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1 ENT 110 APICULTURA E SERICICULTURA 1 “Se as abelhas desaparecerem da face da terra, ao homem restariam apenas quatro anos de vida. Sem abelhas, não há polinização, não há plantas, não há animais, não existiria o homem” (Albert Einstein) MUNDO - Egípcios, gregos e romanos: - ± 5 mil anos; - ânforas (potes barro) com mel cristalizado (± 2 mil anos); - 558 A.C. primeiras leis gregas; - moedas e vestimentas com desenhos de abelhas; - França: - brasões, mantos e moedas; - emblema oficial dos impérios (Napoleão); - Medalha de honra Ordem da abelha; - 1814 François Huber – 1 o protótipo de colméia racional. - EUA: - 1841 Lorenzo Lorraine Langstroth – considerado o pai da apicultura norte Americana, criador do modelo de colméia racional com quadros moveis e mundialmente conhecida. Colméia “Padrão” “Americana” ou simplesmente “Langstroth”. - Alemanha/Áustria - 1944 Karl von Frisch – The dancing, language and orientation of bees” decifrou o mecanismo de comunicação entre as abelhas por meio de danças. Premio Nobel de Fisiologia/Medicina em 1973. 1 Stephan M. Carvalho, Doutorando em Entomologia/Apicultura – [email protected]

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Page 1: Apostila Ent - 107

1

ENT 110 APICULTURA E SERICICULTURA1

“Se as abelhas desaparecerem da face da terra, ao homem restariam apenas quatro anos de

vida. Sem abelhas, não há polinização, não há plantas, não há animais, não existiria o

homem” (Albert Einstein)

MUNDO

- Egípcios, gregos e romanos:

- ± 5 mil anos;

- ânforas (potes barro) com mel cristalizado (± 2 mil anos);

- 558 A.C. primeiras leis gregas;

- moedas e vestimentas com desenhos de abelhas;

- França:

- brasões, mantos e moedas;

- emblema oficial dos impérios (Napoleão);

- Medalha de honra Ordem da abelha;

- 1814 François Huber – 1o protótipo de colméia racional.

- EUA:

- 1841 Lorenzo Lorraine Langstroth – considerado o pai da apicultura norte

Americana, criador do modelo de colméia racional com quadros moveis e mundialmente

conhecida. Colméia “Padrão” “Americana” ou simplesmente “Langstroth”.

- Alemanha/Áustria

- 1944 Karl von Frisch – The dancing, language and orientation of bees”

decifrou o mecanismo de comunicação entre as abelhas por meio de danças. Premio Nobel de

Fisiologia/Medicina em 1973.

1 Stephan M. Carvalho, Doutorando em Entomologia/Apicultura – [email protected]

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- The Honeybee Genome Sequencing Consortium

- Consórcio entre pesquisadores de diversos paises (inclusive Brasil) para o

sequenciamento do genoma Apis

THE HONEYBEE GENOME SEQUENCING CONSORTIUM. Insights into social insects

from the genome of the honey bee Apis mellifera. Nature, v.443, p.931-949,

26/October/2006. doi:10.1038/nature05260

BRASIL

- 1839 - Dom Pedro II – lei concedendo Padre Antônio Carneiro (período 10 anos) de

importar abelhas Europa/África. (Apis mellifera mellifera) – confecção de velas;

- Outros relatos sobre uma possível introdução pelos padres Jezuitas na região do Rio

Uruguai;

- 1870 Frederico Augusto Hanemann

Introdução da espécie italiana

Apis mellifera ligustica;

- 1906 Emilio Schenk

- Período de “abandono” – exploração/extrativismo, problemas sanitários;

- 1956 – Programa Nacional de melhoramento genético da abelha

- Expedição chefiada pelo Prof. Dr. Warwick Estevam Kerr introduziu no

Brasil 141 rainhas de Apis mellifera scutellata. Após a introdução em colônias na região de

Rio Claro/SP, algumas rainhas escaparam pelas telas excluidoras, ocorrendo o cruzamento

natural dessas com espécies européias encontradas em condições naturais, dando origem a um

hibrido fértil denominado “abelha Africanizada”;

- 15 anos – prazo necessário para as abelhas africanizadas colonizarem o cerrado;

- 1990 – Autoridades americanas relataram à chegada da abelha africanizada no estado

do Texas;

- ± 2000 – atual: descoberta do grande potencial da apicultura Brasileira; própolis

verde; mel orgânico, etc.

