apostila de sociologia 2005 complementar

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    APOSTILA DE SOCIOLOGIA 2005 COMPLEMENTAR

    PRIMEIRO DOCUMENTO

    INTRODUO TEORIA DO CONHECIMENTO

    Como qualquer ser vivo o homem luta pela sobrevivncia. Pertencendo aoreino animal, algumas das suas funes so mantidas por matrizes genticas que lhegarantem o funcionamento de alguns sistemas biolgicos vitais. Outras atividades ele as

    aprende e as mantm atravs de reflexos condicionados. Mas, seu alto grau decomplexificao, faz com que sua trajetria seja direcionada por um processointerpretativo dependente do grande crebro da espcie.

    A sobrevivncia humana dependente, sobretudo, dessa capacidade deapreenso da realidade , fruto da atividade do seu grande crebro que de lhe devepossibilitar conhecimento sobre ela. A partir desse conhecimento desenha-se em cada umde ns uma viso de mundo altamente influenciada pelo modelo de pensar reinante, quecontm s ideologias imperantes na realidade social em que vivemos. A aventura

    humana quase que totalmente dependente do conhecimento da realidade, havendo,assim, uma relao estreita entre o conhecimento e a prpria sobrevivncia do homem naface da Terra (Greco, 1984).

    A primeira questo a ser formulada relaciona-se, portanto, com a obteno

    do conhecimento e com a sua natureza, j que, para sobreviver, cada um de ns tem deter uma soma razovel dele.

    Se perguntarmos a um grupo de pessoas ocasionalmente reunidas em umareunio social o que um obo 1, seguramente a maioria delas confessar que no

    conhece. Se, em seguida, perguntarmos se algum conhece um violino, todos,prontamente, sabero do que se trata.

    Qual a diferena, em termos de conhecimento, entre as pessoas que

    conhecem e as que no conhecem o obo?Simplesmente uma questo de registro mental. Aqueles que tiveram

    contato com o instrumento musical, pelo som, pela viso ou at mesmo pela sua simplesdescrio, tero no seu crebro um registro, uma imagem, um smbolo - um referencial -do objeto que lhes dar a sensao do conhecimento. Os outros, por no terem umreferencial do mesmo confessaro no conhec-lo.

    1 O obo um instrumento musical de sopro, feito de madeira, com palheta dupla, detimbre semelhante ao clarinete mas, levemente nasal.

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    Poderia dizer-se, ento, que o conhecimento decorre de uma relao

    entre um sujeito e um objeto. Nela, o sujeito "apreende", "capta", "apodera-se" darealidade do objeto e a registra em sua mente. Esse registro, quando evocado, d aosujeito a capacidade de tratar o objeto como algo conhecido.

    Se considerarmos que a sobrevivncia humana, dada a complexidade donosso sistema vital, grandemente dependente do que conhecemos sobre a realidade emque vivemos, podemos dizer que a aventura humana grandemente ditada pelo conjunto

    de registros que temos do mundo, guardados em nossa mente, e da forma comoorganizamos esses registros, para trabalharmos com eles de como construmos o nossoreferencial para conhecer a realidade e para sobreviver.

    O objeto o real

    A obteno do conhecimento a respeito dos objetos que compem arealidade faz-se por diversas vias:

    - Pela via sensorial , como se conhece o gosto do morango, comendo-o.- Pela via racional , como se aprende como funciona um videocassete,

    pelo estudo do seu manual.- Pela intuio , quando, sem saber exatamente como, acabamos por ter

    conscincia de que conhecemos algo.

    - Pela reflexo, quando, a partir de conhecimentos que j temos, peloexerccio de operaes mentais, produzimos novos conhecimentos. Sabemos, por exemplo,que, se duas coisas tiverem o mesmo peso de uma terceira tero pesos iguais entre si,

    sem necessitarmos de uma constatao emprica.Para trabalhar com o contedo do conhecimento, a mente configura os

    registro sob a forma de conceitos - objetos pensveis . Na medida em que o oboregistrou-se em nossa mente possvel pens-lo. Ao pens-lo ns nos utilizamos doconceito obo.

    S que, ao pensar o obo, natural que o dimensionemos em termos deespao, tempo e qualidades: o obo um instrumento musical de sopro. quando seforma um juzo , acerca do objeto.

    Os juzos nos permitem estabelecer um raciocnio e compor um argumentocomo este :

    O Sujeito contm o REGISTRODO REAL

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    - Todos os instrumentos musicais de sopro fazem parte das orquestras sinfnicas(premissa maior) .

    - O obo um instrumento musical de sopro (premissa menor) .

    - Logo, o obo um instrumento de orquestra sinfnica (concluso) .

    A esse processo de estabelecer regras para as operaes do pensamento,denomina-se lgica formal.

    importante perceber que a lgica refere-se apenas s corretas

    operaes do pensamento, sem preocupar-se com a verdade emitida por suas concluses.No caso citado, por exemplo, um dos termos do argumento, sua premissa maior, no verdadeiro, pois nem todos os instrumentos musicais de sopro fazem parte de orquestras

    sinfnicas (o saxofone no faz, por exemplo). Mas, mesmo com uma premissa falsa,

    chegou-se uma concluso verdadeira, pois o obo, efetivamente, um instrumento deorquestra sinfnica.

    Da, conclui-se que, para um conhecimento efetivo dos objetos do mundoreal, tem de se ir alm das operaes do pensamento, da lgica e da razo. H mesmo

    quem diga que a lgica a prostituta da razo por, atravs de corretas operaes dopensamento, poder induzir-nos ao erro. Assim, temos de, concomitantemente com essasoperaes mentais, realizar a aplicao dessas operaes de acordo com a matria e a

    natureza dos objetos a serem conhecidos, agora sim, em busca da verdade, o que se fazem cincia, atravs da Metodologia Cientifica.

    1- Tipos de conhecimento.

    Em termos de conhecimento, h, pelo menos, 3 tipos de enfoques.A observao da realidade pode-nos levar ao conhecimento de que todas as

    coisas que no tm um suporte caem - um conhecimento de senso comum . Porm,algum pode explicar que o acontecido deve-se ao fato de "a matria atrair a matria nosentido direto de suas massas e no inverso do quadrado das distancias que as separam",

    um conhecimento que ultrapassa o senso comum, tentando penetrar no mbito dascausas e da regularidade dos fatos, a teremos o conhecimento cientifico . Mas,considerando-se que a matria atrai a matria, que matria e energia so duas faces damesma realidade e que tudo formado de matria e de energia, inclusive ns homens,

    pode-se concluir que a grande lei que nos rege a de que "tudo se liga a tudo" e de que alei maior a da solidariedade humana. Nesse mbito no-experimental, mediato, no-

    sensvel que se produz o conhecimento filosfico .

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    .2. O conhecimento cientfico.

    Para uma abordagem cientfica de qualquer realidade h que se considerar

    a complexidade do seu objeto de estudo. Inclusive para a classificao das cincias, umdos critrios o da exatido das mesmas, ou seja, quanto mais complexo for o objeto deestudo de uma cincia menos exata ela ser.

    Dentro desse critrio as cincias podem ser classificadas em:

    Formais: objetos de estudo que, do ponto de vista do conhecimento, podem serconsiderados independentemente do seu contedo, da matria que os compem ou da

    situao concreta a que se aplicam portanto de exatido absoluta: matemtica elgica formal.

    Fatuais: objetos de estudo que se referem a fatos, entes efetivamente existentes, reaise que, portanto, so dimensionados no tempo e no espao logo, de exatido varivel de acordo com a sua complexidade. Estas cincias se classificam em: Exatas: mecnica, engenharia, qumica objetos de estudo simples, logo, muitoexatos. Biolgicas: biologia, medicina objetos de estudo mais complexos do que as exatas e,portanto, menos exatas que as anteriores.

    Humanas e Sociais: psicologia, sociologia, pedagogia, histria, direito que tm porobjetos de estudo o homem, sua histria, suas relaes, etc, sendo portanto de

    grande complexidade e de grau menor de exatido.

    No significa que as cincias humanas e sociais sejam cincias menores em relao soutras, apenas, por serem mais complexas, exigem cuidados muito especiais para o enfrentamento do grandenmero de variveis que intervm nos seus estudos.

    Tomemos por exemplo a Sociologia.A Sociologia tem um objeto de estudo observvel fatualmente, que, para ser

    cientificamente conhecido, depende de pesquisa experimental e envolve tentativas deformular teorias e generalizaes que daro sentido aos fatos. Como o seu objeto deestudo altamente complexo dificilmente se criar uma teoria que o possa explicar sob

    todos os seus aspectos.Assim, como nos ensina Edgar Morin, ao socilogo cabe saber juntar o que

    deve estar junto num determinado espao e num determinado tempo, para explicar o que

    se deseja.

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    Para a compreenso da dinmica social (mbito da Sociologia) temos de ter uma atenoespecial para enfrentar o seu extremo grau de complexidade, pois no h fatos sociais simples - todos soextremamente complexos.

    Desta forma, praticamente impossvel criar-se um referencialterico global, que abarque a totalidade dos fenmenos sociais. Alguns enfocam os

    aspectos mensurveis ou verificveis experimentalmente como o positivismo, outros oconflito inerente a eles como o marxismo, outros a estrutura e o funcionamento social,como o estruturo-funcionalismo, e outros ainda, como o referencial weberiano, tentam

    captar a motivao que tm as pessoas participantes do fenmeno social, tentandocaptar-lhes o sentido de sua ao.

    Em vista disso, a proposta de explicar a sociedade e sua dinmica apenas

    a de tentar elaborar uma das explicaes possveis, aquela em que o autor acredita, mascertamente no a nica.

    3. A Sociologia como cincia.

    Sociologia a cincia que estuda a natureza, causas e efeitos das relaesque se estabelecem entre os indivduos organizados em sociedade. Assim, o objeto dasociologia so as relaes sociais, as transformaes por que passam essas relaes,

    como tambm as estruturas, instituies e costumes que tm origem nelas. A abordagemsociolgica das relaes entre os indivduos distingue-se da abordagem biolgica,

    psicolgica, econmica e poltica dessas relaes. Seu interesse focaliza-se no todo dasinteraes sociais e no em apenas um de seus aspectos, cada um dos quais constitui odomnio de uma cincia social especfica. As preocupaes de ordem normativa so

    estranhas sociologia e no lhe cabe a aplicao de solues para problemas sociais ou aresponsabilidade pelas reformas, planejamento ou adoo de medidas que visem transformao das condies sociais.

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    SEGUNDO DOCUMENTO

    O ESTUDO DE SOCIOLOGIA NO CURSO DE DIREITO

    O estudo de Sociologia no curso de Direito destina-se a

    proporcionar ao aluno o estabelecimento de uma relao entre o processo

    de desenvolvimento das sociedades e o estabelecimento de suas normas

    jurdicas.

