Stevenson,1985).
Grupo funcional
Clima/Solo
Temperada/ Ácido Temperada/ Neutro Subtropical/ Ácido Tropical/ Ácido
Ácidos húmicos
Acidez total 570-890 620-660 630-770 620-750
COOH 150-570 390-450 420-520 380-450
OH ácido 320-570 210-250 210-250 220-300
OH alcoólico 270-350 240-320 290 20-160
Quinona C=O /
Cetona C=O 10-180 450-560 80-150 30-140
OCH3 40 30 30-50 60-80
Ácidos fúlvicos
Acidez total 890-1420 ----- 640-1230 820-1030
COOH 610-850 ----- 520-960 720-1120
OH ácido 280-570 ----- 120-270 30-570
OH alcoólico 340-460 ----- 690-950 260-950
Quinona C=O / -----
Cetona C=O 170-310 ----- 120-260 120-420
OCH3 30-40 ----- 80-90 30-120
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As SH são responsáveis por diversos efeitos no solo. Em solos tropicais e
subtropicais altamente intemperizados, têm grande importância no fornecimento de
nutrientes às culturas, na retenção de cátions, na complexação de elementos tóxicos e de
micronutrientes, na estabilidade da estrutura, na infiltração e retenção de água, na
aeração e na atividade e diversidade microbiana, constituindo assim, um componente
fundamental da sua capacidade produtiva (Stevenson, 1994), como resumido na Tabela
3. Dentre esses efeitos, aqueles relacionados e mais importantes para a disponibilidade
de nutrientes para as plantas serão abordados no próximo capítulo.
Tabela 3. Propriedades gerais das substâncias húmicas e efeitos causados ao solo
(Stevenson, 1994).Propriedades Observações Efeito no solo
CorA coloração escura demuitos solos é causada pelasSH
Retenção de calor,auxiliando na germinaçãode sementes
Retenção de águaPodem reter água até 20vezes a sua massa
Evitam erosão e mantêm aumidade do solo
Combinação com argilas mineraisCimentam partículas do soloformando agregados
Permitem a troca de gases eaumentam a permeabilidadedo solo
QuelaçãoFormam complexos estáveiscom Cu+2, Mn+2, Zn+2 eoutros cátions polivalentes
Melhoram a disponibilidadede nutrientes para as plantassuperiores
Insolubilidade em águaDevido sua associação comargilas e sais de cátions di etri valentes
Pouca matéria orgânica elixiviada
Ação tampãoTem função tamponante emamplos intervalos de pH
Ajudam a manter ascondições reacionais dosolo
Troca de cátionsA acidez total das fraçõesisoladas do húmus varia de300 a 1400 cmol kg-1
Aumentam a CTC do solo.De 20 a 70% de solos édevida a MO.
MineralizaçãoA decomposição da MOfornece CO2, NH4
+, NO3-,
PO4-3 e SO4
-2
Fornecimento de nutrientespara o crescimento dasplantas
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3. INFLUÊNCIA DAS SH NA DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES
As SH, além de representarem uma grande reserva de alguns nutrientes,
influenciam, ainda, algumas propriedades químicas, físicas e biológicas do solo que são
determinantes da disponibilidade de nutrientes para as plantas. O seu poder tamponante,
a sua influência na CTC dos solos e na complexação de metais serão aqui abordados,
assim como a sua atuação na estabilização, imobilização e mineralização de alguns
nutrientes, principalmente, de N, P e S.
3.1. REAÇÃO DO SOLO (Poder tampão)
A acidez do solo é resultante do equilíbrio entres os fatores intensidade,
quantidade e capacidade ou poder tampão desta acidez. A redução da acidez do solo
promove a insolubilização de Al e Mn tóxicos, aumenta a disponibilidade de P e Mo e
diminui a disponibilidade de micronutrientes, como Zn, Mn, Cu e Fe (Sousa et al.,
2007). Assim, o poder tampão dos solos pode ser fator importante para determinar a
disponibilidade de nutrientes para as plantas.
A matéria orgânica do solo (MOS) influencia a capacidade tamponante do solo,
tendo, inclusive, maior influência nesse atributo comparado a fração argila de solos
onde esta é composta, principalmente, por caulinita e gibbsita, sendo os grupos
carboxílicos dos ácidos fúlvicos e húmicos de particular importância (Mendonça &
Rowell, 1996; Mendonça et al., 2006).
No ambiente, a MOS funciona como ácido fraco, agindo como par conjugado
ácido/base. A diversidade química dos componentes da MOS esta relacionada com sua
diversidade de grupamentos funcionais, fazendo com que a MOS tenha ação
tamponante numa ampla faixa de pH do solo (Silva & Mendonça et al., 2007).
A adição de MO proporcionará um aumento ou redução do pH do solo,
dependendo da predominância dos processos que consomem ou liberam H+. O aumentodo pH pode ser decorrência de alguns processos como, redução da atividade de H+
resultante, principalmente, da liberação de cátions metálicos; mineralização de formas
orgânicas de N; desnitrificação; e descarboxilação dos ácidos orgânicos (Yan et al.,
1996; Pocknee & Sumner, 1997). Em solos alcalinos espera-se que o efeito seja o
contrário, ou seja, ocorra redução do pH em decorrência do influência da MOS sobre o
aumento da concentração do CO2 durante o processo de decomposição/mineralização,
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contribuindo para aumentar a concentração de ácido carbônico (CO2 + H2O ↔ HCO3- +
H+) e a subseqüente dissociação do ácido carbônico (H2CO3 ↔ HCO3- + H+) (Silva &
Mendonça et al., 2007).
A adição de matéria orgânica no solo resulta, ainda, no crescimento da atividade
microbiológica do solo. Tal atividade propicia a formação de um número maior de
agentes complexantes, que alteram a condição de redução dos solos (Shuman, 1988).
Para avaliar a o efeito dos AH no poder tampão do solo Hanafi & Salwa (1998)
aplicaram doses crescentes de AH em três solos tropicais com diferentes valores de pH
(4,8; 3,9 e 6,3). Após um período de incubação de 30 dias, todos os solos apresentavam
o mesmo valor de pH (5,8) na dose mais alta de AH (350 mg kg -1 de C). Segundo os
autores, o valor comum de pH aos três solos foi devido ao pKa do AH utilizado.
Mendonça et al. (2006), a contribuição dos AH e AF no poder tampão de solos
de Cerrado por meio de curvas de titulação com NaOH e incubação com Ca(OH)2.
Verificaram que quando o poder tampão é mensurado com Ca(OH) 2, os AH e AF
contribuem igualmente para esse parâmetro em solo argiloso, porém, em solo franco
arenoso, os AF mostram mais importantes. Segundo os autores, isto pode ser entendido
considerando que em solos com menor quantidade de argila ocorre uma menor interação
entre os AF e sesquióxidos, possibilitando a dissociação dos AF e a ligação com Ca2+.
Entretanto, quando mensurado com NaOH, os AH contribuíram mais para o poder
tampão do que os AF em ambos os solos. Tal fato pode ser explicado devido à alta
reatividade dos AH com a fração mineral, o que bloquearia os sítios ativos destes pelos
minerais de argila, composto por grande quantia de oxihidróxidos (Mendonça &
Rowell, 1996). De acordo com Hardgrove & Thomas (1982) o Al pode formar com a
MO um complexo bastante estável no qual o Al não é facilmente substituível.
Considerando que uma grande parte da MO é composta de substâncias húmicas
(Stevenson, 1994), parte dos sítios ativos dos AF podem também ser complexados comAl.
