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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL APOSTILA REFERENTE À DISCIPLINA ENTOMOLOGIA FLORESTAL - 2011/2 Prof. Genésio Tâmara Ribeiro SÃO CRISTÓVÃO - SE

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Apostila Entomologia UFS

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE CINCIAS FLORESTAIS

    CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

    APOSTILA REFERENTE DISCIPLINA ENTOMOLOGIA FLORESTAL - 2011/2

    Prof. Gensio Tmara Ribeiro

    SO CRISTVO - SE

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL/DCF

    ENTOMOLOGIA FLORESTAL - 2011/2

    Prof. Gensio Tmara Ribeiro I INTRODUO

    Entomologia Florestal o ramo da Biologia que trata do estudo dos insetos associados s florestas, s rvores e aos seus produtos visando diminuir os prejuzos no rendimento e na qualidade do fim a que se destinam, sem prejudicar o ambiente.

    Entomologia Florestal , portanto, um campo de estudo comum entre a Silvicultura, a Zoologia e a Ecologia uma vez que nele se busca a compreenso das relaes entre causas e efeitos governantes de um ecossistema em que comunidades de insetos e de essncias florestais so manipuladas em funo do interesse humano. A importncia da Entomologia Florestal est relacionada, tambm, com a condio de estar produzindo conhecimentos e fornecendo subsdios para o trabalho a ser realizado em outras reas da profisso de Engenheiro Florestal. Assim, a Entomologia Florestal apresenta, tambm, relaes com outros campos da Engenharia Florestal:

    - Zoologia Geral: Por estudar os insetos entre as demais classes de animais. - Inventrio Florestal: Porque os insetos so capazes de alterar as estimativas de

    produo florestal - Patologia Florestal: Porque permite distinguir injrias de insetos daqueles

    causados por doenas. Estuda, tambm, as doenas causadas nos insetos por agentes patognicos.

    - Melhoramento Florestal: Diz respeito influncia dos insetos no melhora-mento de plantas visando resistncia a pragas.

    - Poltica e Administrao Florestal: Porque os insetos podem alterar metas e objetivos a serem alcanados na produo.

    - Sementes Florestais: Pela influncia que os insetos tm na produo e disseminao das sementes das rvores.

    - Preservao da Madeira: Porque permite definir as tcnicas necessrias preservao para cada grupo de insetos xilfagos.

    - Construes de Madeira: Analisa o ataque de insetos madeira uma vez que esse ataque pode alterar a resistncia de peas de madeira.

    - Manejo Florestal: Porque inclui o gerenciamento de todas as implicaes que apresenta uma floresta qualquer, incluindo a seleo de espcies florestais, tcnicas de plantio, de conduo do empreendimento florestal e de tcnicas apropriadas de colheita, armazenamento e utilizao das rvores ou de se seus produtos.

    Para o Engenheiro Florestal, pode-se enfocar a importncia deste estudo sob os seguintes aspectos: a)- Geogrfico:

    Ao Entomologista Florestal permite conhecer a distribuio territorial dos insetos de interesse florestal, nas diversas regies onde se desenvolvem as atividades florestais ou se armazenam os produtos das rvores. S desta maneira que o profissional pode ter

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    domnio sobre as possibilidades de infestao ou de introduo de pragas importantes na sua regio de trabalho. Vrias pragas florestais importantes no Brasil foram trazidas de outros pases para os reflorestamentos ou produtos florestais daqui. b)-Ecolgico:

    Ela importante ecologicamente porque o Engenheiro Florestal ao trabalhar com insetos, deve atuar de forma a contribuir para a preservao do equilbrio ambiental entre o solo, gua, ar, florestas e os outros elementos da natureza, incluindo o homem. Acrescente-se a isso, o papel que os insetos tm na reciclagem dos nutrientes em florestas. c)-Economia florestal:

    Neste caso, a importncia se deve preocupao em defender as rvores e seus produtos minimizando o nvel e o risco dos prejuzos causados pelas pragas. Assim, o Eng. Florestal necessita conhecer e monitorar a ocorrncia dos insetos; determinar a viabilidade, a eficincia e os custos de cada mtodo de combate; avaliar o nvel de perdas e de dano econmico causados pela ocorrncia de cada praga e, finalmente, tomar decises em funo de custos e benefcios decorrentes dos casos em que o patrimnio florestal se torna ameaado pelos insetos. d)-Paisagismo:

    O ataque de pragas a espcies arbreas de logradouros pblicos prejudica seu aspecto fsico ou compromete a sua sobrevivncia acarretando perdas no aspecto visual ou na preservao de exemplares nobres. Merecem ateno os casos em que se trata de espcies florestais utilizadas em arborizao de jardins, praas e avenidas ou de colees dendrolgicas em museus e reas de conservao gentica. 1 - HISTRIA SOBRE A ENTOMOLOGIA FLORESTAL NO MUNDO

    O estudo dos insetos, seus danos e benefcios no que diz respeito s florestas, rvores e seus produtos, antigo, mas s com o advento da Silvicultura que ele pode ser chamado de Entomologia Florestal.

    A Silvicultura se desenvolveu a partir do Sculo XVII na Europa Central, mas os primeiros trabalhos sobre Entomologia Florestal s apareceram no sculo XVIII, quando o declnio na produo de madeira ameaou racionar o uso da matria prima florestal em diversos pases e colocou em evidncia a magnitude dos prejuzos causados pelos insetos.

    As primeiras publicaes surgiram provavelmente na Alemanha onde se considera como marco inicial, o livro RELATO SOBRE UMA LAGARTA QUE CAUSOU GRANDE DANO EM ALGUNS LUGARES DA SAXNIA H ALGUNS ANOS, escrito em 1752 por J. C. SCHAFFER. Como si acontecer nos primrdios de qualquer cincia, este autor era um lder religioso que, embora trabalhando noutro campo, se interessou pelos grandes surtos de pragas, fenmeno que perturba a populao em geral. Este pastor identificou a praga das florestas naquela poca como sendo Lymanthria dispar (Lepidoptera: Lymanthriidae); descreveu correta e detalhadamente sua metamorfose e demonstrou a sua espantosa capacidade de aumentar rapidamente, em funo da alta fertilidade das mariposas, proporo sexual favorvel s fmeas e da pequena taxa de mortalidade natural das mesmas. Assim as explicaes de SCHAFFER sobre as causas daquele surto de lagartas podem ser consideradas como atuais uma vez que ele mencionou condies climticas favorveis, falta de inimigos naturais e, especialmente, grande disponibilidade de alimento para os insetos.

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    Entretanto, o que realmente deu grande impulso a este ramo do conhecimento foi a ocorrncia de uma catstrofe nas florestas de abeto da Alemanha em funo do ataque severo do besouro broqueador de casca conhecido cientificamente como Ipis typographus (Coleoptera: Scolytidae) ocorrido a partir de 1770. A situao tornou-se to grave que os cientistas do ramo foram convocados para encontrarem uma soluo, o que resultou, provavelmente, na primeira vez que autoridades governamentais interessaram-se por um assunto de Entomologia Florestal. Os recursos advindos desta sensibilizao das autoridades governamentais permitiram a construo de laboratrios e o desenvolvimento de inmeras pesquisas entomolgicas. Este relevante evento encerrou o chamado Perodo Primitivo da Entomologia Florestal no mundo.

    A fase clssica da Entomologia Florestal aconteceu, tambm, na Alemanha quando, em 1830, JULIUS THEODOR CHRISTIAN RATZEBURG, mdico e dedicado professor de Cincias na recm-criada Escola de Florestas de Eberswald, comeou a se interessar pelos insetos associados s essncias florestais. Em 1837, RATZEBURG comeou a publicar Os insetos florestais ou ilustraes e descries daqueles insetos que se tornaram conhecidos como daninhos ou benficos nas florestas da Prssia e dos Estados vizinhos, uma obra que lhe deu fama mundial por ter decidido a questo sobre quais insetos eram, realmente, de importncia econmica nas florestas de toda a Europa. RATZEBURG morreu em 187l, mas seu trabalho e sua dedicao foram to marcantes que o habilitaram a ser considerado, unanimemente, como o Pai da Entomologia Florestal no mundo.

    Com a morte de Ratzeburg, novos entomologistas florestais surgiram, na Alemanha, Frana, Inglaterra e chegou at os Estados Unidos, mas tais entomologistas se destacaram apenas no trabalho de preencher as lacunas ou de fazer pequenos acrscimos ao trabalho deste professor.

    Na primeira metade do Sculo XX, a pesquisa florestal entomolgica cresceu muito em todo o mundo. Numerosos laboratrios e escolas com cursos em Entomologia Florestal foram criados na Europa, Amrica do Norte e no Brasil. 2 - HISTRIA SOBRE A ENTOMOLOGIA FLORESTAL NO BRASIL

    Aqui a histria entomolgica das florestas, tem como marco inicial as observaes do Padre JOS DE ANCHIETA que, em 1560, disse em uma de suas cartas a Portugal: "... das formigas, porm, s parecem dignas de meno as que estragam as rvores; ... tm a cor arruivada, ... cheiram a limo e abrem grandes buracos no cho." Este pode ser considerado como o primeiro registro sobre pragas associadas s rvores do Brasil.

    A Silvicultura brasileira nasceu por volta de 1870, atravs da iniciativa imperial em desenvolver e resguardar a Floresta Nacional da Tijuca. O final do Sculo XIX foi marcado pelo interesse de A. FOREL em estudar as formigas e isto resultou na publicao de A fauna de formigas do Brasil, em 1893. O perodo de 1896-1898 foi marcado pelas publicaes dos primeiros trabalhos sobre o combate s formigas cortadeiras, realizados por F.W. DAFERT.

    O Sculo XX comeou com ADOLFO HEMPEL publicando Novo mtodo de combate a sava (Atta sexdens Fabr.) e outras formigas nocivas s plantas, em 1904 e logo depois, surgiram os verdadeiros trabalhos entomolgico-florestais, os quais dizem respeito aos serradores, ocorrncia e biologia da mosca da madeira e ao ataque de cochonilhas em rvores do paisagismo urbano. Antes, ainda, da I Guerra Mundial, e no calor das campanhas de reposio das matas, iniciadas no Estado de So Paulo, EDMUNDO NAVARRO DE ANDRADE publicou, em 1909, Os insetos nocivos ao Eucalyptus, fruto

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    da sua experincia na introduo, em 1904, de 95 espcies destas plantas provenientes da Austrlia.

    A segunda dcada foi marcada pela presena de NGELO MOREIRA DA COSTA LIMA, considerado o Prncipe dos Entomologistas Brasileiros com o trabalho Sobre alguns curculiondeos que vivem nos bambus e pelo novo trabalho de EDMUNDO NAVARRO DE ANDRADE intitulado de Os Insetos Nocivos (1918). As dcadas seguintes foram marcadas por grande preocupao com os aspectos biolgicos e os mtodos de combate da sava e por farto levantamento de insetos associados s essncias florestais como s do eucalipto por NAVARRO DE ANDRADE (1927-1928) e ERNESTO RONNA (1929), seringueira por ALFREDO A. DA MATTA (1917-1929) e palmceas por GREGORIO BONDAR (1913-1959). O perodo anterior II Guerra Mundial , ainda, marcado por trabalhos de CARLOS A. MARELLI (1931), PIO BUCK (1937) e outros, mas finalizado maravilhosamente bem em 1941, com a obra "Entomologia Florestal: Contribuio ao estudo das Coleobrocas" por ARISTOTELES G. A. SILVA e DJALMA G. DE ALMEIDA, onde pela primeira vez a expresso Entomologia Florestal consagrada no ttulo de um trabalho especificamente ligado ao campo.