    O fato jurdico integra-se no contexto sociolgico dentro de

    uma relao de interdependncia, onde, para se conhecer e interpretar

    um, h que tambm se levar em conta o outro.Essa interdependncia manifesta-se atravs de uma relao

    que, para ser entendida, passa por um contexto interdisciplinar,

    abrangendo diversos campos do conhecimento humano, reunindo

    principalmente: Direito, Antropologia, Sociologia e Filosofia.

    Os seres humanos so seres sociais pela prpria natureza

    gentica de sua constituio e, portanto, produtos de um processo

    evolutivo que passou por antigos antropides, tambm seres sociais.Assim, as sociedades humanas guardam na sua essncia o determinismo

    gentico para a vida social dos seus componentes e algumas das suas

    principais caractersticas, como a ao cooperativa, a noo de

    territorialidade, uma protocultura, a existncia de estratificao social, de

    hierarquia e um comportamento gregrio padronizado.

    Isso tudo pode ser perfeitamente tambm colocado em termos

    das sociedades humanas que, como todas as sociedades, para se

    manterem em equilbrio necessitam de uma padronizao do

    comportamento dos seus membros.

    No nvel humano, entretanto, essa padronizao depende de

    uma srie de condicionantes que ultrapassam em muito os determinismos

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    da espcie, pois decorrem das atividades altamente desenvolvidas do

    grande crebro do homo sapiens * . Dessa forma, embora existam condicionantes genticos

    subjacentes na constituio das sociedades humanas, elas s mantm a

    necessria padronizao dos comportamentos dos seus componentes, apartir de processos genuinamente humanos, como a Educao, a Comunicao e o Direito .

    De um lado, os seres humanos precisam aprender o

    comportamento adequado vida em sociedade, na sociedade em que

    vivem. Devem, portanto, aprender as agendas, praxes, smbolos, crenas,

    valores e sanes que nela vigoram, exatamente para poderem conviver em

    harmonia com os demais componentes dela. o processo denominadosocializao , que faz parte de todas as sociedades, de todos os tempos ede todas os lugares do planeta. Esse processo de socializao cabe s

    organizaes educacionais **, como famlia, escola, igreja e tambm, emgrande parte, aos veculos de comunicao.

    claro que cada sociedade socializa (e depois tenta educar) de

    acordo com o seu modelo de padronizao de comportamentos. A

    sociedade iraniana socializa e educa diferentemente da sociedadebrasileira, e ambas diferem tambm, em seus processos, de uma sociedade

    asitica ou africana.

    Assim, a educao, atravs das suas organizaes formais e

    informais, ensina aos membros de uma sociedade, seus usos e costumes estabelecendo quais so os comportamentos aceitos e os inaceitveis,

    alguns at punidos com durssimas sanes.

    Se um polo cabe Educao, a modelagem dos indivduospara o exerccio da vida em sociedade, o outro cabe ao Direito, atravs das

    * Segundo Edgar Morin a complexidade da natureza humana, que leva o homem a fazer, desde as coisas maisedificantes at as mais repugnantes, deveria fazer com que a sua desigmao como espcie no fosse a dehomo sapiens, mas dehomo saoiens demens (sbio e louco simultaneamente).

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    organizaes pblicas regidas pelo aparelho do Estado , que fazem aregulamentao jurdica desse comportamento, estabelecendo dentro do

    inaceitvel, o que deve ser punido e como deve ser punido. Indiretamente,

    tambm estabelece o que aceitvel, pois tudo o que no juridicamente

    proibido juridicamente permitido.

    Os meios de comunicao , pr sua vez, pela importncia dainfluncia que exercem sobre a sociedade, funcionam como instrumentos

    auxiliares desse processo de padronizao dos comportamentos

    necessrios vida social.

    Dessa forma, Educao, Meios de Comunicao e Direito secompletam no processo de padronizao dos comportamentos sociais ,

    tendo assim, pela sua prpria origem, caractersticas conservadoras ,cabendo aos que os estudam e praticam, contribuir para que no se

    tornem reacionrias.

    Se as sociedades humanas fossem estticas , a questo dapadronizao dos comportamentos determinaria o seu equilbrio de forma

    mais ou menos permanente; porm no o so . Alis, se tomadas daAntiguidade at os tempos atuais, parecem submetidas a um aumento da acelerao dos seus processos de mudana , tanto por fatores externoscomo internos, que obrigam tanto a Educao como o Direito a se

    adaptarem a elas, o que confere a ambos um carter extremamente

    dinmico.

    Em termos da Cincia do Direito, por exemplo, h que

    acompanhar o desenvolvimento e as transformaes sociais, adequando

    suas interpretaes e a criao de novas leis s novas realidades

    produzidas dentro do contexto social, objetivando evitar e solucionar

    conflitos, fazendo justia, sem desestabilizar o equilbrio social. nesse

    ** No se deve confundir socializao com educao. Esta vai alm as socializao, abrangendo todas asetapas da vida humana, transcendendo, assim, ao simples processo de aprendizagem dos elementos mnimos para a convivncia social.

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    particular que o Direito, enquanto cincia, se relaciona com aSociologia , pois a esta cabe estudar e contribuir para a verificao

    da eficcia das normas jurdicas,

    dos efeitos das normas jurdicas,

    da adequao das normas s suas finalidades: sua aplicao,aceitao e obteno de resultados efetivos,

    bem como da realizao de pesquisas de campo no mbito jurdico.

    Da mesma forma nesse momento que o Direito se relaciona

    com a Filosofia, que ao se preocupar com a questo do valor da norma

    jurdica, enfoca a questo fundamental: em que medida a norma jurdicapropicia para que se faa justia.

    Estabelece-se, assim, uma relao tridica entre Cincia doDireito, Sociologia Jurdica e Filosofia do Direito, estudada pelo juristaMiguel Reale sob a denominao de Teoria Tridimensional do Direito ,que possibilita uma anlise ampla e relacional do fenmeno jurdico.

    O esquema abaixo mostra trs concepes do fenmeno jurdico, geradoras, portanto, do Direito:

    Direito como expresso de normas - juspositivismo;

    Direito como expresso de uma evoluo social em buscade justia - jusnaturalismo;

    Direito como expresso de uma relao dinmica entre fato,valor e norma tridimensionalismo.

    JUSPOSITIVISMO JUSNATURALISMO

    NORMA: a lei JUSTIA: o valor

    TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO

    RELAO: entre o fato (social), o valor e a norma

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    Para entender a relao entre o processo de evoluo social e a

    construo das normas jurdicas, pode-se tomar como exemplo o que nos

    ensina Fustel de Coulanges em A cidade antiga, que trata da religio,

    do culto, do Direito e das instituies na Grcia e em Roma, na

    Antiguidade, para aqum do sculo VII aC.

    Segundo nos descreve esse autor, os antigos acreditavam que

    a vida continuava aps a morte em baixo da terra. Assim, os tmulos de

    seus mortos eram construdos dentro da propriedade familiar e neles eram

    feitas oferendas materiais (comida e bebida) para ajudar os falecidos na

    nova vida, sendo que a eles eram prestados cultos solicitando proteo;

    enfim, eram transformados em deuses familiares. Cada famlia possuaseus deuses , que a protegiam e que dela recebiam o culto. Desse simplesfato decorrem aspectos jurdicos para a sociedade da poca, envolvendo odireito de propriedade, a herana, o modelo de casamento, o poder

    paterno, os privilgios do primognito, o papel da mulher e dos filhos

    dentro da famlia, o conceito de cidadania, etc.

    Nesse tipo de sociedade o Direito ligava-se famlia atravs

    da religio , conferindo at direito ao pai sobre a vida do filho, como juiz doterritrio familiar. A regulamentao do casamento fazia com que a

    mulher, ao deixar a propriedade paterna para casar, renunciasse ao culto

    dos seus deuses, passando a cultuar os da famlia do marido. A unioentre famlias pelo casamento possibilitou a formao de tribos , quepassaram a prestar cultos a deuses tribais, criados a partir de mortos

    venerveis cujos feitos em vida fossem altamente significantes para a tribo,

    alargando-se, assim uma ordenao jurdica a todos os membros datribo .

    A noo de nao no existia e a de cidadania limitava-seapenas cidade , pois com a unio das tribos, mais tarde novos deuses enovas leis passaram a governar um outro territrio, o da cidade, onde a

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    unidade religiosa mantinha-se subjacente s unidades poltica e jurdica.

    A cidade permaneceu como nica unidade at que sua estrutura foi

    destruda pelas conquistas de Roma que, depois de muitos anos,possibilitou a extenso da cidadania romana, e das suas prerrogativas,aos povos conquistados .

    Este apenas um exemplo de como a transformao social acompanhada pela transformao do Direito e vice versa , pois, como sesabe, determinadas leis, como por exemplo as que aumentam a tributao

    e provocam recesso, tambm alteram a conformao social, geralmente

    fazendo com que aumentem as distncias entre ricos e pobres.

    Do ponto de vista do aprendizado de uma Sociologia Aplicada

    ao Direito, h que se considerar alguns aspectos importantes:

    1. O da necessidade de alguns conhecimentos bsicos sobre a

    Sociologia como cincia noes de estrutura e

    funcionamento do sistema social; questes relativas ao

    conhecimento a respeito do fato social e da ao social; a

    importncia da descoberta de tendncias e regularidades nocomportamento social e da sua possibilidade de expresso

    quantitativa; a manifestao do conflito em mbito social e

    a abordagem da Ecologia e do Ambientalismo dentro de um

    enfoque tambm sociolgico.

    2. A importncia da relativizao do conhecimento sociolgico,

    que envolve um objeto de estudo altamente complexo a

    sociedade, o homem e suas complexas relaes possibilitando sempre a produo de um discurso nem

    sempre exato.

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    Uma das singularidades da histria portuguesa foi aunificao precoce que permitiu o estabelecimento de uma monarquia,enquanto em outras regies da Europa a disperso feudal ainda reinava.

    O processo de unificao realizado precocemente possibilitou aPortugal as condies que lhe permitiram a conquista territorial contra os

    rabes e a irrupo de um surto de desenvolvimento mercantil que cedolhe deram destacada importncia, embora aspectos nitidamente feudaisainda existissem como caractersticas econmicas, culturais e sociais. Nelahavia um slido grupo mercantil que, apoiando a monarquia , abriuperspectivas para que uma nao, que internamente ainda guardavantidas caractersticas feudais, se lanasse busca da conquista deterritrios. A luta que havia unido os senhores feudais para a expulsodos rabes e que cimentou as bases da unificao portuguesa e de suamonarquia, foi o alicerce que possibilitou o apoio para as conquistasterritoriais futuras atravs das expedies nuticas , agora apoiadas poresse grupo mercantil, formado por todos quantos possussem capital para

    impulsionar suas atividades comerciais.Iniciado o novo ciclo, em que Portugal se afirma como nao,para ns importante a sua evoluo jurdica, pois ela tem tudo a ver como que se passou aqui, na Colnia.