No mesmo trabalho supracitado, o poder tampão foi maior quando medido com
Ca(OH)2, o que provavelmente decorreu da reação com Ca++ com os grupamentos
carboxílicos dos AF. Os autores observaram ainda que uma grande parte do Ca aplicado
foi convertido para formas não-trocáveis, provavelmente por substituição de compostos
de Al por MO e neutralização dos sítios de H+ não-trocável. Parte do forte efeito da MO
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no poder tampão é devido a complexação com Al. Pode ser que o Ca substitua parte do
Al fortemente complexado com a MO e mova o Al para sítios mais reativos.
Conseqüentemente, a MO pode ser mais acessível a microrganismos e mais facilmente
mineralizada (Stevenson, 1994).
3.2. CTC DO SOLO
Há muito tempo se reconhece a importância da MOS para a CTC dos solos,
contribuindo com 20-90% da CTC das camadas superficiais de solos minerais e,
praticamente, toda a CTC de solos orgânicos (Silva & Mendonça, 2008).
Segundo Stevenson (1994), a habilidade de um solo para reter cátions é uma
propriedade de suas partículas minerais (argilas) e de seu comportamento húmico, assim
ambos contribuem na capacidade de troca de cátions. A presença de cargas elétricas nas
frações argilosas é resultado das substituições isomórficas, da ionização dos grupos OH
e de cargas dependentes do pH associadas a óxidos de alumínio. Na estrutura
macromolecular das substâncias húmicas as cargas provêm da ionização dos grupos
carboxílicos e fenólicos, o que confere características polieletrolíticas que permitem
formar ligações de hidrogênio com as águas de hidratação de cátions metálicos bem
como, interações eletrostáticas mais fracas como, forças de van der Waals. A presença
de grupos carboxílicos e fenólicos, permite também a formação de ligações químicas
simples e ligações polidentadas produzindo quelatos.
De acordo com Mendonça et al. (2006), considerando que os grupamentos
reativos da MOS estão, em grande parte, nas substâncias húmicas e que, praticamente,
80% da fração humina está complexada com a fração mineral, a habilidade do solo em
desenvolver carga negativa correlaciona-se fortemente com os AH e AF, r = 0,98 ** e
0,99**, respectivamente.
Yagi et al. (2003), após calagem e adubação orgânica, observaram que, mesmosendo a forma que apresenta a maior concentração de radicais responsáveis pela
capacidade de troca do solo (Stenvenson, 1994), não foi possível estabelecer uma
relação entre o C-AF e a CTC do solo, devido a variabilidade nessa fração da MOS.
Quanto ao C-AH houve uma relação negativa com a CTC do solo, sendo atribuída ao
fato da calagem e a adubação orgânica terem reduzido a concentração de C-AH. Por
outro lado, a CTC do solo foi linearmente incrementada com o aumento da
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concentração de C-H (Figura 5). Resultados semelhante foram observados por Mello et
al. (1994).
C-total (g dm-3)
10 12 14 16 18 20
CTC(mmol cdm-3)
40
45
50
55
60
65
70
y = 2,603x + 15,651
R2
= 0,69**
C-AH (g dm-3
)
2 3 4
40
45
50
55
60
65
70
y = -7,56x + 74,8
R2
= 0,32**
C-AF (g dm-3)
0 1 2 3 4
CTC(
mmol cdm-3)
40
45
50
55
60
65
70
C-H (g dm-3)
6 8 10 12 14
40
45
50
55
60
65
70
y = 2,59x + 27,42
R2
= 0,79**
Figura 5. Correlação entre a CTC do solo (pH 7,0) e teor de C total (C-total) e entre asfrações C em ácidos húmicos (C-AH), ácidos fúlvicos (C-AF) e humina (C-H). Fonte:Yagi et al. (2003)
Mendonça et al. (2006) ajustaram equação entre a habilidade do solo em
desenvolver carga negativa por unidade de pH (ŷ) e a percentagem da fração AF (x1) e
AH (x2) para amostras de Latossolos, qual seja:
ŷ = - 0,01 + 2,60 x1 +1,21 x2 R2 = 0,94**
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Melo et al. (1994) também obtiveram uma equação para estimar a contribuição
de cada fração da MOS na CTC do solo para um Latossolo cultivado com cana-de-
açúcar:
ŷ = 0,45 + 0,68 x1 + 7,90 x2 + 4,97 x3
onde: ŷ = CTC; x1 = AH; x2 = AF e x3 = humina
Os coeficientes das equações mostram que os AF é a fração que mais contribui
com o desenvolvimento de carga negativa, sendo equivalente a 2,15 e 11,6 vezes a
contribuição dos AH no trabalho de Mendonça et al. (2006) e Melo et al. (1994),
respectivamente. Neste último ainda é possível notar que a contribuição da humina é 1,6
vezes menor que a dos AF, porém é 4,3 vezes maior que a dos AH.
Esses dados indicam que grande parte das cargas negativas desenvolvidas nos
Latossolos é decorrente da dissociação dos grupamentos reativos (principalmente
carboxílicos) dos AF.
De acordo com Melo & Marques (2000), existe correlação significativa entre a
CTC do solo e frações de matéria orgânica por um período que varia de 230 a 300 dias.
3.3. COMPLEXAÇÃO DE METAIS
Uma das mais importantes propriedades das substâncias húmicas é a sua
capacidade de interagir com íons metálicos do solo, tanto nutrientes quanto tóxicos, para
formar complexos organometálicos e quelatos de diferentes estabilidades e
características estruturais, podendo até mesmo controlar sua disponibilidade para as
plantas. Estima-se, de modo geral, que em solos minerais, pode-se esperar que mais de50% do total dos elementos traços esteja associado à matéria orgânica (Kabata-Pendias
& Pendias, 1985).
Os principais sítios de complexação são os grupamentos carboxílicos e
fenólicos. As interações possíveis entre o complexante e os metais podem ter a forma de
uma reação de adsorção catiônica via atração eletrostática (esfera externa, mantendo a
camada de hidratação), como as entre os grupamentos carboxílicos carregados
negativamente (dissociados) e um cátion monovalente, ou interações mais complexas
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Matéria Orgânica do Solo
em que ligações de coordenação (esfera interna, perdendo a camada de hidratação e
estabelecendo ligação covalente diretamente com a superfície do ligante) com os
ligantes orgânicos são formadas (Figura 6).
Figura 6. Modelo estrutural de complexo de esfera externa (adsorção eletrostática,exemplificado para Cd2+) (A) e esfera interna (ligação covalente, exemplificada para Ca
2+). Fonte: Sparks (1995).
Características do metal, tais como valência e tamanho do raio hidratado,
eletronegatividade e polarizabilidade (Sparks, 1999); características da molécula
orgânica, tais como densidade e tipo de grupamentos reativos, localização dos
grupamentos reativos na molécula e tamanho da molécula, e características da solução,
tais como pH, força iônica e temperatura, terão grande influência sobre a ocorrência epredominância de determinado mecanismo e sua estabilidade (Silva & Mendonça,
2007).
A ordem decrescente de afinidade dos grupamentos dos compostos orgânicos
com íons metálicos é aproximadamente a seguinte (Sparks, 1999; Silva & Mendonça,
2007):
-O- > -NH2 > -N=N- > =N > -COO-
> -O- > C=OAlcoólico Amino Azo N Anel Carboxilato Éter Carbonila
A influência do tamanho da molécula orgânica fica evidente no caso do
transporte de micronutrientes catiônicos no solo por fluxo difusivo, ou seja, enquanto
ácidos orgânicos de baixa massa molecular, tal como citrato, são capazes de formar
complexos com o Cu, Fe, Zn e Mn e favorecer sua difusão no solo (Pegoraro et al.,
(A)
(B)
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Substâncias húmicas e disponibilidade de nutrientes para as plantas
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Matéria Orgânica do Solo
2005), a presença de concentrações mais elevadas de ácidos húmicos (elevada massa
molecular) reduz o fluxo difusivo de Cu, por exemplo.