- 2008/06 – atualmente o setor apícola conta com mais uma conquista, a elaboração de

normas técnicas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, sendo que ate o

momento sete normas já estão disponíveis:

- ABNT NBR 15585:2008 – Sistema de produção no campo

- ABNT NBR 15654:2009 – Sistemas de rastreabilidade

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- ABNT NBR 15713:2009 – Colméia tipo Langstroth

- ABNT NBR 15714-1:2009 – Preparo de amostra para análises físico-

químicas

- ABNT NBR 15714-2:2009 – Determinação da umidade pelo método

refratométrico

- ABNT NBR 15714-3:2009 – Determinação de cinzas

- ABNT NBR 15714-5:2009 – Determinação de sólidos insolúveis

Outra importante fonte de informação e padronização do setor são as legislações

específicas para cada setor da atividade (instalações, equipamentos, produtos, análises, etc) as

quais são elaboradas e fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura (disponível no site:

http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=7916 )

IMPORTÂNCIA DAS ABELHAS

- Produtos: mel; cera; própolis; pólen, geléia real; apitoxina (veneno)

- Efeito social em comunidades carentes; programas de agricultura sustentável;

- Polinização

Segundo FAO (2004): 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo são polinizadas

por alguma espécie de abelha, 19% por moscas, 6,5% por morcegos, 5% por vespas, 5% por

besouros, 4% por borboletas e 4% por pássaros.

Kevan & Phillips (2001) - Canadá faturou US$6 milhões com a produção de sementes

de alfafa oriundas da polinização realizada por A. mellifera.

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Morse & Calderone (2000) – EUA somente A. mellifera gerou US$ 14,6 bilhões com

atividade de polinização.

Kenmore & Krell (1998) – Mundo US$54 bilhões pelos serviços prestados pelas

abelhas.

Freitas & Fonseca (2005) – Aluguel de 45 mil colméias para serviços de polinização, a

um custo médio de R$ 40,00/colméia.

ESPÉCIES DE ABELHAS

Nativas - de ocorrência natural no Brasil (Região Neotropical - não introduzidas).

Pertencentes ao grupo dos Meliponídeos e conhecidas como abelhas sem ferrão, apresentam

diversas espécies de importância econômica e social.

Exóticas – popularmente conhecidas como abelha européia; africana ou africanizada.

Como o próprio nome diz, são espécies introduzidas do continente Europeu e Africano.

Considerando a distribuição geográfica das espécies de Apis, tem-se três grupos:

- Européias

- A. mellifera ligustica (Italiana)

- A. mellifera mellifera (Negra ou real)

- A. mellifera carnica (Carnoliana ou carnica)

- A. mellifera caucasica (Caucasiana)

- Orientais

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- A.indica

- A. dorsata (gigante)

- A. florea (menor)

- A. meda

- Africanas

- A. mellifera adansonii

- A. mellifera intermissa

- A. mellifera capensis

- A. mellifera lamarckii

- A. mellifera unicolor

- A. mellifera scutellata

Considerando somente a espécie A. mellifera, até o momento existem 23 subespécies

descritas.

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Atualmente no Brasil existe a predominância natural de um híbrido fértil denominado

“abelha Africanizada”.