    O perodo posterior II Guerra Mundial comeou com grandes novidades no levantamento de novos insetos daninhos, mas foi marcado pela descoberta dos inseticidas qumicos modernos. Assim que em 1949 o primeiro surto da lagarta-parda-do-eucalipto (Thyrinteina arnobia) foi combatido com DDT, no Estado de So Paulo. Foi com base nesta experincia que M. FONSECA recomendou, pela primeira vez no Brasil, o uso da aviao agrcola no controle de pragas florestais.

    No perodo de 1950/60, mais de uma centena de ttulos ligados aos insetos florestais foram publicados. A nfase foi, ainda, dada aos estudos com sava em que pesaram os trabalhos de biologia por MRIO AUTUORI (1950-1955) e FRANCISCO M. A. MARICONI (1960-6l); os de taxonomia e distribuio geogrfica por CINCINATO R. GONALVES (1951-1955) e os de combate qumico por FREDERICO VANETTI (1957-196l) e de B. SANT'ANA (1951-1952) com Brometo de Metila e inseticidas clorados. Neste perodo, cerca de 20% dos trabalhos foram desenvolvidos diretamente com eucalipto onde foram relacionadas informaes com cupins, bicho-cesto, lagartas desfolhadoras, besouros desfolhadores, savas, besouros-de-ambrsia e sobre o primeiro inimigo natural de lagartas desfolhadoras. Sobressaram, nessa essncia florestal, os trabalhos de FREDERICO A. M. MARICONI (1953-1954), JAIME V. PINHEIRO (1951 e 1963) e de GUILHERME M.P. ALBUQUERQUE (1962-1963) e o captulo "Parasitologia do Eucalipto" de ARMANDO N. SAMPAIO no livro O Eucalipto de EDMUNDO NAVARRO DE ANDRADE, em 1961. Na rea de palmceas, cerca de 1/5 dos trabalhos foram realizados por GREGRIO BONDAR (1953-1955) incluindo insetos daninhos aos coqueiros-da-bahia, carnaba, babau e dendezeiro. Em accia negra destacou-se OSWALDO BAUCKE (1958) com os serradores; em erva-mate, destacou-se EMIL KOBER (1956-1961) com biologia e controle da lagarta da erva-mate; em ficus (Ficus benjamina) destacaram-se os trabalhos de CHARLES F. ROBBS (1962) com o trips na arborizao do Rio de Janeiro. C.H. REINIGER noticiou, em 1953, uma lagarta nociva s mudas de Araucaria angustifolia; K. E. SCHEDL (1951-1953) ofereceu grande contribuio ao estudo da taxonomia e morfologia de Scolytidae em cedro (Meliaceae) e aoita-cavalo (Luehea sp.). Com relao a madeiras, muitos trabalhos foram realizados abrangendo os cupins, anobideos e lictdeos. J. OITICICA (1951) demonstrou a importncia da fotografia nas pesquisas entomolgicas. Em 1962 foi realizado o I SIMPSIO SOBRE CONTROLE BIOLGICO NO BRASIL passando a Entomologia Florestal a dar certa nfase aos inimigos naturais, estimulada pelos problemas de intoxicaes causadas por inseticidas clorados e fosforados cujos testes foram realizados

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    durante o perodo. Nos anais de tal encontro, ARISTTELES G. D'ARAUJO E SILVA publicou uma excelente contribuio ao pregar a associao entre o combate qumico e o biolgico de pragas florestais.

    Na dcada de 60, a Entomologia Florestal brasileira foi marcada por uma profunda transformao porque esta foi a poca em que se estabeleceu toda a legislao da nova poltica florestal brasileira, concebida para atender nfase industrial preconizada pelo governo federal, em especial, aps a revoluo de 1964.

    Com a criao da primeira Escola Nacional de Florestas do pas, em 1960 na cidade de Viosa (MG), a Entomologia Florestal deixou de ser um desagregado esforo da Agronomia para ser inventariada, questionada e transformada em ensinamentos destinados formao de uma nova qualificao profissional, a de Engenheiro Florestal. Coube ao professor FREDERICO VANETTI, da atual Universidade Federal de Viosa, a misso de ser o primeiro a lecionar Entomologia Florestal, como disciplina de formao universitria no Brasil. O inventrio de sua experincia e de seus ensinamentos no perodo de 1962/1963 foi coligido, em 1963, no trabalho Pragas de Essncias Florestais abrangendo a diversos insetos referidos como daninhos a 35 essncias florestais. A Lei 5.106 que instituiu o incentivo fiscal para o reflorestamento, a criao de mais duas escolas de Engenharia Florestal no pas e a criao do IBDF (Instituto de Desenvolvimento Florestal) e oficializao da carreira de Engenheiro Florestal, pelo Decreto-Lei 289, permitiram chegar ao final da dcada com centenas de empresas florestais, milhares de projetos de reflorestamento em execuo e grande quantidade de trabalhos publicados sobre a nova experincia florestal em todo o Brasil.

    A nova profisso e os recursos canalizados para a rea permitiram a expanso de trs para 12, na quantidade de escolas de florestas durante a dcada de 1970. Com a necessidade de rever, pesquisar e gerar informaes para o ensino de Engenharia Florestal nas escolas e dar solues aos problemas de pragas florestais nas empresas, comearam aparecer os primeiros estudiosos exclusivos e a ps-graduao especializada no assunto, do Brasil. So pioneiras as teses do Prof. EVONEO BERTI FILHO intituladas Observaes sobre a biologia de Hypsipyla grandella (Lep.: Phycitidae) e Biologia de Thyrinteina arnobia (Lep.: Geometridae) e observaes sobre a ocorrncia de inimigos naturais, em 1973 e 1974, respectivamente. De sua orientao surgiram os trabalhos Estudo das principais pragas das ordens Lepidoptera e Coleoptera dos eucaliptais do estado de So Paulo e Efeito do controle qumico e microbiolgico sobre trs pragas de eucaliptos e outros insetos, em 1975/76.

    Outros trabalhos produzidos nas dcadas de 60/70 foram: Prejuzos causados pela formiga sava em plantaes de Eucalyptus e Pinus no Estado de So Paulo por ELPDIO AMANTE em 1967; Ocorrncias de insetos na Companhia Siderrgica Belgo Mineira e combate experimental por diversos meios por LARCIO OSSE e ANDR BRIQUELOT, em 1968 e Nota sobre Eupseudosoma involuta (Lep.: Arctiidae) praga do Eucalyptus spp. por F.F. BALUT e ELPDIO AMANTE em 1971. Muitos outros foram divulgados, principalmente nos congressos realizados pela Sociedade Entomolgica do Brasil, a partir de 1973 os quais permitiram FRANCISCO A. M. MARICONI incluir em seu livro Inseticidas e seu emprego no Combate s Pragas, em 1976, e a DOMIMGOS GALLO e co-autores em seu Manual de Entomologia Agrcola, em 1978, um captulo sobre pragas de essncias florestais caracterizadas pelo resumo da descrio do inseto, danos causados e mtodos especficos de combate.

    Atravs de trabalhos importantes como as notcias de ocorrncias de surtos de pragas florestais em todo o pas, as teses sobre a biologia dos insetos caracterizados como pragas, as instalaes de projetos de pesquisas, financiadas pelo IBAMA, EMBRAPA, Universidades e outras Instituies, foi possvel uma mobilizao dos entomologistas

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    florestais brasileiros no sentido de se organizarem e concentrarem esforos no desenvolvimento do campo de trabalho. Neste sentido uma reunio convocada durante a realizao do VII CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, realizada em Fortaleza (CE) em 1981, buscou a unio e o entrosamento dos pesquisadores da rea, em encontros temporrios para troca de experincias na pesquisa e no ensino de Entomologia Florestal. O primeiro encontro deste grupo, foi realizado em fevereiro de 1982 em Curitiba (PR) e reuniu 51 interessados de todo o pas; o resultado das avaliaes e orientaes preconizadas foi publicado nos Anais do VI SEMINRIO SOBRE ATUALIDADES E PERSPECTIVAS FLORESTAIS Situao da Entomologia e da Patologia Florestal no Brasil. A partir deste ponto, painis, mesas redondas e sesses especialmente destinadas Entomologia Florestal passaram a ocupar os congressos, simpsios, seminrios, cursos e diversos outros eventos concebidos e executados em todo o pas.

    Atualmente, a pesquisa florestal entomolgica no Brasil busca revelar a influncia ambiental e as propriedades das populaes de pragas importantes, atravs da investigao dos efeitos de certos fatores do ambiente, como vegetao, clima e inimigos naturais, e da relao destes fatores com a flutuao populacional a fim de identificar aqueles que so determinantes na exploso populacional de insetos daninhos. O objetivo desta tcnica analtica o de fornecer um quadro das causas e efeitos associados aos surtos de insetos florestais, formando uma base til e necessria ao estabelecimento de uma tecnologia de manejo integrado daquelas espcies de insetos que, efetivamente, possam ser consideradas como pragas florestais. Neste sentido os Entomologistas Florestais brasileiros vem desenvolvendo diversas estratgias visando conter a ao devassaladora dos insetos. Dentre elas, citam-se: a)-Conscientizao

    Nesta questo, vem sendo feito um trabalhado de convencimento, junto s empresas e ao governo, sobre os nveis de danos causados s essncias florestais e seus produtos. Alm disso, esto sendo mantidas intervenes em diferenciadas reas das empresas, mantendo discusses conjuntas para a descoberta de melhores solues para seus problemas. b)-Pesquisa

    Um grande avano no combate s pragas florestais est sendo dado com a contratao de servios entomolgicos, por firmas especializadas no controle de insetos daninhos, com a finalidade de estudar, monitorar e combater surtos, testar novos produtos e novas dosagens visando maior eficincia e menores impactos ambientais. Este trabalho vem sendo feito, quer seja por meio de pesquisas que desenvolvem medidas curativas quer por medidas que permitem implantar combates preventivos de uma boa quantidade de pragas. Alm do combate biolgico, esto sendo feitas pesquisas sobre manejo integrado de pragas, por meio de levantamentos dos principais insetos da regio, colhendo-os e identificando-os. Em determinadas situaes esses insetos so enviados a universidades para serem identificados e posteriormente, combatidos. Vale a pena ressaltar que esto sendo feitos estudos sobre a dinmica populacional dos insetos, para que se possa fazer o seu combate, de maneira mais eficiente. Um bom exemplo disso o monitoramento da ocorrncia de formigas cortadeiras e de seus efeitos visando tomada de deciso sobre a necessidade de seu combate.