Existem muitas evidências para a complexação de cátions di e tri valentes por
ácidos húmicos e fúlvicos, incluindo: a) correlação entre o conteúdo de húmus e a
retenção de micronutrientes pelo solo; b) habilidade de agentes quelantes conhecidos
extraírem metais enquanto solubilizam parte do húmus do solo; c) retenção seletiva de
íons metálicos pelos ácidos húmicos e fúlvicos na presença de resinas trocadoras de
cátions (Stevenson, 1994).
Os ácidos húmicos e fúlvicos podem formar complexos solúveis e insolúveis
com cátions polivalentes, dependendo do grau de saturação. Segundo Stevenson (1994),
trabalhos indicam que ambos, compostos bioquímicos individuais e constituintes dos
ácidos fúlvicos, estão envolvidos no movimento dos micronutrientes, sendo os ácidos
fúlvicos os mais eficientes na complexação dos metais. Embora o ácido húmico forme
complexos mais estáveis com os íons metálicos, é o ácido fúlvico, o maior responsável
pela complexação dos íons metálicos no solo, devido ao grande número de grupos
carboxílicos que contém e, devido a sua elevada acidez e relativamente baixo peso
molecular, os ácidos fúlvicos são mais solúveis que os ácidos húmicos.
Segundo Silva & Mendonça (2007) a solubilidade do complexo é determinada
pela relação SH/metal. Quando a relação SH/metal é alta, o complexo é solúvel em
água. Dessa forma, por meio da dissolução da fração mineral, há liberação de mais íons
metálicos. Contudo, quando a relação SH/metal é baixa, o complexo não fica solúvel em
água, diminuindo sua disponibilidade para as plantas. Assim, complexos
organometálicos envolvendo ácidos fúlvicos geralmente são de maior solubilidade e
mobilidade no solo que aqueles envolvendo ácidos húmicos.
Stevenson (1994) cita que cátions polivalentes têm potencial para ligarem-se as
moléculas individuais produzindo estruturas semelhantes a cadeias e conclui quecomplexos metál-ácido húmico são solúveis em baixos teores de metal-ácido húmico
(poucas moléculas combinadas em uma cadeia), mas a precipitação se dá conforme a
estrutura da cadeia vai aumentando e os grupos de COOH isolados vão tornando-se
neutralizados por pontes de sal. O ponto no qual ocorre uma precipitação visível será
influenciado por fatores como pH, força iônica, concentração do ácido húmico e tipo do
metal.
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Matéria Orgânica do Solo
O mesmo autor reporta que quando os ácidos húmicos e fúlvicos estão
dissolvidos na água, ocorre a dissociação dos grupos funcionais ácidos e a molécula
assume uma configuração expandida devido à repulsão dos grupos carregados; quando
os íons metálicos são associados, a carga é reduzida pela formação de um sal e a
molécula sofre um colapso, reduzindo, portanto, sua solubilidade.
Os ácidos húmicos possuem a habilidade de reduzir formas oxidadas de certos
íons metálicos. O caso mais típico é a redução da forma Fe3+ a Fe2+. Existe ainda a
possibilidade dos AH reduzirem a forma MoO42- aniônica a forma MO5+. Sendo que as
formas catiônicas destes elementos são subsequentemente fixadas pelos ácidos húmicos,
tornando-se assim indisponíveis pelas plantas e microorganismos (Stevenson, 1994).
Portanto, a formação de complexos organo-metálicos tem os seguintes efeitos no
solo (Stevenson, 1994):
1. Íons metálicos que, normalmente, em valores de pH de solos agrícolas, se
converteriam a precipitados insolúveis, ficariam mantidos na solução. Isto ocorre
quando, ao elevarmos o pH do solo, os íons metálicos, nele contido, forem
complexados pela fração fúlvica deste solo.
2. Agentes complexantes orgânicos podem influenciar a disponibilidade de metais
micronutrientes para plantas, bem como para organismos da micro e macro fauna do
solo. Alguns componentes da matéria orgânica do solo formam complexos
insolúveis com os íons metálicos, enquanto outros formam complexos solúveis.
3. Sob certas circunstâncias, a concentração de um íons metálico poderá ser reduzida a
um nível não tóxico. Isto será particularmente verdadeiro quando o complexo
organo-metálico tiver baixa solubilidade, como no caso de complexos com o ácidohúmico e outras moléculas de matéria orgânica com elevado peso molecular.
4. A interação do Al 3+ com a matéria orgânica pode ser de importância considerável
no controle de níveis tóxicos de Al+3 na solução em solos ácidos.
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Matéria Orgânica do Solo
Estudando a complexação do Zn pela matéria orgânica, Randhawa & Broadbent
(1965) verificaram que a fração menos estável, correspondente aos grupos – OH fenólico
e – COOH fracamente ácidos, associou-se com a maior parte do Zn e a fração mais
estável, constituída de grupos carboxílicos fortemente ácidos, reteve apenas 1% do Zn
aplicado. Do mesmo modo, Hanafi & Salwa (1998) verificaram que com a adição de
ácido húmicos ao solo, devido a complexação do Zn nesses compostos, menores teores
de Zn foram determinados nas frações trocável, ligado aos carbonatos e à matéria
orgânica.
Sánchez-Sánchez et al. (2005) relatam que em solos calcáreos, pobres em
matéria orgânica, a deficiência de Fe é muito comum. Nesse solos, o uso de quelatos de
Fe, como o FeEDDHA, tem sido feito para suprir a necessidade das plantas por esse
micronutriente. Contudo, esses quelato têm um alto custo e oneram a produção. Os
mesmo autores verificaram que a aplicação de uma mistura de FeEDDHA + SH ao solo
via fertirrigação favoreceu a disponibilidade e absorção de Fe pelo tomateiro, assim
com a produção e qualidade dos frutos. Segundo os autores, o FeEDDHA possui
também Fe livre em sua composição que pode precipitar dependendo do pH do solo,
assim, a adição de SH pode ter quelatado esse Fe livre impedindo sua imobilização. Os
mesmo efeitos positivos foram observados com a cultura do limoeiro (Sánchez-Sánchez
et al., 2002) e videira (Sánchez-Sánchez et al., 2006).
Nikolic et al. (2003) mostraram que o Fe aplicado com um complexo Fe-SH
pode ser absorvido pelas células das folhas de couve-flor, sugerindo que a aplicação
foliar desse complexo pode melhorar a nutrição das plantas quanto a esse nutriente,
sendo uma boa alternativa ao quelatos sintéticos.
É importante mencionar que em um solo natural existe um balanço entre íons
metálicos que ocorrem na solução do solo (íons livres e/ou complexos quelantes
solúveis) e na forma de minerais e formas orgânicas insolúveis. A quantidade demicronutrientes disponíveis para as plantas é afetada não somente pela síntese e
destruição de substâncias bioquímicas quelantes, mas por transformações realizadas
pelos microorganismos. Bactérias, actinomicetos, e fungos requerem os mesmos
micronutrientes que as plantas superiores e irão imobilizar os micronutrientes
disponíveis quando os teores forem sub ótimos para o crescimento. A relação é análoga
a imobilização do N quando resíduos de culturas com elevada relação C/N suportam
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Matéria Orgânica do Solo
decomposição no solo. Portanto os microorganismos possuem dois efeitos
contraditórios na viabilidade dos micronutrientes, a saber: solubilizam-os através da
produção de ligantes e competem por eles (Stevenson, 1994).