    A evoluo jurdica de Portugal se fez em duas fases:1 fase: leis gerais

    forais 4 2 fase: ordenaes

    1 faseNa primeira fase, os reis portugueses consolidaram a

    monarquia atravs da promulgao de leis excepcionais, que seimpunham de maneira geral sobre uma imensa variedade de usos ecostumes - leis gerais - e de forais concedidos aos burgos que selibertavam do domnio rabe.

    2 fase Numa fase seguinte, quando essas leis se tornaram bastante

    numerosas, foi necessria a sua sistematizao atravs da sua reunio emordenaes . O carter dessas ordenaes era o de compilao de leisenunciadas na primeira pessoa do plural, com carter sagrado, onde sedava grande importncia ao Direito Eclesistico e se refletiam osprivilgios de uma sociedade estamental (de privilgios de determinadosgrupos).

    4 Foral: carta de lei que regulava a administrao de uma localidade ou concedia privilgios aindivduos ou corporaes

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    D. Afonso (1461), D. Manuel I (1521) e D. Felipe III daEspanha e II de Portugal (1603) foram os grandes compiladores das leisgerais sob a forma de ordenaes, todas elas divididas em 5 livros:

    lo. Direito poltico, administrativo e fiscal;2o. Direito eclesistico;

    3o. Da organizao judiciria e do processo;4o. Direito privado;5o. Direito penal

    Observao: O Direito Penal tinha um grande nmero de crimesreligiosos e com regulamentao de penas de rigor desigual, de acordocom a condio social a que pertencesse o ru.

    Foi esse Direito absolutista, sagrado e estamental que setransplantou para o Brasil Colnia, para .ser aplicado de acordo com asnecessidades e modificado de acordo com a vontade das elitescolonizadoras.

    Para o Brasil transplantou-se o Direito Portugus , juntocom a lngua, os costumes, a cultura e a religio.

    III. O Direito Colonial Brasileiro.

    O empenho colonial repercutiu no processo legislativo dametrpole, forando-a a formular um Direito para a direo e aorganizao do empreendimento colonial, constitudo de:

    leis especiais,cartas de doao,forais das capitanias,alvars,regimentos dos governadores gerais (1549) e dosfuncionrios da colnia, atravs dos quais a metrpoledesenvolvia o empreendimento colonial.

    III.I. O exemplo das capitanias hereditrias.

    Eram divididas pela linha da costa.

    Eram autnomas.Eram inalienveis, no todo ou em parte.Eram hereditrias.Formavam um sistema descentralizado politicamente 5.

    5 So Paulo era a capital da Capitania de So Vicente

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    Observao: as conseqncias da diviso em capitanias hereditriasexistem at hoje na estrutura fundiria brasileira.

    III.I.I. Obrigaes do donatrio.

    Colonizar e defender a capitania com seus recursos

    III.I.II. Regulamentao das relaes entre Coroa e donatrio.

    O donatrio recebia da Coroa, uma carta de doao e, atravsde um foral, regulamentava-se a relao entre ambos.

    - O donatrio podia:- exercer a justia,- escravizar o indgena,

    - dar terras (sesmarias 6) aos cristos,- fundar vilas,- receber a redzima sobre a produo da terra (1%),- receber o dcimo do quinto sobre metais preciosos.

    - A Coroa podia:- reter a propriedade das minas, pau-brasil e pescado,- cunhar moedas,- cobrar o dzimo sobre a produo da terra ( 10%).

    EM RESUMO: UM SISTEMA DE CARACTERSTICAS MEDIEVAIS

    III.II. A vinda da Famlia Real para o Brasil.

    A providncia de estabelecer em 1549 o sistema centralizadorde Governo Geral , com capital em Salvador, teve tambm a finalidade deproteo do projeto colonial portugus, sobretudo no que diz respeito economia aucareira e de incentivo povoao da terra, agora, para tal,incluindo-se a introduo da escravido negra .

    Entre 1580 e 1640, Portugal e Espanha estiveram unidossob a monarquia espanhola (D.Felipe III de Espanha e II de Portugal), oque fez com que, na prtica, desaparecesse o Tratado de Tordesilhasfacilitando a penetrao para o interior, mas fazendo com que Portugalherdasse as rivalidades que a Espanha tinha na Europa , com Inglaterra,Holanda e Frana, expondo a Colnia uma srie de agresses e de atosde pirataria.

    6 Sesmaria: lote de terra inculta e abandonada que os reis de Portugal cediam aos que se dispusessem acultiv-la.

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    Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, todo umconjunto legislativo ou foi transplantado para o Brasil ou foi criadopara a manuteno da situao colonial, pois esta legislao era sempreelaborada de acordo com o plano colonizador da metrpole - era manifestaa proteo ao projeto colonial na legislao portuguesa da poca. Nela se

    inclua o mpeto de povoar a colnia a qualquer custo, devido sameaas de invaso desta por pases europeus , a ponto de o Livro V dasOrdenaes Filipinas difundir fartamente penas de degredo para o Brasil econceder aos donatrios o direito de dar refgio e terras "a pessoas dequalquer condio, desde que sejam cristos".

    A todo esse acervo legislativo vieram a se juntar leis e CartasRgias especialmente aplicadas ao Brasil , durante a estada da famliareal aqui na Colnia, estabelecendo:

    1. a abertura dos portos (1805),2. a elevao do Brasil a Reino Unido a Portugal,

    3. a criao de numerosa regulamentao essencial presena da corte no Brasil,4. a nomeao de D. Pedro como Prncipe Regente ( 1821 )

    Todo esse conjunto legislativo ou foi transplantado para oBrasil ou foi criado para a manuteno da situao colonial, pois erasempre elaborado de acordo com o plano colonizador da metrpole - eramanifesta a proteo ao projeto colonial na legislao portuguesa dapoca.

    IV. O processo de emancipao poltica.A vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808 e a

    imediata abertura dos portos realizou um velho sonho da elitedominante que vivia na colnia, misto de burguesia e feudalsmo ,enriquecida pela explorao latifundiria e escravocrata da terra e pelaexportao do que aqui se produzia. .

    A colnia entrava no sculo XIX com uma srie de problemas,para os quais, a vinda da corte portuguesa era esperana do encontro desolues.

    Premido pelos interesses das elites dominantes da colnia, eda Inglaterra, que tinha dificuldades na Europa, e atendendo realidadede um Portugal ocupado, D. Joo, atravs de uma Carta Rgia abriu osportos do Brasil s naes amigas.

    Com a permanncia da corte portuguesa no Brasil e emdecorrncia da situao portuguesa e das medidas adotadas pelomonarca, novas perspectivas abriram-se para a Colnia:

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    Na impossibilidade de elaborar de improviso todo um corpolegislativo para regular a vida de uma to vasta nao, a AssembliaConstituinte, convocada para dar ao pas uma constituio, decretou a vigncia das Ordenaes Filipinas, em tudo o que no tivesse sidorevogada pelo fato normativo da revoluo da independncia e iniciais

    providncias legais que D. Pedro levara a efeito em matria penal.Era a ratificao em bloco de toda a transplantao jurdica realizada pela metrpole.

    E outro caminho naquela hora no havia.O Brasil s teria sua primeira constituio em 1824 ,

    outorgada pelo Prncipe Regente e modelada de acordo com a novaconfigurao das foras polticas ento emergentes na nova naosoberana.

    V. O processo de emancipao jurdica.

    A revalidao da legislao portuguesa pelo governo brasileiroem 1823 no poderia passar de uma providncia provisria e transitria,destinada a sanar a falta de um ordenamento nacional que regulasse avida jurdica da nova nao. A velha legislao portuguesa deveria ir dandolugar gradativamente brasileira, medida em que uma nova legislaofosse criada para a ordenao da vida nacional.

    E um lento processo de emancipao jurdica iniciou-se com a Constituio de 1824 , concluindo-se com o Cdigo Civil de 1916 ,quando se d o fim da regncia das Ordenaes na legislaobrasileira .

    O primeiro aspecto da regulamentao jurdica que deviasofrer os efeitos imediatos da Independncia teria de ser o Direito Pblico .A constituio de 1824 foi a resposta a essa urgncia da nossacircunstncia social. Mas tambm o corpo do Direito Penal foi afetadodeixando para trs o Livro V das Ordenaes Filipinas, trocando o arbtriopela legalidade, pessoalidade, igualdade e moderao das penas, fazendocom que o Brasil juridicamente passasse de uma sociedade deestamentos para comear a se constituir numa sociedade de classes. A liberdade religiosa, embora limitada pelo respeito religio oficial doImprio e moral pblica, revogou numerosos dispositivos legais daOrdenao portuguesa, especialmente nos ttulos referentes aos crimesreligiosos. Tudo isso convergiria para o Cdigo Criminal de 1830 , em quese consideram inovaes liberais como os motivos subjetivos do delito, acumplicidade, o atenuante da menoridade, e para o Cdigo de ProcessoCriminal em 1832 , que traz a inovao liberal do "habeas corpus".

    Embora a pena de morte permanecesse, conquanto sem osprocessos cruis das Ordenaes, o Imperador passou a comutar empriso perptua todos os casos de pena de morte.

    O passo seguinte seria o Cdigo Comercial de 1850 . Parauma sociedade burguesa, latifundiria e comerciante, importava mais a

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    regulamentao da atividade comercial do que a atividade civil,regulamentada apenas em 1917.

    Os processos civil e comercial encontraram suasregulamentaes no Regulamento 737, passando, na Repblica, a serregulado por leis estaduais, um dos aspectos do federalismo que o Estado

    Novo reduziu ao centralismo atravs do Cdigo de Processo Civil e doCdigo Comercial de 1939.O Cdigo Civil foi o parto mais demorado e laborioso da nossa

    emancipao jurdica, permanecendo nesse mbito, por mais largavigncia os ditames das Ordenaes. Muito tempo depois de em Portugal,

    j existir um cdigo civil, as Ordenaes ainda estavam em vigor no Brasil,apenas promulgado durante a Repblica, em primeiro de janeiro de 1916,

    O QUE DEMONSTRA O POUCO CASO QUE AS ELITESDIRIGENTES NACIONAIS, J NAQUELA POCA, TINHAM PARA COM ACONSTRUO DA CIDADANIA DO POVO BRASILEIRO.