Espécie Européia Espécie Africana

Negra (A. mellifera mellifera) Amarela (A. mellifera ligustica)

Amarela (A. mellifera scutellata)

Tamanho médio a grande (70-100 mg) Tamanho pequeno (60-80 mg)

Baixa tendência a enxameação Grande tendência a enxameação

Pouco/média defensibilidade Defensivas

Menor intensidade de vôos/hora Maior intensidade de vôos/hora

Maior atividade durante períodos quentes Ativa durante todo o dia

Sensível ao ácaro ectoparasito Varroa Tolerante a Varroa

Longevidade 150 dias (inverno) Longevidade ± 25-30 dias

Oviposição reduz nos períodos de inverno, aumenta na primavera

Oviposição continua, baixa por falta de alimento

Ninhos poucos expostos Nidifica em vários locais

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Devido à hibridação entre as subespécies européias e africanas, o resultante herdou

características de ambas:

- defensivas

- tamanho médio

- coloração amarela pardo

- grande atividade

- colônias mediamente populosas

- tolerantes ao ácaro Varroa

- tendência a enxameagem

- tolerância a inseticidas

Em função também de sua origem tropical, a abelha africanizada possui grande

capacidade de adaptação e colonização de áreas que vai desde os paralelos 34o Sul ao 34o

Norte, com uma capacidade de expansão de 160 a 320 km/ano desde o centro de introdução

(Rio Claro/SP) em 1956. Mesmo com inúmeras tentativas de captura e controle por parte do

governo Norte Americano, este híbrido alcançou o estado do Texas nos anos 90.

DESENVOLVIMENTO

As abelhas pertencem a um grupo de inseto que apresentam desenvolvimento

completo, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto, ou seja, insetos holometabólicos.

A temperatura ideal para o desenvolvimento e de ±35oC.

Dentro da colônia existe duas castas permanentes de abelhas, a rainha e as operárias.

Contudo, em alguns períodos do ano (primavera principalmente) verifica-se a presença de

machos conhecidos como Zangão. Cada casta possui adaptações morfológicas, fisiológicas e

comportamentais, permitindo aos indivíduos que exerçam tarefas específicas:

- Rainha: controle da colônia (feromônios), reprodução;

- Zangão: fecundação da rainha;

- Operárias: todas as outras funções para o desenvolvimento e manutenção da colônia.

No caso da ocorrência de ovos não fecundados, oriundos de partenogênese arrenótoca,

esses darão origem aos Zangões, sendo eles indivíduos “n” com 16 cromossomos.

Quando os ovos são fecundados, o desenvolvimento pode ocorrer de duas maneiras:

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- caso a larva (“2n”, 16 pares de cromossomo) seja alimentada durante todo o período

larval com geléia real, esta originará uma rainha.

- com uma alimentação variada (mel, pólen e água) a partir do 3o dia após a eclosão da

larva, originará uma operária.

Todo o desenvolvimento embrionário, larval e pupal, ocorrem dentro das células

denominadas de alvéolo ou prisma hexagonal. Durante o período larval ocorre um fenômeno

chamado de muda, ou seja, a larva troca de tegumento (ecdise) para possibilitar seu

crescimento. Outra característica importante é que durante a fase larval, não existe a ligação

entre o intestino médio e o posterior, fazendo com que as larvas não defequem. Tal fenômeno

somente será observado no momento da última troca de tegumento/tecer do casulo, de uma só

vez no fundo do alvéolo.

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Fases de desenvolvimento (dias) Castas

Ovo Larva Pupa Total

Rainha 3,0 5,5 7,5 16,0

Operárias 3,0 6,0 12,0 21,0

Zangão 3,0 6,5 14,5 24,0

MORFOLOGIA EXTERNA/INTERNA

Uma característica marcante dos insetos e a divisão clássica do corpo do adulto em

três segmentos:

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- Cabeça: Dois olhos compostos; 3 ocelos; 2 antenas; aparelho bucal; cérebro;

diversas glândulas (salivar, hipofaringeana);

- Tórax: Três pares de pernas; 2 pares de asas; músculos, glândulas;

- Abdome: Sete segmentos ligados por uma membrana (superior chamado

tergito e inferior esternito); sistema digestivo; ferrão; glândulas (veneno, Nosanov, Dufour,

ceríparas-4 pares); espiráculos (aberturas do sistema respiratório);

Também se observa em toda a extensão do corpo a presença de diversos pelos

(sensílos) tendo principalmente a função sensorial e o dimorfismo sexual entre as três castas.