    Como grande desafio para o profissional da rea de Entomologia Florestal pode-se citar a necessidade de aumento substancial no incentivo s pesquisas da rea. Estas pesquisas deveriam ser direcionadas para o desenvolvimento de tcnicas de combate mais eficientes, menos dispendiosas, mais prticas e menos poluidoras. Permeando estas questes deveria estar sendo implementado um processo de educao florestal e ambiental,

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    com orientaes sobre o uso de agrotxicos e adoo do Receiturio Agronmico. Paralelamente, deveria ser aumentado o convvio de estudantes e de professores da rea com silvicultores e outros segmentos da sociedade, visando desenvolver atividades prticas conjuntas. II - MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS FLORESTAIS 1 - CONCEITOS GERAIS

    Os insetos concorrem com o homem porque utilizam as culturas e seus produtos, para proverem-se de alimento, abrigarem-se ou se reproduzirem. Neste contexto, deve-se considerar como Praga Florestal, qualquer espcie de inseto que j tenha manifestado sua capacidade de causar expressivos prejuzos qualidade ou ao rendimento do fim a que se destinam s florestas, rvores ou seus produtos. Uma simples injria causada por insetos no implica necessariamente na ocorrncia de prejuzos.

    O termo Prejuzo, ou o equivalente Dano, tem uma conotao tipicamente econmica, mas podem significar tambm, perdas de ordem ecolgica, paisagstica, social, poltica, administrativa, sanitria e outras que no podem ser medidas financeiramente. Dessa maneira, a deciso de se gastar com o combate de qualquer praga pode ser facilmente tomada se for conhecido um valor ou um limite nos prejuzos que a referida praga pode causar ou j esta causando e mais o custo do combate. Este valor, ou este limite, conhecido como Nvel de Dano Econmico, ou simplesmente NDE. Entende-se como NDE quantidade de insetos de uma dada praga, em condies de provocarem prejuzos cujo valor equivalente ao valor das despesas que sero gastas para o seu combate. Por Combate entende-se a aplicao direta de qualquer tcnica que sirva para eliminar a presena da praga na floresta, nas rvores ou em seus produtos. J o termo Controle refere-se ao uso de vrias tcnicas de combate no sentido de eliminar a praga. O controle d nfase apenas em matar os insetos sem levar em considerao as conseqncias ou efeitos colaterais do uso das tcnicas de combate.

    Um novo conceito, filosoficamente mais adequado, est sendo usado atualmente no sentido de dar nfase necessidade de conviver harmoniosamente com a praga: trata-se do Manejo Integrado de Pragas (=MIP) que significa o uso racional de todas as possveis tcnicas de combate s pragas, visando reduzir os prejuzos causados por elas somente at os nveis aceitveis (=um pouco abaixo do NDE) sem causar efeitos colaterais expressivamente deletrios ao homem ou ambiente. 2 TCNICAS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS FLORESTAIS

    Antes do advento dos inseticidas qumicos, as tcnicas de combate aos insetos eram simples e prticas. Elas podiam ser do tipo barreiras que impedem o avano dos insetos, a catao e destruio manual dos mesmos, queima de material que j estivesse atacado e uso de armadilhas apropriadas para capturar os insetos florestais. Diversas tcnicas empricas, mas comprovadas pela experincia do povo, so funcionais e podem ser usadas para resolver muitos problemas. A sabedoria popular e a vivncia do homem do campo so virtudes que precisam ser consideradas pelo Engenheiro Florestal na sua prtica entomolgica.

    Tais tcnicas comuns de combate direto aos insetos podem ser agrupadas em Tcnicas de Catao, Tcnicas do Uso de Barreiras e Tcnicas Fsicas. Elas so altamente

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    promissoras quando aplicadas em pequena escala, de maneira artesanal, como em rvores isoladas, mveis ou peas de madeira, pequenos parques ou jardins, pequenas serrarias, depsitos ou pequenos armazenamentos e outras situaes mais simples. Em certos casos o uso da tcnica em larga escala possvel, mas pode requerer muita mo-de-obra e resultar em altos custos. 2.1 TCNICA DE CATAO

    A catao, como tcnica de combate a pragas, consiste em localizar e destruir, manualmente, os insetos que esto causando os prejuzos. Esta tcnica pode ser usada em focos pequenos, ou onde houver poucos insetos, ou onde a mo-de-obra for barata, ou onde houver riscos evidentes no uso de produtos qumicos, ou onde os insetos forem grandes ou, ainda, onde se apresentarem em colnias de fcil recolhimento. A catao manual de lagartas em canteiros de mudas, de ovos e larvas nas copas das plantas, de besouros desfolhadores de plantas novas e o esmagamento de larvas broqueadoras ou de colnias de pulges nas folhas so prticas que encontram aplicao em locais onde os insetos so de fcil acesso.

    O uso rotineiro da catao manual de lagartas-rosca e de grilos em canteiros e recipientes de mudas resulta em controle to satisfatrio para estas pragas de viveiro quanto o uso de inseticidas qumicos. A catao manual de mariposas fmeas que se abrigam nos troncos das rvores durante o dia e de suas posturas j foi experimentada com sucesso no combate praga conhecida como Thyrinteina arnobia. Neste caso, as mariposas so esmagadas ou recolhidas em sacolas para serem enterradas; o rendimento desta operao da ordem de um hectare/homem/dia e resulta na no propagao da praga a partir do local combatido. A mesma tcnica pode ser usada na coleta de lagartas e massas de ovos que se abrigam vista nas partes baixas das rvores. A destruio direta de tanajuras e de ninhos novos de formigas cortadeiras, quando feita em pequena escala, altamente eficiente e adequada para pequenos silvicultores. 2.2 TCNICAS DO USO DE BARREIRA

    O uso de barreiras consiste em colocar um obstculo entre o inseto e as rvores ou os seus produtos. Ela tem encontrado grande aplicao em rvores isoladas, pequenos viveiros, canteiros, reas experimentais e em reas urbanas.

    O uso de bacia anelar feita de cimento, cermica ou de pneu, bandagem e cone com adesivo ou com repelente e outros obstculos podem ser adotados quando se deseja impedir o acesso de insetos copa das rvores, como no caso de formigas cortadeiras e lagartas desfolhadoras que se abrigam no solo. O uso de telados, ou de vidraas, pode ser adotado em canteiros, viveiros e casas-de-vegetao com grande eficincia para prevenir a ocorrncia de pragas porque promove o completo isolamento das rvores l cultivadas. A simples manuteno de uma faixa limpa no terreno ao redor do viveiro inibe o acesso de lagartas-roscas e de grilos, os quais s se refugiam em locais sujos. Por outro lado o sub-bosque presente na floresta evita o pouso de tanajuras e, assim, diminui e reinfestao de formigas cortadeiras. Nos caso em que se transportam madeiras atravs de cursos d'gua, manter as peas submersas na gua uma forma de proteo contra o ataque de insetos broqueadores. A pintura de peas de madeira com tintas plsticas protege contra a incidncia de carunchos e de cupins porque os primeiros s ovipositam em poros abertos da madeira e os cupins s se instalam em furos e reentrncias desobstrudos. Em armazenamento, a proteo contra gorgulhos em sementes pode ser totalmente conseguida

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    se tais sementes forem acondicionadas em embalagens que impedem o acesso destes insetos. 2.3 TCNICA DA MANIPULAO DO CALOR

    A manipulao do calor como fator fsico ambiental permite controlar insetos atravs das possibilidades da elevao e abaixamento da temperatura visando atingir nveis fatais (acima de 48oC ou abaixo de -5oC) ou perodos de exposio trmica que induzem morte ou paralisao do desenvolvimento do inseto. Para que haja morte necessrio levar em conta a intensidade e o tempo de exposio do calor usado porque nveis aparentemente no deletrios podem ser fatais se aplicados por tempo suficientemente longo.

    O uso do calor solar para secagem de frutificaes mata os ovos e as larvas de gorgulhos das sementes. O uso de estufas secadoras (45-60oC) de madeiras em fbricas de mveis suficiente para eliminar insetos em qualquer fase, no interior das peas, pela ao prolongada de temperatura elevada combinada com a desidratao da madeira.

    A retirada do calor ambiental como se faz nas cmaras-frias, mata ou retarda o desenvolvimento dos insetos destruidores de sementes. Temperaturas que retardam a multiplicao de pragas j representam um grande benefcio na diminuio da quantidade de insetos ao longo do armazenamento. Associando-se a isto o uso de embalagens que funcionem como barreira, a infestao pode ser totalmente evitada. 2.4 TCNICA DO USO DO FOGO

    O fogo controlado medida obrigatria no combate a insetos que se desenvolvem em materiais descartveis, como peas de madeiras carunchadas, galhos cortados por besouros serradores e resduos imprestveis nas serrarias. Tais materiais funcionam como focos de multiplicao e de disseminao de insetos daninhos.

    Na preparao do terreno em reas infestadas por formigas cortadeiras, onde a vegetao natural dificulta a localizao das colnias, o uso do fogo controlado evidencia a presena dos ninhos ativos o que permite aumentar a eficincia do combate qumico. 2.5 - TCNICAS DE MANIPULAO DA UMIDADE

    A manuteno de alta umidade nos produtos florestais, normalmente, favorece a ocorrncia de fungos os quais promovem a degradao do material lenhoso cuja fermentao produz odores que atraem besouros broqueadores e cupins subterrneos. Por outro lado, madeiras muito secas, mas no tratadas preventivamente, favorecem a ocorrncia dos cupins-de-madeira-seca e de carunchos. A secagem rpida deve ser usada para impedir a ocorrncia de besouros broqueadores em madeiras empilhadas, como em tbuas e vigas armazenadas em depsitos de produtos florestais. A secagem ao sol a melhor e mais prtica tcnica para matar os carunchos e outras brocas que se desenvolvem nas sementes florestais.

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    2.6 TCNICA DO USO DA LUZ

    Consiste em utilizar faixas de radiaes luminosa (300 a 770nm) que apresentam alta atratividade para os insetos, especialmente os noturnos, dispostas em armadilhas capazes de captur-los imediatamente. Para que funcionem necessrio colocar uma substncia mortfera no interior do dispositivo de armazenamento das coletas. As melhores lmpadas so as fluorescentes de luz ultravioleta (300-450nm), utilizadas em armadilhas luminosas.

    As armadilhas luminosas s podem ser usadas no combate a insetos adultos e que voam noite, limitadamente em reas pequenas como viveiros de produo de mudas, jardim clonal ou pequenos reflorestamentos. Para formas jovens, como lagartas, por exemplo, e em reas extensas ou sem fontes de energia eltrica, a sua utilizao fica inviabilizada na prtica. A existncia de armadilhas luminosas que utilizam baterias de veculos ou painis fotovoltaicos como fonte de energia pode ser uma soluo vivel para aplicao em locais onde energia eltrica convencional no est disponvel. H registros de uso de lampies a gs de cozinha, com adequada eficincia na coleta de lepidpteros, em surtos populacionais ocorrentes em reflorestamentos. 2.7 TCNICA DO USO DA ENERGIA RADIOATIVA

    Esta j uma tcnica sofisticada para o combate comum de pragas florestais por que envolve o uso de equipamentos especiais s utilizveis em programas muito restritos. radiao ionizante pode ser empregada na esterilizao de produtos florestais infestados por insetos, especialmente quando os mesmos esto no interior de peas de madeira. Neste caso, aplica-se uma carga de radiao suficiente para matar os insetos. Esta tcnica no deixa resduos, mas, por conseqncia, no impedir a reinfestao do produto tratado.

    Outra maneira de usar a energia radioativa conhecida como Tcnica do Macho Estril - TME e consiste em aplicar uma adequada dosagem de radiao em machos da praga, visando a sua esterilizao reprodutiva. Tais machos devem ser liberados, em grandes quantidades, na populao natural onde passam a competir sexualmente com machos normais. A conseqncia que a expressiva presena destes machos resulta na reduo imediata de novas geraes por causa dos acasalamentos estreis. No h precedentes importantes que sirvam para ilustrar sua aplicao no manejo de pragas florestais no Brasil.