    O Cdigo Penal de 1940 e a Consolidao das Leis do

    Trabalho de I943 so consonantes com as modificaes sociaisdecorrentes de uma sociedade que se urbanizou, se industrializou e teveum processo de modernizao reflexa produzido pelo influxo de idiasoriundas da Europa, sobretudo aps as duas guerras mundiais.

    As Constituies de 1946 (social-democrata), de 67 (ditadapelo regime militar) e de 88 (consolidando a redemocratizao)acompanharam o desenvolvimento histrico brasileiro na segunda metadedo sculo XX.

    Nota 1:O Feudalismo

    Em regies dominadas pela aristocracia, servos trabalhavam aterra dentro de uma estrutura estamental (de privilgios explcitos).No fim da Idade Mdia, os mercadores adquiriram fora

    comercial e econmica, provocando a decadncia da estrutura feudal,favorecendo o poder real e gerando novas hierarquias sustentadas peloscapitalistas da fase mercantil.

    Segundo Darcy Ribeiro, Os brasileiros, o feudalismo foi umaestrutura de regresso do capitalismo mercantil, que no conseguiu seestabelecer, mas no pode retroagir ao escravismo.

    Em Portugal, a luta contra os rabes facilitou a formao damonarquia, pela unio com os capitalistas mercantis e possibilitou asconquistas ultramarinas.Nota 2:Ordenaes

    1823 Decretao das ordenaes provisoriamente para aordenao jurdica da nao recm independente.

    1824 Constituio outorgada por D. Pedro I1917 Fim das ordenaes no Brasil Cdigo Civil

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    Nota 3:Constituies Brasileiras

    1824 Outorgada1891 Republicana1934 Social democrata/ Revoluo de 30

    1937 Estado Novo (fascistoide)1946 Redemocratizao1967 Imposta pela Junta Militar1988 Constituio atual

    Bibliografia:

    CAVALIERI FILHO, Srgio. Voc conhece sociologia jurdica? So Paulo:Forense, 1991.

    RIBEIRO, Darcy. Os brasileiros. Petrpolis: Vozes, 4a. ed.1978.

    MACHADO NETO, A. L. Sociologia jurdica. So Paulo:Saraiva, 6a. ed.1957.

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    QUARTO DOCUMENTO

    TEORIAS SOBRE A GNESE DO DIREITO

    Ter o Direito apenas uma teoriapara explicar-lhe a origem?

    interessante, para o estudo do controle social, a reflexo de

    como surgiu o Direito; de como as sociedades humanas fizeram emergir

    esse fato que produz a regulao imperativa da vida social. Para tanto, ao

    longo dos tempos, tm sido formuladas vrias teorias por filsofos,telogos, juristas e socilogos. Teorias entre si controvertidas e,

    conformadas como "escolas", cada uma delas, por seu ngulo, tentando

    explicitar a gnese do Direito.

    Sergio Cavalieri Filho (1991,1), ajuda-nos a percorr-las:

    1. Escola Jusnaturalista ou do Direito Natural (Antigidade).

    Para essa escola, o Direito um conjunto de idias ou

    princpios superiores, eternos, uniformes, permanentes, imutveis,

    outorgados ao homem por Deus quando da criao, com a finalidade de

    traar-lhe um caminho e ditar-lhe a conduta a ser mantida. Existiria,

    assim, um Direito Natural, inspirado por Deus, com o qual iluminou-se

    eticamente a trajetria da humanidade.

    As principais caractersticas do Direito Natural seriam,portanto, a estabilidade e a imutabilidade , j que seriam princpiosimanentes ao prprio cosmos e cuja origem estaria na prpria divindade.

    Estes princpios, o Criador os teriam implantado na conscincia dos seres

    humanos, tornando-se referncia para que soubessem discernir o bem do

    mal, o justo do injusto, o certo e o errado. Seriam, portanto a base de

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    todas as leis humanas, vigorando para todas as naes e para todos os

    tempos.

    Essa concepo aparece nos filsofos Herclito, Scrates,

    Plato, Aristteles, na Grcia, sendo adotada por Ccero, em Roma.

    1.1. Os direitos humanos e o direito natural.

    importante que se reflita ao abordar o direito natural, a questo

    dos direitos humanos. Segundo Bobbio (1992, p. 5) os direitos humanos,por mais fundamentais que sejam, so direitos histricos, ou seja,nascidos em certas circunstncias, caracterizadas por luta em defesa de

    novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, nemtodos de uma vez nem de uma vez por todas.

    Dos direitos pessoais, denominados de primeira gerao, aliberdade religiosa um efeito das guerras de religio; as liberdades civis,

    da luta dos parlamentos e do povo rebelado contra soberanos absolutos; a

    liberdade poltica e as liberdades sociais, do nascimento, crescimento e

    amadurecimento do movimento dos trabalhadores assalariados, dos

    camponeses com pouca ou nenhuma terra e dos pobres, que exigem dospoderes pblicos, no s o reconhecimento da liberdade pessoal e das

    restries do Estado sua conduta, mas tambm a proteo contra o

    desemprego, os primeiros rudimentos de instruo contra o analfabetismo,

    depois a assistncia para a invalidez e a velhice, todas elas carecimentos

    que ricos proprietrios, e mesmo o Estado, poderiam satisfazer por si

    mesmos. Isso, ao lado dos direitos sociais, que foram chamados direitos

    de segunda gerao , os direitos ligados ao meio ambiente, chamados deterceira gerao . Hoje j se fala em direitos de quarta gerao ,relacionados com a proteo do homem diante do avano tecnolgico,

    como o que decorre das pesquisas genticas.

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    Os direitos humanos, enquanto direitos naturais, embora

    naturais, so descobertas histricas e produtos da evoluo da conscincia

    da humanidade, nada tendo de permanentes nem de imutveis.

    1.2. Os direitos humanos e o direito natural.

    Alguns acontecimentos marcaram historicamente o

    reconhecimento de direitos (Altavila, 1997). Dentre eles, destacam-se:

    Direitos de primeira gerao - pessoais:Direito Antigo:Cdigo de Hamurabi (Babilnia)Cdigo de Manu (ndia)Lei MosicaLei das Doze TbuasCristianismoPatrsticaAlcoroDireito Moderno: 1215 Carta Magna1764 - Dos delitos e das penas Beccaria

    1776 Revoluo Americana1789 Revoluo Francesa1946 Declarao Universal dos Direitos do Homem

    Direitos de segunda gerao - sociais: 1912 Revoluo Mexicana 1917 Revoluo Russa 1956 Declarao de Argel

    Direitos de terceira gerao - ambientais:1990 Carta da Terra (Rio de Janeiro) 1992 Agenda 21

    Direitos de quarta gerao biolgicos, genticos.

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    2. Escola Teolgica (Idade Mdia).

    A Escola Teolgica coexistiu com a Jusnaturalista durante

    toda a Antigidade, pois as duas em muito se assemelham. Ambas

    concebem o Direito como um conjunto de princpios eternos e imutveis. A

    diferena que, ao invs da inspirao divina, h a outorga direta da leipor Deus , atravs das escrituras.

    Deus teria elaborado Ele mesmo as primeiras leis, entregando-

    as humanidade atravs de intermedirios, lideres religiosos como Moiss,

    Hamurabi, Manu, Solon, etc. Com o surgimento do Cristianismo, o Direito

    continuou a ser considerado manifestao da vontade divina.

    Para Sto. Toms de Aquino existiriam 3 categorias de Direito:O Direito Divino , baseado nas Escrituras e nas decises

    dos Papas e dos Conclios,

    O Direito Natural , captado pelos seres humanos porintuio, mas semelhante concepo jusnaturalista e

    O Direito Humano , produzido pela humanidade e quedeveria ter por fundamento os dois anteriores.

    3. Escola Contratual ou Racionalista (sculos XVI e XVII).

    Para os racionalistas so duas as categorias do Direito:

    Direito Natural, originado na natureza racional dos seres humanos, estvel por toda parte e imutvel diante dequalquer vontade divina ou humana.

    Direito Positivo , fundamentado no Direito Natural edecorrente do contrato social a que os seres humanos foramlevados a celebrar para viver em sociedade.

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    Deveria haver entre o Direito Natural e o Direito Positivo uma

    ntima relao, sempre levando-se em considerao que o primeiro

    fundamento para o segundo Thomas Hobbes, Montesquieu, John Locke

    e Jean Jacques Rousseau, so as figuras mais notveis dessa escola que,

    pela primeira vez, deslocou a fonte do Direito, de Deus para a prpriarazo do homem . Aranha e Martins (1986, 240) assim descrevem asquatro concepes de contrato social.

    O contrato social segundo Hobbes (1588 - 1679):

    A situao dos homens deixados a si prprios de anarquia,

    geradora de insegurana, angstia e medo. Os interesses egostaspredominam, e o homem se torna um lobo para o outro homem . Asdisputas geram a guerra de todos contra todos e as conseqncias desse

    estado de coisas o prejuzo para a indstria, a agricultura, a navegao,

    a cincia e o conforto dos homens.

    O contrato: O homem , no sendo socivel por natureza, o ser por

    artifcio, por pacto. o medo e o desejo de paz que o levam a fundar umEstado Social e a autoridade poltica abdicando dos seus direitos emfavor do soberano que, por sua vez, ter um poder absoluto. Atransmisso do poder deve ser total, caso contrrio, se conservar um

    pouco que seja da liberdade natural do homem, instaura-se de novo a

    guerra. Esse poder se exerce ainda pela fora, pois s a iminncia do

    castigo pode atemorizar os homens. Os pactos sem a espada no so mais

    que palavras. Cabe ao soberano julgar sobre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto; ningum pode discordar, pois tudo o que o soberano faz resultado do investimento da autoridade consentida pelo sdito. Hobbes

    usa a figura bblica de um monstro o Leviat, que representa um animalmonstruoso e cruel, mas que, de certa forma, defende os peixes menores

    de serem engolidos pelos mais fortes. essa figura que representa o

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    Estado, um gigante cuja carne a mesma de todos os que a ele delegaram

    o cuidado de os defender. Investido de poder, o soberano no poder ser destitudo,

    punido ou morto. Tem o poder de prescrever as leis, de julgar, de fazer a

    guerra e a paz, de recompensar e punir, de escolher os conselheiros.

    Hobbes preconiza ainda a censura, j que o soberano juiz das opinies e

    doutrinas contrrias paz. E quando, afinal, pergunta-se se no muito

    miservel a condio de sdito diante de tantas restries, conclui-se que

    nada se compara s misrias que acompanham a guerra civil ou a

    condio dissoluta de homens que levam a vida sem senhor.