Casta

Operária Rainha Zangão

Comprimento do corpo (mm) 12-13 18-20 15

Largura do tórax (mm) 4 4,2 5

Peso (mg) 100 250 230

Artículos antena 11 11 12

Cavidades olfativas 3 a 6 mil 3 mil 30 mil

Posição do olho composto separado separado Continuo

Omatídeos 3 a 6 mil 5 mil 13 mil

Comprimento proboscida (mm) 5 a 7 curta curta

Corbícula presente ausente ausente

Ferrão presente presente ausente

Farpas ferrão 9 a 11 3 a 5 ausente

Ovário/Ovaríolos 2/12 2/150-200 ausente

Espermateca rudimentar desenvolvida ausente

Gl. hipofaringeana presente vestigial ausente

Gl. cerípara presente ausente ausente

Gl. Nosanov presente ausente ausente

Gl. Dufour reduzida grande ausente

Largura alvéolo (mm) 5,0 variável 6,0

Longevidade 20-40 dias, até 180 dias

1 a 2 anos, até 4 anos

Período acasalamento, até

80 dias

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Aparelho reprodutor da Rainha

Aparelho reprodutor da operária

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DIVISÃO DE TRABALHO

Sem dúvida que a divisão de trabalho entre as operárias seja um dos principais fatores

de organização e estruturação para o desenvolvimento da colônia. O principal fator que define

o polietismo entre as operárias é a idade. Contudo, não somente o fator idade e responsável

pelo alto nível de especialização de tarefas, onde fatores internos (genética, comunicação

química, etc) e fatores externos (abundância/escassez de alimento, temperatura, etc) também

exerçam grande influência.

Verifica-se que com a idade, existe uma mudança significativa nas glândulas exócrinas

(hipofaringeana, cera, feromônio alarme, etc), aumentando ou diminuindo de tamanho,

fazendo com que ocorra maior/menor produção e liberação de seus compostos, direcionando a

operária para uma atividade específica relacionada com o seu nível de maturidade. De

maneira geral, dividi-se as tarefas em 4 etapas: 0 a 2 dias (limpadora alvéolos); 2 a 11 dias

(manutenção das larvas/rainha); 11 a 20 dias (armazenamento alimento/construção) e 20 ou +

dias (trabalhos externos).

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COMUNICAÇÃO ENTRE ABELHAS

Dentre os insetos sociais as abelhas se destacam pela grande habilidade em

comunicação e orientação. Nesse caso, elas não somente utilizam os feromônios (substâncias

químicas usadas para comunicação entre membros da mesma espécie), mas também um

sistema altamente especializado de danças, alem de percepções visuais, sonoras e magnéticas.

No caso dos feromônios, ao menos 18 substâncias já foram identificadas e

caracterizadas como ferramentas de comunicação entre as diversas castas, exercendo funções

de alarme/defesa, sexual, orientação, estímulo, forrageamento, inibição de desenvolvimento

de ovários das operárias, etc.

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Um fato importante no estudo das abelhas foi o trabalho do pesquisador Karl von

Frisch, com sua obra “A linguagem da dança e orientação das abelhas” (1967). Em sua obra,

ele relatou que informações de distância, direção e qualidade da fonte do alimento eram

repassadas por meio de danças. Além desse mecanismo, odores e a troca de alimento por

trofalaxia, auxiliam com o processo de comunicação.

Diversas danças foram evidenciadas, tais como:

- circular: mais simples; não transmite precisão de distância/direção; alimento

próximo à colônia; trofalaxia.

- requebrado/oito: passam informação de distância, direção e qualidade dos

recursos a mais de 100 m da colônia. A freqüência e inversamente proporcional à distância (9

a 10 requebrados/15 s, 100 m; já 2 requebrados/15 s, ±5000 m). A distância da fonte não é

dada em metros, mas sim pelo gasto de energia.

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COLMÉIAS E LOCALIZAÇÃO

A partir da observação de colônias naturais, diversas tentativas de construção de

colônias foram colocadas em prática. Dos diversos modelos, existem aquelas rústicas usadas

em tempos remotos e em regiões onde o criador não possuia recursos tanto financeiro quanto

para construção necessária, até modelos sofisticados como as colônias racionais móveis de

madeira, podendo ser construídas até de polietileno.