Ao contrário do que ocorre no solo, onde quelatos sintéticos tendem aumentar a
disponibilidade de micronutrientes pelo aumento de sua solubilidade, um excesso de
quelatos em soluções hidropônicas podem induzir deficiências de micronutrientes por
redução da atividade do metal (Norvell, 1991). Os AH têm uma menor constante de
estabilidade para metais do que quelatos sintéticos, assim, proporcionam uma maior
atividade do metal em solução. Deve-se considerar ainda que as espécies de plantas
diferem na sua capacidade de extrair alguns elementos de quelatos sintéticos. A maioria
das gramíneas podem, adequadamente, reduzir Fe-HEDTA para adquirir o Fe, porém,
têm mais dificuldade de obtê-lo do quelato Fe-EDDHA que é altamente estável
(Marschner & Römheld, 1994). Como os AH têm uma menor constante de estabilidade,
até mesmo do que o HEDTA, estes podem ser viáveis para espécies gramíneas
(Mackowiak et al., 2001).
Considerando essa possibilidade, Mackowiak et al., 2001 avaliaram os efeitos
dos AH em comparação ao quelato sintético HEDTA no crescimento e absorção de
micronutrientes em trigo cultivado em hidroponia. Verificaram que os AH aumentaram
a disponibilidade de Fe devido à complexação, o que preveniu a deficiência desse
micronutriente. A adição de AH aumentou a disponibilidade de Zn mais do que o
HEDTA, e manteve níveis adequados de outros micronutrientes. Os autores concluem
que a substituição do quelato HEDTA por AH pode ser uma alternativa viável.
3.4. COMPARTIMENTOS E DECOMPOSIÇÃO DE N, P E S
3.4.1 NITROGÊNIOA matéria orgânica do solo é a principal fonte de N para as plantas, sendo
responsável por, aproximadamente, 95% da quantidade deste nutriente encontrada no
solo (Silva & Mendonça, 2007). Deste percentual, uma significante quantia do N
(>50%) ocorre como componente estrutural de substâncias húmicas (SH), sendo uma
porção biologicamente estável que não está prontamente disponível para as plantas
(Stevenson & He, 1990). De acordo com Stevenson & He (1990), o N orgânico pode
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ocorrer como aminoácidos ligados a anéis aromáticos; como componente de ligações
que une grupos quinonas; como parte de anéis heterocíclicos; como grupo de cadeia
aberta (-NH-, =N-); e como peptídeos e proteínas ligados à pontes de hidrogênio.
Para um melhor entendimento dos diferentes componentes do N orgânico do
solo, este é freqüentemente fracionado via hidrólise ácida. Com base nesse método, o N
orgânico é enquadrado nas frações não-hidrolisável e hidrolisável e esta, por sua vez, é
subdividida em N-amida, N-hexosamina, N-α-amino e N-não identificado (Stevenson,
1994). A distribuição das formas de N nas SH é apresentada na Tabela 4.
Existem diferenças na concentração de N dentro de cada fração quando
comparados o solo e apenas suas substâncias húmicas, um resultado geral é apresentado
na Figura 7.
Uma considerável parte do N (mais de 60%) não pode ser determinada como
formas conhecidas (e.g., aminoácidos, aminoaçúcares), assumindo-se que esta exista
como componente integral de macromoléculas húmicas, como em anéis heterocíclicos
ou como componente de ligações. A maior proporção do N em AH, variando de 30 a
60%, é recuperada como N-insolúvel em ácido (Haworth, 1971).
Esses compostos heterocíclicos entram no solo predominantemente na forma de
material vegetal em anéis pirrólicos de clorofilas e citocromos e nas bases nitrogenadas
purina e pirimidina, integrantes dos ácidos nucléicos. Embora pareçam muito
resistentes, esses anéis podem passar por várias transformações, fazendo com que o N
heterocíclico se acumule no solo (Mengel, 1996). Por essa razão, somente pequena
percentagem das formas orgânicas de N do solo é facilmente mineralizável – aquela
oriunda, principalmente, de aminoácidos e polímeros de aminoaçúcares da biomassa
microbiana do solo (Silva & Mendonça, 2007).
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Tabela 4. Distribuição das formas de N em ácidos húmicos e fúlvicos (Stevenson, 1994).
ExtratorForma do N
ReferênciaN
Insolúvelem ácido
NH3 Não
identificadoAminoácido Aminoaçúcar
-----------------------------------------------%-------------------------------------------------
Ácidos húmicos0,1 mol L-1 Na4P2O7 (6)†
1,79-2,63 41,3-59,0 8,8-12,8 5,2-10,6 19,5-34,5 2,6-5,0 Bremner (1955)
0,5 mol L-1 NaOH (5) 2,31-3,74 32,6-43,7 8,4-13,7 4,7-8,6 32,2-44,7 3,4-8,1 Bremner (1955)
0,5 mol L-1 NaOH (4) 2,11-2,69 35,9-50,8 8,2-14,0 16,2-21,8 22,1-26,5 1,8-3,9 Rossel et al. (1978)
Ácidos fúlvicos‡
0,5 mol L-1 NaOH (3) 3,37-3,89 -- 15,1-19,3 41,3-54,9 26,4-34,2 3,6-5,2 Khan & Sowden (1972)
† Números entre parênteses indicam o número de amostras analisadas
‡ Os resultados são para preparação dializada
Figura 7. Comparação da distribuição das formas de N por hidrólise ácida de solos eseus AH. Adaptação dos dados de Rossell et al. (1978) por Stevenson (1994).
Admite-se que o N estrutural das SH representa o mais estável componente do N
orgânico do solo (Estruturas I e II). Com base nisso, esperaria-se que ocorresem
variações na distribuição das formas do N quando os solos são submetidos ao cultivo
intensivo, isto é, grandes perdas de N de aminoácidos e outras formas mais diponíveis
com redução da fração do N insolúvel em ácido. Porém, na prática, isto não tem sido
observado (Stevenson, 1994). Surpreendentemente, nem o cultivo a longo prazo nem a
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adição de produtos orgânicos ao solo afetam significativamente a distribuição relativa
das formas de N no solo.
I II
Resultados de vários experimentos mostram que as SH não são completamente
inertes, mas são constantemente alteradas em conseqüência das atividades dos
microrganismos. Sob condições estáveis, a mineralização do húmus é compensada pela
síntese de novo húmus. Durante a humificação, o N de aminoácidos e outros
aminocompostos são incorporados nas estruturas dos AH e AF, ficando indisponível
momentaneamente para as plantas (Stevenson & He, 1990).
Um fator chave que afeta a eficiência que o N-fertilizante é absorvido pelas
culturas é a progressiva estabilização do N por conversão a formas humificadas maisresistentes. O resultado é uma redução no “pool” de N potencialmente disp onível no
solo (Stevenson & He, 1990).
Portanto, a significância das SH para a fertilidade do solo quanto ao N advém do
fato que muito do N orgânico no solo resiste ao ataque de microrganismos ficando
assim indisponível para as plantas. Também, como uma conseqüência da
mineralização/imobilização pelos microrganismos, uma porção do fertilizante
nitrogenado aplicado torna-se estabilizado pela incorporação nas substâncias húmicas(Stevenson & He, 1990).
Sincronizar a liberação do N através da decomposição da matéria orgânica com a
necessidade do nutriente pelas plantas é uma estratégia econômica importante para a
racionalização do uso dos recursos naturais. A harmonia entre a decomposição da
matéria orgânica e absorção de nutrientes depende do estágio de desenvolvimento da
planta e da taxa de mineralização que, por sua vez, depende tanto do conhecimento das
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condições do ambiente (principalmente clima) como das formas orgânicas presentes na
matéria orgânica (Canellas et al., 1999).