    O contrato social segundo John Locke (1632 - 1704):

    Como Hobbes, tambm Locke considera que apenas o pacto

    torna legtimo o poder do Estado, s que considera os homens em estado

    de natureza como seres livres, iguais e independentes. Para Locke, noestado natural, cada um juiz da sua prpria causa, fazendo com que se

    tornem grandes os riscos de paixes e de parcialidade, que podem

    desestabilizar as relaes entre os homens. Por isso, visando a segurana ea tranqilidade necessrias ao gozo da propriedade, as pessoas consentem

    em instituir o corpo poltico. Os direitos naturais dos homens no

    desaparecem em conseqncia desse consentimento, mas subsistem para

    limitar o poder do soberano, justificando, em ltima instncia, o direito

    insurreio O poder um depsito confiado aos governantes, em relao

    de confiana, e, se estes no visarem o bem pblico, permitido aos

    governados retir-lo e confi-lo a outro.A guerra de independncia dos Estados Unidos da Amrica, e

    as normas jurdicas dela decorrentes, foram grandemente influenciadas

    pelo pensamento de Locke.

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    O contrato social segundo Rousseau (1712 - 1778):

    Assim como seus antecessores, Hobbes e Locke, Rousseau

    desenvolve seu pensamento a partir da hiptese do homem em estado de

    natureza e procura resolver a questo da legitimidade do poder nascido do

    contrato social. No entanto, sua posio , num aspecto, inovadora, na

    medida em que distingue os conceitos de soberano e governo, atribuindo

    ao povo a soberania inalienvel.

    Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas

    rsticas, enquanto se limitaram a costurar com espinhos ou com cerdas

    suas roupas de peles, a enfeitar-se com plumas e conchas, a pintar o

    corpo com vrias cores, a aperfeioar ou embelezar seus arcos e flechas, acortar com pedras agudas algumas canoas de pescador ou alguns

    instrumentos grosseiros de msica - em uma palavra: enquanto s se

    dedicavam s obras que um nico homem podia criar e a artes que no

    solicitavam o concurso de vrias mos, viveram to livres, sadios, bons e

    felizes quanto o poderiam ser por sua natureza e continuaram a gozar

    entre si das douras de um comrcio independente; mas, desde o instante

    em que um homem sentiu necessidade do socorro de outro, desde que sepercebeu ser til a um s contar com provises para dois, desapareceu a

    igualdade, introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessrio e

    as vastas florestas transformaram-se em campos aprazveis que se imps

    regar com suor dos homens e nos quais logo se viu a escravido e a

    misria germinarem e crescerem com as colheitas.

    Rousseau parece demonstrar um extrema nostalgia desse

    estado feliz em que vivia o bom selvagem. Mas a propriedade introduz adesigualdade entre os homens, a diferenciao entre o rico e o pobre,entre o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, at a predominncia da

    lei do mais forte. O homem que surge um homem corrompido pelo poder

    e esmagado pela violncia. Trata-se de um falso contrato que coloca oshomens sob grilhes. H que se considerar a possibilidade de um

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    contrato verdadeiro e legtimo , pelo qual o povo esteja reunido sob umas vontade.

    O contrato social, para ser legtimo, deve se originar no

    consentimento necessariamente unnime. Cada associado se aliena

    totalmente, ou seja, abdica sem reserva de todos os seus direitos em favor

    da comunidade. Mas, como todos abdicam igualmente, na verdade cada

    um nada perde pela sua insero no que se pode considerar um corpo

    moral coletivo, composto por tantos membros quantos so os votos da

    assemblia. Pelo pacto o homem abdica de sua liberdade, mas, sendo ele

    prprio, parte integrante e ativa do todo social, ao obedecer a lei obedece a

    si mesmo, e portanto livre. Para Rousseau o contrato no faz o homem

    perder sua soberania, pois este no cria um Estado separado de simesmo. O prprio soberano o povo incorporado. !?

    A contribuio de Montesquieu (1689 - 1755):

    Procurando a razo dos fatos nos prprios fatos, na relao

    com os antecedentes, Montesquieu tratou a Histria pelo mtodo das

    cincias fsicas , pela justa compreenso de que a ordem social, comoum fato natural, est submetida a leis . As leis so regularidadesnaturais , no estabelecendo, porm, princpios absolutos Nega ele aProvidncia Divina como diretriz. So alguns fatos constantes e gerais que

    do as direes e as formas principais ao processo de evoluo histrica.

    O determinismo universal racional e baseado na experincia.

    O grau de coeso social se expressa nas diversas formas de

    governo: a monarquia (baseada na honra);a repblica (baseada na virtude);o despotismo (baseado no medo).

    Para evitar a degenerao e a degradao da coeso social, em

    decorrncia do enfraquecimento dos sentimentos que suportam os tipos

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    de governo, prope ele a diviso dos poderes: executivo, legislativo e judicirio.

    OBSERVAO: com o jusracionalismo pela primeira vez a humanidadeviu a deslocao da fonte do Direito, de Deus para a prpria razo do

    homem.

    4. Escola Histrica do Direito (sculos XVIII e XIX)

    A Escola Histrica, pela primeira vez, rebelou-se contra a

    existncia de um Direito Natural, permanente e imutvel. Para ela, o

    Direito um produto histrico, decorrente da conscincia nacionaldos povos , formado gradativa e paulatinamente pelas tradies ecostumes, como resposta s necessidades de cada um, surgindo de

    maneira to espontnea e natural quanto a prpria linguagem.

    Assim, cada povo em cada poca teria o seu prprio Direito,

    como expresso natural da sua evoluo histrica, de seus usos, costumes

    e tradies 7.

    Ao formular a viso do Direito como um produto histrico daconscincia nacional dos povos e no como algo estabelecido

    arbitrarianente pela vontade dos homens, nem revelado por Deus, nem

    pela razo, a Escola Histrica do Direito abre a perspectiva para apercepo do carter social dos fatos jurdicos , com seus doiselementos fundamentais: continuidade e transformao . Mostrou ela,que os fundamentos do Direito se encontram na vida social.

    Surgida na Alemanha, em pleno apogeu do neo-humanismo,quando o Direito era considerado mera criao da razo humana, teve a

    Escola Histrica do Direito como principais expresses Frederico Charles

    Savigny e Gustavo Hugo.

    7 Note-se que o Direito Brasileiro no foi produto de evoluo histrica mas detransplante poltico e cultural.

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    5. Escola Marxista (1818 - 1883)

    Para essa escola, que teve em Marx e Engels suas figurasmximas, o Direito pressupe o Estado . Surge somente quando h umasociedade poltica, jurdica e economicamente organizada, como fonte

    emanadora do preceito jurdico e tendo um rgo, o Estado, capaz de

    impor o cumprimento de suas prescries.

    Fixa o Direito, acima de tudo, as relaes econmicas que

    predominam em certo momento histrico, razo pela qual, Marx o

    considerava a expresso do interesse da classe dominante , instrumentoideolgico de dominao da burguesia sobre o proletariado. Portanto, no

    haveria Direito sem Estado e nem Estado sem Direito. Para ela o Direitotem sua origem no Estado 8 e no na sociedade, pois ele apenas sanciona

    as relaes existentes de dominao de uma classe pela outra.

    6. Escola Sociolgica - Durkheim - (1858 - 1918)

    As relaes entre Direito e Sociologia foram formalmente

    iniciadas por Herbert Spencer (1820 - 1903) em "Princpios de Sociologia"( A sociedade um organismo que surgiu como fase da evoluo global,

    apresentando evoluo do homogneo para o heterogneo) e

    definitivamente estabelecidas por mile Durkheim , que no final do sculoXIX evidencia o carter eminentemente social do Direito.

    Para a Escola Sociolgica, o social se explica pelo social .Assim sendo, o Direito um fato soclal , e tem sua origem nas inter-

    relaes sociais (o fato social coisa, para Durkhem e deve ser observadode forma objetiva). A sociedade humana , pois, o meio onde o Direito

    surge e se desenvolve. As normas do Direito so regras de conduta para

    8 Dentro da concepo marxista, na Antiguidade e na Idade Mdia no havia Estado, mas sim umaorganizao poltica e de poder, mas no o Estado, como ns o concebemos. O Estado uma expresso dosistema econmico de mercado, onde se separam as relaes econmicas das relaes polticas.

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    disciplinar o comportamento do indivduo no grupo durante o

    estabelecimento de relaes sociais. So normas ditadas pelas prprias

    necessidades e convenincias sociais, mutveis e variveis em consonncia

    com a prpria evoluo dos grupos humanos e destinadas a disciplinar o

    comportamento do indivduo no grupo, ditadas pelas prprias

    convenincias da sociedade. No haveria, portanto, Direito sem sociedade.

    7. A gnese do Direito e a abordagem pelo referencial dahipercomplexidade.

    Na medida em que, neste trabalho, h a proposta de

    construo de um referencial integrador para a anlise dos fatos sociais,uma primeira verificao que se pode fazer a de perceber que se pode

    compreender a gnese do Direito com o estudo de praticamente todas asescolas. Para os que acreditam, no se afasta a contribuio do

    Jusnaturalismo e da Escola Teolgica. Quem pode contestar a

    contribuio da razo e do contratualismo para a elaborao do Direito?

    Ser possvel, por outro lado, negar os contextos histrico e sociolgico da

    conformao do Direito? E como negar seu uso pelo Estado nas mos dospoderosos para explorar os oprimidos, nestes tempos de flagrante

    desigualdade social construda pela humanidade?

    De cada escola aprendemos alguns aspectos importantes que,

    no seu conjunto, podem nortear nossa formulao sobre a gnese do

    Direito, nunca deixando de considerar que, como um produto evolutivo,

    o Direito no terminou sua gnese; ela continua e continuar

    indefinidamente.No nos esqueamos que, hoje, sabe-se que o homem social

    porque geneticamente programado para s-lo. Tem matrizes genticas

    que conformam o seu comportamento social bsico. E esse componente

    gentico determina uma srie de comportamentos sociais fundamentais

    ligados noo de territorialidade, de reproduo, de estabelecimento de

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    hierarquias, de normas e at de elaborao de protoculturas e bioclasses,

    propiciando at o surgimento de uma especialidade cientifica para estudar

    as conseqncias genticas no comportamento social humano - a

    Sociobiologia (E.Wilson,1981).

    , portanto, a partir desse comportamento social bsico, que cada

    agrupamento humano, dentro da sua dimenso ecolgica, geogrfica,

    histrica, social, poltica, cultural e econmica, constri o seu Direito,

    usando sempre bases racionais - pois todas as manifestaes culturaisdo planeta tm uma fundamentao lgica.