No mundo, diversos modelos com quadros móveis foram desenvolvidos, cada um

levando em consideração as necessidades e disponibilidades locais. Contudo, destacam-se

alguns modelos amplamente difundidos, tais como o Langstroth (considerada colméia

standard) e Dadant. Outros modelos também foram desenvolvidos no Brasil como Schenk;

Paulistinha; Schirmer; Curtinaz e no mundo os modelos Jumbo, Hannemann, Alexander, etc.

De uma maneira geral, uma colméia racional/mobilista e composta por um fundo com

rampa de vôo; ninho contendo 10 quadros; melgueira contendo de 8 a 10 quadros e tampa.

Alguns outros acessórios podem fazer parte da colméia, como: telhado; suporte; redutor de

alvado; tela excluidora; tela de transporte; alimentadores; coletor de pólen; coletor de

própolis.

Existe uma outra classificação para as colméias, podendo ser quente quando os

quadros do ninho estão dispostos paralelamente ao alvado da colméia, dificultando a aeração

interna, ou fria quando os quadros estão dispostos perpendicularmente ao alvado, facilitando a

aeração.

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Usualmente, para a construção das colméias utiliza-se algum tipo de madeira que seja

de boa durabilidade, resistente ao tempo (sol, chuva), não empene/trinque, e principalmente

não possua nenhum tipo de componente (odor, óleo essencial, secreção) que seja tóxica para

as abelhas. São exemplos:

- Cedrinho, cedro-rosa, roxinho, pinus, eucalipto, etc.

Por medidas de proteção, aconselha-se que as partes externas das colméias sejam

pintadas com alguma cor clara, como amarelo, cinza ou azul celeste. Existe também alguns

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métodos de proteção que são realizados pela imersão em uma solução quente de querosene +

parafina. Pode-se também utilizar vernizes como proteção da madeira.

A padronização dos equipamentos também é de grande importância no momento do

planejamento, com isso além do ganho de tempo na execução das diferentes tarefas,

possibilita a troca de material e/ou compra de colônias de diferentes origens.

EQUIPAMENTOS PARA MANEJO DAS COLMÉIAS

Em condições de campo, poucos são os equipamentos/ferramentas utilizados no

manejo das colméias:

- formão de apicultor

- chave de fenda

- faca

- vassoura de crina

- fumegador + maravalha (combustível)

Em alguns casos outras ferramentas podem ser usadas, como martelo, carrinhos de

transporte, alicate, etc.

EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL -EPI

São todos e quaisquer equipamentos usados para a proteção e segurança do apicultor

no momento de execução de suas tarefas, seja no campo ou no atelier/casa do mel:

- macacão de preferência em tecido tipo brim (jeans, 100% algodão), para um

maior conforto e segurança, pois aqueles de tecido sintético podem sofrer algum tipo de dano

com a saída de fuligem do fumigador.

- máscara com tela metálica e moldura de couro são as mais resistentes e

duradouras.

- chapéu de apicultor em palha natural

- luvas podem ser de látex ou de couro

- botas do tipo sete léguas com cano longo.

- fumegador

Como para a pintura das caixas, recomenda-se o uso de cores claras (branco) para a

escolha dos equipamentos de proteção.

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PRODUTOS DAS ABELHAS

Para todo apicultor o momento da colheita dos produtos das abelhas transforma-se na

recompensa de todo esforço e investimento. De uma maneira geral, a grande maioria dos

produtores concentra suas atividades na produção de mel, própolis e cera. Porém, outros

produtos de igual valor podem ser explorados, diversificando a atividade, como a geléia real,

cera, apitoxina (veneno) e pólen.

Além dos produtos consagrados das abelhas, aumenta a comercialização de enxames

em forma de pacotes de abelha em quadros, rainhas, colméias completas, etc.

Mel

Alimento energético, doce, produzida de néctar de flores que pela ação da enzima

invertase, converte-se a sacarose em frutose e glicose. Também se encontra em sua

composição sais minerais, aminoácidos, enzimas, vitaminas, ácidos, substâncias aromáticas.