    Uma recente maneira de usar a energia radioativa est sendo desenvolvida no sentido de induzir, por mutao, a presena de genes deletrios em insetos criados nos laboratrios. Tais mutantes so liberados no campo visando transmitir estes genes aos insetos da populao natural e, assim, causar a morte dos descendentes e a conseqente reduo populacional. 2.8 TCNCAS DO USO DE INIMIGOS NATURAIS - (Combate Biolgico =

    Controle Biolgico)

    Florestas artificiais so aquelas que foram plantadas pelo homem ou esto, de alguma forma, sendo alteradas pela ao antrpica. Por conseqncia, florestas naturais so aquelas em que o homem no provocou qualquer alterao. Em ambos os casos, ocorre uma complexa relao entre o potencial de reproduo dos organismos vivos e a resistncia que os fatores ambientais oferecem sobrevivncia de seus descendentes. Tal

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    inter-relacionamento resulta na estabilizao da quantidade de organismos vivos no ambiente ao longo do tempo (=NE) e constitui a razo pela qual no muito comum ocorrerem superpopulaes de insetos (acima do NDE) em florestas naturais. A este fenmeno da natureza se convencionou chamar de EQUILBRIO BIOLGICO NATURAL e foi descrito, pioneiramente, por Charles Darwin (1809-1882).

    O mais importante fator de resistncia ambiental sobrevivncia dos insetos constitudo pelos seus inimigos naturais. Assim, o combate biolgico consiste em usar tcnicas de manipulao dos predadores, parasitos, patgenos e competidores dos insetos no sentido de manter as pragas florestais em densidades populacionais tolerveis, ou seja, abaixo do NDE. Essa tcnica de manejo das pragas tem como objetivo o de recuperar mecanismos naturais de equilbrio biolgico natural, perdidos ao se provocar alteraes no ambiente pela implantao das culturas florestais.

    O uso de inimigos naturais vantajoso porque eles no causam alteraes indesejveis no ambiente, quando usados adequadamente. Cada praga tem um grupo de inimigos naturais e o uso de qualquer um deles no apresenta grandes riscos de ao deletria sobre outras espcies de seres vivos.

    Por outro lado, as tcnicas do mtodo biolgico apresentam limitaes uma vez que os seus efeitos so muito lentos no ambiente o que as tornam completamente ineficiente nos casos de surtos populacionais onde a ao imediata necessria para evitar o aumento nos danos causados pela praga. Apresenta, tambm, um custo inicial altssimo devido dificuldade para gerar a tecnologia de uso do inimigo natural. Muitas vezes, isto requer o estudo da biologia da praga e, ainda, a de um hospedeiro alternativo, bem como das condies ambientais que afetam a sobrevivncia do inimigo natural. Qualquer aplicao de combate biolgico s funciona bem em ecossistemas perenes ou onde os tratos silviculturais no comprometem a estabilidade populacional dos inimigos naturais. 2.8.1-AGENTES DE COMBATE BIOLGICO

    Os seguintes organismos constituem os agentes que podem promover o combate biolgico de pragas florestais. a)-PREDADORES

    Predadores so aqueles organismos que necessitam de comer vrios indivduos da espcie hospedeira para, assim, poderem sobreviver. Eles podem ser especficos como o besouro Canthon que s come tanajuras e s na poca da revoada ou como as joaninhas que s se alimentam de pulges; podem, ainda, serem inespecficos como o louva-a-deus e as aves que se alimentam de quase todos os outros insetos.

    As aranhas, predadoras inespecficas, constituem inimigos naturais de grande relevncia pela capacidade em colonizar os novos ecossistemas. Muitas espcies de caros so de grande importncia na predao de insetos daninhos merecendo ateno os das famlias Phytosseidae, Trombididae e Hemisarcoptidae. Seu uso tem sido limitado manuteno das condies ambientais para o seu desenvolvimento.

    Entre os vertebrados, predadores so constitudos pelas aves, morcegos, ratos, tamandus, marsupiais, rpteis, anfbios e outros organismos superiores que usam os insetos em suas dietas durante pelos menos uma fase de suas vidas. Este tipo de agente de combate biolgico , geralmente, inespecfico, entretanto, bem conhecida a ao de tatus sobre cupins e formigas, a de tamandus sobre os cupins e a de morcegos sobre lepidpteros noturnos. As aves se constituem no mais importante grupo de predadores de insetos entre os vertebrados devido a sua abundncia e persistente ao em todos os

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    ecossistemas. A utilizao destes agentes de combate feita atravs da manuteno, enriquecimento e preservao de condies ambientais favorveis sua sobrevivncia e multiplicao natural e atravs da restrio caa e captura das espcies importantes. b)-PARASITOS:

    Parasitos so insetos que, para o seu completo desenvolvimento e reproduo, necessitam alimentar-se em apenas um indivduo da espcie hospedeira.

    Os parasitos em que pelo menos uma fase do ciclo biolgico de vida livre so chamados de parasitides e, estes, tm sido os parasitos mais estudados e utilizados no combate biolgico de pragas florestais no Brasil.

    Entre os himenpteros, os parasitides do gnero Trichogramma atacam ovos, os do gnero Apanteles atacam lagartas e os do gnero Tetrastichus atacam as pupas de pragas florestais brasileiras. c)-PATGENOS:

    Patgenos so organismos capazes de causarem doenas nos insetos. Eles podem ser constitudos por fungos, vrus, bactrias, protozorios e nematides.

    O uso de fungos entomopatognicos tem oferecido melhores resultados no combate de cochonilhas e cigarrinhas em diversas culturas agrcolas. No campo florestal, o uso de Beauveria bassiana no combate de cupim que atacam rvores e construes de madeira, tem oferecido resultados promissores. Por outro lado, muito comum encontrar insetos florestais, principalmente quando em surtos populacionais, contaminados por este fungo e por Metarrhizium anisopliae. Tais fungos so fceis de serem reproduzidos em laboratrio, mas apresentam exigncias especiais de umidade e temperatura para serem eficientes em aplicaes em nvel de campo.

    As bactrias que produzem esporos tm sido as mais estudadas por permitirem formulaes estveis em armazenamentos. Entre estas, Bacillus thuringienses a espcie de bactria mais estudada e sua formulao comercial constitui a maneira mais fcil de introduzir inimigos naturais no combate de pragas florestais no Brasil. Esta bactria apresenta ao especfica sobre lagartas e no tem nenhum efeito sobre outros animais. Diversas espcies de lagartas desfolhadoras de essncias florestais no Brasil podem ser controladas pelo uso desta bactria que aplicada na forma de pulverizao de um produto comercialmente formulado como p molhvel.

    Os vrus so agentes freqentemente responsveis pelo desaparecimento repentino de grandes surtos de insetos devido facilidade com que se propagam entre os indivduos em superpopulao. So conhecidas mais de 300 espcies de vrus patognicos a insetos e estes so contaminados por ingesto de materiais infectados. As lagartas quando portadoras de virose param de comer, de movimentar e ao final de alguns dias penduram-se pelas pernas abdominais, morrem, ficam bronzeadas ou leitosas e apodrecem rapidamente. A ocorrncia de virose facilmente reconhecvel pela presena de lagartas penduradas nos galhos, ora secas, ora se liquefazendo. Os vrus de maior interesse so as poliedroses, as granuloses e os vrus de partculas livres. O uso de vrus no combate de insetos pode ser feito atravs da macerao de lagartas mortas que so misturadas em gua e pulverizadas sobre a rea com nova infestao, mas isto requer estudos cientficos que comprove sua inocuidade ao homem e outros animais.

    Diversas espcies de nematides vivem obrigatoriamente no interior do corpo de insetos conhecidamente pragas. O uso de nematides apresenta fortes restries devido s exigncias de condies muito especficas de temperatura e de oxigenao para que possam atuar eficientemente, mas eles apresentam as vantagens de no serem afetados, facilmente, por inseticidas comuns, de serem facilmente produzidos em laboratrios e de

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    no serem patognicos a outros animais. No Brasil, o nematide Deladenus siricidicola est sendo usado intensivamente no combate da "vespa-da-madeira" (Sirex noctilio) que foi introduzida nas plantaes de Pinus da regio sul. Este nematide esteriliza as fmeas das vespas em nveis de at 70% dos hospedeiros. d)-COMPETIDORES:

    Os competidores so aqueles organismos que competem pelo uso de algum fator de sobrevivncia, importante para a espcie hospedeira. Os prprios insetos constituem o grupo mais importante de agentes competidores das pragas.

    Esse grupo de inimigos naturais tem recebido pouca ateno por parte dos pesquisadores na rea de Entomologia Florestal do Brasil. interessante ressaltar que diversas espcies de formigas devem desempenhar um papel predominantemente competidor e no propriamente predador de pragas florestais. Pesquisadores sugerem a existncia de competio entre as formigas cortadeiras dos gneros Atta (Savas) e Acromyrmex (Quenqum) relacionada com a utilizao de recursos vegetais e a luta entre colnias so relativamente comum nos locais muito infestados por savas. O manejo apropriado de certas espcies de formigas, como de Azteca e Dolichoderus, uma opo que precisa de maiores estudos. 2.8.2-COMO PRATICAR O COMBATE BIOLGICO

    Os inimigos naturais podem ser utilizados no manejo integrado de pragas florestais a partir da conservao e melhora do ambiente no ecossistema em que vivem, ou atravs de sua multiplicao em condies controladas ou, ainda, a partir da sua introduo, proveniente de outras regies ou pases. a)-CONSERVAO E MELHORA DO AMBIENTE

    A manuteno das condies ambientais adequadas reproduo, alimentao e refgio dos inimigos naturais nativos constitui a forma mais prtica e mais simples de usar o mtodo biolgico contra os insetos daninhos.

    Essa adequao comea com o preparo do terreno, deixando-se ilhas ou faixas de vegetao natural com o propsito especfico de manter condies originais de sobrevivncia das espcies de inimigos naturais teis floresta implantada.

    A escolha das essncias florestais deve ser feita dentro de um critrio diversificador onde vrias espcies de rvores devem ser eleitas no lugar de uma monocultura florestal. A possibilidade de consorciar as essncias florestais com um sub-bosque no-competitivo, certamente, ir favorecer o desenvolvimento de maior diversidade especfica entre os herbvoros e, portanto, de inimigos naturais.