    No estudo da gnese do Direito, sentimos a complexidade do

    fenmeno humano. Os seres humanos, por terem uma dimenso social,

    para sobreviverem como grupo e at como espcie, precisam construirsistemas estveis de convivncia social e, para mant-los, necessitam da

    regulao dos seus prprios comportamentos. E, para a construo desses

    sistemas estveis de convivncia social h uma contribuio considervel

    do Direito e da Educao. Esta pela socializao e aquele pela

    normatizao institucional dos comportamentos, fazem com que haja uma

    regularidade no comportamento social, s alterada pela instabilidade dos

    sistemas humanos, permanentemente afetados por conflitos das maisdiversas naturezas.

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    QUINTO DOCUMENTO

    EVOLUO SOCIAL e HISTRICA dos DIREITOS HUMANOS

    1. Do Direito Natural concepo histrica do Direito.

    A mais antiga concepo de Direito a que conhecemos como DireitoNatural. Nela, o Direito concebido como um conjunto de idias ou princpios superiores,

    eternos, uniformes, permanentes, imutveis, outorgados ao homem por Deus quando dacriao, com a finalidade de traar-lhe um caminho e ditar-lhe a conduta a ser mantida.Existiria, assim, um Direito Natural, inspirado por Deus, com o qual iluminou-se

    eticamente a trajetria da humanidade. o que se conhece como Jusnaturalismo.

    As principais caractersticas do Direito Natural seriam, portanto,a estabilidade ea imutabilidade ,

    j que seriam princpios imanentes ao prprio cosmos e cuja origemestaria na prpria divindade. Estes princpios, o Criador os implantarana conscincia dos seres humanos, tornando-se referncia para quesoubessem discernir o bem do mal, o justo do injusto, e o certo doerrado. Seriam, portanto a base de todas as leis humanas, vigorandopara todas as naes e para todos os tempos.

    Essa concepo aparece nos filsofos Herclito, Scrates, Plato, Aristteles,na Grcia, sendo adotada por Ccero, em Roma.

    Durante toda a Antigidade o Jusnaturalismo coexistiu com a concepo

    teolgica, em que Deus, alm da inspirao, tambm outorgou diretamente a lei para oshomens, atravs das Sagradas Escrituras.

    Deus teria elaborado Ele mesmo as primeiras leis, entregando-as

    humanidade atravs de intermedirios, lideres religiosos como Moiss, Hamurabi, Manu,

    Solon, etc. Com o surgimento do Cristianismo, o Direito continuou a ser consideradomanifestao da vontade divina.

    Para Sto. Toms de Aquino existiriam 3 categorias de Direito:

    O Direito Divino , baseado nas Escrituras e nas decises dos Papas e dos Conclios,O Direito Natural , captado pelos seres humanos por intuio, mas semelhante concepo jusnaturalista e

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    O Direito Humano , produzido pela humanidade e que deveria ter por fundamento osdois anteriores.

    Pr volta dos sculos XVI e XVII surge uma concepo racionalista doDireito Natural. Segundo essa concepo, existiriam duas categorias de Direito:

    Direito Natural, originado na natureza racional dos seres humanos, estvel por todaparte e imutvel diante de qualquer vontade divina ou humana.

    Direito Positivo , fundamentado no Direito Natural e decorrente do contrato social aque os seres humanos foram levados a celebrar para viver em sociedade.

    Deveria haver entre o Direito Natural e o Direito Positivo uma ntimarelao, sempre levando-se em considerao que o primeiro fundamento para o

    segundo. Thomas Hobbes, Montesquieu, John Locke e Jean Jacques Rousseau, sorepresentantes desse pensamento que, pela primeira vez, deslocou a fonte do Direito,de Deus para a prpria razo do homem .

    Durante os sculos XVIII e XIX a denominada Escola Histrica do Direito,pela primeira vez, rebelou-se contra a existncia de um Direito Natural, permanente eimutvel. Para ela, o Direito um produto histrico, decorrente da conscincianacional dos povos , formado gradativa e paulatinamente pelas tradies e costumes,como resposta s necessidades de cada um, surgindo de maneira to espontnea e

    natural quanto a prpria linguagem.Assim, cada povo em cada poca teria o seu prprio Direito, como

    expresso natural da sua evoluo histrica, de seus usos, costumes e tradies.

    Ao formular a viso do Direito como um produto histrico da conscincianacional dos povos e no como algo estabelecido arbitrariamente pela vontade dos

    homens, nem revelado por Deus, nem pela razo, a Escola Histrica do Direito abre aperspectiva para a percepo do carter social dos fatos jurdicos , com seus doiselementos fundamentais:

    continuidade e transformao .

    Mostrou ela, que os fundamentos do Direito se encontram na vida social.Surgida na Alemanha, em pleno apogeu do neo-humanismo, quando o

    Direito era considerado mera criao da razo humana, teve a Escola Histrica do Direitocomo principais expresses Frederico Charles Savigny e Gustavo Hugo.

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    2. Os direitos humanos como direitos histricos.

    importante que se reflita ao abordar o direito natural, sobre a questodos direitos humanos. Segundo Bobbio (1992, p. 5) os direitos humanos, por maisfundamentais que sejam, so direitos histricos, ou seja, nascidos em certascircunstncias, caracterizadas por luta em defesa de novas liberdades contra velhospoderes, e nascidos de modo gradual, nem todos de uma vez nem de uma vez por todas.

    Dos direitos pessoais, denominados de primeira gerao, a liberdadereligiosa um efeito das guerras de religio; as liberdades civis, da luta dos parlamentos edo povo rebelado contra soberanos absolutos; a liberdade poltica e as liberdades sociais,

    do nascimento, crescimento e amadurecimento do movimento dos trabalhadores

    assalariados, dos camponeses com pouca ou nenhuma terra e dos pobres, que exigemdos poderes pblicos, no s o reconhecimento da liberdade pessoal e das restries do

    Estado sua conduta, mas tambm a proteo contra o desemprego, os primeirosrudimentos de instruo contra o analfabetismo, depois a assistncia para a invalidez e avelhice, todas elas carecimentos que ricos proprietrios, e mesmo o Estado, poderiam

    satisfazer por si mesmos. Isso, ao lado dos direitos sociais, que foram chamados direitosde segunda gerao , os direitos ligados ao meio ambiente, chamados de terceiragerao . Hoje j se fala em direitos de quarta gerao , relacionados com a proteo dohomem diante do avano biotecnolgico, como o que decorre das pesquisas genticas.

    Os direitos humanos, enquanto direitos naturais, embora naturais, sodescobertas histricas e produtos da evoluo da conscincia da humanidade, nada tendode permanentes nem de imutveis.

    3. A descoberta dos direitos humanos.

    Alguns acontecimentos marcaram historicamente o reconhecimento dedireitos (Altavila, 1997). Dentre eles, destacam-se:

    Direitos de primeira gerao - pessoais:

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    Direito Antigo:Cdigo de Hamurabi (Babilnia). Hamurabi (1792 a 1750 a.C) passou histriasobretudo como legislador original. Consolidou a tradio jurdica, harmonizou os

    costumes e estendeu o direito e a lei a todos os sditos. O cdigo no uma

    coletnea sistemtica de leis, mas um agrupamento de disposies casusticas, deordem civil, penal e administrativa. um corpo de leis dividido em 282 artigos,

    escrito em lngua e estilo oficial e preciso: suas disposies concernem famlia,ao cultivo dos campos, ao comrcio, ao trabalho e compra de escravos. A base de

    seu direito penal a lei de talio 9, enraizada nas civilizaes antigas, que consisteem infligir ao criminoso o mesmo dano causado por ele.

    Cdigo de Manu (ndia). Conjunto de leis da poca clssica hindu que trata daprtica do bem ou do mal e suas conseqncias na vida futura. Redigido em

    snscrito em forma de versos. Sua autoria atribuda a Manu, heri mitolgico eexemplar legislador.

    Lei Mosica. O Deuteronmio (captulo do Velho Testamento) significa "segundalei", por ser uma recapitulao da lei de Moiss. Foi elaborado por sacerdotes e

    profetas que se consideravam continuadores da obra de Moiss. o quinto eltimo livro do Pentateuco sendo uma constituio poltico-religiosa do Velho

    Testamento. Aborda questes variadas como justia, educao, cultura, descanso

    semanal, direito, etc.

    Lei das Doze Tbuas (450 aC). o mais importante legado jurdico da

    antigidade -- o direito romano -- constituiu-se progressivamente, de acordo comas diferentes formas de governo que se sucederam em Roma. No perodo darepblica, deu-se a mais antiga codificao do direito romano, a Lei das Doze

    Tbuas, que a tradio situa entre 451 e 450 a.C. As Doze Tbuas foram escritas

    sob a presso dos plebeus - todos os cidados, ricos ou pobres, no pertencentes classe dos patrcios - que se sentiam injustiados com o controle exercido pelospatrcios sobre as leis. Estes, efetivamente, fixavam normas legais de acordo com

    uma praxe consuetudinria em que s era iniciado um reduzido grupo denotveis. As Doze Tbuas, porm, no representaram uma liberalizao dos

    antigos costumes. Assim, reconheciam as prerrogativas dos patrcios e da famliapatriarcal, admitiam a escravido pelo no pagamento de dvidas e a aplicao deleis religiosas aos casos civis. Os romanos reverenciaram as Doze Tbuas comosua fonte primordial do direito. Elas nunca chegaram a ser formalmente abolidas,

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    apesar da inevitvel obsolescncia a que chegaram com a passagem do tempo.

    indiscutvel, no entanto, o primitivismo jurdico da mesma: os ritos sumrios,descritos em estilo literrio arcaico, e as normas processuais extremamentergidas do testemunho disso. A pena capital era aplicvel a poucos delitos, mas

    em geral as penas previstas eram bastante rigorosas.Cristianismo. idia de um Deus nico e justo, enfatizada pelos ltimosprofetas do judasmo no Antigo Testamento, Jesus acrescentou uma revelaopessoal, que no teve o contedo que os judeus esperavam -- um reino poltico --,

    mas o do Messias sofredor, que daria a vida pela remisso dos pecados e pelasalvao de todos os homens que o aceitassem. A negao do mundo, uma vida derecompensas ou de castigos, novos ritos de iniciao (batismo em vez de

    circunciso), igualdade entre todos os homens, uma vida moral e justa baseada nasoberania de Deus eram os ensinamentos que Jesus transmitia, levando uma vida

    de pobreza e sacrifcio, seguida, conforme os relatos do Novo Testamento, demuitos milagres. A afirmao de Jesus sobre sua prpria morte, da qualressuscitaria, tornou-se uma convico comum entre seus primeiros discpulos e

    se incorporou s doutrinas fundamentais estabelecidas pelo apstolo Paulo.