Geléia Real

Substância ácida, de cor branca e textura gelatinosa. Em geral tem 66% de água,

carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas, enzimas/coenzimas, aminoácidos e sais minerais.

É produzida pela glândula hipofaringeana de operárias de abelhas jovens.

Cera

Produzida pelas glândulas ceríparas encontradas em número de quatro pares do 4o a 7o

esternitos abdominal. Em média, necessita-se de 7-8 kg de mel pra produzir 1 kg de cera. Sua

composição é variada, contendo hidratos de carbono, álcoois monoídricos, ácidos graxos,

ácidos hidroxílicos, dióis, própolis, fragmentos vegetais.

Própolis

Substância resinosa, balsâmica, elaborada pelas abelhas a partir da coleta de resinas e

fragmentos vegetais. Em sua composição também se encontra cera, óleos voláteis, pólen. De

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uso medicinal, com características antimicrobianas, coloração variada, origem e sabor. Na

colméia é utilizada como cimento, regulação temperatura, embalsamar, etc.

Veneno ou Apitoxina

Produzido pela glândula de veneno, essa substância transparente e usada pelas abelhas

como uma ferramenta de proteção no caso de ataque a outros animais. Sua composição e

muito rica, principalmente em proteínas (50 %), além de açúcares, aminoácidos, lipídeos,

feromônio alarme (isso-amil-acetato). Seus efeitos vão desde ação neurotóxica, hemorrágica,

homolítica, anestésica e analgésica. Para o homem, é usada em tratamento de doenças como

artrite, circulatórias, esclerose, etc.

Pólen

Em se tratando especificamente do pólen, considera-se esse sendo um produto da

abelha, contudo nada mais e que o gameta masculino de plantas e que foi coletado pelas

abelhas campeiras. Pode ter até 40% proteínas (média 20/24%), carboidratos, lipídeos, sais

minerais, vitaminas, enzimas, etc.

INSTALAÇÃO DE APIÁRIOS

Os apiários podem ser divididos em dois tipos:

- Apiário fixo: nesse caso as colméias ficam instaladas em um local definitivo,

cercados, protegidos contra vento, fazendo com que as abelhas explorem a vegetação

existente em um raio de ± 2-3 km da colméia. Devido à dependência da flora existente, o

número de colméias/apiário também é um fator importante no planejamento, pois com a

saturação da área pode ocorrer a indução da enxameação. Vale ressaltar que além das

colméias instaladas, existe também a ocorrência de outras abelhas e outros insetos

competidores pelo mesmo tipo de alimento. Alguns pontos devem ser observados nesse

sistema, tais como facilidade no acesso, facilidade na execução de tarefas, menor

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investimento, porém, uma menor produtividade esperada quando comparado a apicultura

migratória.

- Apiário migratório: com o aumento das áreas plantadas com espécies vegetais

dependentes da polinização, aumentou-se o interesse da exploração dessas culturas. Daí surge

essa modalidade de exploração apícola que e caracterizada pelo deslocamento das colônias

para locais onde ocorra a abundância de néctar/pólen. Nesse caso específico, o apicultor

necessita de um maior investimento (transporte; combustível; equipamentos; segurança) além

de um grande conhecimento técnico, pois todo o planejamento é realizado em função das

floradas e das áreas a serem exploradas (distância). Nessa situação verifica-se uma maior

produtividade em comparação ao apiário fixo, podendo chegar ate a 100 kg/colméia/ano.

Um dos maiores agravantes do distúrbio do colapso das colônias (CCD - Colony

Collapse Disorder) nos EUA foi devido a grande migração das colônias para o serviço de

polinização, onde esse serviço era contratado por produtores de culturas dependentes das

abelhas para a polinização. No Brasil, o aluguel de colméias para a polinização ainda não e

uma prática rotineira, contudo observa-se um aumento substancial nos últimos anos.