Resultados de estudo de campo realizado por Allen et al. (1973) mostra que, em
média, um terço do 15N aplicado foi contabilizado na superfície do solo após o primeiro
cultivo, sendo o restante ou absorvido pelas plantas ou perdido por lixiviação ou
desnitrificação. As análises revelaram que a maior parte do N residual tinha sido
incorporada a forma orgânicas. A comparação do padrão de distribuição para o 15N
oriundo do fertilizante com o N nativo da matéria orgânica do solo tem mostrado que
uma significativa proporção do N fertilizante ocorre na forma de aminoácidos (59 vs.
36%) e aminoaçúcares (9,9 vs. 8,0%); menores proporções ocorrem com NH3
hidrolisável (10,6 vs. 18,1%), como N insolúvel em ácido (10,3 vs. 21,7%) e na fração
N-não identificado (10,2 vs. 16,2%). Quando as parcelas foram reamostradas 4 anos
mais tarde, o N fertilizante remanescente no solo, representava um sexto daquele
inicialmente aplicado, tendo uma composição muito semelhante a do N nativo. Como
mostra a Figura 8, a meia vida do N retido após o primeiro cultivo foi,
aproximadamente cinco anos. Após esse período estimou-se que o N retido teria meia
vida de 25 anos. Posteriormente, sua meia vida poderia ser igual a do N nativo ou
estimado para 200 a 800 anos. Dessas estimativas percebe-se que uma pequena fração
do N aplicado como fertilizante, para qualquer cultivo, restará no solo por um longo
tempo, talvez séculos.
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Figura 8. Composição e caminho do 15N residual (Allen et al., 1973).
Aparentemente, a mineralização potencial de N tem alguma relação com a
relação e quantidade das frações húmicas do solo. Nguyen et al. (2004a) usaram o
modelo stepwise de regressão para predizer parâmetros de mineralização de N por meio
de incubação aeróbia de 12 solos de planície que vinham sendo cultivados com arroz.
Observaram que a predição foi melhorada quando as variáveis independentes da
regressão incluíram não apenas as propriedades do solo, tal como o N total do solo, mas
também propriedades e quantias de frações específicas de AH em cada solo. Estes
resultados mostram a relevância da extração química das frações dos AH para um
melhor entendimento do processo/nível da mineralização do N do solo.
De fato, segundo trabalho de Nguyen et al. (2004b), a taxa de mineralização do
N de AH adicionados a diferentes solos reduziu exponencialmente com o incremento no
grau de humificação desses compostos. Estimativas do N potencialmente mineralizável
em Latossolos e Neossolos de Goiás indicam que essa fração representa menos que 2%
do N total dos solos, sendo maior em solo sob vegetação nativa, seguido por solo sob
Aminoácidos
Aminoaçúcares
Outras formas
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plantio direto e, finalmente, por solo sob plantio convencional (Kliemann & Buso,
2002). Devrêve & Horwárth (2001) observaram, em solos cultivados com arroz, que a
quantidade de N potencialmente mineralizável esteve sempre abaixo de 5%, porém foi
muito variável em função da presença ou ausência de palha, irrigação e também da
temperatura (Figura 9).
Figura 9. Porcentagem de N-fertilizante extraído da fração humina com KCl 2 mol L-1 a quente (N potencialmente mineralizável) aos 160 dias de incubação. Os tratamentosforam designados: SPSI, sem palhada e sem inundação; SPCI, sem palhada cominundação; CPSI, com palhada e sem inundação; CPCI, com palhada e com inundação.Dentro e entre barras, letras diferentes indicam diferença pelo teste F ao nível de 5%.Fonte: Devêvre e Horwáth et al. (2001).
Informação adicional a respeito do N estabilizado em formas humificadas tem
sido fornecida por estudos no qual o N orgânico é marcado com 15N por incubação do
solo por curto prazo com 15N inorgânico e um substrato apropriado de C. Os resultados
destes estudos têm confirmado que a estabilização do N ocorre muito rapidamente e que
uma porção significativa do N imobilizado ocorre em formas que não são prontamente
disponíveis para as plantas e microrganismos como mostra os resultados de Devêvre &
Horwárth (2001) apresentados nas Figuras 10 e 11.
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Figura 10. N-fertilizante recuperado em AH e AF aos 160 dias de incubação. Ostratamentos foram designados: SPSI, sem palhada e sem inundação; SPCI, sem palhadacom inundação; CPSI, com palhada e sem inundação; CPCI, com palhada e cominundação. Dentro e entre barras, letras diferentes indicam diferença pelo teste F aonível de 5%. Fonte: Devêvre e Horwáth et al. (2001).
Figura 11. N-fertilizante recuperado na fração humina aos 160 dias de incubação. Ostratamentos foram designados: SPSI, sem palhada e sem inundação; SPCI, sem palhadacom inundação; CPSI, com palhada e sem inundação; CPCI, com palhada e com
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inundação. Dentro e entre barras, letras diferentes indicam diferença pelo teste F aonível de 5%. Fonte: Devêvre e Horwáth et al. (2001).
Segundo Devêvre & Horwáth (2001) a estabilização do N-fertilizante nas SH é
substancialmente menor em áreas inundadas e a temperatura é fator importante nesseprocesso, sendo que com o aumento de temperatura menos N-fertilizante é estabilizado.
Os autores acreditam que precursores de SH que contêm N ciclam mais rapidamente em
maiores temperaturas dando menos oportunidade para estabilizarem como SH.
3.4.2. FÓSFORO
O teor de P nas substâncias húmicas é de 0,1 a 1% e é particularmente
abundante nos ácidos húmicos (Varanini & Pinton, 2001 citado por Silva & Mendonça,
2007). Em extratos de NaOH de solos da região Noroeste do Cáucaso (Rússia), o P
orgânico (Po) contribuiu com 92 - 99% do P total extraído, encontrando-se 52 - 90%
desse P orgânico nos AH.
Pouco se conhece sobre as formas de Po em solos tropicais. Em solos sob
savanas na Colômbia, foi observado que o P dos AH encontrava-se na forma de
ortofosfato de monoésteres, seguido pelos ortofosfatos de diésteres. Os fosfonatos,
ácido teióico e pirofosfato, estavam presentes em pequenas quantidades.
Adicionalmente, observou-se que os AF tinham menor proporção de ortofosfatos de
diésteres, mas apresentavam maiores proporções de ortofosfato inorgânico
(Guggenberger et al., 1996).
A forma com que o P se liga a matéria orgânica é similar à forma com que o P é
adsorvido pelos oxihidróxidos de Fe e Al. Assim, as SH podem afetar sua
disponibilidade pelos seguintes mecanismos: (a) bloqueando os sítios de adsorção de P
dos hidróxidos de Fe e Al; (b) competindo com os sítios de adsorção da fração mineralpelo P solúvel; e (c) deslocando parte do P adsorvido pela fração mineral (Andrade et
al., 2003).
A decomposição da MOS pode liberar ácidos orgânicos e a eficiência desses
ácidos aumentarem a disponibilidade do P para as plantas depende do pH do solo, da
persistência destes quando liberados no solo (Stevenson, 1986; Kirk, 1999) e da sua
afinidade com os sítios de adsorção (Strom et al., 2002). Os compostos de cadeia
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Matéria Orgânica do Solo
simples são geralmente decompostos mais rapidamente (Iyamuremye & Dick, 1996), e
as moléculas com maior número de grupos funcionais, tais como OH e COOH, são mais
efetivas em competir pelos sítios de adsorção do que aquelas com menor número
(Novais & Smyth, 1999).