    A restrio s prticas agressivas ao ecossistema uma tcnica que visa preservar o ambiente favorecendo a sobrevivncia e multiplicao natural dos agentes que promovem o combate biolgico. O uso do fogo uma prtica extremamente agressiva aos inimigos naturais que vivem no sub-bosque da floresta e s pode ser tolerado em situaes especiais e sob condies bem controladas. O uso de agrotxicos (fungicidas, inseticidas, herbicidas, etc.), em especial os de largo espectros de ao, s pode ser autorizado em ocasies tecnicamente excepcionais e atravs do Receiturio Agronmico. A prtica de evitar a caa de animais, especialmente de aves, incentivada atravs de educao, campanhas, placas de advertncia e vigilncia permanente, complementam o conjunto de tcnicas necessrias

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    manuteno de condies adequadas ao desenvolvimento natural dos inimigos das pragas em florestas. b)-MULTIPLICAO EM CONDIES CONTROLADAS

    Quando as populaes de inimigos naturais no se desenvolvem suficientemente at o ponto de promoverem o combate natural dos insetos daninhos ou quando se esgotam as possibilidades de melhorar as condies para tal finalidade, ento deve-se selecionar certos inimigos naturais nativos no ambiente para serem multiplicados em laboratrios e posteriormente liberados, de forma inundativa, nos locais onde se forem necessrios. Para tal necessrio um amplo programa de seleo dos possveis inimigos, estudo completo de sua biologia e de suas relaes com a praga, de desenvolver satisfatria tcnica de multiplicao e de acompanhar sua ao aps a liberao nas condies de campo. Diversos inimigos naturais como parasitides (Trichogramma spp., por exemplo), predadores (Podisus spp., p. ex.) e patgenos (fungo Beauveria bassiana, p. ex.) tm sido objetos de intensa pesquisa com esta finalidade. c)-INTRODUO DE INIMIGOS NATURAIS EXTICOS

    Quando os agentes nativos no oferecem possibilidades concretas de uso, deve-se importar inimigos naturais de outras regies (outras florestas, ou de outros municpios, estados, pases ou at de outros continentes). Nesse sentido, a coleta e transporte de insetos daninhos de um local onde eles esto muito parasitados para focos onde o parasitismo pequeno ou a transferncia direta de predadores de um local para outro so prticas de introduo de inimigos naturais em uso. A bactria Bacillus thuringiensis, importada dos Estados Unidos e cuja formulao facilmente encontrada no comrcio do Brasil, muito usada no combate de lagartas em florestas brasileiras.

    Quando alguma praga importante for introduzida a partir de outro pas, ou de outro continente, a melhor opo introduzir, tambm, os seus inimigos naturais ou aquele inimigo natural que for mais promissor. A este processo se denomina de Controle Biolgico Clssico. justamente o que est sendo aplicado no combate Vespa-da-madeira Sirex noctillio (Hymenoptera: Siricidae) nos reflorestamentos de pinus, no sul do Brasil. Como tal vespa proveio da Austrlia, o uso do nematide Deladenus siricidicola, importado tambm da Austrlia, constitui uma realidade em termos prticos de controle biolgico no manejo integrado de pragas florestais no Brasil. 2.9 TCNICAS DE MANIPULAO DO COMPORTAMENTO - (=Controle

    Etolgico=Controle Comportamental)

    Os pesquisadores Karl Von Frisch e Konrad Lorenz, austracos, e Nikolas Tinbergen, holands, ao fazerem estudos comparados do comportamento entre diversas espcies de animais, ganharam o prmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1973 por terem criado uma nova cincia, a Etologia. Assim, Etologia foi definida como sendo a cincia que trata do estudo do comportamento dos animais visando sua adaptao s condies do ambiente.

    Entre os componentes comportamentais mais importantes para a adaptao dos animais, a comunicao a que mais se destaca porque permite o relacionamento entre as espcies e viabiliza os mecanismos de defesa, de alimentao e, principalmente, os de reproduo. Entre os animais, os insetos so aqueles que mais dependem do olfato para desempenhar suas funes vitais porque entre eles a comunicao feita atravs de substncias qumicas. Para eles, os odores so necessrios para localizar e selecionar o

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    alimento, para orientar-se em relao ao abrigo, para localizar o parceiro sexual e, em especial nos insetos sociais, para organizar as atividades da colnia incluindo os processos de defesa e de marcao do territrio.

    Os seres vivos possuem certas substncias qumicas que funcionam como mensageiras de informaes biologicamente importantes; entre clulas de um organismo, por exemplo, a transmisso de mensagens efetuada pelo RNA-mensageiro. Substncias que atuam como mensageiras dentro do corpo de cada animal so chamadas de hormnios. Substncias que atuam como mensageiras entre indivduos so chamadas de semioqumicos e podem ser divididas em feromnios (semioqumicos de ao intraespecifica) e aleloqumicos (semioqumicos que atuam entre organismos de espcies diferentes). As possibilidades tcnicas de manipulao destas substncias, visando o manejo integrado de pragas, esto em franca expanso devido aos grandes projetos de pesquisas que esto sendo desenvolvidos em todo o mundo, como alternativas dependncia de substncias inseticidas. 2.9.1- HORMNIOS

    Estas so substncias produzidas por glndulas internas e lanadas diretamente na hemolinfa do inseto para causar reaes especficas em alguma parte do corpo do prprio animal. A rea de maior interesse cientfico tem sido a dos hormnios relacionados com o fenmeno da ecdise visando retardar o desenvolvimento dos insetos e, por conseqncia, o alcance fase adulta. Assim possvel alongar o ciclo de vida, retardar a ocorrncia da reproduo e desacelerar o aumento populacional da praga tratada.

    O hormnio conhecido como ecdisnio o mais estudado, entretanto os resultados tm sido direcionados para a produo de substncias qumicas anlogas a este hormnio e que so capazes de alterar o processo de deposio de quitina na nova cutcula do inseto, levando-o morte. O exemplo mais comum o Diflubenzuron cuja aplicao contra lagartas desfolhadoras e formigas cortadeiras em florestas provocam rupturas do tegumento e mortes dos insetos tratados. Tais substncias, entretanto, podem ser enquadradas como inseticidas qumicos cujos efeitos nem sempre so to desejveis. O Diflubenzuron, todavia, considerado como produto de baixo impacto ambiental e seu uso comercial contra pragas florestais uma realidade no Brasil. 2.9.2-FEROMNIOS

    Os feromnios so substncias produzidas por glndulas especiais dos insetos para serem liberados no ambiente, onde tm a finalidade especfica de causar reaes comportamentais ou fisiolgicas em outros indivduos da mesma espcie. Portanto, estas substncias so volteis e excretadas pelo organismo emissor para provocar uma resposta especfica, imediata ou de efeito retardado, nos indivduos receptores. Ocorrncias de feromnios j foram constatadas em centenas de espcies de insetos de quase todas as ordens taxonmicas. Eles so produzidos em pequenas quantidades, mas so extremamente potentes. No caso do bicho-da-seda, o feromnio sexual da fmea pode agir sobre os machos mesmo concentrao de 10-15 gramas/litro de ar. Os cientistas gastaram cerca de vinte anos para isolar, identificar e sintetizar este primeiro feromnio de insetos o qual foi batizado com o nome de BOMBICOL.

    Uma das grandes dificuldades em estudar os feromnios reside, justamente, no fato deles serem produzidos em quantidades muito pequenas. Para produzir uma gota do

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    feromnio da mariposa cigana, praga de florestas em regies de clima temperado, foram necessrios 500.000 abdomens de fmeas virgens. Com esta quantidade de feromnio natural foi possvel identificar o componente ativo, sintetiz-lo e produzi-lo industrialmente; hoje ele comercializado com o nome de GYPLURE. Existe, ainda, o FRONTALIN para o besouro broqueador de casca de conferas (Dendroctonus frontalis), o SERRICORNIN para o besouro de museus, bibliotecas e de frutificaes florestais (Lasioderma serricorne) e outros feromnios desenvolvidos para o combate exclusivo de pragas florestais em vrios pases.

    Os feromnios mais importantes so os que desencadeiam mudanas comportamentais imediatas nos insetos receptores como os feromnios sexuais, de agregao, de disperso, de alarme, de territorialidade, de trilhas e os de oviposio. 2.9.2.1-FEROMNIO SEXUAL

    Este tem sido o mais estudado e o seu uso no manejo de pragas uma realidade mundial. Ele produzido por insetos de um sexo visando atrair o outro para a cpula. Normalmente so as fmeas quem o produz, mas em certas espcies os machos os produzem e, assim, atraem as fmeas aptas para a reproduo. Os feromnios sexuais so utilizados no manejo de pragas visando os seguintes propsitos: a)-MONITORAMENTO:

    O feromnio sexual colocado em armadilhas apropriadas onde os insetos so atrados e capturados. A contagem destes insetos permite construir curvas de flutuao populacional utilizadas na tomada de deciso sobre a poca mais adequada para aplicar o combate. Isto permite racionalizar o custo de aplicao e reduzir as interferncias no ambiente. Como tcnica de monitoramento, o feromnio serve ainda para detectar a presena de insetos que ainda no foram constatados na regio e assim, permitir o melhor conhecimento da fauna local ou ajudar no controle de pragas introduzidas de outras regies.

    O levantamento e o monitoramento de pragas florestais na Europa e Amrica do Norte tm sido quase que exclusivamente baseado no uso amplo de armadilhas de feromnios. A ocorrncia e distribuio dos machos da mariposa Lymantria dispar, por exemplo, tem sido observada por meio de armadilhas de feromnios, de modo a fornecer subsdios para a determinao da poca de aplicao de inseticidas. A mariposa L. monarcha, praga florestal na Europa, atrada pelo mesmo feromnio sinttico sendo o produto utilizado na investigao da atividade de vo do referido inseto na Sua e na Austrlia. Em florestas canadenses, armadilhas de feromnios para a deteco de Choristoneura fumiferana tem sido empregadas para indicar as futuras densidades de lagartas. Armadilhas de feromnios tambm tm sido empregadas em estudos de Zeiraphera diniana, praga de florestas subalpinas da Sua e Tchecoslovquia. Quanto utilizao de armadilhas de feromnios no monitoramento dos colepteros bloqueadores, poucos estudos tem sido realizados em nvel de campo, apesar do conhecimento existente sobre a qumica dos feromnios de espcies de Dendroctonus e de Ipis. Neste caso, so vrias as dificuldades para a estimativa dessas populaes, prestando-se as armadilhas de feromnios apenas como instrumentos de levantamento das espcies destes insetos. b)-COLETA MASSAL:

    Nesta modalidade de uso, armadilhas em quantidade suficiente so colocadas no ecossistema florestal para coletar grandes quantidades do inseto-praga, visando diminuir a

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    sua densidade populacional na floresta. As armadilhas mais utilizadas so feitas com papel impermeabilizado ou com folhas plsticas, em forma de telhado, revestido internamente por uma camada de cola especial (no seca e inodora) na qual so aprisionados os insetos atrados por uma pequena poro de feromnio. O uso para a coleta massal s funciona quando a rea de ao restrita ou quando a populao se encontra em baixa densidade. c)-CONFUNDIMENTO:

    Neste caso o feromnio sinttico pulverizado em grande quantidade na floresta, de forma a impregnar todo o ambiente e causar desorientao generalizada nos insetos aptos para a cpula. O resultado final a diminuio da quantidade de acasalamento e, por conseqncia, reduo na densidade populacional da gerao seguinte. 2.9.2.2-FEROMNIO DE AGREGAO

    produzido com a finalidade de atrair outros insetos da mesma espcie para um determinado local. Em alguns insetos como baratas e gafanhotos, ambos os sexos produzem esta substncia que mantm os indivduos reunidos numa mesma localidade. No besouro broqueador de cascas Ips confusus, praga florestal de conferas em pases de clima temperado, o feromnio de agregao produzido pelo epitlio da poro terminal do intestino e incorporado s fezes. Quando um destes besouros encontra uma boa rvore para forragear, comea a defecar e o feromnio eliminado atrai a populao voante para aquele local. Neste caso o propsito reunir machos e fmeas em torno de uma fonte segura de alimento e abrigo. Exemplos comerciais deste tipo de feromnio so as disponveis formulaes base de Rhyncophorol, Serricornim e Frontalim. 2.9.2.3-FEROMNIO MARCADOR DE TRILHA

    So substncias produzidas por insetos sociais visando marcar folhas, pedras, paus, solo e outros elementos naturais para servirem como indicadores do caminho ou direo de fontes adequadas para o forrageamento. Para ilustrar basta citar o caso das formigas que marcam as suas trilhas de forrageamento de forma que todas as companheiras possam desempenhar suas atividades sem perderem o caminho entre a fonte de forrageamento e a colnia. As savas e as quenquns so exemplos tpicos de formigas que utilizam o feromnio marcador de trilhas em reas florestais. 2.9.2.4-FEROMNIO DE ALARME

    Este tipo de substncia semioqumica tem a funo de alertar os indivduos da colnia sobre a aproximao de inimigos ou sobre a iminncia de perigos. A sua produo est, geralmente, associada de outras substncias de defesa como acontece nas abelhas e formigas. Nas formigas o cido frmico que funciona como feromnio de alarme e nas abelhas a produo deste tipo de feromnio est associada glndula de veneno no ferro. Feromnios de alarme so muito comuns em insetos sociais e so extremamente volteis o que permite sua rpida deteco entre os membros da colnia, nos casos de perigo.