No momento de instalação dos apiários, alguns fatores devem ser levados em

consideração:

- vegetação abundante, florada diversificada/prolongada e de boa qualidade;

- água potável;

- facilidade de acesso;

- segurança no manuseio;

- saturação colméias/área;

- exposição ao sol, principalmente na parte da manha (alvado);

MANEJO DAS COLMÉIAS

As revisões das colméias são atividades programadas/rotineiras que visam avaliar o

desenvolvimento e a sanidade da colônia. Independente do objetivo da revisão deve-se

lembrar que todos os materiais (quadros ninho/melgueira; tela excluidora; maravalha; etc),

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ferramentas (fumegador; formão; faca; etc) e equipamentos de proteção individual (macacão;

luva; máscara; bota; chapéu) encontre-se preparados e em condições adequadas de uso.

Devido às condições climáticas, as revisões podem variar em função do clima

principalmente em regiões frias (sul Brasil/hemisfério norte), caracterizando os manejos de

inverno, primavera e verão. Em condições de clima tropical/quente, não existe essa divisão

clássica dos manejos, sendo divididas em revisões gerais e específicas.

- Revisão geral: uma visita mês; rotineira; avaliação do desenvolvimento (oviposição;

ausência rainha; realeira; zanganeira; deposito alimento; espaço); sanidade; coleta de dados

(planilha de campo).

- Revisão específica: programadas em função das informações coletadas nas revisões

gerais, sendo elas: produção de rainha; substituição/introdução rainha;

fortalecimento/alimentação; coleta de mel/geléia real/própolis/pólen; controle de

doenças/predadores; pilhagem; limpeza do apiário; etc. Outras atividades também podem

ocorrer como a divisão/união de enxames; controle enxameação; transporte de colméias

(transumância); alimentação.

A captura de enxames pode ocorrer de duas maneiras:

- Caixa isca: preparada com uma tira de cera alveolada em cada quadro,

pulverizada internamente com solução de própolis e colocada em locais protegidos.

- Captura: método trabalhoso que exige grande experiência do profissional. O

enxame (latas, cupim, telhado, árvore) é transferido para dentro de uma caixa, sendo os favos

dispostos da mesma maneira.

A união de enxames e realizada quando se verifica a existência de um enxame órfão,

rainha improdutiva; desenvolvimento lento; fortalecimento; etc. Como cada abelha/colméia

apresenta seus odores (feromônios) característicos, é preciso criar uma situação na qual não

ocorra o ataque entre as duas colônias, podendo ser realizado de duas maneiras:

- Papel jornal + mel

- Pulverização de infusão de erva cidreira

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EQUIPAMENTOS DE PROCESSAMENTO

Todos os equipamentos para o processamento dos produtos apícolas devem seguir as

normas vigentes, fabricados em aço inox 304 com acabamento alimentício.

MEL

- Garfo desoperculador (faca desoperculadora, desoperculador automático)

- Mesa desoperculadora

- Centrifuga radial

- Filtros (malha; disco)

- Pasteurizador

- Decantador

- Baldes de transferência

- Homogeneizadores

- Torneiras (tipo faca)

- Bombas de transferência

- Envasadora (frasco; sache)

- Descristalizador (banho-maria; estufa)

- Esterilizador embalagem

- Rotulador

- Embalagens (polietileno alta densidade; vidro; PET; baldes atóxicos; tambores)

CERA

- Derretedores (vapor; solar)

- Conjunto laminador (manual; automático)

- Cilindro alveolador

DIVERSOS

- Coletor de pólen para alvado

- Estufa desidratação de pólen (Ballardin; Scharly)

- Peneiras classificatórias pólen

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- Coletor de veneno (placas elétricas)

- Coletor de própolis (ninho; melgueira; tampa)

- Alimentadores (tampa; quadros; Boardman; PET)

- Instrumentação inseminação artificial “LaidLaw Apparatus”

SEGURANÇA

Em casos de ataque por abelhas, evacuar a área, evitar qualquer tipo de ação (água;

fogo; deitar), comunicando os profissionais habilitados, como os apicultores e o Corpo de

Bombeiro. O tratamento das pessoas ferroadas deve ser realizado por médicos, nunca

realizando auto medicação ou terapias duvidosas.