    Patrstica (entre os sculos II e VIII). A Patrstica procurou conciliar asverdades da revelao bblica com as construes do pensamento prprias dafilosofia grega. A Patrstica um corpo doutrinrio que se constituiu com a

    colaborao dos primeiros padres da igreja, veiculado em toda a literatura cristproduzida entre os sculos II e VIII, exceto o Novo Testamento. Os maiores nomesda patrstica latina foram Santo Ambrsio, So Jernimo (tradutor da Bblia para

    o latim) e Santo Agostinho, este considerado o mais importante filsofo em toda aPatrstica. Alm de sistematizar as doutrinas fundamentais do cristianismo,

    desenvolveu as teses que constituram a base da filosofia crist durante muitossculos. Os principais temas que abordou foram as relaes entre a f e a razo, anatureza do conhecimento, o conceito de Deus e da criao do mundo, a questo

    do mal e a filosofia da histria.

    Escolstica (durante a Idade Mdia e o Renascimento). Ensino teolgico e

    filosfico da doutrina aristotlico-tomista, ministrado em conventos, catedrais euniversidades europias durante a Idade Mdia e o Renascimento. Como sistema

    filosfico e teolgico, a escolstica tentou resolver, a partir do dogma religioso emediante um mtodo especulativo, problemas como a relao entre f e razo,

    9lei de Talio: Norma jurdica de antigas civilizaes, que consistia em vingar o delito impondo aodelinqente uma pena ou dano igual ao causado por ele. Expressa at hoje no dito popular "olho por olho,dente por dente.

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    desejo e pensamento; a oposio entre realismo e nominalismo 10 ; e a probabilidade

    da existncia de Deus. A noo de filosofia crist, embora constantementeempregada, a rigor representa uma contradio em termos, pois o cristianismo religio e a filosofia conhecimento racional. Historicamente, porm, a escolstica

    consiste nesse paradoxo de uma filosofia que , ao mesmo tempo, racional ereligiosa, motivo pelo qual seu problema mais grave o das relaes entre a razoe a f. Que liberdade ter a razo, se o dogma limita a priori seus movimentos?

    H, entretanto, um contedo filosfico na obra dos doutores da igreja e dosescolsticos levado em conta na histria da filosofia. Esse contedo encontra sualtima justificativa na doutrina da igreja. O pensamento devia demonstrar que a

    igreja, por seu mtodo prprio, j havia estabelecido a Verdade. Surgindo em ummundo cristo, seus pressupostos eram as crenas bsicas em que o mundo ento

    se fundamentava, radicalmente distintas das que configuravam o mundo antigo,

    greco-romano. Os problemas que se apresentavam filosofia eram suscitados pelaRevelao. A idia de Deus, uno e trino ao mesmo tempo, da criao do mundo a

    partir do nada, da imortalidade pessoal, do homem imagem e semelhana deDeus, a noo de histria, implcita no relato bblico, criao, pecado original,redeno e juzo final so idias religiosas que provocavam especulao

    tipicamente metafsica ou filosfica.

    Alcoro (por volta do ano de 612 da era crist). A pregao de Maom se baseianum monotesmo absoluto. Existe um s Deus, criador, onipotente emisericordioso; um juzo final premiar os bons e castigar os pecadores, na vida

    extraterrena. A criao reflete o poder, a sabedoria e a autoridade de Deus, masDeus totalmente distinto da criao, embora nela esteja intimamente presente:

    "Mais prximo do homem que sua prpria veia jugular". O homem como que orepresentante de Deus na criao, mas, apesar disso, ignorante e louco. livre -- diferena do resto da criao -- para seguir ou no a revelao e os

    mandamentos divinos; no entanto, tambm se salienta que Deus tem absolutocontrole dos homens, o que se pode quase interpretar como predestinao. OAlcoro no pretendeu ser um tratado teolgico, mas ofereceu o fundamento sobre

    o qual filsofos e telogos construram sistemas coerentes, ainda que com asvariedades correspondentes s interpretaes de cada seita. A partir dessa baseteolgica, o Alcoro foi e continua a ser um cdigo moral, social e poltico

    10 Nominalismo: Doutrina segundo a qual as idias gerais no passam de simples nomes, sem realidade forado esprito ou da mente. Uma das principais tendncias vigentes durante a Idade Mdia.

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    Direito Moderno: 1215 Carta Magna. Elaborada inicialmente como salvaguarda dos baresingleses ante o absolutismo real, a Magna Carta mais tarde passou a

    paradigma das liberdades britnicas. Documento assinado pelo rei ingls Joo

    sem Terra, a Magna Carta resultou de um movimento liderado pelo arcebispode Canterbury, para opor ao despotismo real os direitos dos nobres e de todos

    os demais sditos ingleses. Durante os primeiros anos do sculo XIII, Joosem Terra procurou superar dificuldades econmicas por meio de pesados

    tributos sobre a igreja e a nobreza, que reagiram com indignao. Odocumento incorporou os direitos mais importantes para a poca. Trs delesmantm-se ainda vigentes entre os preceitos constitucionais contemporneos.

    O primeiro determina que o homem livre no pode ser privado da vida ou dapropriedade, a no ser em virtude de sentena judicial e de acordo com a lei.

    Da resulta que todo acusado tem o direito de ser julgado por um juiz, e assimgarantir-se contra as prises arbitrrias. Nesse princpio baseia-se ainstituio do habeas-corpus, que existe em todos os sistemas jurdicosdemocrticos. Outro princpio dispe que a justia no pode ser vendida,

    denegada ou retardada. Em conseqncia, o poder judicirio deve serindependente. O terceiro princpio probe a criao de novos impostos sem oconsentimento dos nobres. Esse postulado lanou as bases do futuroParlamento ingls e revive na competncia privativa das cmaras para legislarsobre matria financeira e votar o oramento. As legislaes britnicas

    posteriores e tambm a constituio dos Estados Unidos inspiraram-se nessedocumento.

    1764 - Dos delitos e das penas Beccaria , Cesare (1738-1794). As idiasdo jurista e economista Beccaria influenciaram o direito penal moderno,contribuindo para a suavizao das penas e a abolio da pena capital emnumerosos pases. Comeou a escrever Dos delitos e das penas influenciadopelas idias de Montesquieu, Diderot, Rousseau e Buffon. Beccaria atacava

    nesse livro o uso abusivo da tortura e outras deficincias do sistema penal da

    poca, exprimindo os protestos da conscincia pblica contra a violncia e aarbitrariedade da justia, tpica da Idade Mdia e dos sculos subseqentes.Beccaria foi o primeiro adversrio da pena de morte, defendendo aproporcionalidade entre a punio e o crime . Afirmava que o critrio paramedir a responsabilidade penal do agente era no a inteno, mas o dano queseu crime causava sociedade. Sua argumentao baseava-se no conceito

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    utilitrio do melhor para um maior nmero de pessoas, estabelecendo que a

    origem do direito penal a segurana geral da sociedade e que a preveno docrime mais importante do que a pena. Essa deve ter carter retributivo, nosentido de reeducar e recuperar o criminoso. A obra de Beccaria inspirou

    reformas judicirias, dentre as quais a abolio da tortura, em vrios pases daEuropa.

    1776 Revoluo Americana. A guerra da independncia dos EstadosUnidos (revoluo americana) abriu uma nova era na histria da humanidade.

    E o pas surgido desse movimento libertrio tornou-se modelo e inspiraopara as colnias ibero-americanas em seu desejo de emancipao daspotncias colonizadoras. Origens. D-se o nome de revoluo americana luta

    das colnias estabelecidas na Amrica do Norte, para se tornar independentesda Gr-Bretanha. Vitoriosas, as colnias passaram a constituir uma repblica

    independente, estabelecida com base em princpios democrticos que, pelaprimeira vez, ganhavam forma estatal. A Declarao de Independncia .Depois de um ano de debates, em 4 de julho de 1776 o Congresso aprovou

    finalmente a Declarao de Independncia, redigida por Thomas Jefferson, John Adams e Benjamin Franklin. Esse documento de importncia histricauniversal inspirou-se nas idias avanadas de pensadores franceses e ingleses.

    Diz a declarao em seu prembulo: "Consideramos evidentes por si mesmas as seguintes verdades: todos os homens foram criados iguais e dotados por seu criador de certos direitos inalienveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade; para assegurar esses direitos, constituem-se entre os homens governos cujos poderes decorrem do consentimento dos governados;sempre que uma forma de governo se torna destrutiva desse fim, o povo tem odireito de aboli-la e de estabelecer um novo governo..." Mais concretamente, adeclarao estipulava o direito das colnias a se tornarem "estados livres e

    independentes", desligados de qualquer compromisso de obedincia coroa daGr-Bretanha, com a qual ficava rompida toda unio poltica.

    Bill of Rights (EUA - 1787). Nome dado s dez primeiras emendas da

    constituio americana elaboradas em 1787 e adotadas de forma conjunta em1791. Constitui uma coleo de garantias de segurana dos direitosindividuais e dos deveres do governo.

    1789 Revoluo Francesa. A queda da Bastilha, no dia 14 de julho de1789, marca o incio do movimento revolucionrio pelo qual a burguesia

    francesa, consciente de seu papel preponderante na vida econmica, tirou dopoder a aristocracia e a monarquia absolutista. O novo modelo de sociedade e

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    de estado criado pelos revolucionrios franceses influenciou grande parte do

    mundo e, por isso, a revoluo francesa constitui um importante marcohistrico da transio do mundo para a idade contempornea e para asociedade capitalista baseada na economia de mercado. Sublevao poltica

    que teve incio em 1789 e se prolongou at 1815, a revoluo francesa,baseada em princpios liberais, democrticos e nacionalistas, foi aprimeira das revolues modernas . A Declarao dos Direitos do Homem edo Cidado o documento representativo da Revoluo Francesa. Por suasconseqncias e pela influncia que exerceu na evoluo dos pases maisadiantados da Europa, considerada a mais importante do ciclo de revolues

    burguesas da histria. A independncia dos Estados Unidos e a revoluoindustrial iniciada na Gr-Bretanha so outras duas grandes transformaes

    que marcaram a transio da idade moderna para a idade contempornea.

    Ascenso da burguesia . Com o desenvolvimento do comrcio, da indstria edas finanas, a burguesia prosperou. Tornou-se considervel o movimento dos

    principais portos franceses, enriquecidos com o comrcio das Antilhas e otrfico de escravos. A indstria tambm se desenvolveu. Os produtos francesestinham fama em toda a Europa. Era igualmente notvel o progresso das

    indstrias txtil, metalrgica e de minerao. Embora a maior parte daproduo industrial ainda dependesse do artesanato, j comeavam a surgiras primeiras grandes fbricas capitalistas, que empregavam maquinariamoderna. Era natural, portanto, que a burguesia no se conformasse empermanecer relegada a uma posio secundria na vida poltica do pas.Ademais, a m administrao das finanas pblicas afetava diretamente seusinteresses. Ela ansiava por uma mudana de regime que lhe permitisseparticipar da administrao e era, assim, a principal interessada na revoluo.