Na adsorção competitiva entre AH e P em solos tropicais, uma redução
significativa da adsorção de P ocorreu quando a concentração de AH foi elevada de 0,4
a 3,0 dag kg-1, o que correspondeu a um aumento de 0,72 a 5,2 dag kg-1 na MOS
(Sibanda & Young, 1986). De acordo com esses autores, porém, essa eficiência não é
exclusivamente atribuída à adsorção de grupos carboxílicos pelos sítios de adsorção,
mas também pela forte complexação de Fe e Al na solução do solo pelos AH, reduzindo
a adsorção de P.
Ao avaliar o efeito das SH na adsorção de P por óxidos de Fe e Al, Borggaard et
al. (2005) observaram que a adição de AH não promoveu redução na quantidade de P
adsorvido, independente da ordem de adição dos compostos orgânicos e do P. As
contradições referentes ao efeito dos ácidos orgânicos na redução da adsorção de P
estão provavelmente relacionadas ao distintos períodos experimentais adotados
(Borggaard et al., 2005). Experimentos com períodos de avaliação de 1 a 2 dias parecem
ser muito curtos para o estabelecimento de um equilíbrio, o que resulta em grandes
quantias de ácidos adsorvidos e maiores quantidades de P na solução do solo.
Andrade et al. (2007) verificaram que a adição de ácidos orgânicos aumentou a
disponibilidade de P para plantas de milho, o que resultou em maiores acúmulos de
massa seca e P nas plantas. Os autores compararam a contribuição dos AH, ácido
acético e ácido cítrico nessas respostas e observaram que a adição de AH propiciou os
melhores resultados. O acúmulo de massa seca de ramos e raízes foram maiores quanto
maior a dose de AH aplicada. O fato dos AH serem muito resistentes a degradação por
microrganismos (Stevenson, 1994) e, portanto, terem um maior tempo de residência nosolo em comparação aos outros ácidos orgânicos estudados, provavelmente, possibilitou
uma maior eficiência em reduzir a adsorção de P ao longo do tempo, proporcionando
maior disponibilidade do nutriente para as plantas.
A semelhança dos outros trabalhos, Hua et al. (2008) observaram que as
concentrações de P, extraído com água ou CaCl2 0,01 mol L-1, aumentaram em função
da aplicação de SH (0; 0,5 e 2,5 g), independentemente do fornecimento do nutriente
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como fosfato monocálcico (0,31 ou 1,25 g kg -1 de P), todavia, as concentrações foram
superiores quando houve aplicação de P (Figura 12). Porém, quando utilizado o extrator
Olsen o inverso foi verificado, ou seja, houve uma redução da concentração de P com o
aumento da dose de SH.
Substância húmica, g
0 1 2 3
Pextraídoem
água,mgL-1
0
10
20
30
40
50
60
1,25 g kg-1
de P
0,31 g kg-1
de P
Substância húmica, g
0 1 2 3
Pextraídoem
CaCl 2,mgL-1
0
2
4
6
8
1,25 g kg-1
de P
0,31 g kg-1
de P
Figura 12. Influência das SH na adsorção de P em solo ácido com ou sem adição de P.Fonte: Hua et al. (2008).
3.4.3. ENXOFRE
Em regiões de clima mais seco (árido, semi-árido), as formas inorgânicas
(como o gesso) são o principal compartimento de S no solo, porém, nos solos das
regiões úmidas e subúmidas, o S na matéria orgânica geralmente contribui com mais de
90 % do S total (Itanna, 2005 citado por Silva & Mendonça, 2007).
As formas orgânicas de S podem ser divididas em duas frações mais
importantes, com base na sua susceptibilidade à redução: (1) S reduzido por HI, e (2) S
ligado ao C (S-C) (Stenvenson, 1986; Schoenau & Germida, 1992). A primeira fração,
obtida por meio da redução do S-orgânico a H2S pelo HI, é composta por SO42-
orgânico, em que o S não se encontra diretamente ligado ao C. Esta ligação é feita por
meio de outros elementos: O (C-O-SO3), N (C-N-SO3), ou o próprio S (C-S-SO3). O
SO42- orgânico compõe as formas mais abundantes de S-orgânico nos solos, perfazendo
de 30 a 75% do S-orgânico total. A maior parte do S-O encontra-se na forma de ésteres
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sulfatados, assim como thioglicosídeos e sulfamatos. Essa forma é a mais disponível
para as plantas e está, geralmente, ligada à matéria orgânica de baixo peso molecular. A
mineralização do S-orgânico é principalmente devida a estas formas que são mais
disponíveis para as plantas (Schoenau & Germida, 1992).
A outra fração, ou seja, os compostos com ligação S-C representam,
aproximadamente, metade do S-orgânico total do solo e podem ser divididos em outras
duas frações: (1) compostos com ligação S-C, susceptíveis à redução pela liga de
Raney-Ni, e (2) S inerte ou residual (S em compostos não identificados) (Stenvenson,
1986; Schoenau & Germida, 1992). A primeira fração é dominada, sobretudo, por
aminácidos, podendo chegar a 30% do S-orgânico total (Stevenson, 1986). Estes
compostos apresentam baixa estabilidade no solo, sendo decompostos (Schoenau &
Germida, 1992). A fração inerte compreende formas complexas de S, não-identificáveis
e, provavelmente, ligadas às substâncias húmicas (Stevenson, 1986; Schoenau &
Germida, 1992).
Análises mais refinadas de substâncias húmicas extraídas das frações
granulométricas de solos da Etiópia mostram que o S em estados intermediários de
oxidação foram as formas dominantes para SH extraídas da fração argila, contribuindo
com 39-50 %, enquanto formas altamente oxidadas eram dominantes (39-50 %) na SH
extraídas da fração silte. Os efeitos na mudança de uso do solo foram observados nas
formas mais reduzidas e em estados intermediários de oxidação, principalmente das
formas mais lábeis de S ligado ao C, sendo tal proporção maior no solo sob floresta,
decrescendo substancialmente em solos cultivados (Solomons et al., 2003).
Já, análises de SH extraídas de solos da África do Sul por XANES revelaram
que as formas altamente oxidadas, como os ésteres sulfatos, eram as predominantes
(39-55 % do S orgânico total), seguidas pelas formas em estádio intermediário de
oxidação (30-37 %). Apenas 17-24 % do S das SH encontrava-se em formas altamentereduzidas (Solomons et al., 2005). Xia et al. (1998) também verificaram que as formas
altamente oxidadas de S eram as que predominavam em SH extraídas de solos.
Usando a mesma técnica de XANES para solos da Nova Zelândia, China e
Reino Unido, verificou-se que as formas mais oxidadas, intermediárias e mais
reduzidas contribuíam com, respectivamente, 22-53, 33-50 e 14-32 % do S orgânico
das SH, respectivamente. Solos bem aerados sob cultivo de espécies anuais
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Substâncias húmicas e disponibilidade de nutrientes para as plantas
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Matéria Orgânica do Solo
apresentaram maiores proporções de S na forma altamente oxidada que os mesmos
solos sob pastagem, enquanto solos sob cultivo de arroz inundado tiveram maior
proporção de S em formas mais reduzidas. A conversão de solos sob cultivos anuais em
florestas ou pastagens e adição de esterco colaboraram para redução na proporção das
formas de S mais oxidadas com aumentos proporcionais nas formas mais reduzidas e
em estádios intermediários de oxidação (Zhao et al., 2006).
Essa caracterização é importante para a compreensão da dinâmica do S das SH
nos solos. Segundo Zhao et al. (2006), a mineralização bruta de S durante um período
de 53 dias estava mais diretamente relacionada com as quantidades de S na forma
reduzida e intermediária do que nas formas mais oxidadas, ou seja, as menores frações.