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    2.9.3-ALELOQUMICOS

    Estas substncias semioqumicas so conhecidas como alomnios, cairomnios e sinomnios. a)-ALOMNIOS:

    So substncias que ao serem liberadas no ambiente conferem vantagens adaptativas ao organismo que as emite. Seu uso se baseia em tirar proveito de substncias com efeitos repelentes visando evitar que os insetos aproximem das rvores ou seus produtos, que forem tratadas. o caso do uso do leo de cedro, do pinosilvin e do creosoto, como repelentes a cupins de madeira. b)-CAIROMNIOS:

    So substncias que uma vez lanadas no ambiente funcionam como mensagens olfativas entre espcies e conferem vantagens adaptativas para os organismos receptores. Neste caso, seu uso se baseia na aplicao de substncias que atraem os insetos para um local especfico onde uma outra tcnica de combate deve estar associada. Assim, o uso de etanol, tipo de lcool produzido pela casca de rvores em processo de secagem, em armadilhas apropriadas permite atrair e capturar diversas espcies de besouros broqueadores de tronco.

    O uso de atraentes como o leo de soja ou o leo de casca de laranja, associados a inseticidas qumicos na forma de iscas granuladas, atraem e promovem a morte de formigas cortadeiras, como as savas, quenquns e outras formigas do ecossistema florestal. c)-SINOMNIOS:

    So substncias que funcionam como mensagens olfativas entre espcies e so capazes de conferirem vantagens adaptativas tanto para o organismo emissor como para os organismos receptores. Os sinommios constituem um grupo de substncias ainda mal estudadas. 2.10 TCNICA DE RESISTNCIA AO ATAQUE DOS INSETOS

    um mtodo de manejo integrado a pragas que consiste em utilizar espcies, procedncias ou clones de essncias florestais cujas rvores, ou produtos, so menos danificados pelos insetos. O uso de rvores que apresentam alguma resistncia ao ataque de insetos a alternativa de combate mais promissora que existe para o entomologista florestal. Este mtodo dispensa qualquer conhecimento por parte do silvicultor, no acarreta qualquer nus de aplicao, permite conviver com as pragas, no interfere em outras prticas silviculturais, no h restries de uso e dispensa qualquer outro tipo de interferncia adicional no ecossistema. Entretanto, a obteno de um material resistente pode, s vezes, levar muito tempo e quando usado inadequadamente pode perder sua resistncia em funo da adaptao de certos bitipos da praga.

    Diz-se que resistente a insetos, qualquer essncia florestal cuja carga gentica permite que sua finalidade seja menos prejudicada do que a de outras essncias florestais, em igualdade de condies. Por outro lado, entende-se como susceptvel aquela essncia florestal cuja finalidade sofre mais prejuzos, nas mesmas condies. As essncias florestais resistentes podem, ainda, serem divididas em altamente resistentes, moderadamente resistentes e altamente susceptveis dependendo da diferena em relao

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    mdia geral dos prejuzos observados. Existem essncias florestais cujas rvores no so atacadas e, portanto, no apresentam qualquer injria relacionada ao inseto sendo, neste caso, considerada como imune ao mesmo. A manifestao da resistncia ao ataque de insetos depende, ainda, das condies ambientais que regulam a expresso das caractersticas fenotpicas das rvores. Por causa disso, qualquer essncia florestal pode ser resistente a uma dada espcie de praga e no o ser a outra, ser numa determinada idade, numa certa poca do ano, num tipo de solo, numa dada temperatura, numa regio, ou numa condio qualquer e no o ser em outra.

    Os lavradores do Estado de So Paulo acreditam que os eucaliptos depois de dois ou trs anos de idade ficam resistentes s savas e que se ocorre algum prejuzo ele to baixo que no justifica qualquer despesa com combates. A resistncia de diversas espcies de Eucalyptus ao ataque de savas j foi pesquisada e como espcie altamente resistente a elas encontrou-se Eucalyptus nesophila e E. cloeziana (Procedncia 9785). Isto j suficiente para evidenciar a possibilidade de se utilizarem espcies-procedncias de Eucalyptus resistentes no manejo integrado deste grupo de pragas. A resistncia do eucalipto a lagartas desfolhadoras, tambm, j foi estudada e constatou-se que E. camaldulensis altamente resistente ao desfolhamento por Thyrinteina arnobia o que desencadeou o seu uso em larga escala nos reflorestamentos do Brasil. Consta que entre os eucaliptos existem espcies mais atacadas e outras menos pelo besouro desfolhador Costalimaita ferruginea. O inseto tem preferncia por C. citriodora, mas ataca outras espcies e as rvores que mais sofrem com os ataques deste besouro so os eucaliptos e as goiabeiras.

    Com base nos diferentes mecanismos que as essncias florestais apresentam para evitarem o ataque dos insetos, pode-se classificar a resistncia em vrios tipos, como a seguir. 2.10.1-ANTIXENOSE

    Nesse tipo de resistncia, tambm referido como "No-preferncia", as essncias florestais, ou seus produtos, so menos danificadas pelos insetos por que elas no apresentam condies melhores para a alimentao, refgio e/ou reproduo do inseto, do que outras espcies florestais disposio. Dessa maneira, necessrio que o inseto tenha chance de escolha, entre as diversas rvores ou seus produtos, para que as mesmas possam expressar sua resistncia ou susceptibilidade.

    H certas caractersticas na essncia florestal que funcionam como estmulos orientadores do comportamento do inseto durante o processo de procura, teste e uso definitivo da rvore hospedeira. Essas caractersticas podem funcionar distncia como acontece com os odores, as cores e as formas e, nestes casos, so chamadas de atraentes ou repelentes. Odores que beneficiam os insetos atraindo-os para as rvores so ditos "Cariomnios", j os odores repelentes e que s beneficiam as rvores que os emitem so ditas "Alomnios". A presena exclusiva de certo alomnio orienta o inseto para longe da essncia florestal e o contrrio ocorre com o cariomnio; a situao mais comum a presena dos dois tipos de odores e a atrao ou repelncia ocorre em funo da dominncia de um sobre o outro. rvores em processo de morte ou madeiras em secagem exalam diversos tipos de lcoois capazes de atrarem, distncia, os broqueadores. rvores que produzem mais etanol atraem mais besouros broqueadores do que aquelas que no o produz. Algumas espcies de mariposas so capazes de localizarem seus hospedeiros, atravs das diferentes faixas de luz infravermelha emitida pelo vegetal, durante noite. Os

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    insetos diurnos, como borboletas, utilizam diferentes espectros da cor verde para o mesmo propsito, mas outros utilizam faixas do amarelo, como o caso de cigarrinhas e trips.

    Uma rvore que se comportar como atraente para certo inseto , num segundo estgio, testada pelo mesmo atravs do comportamento conhecido como Picada de prova, visando alimentar-se, refugiar-se ou encontrar condies apropriadas para a reproduo. Os estmulos que afetam o inseto no momento da "picada de prova" so conhecidos como Incitantes ou Supressores. Os primeiros so constitudos pelas caractersticas da rvore que induzem o inseto a insistir no teste da rvore hospedeira; o estmulo supressor inibe tal comportamento. Caractersticas supressoras podem ser constitudas pela presena de abundante pilosidade, excessiva rigidez dos tecidos, superfcies muito lisas, dimenses inadequadas ao inseto, exposio excessiva luz solar, presena de ceras, ltex, resinas e outras capazes de desestimularem a tentativa do inseto em adotar o hospedeiro como o mais adequado. As rvores de seringueiras so muito atraentes s savas que consomem as suas folhas velhas, mas o ataque s brotaes no significativo porque as formigas cortadeiras ficam logo coladas no ltex que exsuda imediatamente aps a picada nas novas folhas. Dessa maneira, seringueiras podem ser resistentes numa poca do ano e no o ser na poca em que todas as folhas esto maduras.

    Estimulantes e deterrentes so caractersticas que agem como estmulos tercirios no sentido de permitirem ou no a conquista definitiva da essncia florestal como hospedeira do inseto. Qualquer inseto pode ser eficientemente atrado por um hospedeiro e incitado a atac-lo, mas terminar atacando outro completamente diferente porque o mesmo se revelou inadequado para a alimentao, por exemplo. A presena de altas concentraes de aminocidos nas folhas de rvores dominadas favorece a sobrevivncia de lagartas desfolhadoras; tais rvores so as primeiras a serem desfolhadas dentro de um povoamento de eucalipto. Altos teores de acares na seiva so caractersticas altamente estimulantes para a imediata colonizao de partes tenras das rvores por pulges sugadores. 2.10.2-ANTIBIOSE

    um tipo de resistncia caracterizado pela ao deletria que certas caractersticas da essncia florestal, ou de seus produtos, produzem sobre a biologia do inseto. Tal ao adversa pode estar relacionada com a sobrevivncia dos jovens, fertilidade dos adultos, fecundidade das fmeas, tamanho e peso dos insetos, proporo sexual, durao do ciclo de vida e outros parmetros biolgicos importantes para o aumento populacional do inseto.

    As causas que determinam a antibiose podem estar relacionadas com a presena de substncias txicas, com a presena de determinados inibidores de crescimento ou com o balano nutricional do vegetal hospedeiro. Em meliceas dos gneros Cedrella, Swietenia e Carapa as novas brotaes atraem, incitam e estimulam as fmeas de Hypsipyla grandella (Lep.: Phycitidae) a depositarem seus ovos. O mesmo acontece com as rvores do Cedro-australiano (Toona ciliata; Meliaceae), mas as lagartas recm-eclodidas morrem ao se alimentarem porque este hospedeiro produz substncias txicas ao inseto. Igual situao ocorre com lagartas de Thyrinteina arnobia (Lep.: Geometridae), quando se alimentam em folhas de Eucalyptus camaldulensis, tornando-o resistente a tal praga dos eucaliptos.

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    2.10.3-TOLERNCIA

    um tipo de resistncia em que a essncia florestal, ou seus produtos, apresenta mecanismos capazes de permitirem a recuperao da rvore injuriada por insetos, sem afetar a quantidade ou qualidade do fim a que se destina e sem exercer qualquer efeito adverso sobre a biologia de tal inseto.