    Com o progresso industrial, a classe operria cresceu e passou a reivindicarmaiores salrios e melhores condies de trabalho. Mas ainda no erasuficientemente numerosa, nem dispunha de organizao para aspirar

    direo do movimento revolucionrio. Mais grave, porm, era o problemaagrrio. O campesinato representava nove dcimos da populao total. Embora

    a maioria dos camponeses fosse livre, somente uma pequena parcela podiamanter-se com a produo da terra e desfrutava de um padro de vidarelativamente elevado. Os pequenos proprietrios viviam esmagados pelos

    impostos e eram obrigados a dedicar-se produo artesanal para subsistir.Os camponeses sem-terra viam-se forados a trabalhar nas propriedades dosgrandes senhores. Fermentao revolucionria. A estrutura agrria obsoleta

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    no atendia s novas exigncias de uma populao que se expandia com o

    progresso industrial e mercantil. Reclamavam-se medidas capazes deaumentar a produo agrcola, que mal chegava para alimentar a populao.Assim, as condies eram propcias fermentao de idias revolucionrias

    1769-1821. Napoleo Bonaparte. Napoleo organizou o governo na Frana, aadministrao, a polcia, a magistratura e as finanas. Tomou medidasdespticas e antiliberais, como o restabelecimento da escravido nas colnias,e outras de grande importncia econmica, como a criao do Banco de

    Frana, em 1800. Napoleo dividiu a Frana em 91 departamentos comprefeitos nomeados (sistema ainda em vigor no fim do sculo XX). Organizou oensino secundrio e superior, com normas que vigoraram at 1969. Concluiu

    com o papa Pio VII a concordata de 1801, que restabelecia a igreja na Frana,embora submetida ao estado. Criou a Legio de Honra e o novo cdigo civil,

    depois chamado Code Napolon , elaborado por uma comisso de juristascom participao ativa dele.

    1946 Declarao Universal dos Direitos do Homem. Aps a 2 GuerraMundial foi aprovado um documento pela Assemblia Geral da ONU em 10 de

    dezembro de 1948, que estabelece os direitos fundamentais do homem. Com30 artigos, universalizou princpios de direitos individuais tradicionalmenteexistentes nas constituies dos pases ocidentais de democracia liberal, na

    Declarao de Independncia dos Estados Unidos, de 1776, e na Declaraodos Direitos do Homem e do Cidado, aprovada na Frana em 1789.

    1864 e 1949 - Conveno de Genebra sobre a Guerra. Tratados assinadosentre, com o objetivo de regulamentar e amenizar os efeitos das guerras.

    Lanou os fundamentos da Cruz Vermelha e estabeleceu regras para o direitode asilo, o tratamento a prisioneiros etc.

    Direitos de segunda gerao - sociais

    1917 Revoluo Russa. Momento histrico de extraordinrio impacto

    mundial, a revoluo russa marcou o fim de um dos ltimos imprios demonarquias hereditrias e absolutistas do mundo. Com ela, o socialismoascendeu pela primeira vez ao poder e a ideologia comunista passou aexercer profunda influncia no cenrio internacional e mesmo na vida

    interna de todas as naes. Revoluo russa a designao que se d aoprocesso que, em dois momentos no mesmo ano de 1917, derrubou o

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    governo imperial da Rssia e instalou o comunismo no poder. Deu incio

    histria de um novo pas que se chamou Unio das RepblicasSocialistas Soviticas (URSS). Em 8 de novembro o II CongressoNacional dos Sovietes ratificou a vitria dos bolcheviques e designou o

    primeiro governo sovitico. Lenin tornou-se presidente do Conselho dosComissrios do Povo e Trotski, ministro das Relaes Exteriores. Ogoverno sovitico aprovou de imediato uma srie de decretos

    revolucionrios. Entre outras providncias, aboliu a propriedade privadada terra e entregou-a aos camponeses que a trabalhavam e exigiu umarmistcio imediato e a paz "sem anexaes ou indenizaes" entre todas

    as naes em guerra. Depois da revoluo, a Unio Sovitica tornou-se ocentro do comunismo internacional. Movimentos revolucionrios

    posteriores, em suas tentativas de transformar as condies econmicas,

    sociais e polticas em diversos pases, tomaram como modelo a revoluorussa.

    1956 Declarao de Argel. Naes reunidas em Argel estabeleceram oPrincpio da Autodeterminao dos Povos, pondo fim etapa imperialistae colonialista das poderosas naes do globo. Nesse declarao ficaestabelecido que cada povo tem o direito de ser senhor do seu destino.

    Direitos de terceira gerao - ambientais

    1992 Agenda 21. Conjunto de deliberaes tomadas aps debatesrealizados pelas delegaes oficiais durante a conferncia Eco-92(Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e

    Desenvolvimento), realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Prov polticase programas para se atingir o equilbrio sustentvel entre consumo,

    populao e capacidade da Terra para suportar a vida.

    Direitos de quarta gerao biolgicos, genticos

    Ver captulo dedicado Biotica e Direito.

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    SEXTO DOCUMENTO

    BIOTICA e DIREITO

    Quando foi estudada a Pirmide de Maslow, no seu degrau inicialencontrava-se a busca de plenivivncia, ou seja, a espcie humana e seus agrupamentos,

    como todas as entidades vivas, buscam, fundamentalmente, viver cada vez mais e cadavez com melhor qualidade.

    Disso decorre um apelo para a criao de estratgias, tanto para oprolongamento da vida quanto para a melhoria da sua qualidade. Essas estratgias,

    entretanto, nem sempre obedecem parmetros de tempo, espao e procedimentos, quesejam compatveis com o que deveria ser socialmente aceito.

    Pr outro lado, de longa data a humanidade vem refletindo sobre a vida,

    nas suas mais diversas dimenses, e encontrado uma srie de direitos fundamentais, quedeveriam fazer o contraponto dessa busca incessante de estratgias de plenivivncia.

    quando surgem os mecanismos de controle social, inicialmente no- jurdicos e, finalmente, os jurdicos, que hoje ajudam a compor um ramo do

    conhecimento denominado Biotica que, d origem uma especializao do Direitodenominada Biodireito. do que trata este captulo.

    1. Consideraes iniciais.

    Embora existam divergncias conceituais a respeito do que se considera

    tica e do que se considera moral, neste texto parte-se das seguintes premissas:

    tica a parte da filosofia responsvel pela investigao dos princpios que motivam,distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindoprincipalmente a respeito da essncia das normas, valores, prescries e exortaes,presentes em qualquer realidade social. Pode tambm ser considerada como o estudo

    das finalidades ltimas, ideais e, em alguns casos, transcendentes, que orientam aao humana para o mximo de harmonia, universalidade, excelncia ouperfectibilidade, o que neste texto se denomina pr plenivivncia.

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    Embora no cotidiano um termo costume ser usado pelo outro, at como

    sinnimo, a tica diferencia-se da moral.

    Moral um conjunto de princpios, regras de boa conduta, costumes, preceitos etc.caractersticos de determinado grupo social que os estabelece e defende e que so,

    portanto, socialmente aceitos.A partir dessas premissas que se estudar a Biotica.

    Biotica uma disciplina relativamente nova no campo da filosofia e surgiu emfuno da necessidade de se discutir moralmente os efeitos resultantes do avanotecnolgico das cincias da rea biolgica e, em particular, da rea da sade, bem

    como aspectos tradicionais da relao de profissionais destas reas com os leigos, osdiversos grupos e comunidades e a sociedade em geral. Como tal, a Biotica umramo da filosofia, mais especificamente da tica aplicada , e pode ser definida comoo estudo sistemtico das dimenses morais das decises, condutas e polticas dascincias da vida e dos cuidados com a sade, empregando uma variedade demetodologias ticas em um ambiente multidisciplinar.

    Este trabalho destina-se iniciao aos vrios aspectos que ligam apreocupao tica nas reas biolgica e da sade formulao jurdica do direito vida e sade, seja quando disciplinada em lei, seja quando decidida pelos juizes

    individualmente ou nos tribunais ou ainda, em termos de expectativa de direito ou de justia.

    Interessam Biotica e ao Direito, todas as questes relacionadas com asreas biolgica e da sade, particularmente no que diz respeito a problemas trazidos

    humanidade pelas inovaes tecnolgicas, especialmente as ligadas biotecnologia,como:

    clonagem, natureza jurdica do embrio, manipulao gentica , recombinao degenes,

    eugenia, aborto, transplante de rgos entre seres vivos e ps -morte ,

    genoma humano, criao e patenteamento de seres vivos,

    eutansia,propriedade do corpo vivo e morto,

    direito sade,

    direito conduo da prpria vida,

    e muitos outros.

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    2. O Biodireito :

    Se a Biotica se refere aos problemas ticos entre profissionais das reasbiolgica e da sade e das pessoas com elas envolvidas, seja em tratamento, pesquisas

    cientficas ou outro qualquer procedimento relacionado com o incio, continuidade e fimda vida, problemas estes que tenham implicaes morais, ticas e sociais, principalmentederivados dos avanos cientficos e tecnolgicos, o Direito vem tentar normatizar esseassunto, visando solucionar possveis conflitos que surgem nesse campo, partindo dopressuposto do respeito dignidade da pessoa humana, que uma garantiaconstitucional, tornando-se, portanto, um instrumento para os juristas destes novos

    tempos.

    Trs so os princpios que embasam a Biotica:

    Princpio da beneficncia : Deve-se atender aos interesses do ser humanosubmetido a tratamento ou a outro qualquer procedimento nas reas biolgica eda sade, evitando-se danos a ele, especialmente com tratamentos que no

    sejam teis e necessrios.

    Princpio da autonomia : Respeito vontade da pessoa humana que estejasendo afetada por qualquer procedimento das reas biolgica ou da sade.Respeito a seus valores morais, crenas e intimidade, reconhecendo-se seudireito conduo da prpria vida.

    Princpio da eqidade : Exige respeito igualdade de direitos nadistribuio de bens e benefcios, no exerccio das cincias da sade e nos

    resultados das pesquisas cientficas.

    2.1. A legislao brasileira.

    A primeira e mais importante defesa decorre de seu reconhecimentoconstitucional. Assim, privacidade inviolvel, a confiana no profissional deve originar-se na liber