Isto evidencia que formas de S ligadas ao C é a principal forma de S orgânico
mineralizada no curto prazo.
Como observado, a exemplo do N, a taxa de mineralização do S orgânico
depende de práticas de manejo e de culturas envolvidas, provavelmente em virtude da
diferenças na população microbiana da rizosfera (Kertesz & Mirleau, 2004).
4. EFEITOS DIRETOS DAS SH NAS PLANTAS
Efeitos diretos são aqueles que envolvem a absorção de macromoléculas
orgânicas, tal como as SH, no tecido da planta resultando em vários efeitos bioquímicos,
podendo ser na parede celular, na membrana plasmática ou no citoplasma (Chen &
Aviad, 1990). Esses efeitos muitas vezes têm favorecido a absorção de nutrientes e o
crescimento das plantas.
Façanha et al. (2002) reporta que os efeitos das SH sobre o metabolismo das
plantas são resultado (i) da influência positiva sobre o transporte de íons facilitando a
absorção; (ii) do aumento da respiração e da velocidade das reações enzimáticas dociclo de Krebs, resultando em maior produção de ATP; (iii) do aumento no conteúdo de
clorofila; (iv) do aumento na velocidade e síntese de ácidos nucléicos; (v) do efeito
seletivo sobre a síntese protéica; (vi) do aumento ou inibição da atividade de diversas
enzimas (Nannipieri et al.,1993). Todavia, os alvos moleculares primariamente
envolvidos nessas respostas não foram ainda elucidados.
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Substâncias húmicas e disponibilidade de nutrientes para as plantas
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Matéria Orgânica do Solo
Alguns autores atribuem os efeitos SH sobre a absorção de nutrientes pelas
plantas a interações destes compostos com os sítios de absorção da membrana celular
(Lee & Bartlett, 1976; Marschner et al, 1986). Chen & Schnitzer (1978) identificaram
uma interação entre AH e estruturas fosfo-lipídicas da membrana celular, agindo como
carreadores de nutrientes. Neste caso o efeito dos ácidos húmicos ocorreria de forma
passiva, sem a necessidade de entrada destes compostos na célula vegetal. Contudo,
experimentos conduzidos por Vaughan & Ord (1981), utilizando compostos húmicos
marcados com 14C, demonstraram a absorção destes compostos pela célula vegetal. Essa
evidência abriu uma nova perspectiva em relação ao efeito de substâncias húmicas sobre
plantas, mostrando que é possível uma ação direta destes compostos sobre mecanismos
fisiológicos da planta.
O incremento da absorção de nutrientes proporcionado pela presença de SH em
solução tem sido também justificado por um hipotético aumento da permeabilidade da
membrana plasmática por meio da ação surfactante das SH e a ativação da H+-ATPase
de membrana plasmática (Varanini et al., 1993). Entretanto, segundo Façanha et al.
(2002) seria improvável que o aumento da permeabilidade da membrana plasmática e a
dissipação do potencial transmembranar possa induzir qualquer efeito benéfico sobre as
plantas.
Os autores comentam que o controle da permeabilidade celular está intimamente
relacionado à manutenção da seletividade da membrana plasmática, fator fundamental
para a manutenção da homeostase celular. Por outro lado, o gradiente eletroquímico
gerado pela H+-ATPase de membrana plasmática está diretamente envolvido com dois
mecanismos fundamentais do desenvolvimento vegetal: (i) a energização de sistemas
secundários de translocação de íons fundamentais para a absorção de macro e
micronutrientes e (ii) o aumento da plasticidade da parede celular para possibilitar o
processo de crescimento e divisão da célula vegetal. Esse último mecanismo estárelacionado com a teoria do crescimento ácido que postula que um aumento da extrusão
de prótons mediado pela H+-ATPase promove a acidificação do apoplasto, que por sua
vez ativa enzimas específicas que atuam sobre a parede celular aumentando sua
plasticidade e, conseqüentemente, permitindo o alongamento da célula (Rayle &
Cleland, 1992).
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Substâncias húmicas e disponibilidade de nutrientes para as plantas
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Matéria Orgânica do Solo
De fato, Façanha et al. (2002) observaram um estímulo à atividade da H +-
ATPase por AH adicionados à solução nutritiva aonde cresciam plântulas. Esse aumento
na atividade enzimática causou o aumento da atividade da bomba de prótons e,
conseqüentemente, acidificação do apoplasto, favorecendo o aumento da plasticidade e
alongamento da parede celular e crescimento de raízes.
A partir da década de 70, uma série de trabalhos passou a avaliar o efeito de
substâncias húmicas sobre a atividade de enzimas vegetais. Mato et al. (1972)
observaram a redução da atividade da enzima ácido indolacético oxidase (AIA-oxidase)
devido à competição por substrato ou por alteração na conformação da proteína pelos
ácidos húmicos adicionados ao meio, impedindo a degradação do AIA. Dessa forma, o
ácido húmico causou um efeito hormonal indireto sem apresentar hormônios em sua
composição. Os mesmos autores encontraram ainda que os extratos não fracionados
foram mais efetivos que as frações isoladas de AH, sugerindo a atividade de compostos
orgânicos de menor peso molecular associados aos AH.
Estudando a influência de SH de alta massa molecular na atividade de algumas
enzimas envolvidas no metabolismo do N e a absorção e assimilação desse nutriente por
duas espécies de Pinus, Panuccio et al. (2001), concluiu que as SH estimulam a
absorção de NH4+, enquanto que a absorção de NO3
- não é afetada. Porém, a
assimilação do NH4+ afetada diferentemente nas espécies estudadas. Em plântulas de
Pinus laricio apenas a atividade da malato desidrogenase nas folhas foi aumentada, ao
passo que nas plântulas de Pinus pinaster houve um incremento das atividades da
glumato desidrogenase nas folhas e da fosfoenolpiruvato carboxilase nos ramos e
folhas.
A matéria húmica tem uma atividade biológica muito complexa, que é
dependente de sua origem, tamanho molecular, características químicas e concentração.
Isso leva a uma grande variação nos efeitos no metabolismo das plantas nos diversossistemas que tem sido testados (Chen & Aviad, 1990).
Pelo fato do sistema solo ser muito complicado para estudos dos efeitos diretos
das SH no crescimento das plantas, estes problemas são usualmente estudados usando-
se SH pré-extraídas e fornecidas para as plantas em solução, com aplicação via foliar ou
adicionada na solução nutritiva (Chen & Aviad, 1990).
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Matéria Orgânica do Solo
As doses de SH que tem resultado em efeitos significativos variam de acordo
com o tipo de substância húmica e o tipo de efeito sobre a planta (Tabela 5).
Tabela 5. Concentração de substâncias húmicas que promoveram efeito positivo sobreplantas em experimentos conduzidos em ambiente controlado.
Faixa de concentraçãoFração húmica Critério de avaliação
mg L-1 0 - 100 Ác. húmicos Germinação de sementes
50 - 300Ác. húmicos e
fúlvicosCrescimento de raízes
0 - 500Ác. húmicos e
fúlvicosDesenvolvimento
vegetativo
Adaptado de Chen & Aviad (1990)
Diversos estudos avaliando parâmetros biométricos têm mostrado que a
aplicação de SH aumentam o crescimento de raízes, folhas e ramos e também estimulam
a germinação de sementes de várias espécies.