    Esse tipo de resistncia de difcil deteco porque alta infestao de insetos no significa, necessariamente, que vai ocorrer qualquer dano na produo. A expresso da tolerncia est muito relacionada com o vigor do vegetal ou com a qualidade do produto florestal. Uma floresta bem conduzida e nutricionalmente equilibrada perfeitamente capaz de recuperar-se do ataque de desfolhadores, por exemplo, produzindo maior quantidade de folhas novas ou retendo, temporariamente, folhas velhas remanescentes. Na fase de implantao florestal no campo, o ataque de cupim altamente prejudicial sobrevivncia das mudas porque o volume de razes demasiadamente pequeno para alimentar uma colnia destes insetos, mas aps certa idade as novas rvores possuem tantas razes que podem conviver perfeitamente com as populaes de cupins. Na fase de manuteno florestal o volume de folhas que as rvores possuem to grande em relao necessidade de uma colnia de formiga quenqum que o seu combate torna-se desnecessrio, mesmo em alta densidade de colnias na floresta.

    Essncias florestais tolerantes ao ataque de insetos constituem a situao ideal para o Manejo Integrado de Pragas Florestais porque permite a convivncia com os mesmos, no exerce presso no sentido de transformar o inseto em praga, como na antibiose, e favorece o desenvolvimento dos inimigos naturais. 2.10.4-PSEUDO-RESISTNCIA

    H casos em que a essncia florestal, ou seus produtos, menos danificada do que outras em igualdade de condies, mas essa qualidade no transmitida hereditariamente porque trata-se de uma condio temporria decorrente do uso de alguma tcnica silvicultural apropriada ou decorrente de mera casualidade.

    O uso de tcnicas adequadas para induzir condies temporrias de resistncia aos insetos varia em funo da finalidade das rvores, mas podem ser agrupadas, como a seguir: a)-ESCOLHA DAS ESPCIES FLORESTAIS:

    A adoo de espcies ecologicamente adaptadas diminui a vulnerabilidade e aumenta a capacidade de recuperao das rvores. Tem-se observado, paradoxalmente, que o plantio de espcies vegetais nativas apresenta problemas de pragas muito mais srios do que a cultura de essncias florestais exticas.

    sabido que a estabilidade do ecossistema de uma floresta depende, fundamentalmente, da diversidade de espcies vegetais e animais que nele vivem. Nesse sentido, o plantio heterogneo deve exercer grande influncia no manejo das pragas florestais e o estabelecimento de blocos de espcies florestais diferentes apresenta a vantagem de confinar a ocorrncia de surtos, facilitar seu combate e diminuir as perdas decorrentes. A manuteno de um sub-bosque exuberante e no competitivo pode resultar na diminuio populacional de uma praga porque a ao de inimigos naturais impede a sua sobrevivncia.

    Por outro lado, a manuteno de ilhas de vegetao nativa pode, paradoxalmente, funcionar como foco de inoculao de pragas nos plantios. Determinadas plantas

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    funcionam como hospedeiros alternativos e, nesse caso, devem ser eliminadas quando a sua presena favorece a incidncia de pragas. o caso, por exemplo, da ocorrncia de cips que se enrolam nos troncos dos eucaliptos e favorecem a ocorrncia da broca do tronco conhecida como Phassus giganteus (Lep.: Hepialidae). Os principais insetos daninhos aos eucaliptais so espcies que se desenvolvem, naturalmente, em mirtceas nativas.

    Em certos casos, rvores decadentes, frutificaes velhas, cepas no brotadas, galhos broqueados e outros focos de insetos daninhos devem ser recolhidos e eliminados para diminuir a multiplicao de pragas. A existncia de tocos em plantios de eucalipto pode favorecer, por exemplo, a ocorrncia de surto de besouros desfolhadores do gnero Psiloptera, durante o primeiro ano de desenvolvimento de uma nova floresta. b)-POCA DE PLANTIO OU DE COLHEITA

    Em certas regies possvel fazer o plantio durante todo o ano. Quando isto possvel, plantar as mudas em perodos que no coincidem com os picos de ocorrncia de pragas representa uma alternativa de sucessos no manejo de certas pragas.

    Os picos populacionais de Costalimaita ferruginea, por exemplo, ocorrem tipicamente em novembro e dezembro quando os plantios novos podem ser dizimados por essa praga. Plantios realizados de janeiro em diante nada sofrem. A produo de mudas em viveiros tradicionais durante o inicio da estao chuvosa apresenta o inconveniente da ocorrncia generalizada de lagartas-rosca; isto pode ser evitado pela antecipao da semeadura, sem afetar o programa de plantio.

    Os insetos so os grandes responsveis pela baixa disponibilidade de sementes de essncias florestais nativas no Brasil. O atraso na colheita das sementes a principal causa do baixo rendimento e do conseqente aumento nos custos de produo. A colheita precoce impede o aumento da infestao de gorgulhos e a imediata preparao das sementes, certamente, resulta na diminuio de seus danos.

    De acordo com a sabedoria popular, os bambus e madeiras colhidas na poca de lua minguante no do carunchos e, dessa maneira, ficam preservadas sem o uso de produtos qumicos. A colheita de tais produtos florestais em pocas que no apresentam luminosidade noturna que estimule o vo dos carunchos traduz-se numa tcnica que induz a pseudo-resistncia nos bambus e madeiras ao ataque dos carunchos. c)-ADUBAO

    O vigor da rvore depende de seu estado nutricional e, dessa maneira, plantios que receberam adubao adequada se colocam em vantagem quando comparados a outros mal conduzidos nutricionalmente.

    O uso de pesada adubao em fsforo, por exemplo, foi considerado como o responsvel pela reduo de at 35% no desfolhamento causado em eucaliptos atacados por sava-limo (Atta sexdens rubropilosa).

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    2.11 - USO DE INSETICIDAS QUMICOS - (Mtodo Qumico / Controle Qumico)

    Consiste no uso de substncias qumicas que aplicadas direta ou indiretamente sobre os insetos provocam a sua morte. Por isso elas so chamadas de inseticidas e fazem parte das substncias conhecidas como Pesticidas (aquilo que mata pestes / doenas), Praguicidas (que mata pragas / insetos, ervas daninhas etc.), Defensivos Agrcolas (aquilo que defende as culturas) ou Agrotxicos (txicos usados nos agroecossistemas), que so usadas no tratamento das culturas agrcolas e florestais ou na conservao dos produtos oriundos delas.

    A maneira mais rpida e menos onerosa para combater uma praga sempre foi o uso de um bom inseticida qumico. Para ser considerado como um inseticida ideal, o agrotxico precisa ser bastante txico para a praga a que se destina e completamente incuo para os demais insetos e outros organismos do ambiente, incluindo o homem. Portanto, os inseticidas devem ser, nica e exclusivamente, utilizados para eliminar os insetos-praga. Embora a maioria dos inseticidas existentes seja de largo espectro de ao sobre o ambiente, foi o uso incorreto e abusivo destas substncias que suscitou o movimento mundial de luta contra os agrotxicos, desencorajou o desenvolvimento de novas molculas e estagnou o progresso industrial vivenciado por este setor a partir da descoberta das propriedades inseticidas do DDT, em 1939.

    O uso do combate qumico apresenta as seguintes vantagens: a) Existem formulaes comerciais prontas e desenvolvidas com o propsito de

    resolver a maioria dos problemas comuns de ocorrncias de pragas. b) Rapidez na operao de um combate de pragas, porque os produtos so de fcil

    aquisio no comrcio e de fcil preparao e uso. c) Eficincia imediata porque os inseticidas apresentam, geralmente, grande efeito

    de choque, ou de morte imediata dos insetos. Isso encoraja o seu uso nos casos de surtos de pragas em que no se pode esperar pelo lento efeito de tcnicas alternativas.

    d) Compatibilidade com tratos silviculturais porque a operao com inseticidas rpida e no impede o desenvolvimento de outras atividades na floresta tratada.

    e) Custo inicial baixo porque no exige investimentos prvios uma vez que a formulao comercial j foi, cientificamente, testada em condies semelhantes quelas para as quais recomendada.

    Apesar das vantagens, todo inseticida qumico apresenta algum inconveniente de uso quando avaliado sobre o ponto de vista ideal. Entre as inconvenincias pode-se citar:

    a) No especfico porque no se consegue substncias qumicas que afetem apenas uma espcie de inseto. Dessa maneira pode-se esvaziar certos nichos ecolgicos ocupveis por espcies que se transformam em novas pragas. Entretanto, deve-se lembrar que existem inseticidas que so seletivos quanto ao grupo de insetos, dependendo do tipo do princpio ativo, formulao e modo de uso.

    b) Custo alto em longo prazo porque o uso intensivo de inseticidas pressiona seletivamente a populao dos insetos e favorece a multiplicao de raas cada vez mais resistentes ao inseticida. Isto resulta na exigncia de quantidades, cada vez maiores, de inseticidas e de recursos a fim de obter-se o mesmo benefcio.

    c) Deixam resduos porque a quase totalidade dos produtos inseticidas so substncias estranhas ao ambiente e seu uso persistente quase sempre resulta em transtornos ecolgicos que vo dos efeitos sobre insetos benficos at a contaminao de organismos do solo, rios, mares e do prprio homem. O preo dos danos causados pelos transtornos ambientais decorrentes do uso particular e

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    indiscriminado de inseticidas tem sido pago por toda a sociedade na forma de gastos pblicos especficos para descontaminaes, salrios de insalubridades e pela reduo na qualidade da vida humana.

    2.11.1-FORMULAES INSETICIDAS:

    Para ser comercializado, o inseticida puro (principio ativo) necessita ser diludo ou misturado com inertes (argilas, farinhas, polpas, gua, etc.) e aditivos que permitem seu uso no combate s pragas. A esta mistura final chama-se de Formulao ou de Produto Comercial. As formulaes comerciais de inseticidas podem ser classificadas da seguinte maneira: a)-QUANTO FINALIDADE:

    Embora apresentem efeitos sobre mais de um grupo de insetos, algumas formulaes so registradas para certos usos muito especficos como o de combater apenas formigas (formicidas), ou s savas (sauvicidas), lagartas (lagarticidas), cupins (cupinicidas), pulges (aficidas) e, assim, por diante. b)-QUANTO AO MODO DE AO:

    Para matar o inseto, a formulao inseticida tem de entrar em contato com o corpo do mesmo. Inseticidas que necessitam ser ingeridos so chamados de "Inseticidas de ao estomacal". Eles devem ser aplicados diretamente sobre o alimento do inseto, ou nas rvores para serem absorvidos e translocados pela seiva at as partes consumidas pelo inseto (inseticida sistmico) ou, ainda, misturado a substncias que funcionam como atraentes alimentares.

    Aquelas formulaes que agem atravs da parede do corpo do inseto so chamadas de "Inseticidas de contato" e s funcionam se aplicados diretamente sobre os insetos, seus abrigos ou caminhos por onde se movimentam.

    Existem formulaes que matam os insetos atravs do sistema traqueal incorporando-se respirao; estes inseticidas so chamados de "Fumigantes". Eles so gasosos e s podem ser usados em ambientes hermeticamente fechados.

    A quase totalidade dos inseticidas modernos, entretanto, apresentam mais de uma via de ao sobre os insetos sendo mais comuns a estomacal e a de contato. c)-QUANTO ORIGEM:

    Depois que se descobriu a ao inseticida de certas substncias qumicas, a indstria desenvolveu inmeras formulaes para o combate aos insetos. Tantos os princpios ativos quanto as suas formulaes so efmeros no comrcio e rapidamente so substitudos por novos compostos e novas formulaes. O Engenheiro Florestal necessita atualizar-se permanentemente para no correr o risco de receitar formulaes que no mais esto disponveis ao produtor florestal.

    Dado que as marcas comerciais mudam constantemente, sero mencionados a seguir, alguns nomes de ingredientes ativos mais comuns, segundo a sua origem, embora outros possam freqentemente surgir ou desaparecer. c.1)-INORGNICO: Fosfina, cido brico, arsnico. c.2)-ORGNICOS NATURAIS: Vegetais (Nicotina, piretrina, rotenona, azeite). Animal (Sabo, gordura). Petrolfero (leo mineral, querosene).

  • 26

    c.3)-ORGNICOS SINTTICOS: Clorados: So ingredientes ativos que apresentam em sua estrutura molecular, uma

    cadeia varivel de carbonos interligados por ons de cloro e hidrognio. As seguintes substncias inseticidas so consideradas como cloradas: DDT, BHC, aldrin, lindane, endossulfan, dodecacloro, endrin, canfeno clorado, pentaclorofenol, metoxicloro, heptacloro etc.

    Fosforados: So ingredientes ativos derivados do cido fosfrico, alguns dos quais podem agir de maneira sistmica nos vegetais. So exemplos: Diazinon etion, fenitrotion, fention, malation, paration, pirimifs, azinfs, afidam, amifs, acefato, dicrotofs, dimetoato, forato, dissulfotom, vamidotiom, EPN, monocrotofs, ometoato etc.

    Carbamatos: Derivados do cido carbmico que possuem compostos extremamente txicos como o carbofuram, ou pouco txicos como o carbaril. Eles agem nos insetos por contato e ingesto. So exemplos: Carbaril, metomil, propoxur, dimetilam, isolam, isoprocarbe, mobam, carbofuram, zectram, metomil, aldicarbe, carbosulfam etc.

    Clorofosforados: So inseticidas que contm tomos de cloro e de fsforo na sua molcula. As formulaes destes compostos agem por contato, ingesto, fumigao e podem ser sistmicas. So exemplos: EPBC, carbofenotiom, clorpirifs, diclorvos, triclorfom etc.

    Piretrides: um grupo de inseticidas desenvolvidos com base no conhecimento do cido crisantmico que forma a base da piretrina vegetal. Estes produtos apresentam grande efeito de choque e so usados em pequenas concentraes do i.a., mas apresentam toxicidade mediana para o homem e animais domsticos. So exemplos: Deltametrina, fenvarelato, permetrina, cipermetrina etc. d)-QUANTO FORMULAO

    P seco (P): Ou simplesmente p o tipo de formulao em que o inseticida puro misturado a um p inerte numa porcentagem mxima de 10% do ingrediente ativo (i.a.). Ela serve para ser usada no ambiente em que o inseto vive e deve entrar em contato. Este o caso do polvilhamento das rvores ou de madeiras ou de mistura com sementes com o propsito de combater insetos daninhos. Este tipo de formulao oferece grande risco de contaminao ao operador e de outras partes do ambiente em virtude da facilidade com que podem ser carreados pelo vento ou pelas enxurradas.

    P molhvel (PM ou M): Neste caso, a formulao tambm seca, mas recebe a adio de um agente molhante (substncia de alto poder higroscpico) a fim de permitir a mistura com gua de forma a constituir uma suspenso mais ou menos estvel durante a aplicao.

    P solvel (PS ou S): Aqui o principio ativo inseticida um sal e, portanto, forma uma mistura perfeita com a gua para ser usada em pulverizao. A formulao j feita com inertes, tambm, de alta solubilidade.

    Granulado (G): O inseticida misturado a inertes ou a atraentes e o produto final transformado em grnulos. Este tipo de formulao deve ser distribudo nos locais de freqncia dos insetos para serem carregados, nas partes das rvores onde devem veicular o i.a. sistmicamente, ou no ambiente onde deve produzir gases txicos.

    O uso de isca granulada para o combate de formigas-cortadeiras o exemplo mais comum deste tipo de formulao com propsitos florestais. A formulao granulada considerada como a mais segura para o operador e uma das mais fceis de serem utilizadas. Entretanto, algumas formulaes comerciais apresentam o inconveniente de atrarem insetos para os quais o inseticida no se destina, ou afetarem aves, bovinos e outros animais que os ingerem quando inadequadamente usados.

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    Soluo concentrada (SC): Neste tipo de formulao, o i.a. vem em alta concentrao e se destina, principalmente, ao uso em Ultra-baixo-volume (UBV), ou seja, usando menos de oito litros de calda inseticida por hectare. Isto significa que o produto comercial j vem pronto e deve ser usado sem diluio e em pequenas quantidades por unidade de rea quando comparadas s formulaes lquidas usadas em Mdio-volume (20 L./ha) ou Alto-volume (>100 L./ha). A formulao para UBV, normalmente, oleosa e exige equipamentos especiais para a aplicao; embora a operao seja mais econmica, pode tornar-se extremamente perigosa o que torna o tipo de formulao possvel somente em poucos casos.

    Concentrado emulsionvel (CE ou E): o tipo de formulao mais comum no comrcio onde o i.a. formulado em concentraes mais altas para diminuir os custos de embalagem e transporte. Para ser usada a formulao deve ser diluda em gua quando forma uma emulso leitosa pronta para o uso em pulverizao.

    Soluo termonebulgena (TN): O inerte um veculo oleoso que se transforma em fumaa e carrega o i.a. na forma de gotculas. Esta mistura introduzida no ambiente para matar os insetos por contato ou fumigao ou, aderir ao alimento e agir por ingesto. o caso dos produtos formulados comercialmente para serem usados na termonebulizao de colnias de formigas cortadeiras em reflorestamentos.

    Gs liquefeito: Esta uma formulao feita com inseticidas gasosos, aps serem liquefeitos e acondicionados sob presso. Elas podem conter substncias denunciadoras de sua presena no ar porque so extremamente perigosas e s podem ser usadas em condies muito especiais. O brometo de metila um exemplo clssico na rea florestal. Este produto vem misturado com 2% de cloropicrina que provoca lacrimejamento e espirros, quando presente no ar. e)-QUANTO TOXICIDADE

    Antes de serem comercializadas, as formulaes necessitam ser testadas em organismos e nas futuras condies ambientais de uso. O efeito letal de cada formulao, ou produto comercial expresso em quantidade da formulao por unidade de peso vivo (mg do produto/kg de peso vivo). A quantidade necessria para matar 50% de uma populao de animais (Ex. ratos, cachorro, insetos, etc.) num teste de toxicidade chamada de Dose Letal 50 (DL50). A DL50 uma referncia do grau de perigo que uma formulao inseticida pode apresentar para o homem e ambiente. Quanto a este efeito letal, as formulaes inseticidas podem ser classificadas em:

    - EXTREMAMENTE TXICAS = DL50 menor do que 5mg/kg de peso vivo - ALTAMENTE TXICAS = DL50 de 5 a 50 mg/Kg - REGULARMENTE TXICAS = DL50 de 50-500mg/kg - POUCO TXICAS = DL50 de 500-5000mg/kg - PRATICAMENTE ATXICAS = DL50 maior do que 5000mg/kg.

    O Ministrio da Agricultura e o da Sade, visando facilitar a visualizao do grau

    de toxicidade, determinou a padronizao dos rtulos de embalagens de agrotxicos onde alem das instrues e limites de uso, precaues, advertncias e primeiros socorros, h uma tarja larga cuja cor indica o nvel de toxicidade:

    - Vermelho vivo = ALTAMENTE TXICO = Classe I - Amarelo intenso = MEDIANAMENTE TXICO = Classe II - Azul intenso = TXICO = Classe III - Verde intenso = PRATICAMENTE TXICO = Classe IV

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    H outras classificaes como a Dose Diria Aceitvel de Ingesto (IDA) e a do Efeito Residual no ambiente. No primeiro caso, levado em considerao a quantidade de i.a. que o homem pode consumir diariamente sem causar-lhe qualquer transtorno. No segundo caso, considerado o tempo necessrio para que 95% do i.a. seja degradado pelo ambiente.

    Para serem usados, os inseticidas necessitam ser misturados com substncias especiais chamadas "Espalhantes Adesivos" com a finalidade de quebrar a tenso superficial das gotas da calda inseticida e fazer com que fiquem aderidas s superfcies tratadas. H espalhantes adesivos especiais para cada tipo de formulao. A formulao P Molhvel de inseticidas biolgicos necessitam de espalhantes adesivos do tipo no-inico, enquanto as demais podem ser misturadas a qualquer espalhante.

    Para aplicar os inseticidas necessrio usar equipamentos, simples como uma colher ou, complexos como avies equipados com micronair. Tais equipamentos so desenvolvidos com o propsito de aumentar a rapidez e eficincia na aplicao dos agrotxicos e diminuir os riscos indesejveis de contaminaes. Eles podem ser chamados de:

    - Polvilhadeiras: Servem para aplicador formulaes em p. - Granuladeiras: Servem para aplicador formulaes em grnulos. - Pulverizadores: Servem para aplicar formulaes lquidas na forma de gotculas.

    Podem ser Manuais, Costais, Tratorizados e Areos. - Termonebulizadores: Transformam em fumaa (nebulizao) certas formulaes

    oleosas, atravs de uma cmara metlica aquecida. - Cmaras de expurgo: Servem para a aplicao de inseticidas em formulaes

    gasosas. 2.11.2-SEGURANA NO TRABALHO COM AGROTXICOS:

    As informaes contidas no rtulo constituem o resultado de muitos anos de pesquisa, por isto no podem ser deixadas de lado. Se o rtulo for lido e entendido e todas as indicaes do fabricante forem seguidas, a possibilidade de acidentes muito pequena.

    As indicaes contidas no rtulo do produto comercial constituem amparo legal para quem receitou e para o usurio, no caso de qualquer acidente. O rtulo deve ser lido, tambm, antes de descartar a embalagem. O rtulo a informao final e mais direta ao usurio dos agrotxicos, devendo fornecer-lhes todas as informaes necessrias para permitir a utilizao dos agrotxicos de maneira mais segura e eficiente. As informaes nele contidas so baseadas em pesquisas, tanto de laboratrio quanto de campo, para auxiliar o usurio a no causar danos ao homem e ao ambiente.

    Seguindo-se rigorosamente as precaues, pode-se diminuir os riscos de acidente. Ao observar qualquer sinal de envenenamento, necessrio procurar o mdico imediatamente, levando a embalagem manipulada. Em caso de intoxicao, deixe a pessoa em local arejado e chame o mdico; se houve contato com o produto, lave o local com bastante gua e sabo. 2.11.3 - DESCARTE DE EMBALAGENS DE AGROTXICOS EM

    REFLORESTAMENTO

    As embalagens de agrotxicos quando descartadas de modo inadequado podem trazer conseqncias desastrosas ao solo e em mananciais de guas. O reaproveitamento de

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    embalagens vazias uma prtica que deve ser combatida com veemncia devido aos inmeros casos de intoxicao de trabalhadores que ingeriram gua de recipientes contaminados.

    Existem estimativas de que metade dos agrotxicos existentes no comrcio apresenta potencia