Eyheraguibel et al. (2008) observaram que o percentual ou a taxa de germinação
das sementes de plantas de milho não foram influenciados pela presença de SH, mas
houve um aumento na elongação de raízes das sementes que foram tratadas (Figura 13).Efeitos positivos também foram notados na produção de massa seca das plantas
cultivadas em solução nutritiva com SH, que ocorreu tanto nas raízes, como nos ramos e
folhas. Esse incremento de massa seca foi acompanhado por um maior consumo de água
e absorção dos nutrientes da solução nutritiva. O uso de SH ainda induziu o
florescimento precoce e modificou o desenvolvimento das raízes, aumentado o
crescimento de raízes laterais e secundárias que, apesar de menores, eram mais
ramificadas (Figura 14).
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Matéria Orgânica do Solo
Tempo, h
50 70 90 110 130 150 170 190 210 230 250
Comprimento,
cm
0
5
10
15
20
25
aa
aa
aa
a
b
b
bbb
bb
Controle
SH
Figura 13. Cinética de elongação de raízes de milho em função da ausência ou presençade SH na solução nutritivas. Fonte: Eyheraguibel et al. (2008).
Figura 14. Efeito das SH (esquerda) na quantidade de raízes laterais em comparaçãocom o controle (direita). Fonte: Eyheraguibel et al. (2008).
Também Nikbakht et al. (2008) avaliaram os efeitos da aplicação AH (0, 100,
500 e 1000 mg L-1) em solução nutritiva no crescimento e teores de macro e
micronutrientes e plantas de gerbera (Gerbera jamesonii L.) cv. Malibu. O crescimento
de raízes aumentou até a dose de 1000 mg L -1 de AH e os teores de macro e
micronutrientes nas folhas e hastes, incluindo N, P, K, Ca, Mg, Fe e Zn, foram
significativamente incrementados. Porém, altos níveis de AH diminuíram os teores de
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alguns nutrientes. A aplicação de 500 mg L-1 de AH aumentou também o número de
flores colhidas por planta (52%).
O efeito da aplicação de AF no crescimento e nutrição de plantas de aveia foi
avaliado por Rosa et al. (2004). Os autores observaram que a adição de ácido fúlvico de
vermicomposto de esterco bovino favoreceu o crescimento da parte aérea da aveia (Figura
15), acompanhado por um maior acúmulo de macro e micro nutrientes (Tabela 15).
Dose de AF, mg C L-1
0 10 20 30 40
Massaseca
,g
2
3
4
5
6
y = 3,28 + 0,04 xR2 = 0,72
Dose de AF, mg C L
-1
0 10 20 30 40
Altura,cm
60
65
70
75
y = 62,15 + 0,28 x
R2
= 0,94
Figura 15. Massa seca da parte aérea e altura de plantas de aveia em resposta à adiçãode AF. Fonte: Rosa et al. (2004).
Tabela 6. Nutrientes acumulados nas plantas de aveia em resposta a níveis de AF.
Níveis AF Ca Mg K P N Cu Zn Fe Mn
mg C L-1 ------------------g/vaso------------------ ------------- mg/vaso-1-------------0 13,8 6,3 98,3 13,9 79,1 0,035 0,252 0,181 0,1765 18,3 8,3 134,6 19,2 104,0 0,056 0,254 0,289 0,275
10 18,8 9,1 150,8 21,9 102,6 0,055 0,300 0,305 0,273
20 18,5 8,1 142,6 20,9 104,5 0,052 0,293 0,260 0,26040 16,0 9,5 159,9 24,7 120,1 0,062 0,364 0,238 0,232
Gonçalves et al (2004), avaliaram a influência de SH extraídas de
vermicompostos de diferentes matéria primas, no desenvolvimento da alface.
Verificaram que o peso fresco da parte aérea, peso seco da parte aérea e área foliar não
foram influenciados pelas SH, independentemente de sua origem (Tabela 7).
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Matéria Orgânica do Solo
Verificaram que as SH extraídas de vermicomposto de esterco suíno, reduziram o
número de folhas por planta (Figura 16), sendo que as plantas que não receberam SH
apresentaram 9,82% mais folhas. Já, para o diâmetro médio das cabeças de alface, a
aplicação de SH oriundas de vermicomposto de borra de café proporcionou o melhores
resultados (Figura 17).
Tabela 7. Peso fresco, peso seco da parte aérea e área foliar por planta de alface, em
resposta a SH de diferentes vermicompostos.
Tratamentos Peso fresco Peso seco Área foliar---------------- g ---------------- cm2
Testemunha 129,63 a 7,91 a 2866,5 aVerm. esterco bovino 106,53 a 7,03 a 2491,7 aVerm. esterco ovino 112,49 a 7,23 a 2709,8 aVerm. esterco suíno 114,56 a 7,15 a 2598,9 aVerm. borra café 128,52 a 6,66 a 2893,6 aVerm. erva-mate 108,00 a 6,49 a 2614,8 a
C.V. 14,2 13,6 13,1Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Duncan a 5% de significância.
Figura 16. Número de folhas por planta de alface em função da aplicação de SH dediferentes origens. Fonte: Gonçalves et al. (2004).
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Figura 17. Diâmetro das cabeças de alface em função da aplicação de SH de diferentes
origens. Fonte: Gonçalves et al. (2004).
Entre os raros trabalhos encontrados na literatura mundial sobre experimentos
com substâncias húmicas no campo, pode ser citado o trabalho de Brownell et al.
(1987). Esses pesquisadores observaram que a aplicação de produto comercial em
diferentes culturas demonstrou aumento significativo de produtividade. Em várias
culturas foi observada indução à floração após aplicação foliar, sendo que os melhores
resultados foram associados às áreas sob stress hídrico e nutricional.
Benites et al. (2006), também avaliaram os efeitos da aplicação foliar em
condições de campo de um produto à base de SH e da fração AH isolada sobre
produtividade da soja em sistema de plantio direto no Cerrado. A produção da cultura
foi 17% superior onde se aplicou o produto e os AH isolados deste produto (Figura 18).
Como não houve diferença entre o produto e os AH, os autores concluem, que os AH
eram, de fato, o princípio ativo causador do efeito na produtividade da soja.
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Figura 18. Produtividade média de soja em função da aplicação de dose de um produtoa base de SH. Fonte: Benites et al. (2006).
Os mecanismos pelos quais as SH estimulam a atividade biológica das plantas
não estão ainda bem esclarecidos; isto, em parte, se deve a heterogeneidade das SH e a
dificuldade de sua caracterização. Assim, tentativas para relatar a influência das SH no
crescimento e/ou desenvolvimento das plantas têm gerado resultados contrastantes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O entendimento do comportamento das SH no solo é componente chave para a
compreensão da dinâmica dos nutrientes no solo e sua disponibilidade para as culturas.
Contudo, o fato das SH constituírem uma fração das MOS que não tem estrutura
química definida e, ainda, serem muito diferentes em função de sua origem, torna-se
muito complicado estabelecer relações entre as SH e os atributos do solo que governam
a disponibilidade de nutrientes para as plantas que possam ser “generalizados”, e assim,
impossibilitando assim algumas estimativas. O fracionamento clássico da MOS, com
base na solubilidade das frações, nos permite hoje, vislumbrar apenas a importâncias
das SH no sistema solo-planta, porém, as conclusões ficam restritas as condições em
que estas foram obtidas.
Os efeitos da aplicação direta de SH isoladas são indiscutíveis, contudo são
muito variáveis em função da substância em que estas foram extraídas e também da
cultura. Existe a necessidade de mais informações a esse respeito, considerando as
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diversas causas de variação possíveis. Para essa prática, a aplicação das SH via foliar
mostra-se mais viável, uma vez que, para a aplicação via solo, a quantidade necessária
para induzir efeitos nas plantas torna a prática extremamente onerosa. Mais uma vez
ressalta-se a necessidade do conhecimento de unidades estruturais das frações das SH
que se relacionem com os efeitos causados nos vegetais.
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